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História Alma de Dragão - V - Teste das Chamas


Escrita por: JonathanJLGomes

Capítulo 6 - V - Teste das Chamas


Fanfic / Fanfiction Alma de Dragão - V - Teste das Chamas

Naquele dia o pequeno garoto acordou bem cedo, afinal faria uma caminhada de aproximadamente três horas, mas estava com uma motivação diferente. A ansiedade era tamanha que ele mal havia dormido pensando em tudo que iria aprender dali em diante. Vestiu-se rapidamente fazendo questão em usar a jaqueta que seu avô havia lhe feito. Sussurrava repetidas vezes a palavra "braken" enquanto caminhava pelo quarto, almejando em poder fazer o mesmo que os Septos com quem se encontrou. Perguntava-se sobre quais disciplinas estudaria, como seriam as aulas e se naquele dia receberia seu uniforme. Nem parecia mais aquele garoto outrora revoltado por não poder estudar em uma escola próxima de sua casa.

Milou o esperava na cozinha com um embrulho de lanche e o café-da-manhã sobre a mesa, mas o garoto não sentou para comer, mesmo com as reclamações de sua mãe, somente bebeu um copo de café com leite, pegou o embrulho e se despediu com um beijo.

Atravessando a porta encontrou com Oliver, seu avô, selando Bounce e não pode conter sua surpresa e alegria.

- Vovô, onde o senhor o encontrou? – perguntou o garoto afagando a crina do cavalo, aliviado e feliz por ter seu animal de volta.

- Encontrei? – retrucou Oliver. – Quando acordei ele estava no estabulo. – riu acochando as fivelas da sela.

- Graças aos Grandes Seres ele está bem. – sua felicidade era notória.

- Sim, espero que hoje tenha mais cuidado com ele.

- Sério, posso ir com ele novamente? – Nathan não acreditava em sua sorte.

- Sim, com tanto que prometa ter mais cuidado.

- Eu prometo. – disse ao montar. – Obrigado vovô, até mais tarde.

O garoto disparou rumo ao Instituto Novo Amanhecer, em busca de mais conhecimento sobre o novo mundo. Atravessando a ponte, olhou para o beco onde vivenciou a batalha dos Septos contra o Renegado Kripto, um arrepio correu por seu corpo em pensar que teve sua vida quase no fim. Acelerou o galope e subiu a ladeira da Rua Principal.

Avistou o Grande Portão do Instituto e se atentou em olhar as estátuas que estavam nas colunas que se seguiam pela muralha. Nathan não conhecia quem eram aqueles guerreiros na muralha, o único que conhecia era Baygror, O Cinzento, cuja estátua estava no centro da Província Sul e onde ele se viu a beira da morte quando a Septo que o carregava parou na ponta da espada do guerreiro. A vida do guerreiro que lutou pelo fim da escravidão dos Castos era conhecida por todos que estudaram a história da Província Sul e da Ilha Extensa. Mas quem seriam aqueles? Se perguntava enquanto se aproximava.

Monkey estava em pé diante do portão e abriu um grande sorriso quando reconheceu Nathan.

- Olha só quem voltou.

- Bom dia, Monkey. – respondeu desconcertado.

- Ótimo dia! – Nathan se perdia em encontrar o motivo de tanta empolgação. – E então, por que resolveu voltar?

- Eu... – Nathan lembrou-se da ameaça dos irmãos ArtDaves a Monkey, mas achou melhor não contar que seria o primeiro motivo. – Fiquei curioso com toda aquela história de Septos, falando nisso, quem são esses das estátuas, você sabe? – perguntou, tanto para mudar de assunto, quanto pela curiosidade.

- Ah, sim. – o garoto apontou para a arqueira a sua esquerda. - Bom, essa é Melyne, Olhos do fim e aquele com um bastão é Kayus Lanceiro, mas lá no fundo, seguindo o lado da Melyne, tem a estátua de Kalldorf, A Lâmina Maior e pro lado do Kayus, tem a Lyns, Invocadora de Mil Lâminas.

- São os Sete Lendários que o Moustre Rouma falou na cerimônia de abertura... – comentou Nathan.

- No caso, só quatro deles. – Monkey riu. – A estátua de Alanys, A Mística fica para o bloco dos veteranos e a Zygriff, Duplo Corte fica próximo do bloco em que iremos ficar.

- Tem certeza que nunca estudou aqui antes? – perguntou Nathan com sarcasmo.

- Sim, - Monkey gargalhou. – meu tio que me contava suas aventuras aqui no Instituto. Por que não amarra seu cavalo em uma das arvores do Bosque Curto? – perguntou o garoto sorridente de madeixas castanhas, assentindo para as árvores a sua direita, próximas do jardim.

Enquanto andavam rumo ao Prédio do Conselho, Nathan observou os outros novatos que iam chegando e uma coisa lhe intrigou.

- Monkey, não acha que os outros novatos estão com um rosto tenso, será que aconteceu algo que não sabemos?

- Verdade, será que foram os ArtDaves?

- Não acho que os irmãos teriam tido tempo para mexer com todos... Parecem preocupados com alguma outra coisa.

Nathan estava preocupado com os irmãos ArtDaves, afinal eles ameaçaram a ele e Monkey. Porém procurava não deixar transparecer.

- Então talvez estejam preocupados com o teste. – disse Monkey com os braços por trás da cabeça.

- Teste, que teste? – Nathan deixou a preocupação se destacar em seu rosto. – Achei que já estávamos matriculados. Precisamos fazer um teste ainda?

- Não é esse tipo de teste. – Monkey riu. – Vai ser lá no subsolo, vem eu explico no caminho.

Monkey correu entrando no salão do Prédio do Conselho, Nathan tentou acompanha-lo mas acabou esbarrando em uma garota.

- Ei! – exclamou ela. – Vê se presta mais atenção!

- Desculpe, eu não a vi. – disse envergonhado.

Sem dar importância, a garota de cabelos curtos e loiros com mechas azul-escuro somente continuou a caminhar para o prédio. Da porta, Monkey esperava por Nathan e ria de toda a cena.

- Vai ficar ai parado? – perguntou Monkey, insinuando o apreço de Nathan pela garota. – Ela também está indo para lá, então vem e para de ficar babando.

- Eu não estou babando. – resmungou Nathan. – Só que achei ela parecida com aquela que me mandou se calar, ontem, na cerimônia.

- A gente pergunta para ela e você descobre. – Monkey gargalhou, enquanto desciam as escadas para o subsolo do Prédio do Conselho.

- Achei que a conhecia. – desdenhou Nathan. – Monkey, O sabe tudo. – Nathan riu.

- Não muito bem, só por vista. – respondeu Monkey, também rindo e Nathan ficou surpreso.

- Pelos Grandes Seres, tem algo que você não saiba?

- Calma irmão, sou filho de Coran, lembra? Acabo conhecendo os outros filhos de Corans. Ela é Emily BirdHill, filha do Coran BirdHill que faz parte dos juízes da Corte da Justiça.

- Uau...

- Não se desanime, lute por seu amor. – brincou Monkey.

- Que nada, tira essa ideia da cabeça. – Nathan gargalhou com Monkey. – Agora me fala sobre o teste, sobre o que é?

- Ah sim. Não sei muito sobre ele, só o que meu tio me contou... O tão esperado Teste das Chamas.

- Teste das Chamas?

Monkey calou-se como se tivesse imerso em pensamentos enquanto desciam as escadas em espiral, as paredes eram rusticas com grandes pedras e tochas iluminavam o caminho juntamente com candelabros que se estendiam pelo meio das escadas.

- Monkey? – Nathan buscou sua atenção. – E então, o que é o Teste das Chamas? Por acaso seremos lançados no fogo? – brincou.

- Bom, o que sei é que todos os anos tanto os veteranos quanto os novatos devem ir ao Salão das Chamas para fazer o teste.

- Salão das Chamas? Realmente iremos ter uma prova de fogo? – Uma mistura de curiosidade e medo se apossou de Nathan, que ansiava com receio em chegar ao salão.

- Eu nunca estive lá. – respondeu Monkey. – Só sei da existência dela por causa do meu tio.

- Você fala bastante desse seu tio, deve gostar muito dele.

- Sim, gosto bastante. Foi quem esteve comigo desde que me lembro. – As palavras de Monkey pareciam pesadas, mesmo em tom de gratidão.

- Ele é um Septo, não é?

- Sim, escalado para o 5º batalhão. – Monkey riu com orgulho. – Quero um dia chegar a ser como ele.

- Será melhor. – disse Nathan sorrindo.

A fila de formandos que se seguiam a frente dos garotos diminuiu o passo, quase parando, ao chegar na porta do Salão das Chamas. Sussurros altos ecoavam das conversas emaranhadas.

- Silêncio ao adentrarem o salão. – disse um homem ao lado esquerdo da porta, olhando por cima dos óculos escuros de lentes finas e alongadas, tinha uma aparência jovial e sorridente, com os cabelos pretos, da mesma cor de seus olhos, penteados para cima unidos no meio. Junto com ele ao lado direito, estava uma mulher de olhar tênue, seus olhos eram azuis-escuro, tinha os cabelos pretos e da altura de seus ombros com uma tiara no meio da cabeça em cor purpura que fazia divisa com a franja que cobria toda a sua testa.

- Parece que chegamos, Nathan. Preparado para fazer o teste. – brincou Monkey.

- Ainda não sei... – respondeu Nathan, sem jeito e olhando os anfitriões a porta. – Esses também são Moustres?

- Parece que sim, usam roupas parecidas com as do Moustre Rouma. – concluiu Monkey.

- Interessante... São um pouco jovens, não acha?

- De certa forma, as vezes as aparências enganam. – Monkey riu.

Os garotos se maravilharam ao ver a grandeza do salão, assentos se estendiam pelo formato oval do lugar iluminado por tochas presas as paredes e três grandes candelabros ao teto. Como não haviam lugares demarcados, eles seguiram os demais novatos, descendo algumas escadas e entrando em uma das fileiras de cadeiras. Mais ao fundo do salão, tinha duas escadas que subiam rumo a uma bancada de madeira com nove assentos, oito eram padrões, poltronas de madeira com almofadas vermelhas e bordas douradas, divididas por um trono em mármore com detalhes em azul claro cintilante e traços em ouro, de cada lado deste trono ficavam quatro poltronas.

Após todos entrarem no salão, os anfitriões fecharam suas portas. Então, por detrás do trono em marfim surgiram os Moustres, dentre eles estava Rouma a qual Nathan e Monkey logo reconheceram, todos vestiam seus fraques brancos com faixas pretas no torso e cada um tomou seu lugar nas poltronas, três de cada lado do trono.

[Então, por detrás do trono em marfim surgiram os Moustres, dentre eles estava Rouma a qual Nathan e Monkey logo reconheceram, todos vestiam seus fraques brancos com faixas pretas no torso e cada um tomou seu lugar nas poltronas, três de cada lado...]

- Ei, Nathan. Se não tomar cuidado vai acabar perdendo sua namoradinha. – sussurrou Monkey com sarcasmo, apontando para longo da fileira a sua frente.

- Como assim namoradinha? – Nathan não entendeu no primeiro momento em que olhou os vários novatos sentados à sua frente, até que percebeu que Monkey apontava para Emily BirdHill que conversava entusiasmada com as suas amigas e bem na cadeira ao seu lado, estava um garoto de madeixas loiras com a cabeça apoiada nos dedos de sua mão direita recostada no braço da cadeira, tinha a pele branca e suas unhas longas e finas aguçaram a atenção do rapaz, que se fez de desentendido e logo mudou de assunto. – Todos aqueles são Moustres?

- Sim, irão avaliar cada formando, desde os novatos aos veteranos.

- Pelos Grandes Seres, que horas sairemos daqui então? Deve ter pra mais de mil alunos aqui.

- Com certeza... – comentou Monkey, calmamente. – Mas creio que não será demorado, veja! Já irão começar.

Nesse momento, o Moustre Madhayra, um homem branco e gordo, de cabelos brancos e nariz bola. Levantasse e inicia as boas-vindas ao Teste das Chamas.

- Formandos. – Fez um silêncio extremo em todo o salão, a ponto que as palavras do Moustre ecoavam. – Meu nome é Madhayra, sou Moustre juntamente com os demais ao meu lado e a minha esquerda, bem como os que os receberam quando chegaram.

- Aqueles são os Moustres que irão avaliar cada formando. – comentou Monkey ao ouvido de Nathan.

- Está faltando um então? – respondeu baixo com a mão frente a boca.

- Não, eu contei oito, será que me enganei? – perguntou inclinando-se e olhando para a porta do grande salão onde estavam os Moustres anfitriões.

- Mas e aquele trono cheio de adornos no centro, é do diretor do Instituto? – Nathan ainda falava como se estivesse em uma de suas antigas escolas.

- Ah sim! – respondeu Monkey arregalando os olhos e assentindo com a cabeça. – Meu tio me falou dele, disse que nos anos em que ficou aqui e fez o teste, tinha um trono branco em que ninguém nunca se assentou. Ele dizia que era reservado a um dos Doze.

- Um dos Doze? – questionou Nathan intrigado.

- Sim. – respondeu Monkey se recostando no braço da cadeira e notou Nathan o fitando se entender de quem ele falava. – Ah é, você não sabe, não é? Às vezes esqueço que você é muito novato em tudo isso. – Monkey riu e deu um soquinho no ombro do garoto franzino. – Seria um dos Doze Sacerdotes, os escolhidos os Grandes Seres que se comunicam com eles e aconselham os Moxs. Entendeu?

- Acho que sim... – Nathan se acomodou na cadeira e voltou sua atenção ao Moustre, que após as boas-vindas aos formandos, lhe explicavam sobre o Teste das Chamas aos novatos.

- Aos que estão chegando agora, novatos no Instituto, o Teste das Chamas tem por objetivo nos mostrar seus níveis de aptidão e habilidades, sejam elas psíquicas e físicas. Para isso, cada um de vocês se apresentará neste círculo de pedra no centro do salão, os sete candeeiros a frente e ao lado dele nos mostrarão seus níveis. E então, quem está pronto para o Teste das Chamas?

Os formandos pareciam uma torcida vibrante, assobiavam e faziam sons de festa. Todos pareciam estar animados para participar do teste místico. Nathan, por outro lado, transparecia um sorriso torto, estava animado em ver a felicidade de todos e de estar naquele lugar, mas ainda estava confuso sobre o que aconteceria, ainda não conseguia se achar no meio de todos aqueles formandos novatos e veteranos.

- Todos parecem realmente empolgados. – comentou com Monkey que também participava da algazarra.

- Claro! Os novatos querem conhecer seus níveis de habilidades e saber quais possuem uma maior vocação. E eles, - apontou os veteranos. – querem saber o quanto evoluíram.

Nathan ficou boquiaberto, uma motivação e curiosidade passou a emanar e transparecer em seu rosto, afinal, ele também queria descobrir qual o seu nível de habilidades.

- Desculpe. – disse uma garota passando entre os novatos na fileira de cadeiras anterior, chamando a atenção de Nathan, que se virando viu Kathryne Consiw'Hopes, a garota de longos cabelos negros carregando consigo uma espada que parecia ter o seu tamanho, de bainha branca em entalhes azuis, lembrava a mesma que estava com Monkey na enfermaria no dia anterior. Ao perceber que ele a olhava, envergonhou-se, desviou os olhos e logo sentou na cadeira vazia bem atrás de Nathan.

Ela usava uma blusa de manga longa em cor roxo-claro que chegava a cobrir o dorso de suas mãos deixando amostra somente seus dedos delicados e finos, por baixo um vestido de amarelada, também claro, o que lhe dava um aspecto incrivelmente delicado, mas a espada ao seu lado a deixava mortal.

- Oi?! – Nathan cumprimentou.

A pequena menina sorriu, tímida, devolveu um "oi" baixinho enquanto arrumava a longa franja do seu cabelo atrás da orelha.

- Eu, bom, só queria agradecer por estar comigo na enfermaria ontem... Então, obrigado. – envergonhado consigo por achar a menina bonita, Nathan logo se virou para frente novamente.

Um breve silêncio se criou entre os dois no meio de toda aquela empolgação e assobios, Kathryne se alonga para frente, chegando próximo de Nathan e diz:

- Por nada.

As palavras soaram delicadamente nos ouvidos de Nathan, que olhou por entre os ombros a pequena Kathryne se arrumando na cadeira pondo sua espada entre suas pernas.

- Atenção, todos! Atenção! – disse Moustre Madhayra com os braços levantados. – Nós chamaremos primeiramente os novatos em ordem alfabética e depois os veteranos. Todos serão avaliados por mim, - ele foi apontando os demais a sua direita. – Moustre Rouma, Moustre Anallyz, - e os da esquerda do trono. - Moustre Tabbys, Moustre Kaya e Yzzis. Bem como os que os receberam, os seus anfitriões lá em cima, Moustres Heyg e Milie. Após o teste, se encaminhem até seus anfitriões para o recebimento da farda, certo? Muito bem, todos tomem seus lugares para darmos início.

Os formandos bateram palmas e se assentaram, um breve silêncio se fez enquanto o Moustre Madhayra entregava algumas folhas com os demais.

- Vamos ver que tipos de indivíduos os Mox e os Doze nos mandaram este ano. – comentou com Rouma, organizando as folhas e suas mãos. – Faz um tempo que não me impressiono, preciso de novidades.

- Eu já pude conhecer algumas. – disse Rouma com um sorriso torto. – Espero ser impressionado também. E você Anallyz, está tão calada, quais suas expectativas?

A mulher loira com uma franja e mechas a frente das orelhas que iam até seus ombros, de olhos verdes como esmeraldas e expressão séria e neutra, vestida com o fraque branco dos Moustres que se alinhavam ao seu corpo perfeitamente, que mesmo com todos os botões fechados e o lenço vermelho em volta do pescoço, ainda atraía olhares para suas belas curvas. Olhou de relance para o Moustre Rouma e após inspirar fundo respondeu:

- Já faz alguns anos que procuro não criar expectativas para não ter decepções.

Rouma olhou para Madhayra, que também ouvira as palavras, e arquejou as sobrancelhas rapidamente.

Do outro lado do trono de mármore o Moustre Tabbys limpava seus óculos com o lenço vermelho do pescoço com uma expressão carrancuda, sempre foi impaciente desde de que se tornara Moustre, tudo que fazia nos termos do instituto pareciam não lhe dar prazer, sua face estava sempre amarrada, nunca se via um sorriso em seu rosto. Era um homem magro, de cabelos já grisalhos. Sua calvície se sucedia até o meio da cabeça, porém no alto dela e do lado ele esticava ao máximo o cabelo como que para disfarçar sua perda.

Moustre Kaya, por sua vez, analisava cuidadosamente cada formando buscando encontrar em seus comportamentos algo que a intrigasse e chamasse sua atenção. Era uma mulher alta e robusta, com músculos bem definidos que faziam inveja a muitos homens. Seus cabelos ruivos pareciam estar sempre desarrumados, jogados para cima de um lado para o outro. Os olhos num tom quase mel eram bem expressivos, e sempre estava com um sorriso torto nos lábios grossos. Vestia-se com o fraque sempre aberto e as mangas erguidas até o cotovelo, a blusa preta do uniforme de Moustre com três a quatro botões abertos criando um belo decote para seus fartos seios, o lenço vermelho era somente amarrado com o nó para o lado direito do pescoço. Era uma mulher de opinião forte, se podia de longe notar, bem diferente de Yzzis.

A Moustre ao seu lado, de cabelos pretos que não iam mais além que o osso de sua mandíbula, era uma mulher de olhar impaciente, tremulo, como de quem vive assustada. Tímida e de poucas palavras, não se a via fazendo mais que seu trabalho. Entre os outros se levantavam questionamentos sobre como se tornara uma Septo e como chegou a ser Moustre. A resumiam como intrigante e misteriosa.

Sinalizando com a cabeça, Madhayra pede que Anallyz chame o primeiro novato, a partir daquele momento se iniciava o Teste das Chamas.

***

Nathan acompanhou cada passo e movimento dado pelo primeiro novato a ser chamado, afinal como seria aquele teste? Se questionava com o queixo apoiado sobre a mão direita erguida no braço da cadeira.

- Muito bem, mostre-nos seu nível. – disse a Moustre Anallyz erguendo a mão a novata e estreitando suas costas a poltrona.

- Ela com certeza deve ser da Província Oeste. – comentou Monkey, apontando para sua cabeça.

Ele se referia aos cabelos da pequena garota que não devia ter mais que doze anos, tinha a pele morena e cabelos longos em rastafári. Suas roupas com diferentes tons de verde, um echarpe marrom envolta do pescoço e mangas de boca larga além de adornos em cristal em volta da cintura remetiam a cultura do Oeste.

Monkey não se enganara, mas Nathan não deu muito ouvidos, se atentou ao que ela faria. A menina, Abash Galve, segurou os dedos com as mãos uma sobre a outra e fechando seus olhos abaixou a cabeça.

Estalos rápidos se ouviram e três candeeiros se acenderam com pequenas chamas azuis a direita e dois com chamas roxas a esquerda.

- Uau! – exclamou Nathan num lampejo para trás da cadeira e segurando na ponta dos braços de madeira.

Olhou para Monkey que também vibrou com o que vira, os dois se olharam e em sincronia expressaram:

- Demais! Viu aquilo?!

A mesma reação foi tida pela maioria dos novatos, quebrando o silêncio que havia. Os Moustres faziam anotações com suas penas-tinteiro, com exceção de Kaya que se acomodou em sua poltrona esticando o braço e praticamente se deitando e perguntou sem interesse, demonstrando que aquilo era o mínimo esperado por ela.

- Só isso ou possui alguma habilidade especial?

- Com a permissão dos Moustres, - Abash pôs a mão direita dentro da manga esquerda e foi se aproximando da bancada dos Moustres. - eu gostaria que um de vocês tentasse me acertar com esta adaga.

- Permissão concedida. – respondeu Kaya com um sorriso cerrado largo, já se levantando de seu assento. – Jogue-me a adaga, criança.

- Moustre Kaya. – disse Rouma após pigarrear.

- O que? – Kaya deu de ombros. – A ideia foi dela.

- Só não se esqueça que, assim como você disse, é só uma criança. – alertou Anallyz.

- E novata! – completou Madhayra.

- Ora, deixem-na fazer para acabarmos logo com isso. – resmungou Tabbys.

Abash lançou a adaga para Kaya, que a aparou pela lâmina entre dois dedos de sua mão direita.

- Não tão forte, Kaya. – sussurrou Yzzis.

- Acalmem-se... – disse Kaya, com a adaga de ferro com um cristal no cabo, entre os seus dedos. – Este é um teste, então deixem-me testá-la.

Num rápido movimento e sem hesitar, ela lançou a adaga que foi com a ponta reta direto no peito de Abash. Um feixe de luz laranja se formou a um palmo de distância do tórax da criança, em milésimos de segundos depois a adaga tinia ao cair nas rochas lapidadas ao chão. Abash não moveu se quer um músculo, estava ereta e com um olhar confiante, certo de que não seria atingida.

- Wow, que maravilha! – bramiu Kaya com um sorriso largo e aberto, se apoiando em seus braços sobre a bancada de madeira.

Todos bateram palmas, os Moustres logo estavam com sorrisos em seus rostos, uma defesa daquele nível não era normal. Os formandos vibraram, Kaya sentou-se despojada na poltrona, ainda pasma com o que vira.

– Magnifica habilidade, criança. Meus parabéns! – disse Madhayra, retomando a ordem no salão. – Pode se dirigir até Heyg e Milie para adquirir sua farda.

A menina morena, orgulhosa por seu feito, guardou sua adaga e subiu as escadas até os Moustres.

- Parabéns! – expressou Milie com um sorriso de olhos fechados, entregando a farda. – Você foi muito bem, motivou a todos os novatos e criou uma grande pressão.

- Realmente um defesa incrível, quem a ensinou? – perguntou Heyg, baixando e olhando por cima dos óculos escuros e colocando uma caixinha em cima da farda dobrada que a menina segurava.

- Ninguém. – respondeu Abash, olhando a farda, sem encarar os Moustres diretamente. – Obrigado, já posso ir? – questionou, com um sorriso frívolo.

Sem muita cerimônia os Moustres abriram as portas.

- Pode ir, o dormitório fica junto ao bloco dos novatos. É só seguir o do bosque a direita do prédio do conselho ou ir por detrás, pelo caminho que leva a biblioteca.

- Obrigado. – disse a menina saindo rapidamente.

Todos os novatos e mesmo alguns veteranos acompanharam a menina com olhar, foi necessário que o Moustre Rouma chamasse o nome do próximo por três vezes até que ele se apresentasse.

Nathan estava perplexo e fascinado, será que chegaria a ser tão bom quanto ela? Se questionava. Monkey olhava atentamente o próximo novato, Abraham Lincel, um garoto de cabelos loiros e encaracolados, não era tão forte quanto Monkey, mas também não tão magro quanto Nathan. Vestia-se como um filho de Coran, roupas bem engomadas e de bom tecido. Uma blusa três-quarto amarela e calças brancas, por fim os sapatos marrom em couro, bem costurado e um cajado fino de madeira com entalhes que carregava. Todos os candeeiros se acenderam com chamas pequenas e fracas.

- Algo em especial, meu jovem? – perguntou Moustre Rouma.

- Não, senhor. – respondeu o garoto, sempre de cabeça baixa.

- Muito bem, então pode ir.

Finalmente o garoto olhou os Moustres diretamente e agradeceu, nesse momento Rouma se espantou e então perguntou ao garoto.

- Antes de ir meu jovem, diga-me, quantos dedos você está vendo?

- Perdão, senhor? – indagou o jovem.

Os Moustres logo entenderam depois que Rouma sibilou sobre os olhos e ele insistiu.

- É uma pergunta simples, quantos dedos estou levantando em minha mão?

O garoto baixou um pouco sua cabeça, como alguém quando se esforça para ouvir algo e respondeu.

- Dois, senhor.

- Ótimo, e agora?

Novamente o mesmo movimento e a resposta.

- Quatro, senhor.

Rouma uma folha a frente de sua mão e novamente perguntou.

- A última vez, me diga quantos dedos.

A cabeça baixa novamente para o lado e então reta, como se houvesse encontrado a barreira.

- O senhor está com a mão fechada, senhor. – respondeu o menino, calmamente.

Uma salva de palmas breves se fez.

- Parabéns, meu jovem. Por que não nos informou que é cego? Mais importante, a quanto tempo consegue usar sua energia prima para enxergar?

Nathan e Monkey arquejaram as sobrancelhas, da fileira onde estavam não tinham como ter notado que o menino tinha os olhos brancos e sem brilho.

- Por isso ele anda com a cabeça baixa e aquele cajado fino. – disse Monkey baixinho.

- Desculpe, Moustre Rouma, mas achei que isso não seria uma habilidade especial, pois desde que me lembro sou cego, mas consigo sentir as coisas e formas ao meu redor.

- Incrível. – disse Yzzis e Kaya concordou.

- Esse ano os Grandes Seres ouviram nossas orações. – riu Kaya.

- Bom, seja bem-vindo. Agora sim, pode ir. – finalizou Rouma

Madhayra chamou o próximo e após ele, Tabbys e assim os Moustres intercalavam e avaliavam os novatos naquela manhã.

- Essas chamas azuis e roxas são fantásticas... – comentou Nathan, fascinado. – Monkey, sabe dizer por que só alguns candeeiros se acendem e outros não? E por que as chamas são mais intensas com alguns novatos?

- Pior que não sei. – ele riu. – Deve estar relacionado ao nível das habilidades de cada um.

Nathan olhou por cima dos ombros para Kathryne, buscando respostas mais certas, mas envergonhada ela desviou o olhar.

- Ele está certo. – respondeu a voz suave atrás de Nathan, que logo se virou para trás, fazendo a garota envergonhasse novamente.

- Desculpe. – pediu Nathan. – Então cada candeeiro é uma habilidade? – ele desviou o olhar para que a garota não se sentisse tão desconfortável.

- Não exatamente. – ela apontou o salão. – As chamas azuis a direita medem o nível de habilidade física, as roxas são habilidades mentais. Quanto mais candeeiros se acendem, mais você está para aquela habilidade, a intensidade das chamas está ligada a força. Esse novato por exemplo, ele têm mais domínio, ou seja, mais facilidade para as habilidades psíquicas, pois duas chamas roxas se acenderam, mesmo que fracas e somente uma azul.

- Entendi, muito obrigado, Kathryne.

- Por nada. – respondeu ela tropeçando nas palavras.

- Ah, - chamou Nathan, virando-se novamente. – É que eu esqueci da chama do meio, a roxa com azul em frente ao círculo, o que ela mede?

- Mede o equilíbrio entre os dois campos de habilidade. – respondeu o garoto ao lado de Nathan, seriamente como se fosse lhe bater se fizesse mais uma pergunta. – Agora, será que você pode calar a sua boca e a da sua namoradinha.

Kathryne ficou mais ainda envergonhada. Nathan olhou o garoto, furiosamente, mas achou melhor não arranjar confusão no meio do teste, então sorriu desconfiado para a garota e se arrumou em sua cadeira.

- Emily BirdHill, por favor se apresente. – chamou Yzzis.

A garotinha de no máximo doze anos tinha um olhar altivo, desceu as escadas chamando a atenção de todos para seu cabelo loiro com as suas mechas azuis da mesma cor de seus olhos. Usava um vestido altura dos joelhos de cor verde, com um cinto de couro em volta da cintura e uma sapatilha azul-marinho.

Nathan se focou nas chamas de Emily, interessado em saber quais seriam as suas habilidades.

- Nem pisca, não é? – satirizou Monkey.

- Nada a ver, estou olhando para ela como olhei para todos os outros. – se defendeu o garoto, mas sua vergonha ficou nítida em seus olhos.

Duas chamas pequenas, tanto azuis quanto roxas, se acenderam em mesmo tamanho e intensidade, com exceção do candeeiro do meio à qual foi menos intensa.

- Algo extra a nos mostrar, senhorita BirdHill?

- Sim! – disse destemida. Tirou do cinto de couro uma pequena lâmina, mostrou aos jurados e sem arrodeios, fez um corte superficial em sua mão.

Nathan e Monkey não puderam acreditar no que viram. O que ela está fazendo? Se perguntavam. Olharam os Moustres em busca de uma reação, mas eles estavam calados e só observavam. O garoto não conseguia acreditar naquilo, olhou para Monkey indignado, mas ele não parecia nem um pouco preocupado.

- Monkey?! – disse Nathan com uma certa fúria.

Sem desviar o olhar, ele fez sinal de silêncio e apontou Emily, que erguendo a mão sangrando para frente, pôs a outra sobre ela e se concentrou olhando-as fixamente.

Todos em silêncio não tiravam os olhos da pequena menina. Cerca de cinco minutos se passaram, o sangue ainda pingava de sua mão, sussurros começaram a se manifestar no salão, mas ela mantinha o foco.

- Quer ajuda, criança? – perguntou Yzzis, meio preocupada. Emily não respondeu e a Moustre insistiu já arrumando a poltrona para que pudesse sair. – Tudo bem, você terá todo um semestre para nos...

A garotinha de mechas azuis então levanta a mão que havia cortado, ainda suja com o sangue que secava, mas sem nenhum corte ou mesmo cicatriz.

- Meus parabéns! – exclamou Yzzis, batendo palmas com os demais Moustres. – Como está se sentindo? Parece ter gastado uma boa parte de sua energia prima...

- Estou bem. – disse Emily respirando fundo.

- Tenho certeza que ficará melhor, pode ir. – se despediu Yzzis.

Nathan ficou maravilhado, ele já tinha tido a experiência de ser curado, mas imaginava que precisava se ter um alto nível de conhecimento para se usar tais técnicas. Aquilo o fez se encantar por Emily, agora não era só a beleza dela que o cativava, mas também o seu nível de conhecimento.

- Acho que alguém se apaixonou... – comentou Monkey, rindo e fazendo um coração com as mãos.

- Não mesmo! – negou Nathan, mas até mesmo Kathryne notou que ele havia ficado com um brilho diferente no olhar.

Aquilo fez um surgir um sentimento ruim em Kathryne, ela não sabia explicar o que era, sentia tristeza e uma mistura de ciúmes, rivalidade e até um pouco de raiva. A pequena garotinha de longos cabelos negros ficou confusa ao sentir aquela explosão de emoções emanando em seu peito, fixou seu olhar em Nathan que ainda conversava com Monkey e se perguntou, o que estaria acontecendo consigo.

Após Emily, outras dezenas de formandos se apresentaram, até chegar a vez de Kathryne. Mesmo parecendo tímida e insegura, ela levantou-se com sua espada embainhada e desceu as escadas até o círculo de pedra e se apresentou firmemente.

- Muito bem, senhorita Consiw'Hopes, pode começar. – disse Moustre Tabbys, que a havia chamado.

Kathryne juntou as pernas e ficou ereta segurando a espada a sua frente com as duas mãos, ela fechou seus olhos concentrando sua energia prima apertando o cabo da espada firmemente. Duas chamas azuis se ascenderam e somente uma roxa. Sem que os Moustres pedissem ela desembainhou a espada rapidamente, um vento correu por todo o salão e um assobio baixo pode ser ouvido por todos. Aquilo para alguns foi algo simples, mas Nathan novamente ficou admirado com o que presenciava e a partir desse momento começou a se preocupar com o que faria, afinal, ele não controlava sua energia prima e muito menos tinha alguma habilidade especial.

- Parabéns, menina. – disse Tabbys, arrumando os óculos. – Pode ir pegar sua farda com Milie e Heyg.

Nathan não dizia uma palavra, preocupado com sua apresentação.

- As habilidades físicas dela parecem ser muito boas, não é? – perguntou Monkey quebrando o silêncio mas Nathan não respondeu, perdido em seus pensamentos. – Ei, Sidrake!

Ouvir seu pós-nome o despertou daquele transe com desgosto.

- Não me chame assim! – respondeu entredentes.

Monkey ficou desconcertado, já vira Nathan chateado antes mas não com aquele olhar, seus olhos pareciam consumir a sua alma.

- Desculpa, - disse com um sorriso torto. – tem alguma coisa errada?

- Não... Bom, na verdade, sim. – a voz de Nathan estava trêmula. – Está próximo do meu nome e, tipo, o que eu vou apresentar? Eu não sabia que existia o Instituto, imagina essa tal de energia prima! Eu com certeza vou me dar mal, talvez até expulso.

- Entendo... – disse Monkey, empático. – Mas você vai se sair bem, só precisa confiar mais em si mesmo. – sorriu.

Kathryne viu a apreensão de Nathan quando voltou para seu lugar, ela queria de alguma forma ajudá-lo mas, assim como Monkey, não sabiam como.

Manipular a energia prima não é algo que se aprende em minutos e os dois sabiam muito bem disso.

Quanto mais o tempo passava, mais a apreensão do garoto aumentava, seu nome estava próximo e ele não fazia ideia do que faria. Aquele Teste das chamas seria sua prova de fogo.


Notas Finais


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