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História Almas Para Oblivion - Utopia


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


AHHH DÉCIMO CAPÍTULO!!

MEU DEUS!

ASNADSANDSANDLASNDLA

Bom, espero que gostem do capítulo!

Desculpas antecipadas por qualquer erro... Eu editarei depois!

Boa leitura ^^

Capítulo 10 - Utopia


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Utopia


Senti um peso nos ombros, meu coração acelerar com o nervosiso. Estou pronto para morrer. Os olhos cor de mel animalescos, me encarando como um predador encara a presa antes de atacá-la e rasgar a sua pele para se alimentar de carne fresca e avermelhada. Notei que ver Peter irritado comigo é meu flagelo pessoal, uma dor corrosiva que queima a pele. James olhava para mim, mas tornava os olhos para o lado quando eu retrucava os seus olhares inseguros. Ele mexeu os lábios como se fosse falar algo, mas não escutei nada. Movimentos labiais afônicos. "Desculpe-me", as sobrancelhas circunflexas. James contou a Peter ou ele escutou toda a conversa que tive com Darwin. Nenhuma das opções resultaria em algo bom. Bom, para ele estar com tanta raiva, provavelmente escutou a conversa.


Se James o tivesse contado, ele provavelmente coçaria a nuca, com o rosto inexpressivo e se sentaria na cadeira olhando para o nada, enquanto James diz que ele tem poderes e que podemos acabar com a maldição. Maldição. Sim, maldição, posso te chamar disso. 


Darwin estava com o queixo inclinado para frente e com os braços cruzados. Ele esbanjava confiança. As ondas de cabelo para trás, as sobrancelhas franzidas. Ele pigarreou. "Você deve ser Peter", andou para minha frente, me tampando com seu braço e o ombro direito, "Sou Darwin Griffiths, Eleanor me...", se interrompeu ao ver que Peter não estava prestando atenção, "Olhe, isso já aconteceu antes, dois Filhos de Oblivion ao mesmo tempo, seus poderes apenas foram estimulados, mas...", parou e mordeu o lábio. Peter olhou de mim para Darwin, com expressão desconfiada. Ele revirou os olhos e falou, "Mas o que?!", bateu o pé no chão. "Peter!", cortei. Peter arregalou os olhos para mim, indignado. Darwin abriu a boca. "Mas por consequência do estímulo, a sua alma e a de Thomas estão conectadas", se aproximou de Peter, que o olhou torto. "Conectadas?", James se aproximou dos dois. Darwin repetiu o que me falou, aquilo de se ele morre, você morre, o que ele sente, você sente, as vantagens e desvantagens de termos nossas almas conectadas. Peter deixou os braços caírem nas laterais do corpo e olhou para James, que se impressionou facilmente com o discurso Darwin. "Então é verdade, dois Filhos de Oblivion", James tateou o braço de Peter, procurando por marcas. Expliquei sobre o efeito dos raios solares na coloração das veias e ele deu de ombros. Peter passou por nós e se sentou na cama, uma expressão pensativa e de desencanto. Eu fiquei triste e confuso, repentinamente. "Como aconteceu?", Peter levantou o olhar para Darwin, que olhou para mim, constrangido e depois voltou a olhar para Peter. Darwin se aproximou dele e sussurrou em seu ouvido. "Falem para mim também", James balançou os braços no ar. A expressão de Peter passou de melancólica à encabulada, além de ver, pude sentir. Foi através do sexo, imagino Darwin sussurrando exatamente isso. James bufou e cruzou os braços. "Podem me deixar à sós com Thomas por um instante? Precisamos, hã, conversar...", James saiu levitando, com raiva, enquanto Darwin simplesmente assentiu e saiu andando. Ele não passou pela parede, passou pela porta e a fechou. Eles começaram a conversar no corredor. Me peguei tentando escutar os sons abafados.


"Thomas...", ele se levantou da cama, veio até mim e repousou as mãos nos meus ombros, "Por que não me contou? Por que não me contou que sou um Filho de Oblivion?!", interpelou, apertando meus ombros. Suas bochechas e a ponta das orelhas ficaram vermelhas. "Peter, está me machucando... Ai!", ele me fitou por um momento e me soltou. Andou pelo quarto com a mão na cabeça. Acariciei meus ombros, com marcas de dedos amareladas e vermelhas. "Eu não sabia! E, falando nisso, como você soube?", ele se virou para mim. "James", cruzou os braços, "Ele ficou procurando marcas nos meus braços e uma 'luz branca' nos meus olhos e acabou perguntando se eu sabia que sou uma Embarcação", deu uma risada seca, "E eu vim falar com você, mas você estava falando com Darwin", o tom ao falar o nome dele foi um tanto estranho, ciumento. "Peter, eu não sei muito sobre isso, mas sei que devemos ter mais cuidado e que você deve aprender a usar os seus poderes para termos chances de derrotá-la", me aproximei dele, "Não entendo o porquê de sua raiva se eu também não sabia o que você era", peguei na mão dele com as duas mãos e acariciei-a com as pontas dos dedos. Ele fechou os olhos e respirou fundo. "Eu achei que estava escondendo de mim para eu não me matar no seu lugar", abriu os olhos e sorriu, "E eu faria isso, eu me mataria no seu lugar", os olhos cor de mel ficaram brilhantes. Eu repousei minha cabeça em seu peitoral, sentindo as batidas aceleradas de seu coração e a respiração irregular. "Não temos essa opção agora, Peter... Nós simplesmente não podemos morrer, não podemos", murmurei, colocando meus braços em volta da cintura dele, "Nós temos que aprender como derrotá-la, precisamos saber mais sobre Eleanor", Peter afagou minha nuca, expirando ar quente no topo de minha cabeça. "Então me toque e sonhe, eu a conheço", ele me afastou na distância de um braço para que pudesse olhá-lo. Eu balancei a cabeça. "Se você soubesse seria muito fácil... Ela quer que falhemos... É algo que ninguém sabe, nem mesmo você", raciocinei. É óbvio, ela quer ganhar e vai usar a nossa ignorância como vantagem. Sabemos que o que ela esconde aconteceu até meu aniversário, já é algo, mas... "Eleanor ainda é a titereira nesse jogo, no qual nós somos suas marionetes", falei, "Temos que aprender a cortar as cordas antes que ela fique entediada de brincar conosco e corte nossas cabeças", Peter olhou para mim, o maxilar rígido. "Como faremos isso?", balancei a cabeça. Eu não sei, mas... "Bom, Darwin poderia nos ensinar algo, afinal, ele é o terceiro Filho de Oblivion... Ele pode nos ajudar", peguei na mão dele e acariciei as nós dos dedos. Peter deu um suspiro impaciente. "Como pode confiar nele tão rápido?", sussurrou, se aproximando alguns centímetros. Dou um sorriso e toco em sua maça do rosto, subindo até os cabelos. "Confiei nele porque ele fez por merecer", o sentimento de ciúmes me preenche rapidamente e dou uma tremedeira suave; Peter trinca os lábios, "Como aconteceu com você... Confiei em você minutos após te conhecer. Com ele foi a mesma coisa", Peter vira a cabeça para a esquerda, "Sei o que está pensando. Eu não vou me apaixonar por Darwin", ele se vira para mim, hesitante. "Isso é uma coisa que não pode prometer Thomas... Eu achei que nunca iria me apaixonar por você e aconteceu em um tempo muito curto, muito mais curto do que o que eu esperava, caso eu me apaixonasse por alguém", mas..., "Só não... (suspiro) se apaixone por ele, tudo bem?", ele saiu antes que eu pudesse responder, com a cabeça inclinada e com os ombros um pouco caídos, me deixando de boca aberta. Ele abre a porta, sai e a fecha. Não sei descrever o que ele sente. 


* * *


Estamos, nós quatro discutindo na cozinha. James sentado no chão. Peter olha de mim para Darwin repetidas vezes, enquanto conversamos. "...É como você falou", Darwin apoiou o quadril na bancada, "Temos que descobrir o que é... Não pode voltar no tempo, Thomas? Só para descobrir o que é...", eu nego, dizendo que posso voltar apenas se tocar no objeto ou pessoa certa; Darwin olha para a parede, pensativo, "Objeto ou pessoa certa... Pense no que ou em quem pode te levar para mais perto de Eleanor", eu fico ao lado de Darwin e fecho os olhos, isso ajuda a me concentrar. Alguém próximo de Eleanor. Era óbvio. Jon. Falo o nome de meu pai imprudente em voz alta. Peter balança a cabeça. "Não vai dar certo...", falou de uma maneira ríspida, "Jon nunca deixará Thomas tocá-lo, ele tem uma aversão severa". Está mais para uiofobia psicótica. Darwin dá um gemido descontente. "Se isso não vai acontecer então temos que ensiná-los como controlar suas habilidades", o Darwin Griffiths vulgo Confiança Personificada, colocou as mãos nas cinturas e ergueu o queixo, uma pose um tanto fantástica. "Temos? No plural?", Peter perguntou com uma sobrancelha erguida. James forçou um pigarro. Ambos, eu e Peter, falamos "Ah sim" e sorrimos um para o outro. "Venham", fez um gesto com a mão para segui-lo enquanto saia da cozinha em direção ao campo com um sorriso gentil e com o candelabro na mão. James o acompanhou. Nós o seguimos pouco depois. 


Darwin estava de braços cruzados ao lado de James quando nos aproximamos, o candelabro bruxuleante na grama escura. "James...", Darwin fala, colocando uma mão sobre o ombro do menino, "Pode derrubar aquela árvore?", ele se vira e aponta para uma árvore com o tronco e galhos grossos, curvados e escuros. James confirmou com a cabeça; ele esticou o braço em direção à árvore apontada por Darwin por alguns segundos. "Vamos, James!", Darwin bate palmas, apressando-o. James responde com um grunhido. Escutamos um som rasgado. Então, várias farpas de madeira voaram pelo ar. A árvore foi cortada acima da raiz, e caiu na grama. James se apoiou nos próprios joelhos, aparentemente cansado e arfando. Eu bato palmas e James dá um sorriso cansado. "Muito bom, James", Darwin se vira para mim e para Peter, "O que vocês devem fazer é gerar uma nova árvore usando seus poderes", apontou para os destroços, "Ou transformar em outro objeto...", deu de ombros, "Mas devem utilizar os seus poderes". Nós assentimos e fomos em direção ao tronco deformado e com farpas enormes tornadas para cima, como várias estacas. "Sintam o poder correr por suas veias e se concentrem", Darwin respirou profundamente - ou fingiu - de uma maneira instrutiva.


Ao ficarmos na frente dos destroços, eu me ajoelhei e toquei no restante da árvore que ainda estava presa ao chão. Toquei no tronco cortado e nas extremidades afiadas das farpas. Tente curá-la, Thomas. Sinta o poder. Eu senti. Uma energia que irradia e corre pelo corpo todo, não apenas nas veias. Era pulsante e se tornava maior. Abro meus olhos e olho para Peter. Olhos brilhantes e marcas pretas. Olho para meus próprios braços e estão com as mesmas marcas escuras e abstratas. Quando aproximo meus rosto dos meus pulsos ou vice-versa, são iluminados por uma luz branca. Peter está calmo, ajoelhado e com os olhos fechados. Darwin olha para mim com o rosto inclinado, as sobrancelhas formando um V. É muito, não consigo controlar. Enquanto o poder corre por mim, sinto uns choques em várias partes do corpo e gosto de sangue na boca. Uma dor invade meu corpo, me inclino para frente, caindo nos meus cotovelos. Sem aviso, Peter cai de costas no chão e começa a se contorcer, gritando. Darwin vem em minha direção, com os olhos arregalados, mas não presto atenção no que ele diz, apenas sinto a dor aguda que me faz (nos faz) arquear as costas e contorcer. A dor que faz pressão nas minhas costelas e diminui a passagem de ar. James está com Peter, balançando seus ombros enquanto ele grita. Darwin corre para Peter, que está com uma linha rubra de sangue descendo da boca ao maxilar e continuando até pescoço e a clavícula. Me apoio no tronco e sinto as farpas perfurarem de leve meu antebraço e meu cotovelo, causando uma reação em Peter também. Faça parar. Faça parar!... Eu posso fazer parar. Olho para o tronco e as farpas e estou determinado a acabar com isso. Eu o seguro nas laterais e olho de cima. Conte até três e faça. Você disse que estava disposto a ser forte. Um, dois, três. Eu fiz. Eu bati minha cabeça no tronco e gritei, um barulho ensurdecedor. Bato novamente, com a cabeça latejando e o gosto metálico na língua. Acabe. Me preparo para bater a cabeça mais uma vez, esperando que seja a última. Uma pancada que me deixe inconsciente. Inclino a cabeça para trás e depois para frente. Um, dois, três. Venha para mim, inconsciência. Eu não bato a cabeça. Sinto duas mãos, uma em minha testa e outra com os dedos nas minhas maças do rosto, empurrando um pouco para trás. Era Darwin, com as sobrancelhas franzidas e os lábios rosados se movimentando, como se estivesse me falando algo, mas não consigo ouvi-lo, apenas escuto um zumbido. Estava tonto, enquanto ele me balança para frente e para trás, segurando nos meus ombros. Apenas inclino minha cabeça para trás, olhando para os pontos brancos no céu, deixando a escuridão me embalar, enquanto minhas pálpebras ficam pesadas. Me mostre mais, Sonho dos Condenados. Fecho meus olhos, ainda podendo ver pontos brancos no escuro e sentindo mãos me inclinando para baixo, me deitando na grama. 


Abro meus olhos ansiosamente.


Estou deitado em terra marrom escura, meus cabelos e minhas vestimentas sujas e amarronzadas. Me levanto, vagarosamente olhando em volta. As árvores grandes e verdes, a grama e o mato batendo nos meus calcanhares. A mesma trilha. Estou no vilarejo, mas as casas são mais rústicas do que o do sonho de James, todas de madeira. Havia palha para todos os lados e crianças corriam de um lado para o outro, gargalhando. Ando em direção às casas e às pessoas sorridentes, trabalhadoras, em roupas simples de pano, trabalhando com plantações. Eles gritam entre si, chamando uns aos outros para trocarem produtos em cestas. Chego um uma área circular, com vários toras empilhadas e uma parte da floresta desmatada. Olho para todas as casas e uma, em particular, me atrai. Uma casa que não era uma casa, era uma escola. Ao lado da porta havia uma superfície de madeira pregada por cima da parede de madeira, com a palavra "Escola" escrita. Mais parecia que foi arranhado do que escrito. Bato os nós dos dedos na porta e espero. "Estou indo", a confiança em sua voz foi substituída por gentileza. Ele abre a porta. O cabelo ondulado preso em um rabo de cavalo baixo, com pelos na linha da mandíbula, os olhos castanhos curiosos e um sorriso estampado sem mostrar os dentes. Ele franze o cenho e abre a boca. "Pois não, como posso ajudá-lo?", eu bufo e ele cerra os olhos, "Me diga o motivo de sua vinda", ele cruza os braços. Eu o olho nos olhos. "Darwin, estamos em um sonho e eu acredito que não irei acordar tão cedo, então...", ele se afasta e olha para mim com expressão interrogativa, inicialmente, mas depois pisca os olhos várias vezes, como se tivesse acordado de um devaneio, até suspirar e, em seguida, falar: "Thomas... entre, entre", balança os dedos para mim. Eu o faço, entro no casebre educacional. Haviam vários desenhos com carvão pregados na parede e uma mesa enorme, com várias cadeiras em volta. Também havia outra mesa, uma menor, perto da porta, com uma cadeira e vários papéis. Como de costume, tudo de madeira. Vários candelabros com suporte para uma única vela espalhados pelo cômodo. Darwin fecha a porta e bota uma tábua na frente. Essa era a tranca, uma tábua em cima de dois suportes atrás da porta.


Ele apoia as costas na porta e resfolga, depois sorri para si mesmo. Olha para mim e sua expressão muda de relaxado para irritadamente curioso ou simplesmente irritado. "Como você veio parar aqui?", sussurra, vindo em minha direção. Me sento em uma das cadeiras e apoio meu cotovelo esquerdo na mesa. "Você tocou em mim antes de eu ficar inconsciente. Foi espontâneo, tudo bem?", ele se apoiou na beirada da mesa, "Não é como se eu quisesse saber o seu passado, nem estava pensando nisso no momento", olhei para as minhas coxas. Darwin se sentou na cadeira ao meu lado. "Por que fez aquilo?", levanto meu olhar, "Não sabia que poderia machucar Peter também?", a voz suave me acalmou um pouco. Olhei para ele, balançando a perna esquerda. "Eu queria que a dor cessasse, era...", vacilei; Darwin afagou meu ombro, "Era muito poder, crescendo cada vez mais... Não tive a intenção de machucá-lo, mas eu tinha que fazer aquilo parar", cada expiração minha, a partir desse momento, parecia um gemido involuntário, "Não sinta pena de mim, odeio quando o fazem", olhei para a mesa com vários pedaços de carvão e papéis; ele se desculpou. Eu engoli em seco, estava com sede. "Em que ano estamos?", olhei em volta. "1621, um ano antes do sacrifício, no dia do estímulo artificial", se levantou e foi em direção à mesa menor. "A boneca...", ele inclinou o tronco para baixo e pegou a boneca do chão. Ele a colocou na mesa na minha frente, eu a peguei. Era possível ver que era feita de pano por dentro, revestida por um tecido costurado no próprio pano. Haviam botões pretos no lugar dos olhos e um sorriso costurado com linha vermelha. Os cabelos eram feitos de várias linhas amarelas costuradas no topo da cabeça e usava um vestido feito de retalhos. "Você que fez, não é?", ele assentiu, orgulhoso e constrangido, "É muito bonita... Ainda entregará para ela?", ele fez um curto gesto afirmativo com a cabeça. Ele olhava para a boneca como se fosse um tesouro escondido que encontrou com muito trabalho e dedicação. Não posso julgá-lo, ele fez um ótimo trabalho. Ele se levanta e ajeita sua blusa de tecido fino. "Devo entregar isto a ela...", disse enquanto se aprumava. Eu dei um sorriso para ele. Ele olhou para mim, franzindo o cenho. "O que foi?", parou de se arrumar, "Está ruim?", notei uma pequena insegurança em sua voz. Eu balancei a cabeça, ainda sorrindo. Suas orelhas ficaram vermelhas e mordiscara o lábio inferior. "Qual o problema então?", cruza os braços. "Não é um problema... Você está apaixonado", abri um sorriso ainda maior. Apaixonado. Ele retruca com um sorriso sem graça, mas genuíno. Thomas, é só um sonho... Não vai durar para sempre e ele tentará voltar. Sinto muito, Darwin. "Quer vir comigo? Entregar...", ele apontou para o lado de fora com a cabeça. Eu forço um sorriso e digo que sim. Ele sorri, inflando as bochechas até quase conseguir fechar seus olhos. Colocou a boneca embaixo do braço.


Saímos e as pessoas começaram a olhar para nós, para mim. Seus olhares curiosos e os cochichos irritantemente puxados para o c e o s. "Quem é eSSe menino?", "ConheCe eSSe garoto?", "Por que ele eStá andando com Darwin?". Darwin estranha, olhando em volta. "Conseguiam te ver antes?", sussurra. Tento não fazer contato visual com eles, mas não abaixo a cabeça. "Não, nunca me viram em sonhos anteriores", retruco, "Espere...", Darwin para e se vira para mim. Eu fecho os olhos. "Thomas", murmura em meio a um grunhido e olha em volta. "O que ele eStá fazendo?", "Que maluquiCe", "Ele é um bruXo?!". Bruxo?. O alvoroço começa com várias pessoas começando a aumentar o tom de voz. "Thomas, temos que ir", murmura. Eu estou sentindo o poder; as vozes se tornam cada vez mais baixas, até que... E desejo que isso aconteça, será melhor se for assim. "(Gritos)! Ele deSapareCeu!", "Ele Sumiu!". Eu desejo não ser visto pelos outros, exceto Darwin, é claro. Ele sorri ao ver o meu feito e faz um gesto com a cabeça que indicava um me siga. Passei em meio à confusão despercebido. Meus cabelos roçaram nos ombros de algumas pessoas, que em seguida os coçavam freneticamente olhando em volta se perguntando aonde o menino com cabelos de penas de corvo foi parar. Eu estava andando na ponta dos pés para não deixar marcas na terra, marcas de sapato aparecendo sozinhas. Às vezes é melhor ser invisível.


Andamos mais alguns segundos até uma casa com várias flores de diversas cores e famílias em vasos espalhados pelo chão. Darwin respira fundo e bate na porta com as costas da mão. "Estou indo", a voz animada de uma mulher. A porta se abre, uma mulher negra e esbelta, com uma espécie de bandana amarela em sua cabeça e um avental por cima de seu vestido azul aparece. Ela sorri ao ver Darwin, seus lábios carnudos formando um coração marrom. "Darwin!", ela abre a porta completamente, faz o mesmo com seus braços e se aproxima de Darwin para abraçá-lo. A sua voz tinha um tom mais baixo que a minha, um grave vibrante e forte. Ela o abraçou e eles balançaram de um lado para o outro, sorrindo. "Margareth, é muito bom te ver", ainda balançam. A boneca cai no chão, mas Darwin parece não perceber. Se eu avisar, ela saberá que estou aqui, pensará que sou um bruxo e perguntará o porquê de eu estar andando com Darwin e no final, tudo dá errado. Estou ficando orgulhoso de minhas prognosticações mas espero que não sejam, de fato, proféticas. "Entre, entre", falou após se separarem de seu abraço caloroso. Ela ficou atrás da porta, dando espaço para Darwin passar, que foi primeiro e eu o segui. Consequentemente, Margareth quase fecha a porta enquanto estou entrando. "Trago isso para Gemma", ele abre a boca, arregala os olhos e olha para o chão da casa; Margareth olhou para ele, confusa, "Eu trouxe um presente para ela, mas sumiu... O que?!", falou com uma certa indignação no rosto. Ele olha para mim. Eu aponto a cabeça para a porta. Lá fora. Escutamos em seguida, vindo do lado de fora: "Uma boneca... Que linda! Vou te chamar de Daisy", falou a ladra mirim e depois, passos leves de menina se afastando. Quero dizer, imagino que seja uma menina, mas também pode ser um ladrão mirim. "Uma boneca?", Margareth pergunta com um sorriso. Darwin assente. Eu fecho os olhos e me imagino visível novamente. Percebo que deu certo quando Margareth grita e se afasta com um pulinho. "Quem é você?", ela suspira com o susto,  "Saia ou eu chamarei os outros!", eu cruzo os braços e olho para Darwin, que morde o lábio alternando seu olhar entre ela e eu. "Olhe, eu estive aqui o tempo todo, invisível. Não precisa se preocupar em chamá-los porque já estão atrás de mim, achando que sou um bruxo... Não sou um bruxo ou qualquer coisa do tipo!", bato o pé no chão, "Eu vou buscar aquela boneca... (vou em direção à porta) Darwin, se me atacarem, eu revidarei... Sei que são as pessoas que você ama e com quem conviveu, mas já estão mortos", Darwin entendeu, mas a negra esbelta com expressão amedrontada e um tremelique nas mãos, não, "Sem ofensas... Me desculpe, não deveria ter dito isso", emendei, abaixando o tom. Darwin fez um gesto com a cabeça que indicou que não havia problema. Antes de sair, peguei a capa vermelha com capuz que estava em cima da mesa no centro do cômodo, que era a cozinha. Várias prateleiras com panelas, alguns caldeirões, baldes e alimentos em geral. "Se importa? Prefiro que não me reconheçam", ela balançou a cabeça. É isso que os meus surtos de raiva esporádicos causam: medo de me contrariar. Eu agradeço e coloco a capa vermelha. Cubro meu rosto com o capuz e coloco meu cabelo para trás. Eu saio da casa e vou para a esquerda, onda há mais algumas dezenas de casas, uma trilha e a floresta densa. As pessoas estão indo, de maneira apressada, em direção ao lugar de onde eu desapareci, mas as crianças estavam todas na direção oposta, como se nada tivesse acontecido.


Havia um grupo de oito crianças ou pre-adolescentes perto da floresta. Estavam em pé, cercando uma garota loira com tranças, que segurava a boneca. Ela sorria, orgulhosa por ter encontrado um brinquedo tão lindo, deixando as outras crianças cheias de inveja. As crianças sorriam e carregavam coisas diversos alimentos, oferecendo à menina ladra. Ela sorria para todos eles como se aquilo não fosse o suficiente para emprestar a boneca aos seus amigos por subordinação, que supostamente era dela no ponto de vista das outras crianças, de Gemma no meu ponto de vista, de Darwin e Margareth. No ponto de vista da menina, a boneca poderia ser dela ou simplesmente de alguém descuidado, mas que no final pertenceria à ela do mesmo jeito. Finders, keepers; Losers, weepers. Achado não é roubado. Uma variação de uma lei romana sendo usada em prol de crianças sem brinquedos é quase satírico. Como Terra nullius em um sentido mais ligado aos brinquedos. Terra de ninguém se tornaria brinquedo de ninguém. Crianças que viviam um século antes de mim se apegaram às minúcias, mas como estou aqui, acho melhor falar isto no presente. Elas se apegam às minúcias.


Depois chegaram mais dois garotos, carregando uma cesta cheia de pães e frutas, com chapéis de aba curta em suas cabeças, camiseta de manga curta por dentro das calças com estampa quadriculada, sapatos desgastados; gêmeos idênticos com os rostos molhados de suor e corados pelo esforço físico. "Aqui está a cesta com comida (gêmeo número um), pegamos do estoque do padeiro (gêmeo número dois)... É delicioso, pegue! (ambos)", falaram de uma maneira assustadoramente sincronizada, como se fosse ensaiado; colocaram a cesta no chão e as crianças jogaram suas oferendas ali dentro. A garota deu um sorriso triunfante e puxou a cesta para si, com a boneca embaixo de seu braço. A cabeça da boneca virou para mim, com a rosto amassado pelo braço da menina. Me lembrei que tenho que devolvê-la. Me aproximo das crianças, ainda encapuzado. Ao ouvirem meus passos, eles se viram abruptamente, estranhando, mas posso dizer que se sentiram atraídos pela capa vermelha, me olhando de uma maneira estranha e curiosa. "Olá", digo, dando um sorriso. "Olá...", falam em tempos diferentes, com alguns 'olás' mesclados. "O que vocês tem aí?", inclino minha cabeça para tentar ver entre a barreira de adolescentes. Bom, alguns deles pareciam com crianças, outros, adolescentes. Elas abrem caminho e me deixam ver a cesta. "Pegamos do padeiro", fala o garoto ruivo com rosto sardento; eles dão uma risadinha. "Não, nós pegamos", fala um dos gêmeos, apontando para ele mesmo e o outro com o polegar, "Fazemos isso várias vezes, sem problemas", cruzou os braços e sorriu. Eles, os gêmeos, tinham a minha altura, mas o outro menino de cabelos curtos e escuros, era mais alto. Olho disfarçadamente para a menina com a boneca várias vezes e, ao mesmo tempo, tentando prestar atenção em seus contos pessoais de travessuras. "Se lembram quando eu peguei o balde d'água da Sra. Allen? Foi muito arriscado", falou a garota com cabelos castanhos presos em tranças, gerando mais risadas, "E quando eu peguei as calçolas da mulher do Sr. Thompson, o padeiro, ele ficou muito irritado", falou o garoto com cabelos cacheados loiros e grandes olhos castanhos claros; ele tinha uma cicatriz na bochecha, "Sim, sim, mas e quando nós pegamos o barco e fomos até as Ilhas de Scilly (eles assentem e dão risadas) aquilo foi muito legal", eles olharam para mim, como se quisessem que eu continuasse. Eu gaguejei e eles deram uma risada. "E a sua história?", eu tiro o capuz de meu rosto. Eles arregalam os olhos. "Nossa, que... cabelo comprido", o menino ruivo com sardas pega em uma mecha do meu cabelo e enrola nos dedos. A menina com cabelos muitos curtos pretos olha para mim e ruboriza. Eu conheço esse olhar. Desculpe, menina, mas eu não... Eu a ignoro. "Eu... (pigarro) eu fugi de casa com dois amigos meus", eles se inclinaram para frente, os olhos brilhando de curiosidade. "Você fugiu?!", fala um dos gêmeos. "Sim", dou um sorriso, "Bom... Enfim, me digam seus nomes. Eu sou Thomas Rosegardin", eles compartilham olhares entre si. "Rosegardin? A família de fazendeiros?", pergunta a menina loira com a boneca. Eu confirmo com a cabeça. "Por que você fugiu?!", indaga o garoto de cabelos cacheados loiros. Eu dou um sorriso curto. Eles olhavam para mim, com várias perguntas em suas mentes, como se eu fosse alguém de extrema importância, o que não é verdade. "Não me falaram seus nomes...", eles sorriem. 


1: O menino de cabelo loiro cacheado, olhos azuis e com cicatriz na bochecha, "Sou Devon Newton, filho de um dos pescadores". Se eu o visse contra a luz, diria que é um anjo, mas estamos na sombra de uma árvore. Usava um colete de brim marrom com uma camiseta de manga comprida por baixo e calça de pano. 2 e 3: Os gêmeos com vestimentas quase iguais, "Brandon e Brady Elliot, filhos do dono da fazenda", um apoiou o cotovelo no ombro do outro, "Brandon tem uma cicatriz na sobrancelha... Assim vai ser mais fácil de nos identificar", um dos irmãos tirou o chapéu e apontou para uma cicatriz diagonal na sobrancelha esquerda. Tudo bem, cicatriz na sobrancelha... 4: A menina loura segurando a boneca com um sorriso doce e a cabeça inclinada, "Elle Collins, filha de uma comerciante". Seus olhos verdes eram lindos. Usava um vestido azul claro, botas pretas e um laço na cabeça. 5: A menina com cabelo extremamente curto, olhos azuis e lábios finos. "Sou Dakota Patel... Minha mãe é fazendeira", olhou para mim e tornou o olhar rapidamente. Usava calças de pano por baixo do vestido com a saia rasgada. "E logo seremos irmãos, Dakota", fala um dos gêmeos, seguido da risada de um outro gêmeo. A garota o encara franzindo as sobrancelhas. 6: O menino ruivo e sardento com olhos castanhos escuros, "Kadie Watson, Tom... Posso te chamar de Tom, não é?", dei uma risada e ele pareceu satisfeito com isso. Usava roupas sujas de lama e os cabelos com um pouco de terra nas pontas dos cachos, "Ah sim, minha mãe é costureira e meu pai é pescador", deu um tapinha nas minhas costas. 7: O menino de cabelo e olhos castanhos escuros, magro e alto, "Michael Lewis, mas pode me chamar de 'Mike'", deu um sorriso. Seus dentes eram um pouco separados uns dos outros, mas por uma distância muito pequena, com coloração amarelada e um tanto arredondados. Exceto os caninos. E por último, 8: a menina com tranças castanhas, olhos cinzentos, boca carnuda e pele morena. "Lisa (pronúncia Láiza) Scott, meu pai é líder do vilarejo... Cuida da distribuição de alimentos, dinheiro necessário para comprar suprimentos, sementes, essas coisas", ela dá de ombros. Eu os observo atentamente, muitos são órfãos e como seus pais trabalham, devem se sentir sozinhos o tempo todo, como eu me senti por grande parte da minha vida, que provavelmente acabará em 360 dias; isso pode ser profético. Eles se uniram pela solidão. Eu os entendo e sou como eles.


Devo me lembrar todos esses nomes: Devon, Brandon, Brady, Elle, Kadie, Michael, Lisa, Dakota.

 
"Prazer em conhecê-los", dou um sorriso direcionado a todos eles, que retribuíram o sorriso; alguns falaram "Prazer" e outros apenas um aceno de cabeça. Sinto que posso ser verdadeiro com eles e comigo mesmo. Pelo o que me falaram, o mais velho é Michael com 13 anos, seguido dos gêmeos, também com 13, mas alguns meses mais novos e o resto com 12 anos. Então são Filhos de Oblivion?. "Todos viemos para cá em busca de segurança em uma caravana", falou Michael, "Nosso antigo vilarejo fora atacado por bruxas, matando alguns de nossos familiares. Isso foi a 9 anos atrás... Então nos mudamos para cá". Não. Olharam para mim como se suas memórias invadissem suas mentes de uma maneira dolorosa. A famosa caça às bruxas do século XVII. "Eu fugi de casa porque me tratavam como um objeto descartável", eles olharam para mim; escutou Elle murmurando "coitado" com a voz fraca, "De onde eu venho não existem mais bruxas, elas sumiram bem antes de eu nascer... É um tanto pacífico, bom, para aqueles que não são como eu", olhei para a grama. "O que quer dizer com 'pessoas como você'?", indaga Brady, apoiando as costas na árvore. Eu respiro fundo e me afasto um pouco, pensando no que irei dizer.


"Eu sou um Filho de Oblivion e estamos nas memórias de Darwin, mas isso não é real, vocês estão mortos!". Objetivo, mas rude e cru... "Eu tenho poderes especiais pelo fato de eu ser diferente e isso fez com que as pessoas tivessem medo de mim, então eu fugi, com pessoas que se importaram comigo, que me ajudaram e com quem eu sou feliz... Meu poder é a capacidade de sonhar com o passado e estar inserido nele, com em um sonho normal", Bom, Thomas... Continue, "Isso quer dizer que tudo isso é apenas uma memória da última pessoa em que toquei, que funciona com um gatilho: eu toco em algo e sonho com isso. A pessoa que eu toquei está conectada ao meu sonho e pode aparecer como ela mesma ou não... Pode parecer uma realidade para vocês, mas não é, completamente. Sei que posso parecer louco mas posso provar que tenho poderes". Sim, você pode. É claro que pode. Eu posso.


Falei exatamente o que havia pensado e, por conseguinte, me olharam como se eu fosse um louco. Mas, novamente, falei que tenho como provar e, de fato, tenho. É uma questão de lógica. Os sonhos vem da nossa mente, então é preciso apenas usar a imaginação para poder fazer o que eu quiser. Afinal, sou eu que estou sonhando. Posso fazer o que eu quiser aqui, - como ficar invisível - mas apenas percebi isso agora. Eu não crio a ambientação completa e nem poderia criar as pessoas que moram aqui, porque eu não as conheço, mas eu pego emprestado uma pequena informação de outra pessoa. Um referencial. O bastante para me ajudar a voltar no tempo enquanto durmo e para minha mente se instalar no lugar certo. O que quero dizer é que eu posso fazer o que eu quiser enquanto estou sonhando. Posso fazer meu próprio mundo. "Prove...", fala Michael, enquanto Elle, Dakota e Devon dão alguns passos para trás, "Vamos! prove!", ele se aproxima, com atitude um pouco hostil. Eu me afasto, levantando os braços, indicando que não queria brigar. Michael recua. Eu respiro fundo, tentando imaginar o que eu posso fazer.


Voar.


Me imagino levitando como James faz, esticando os dedos do pé enquanto fica entre o chão e o céu. Então começo a levitar, sentindo meu corpo subir como se todo o peso que eu tenho desaparecesse. Eles olham para mim, pasmos e um tanto desconcertados, menos Kadie, que parece bastante animado. "Mas o quê?", diz Brandon. "Como?", diz Dakota, "Incrível". Pude perceber que eles acreditavam em minha palavra e queriam saber mais sobre o intruso em seu universo que na verdade é uma junção da mente de Darwin com a minha. Eu paro de levitar e volto a por meus pés no chão. Então eu me lembro. A boneca. Primeiro penso em pegar a boneca das mãos de Elle e sair correndo, um ladrão que roubou uma ladra, que roubou Darwin. Porém, eu posso fazer outra boneca e ambas ficam felizes. Elle com sua boneca e Gemma com a dela. Seria melhor se eu voltasse. "Hã, eu tenho que ir, mas eu volto logo", falo andando de costas em direção aos casebres de madeira. Visto o capuz e corro pelas trilhas de terra deixando aquela poeira marrom subir e ser levada pelo vento. Posso ver que os adultos estão discutindo sobre algo, no centro, cheio de toras de árvores cortadas. Parecem furiosos. Bato na porta da casa de Margareth com as nós dos dedos e ela parecia já estar me esperando, já que abriu a porta tão rapidamente e me puxou para dentro pela capa. Ela espiou do lado de fora antes de fechar a porta, depois se virou e colocou as mãos na cintura, sobrancelhas franzidas e uma expressão adversa a mim. "Estão comentando sobre você - em voz alta -, não pode ser nada bom", gesticulou e fez uma onomatopeia de reprovação enquanto balançava a cabeça. Tsc, tsc, tsc, tsc, tsc. "O que você fez?", ela se aproxima de mim, a amazona negra. Eu tenho que inclinar minha cabeça em um ângulo nada confortável para poder fazer a minha ação de costume. Olhar nos olhos. "Eu fiquei invisível na frente deles", apontei para o grupo enorme de pessoas em sentido figurado, pois, na verdade, apontei para a parede, "E acham que sou um bruxo! Nem sei como um bruxo se parece...", eu bufo em irritação, "Tudo bem, vamos nos acalmar... Por favor, tenho que fazer uma nova boneca", emendei fazendo um gesto com as mãos e os braços, fazendo um X com meus antebraços. Acabou. Eu juntei minhas mãos em uma forma de concha e fechei os olhos. Imaginei a boneca, seu sorriso costurado, o rosto revestido, os botões-olhos. Se torne a boneca. Espero pacientemente até algo leve e macio cair em minhas mãos. Abro os olhos e ela está lá, deitada em minhas mãos como um bebê, sorridente. Fico orgulhoso de meu próprio trabalho. "Vou entregá-la a Darwin", aviso. "Sim, ele está no último quarto no corredor à sua esquerda", ela aponta com o queixo; agradeço com um gesto de cabeça. Viro à esquerda e sigo pelo corredor com três portas, fitando a última porta que estava semi-aberta, com uma luz alaranjada saindo pelas frestas. Escuto murmúrios vindo de dentro do cômodo. Esgueirei-me para não ser notado e espiei pelas frestas. Darwin e a suposta Gemma estavam sentados lado a lado numa cama, com uma vela acesa numa mesinha. Ela tinha cabelos curtos e crespos, olhos escuros e brilhantes, uma boca carnuda e negra. Era linda. Eles pareciam tão íntimos quanto Peter e eu. Pareciam que precisavam um do outro a todo momento, o que me deu um vazio no peito. 


"...Acabar com tudo isso, eu prometo", segurou na mão dela, acariciando as pontas dos dedos. "Não há como prometer isto, eu morrerei, Darwin, e não quero que faça isso no meu lugar", falou sem olhar para ele. Ele suspirou, desapontado, e insistiu: "Eu vou me sacrificar por você e...". Eu bato na porta de leve para avisá-los que estou ali. Darwin se levanta e abre a porta. Olha para mim com uma certa indignação de quem é interrompido. "Trouxe a boneca", estico os braços, segurando a boneca com as duas mãos, em direção ao peito dele e ele a pega. "Obrigado", dá um sorriso, agradecido, "Se não se importa", fala fechando a porta lentamente. Eu lhe desfiro um piscadela e vou em direção à cozinha, onde encontro a porta aberta e sem sinal de Margareth. Saio da casa e olho em volta procurando por ela. Eu a vejo falando com vários homens e, ao me ver, aponta para mim. Os homens barbudos e musculosos passam a correr atrás de mim, os cabelos esvoaçantes, as sobrancelhas cheias. Me senti como um cervo sendo perseguido por caçadores gritando "Bruxo!". Primeiro dou passos ligeiros para trás, depois, quando percebo a ameaça, começo a correr. Mas não demora muito até que me alcancem; alguns segundos depois fui empurrado para o chão. Fecho os olhos. Eu quero ter instintos, quero lutar. Abro os olhos e me levanto, de frente para os quatro homens bem mais altos do que eu, um armado com uma faca, outro com um cutelo, outro com um machado e outro com um martelo. Eu fico em guarda, esperando que me ataquem. Eles dão uma risada de eu sou superior. Querem apostar?


O primeiro a me atacar foi o Sr. Martelo, que levantou o braço e o girou para baixo mirando em minha cabeça. Eu desvio e dou uma joelhada em suas partes íntimas, fazendo-o cair de joelhos na terra, pressionando a virilha, a boca em formato de letra O. O próximo foi o Sr. Cutelo, que girou o braço armado na horizontal fitando meu pescoço, mas eu desvio novamente, inclinando minhas costas para trás. Em seguida coloquei minhas mãos no chão e peguei impulso com uma perna para dar uma cambalhota para trás; com a outra perna eu chutei o cutelo de suas mãos; caio em pé e corro em direção ao ex Sr. Cutelo, pulo, coloco minhas pernas em volta de seu pescoço e giro meu corpo para baixo, fazendo-o cair em direção ao Sr. Machado, que também caiu. Não é tão ruim saber lutar, devo dizer. O Sr. Faca vem em minhas direção fazendo vários movimentos agressivos com a arma, tentativas de me cortar e me esfaquear, todas sem sucesso. Eu então ao desviar da última tentativa, engatinhei por debaixo dele e corri para o Sr. Martelo, ainda ajoelhado, e dei uma joelhada em seu rosto. Inconsciente, afinal. Me virei para o Sr. Faca, passei por debaixo de seu braço quando ele tentou um soco e dei um chute em sua nuca com meu calcanhar. Inconsciente automaticamente. Os Sr. Cutelo e Machado se levantaram, desarmados, mas os peguei de surpresa, pulando e em seguida dando um chute frontal com a sola dos pés, atingindo o queixo dos dois homens. Um pé para cada queixo. Todos inconscientes. Caio de costas no chão e me levanto, de frente para a multidão me observando, assustada. Percebi que a luta foi perto do lugar onde as crianças estavam, digo, onde os adolescentes estavam e que eles viram tudo. Kadie vibrou e aplaudiu, enquanto as olhavam para nós dois, estranhando. Eu gosto desse ruivo. 


Então, um tremor que fez todos nós cairmos ajoelhados. O que é isso?. As mulheres gritam com suas vozes estridentes e agudas, enquanto os homens, em contraste, com suas vozes mais graves... Apesar de eu ter voz mais aguda e Margareth, mais grave. Enfim, todos gritam. A terra treme de maneira agressiva, abrindo várias buracos pelos terreno. Os meus colegas, posso dizer, se agarram numa árvore. 


"Você não ficará perto dele, Thomas", escuto Peter murmurando e, aparentemente, os outros também escutaram. Sinto uma pontada de ciúme. Ao escutarem 'Thomas', meus colegas viraram para mim. Então foi isso. Peter me afastou de Darwin e isso causou o terremoto. Interferência externa. Eu corro em direção às pessoas que se afastam de mim enquanto me aproximo. Eu subo nas toras e olho para o mar. Ele está retraindo, é como se a água estivesse caindo para o meio do oceano. Mas não estava. Logo, uma onda gigante se formou, longe no horizonte, vindo para a costa em uma alta velocidade. "Ah, meu Deus!". "Estamos no penhasco, ela não nos atingirá", a onda aumenta de tamanho. Eu me viro para eles. "Para trás, todo mundo!", grito, "Corram!". O som de mar se aproxima cada vez mais entre os gritos dos moradores do vilarejo. A onda vem e atinge a costa com um estrondo, jogando uma imensidão de água para cima, seguida de mais e mais água. Eu estico meus braços para onda com as palmas das mãos abertas. Eu faço a onda levitar e não cair de imediato no vilarejo, mas é difícil e minha cabeça começa a doer. Uma onda sobrevoando o vilarejo, causando uma sombra azul na área. Vários peixes caem do céu, ou melhor, da água para a terra, se rebatendo. Não consigo. Não consigo! A onda está se inclinando para baixo, na direção das pessoas, tento controlá-la mas acabo cedendo de pouco em pouco. Estou ajoelhado nas toras, com sangue escorrendo de meu nariz. "Thomas!", escuto Darwin gritando meu nome. Ele olha para mim, pasmo; em seguida o vejo correndo em minha direção, acompanhado de Gemma. Eles correm, empurrando as pessoas que inclinam as cabeças para o céu, para a onda flutuante. Venham!. Eles sobem nas toras e pegam nos meus pulsos, me levantando. "Preparados?", Darwin olha para nós dois; Gemma responde com a cabeça; eu não respondo, "Um, dois, três!", nós damos as mãos. O poder circula pelos nossos corpos e é maior do que eu pude imaginar. As marcas aparecem em nossos braços e a luz branca irradiando de nossos olhos. A onda deixa de levitar e um pedaço do mar começa a cair sobre nossas cabeças. Nos três olhamos para cima e eu digo, "Prohibere", 'Pare' em latim. E ela, a onda, parou no meio do ar. Então, Darwin e Gemma a fizeram voltar de onde ela tinha vindo. Et ad mare. Para o mar. 


Nos viramos para as pessoas, que não nos olham com medo - pelo menos não completamente - nos olham com gratidão. E pela primeira vez, eu posso dizer que me senti feliz por ter poderes e por ser um Filho de Oblivion, salvei pessoas mortas da morte. Meu poder interior é forte, sei disso... Agora eu sei que eu tenho uma chance de acabar com tudo isso, as mortes, o sofrimento, o medo. Ver a gratidão em seus rostos enquanto nos rodeiam é relaxante, saber que fez a coisa certa. Vi aqueles adolescentes olhando nós meus olhos, sorrindo para mim. Eu corro na direção deles, sorrindo, com dores de cabeça. Compartilhamos um abraço que aqueceu meu coração... Eles me dão tapinhas nas costas e abraços apertados, me agradecem e passam a me respeitar, a me considerar como um deles. É isso que eu quero. Quero que me aceitem pelo o que eu sou e pelo que posso fazer. Sei que esses meus ex-colegas e atuais amigos tem um lugar no meu coração. Talvez eu leve os relacionamentos a um nível muito alto em um curto período de tempo, mas não vejo problema nisso. 


Torno meu olhar a Darwin, que também olha para mim. Eu sorrio para ele e o agradeço com um gesto de cabeça. Ele sorri de maneira confiante e charmosa, ajeitando o cabelo emaranhado, com o pôr do sol brilhando atrás dele. An...


Obrigado, Darwin Griffiths, por me apresentar à minha utopia. 


* * *


Abro os olhos.


Primeiro me arrependo por ter acordado, o sonho ter terminado. Vejo Darwin ao meu lado - mas com uma distância considerável -, na cama de Peter, olhando para o teto de maneira aliviada e sorridente. Quando ele se senta no colchão, eu engatinho em sua direção para abraçá-lo. Ele se assusta, mas retribui minha demonstração de afeto e agradecimento. "Obrigado", sussurro. "Pelo que?", ele sussurra de volta, um ventinho morno em minha orelha. "Obrigado por me apresentar a vida", eu o encaro por alguns segundos, os olhos castanhos brilhantes e sinceros, e me afasto, sentando na beirada da cama.  


Eu quero voltar para minha utopia, Darwin. Deixe-me tocá-lo novamente.  


...Jo.
 


Notas Finais


Espero que tenham gostado!

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CRÍTICAS SÃO SEMPRE BEM-VINDAS!

Abraços ^^

Boa noite, boa tarde, bom dia, boa madruga...

* * *

A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

* * *

Próximos capítulos em breve...

~Flexszible


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