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História Almas Para Oblivion - Somnium damnatorum


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


Espero que gostem do capítulo...

Desculpas antecipadas por qualquer erro! Eu editarei depois...

Boa leitura^^

Capítulo 8 - Somnium damnatorum


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Somnium damnatorum


Já havia anoitecido. Percebi quando as linhas de luz alaranjadas pararam de brilhar pela fresta da porta e pelos pequenos vãos da janela. A vela estava acesa, nos iluminando com sua luz bruxuleante. Prestei atenção em Peter por alguns segundos, como quando ele respirava, seu braço relava de leve no meu. James estava cantarolando uma música, as mesmas notas repetidas vezes. Sentirei falta dos meus livros, já que são muitos e não poderemos levar. Não quero sair daqui para ler, quero fazer algo útil, além de ser sacrificado para poderem sobreviver. Eu seria egoísta em não querer ser sacrificado? Em não querer salvar dezenas de vidas? Estou no meio da afirmação e da negação. Se esse é meu dever então porque estou tão relutante em fazê-lo? Talvez isso seja um estado de pânico ao saber que finalmente conhecerei o mundo que me cerca e que não me sabe meu nome. Thomas, mundo, meu nome é Thomas. 


Peter se levantou e me ajudou a fazer o mesmo. Eles levantaram o colchão e o colocaram em posição horizontal, a pedido meu. Peguei a chave debaixo da madeira solta. Meu medalhão estava entre meus ombros e meu pescoço, um brilho dourado à minha palidez. Peter pegou a bolsa de pano e colocou a alça em seu ombro. Me avisou que pegou as cartas de Eleanor e as dobrou para colocá-las na bolsa. Desculpe, Jon. Eu me agachei e apaguei a vela com um sopro; consequentemente, senti uma pequena dor na perna. Andei em direção à cozinha, mancando, onde Elizabeth e Jon estavam, sentados à mesa. Elizabeth balançava sua perna e Jon estava tremendo. "Ajeitem as coisas ali dentro, acendam a vela toda noite, botem um prato com migalhas de comida... acho que podiam me ver pelas frestas, lá de fora", instrui, eles apenas escutaram. Jon olhou para mim e seus olhos se encheram de lágrimas. "Tranquem a porta e não deixem ninguém entrar". Elizabeth abriu a boca. "Mas e se quiserem inspecionar ali dentro?", apontou com o queixo, "Se descobrirem seremos punidos!", exclamou, com um certo nervosismo, com as mãos tremendo e com os olhos arregalados. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque bagunçado, com várias minúsculas mechas prateadas caindo sobre seu rosto. Nunca me preocupei ou me importei, mas ela parecia estar perto de seus 50 anos, apesar de eu não saber como alguém de 50 anos se parece ou deve parecer. Estou usando Henry como referência, que está lá para os 75 anos. Jon era obviamente o mais novo, apesar de ter (poucos) fios grisalhos eu sua cabeleira negra, igual a minha. Sua feições acentuadas o faziam parecer um tanto ameaçador e não tão suave quanto estava nos desenhos de Eleanor. Seus olhos estavam vermelhos. Seu rosto era quase tão pálido quanto o meu e parecia não se barbear faz dias. Os relvinhas na sua mandíbula não eram tão charmosas como as da mandíbula de Peter. Talvez porque ele seja meu pai ou porque simplesmente o odeio. Desejo escrever uma biografia e ser classificado como 'o jovem mais triste e melancólico de toda Inglaterra'. Ele fala com os mortos, sua família o espanca, é vítima de cárcere privado, seu interesse romântico irá se casar com outra pessoa e dia 16 de dezembro de 1787, ele, provavelmente, morrerá. Prevejo um sucesso de impressões, mas caso os sacrifícios fossem expostos, eu não imagino - e não posso imaginar - o que poderia acontecer e como Oblivion reagiria. Toda ação gera uma reação, certo? Nunca achei que eu pudesse envolver Isaac Newton com isso.


Respiro fundo. Para responder a pergunta de minha tia, me lembro das coisas que sempre disseram sobre mim. Sempre. "Continue com os boatos", falei e mordisquei o meu lábio inferior, "Continue dizendo que sou venenoso, que sou asqueroso... Continue dizendo que meu toque matará alguém", bati as palmas na mesa e ao sentir a ardência, fechei as mãos. Elizabeth piscou. Olhei para seu pescoço, estava pulsando bem visivelmente. Ela se assustou. Você tem medo de mim Elizabeth? Jon apenas virou olhou para mim, com várias lágrimas fazendo linhas úmidas que reluziam uma fração da luz da lamparina em cima da mesa. "Me escondam direito, porque se me encontrarem...", todos olharam para mim, já que induzi a um clímax, "Eu me mato". Eu já morri uma vez, doeu, mas no final eu realmente pensei que eu estaria em um lugar melhor. Mas, ao invés disso, eu acordei. Me afastei da mesa, mancando para a minha direita e depois virei à esquerda, indo em direção à porta da frente, passando pelas paredes amarelas que se tornaram mostarda por causa de escuridão parcial. Girei a maçaneta e puxei. A porta rangeu. Fechei meus olhos e senti a ventania gelada. O cheiro de mar. "Vamos", Peter sussurrou. Sua respiração quente arrepiou meus pelos da nuca e senti um choque na minha espinha. "O que aconteceu com a neve?", perguntou James, provavelmente abraçando o livro de ilustrações, "Eu não entendo... Havia neve o tempo todo, não é?". Entendi o que quis dizer, James. Abro meu olhos e dou meus primeiros passos para o lado de fora. A lua e as estrelas brilham no céu, deixando o rastro branco no oceano. A sensação de pisar na terra é estranha, não é totalmente plana, está cheias de subidas e descidas - com várias pedras pontudas que irritam a sola do meu pé e estou calçando botas. Há duas trilhas, uma para a esquerda, em direção à várias casas escuras. O vilarejo, composto de dezenas de casas, algumas de pedra outras de madeira. Uma delas se destaca, uma enorme, com paredes altas e telhado curvo. É larga e extensa. Provavelmente onde os Ashworth estão neste momento. Me viro para olhar minha casa. Uma grande casa de pedra cinza com janelas brancas. Por fora é de pedra e por dentro é revestida de madeira... À direita há um grande campo, com várias árvores com folhas escuras, com montanhas verde-escuras ao fundo. A trilha segue em um vão entre essas montanhas. Consigo ver formas escuras andando por esse campo. Espero que não sejam lobos para comer minha carne venenosa. Bom, se o lobo morreu, nossa carne é venenosa, mas não o nosso toque. Peter não disse nada, apenas começou a andar em direção a trilha à direita. Pisando nas gramíneas até chegar na trilha de terra. Fizemos o mesmo. Ao pisar na terra, soltou uma poeira marrom que flutuou até não poder mais vê-la. Não sabia que podia fazer isto. 


Então começamos a andar pela trilha. Todo o ambiente era iluminado pela luz cinzenta da Lua, trazendo um aspecto misterioso. Ao chegarmos perto das árvores, parei e me aproximei para tocá-las. James e Peter, também pararam, olhando para trás. Elas não se pareciam tanto com a madeira que eu conhecia, também não era plana e havia vários cogumelos escarlate próximo às raízes. Os galhos eram curvos, cheios de folhas ovais acentuadas nas extremidades. Havia um passarinho na galho, inclinando a cabeça para os lados, rapidamente para os lados. "Olá", sorri para ele ou ela; Peter e James se aproximaram, "Não sou muito bom com animais, você é o primeiro que conheço", ele voou para o galho mais próximo de mim. Fiquei na ponta dos pés, estiquei meu braço e a palma da mão para ele. "Não vou te machucar. Acredita em mim, não?", sorri. Peter e James, olharam para mim com pena, como se esperassem que eu falhasse. Odeio pena. O passarinho hesitou em pousar em minha mão, então abaixei. "Eles sempre fogem, não é tão fácil fazê-los confiar em você", falou Peter. Ao acabar de falar, o passarinho voou e pousou em meu ombro. Peter ficou de queixo caído por alguns segundos. "O que estava dizendo?", foi James que falou, "Que demais!", ele deu uns pulinhos com o livro em sua mão. Use seus poderes a seu favor. Tive um lampejo de ideia em minha mente. "Peter me dê a carta do meu aniversário! 16 de dezembro de 1772", ele assentiu com um pouco de hesitação, tirou a bolsa de ombro e tirou todas as cartas que havia pegado. Ele olhou as datas três vezes e na quarta, confirmou com a cabeça e me entregou a carta. O passarinho se acomodou em meu ombro. Dobrei a carta em outras quatro partes, com uma frase entre as linhas das dobraduras. Rasguei a cartas nessas novas dobradura. Peter se espantou e gritou; "O que está fazendo?!", se levantando, com a testa franzida. "Não grite comigo, não sou sua propriedade, Peter", falei secamente, querendo continuar com "não vamos nos casar". Não quero escutar gritos. Peter mudou sua expressão de raiva para uma mistura de choque e tristeza. Minhas mãos começaram a tremer. "Thomas, eu...", o interrompi batendo a palma da mão e os dedos em seu peito, excluindo o dedão e uma parte de indicador, porque estava segurando a carta com eles. Não piore as coisas, Anjo. Ele pegou a carta rasgada e me afastei antes que ele pudesse tocar em minha mão. James não estava entendendo nem a metade do que estava acontecendo e seria melhor se continuasse assim.


Peguei o passarinho com uma mão, em forma de concha. Tirei meu medalhão e envolvi a cartas entre a corrente. "Abra suas asas", pedi e ele o fez. Enrolei o medalhão com o trecho a carta em seu corpo de uma maneira menos desconfortável possível. "Voe e se estiver desconfortável, pouse na minha mão", ele pegou impulso e voou, mas não pousou. "Venha", ele pousou em meu ombro, "Quero lhe pedir um favor", ele parou de mexer a cabeça, estava prestando atenção, "Quero que encontre Elena Rosegardin, minha tia". Peter interferiu novamente. "Thomas, o que você está fazendo? Vai confiar em um passarinho". "Sim, algum problema, Peter?". "Não percebe que pode perder seu medalhão para sempre?". "Talvez, mas é minha única chance de trazer Elena pra cá... Eu quero ver o último membro da minha família e não vou desistir!", gritei e me desculpei por ter gritado. "Voe, encontre-a e volte". Ele voou indo em direção às montanhas, até se tornar um ponto preto no céu estrelado. Peter colocou a bolsa no ombro e voltamos a andar.


Espero que ela leia esta frase. Leia, Elena. Leia. 


Andamos por vários minutos até as árvores serem substituídas por mais gramíneas. Haviam vários vaga-lumes piscando com sua luz verde amarelada. Eu estava andando na frente deles, olhando a paisagem, apreciando o que havia para olhar. Peter estava andando com os braços cruzados e James estava chutando a terra enquanto andava. A ventania aumentou, trazendo o frio consigo. Eu me abracei, tremendo, batendo os dentes. Olhei para Peter e ele estava normal, sem tremer e sua pele não estava arrepiada. Talvez seja falta de massa corporal. Olhei para frente novamente. Peter, de repente, se aproximou do meu lado direito e colocou o braço em volta de mim, passando a mão em meu braço esquerdo. Aquilo ajudou um pouco. Ele era muito alto, mais de 20 centímetros mais alto que eu. Não sei quanto meço, mas devo ser bem baixo porque James é quase da minha altura, poucos centímetros mais baixo que eu. "Não me importo se está com raiva de mim, Thomas", sussurrou no meu ouvido, "Eu não vou desistir de você tão facilmente... Eu sou insistente". O jeito que ele sussurrou me deu um certo frio na barriga, mas não era medo. O frio já não era tão insuportável naquele momento. Ele me esquentou, de alguma forma, com aquelas palavras. Tremi, mas foi de nervosismo. "Ainda está com frio?", balancei a cabeça, "Bom", continuou com o braço em volta de mim. Já estávamos atravessando o vão da montanha verde. A tontura e a dor nas pernas havia passado. "Ainda vou conseguir conquistar você", voltou a sussurrar. "Talvez, Peter, talvez", apesar de já ter feito. 


* * *


Após seguirmos a trilha por mais alguns minutos, saímos da terra e continuamos pela grama. Fiquei curioso em saber como é, então tirei minhas botas e continuei a pé. A grama estava tão gelada, que achei que estivesse úmida, mas quando passei o dedo na sola do meu pé, estava seco. James cantarolava a mesma música. Haviam vários arbustos e árvores de porte médio, o suficiente para formar uma sombra grande para se proteger do sol em um dia quente. Li isso em algum lugar. 


Nos aproximávamos de uma casa, também de pedra, com telhado de madeira. A grama ficava cada vez menor enquanto nos aproximávamos. Subimos dois degraus e paramos na frente da porta, também de madeira. Peter pôs a mão no bolso e tirou um emaranhado de chaves presas em um barbante. Ele abriu a porta e empurrou com um gesto despreocupado. A casa estava completamente escura, não consegui ver nada, mas entrei mesmo assim. James entrou, cerrando os olhos, mas não parou de cantarolar. "Eu já volto", falou e foi para a escuridão, por mais melancólico que isso pareça. A luz da lua não era suficiente para iluminar o cômodo, mas se podia notar que as paredes eram de pedra, cinzenta e cheia de protuberâncias. Como o abdome de... Esqueça, Thomas... Esqueça! Eu posso gritar com você (comigo)!. "O que está cantarolando?", James para de cantarolar, mas não o vejo. Pisco algumas vezes para me ajustar à luminosidade. "Nada...", ele fala baixinho, escuto barulho de madeira vindo de dentro da casa, seguida de uma interjeição de dor. Ah!. Uma interjeição um tanto masculina, devo dizer. Peter volta com algo debaixo do braço, mas não consigo ver o que é. Ele tateia a parede e se abaixa, e joga o que tem embaixo do braço. Pelo barulho é madeira, igual a que é usada no fogão. Então ouvi um barulho cortante e uma pequena chama surgiu, segurada por Peter. Um fósforo. Então o joga o fósforo no mesmo lugar onde jogou a madeira. Então acendeu mais um fósforo e mais outro e mais outro, até o fogo ser luminoso - e quente - o suficiente. Quando o fogo surgia, pude ver que ele jogou a madeira em uma espécia de lareira, e nela havia um suporte com uma panela. Era uma lareira e um fogão. O cômodo foi iluminado. Havia uma mesa com dois bancos longos dos lados, tudo de madeira. Haviam vários candelabros, dois para chão e um para mesa. "Venham, vou mostrar a casa", falou sorridente e fazendo um gesto para nos aproximarmos dele. Ele estava segurando um candelabro enferrujado.


Primeiro para a cozinha cheia de verduras, água, leite e diversas outras coisas; depois o banheiro, com uma bacia enorme no centro, uma cadeira e produtos para a higiene; então veio o corredor, com seis portas, três à direita, duas à esquerda e uma no final do corredor. A do final do corredor estava tão desgastada que a madeira clareou. "Era onde Emmanuelle ficava... Não se preocupe não vai ficar aí", me tranquilizou. "Então onde ficaremos?", falei, olhando para a porta desgastada. Estava com a mão na maçaneta, mas não abri, não achei que tinha o direito para fazer isso. "Comigo". Os outros cômodos eram quartos, um dos pais de Peter, e os 4 restantes: uma sala com vários tecidos e agulhas de tricô; um quarto de hóspedes e outro com uma estante pequeno com alguns livros de romance e assentos acolchoados. O último era o de Peter. 


Uma cama de casal de madeira, coberta por um pano azul, com uma mesa de canto ao lado e um grande armário. Havia um baú e alguns brinquedos espalhados pelo chão. Haviam velas por quase todo quarto. "Eu tenho medo do que há no escuro", Peter explicou, "Morar sozinho não ajuda muito", deu um sorriso meio sem jeito, "Estou feliz que vamos morar juntos... Estou olhando para Thomas, mas também estou falando com você James", James deu um grande sorriso. Eu também sorri. "Onde vamos dormir?", falei, olhando em volta do quarto. Peter coçou a nuca. "Não quero soar ofensivo, mas James dorme?", James ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços, com a cara emburrada. "É claro que eu durmo, seu... seu loiro bonitão...", franzi o cenho para James, "Me ajude a xingá-lo, Thomas... Me fale alguma coisa ruim sobre ele". Não me faça pensar demais, James. Talvez isso seja impossível. "O que ele está dizendo?", falou, percebendo que estou olhando para James; ele se apoiou no batente da porta, com um meio sorriso. "Ele está tentando te xingar", soei um tanto brincalhão ao falar. Peter gargalhou. "Se quiser brincar com os brinquedos, James", falou, mas não ouviu o "Não, obrigado" de James, "Posso falar com você, Thomas?", eu dei de ombros e fui para perto dele. "Você quer tomar um banho, alguma coisa? Comida?", pareceu preocupado, "Um banho quente e depois comida, por favor", ele outorgou. Eu estava faminto, mas preferia tomar um banho primeiro. Fomos para a lareira, onde ele jogou água na panela e esperamos esquentar o suficiente para eu poder me banhar. 


Peter levou a panela pelas alças laterais e despejou na bacia, que batia em meus joelhos. Para enchê-la precisou ir e voltar três vezes. Se eu me deitasse ao lado dela, ainda seria maior que eu. Haviam velas acesas ao lado da bacia. Então, ele colocou a panela no chão, fechou a porta e se sentou na cadeira de uma maneira desleixada. Dei uma olhada torta, franzindo o cenho. "O que você está fazendo?", cruzei os braços, "Eu posso tomar banho sozinho, Peter". O vapor da água quente estava começando a se espalhar pelo cômodo, se impregnando nas pedras das paredes, no chão e no teto. "Eu sei que pode tomar banho sozinho, mas caso aconteça algo...", ele me deu uma rápida olhada de cima a baixo e passou a mão no cabelo. "Tanto faz, Peter", me virei de costas para ele e comecei a me despir. Primeiro tirei a camiseta, que mais parecia um suéter. Estava frio. Tirei a calça, fiquei totalmente nu. Testei a temperatura da água com o dedão e entrei na bacia. Soltei meu cabelo e joguei a cordinha no chão. Me sentei e senti a água esquentar e arrepiar meu corpo. 


Me afundei na banheira de barriga para cima, deixando meus cabelos cobrirem meu rosto. 


"Tudo começa com uma criança", falou uma mulher, sonoramente jovem.


"Depois vem o mar", falou um homem, também jovem.


"O quê?!", saem bolhas. Quase me engasgo ao tentar respirar.


"Depois vem a canção"


"E o morto ressurgirá"


"Das águas do velho mar"


"Mar de fantasmas"


"Cante para nós no momento certo"


"E a maldição cessará" 


Sinto uma pressão em minha cabeça. Tento levantar, mas não consigo. Meus olhos se fecham.


"Mas há uma consequência", ao falar, os outros ecoaram.


"Alguém que ama desaparecerá"


"Mas se ainda houver tempo, como presente, o amor poderá ser retornado"


"E todo seu poder será levado"


"Thomas!", Peter grita, "O que está fazendo?", me puxa.


"Nada mudará, ainda precisará da morte para a maldição acabar" 


"Respire! Respire!"


Me desesperei, mas não consegui abrir os olhos, e, na verdade, estou gritando, estou chorando de medo. Estou olhando para o escuro, para o nada. Minha alma se movimenta agoniadamente enquanto meu corpo foi petrificado. Não estou respirando. Não estou respirando. O ar escapa pelo meu nariz e pela minha boca. Senti os lábios de Peter nos meus, e, em seguida, meus pulmões inflaram e retraíram diversas vezes, o ar passando pela minha garganta. Não consigo me mexer ou respirar, mas não sinto que estou morrendo. Começo a respirar, mas ainda não consigo me mover. "Droga!", gritou, "James!". Escuto James chegar e gritar de volta. "O quê aconteceu?", perguntou, com preocupação em sua voz. "Eu não sei, ele estava tomando banho e afundou na água por um tempo... E não está respirando". James deu um gemido. "Ele está morrendo?", perguntou. Não, James. Peter hesitou e falou um simples "Eu não sei" e depois sussurrou: "Espero que não". Peter me carregou e me largou em um lugar macio. Uma cama, talvez. Eu ainda estava molhado com cabelo grudado nas têmporas e na nuca. Peter colocou algo em cima de mim, era felpudo e pinicava um pouco. "Thomas, você está aí?", pegou minha mão e levou à sua pele. Reconheci os pelos em que toquei. Eu estava tocando em seu rosto. "Thomas...", sussurrou. Consegui mexer meu dedo médio, com dificuldade, para tocar em seu rosto. Peter deu uma risada curta e apertou a minha mão. "Você consegue me ouvir, não é? Não sabe o quanto fiquei preocupado... Bom, nos últimos dois minutos", eu queria sorrir depois de ouvir isso; ele tocou em meu rosto e beijou minha testa. "Sonhe, Thomas". Escuto essa voz em minha cabeça, uma voz familiar e feminina. Tateei por seu corpo, pelos ombros e posicionei minha mão em sua nuca. "Sonhe o sonho dos condenados". Estou perdendo o controle. "Sonhe comigo". A voz de Peter começa a ficar inaudível e meu braço cai no colchão ou o que eu acho ser um colchão. 


"Sonhe comigo, meu filho".

 

* * *

 


Abro meus olhos.


Estou deitado no escuro. Tudo está escuro, não enxergo nada. Sinto água batendo nos meus calcanhares. Estou farto de tanta água. Estico meus braços para ver se encosto em algo, mas não há nada. Um brilho vermelho se espalhou pelo ambiente, por um segundo, iluminando a água escura, que ficou parecendo sangue. O brilho continua pulsando, vindo de trás de mim. Primeiro olho por cima do ombro e depois me viro. Esse brilha vinha de dentro de uma pessoa, andando em minha direção. A cada pulsação essa pessoa se aproxima. Essa pessoa é Eleanor, só que vermelha. "Thomas, meu filho", falou abrindo os braços como se fosse me abraçar, "É tão bom te ver, crescido e bonito", enrolou o dedo em algumas mechas do meu cabelo. "Não sei o que dizer...", eu estava com lágrimas no rosto, "Aqui é o passado? Eu apenas consigo ver o passado em meus sonhos", olhei em volta, com a luz pulsante na minha frente. "Não, Thomas", ela pegou em meu queixo e virou meu rosto para ela, "Isso está acontecendo neste momento, em Oblivion". Ela era um pouco mais alta do que eu. Era quase idêntica aos retratos de carvão. "Esse lugar é assim? Onde estão as almas dos meus irmãos?", olhei em volta novamente, tentando ver algo além de escuro. "Esse lugar está assim porque eu quero que ele seja assim, Thomas", começou a andar em volta, "Eu consigo controlá-los, parcialmente... As almas", ela faz uns gestos com as mãos, "Estou ficando mais poderosa a cada dia, meu filho, e vou te vingar pelo que fizeram com você", a luz se tornou mais intensa. Abaixo a minha cabeça, mordendo o lábio. "Você viu o que fizeram comigo?", falei baixinho. Ela se vira para mim com uma expressão segura. "Sim, Tommy". Tommy. "E vou matar todos daquele vilarejo por isso", o vermelho durou por mais alguns segundos. Dei alguns passos para trás. "Não pode fazer isso, a morte deles não está em suas mãos", ela me olhou incrédula e depois, furiosa. Ela deu três passos pesados em minha direção. Direita, esquerda, direita. Ela segura meus braços e me levanta, com a luz agora estável, não pulsante. "Está em minhas mãos, Thomas!", ela aperta com força, me machucando, "Eles te machucaram e eu os machucarei!". Ela piscou várias vezes e me largou no chão. Caí sentado, fazendo a água esguichar para cima, mas ao contrário de como deve ser, ela continuou subindo até se tornar parte da escuridão.


A luz vermelha se tornou azul e a expressão dela mudou completamente. Ela se aproximou com remorso evidente. "Thomas, eu sinto muito... Oblivion nos muda, muda os mortos... Não quis fazer aquilo", ela estava prestes a chorar. Por isso Emmanuelle me matou... Só pode ter sido isso, mas ela não brilhava. "Você tem que fugir, tem que me libertar a minha alma", ela caiu de joelhos, "Tem que me enfrentar e me matar", eu balancei a cabeça. Não posso matar a minha própria mãe. "Se me destruir, destruirá Oblivion e a maldição acabará... Minha alma foi dividida em duas", me agachei para ficarmos na mesma altura, "Ela é a responsável pelos sacrifícios, eu sou responsável... Morri com ódio dos outros te olhando com nojo após o parto, como odiavam Emmanuelle e os Filhos de Oblivion", a luz que vinha de seu peito era fraca e instável, não pulsava em um padrão. "Para haver uma esperança, dividi minha almas em duas para que possa acabar para que não fosse apenas ódio, mas ele prevalece em todos aqueles pobres seres egoístas... Isso alimenta o meu lado negro e só a torna mais poderosa. Ela é a mais poderosa de todos os fantasmas em Oblivion e matará todos", fala secamente. Tento colocar a mão em seu rosto, mas o atravesso. Como eu quero te abraçar, mãe. Somos realmente parecidos. "Como podemos impedi-la?", me levanto, colocando algumas mechas atrás do ouvido. "Terá ajuda de outros Filhos de Oblivion, ah!", ela põe as mãos na cabeça e se estremece de dor. A luz se torna lilás. "Não!", grito, "Me fale mais!". A luz se torna roxa.


"Thomas!", Peter gritou, "Thomas o que está acontecendo?! James!"


A luz se torna rosa. Ela levanta a cabeça. "Se afaste! Ela está...", dá um gemido.


A luz se torna vermelha.
 
Ela dá um sorriso maléfico para mim, quase mal intencionado. "Ora, ora, Tommy", ela se levanta com o mesmo sorriso, "Parece que andou falando com quem não devia... Que vontade de te punir e quebrar todos os seus ossos". Começo a tremer e dou passos apressados para trás. "Não se preocupe, meu filho... Só vai doer um pouquinho", falou sarcasticamente. Meu coração passou a acelerar. Me viro e saio correndo pela água. "James! Peter! Socorro!", grito enquanto corro. Escuto o lado negro de minha mãe dando gargalhadas. "Não vai escapar tão fácil, Thomas... Todos devem ser punidos!", a luz começou a se aproximar. Olho para trás. Ela não está mais ali, então paro de correr. Pra onde ela foi?. A luz pulsante começou a vir por trás de mim. Me viro, tremendo. Eleanor voa em minha direção e grita, fazendo um gesto com os braços. Seu grito estridente fez meus ouvidos doerem e, de repente, senti como se tivesse sido puxado pelas costas. Eu voei e cai de costas no chão. Bati minha nuca na superfície sólida embaixo da água, fiquei meio desnorteado. Senti o gosto de sangue em minha boca, um gosto salgado e metálico. Ela se aproximou de mim, vagarosamente. Quando ela se ajoelha do meu lado, eu tento fazê-la levitar, esticando meu braço em sua direção. Eu senti o poder dentro de mim e tentei usá-lo. Ela gargalhou com a minha tentativa. "É tudo o que pode fazer?", ela pegou meu braço rapidamente, dando um barulho de estalo quando se chocou com minha pele. Ela apertou meus dedos com força. Eu gritei em agonia. Então, ela os girou para baixo e ouvi um estalo grave. Senti uma dor aguda nos meus dedos e na minha mão. Grito mais alto ainda. "AAAAAAH!". Os ossos estavam todos em direções diferentes, alguns curvados para cima, rasgando a pele e outros para baixo, rasgando a palma da minha mão. Senti um choque com a dor. "Ainda não terminei, faltam muitos ossos", ela pegou minha mão quebrada e apertou. Gritei e gritei, mas não aliviava nenhuma dor. Nem o choro adiantava. "Socorro", articulei, engasgando entre as lágrimas. "Ninguém irá te ajudar, Thomas... Você está sozinho!"
 
"Não!", James grita e começa a correr em minha direção.


Eleanor se irrita e me pega por trás, pelo pescoço. "James", eu dei um sorriso fraco. James para de correr e começa a voar em minha direção. Eleanor aperta meu pescoço com uma mão e segura meu queixo com a outra. Então ela gira e escuto um crack


Tudo escurece. 


* * *


Abri meus olhos.


James estava segurando meu braço. Respiro fundo, empurro meu corpo para frente e me sento, aonde quer que eu esteja. Vejo que estou no colchão da cama, com os cabelos emaranhados e com uma toalha me cobrindo da cintura para baixo. Peter estava do meu lado, com a camiseta ensopada e os cabelos bagunçados. "Está tudo bem, Thomas", ele passou a palma da mão em minhas costas nuas. Minha mão direita estava normal, mas nunca me esquecerei da dor. James se sentou na cama, aparentemente cansado. "O que aconteceu?", Peter perguntou, se aproximando de mim. "Eleanor... me matou, como Emmanuelle fez...", falei com lágrimas já caindo dos meus olhos. "O que?! Como assim?". James também queria saber, já que não ouviu nossa conversa, mas ele me viu morrer. Morri duas vezes de duas maneiras diferentes. Agonizando. Sangrando. Será um teste de Eleanor para me fazer mais forte? Ou apenas ações doentias?


Contei para eles tudo o que a Eleanor Azul me contou sobre a Eleanor Vermelha. Me referia as duas dessa forma para facilitar. Falei sobre a alma ser dividida em duas, sobre o ódio que alimenta a Vermelha, sobre os Filhos de Oblivion que, supostamente, nos ajudarão e sobre ela ter me atacado e matado. James saiu do quarto, atravessando a parede, triste. "Temos que salvá-la", Peter falou, não necessariamente para mim. "Eu posso terminar de tomar meu banho?", minha voz estava fraca, faz parte da morte dupla. "Sim, é claro... Eu te espero aqui", pegou na minha mão e forçou um sorriso. Eu não pude pensar na ideia de ficar lá sozinho. Na água, quero dizer. Peter tentou se afastar mas eu o segurei. Ele olhou para mim, surpreso. "Não quero ficar lá sozinho", falei desesperadamente, "Fique comigo". Ele assentiu e saiu da cama. Eu fiz o mesmo, deixando a toalha de lado. Não me importo se estou nu na frente dele, aliás, ele já me viu nu. 


Quando abrimos a porta do banheiro, ainda estava com vapor. Passei a mão nas pedras da parede e deixei um rastro, tirando o vapor. Peter me dava um empurrãozinho quando eu vacilava em andar em direção à água. A água não estava tão quente, mas ainda estava em uma temperatura agradável. Entrei na água e peguei o sabonete submerso, que estava quase pastoso. Me deitei de costas na bacia, novamente, mas consegui me levantar. Peter se ajoelhou e apoiou o braço na borda. "Você vai ficar bem", deu um sorriso mais doce e menos forçado. Ele estava suado ou molhado, não consegui diferenciar no momento. Fui para perto dele, quase engatinhando, como a palavra já diz, quase como um gato ou talvez eu não deva levar ao pé da letra. Mais sexual do que planejado, mas nada foi planejado. Percebi que faço as coisas por impulso. Gosto disso. Quero ser envolvido por suas asas, Anjo. É disso que preciso. Estou aprendendo a improvisar. Tudo é empírico, estou aprendendo com a experiência do desejo.


Peter hesitou por um instante, mas cedeu. Eu havia cedido a partir daquele momento em que chorou na cozinha e nos olhamos nos olhos. Me ajoelhei ao lado da borda. Coloquei meu braço por cima de seu ombro, fiz um gesto com a mão, apontando para a porta e a mesma fechou. Ele repousou sua minha em minha cintura e apoiou a testa em meu peito. Acariciei sua cabeça e suas costas suadas. Eu fiquei ereto. Ele estava com a respiração pesada, como se questionasse se isto era a coisa certa a se fazer. Ele levantou a cabeça e tirou a camiseta. Ele entrou na bacia, ainda de calça, me empurrou para trás e me beijou. O bom dos nossos beijos é que nunca são iguais, porque sempre nos beijamos em circunstâncias diferentes, com emoções diferentes. A água começou a despejar para fora, mas ele pareceu não notar. "Não quero... esconder... o que sinto por você... Peter", falei - quase parecendo um murmúrio - sendo interrompido pelos beijos. "Eu nunca escondi", parou e falou, com o rosto vermelho e os olhos brilhando. E era verdade. Ele tentou me beijar, mas eu o parei e fui para perto de sua orelha. "Quero te pedir uma... outra coisa", sussurrei, com as mãos na sua cintura. Ele não falou nada, apenas continuou respirando. "Quero que não me faça esquecer disso... Quero que seja especial... Quero sonhar com isso e nada mais", sussurrei. Ele deu um sorriso. "Espero que possamos sonhar juntos", sussurrou. Ele se ajoelhou e abriu o botão da calça e tirou-a. Talvez eu não esteja pronto, mas então por que parece que estou mais do que pronto? Esse fogo, essa emoção. Os beijos recomeçaram, quentes e apaixonantes.


Quero sonhar com anjos e não com demônios, com Oblivion. Quero sonhar com o anjo dourado. Eu comecei a sonhar. O sexo começou. Primeiro senti dor, depois uma pressão nos quadris e em alguns momentos, prazer. Eu revirei meus olhos repetidas vezes. A bacia fazia barulho, já que eu estava sendo empurrado para ela. Peter gemia alto algumas vezes, mas na maior parte ele arfava ou emitia sons baixos. Eu gemi quase o tempo todo. Não nos olhamos, eu estava envergonhado demais para olhá-lo nos olhos. Passei a mão pelo seu corpo e pelo seu cabelo. Ele acelerou, segurando na bordas da bacia, enquanto eu me segurava nele. Ele arqueou as costas para mim, enquanto gemíamos alto. Senti um líquido quente dentro de mim, quando ele parou e retirou seu pênis. Ele se sentou do meu lado, respirando rapidamente, ruborizado, suado e úmido. Apoiei minha cabeça em seu peito e ele me envolveu em seus braços. Depois, ele me masturbou. A água ficou cheia de substâncias brancas. 


Ele fez o que eu lhe pedi. Eu nunca esquecerei.


Obrigado, Anjo.


E pela primeira vez, desde que meus poderes se manifestaram, eu tinha a certeza de que eu não teria pesadelos. Pelo menos, por essa noite. 


Obrigado, Anjo.


"Peter, podemos ir comer? Estou faminto", me levantei e saí da bacia.


"Claro, já comi e estou saciado", falou de uma maneira bem estranha, safada. Se levantou, segurando a calça.

 
"Você não come por várias horas e...", falei e me interrompi quando o escutei dando uma risadinha, "Espere, o que quer dizer com isso?!", me viro para ele.


Ele dá uma gargalhada sonoramente confortante.


"Nada, Thomas, nadinha...", se aproxima e me beija novamente. 


 


Notas Finais


UM FELIZ NATAL PARA TODOS!

Espero que tenham gostado!

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Próximos capítulos em breve!

* * *

A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

* * *

Abraços ^^

~Flexszible


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