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História Almas Para Oblivion - Propinquus sanguis


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


Esse é o PRIMEIRO CAPÍTULO da fanfic Almas Para Oblivion (mas é o segundo na ordem do site).

- Lembrando que o título do capítulo é em latim.

Capítulo 2 - Propinquus sanguis


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Propinquus sanguis


Grosseria de minha parte... Meu nome é Thomas. Não tive a intenção de ser rude, misterioso ou esconder minha identidade, mas não posso lhe dar uma completa biografia. Não tenho o que contar, nunca saí de casa. Mas posso compensar.


Não sei onde moro, nunca perguntei. Vivo trancado na antiga despensa. E caso surjam dúvidas, faço minhas necessidades em uma espécie de balde de madeira; eles - meu pai ou minha tia - pegam e não sei o que acontece daí em diante. Dizem que é nojento, em todos os aspectos. Nojento. Reclamam do cheiro, mas quando se convive com algo por um tempo acaba se acostumando. Saiba que não vim falar sobre isso... Vim falar sobre a minha família - mesmo não entendendo o que significa completamente -, mas há uma grande possibilidade de desviar do caminho proposto. 


Prometi um ponto de vista, e o terá. Posso começar pelo o que sei; temo desapontar alguém, pois não sei de muita coisa. 


O que eu vejo são formas sólidas marrons em minha volta, acompanhadas de teias de aranha. Elas - as formas - gemem. Madeira, se não me engano. A janela é coberta por madeira, mas não completamente. Linhas brancas passam entre os espaços livres, ficando mais avermelhadas com o passar do tempo. Luz. Com a luz tudo é seguro. É bonita. 


Eu durmo numa cama, que não é de madeira. Fica bem perto do chão e se parece bastante com o tecido de minhas roupas. Um colchão, certo? Eu me deito nele, com uma vela acesa no chão... Ela chora até a luz parar. Chora para criar fogo. Me pergunto se ela sente dor, mas nunca geme ou parece que está sentindo dor... Isso me deixou confuso. 


A madeira abaixo de mim está constantemente molhada. E me lavo aqui mesmo, como pode imaginar. Tiro minha roupa e me olho no espelho, todas as vezes. Sou um menino com linhas pretas pelo corpo. Não são linhas de luz, são linhas de sangue. Veias. 


Família. É muito complicado para entender. Henry, meu avô. Elizabeth, minha tia. Jon, meu suposto pai. Aprendi seus nomes pelos gritos durante as discussões. As paredes tem ouvidos e bocas. Ao ouvirem, gritam exatamente o que se foi ouvido. 


Sou mais próximo do meu avô. Ele que me ensinou a falar. Me ensinou sobre um mundo que nunca vi. Sobre uma realidade parcialmente imaginária. Ele era o que tinha menos medo de mim. Seu olhar de pena era bem comum, mas essa arrogância bem intencionada não me afetava. Sem emoção. 


Ele me ensinou latim, com auxilio de vários livros com capas de diversas cores. Falo e entendo latim desde meus 10 anos. 


"Muito bem!", falou meu avô, batendo palmas e com um seu sorriso manchado estampado. "Meu caro, você aprendeu mais rápido que seu pai", ele sempre dá uma gargalhada em sua frase final quando está feliz. Ele estava feliz. Apesar de seus comentários gentis, o máximo que pude fazer foi sorrir sem mostrar os dentes. Um sorriso sem jeito. Foi o primeiro elogio que recebi em 10 anos. Nem mesmo o agradeci, fui arrogante. 


Ele vinha constantemente para meu quarto e me contava histórias. Estranha e irritantemente perfeitas, sempre com um final feliz. A maior parte é alegre, então algo de ruim acontece, porém, sempre há revira-volta para que a alegria se espalhe novamente. Seria essa a representação exata do meu mundo imaginário? Ser ou não ser, eis a questão. Eu admiro William Shakespeare. Já mencionei como toda literatura que conheço veio parar em minhas mãos. Henry.


Prefiro os contos mais factuais, menos ficcionais, mas também aprecio algumas ficções; e não necessariamente deve ter um final triste para me agradar. Apenas não entendo a ideia de se proteger da realidade com a ficção, com a fantasia. A imaginação é complicada demais para apenas repelir a realidade, porque tudo que imaginamos são fragmentos da própria realidade. Tento imaginar o mundo afora mas tudo que vejo é madeira em minha volta. Minha madeira é minha realidade.


Quando mencionei que não sabia de muita coisa, me referi a realidade. Tenho dificuldade para ler, porque não consigo imaginar o ambiente. Mesmo se fosse descrito detalhadamente.


"Você é um menino especial", falou meu avô. "Não sei se devo aceitar isso como um elogio", retruquei. "E por que não deveria?!", perguntou, certamente confuso. "O significado de especial é 'único', idest solum, algo que não sou... Não há motivos para eu ser especial". 


Minha resposta o calou por alguns segundos, mas não deixou de responder. "Ninguém é especial por um motivo, apenas são especiais", ele se levantou de seu banco, abriu a porta e carregou o banco para o outro cômodo. Antes de fechar a porta, me desejou uma boa noite, mas eu estava perplexo demais com a sua resposta para responder. Não dormi até a primeira linha atravessa entre a madeira. Várias perguntas vagaram pela minha mente. Como posso saber se sou especial? Como estou pensando? O que é essa voz na minha mente? Sou eu? Mente? O que é mente? 


Ele era um grande sábio, mas algo estranho aconteceu recentemente. Ele passou a se esquecer. 
"Sou eu papai!", Elizabeth grita, as paredes ouvem sua voz rouca e reproduzem para mim. "Não, eu não te conheço!", grita o Vovô. Ouvi os passos de minha tia se aproximando de meu quarto. Chego perto da porta para ouvir melhor. "Não se lembra...", falou como se estivesse suspirando. Ela se aproxima da porta e a abre. Ela estava chorando. "Seu pivete, seu rato asqueroso! Estava ouvindo tudo, não é?!", eu assenti à pergunta, "Pois bem, não faça mais isso!". Seu cabelo estava embaraçado, os fios grisalhos se destacavam. Suas bochechas estava úmidas e seus olhos, com manchas vermelhas. Ela estava chorando.


Tentei responder, mas ela gritou: "Cale-se!". Ela levantou o braço e bateu no meu rosto com a palma da mão. Meu rosto virou para a direita com a impacto. Então, comecei a chorar e me me ajoelhei no chão; ao mesmo tempo, ela, desesperada, pegou um balde - de madeira - com água e sabão e passou a esfregar a mão com que me agrediu. Foi a primeira vez que vi a cozinha, o pôr do Sol e o céu avermelhado em 14 anos.


* * *


Meu pai é o que me vê com menos frequência. Não sei muita coisa sobre ele, apenas conheço seu nome e que é meu pai. Um homem triste que se acostumou a brincar nas sombras. Um coração doente, emocionalmente falando. 
"Então ele está doente?", pergunto ao meu avô. "Pode-se dizer que sim", respondeu. "Como ele pode melhorar?", meu avô olha para mim, sorri e diz: "Não há nada que possa fazer, ele deve melhorar por conta própria". Rebato com um olhar decepcionado, enquanto ele alisa sua calça de brim marrom e depois, seu cabelo cor de neve. Porque é branco, certo? Meu avô disse que é.
 
Meu pai apenas trazia as roupas, então não o via constantemente. Ele sempre evitava olhar para mim quando estava perto e isso me deixava desconfortável. A sua dor era perceptível e inesperadamente compreensível, pois ele perderá tudo. 


Ele entrou no meu quarto com uma pilha de roupas dobradas, as coloca em cima do colchão, se ajoelhando e em seguida, se levanta. Eu o ignoro, mas percebo que ele olhou para mim e depois se virou para sair. "Por que evita olhar para mim?", ele se vira, parecendo surpreso com a pergunta e então se aproxima. Ele se ajoelha na minha frente, fitando meu rosto. Nesse momento, eu pude realmente enxergá-lo, ver as suas emoções. Ele me agarra pelo braço e me puxa para frente do espelho, onde ficamos lado a lado. "Você me lembra a sua mãe...", falou, olhando para meu reflexo no espelho. Eu pude perceber que nossos olhos eram da mesma cor. Herdei seu olhar vazio. Nosso olhar era parecido, porque sofríamos. 


Não demorou muito até ele ir e trancar a porta. Ouvi o barulho do balde, da água derramando no chão, do esfregar de suas mãos e de seu choro. Foi a primeira conversa que tive com meu pai, com aquele que sofre tanto quanto eu. 


Oblivion nos une perante o sofrimento. Nos destrói e adoece.


Somos presos por de laços de sangue. Laços que são facilmente desatados e frágeis como o coração. Laços que se tornam cinzas ao vento. Laços que são rompidos durante o crepúsculo. 
 


Notas Finais


Espero que tenham gostado!

Comentem o que acharam do capítulo!... Se está bom ou ruim. Favoritem também ;)

Próximos capítulos sairão em breve!

Obrigado por ler!

A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

Abraços...

~Flexszible


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