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História Almas Para Oblivion - Docete me vivetis


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


Olá ^^

Espero que gostem do capítulo! Aproveitem a leitura!

DESCULPAS ANTECIPADAS POR QUALQUER ERRO!

Capítulo 7 - Docete me vivetis


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Docete me vivetis


Estávamos no meu quarto, ainda molhados, enrolados por toalhas, sentados no colchão. Peter e eu. Eu ainda sentia seu corpo grudado no meu, as mãos que desvendavam os mistérios sob a minha pele. Os beijos quentes e avassaladores. Me tornei submisso do meu próprio desejo. Ele se tornou a minha luz. Sinto uma explosão de sentimentos, começo a tremer e meu coração acelera quando ele está por perto. Ele me fez esquecer, por um momento, que irei morrer. Estávamos apoiando as costas na parede. Peter estava com o braço em volta de mim, acariciando a minha pele pálida com suas mãos ásperas. Eu apoiava a minha cabeça no seu peitoral e não pude conter a vontade de tocar nas protuberâncias em seu abdome. Tudo que nos cobria eram as toalhas, não vestíamos nada por baixo ou por cima, apesar de termos trazido nossas roupas para o andar de baixo. Podia sentir o ar que ele expirava se chocar contra a minha nuca e o calor do seu corpo, que me fez relaxar. Peter estava com os olhos fechados, para a minha indignação. Eu queria olhar em olhos, quase que desesperadamente. Meu Sol são seus olhos. "Você cumpriu a sua promessa...", falei, baixinho. Peter apenas abri um dos olhos e deu um pequeno sorriso. "Que promessa?", abriu o outro olho e me apertou contra si. "Você vai se sentir melhor depois disso, eu prometo". "Você me prometeu que eu me sentiria melhor... Eu me sinto melhor", era verdade, apesar de ainda estar um pouco febril. Peter, ao se lembrar do que falou, ruborizou. "E-eu não planejei aquilo...", gaguejou, olhando para o chão de madeira, "Mas não me arrependo", me olhou nos olhos. Por que me sinto tão atraído por você?. Não me contive e o beijei. Ele não hesitou em deixar eu me aproximar dele. Mais ainda, quero dizer. O beijo foi suave e calmo, mas o calor era o mesmo. Eu enrolei meus dedos naquelas mechas loiras bagunçadas. Não havia mais ninguém além de nós dois... Bom, na verdade, tinha mais alguém. 


"Thomas, eu...", falou James entrando no quarto. Ele deu um pulo para trás. Eu me afastei de Peter, no susto, e ele olhou para mim, confuso. "O que foi?", perguntou Peter, insistindo em se aproximar de mim. Eu estava ofegante, não havia parado para respirar. "James...", apontei para James, mas no ponto de vista de Peter eu deveria estar apontando para a porta. Ele (Peter) se virou e depois revirou os olhos. Por se lembrar que não pode vê-lo, talvez. James entrou no quarto, meio sem jeito e abri a boca para falar: "Thomas, eu acho que deve contar para Peter sobre o sonho", me lembrei do gosto de sal na boca. Minha boca não estava tão ressecada, estava molhada. Peter seguiu minha linha de visão, apenas para olhar para a parede atrás de James. "O que ele disse?", perguntou Peter, seguido de James perguntando: "Por quê estão vestidos assim?!", ignorei-o. "Ele me pediu para te contar sobre os meus sonhos", James assentiu, olhando para Peter, de repente, enrijeceu a mandíbula e me olhou com uma expressão séria. Nunca havia sonhado com algo tão agoniante; a impossibilidade de mover meu corpo e de respirar. "Minha irmã... Ela...", pigarrou, "Ela apareceu no seu sonho?", James alternou seu olhar para mim. "Sim", falei. Me peguei balançando minha perna, como minha tia. A cena da irmã de Peter cortando a própria garganta veio em minha mente, o sangue escorrendo pela sua roupa branca e como ambos caímos no mar. Como eu me afoguei, como morri antes do tempo certo. Agora sou um fantasma no mundo dos meus sonhos?. "Ela me pediu para proteger você", Peter ergueu uma sobrancelha, com um olhar de como se você pudesse me proteger ou é mais fácil que eu o proteja, mas não disse nada; talvez seja apenas coisa da minha imaginação. "E também para acabar com a maldição...", a esse ponto ambos olharam para mim, meio escabreados. "Não me contou sobre isso, Thomas", falou James, se aproximando. "Não tive tempo, James... eu estava vomitando água, lembra?", James suspirou e assentiu, dando um sorriso forçado. Peter ao ouvir o que falei, exclamou: "Vomitando água?", falou em um tom que me fez estremecer, "O que quer dizer com 'vomitando água'?", ele cruzou os braços. "Eu estava me afogando", falamos, James e eu, ao mesmo tempo, mas James trocou o eu por ele, "Tentei salvar a sua irmã e me afoguei...", Peter me olhou como se suas memórias sobre o que aconteceu tivessem surgido em sua mente. "Eu me lembro... De vê-la no barco, cortando a garganta e caindo no mar", ele parecia se esforçar para dizer as palavras, "Depois algo apareceu no horizonte, saíram coisas daquilo e levaram ela, Emmanuelle... Mas seu corpo continuou boiando", Peter tremia enquanto respirava, fazendo com que o ar que expirava soasse como uma ventania. Emmanuelle


James repousou a mão no braço de Peter, como uma forma de conforto. Peter virou a cabeça ao sentir a mão, mas não fez nada. Seu olhar transbordava à memórias que deveriam ser esquecidas, que ele prefere não se lembrar. "Eu estava lá, Peter", ele levantou o olhar para mim, "Eu estava no barco, com Emmanuelle... Tentei salvá-la, mas não consegui... Sinto muito", uma dor passou pelo meu peito, seguida de uma pontada, pressionando as minhas costelas, do lado esquerdo do peito. "Não havia nada que você poderia fazer, Thomas", falou Peter, com os olhos úmidos, "Ela morreu faz 14 anos, não tem como alterar algo assim... poderiam haver consequências, certo?". Meu medalhão, meu pela ação de achá-lo, estava no chão, perto de mim. Peter se inclinou diagonalmente para a esquerda e pegou o medalhão nas pontas dos dedos. Ele teve dificuldade, mas o abriu com as unhas. Ele deu um curto meio sorriso e falou: "Eleanor... Essa mulher, a sua mãe, me criou depois da morte de minha irmã", apontou para a foto dela em uma metade do medalhão, "Me criou quando minha mãe estava triste demais para cuidar de mim e quando meu pai estava ocupado demais, trabalhando, para estar disposto a me dar alguma atenção...", ele olhou para mim, com uma lágrima percorrendo a sua bochecha até chegar na mandíbula e pingar no colchão, "Ela era tão gentil, adorei passar aqueles 9 meses com ela e Jon antes de você nascer, eu passei a amá-los...", James estava chorando, apesar de não aparentar ter caído ou estar caindo nenhuma lágrima de seu rosto, "Mas ela se foi sem se despedir, eu fiquei arrasado... Minha mãe se suicidou quando eu tinha 6 anos, para piorar as coisas para mim e meu pai... Meu pai se tornou um homem depressivo, não queria mais trabalhar na fazenda, então eu tive que trabalhar por ele... Não tive muita escolha na minha vida... Só conheço a perda". Finalmente entendi o motivo dele, sendo tão jovem, ter as mãos tão ásperas e cheias de cicatrizes. Foram pelo esforço, pelo trabalho, pelo quanto você lutou, Peter Mitchell. 


"Eu... Sinto muito, Peter... Não foi a minha intenção trazer as suas memórias à tona", Peter não mudou a sua expressão, ainda segurando o medalhão e com James ainda chorando com a mão em seu ombro. "Está se desculpando por coisas que não pode mudar, Thomas", Peter enxugou as lágrimas, deixando as veias de seus olhos mais aparentes, avermelhadas, "Eu não contei nada sobre você por gratidão à Eleanor... Quando você me disse o seu sobrenome, quando nos conhecemos, eu me lembrei dela... Você se parece com ela", ele se aproximou de mim e entrelaçou seus dedos nas mechas de meu cabelo, "Os olhos, o cabelo... Mas acho que isso tudo vai mais além de gratidão", ele me olhou nos olhos, "Há emoção envolvida, Thomas... Eu sinto algo por você, algo que não sei explicar". Me inclinei e apoiei a minha testa em seu ombro. "Eu também, Peter", sussurrei. Peter me envolveu com seus braços longos, passando os dedos pela minha coluna. Estendi a minha mão para James e após ele segurá-la, o puxei para o nosso abraço. Nosso abraço ligado pela dor e pela morte.


* * *


James foi o primeiro a sair de nossa conexão, para procurar livros nas estantes da sala de estar. Peter se levantou, ficando de costas para mim. Ele jogou a toalha no chão, exibindo as suas nádegas para mim, mas não de forma proposital ou erótica. Ele vestiu a calça, depois a bota e em seguida,  a blusa branca. No final, estava com a roupa amarrotada e o cabelo bagunçado. "Precisa de ajuda?", falou, se aproximando de mim. Ele estendeu a mão e eu a segurei. Ele me puxou e eu fiquei de costas para ele. Essa posição me trouxe memórias. "Levante os braços", falou serenamente, eu o fiz. Ele esticou uma camiseta de manga comprida acima de minha cabeça. Enfiei meus braços pelos buracos laterais e ele a puxou para baixo. Depois passei a minha cabeça e ele puxou a camiseta, que bateu nos meus quadris. Tirei a toalha de minha cintura e joguei no chão, mas não se podia ver nada. A camiseta era tricot cashmere. Ele se abaixou, me segurando com uma mão, repousada na minha cintura. Pegou uma calça e eu pus meus pés pelos buracos, um de cada vez, até Peter puxar a calça para cima. A calça era macia e extremamente confortável, parecia uma mistura de algodão e um outro tecido. Minha cabeça girou e minha visão ficou turva por um momento. Peter me levou até o colchão, pude dar alguns passos até minhas pernas tremerem. Ao me sentar, Peter se se abaixou e estendeu as minhas pernas em sua direção. Ele se levantou, pegou botas pretas e voltou para calçá-las em mim. Peter continuou na mesma posição, ajoelhado, olhando para mim. Havia muitas mechas de cabelo cobrindo meu rosto. Ele tirou a corda que ficava no colarinho de sua camiseta e se aproximou de mim. Ele puxou meu cabelo para trás e depois de alguns segundos, soltou, mas não caiu. Toquei no meu cabelo, ele o havia prendido com aquela corda. Um rabo de cavalo, um pouco acima da minha nuca. Peter sorriu. "Prefiro quando não esconde seu rosto", ele tocou em meu rosto com as costas da mão e depois me levantou, com um dos seus braços na minha coxa e o outro nas minhas costas. Ele me carregou até a sala e me colocou em cima de um dos assentos amarelos. Olhei para o lado e vi James, levitando, em frente a estante, tentando ler os títulos dos livros e jogando no chão os que não conseguia ler ou soletrar. A maioria dos livros estavam jogados no chão. "O... D-I... D-I-Á... Á-R... Droga!", o livro voou até o chão e caiu com a contra-capa para cima. "O que ele está fazendo?", Peter se assustou ao ver os livros caindo no chão, "Quero dizer, James está fazendo isso não é?", sorri para ele. "Sim, é ele...", Peter suspirou aliviado. Quem mais poderia ser, Anjo? Emmanuelle?. "Ele está tentando ler os títulos e quando não consegue, joga os livros no chão", James resmungou algo baixo demais para eu ouvir, antes de tentar soletrar outro livro. 


"Quero te mostrar uma coisa, Peter", ele olhou para mim de soslaio e sorriu. "O que quer me mostrar? É algo especial?", ele se virou para mim. "Sim, é muito especial", falei com uma certa hesitação. "Então me mostre!", ele me pegou no colo novamente, "Onde essa coisa está?", apontei para o andar de cima e ele então foi em direção às escadas e subiu. Depois, parou novamente, esperando por instruções. "Na última porta do corredor da esquerda, o quarto de Jon", apontei. Nos aproximamos da porta, eu girei na maçaneta e Peter a empurrou com o ombro. 


Aquelas paredes verdes me traziam calma e conforto. As janelas estavam abertas, fazendo com que as cortinas brancas esvoaçassem em um movimento gracioso. Peter me colocou no chão ao lado da cama, me sentei nela, em seguida. Peter virou a cabeça e fitou, por alguns segundos, a mesa de canto, antes de aproximar-se dela. Ele pegou o retrato de Jon e Eleanor, segurando na moldura dourada. Pude notar que ele sorriu. "Peter", murmurei; ele retornou o retrato à mesa e em seguida olhou para mim. "Embaixo da cama há uma caixa pequena de madeira, pegue-a, por favor", não olhei diretamente para ele, olhei para a aliança dourada; Ele outorgou ao meu pedido. Se ajoelhou, ficou de bruços e se arrastou para debaixo da cama. Depois, saiu da cama com a caixa em suas mãos. Se sentou do meu lado, com a caixa em seu colo. "Pode abrir". Ele o fez. A imensidão de papéis ainda estava ali, mas sem o medalhão, que está em meu pescoço e a chave, que está embaixo do meu colchão. Ainda haviam papéis que não tinha visto, então ainda seria uma experiência meio que nova para mim. Para Peter seria mais ainda. 


"Sua mãe ainda está esperando um bebê, pode acreditar?", Peter pareceu, para mim, um tanto inexpressivo ao ler esta parte. Ele estava lendo baixo, mas dava para acompanhar. "Thomas nasceu hoje... Tanto sangue... Você deve vir salvá-lo... Adeus", ele fez diversas pausas entre as palavras. Logo após terminar, deixou as cartas do seu lado e pegou várias folhas dobradas e vários pedaços finos de carvão. Ao abrir essas folhas, vimos que eram ilustrações, desenhos... Todos com três letras no canto direito inferior. E. R. H. As datas eram entre 15 de fevereiro de 1765 e 16 de dezembro de 1772. A assinatura continha o sobrenome Huntington mesmo quando eles não haviam se casado... Estranho. Mas ela já havia mencionado que ele seria seu futuro marido, então talvez seja por isso. Casamento arranjado.

 
Eram desenhos muito bem feitos, com um aspecto angelical. Todos variavam em tons de cinza e preto, em folhas amareladas. Vários desses desenhos eram de um homem alto, com cabelos longos e que se vestia de maneira bem formal. Jon. Outros eram paisagens e figuras abstratas. Tinha um deles que foi um destaque para mim. Era um desenho de uma criança sorridente, correndo com os braços levantados, com os cabelos esvoaçantes. Os detalhes das vestimentas, as formas suaves eram impressionantes. "Quem é esse menino?", perguntou Peter, não necessariamente para mim, talvez. "Não é óbvio?", respondi e repousei minha cabeça em seu ombro. Era óbvio que era Peter, mas provavelmente Eleanor nunca mostrou seus desenhos para ele. "Sim", respondeu, "Eu me lembro desse dia, um pouco... Me lembro dela dizer que nunca se esqueceria de como foi bom", pôs o desenho do seu lado, mas demorou alguns segundos fitando-o. Haviam mais duas folhas dobradas, uma em cima da outra. Ele pegou a superior e abriu. Era um outro desenho, mas estava borrado, como se tivessem derramado gotículas de água enquanto era desenhado. Era um bebê. Sim, um bebê. Deitado com as costas pra baixo, enrolado parcialmente por um cobertor. O desenho não estava tão detalhado quanto os outros e também não estava completo. No canto inferior da folha estava escrito algo além da assinatura: Thomas Rosegardin Huntington e embaixo 12/16/72. Ela me desenhou depois de eu nascer, ou pelo menos começou a me desenhar... O outro papel dobrado era uma carta, a letra não estava tão caprichada, em algumas partes ilegível, como se ela estivesse escrevendo com pressa. Outra carta escrita no dia 16 de dezembro de 1772.


* * *


16 de dezembro [borrado] 72


Jon, meu amor, eu te amo... Não deixe-o sozinho... 


Elena, venha buscá-lo... Venha e seja presente na vida dele com [borrado]


Mamãe, [ilegível                                                     ].


Henry, ensine-o as coisas incríveis que me ensinou


Beth, ensine-o a ser forte


Peter... meu querido Peter, ensine-o a sorrir, ensine-o a viver... ensine-o a correr pelos campos, a aproveitar a vida... Ele será seu irmão


Quero que meu filho viva feliz [borrado      ] vê-lo novamente em qualquer lugar que eu esteja.


Amem-o.


Eleanor Roseg [borrado]


* * *


"Eles cumpriram o que a sua mãe pediu?", Peter olhou para mim, com a carta em suas mãos, "Eles cuidaram de você, não é?!", falou em um tom mais alto, mas não chegou a gritar. Eu estava tremendo e arfando. Balancei a cabeça em negação como resposta. Havia uma lágrima descendo pelo meu rosto. "Não, Peter", falei, com os piores momentos que tive com a minha família em mente, "Excluindo Henry, é claro", e os melhores, também; Peter estava com raiva, suas orelhas estavam vermelhas e com a mandíbula firme, "Henry me ensinou muitas coisas, me ensinou a andar, a ler... Mas não sei o que Elizabeth e Jon me ensinaram", me lembro dos tapas enfuriados de Elizabeth, da ardência segundos depois da agressão e da ausência de Jon em minha vida, que não muda absolutamente nada. Peter continuou com a mesma expressão, mas lentamente a suavizava. Primeiro deixou de franzir o cenho e as sobrancelhas. "Como seu pai pôde ter feito isso com Eleanor?". Pai. O mais perto que tive de um pai, foi... Henry foi meu professor, foi paciente e caridoso, mas se esqueceu de tudo. Considero Henry como meu pai. "Peter, eles tem medo de que alguma coisa possa acontecer comigo, apesar de ser em uma maneira bem egoísta... Não vale a pena fazer essas coisas por mim se irei morrer", Peter relaxou os ombros mas franziu as sobrancelhas novamente. "É claro que vale a pena! Você é um ser humano...", segurou no tecido que cobria a cama, "Não deviam ter feito isso, Thomas. É desrespeitoso com ela", ele pegou em minha mão e olhou para mim, "Me desculpe por não ter vindo antes, eu gostaria que você tivesse aproveitado o tempo que tem", apontou para a janela com a mão livre. Dei um sorriso. "Tudo bem, Peter... Já superei isso", odeio isso, apesar de ser a verdade. "Gostaria que pudéssemos ficar juntos...", Peter murmurou. Olhei para ele, confuso e um tanto surpreso. Ele parecia estar pensando em milhões de coias a cada segundo que eu o olhava. 7 segundos. 7 milhões de coisas. "O que quer dizer com isso?", me inclinei para ele, mas ele evitou o meu olhar, "Responda!", gritei. Ele tensionou os ombros e se levantou, apoiando as mãos na nuca, com várias mechas de cabelo caindo em seu rosto. Ele se apoiou na parede e foi descendo até se sentar no chão. Foi um tanto dramático, mas não julguei no momento. Ele me olhou com aqueles olhos cor de mel, mas não tinha o mesmo brilho, estava completamente apagado. Havia escuridão, havia dor. 


A raiva cresceu dentro de mim, procurando por qualquer explicação. "Por que não vamos poder ficar juntos?", falei calmamente, apesar de estar irritado, "É porque eu vou morrer?". Peter balançou a cabeça. "Então me diga o motivo, Peter", aumentei meu tom de voz e ele fechou os olhos, "Me diga!". Ele gritou. "Não podemos ficar juntos porque eu vou me casar!", Peter se levantou, com as mãos fechadas em punhos, "Eu vou me casar com a filha de Nicholas Robinson, o bibliotecário...". Me senti como se eu estivesse sendo completamente iluminado para que todas as pessoas notassem a minha tristeza. Senti uma pequena pontada no peito. Era meu coração se despedaçando. "O quê?", falei; minha voz estava fraca, "Então... você estava com ela quando... Você ia me contar antes ou depois de nós...", não conseguia terminar uma sentença. Peter parecia tão magoado quanto eu, mas seu brilho não era mais o mesmo. O brilho de seus olhos. "Não, Thomas, eu nunca a vi... É um casamento arranjado", Peter se aproximou, "Ele me fornece dinheiro e em troca eu me casarei com a sua filha", eu estava tremendo e respirando rapidamente. "Eu preciso do dinheiro porque meu pai está muito doente. Preciso comprar remédios, ervas, mas o dinheiro do leite não é suficiente e as plantas ainda estão crescendo, então vou ter que esperar até vendê-las", complementou, "Aquelas ervas que eu comprei para Elizabeth, foram compradas com o dinheiro de Nicholas...". Um jogo de interesses. "Ele me prometeu páginas de um manual de agricultura para aumentar a produção e o dinheiro, para podermos nos sustentar e os nossos filhos", falou se ajoelhando ao pé da cama, na minha frente. Filhos?. "Você vai se casar por páginas de um manual de agricultura... Sabe o quão ridículo isso soa, Anjo?", Peter olhou para mim, erguendo uma sobrancelha, "É muito pra absorver!", me levantei da cama e andei até a porta. Minhas pernas tremeram e minha cabeça doeu. Me apoiei no batente da porta para evitar alguma queda. Peter me levantou e me segurou no colo. No momento que ele me tocou, tudo que eu estava vendo se tornou preto.


Abro meu olhos.


Consigo mover meu corpo.


Há areia úmida embaixo dos meus pés e estou cercado por água. 


Emmanuelle aparece na minha frente, com as roupas ensaguentadas e a garganta aberta. A faca estava presa na areia. "Ajude-o, Thomas, que ele o ajudará... Ele cuidará de você", disse ela, dando um sorriso doce, "Ele ajudará a acabar com a maldição". Ela se abaixa para pegar a faca e depois vem em minha direção. "Como eu posso ajudá-lo?", me aproximo dela, andando devagar, "Como eu posso fazê-lo ganhar mais dinheiro ou não se casar?". Ela dá um meio sorriso. "Se eu dissesse eu estaria te ajudando mais do que meu irmão", passa os dedos na lâmina da faca. "Na verdade, se me disser estará ajudando seu pai", ela ergue uma sobrancelha, mas a expressão é séria, "Eu não entendo... Por que não me diz como acabar com isso?", ela parou na minha frente. Ela me rodeia, tocando em meu cabelo, minhas costas e meu rosto. Não reajo. "Você não sabe do que é capaz, Thomas... Não sabe nem da metade dos poderes que tem! Eu estou em Oblivion neste momento, mas com seus poderes de voltar ao passado, uma brecha é aberta aqui e eu posso me comunicar com você", apenas escuto porque não sei o que fazer ou responder, "Pode voltar ao passado pelos seus sonhos, caso toque em algo ou alguém". Em James Ellwood. Em Peter Mitchell. "Se tocar na coisa certa, poderá ver o futuro ou o que está acontecendo em outro lugar, simultaneamente". Ela para de me rodear e se posiciona na minha frente apertando o cabo da faca. "Use seus poderes a seu favor. A cada dia que se aproxima do sacrifício, seus poderes se tornam cada vez mais fortes", ela sussurrou. "Como?". "Sinta a força de Oblivion irradiando dentro de você, imagine que é algo físico... Imagine o que fará com esse poder".


"Thomas!", escuto Peter gritando.


Minhas pernas começam a doer e tremer. Caio de joelhos no chão. Dou um gemido ao botar todo o meu peso sobre os meus joelhos. "Por que eu não consigo andar?", pergunto, fazendo uma careta de dor. "São efeitos colaterais", fala, se ajoelha na minha frente e segura meu rosto com suas mãos geladas, "Acontecem quando nossos poderes começam a se tornar incontroláveis, relativamente... Quando se descobrem os poderes durante a infância, é bem mais fácil e eles crescem normalmente, mas se não forem descobertos, são estimulados por Oblivion nos seus 14 anos em um ponto muito avançado", ela pôs a mão em meu joelho e quase que instantaneamente a dor parou, "Os efeitos colaterais variam de pessoa para pessoa... de Filho para Filho".


"Por que não posso lhe ver por lá?", pergunto olhando-a nos olhos. "Por que estou em Oblivion agora, Thomas...", falou com a mão em minha bochecha. "Então como posso ver James?!", tiro a sua mão de meu rosto. "Porque a alma de James não foi levada para Oblivion! Não é óbvio?", ela gritou, trazendo uma ventania com a sua voz, "Ele é o único Filho de Oblivion que não foi levado... Ele já sabia controlar seus poderes quando morreu e usou isso como vantagem para não ir para o esquecimento... Ele possui uma alma selvagem e quer a mesma coisa que você, Thomas". "O que ele quer?". "Ele quer viver".


"Thomas!", avisto James levitando em minha direção, "Acorde! Jon e Elizabeth estão aqui!". Ele me puxa pelo braço, em direção a água. Emmanuelle assiste sem dizer nada, com uma expressão neutra. Eu quero saber mais. "Não", empurro James de leve, mas o suficiente para ele me soltar, "Vá embora! Eu encontro com você depois!". James segura em meu braço novamente. "Vá!", grito e esticou meu braço. James voou até a água e seu corpo desapareceu. Corri até a barreira de água. "James!", grito desesperadamente, "O que eu fiz?", viro para Emmanuelle. Ela sorri e bate palmas. "Impressionante", ela gargalha. 


Vou em direção a ela e pego a faca de sua mão. Ela dá um pulo para trás. Coloco a faca em seu pescoço. "Me conte como acabar com a maldição!", estou prestes a chorar, mas tento parecer forte. "Apenas o amor enraizado na alma pode esquivar a morte ou reencarnar a vida", fito suas expressões, perplexo. "O que isso quer dizer?", ela não pareceu satisfeita com a minha resposta, devido a sua expressão meio raivosa. Ela pega a faca de minha mão e passa pelo meu pescoço, cortando minha pele pálida e com veias escuras. Arregalo meus olhos ao ver o sangue descer pela minha roupa. Depois vem a dor aguda, que me faz apertar meu pescoço com muita força. "Você é inteligente, Rosegardin... Vai descobrir". Caio de barriga no chão e o sangue começa a fazer uma poça em volta de mim, colorindo a areia. A dor não para e não consigo gritar. Emmanuelle me observa com pena. "Me desculpe", ela murmura. O sangue começa a entrar pelo meu nariz, a me sufocar. Sinto o líquido arder pelos meus pulmões e deixar um gosto estranho na minha garganta. Gosto estranho. Agora percebi que aquele gosto estranho, indescritível, do outro sonho, era gosto de sangue. "Você deve aprender a sofrer, Thomas, pois é o que acontecerá...", a escutei falando.


Então a barreira de água desaba.


Me afogo em areia, água e sangue.


Abri meus olhos.


Sinto o gosto de sangue e sal em minha boca. Engulo a mistura desconfortável e vem o gosto amargo. Eu devo aprender a sofrer. Devo aprender a ser forte. Estou disposto a ser forte. Eu estava deitado no colchão, virado para a parede de madeira, sentindo a minha respiração rebater em mim em uma temperatura morna. Giro meu corpo para o lado e fico de barriga para cima. Olho para o lado e vejo que Peter, James, Jon e Elizabeth estavam me observando. Me apoio nos cotovelos e arrasto meu corpo para trás, me apoiando na parede, afinal. James se aproximou de mim, com uma expressão triste. "Você está bem?", murmurou, segurando a minha mão. Eu balancei minha cabeça em afirmação e dei um sorriso. "Thomas...", foi Elizabeth que falou; ela se aproximou mas não me tocou ou disse algo, apenas ficou me encarando de vários ângulos. Jon e Peter ficaram quietos. Jon olhou para mim e depois se virou. Peter estava ruborizado, sentado em um banco pequeno, com os dedos entrelaçados. 
 
Peter pigarrou, chamando a atenção de Elizabeth e Jon. "Posso conversar com os senhores por um momento?". Eles se olharam e Jon assentiu, em seguida, eles saíram do meu quarto. Apenas ouvi passos se distanciando. James se sentou do meu lado e sorriu para mim. Me levantei, primeiro me apoiando no joelho e depois com ajuda de James. Fui andando até a porta, suportando a ardência e a tontura, os efeitos colaterais. Apoiei as minhas costas na parede da cozinha, ao lado da porta. O pôr do sol estava quase no fim, já haviam várias estrelas no céu.


Eles haviam ido para a sala de estar. Primeiro ouvi murmúrios, cochichos, mas depois consegui identificar as palavras. "Quero fazer uma proposta para os senhor e... senhorita", falou dando pequenas pausas para respirar profundamente. "Fale mais", ela falou. "Eu quero... levar Thomas para viver comigo em minha fazenda para melhorar, até o momento do sacrifício", falou e inclinou a cabeça para baixo, olhando para os pés deles, talvez. Não pude me conter, eu sorri ao ouvir aquilo. Ele estava disposto a me ajudar. "Nem pensar!", falou Jon, "E se algo de ruim acontecer com ele, o que faremos?". Peter deu uma risada seca. Elizabeth franziu o cenho e Jon levantou uma sobrancelha. "E se algo acontecer? Algo já está acontecendo e vocês não parecem se importar com isso", Peter falou, com os punhos cerrados nos quadris, "Ele merece mais do que isso, ele é um ser humano e as suas vidas dependem dele!", Jon arregalou os olhos e Elizabeth se pronunciou: "Hã, por que você quer tanto isso? Virou amiguinho dele?", falou em um tom arrogante, "Me poupe, Peter, ele está bem aqui". Talvez mais que amigos. "Bem?! Você bate nele, senhorita!", retrucou, "E o senhor nem age como um pai... O deixa sozinho... Não foi isso que Eleanor lhe pediu Jon!", gritou. Henry começou a gritar e a pisar brutalmente no piso. Elizabeth correu para a cozinha, repetindo várias vezes "O chá!" e parou ao me ver apoiado na parede. Ele ficou furiosa automaticamente. "Já falei para não bisbilhotar", ela veio em minha direção armada com a palma da mão e estava prestes a me dar outro de seus famosos tapas ardidos. Virei a minha cabeça para o lado, mostrando a bochecha na qual ela batia mais, a direita. Eu estava preparado para ser espancado. O que eu poderia fazer?. No último segundo, ela parou. Simplesmente parou. Mas quando olhei, não parou foi por sua vontade... James estava segurando seu braço. Elizabeth gritou e deu vários passos para trás até se chocar contra a mesa. Peter e Jon estavam olhando o tempo todo.


Andei para a sala de estar, apoiando e arrastando meu braço pelas paredes. "Você tem algum argumento que prove o contrário, Jon?", falou com uma expressão séria. De onde eu estava, podia ver a linha de sua mandíbula e as relvas que cobriam sua pele. Jon não falou nada. "Se não conseguem cuidar dele, deixem que eu cuide... Aliás, Thomas e eu, somos irmãos não é Jon? Vocês me criaram", Jon estava com os olhos úmidos, "Estou fazendo isso por três pessoas: Thomas, Eleanor e eu". Jon segurou no colarinho da camiseta de Peter com as mãos. "Você não sabe o quanto é difícil para mim!", Peter tirou as mãos dele a força, rasgando uma parte de sua vestimenta. "Eu sei! Eu também amei Eleanor... Eu chorei por ela... Não quero chorar por Thomas também..", ele olhou para mim. Estava com as bochechas coradas e os olhos brilhando, adquirindo um aspecto alaranjado devido a luz do sol. Apenas o amor enraizado na alma pode esquivar a morte ou reencarnar a vida. "Eu vou levá-lo para um lugar seguro... Comigo!"


"Jon, deixe-o ir! Nós daremos um jeito de esconder dos Ashworths", ela estava segurando o pulso dolorido, "Ele é amaldiçoado! É bruxaria!". Jon e Peter não viram James, mas souberam que alguma coisa a impediu de me espancar. Peter se aproximou de mim, me pegou no colo e me levou para o quarto. A porta se fechou logo após entrarmos. "Arrume as suas coisas, nós vamos sair daqui hoje mesmo, Thomas...", pôs a mão em meu rosto. James atravessou a porta, com os braços cruzados e com as sobrancelhas franzidas. "Odeio aquela velha!", dei uma breve gargalhada, foi o suficiente para fazê-lo sorrir. Peter achou, em meio à todas as minhas roupas, uma bolsa de pano grande e jogou várias peças de roupas ali. Me peguei pensando como será ir para o lado de fora, sem ser em um sonho, é claro. James se sentou do meu lado, o envolvi com meu braço esquerdo. "Vamos embora?", ele sussurrou. "Sim", sussurrei de volta. 


"Peter", falei; ele fechou a bolsa e se virou para mim, com as sobrancelhas levantadas, "Quero que me faça um favor", ele sorriu e cruzou os braços.


"E que favor seria esse?", sorriu.


Docete me vivetis.


"Eu quero me ensine a viver", falei olhando em seus olhos cor de mel... Ele sorriu e assentiu. Sentamos um do lado do outro esperando o momento para, finalmente, sair do mundo em que estou preso. Conhecer novos horizontes e me esquecer da minha futura morte. Acredito que talvez eu não tenha sido claro quanto aos meus pensamentos...


Eu não tenho medo de morrer, tenho medo de não poder viver.


"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. "
- Epicuro


Notas Finais


Espero que tenham gostado!

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Próximo capítulo em breve!

Desculpe por qualquer erro!

TALVEZ ESSE SEJA O ÚLTIMO CAPÍTULO QUE EU POSTE ESSE ANO. PQ EU DEMORO, EM MÉDIA, UNS 6 DIAS PARA ESCREVER OS CAPÍTULOS E SEMANA QUE VEM EU VOU VIAJAR POR CAUSA DO ANO NOVO...

Feliz Natal e Ano Novo pra todos vocês!

* * *

A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

* * *

Abraços!

~Flexszible


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