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História Almas Para Oblivion - Duo filiorum autem Oblivion


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


Espero que gostem do capítulo!

Desculpas antecipadas por qualquer erro...

Boa leitura ^^

Capítulo 9 - Duo filiorum autem Oblivion


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Duo filiorum autem Oblivion


"Vamos", uma mulher grita. Eleanor. "Vamos Peter!".


De início, não enxergo nada, mas então vejo Eleanor segurando na mão de uma criança, correndo pela grama curta em um campo. Ela estava com um vestido de seda rosa claro e o cabelo preso em duas tranças laterais que caiam em suas costas. Um sorriso de orelha à orelha, as bochechas coradas de felicidade. O menino, Peter, estava de costas para mim, correndo, com os fios de cabelos esvoaçantes. Usava um conjunto. Um casaco e bermuda bege, com meias cinza e uma bota marrom, com os cadarços desamarrados. Jon estava sentado, um pouco longe deles, sorrindo. Eles deram as mãos e giraram, giraram e giraram, até caírem na grama gargalhando. Jon bate uma palma e gargalha também. Eleanor para de rir e tenta recuperar o fôlego. "Eu nunca me esquecerei, Peter", fala, respirando fundo, seu peito subindo e descendo de maneira acelerada. Peter olha para ela e sorri. "Promete?", pergunta, com a voz bem mais aguda e juvenil do que estou acostumado. Me surpreendi, estava esperando a mesma voz que ele tem agora. Eleanor se apoia, de costas, nos antebraços e afirma com um gesto de cabeça, "Prometo", dá uma piscadela para Peter. "Mas nós sempre nos esquecemos...", Peter falou e fez o mesmo que ela, se apoiou nos antebraços. Havia uma folhinha amarelada em sua bochecha. "As memórias são coisas poderosas, Peter, elas...", interrompimento repentino.


O sonho muda de ambiente.


Estamos no penhasco, ao pôr do sol. Várias pessoas de preto, algumas com velas na mão. Peter com o braço estendido para o mar, para Emmanuelle com a faca no pescoço, na borda do barco. Ele estava com os olhos vermelhos e úmidos, vestindo roupas pretas, com o cabelo bagunçado. "Peter", é tudo que Eleanor fala para o menino e coloca a cabeça dele em baixo de seu braço. Peter ficou de costas para o mar e de frente para mim. Não viu Emmanuelle cortar a garganta e cair no mar. Ele arregalou os olhos cor de mel para mim. "Thomas", falou com a voz atual. Saiu dos braços de Eleanor e veio até mim, deixando ela confusa. Ele pegou na minha mão e corremos para longe. "Já que está aqui, quero te mostrar tudo", falou com um entusiasmo relutante, "Você merece...", sorriu e continuou correndo, em seguida, parou, "É estranho comigo sendo uma criança, não é?", deu um meio sorriso. Definitivamente era Peter, não tinha dúvidas. Eu assenti à pergunta. "Vamos", falou.


O ambiente muda.


Estou do lado de fora da casa dos Mitchell. Escuto gritos vindo de dentro, um homem e uma mulher discutindo. Entre os gritos eu escutava Emmanuelle, não consigo, dinheiro, Peter. O sol estava se escondendo atrás das montanhas, iluminando parcialmente a casa de pedra. Olho em volta e vejo Peter, pequenino, sentado com as pernas cruzadas na grama, de costas para mim. Me aproximo, sentindo a grama seca nos meus pés e o calor do sol em minhas costas. Estava com uma camiseta molambuda, calça de pano com a bainha dobrada até as canelas e descalço. O cabelo preso em um rabo de cavalo na nuca. Me sento do seu lado e toco em seu ombro. "Quantos anos você tinha?", pergunto. Ele se vira para mim, os olhos grandes e inocentes. "Seis anos", fala e apoia a cabeça em meu ombro, "Minha mãe vai se matar essa noite, Thomas, e eu vou chorar, vou chorar muito", ele pega e aperta minha mão, como se fosse aliviar a sua dor, "E não podemos pará-la". Eu queria poder dizer que poderíamos pará-la, Peter. "Continue, Peter", ele suspira. "Tudo bem".


 
Mudança número três.


 
Continuamos no mesmo local, mas estamos atrás da casa. Há uma horta e terras para plantio. Um homem com cabelo loiro desbotado para o grisalho está sentado nos degraus de pedra, de costas para a porta. Está tossindo repetidas vezes, levando um lenço à boca a cada tossida. Há uma pequena casa de madeira com galinhas, um cercado retangular com uma vaca e duas cabras e um cavalo comendo o gramado na sombra de uma árvore. Peter está capinando a terra e retirando cenouras, colocando-as em uma cesta. Corro em direção a ele. Peter se vira e me espera. Quando me aproximo ele me me mostra nove dedos da mão. Nove anos. "O que seu pai tem?", olho para ele, que tosse de uma maneira tão estranha, que é quase ostensiva. "Suspeitam que seja a Peste cinzenta, ataca os pulmões, mas se fosse isso ele já estaria morto", ambos olhamos para ele, "Charles viaja para Plymouth a cada dois meses para comprar remédios. Cinco dias para ir e voltar". Peter estava olhando para os próprios pés, mordendo o lábio superior. "Ele vai ficar por lá ou talvez vá para Teignbridge para se curar... Não sei", ele apertou a enxada e cerrou os olhos. "Agora um homem, chamado Jack, vem buscar dinheiro comigo de dois em dois meses", deu um suspiro longo, "Não quero que ele morra, mas talvez fosse melhor se isso acontecesse". Seu olhar se torna distante, vazio, olhando para o pai no estado mais fraco da doença.


 
"Não sei se isso vai lhe fazer melhor, mas a morte não é tão ruim", ele olha para mim, inexpressivo, com a mandíbula rígida, mas com seu rosto de criança. As sardas marrons, a boca em um doce tom rubro. "Aconteceu de duas maneiras, uma rápida e outra lenta. A lenta é agonizante, uma dor ardida, senti a vida esvaindo pelo meu corte no pescoço e me afoguei no meu próprio sangue", acariciei meu pescoço, me certificando de que não há nenhum corte aberto. Peter se virou para mim, se apoiando na enxada. Ele estava quase do meu tamanho, apenas uns dez centímetros mais baixo. "E a rápida?", abaixou o tom. "É como um
flash, em um momento você está aqui e em outro você não está, simples assim", ele piscou e virou o rosto para Charles. "Não ajudou muito, Thomas", falou, a voz um pouco rasgada.


Quarta mudança.


"Doze, Thomas", falou com a voz um pouco mais grave. Peter estava mexendo em círculos com uma colher de pau numa panela, presa no suporte da lareira-fogão. "Meu aniversário de doze anos, quase seis anos atrás", ele parou de mexer e se virou, "Sopa de cenoura, eucalipto, salsa e gengibre, a minha favorita", tomou o pouco de sopa que ficou na concavidade da colher. Franzi o cenho para a sopa. "Pode fazer essa cara, mas quando provar a sopa...", colocou três dedos em forma de pinça na boca e soltou ao mandar um beijo, não para mim. Acredito que ele quis dizer que é muito boa. "Ele viajou ontem, que seria, no caso, a cinco anos atrás. Eu tive que cantar parabéns sozinho... Não é tão bom quando se canta sozinho", deu um sorriso torto. "Eu canto com você, quando fizer dezoito anos... E me ensine como fazer essa sopa", sorri para ele. Ele deu um meio sorriso. "Promete?". Promete?. "Prometo, Anjo". Ele ergueu uma sobrancelha para mim. "Por que você me chama de Anjo?", ele se aproxima da mesa e se apoia nela, "Anjo... É um apelido estranho". Eu dou uma risada. "Não é um apelido, é porque toda vez que a luz bate no seu cabelo, você fica parecido com um anjo e... você se pareceu com um quando nos beijamos pela primeira vez, apesar de eu não saber como um anjo se parece", eu ruborizei. Não achei que eu poderia ficar vermelho em um sonho. Ele deu um sorriso e se aproximou de mim. Ele estava mais alto, minha cabeça batia na sua ápice nasal. Já haviam alguns pelos crescendo, estendendo-se do couro cabelo, formando costeletas. Ele estava na puberdade. A mandíbula lisa, os lábios rosados, o cabelo curto. Já tinha uma certa grossura nos braços e os ombros já eram largos. Ele põe as mãos na minha cintura e me puxa para perto. "Eu gosto quando pensa em mim", o mesmo sorriso galanteador, "Não quero que se ofenda, mas eu não te dei nenhum apelido", eu ri. "Não tem problema, você pode inventar um quando acordar ou simplesmente não me dar um... Gosto do quão simples 'Thomas' é", e nos beijamos. Ele tenta me levantar, mas ele cambaleia para frente e nós dois caímos no chão, com ele em cima de mim. Senti aquela dor que te deixa zonzo e faz os nervos do pescoço gritarem, mas eu ignorei. "Eu não era tão forte", falou impulsivamente. Ambos gargalhamos.

 
Quinta mudança entre as gargalhadas. 


Ainda estou gargalhando, até perceber que estou deitado em grama curta. Me levanto e vejo Peter com uma máquina estranha, passando pelos caminhos de terra para a plantação. A máquina se locomovia por rodas e tinha um cano que soltava coisinhas minúsculas, que pareciam pedras ou sementes. Ele havia crescido e alargado, mas o cabelo ainda era curto. Ele se virou e sorriu para algo. "Já vou, Peter!", uma garota grita e dá uma risada. Ela aparece. Uma garota de cabelos loiros claros, olhos azuis e um vestido de alça, florido, que caia nos joelhos. Ela é bonita. Bonita até demais. Ela corre até ele e coloca os braços em volta de seu pescoço, enquanto eles riem como crianças. Eles param, de repente. E se beijam. Dois anjos. Um beijo angelical. Percebo que começo a chorar, mas só quando meus olhos ficaram molhados o suficiente a ponto de minha vista ficar embaçada. Ele pega na alça do vestido e puxa para baixo, deixando uma parte do seio direito dela visível. Peter, enquanto a beijava, olhou para mim e depois de dois segundos, arregalou os olhos e empurrou a garota. "O que foi?!", perguntou ela, agressivamente perplexa. Ele veio correndo em minha direção, gritando pelo meu nome. Ele parou na minha frente, ofegante, se apoiando nos próprios joelhos flexionados. Se levantou e percebi um brilho vermelho em seus olhos. Vermelho. "Gostou do espetáculo?", ele deu um sorriso maldoso, "Tommy". Tommy... Eleanor... "O que você quer?!", gritei, com as lágrimas pingando do meu queixo. A luz pulsante começou. "Não vê aquilo, Thomas?", aponta para Peter e a garota se beijando agressivamente. "Todos somos traídos... E traidores merecem morrer!", ao gritar a terra tremeu. 


Sexta mudança entre a tremedeira.


Fomos para Oblivion. A luz vermelha predominou no lugar. Vi o meu corpo jogado no chão, com meu pescoço em uma posição estranha. Tento me afastar dele devagar, andando para trás. Eleanor aparece e desaparece em um instante. "Tommy, não pode se esconder de mim", a voz vem de todos os lados, em volumes e tons diferentes. Olho em volta, desesperado. "Atrás de você". "Não tem como se esconder". "Você vai morrer". Caio de joelhos na água e grito. As vozes param. Ela aparece e me segura por trás e então põe as mãos no meu pescoço. "De novo nesta posição, não é?", ela dá uma risada, "Você não pode me superar, Tommy, sempre morrerá pelas minhas mãos". Eu acreditei. Eu acredito nisso. "Preparado?", ela sussurra em meu ouvido. Meu coração acelera e minha respiração fica pesada. 


"NÃO! AHHHHHHH!", grita, uma voz familiar. 


Escuto alguém correndo em nossa direção, fazendo splashs na água. Peter. Ele levantou o braço, armado com seu punho e socou Eleanor Vermelha no rosto. Ela voou e caiu na água de lado. "Ninguém toca no meu namorado!", ele balançou a mão que desferiu o soco, com a mandíbula rígida. Namorado. Não pude conter o sorriso e olhei para Peter. Ele estava com marcas pretas nos braços e seus olhos estavam brilhando, uma cor branca. Filho de Oblivion? Como?. A luz pulsante estava ficando cada vez mais fraca até se apagar. "Como fez isso?", me levantei, "Como conseguiu derrotá-la com um soco?!", indaguei. Ele me abraçou e acariciou minha cabeça. Eu me acalmei nos braços dele. "Obrigado", boquejei. Como conseguiu fazer aquilo?. "Eu... só não consegui suportar o que ela fez com você antes e o que ela iria fazer", a voz estava calma. Uma luz vermelha pulsante surgiu atrás de nós. "Fique atrás de mim, Thomas", falou, me empurrando para trás dele. Ficou em guarda.


Uma outra mulher apareceu. Emmanuelle.


"Emma...", ele abaixou os braços. A luz vermelha pulsava do pescoço dela. Ela empunhava a faca que usou para se e me matar, com um sorriso frio "Peter, não...", ele estava com os olhos cheios de lágrimas, "Ela é apenas UMA parte da verdadeira Emmanuelle", puxei ele para trás. Ele hesitou, mas deu uns passos curtos de costas. Ele gritou, se virou e me empurrou. Caí sentado no chão. "Ela é minha irm...", Emmanuelle pega no pescoço de Peter, "O que está fazendo, Em?", ele arregala os olhos, "Thomas". Ela pega a faca e corta a garganta de Peter. Ele arregala os olhos ainda mais. "Não!", grito enquanto o sangue jorra em mim. Ele cambaleia para frente com a mão no pescoço e cai deitado no chão, de costas para baixo. Se engasga com a água. Eu deslizo em sua direção e apoio a cabeça dele em minha coxa. "Peter, você vai ficar bem, é só um sonho!", mas ele olhava para mim como se a dor fosse insuportável e eu sei que era. O sangue jorrava de sua garganta e soltava jatos escarlate pelo ar, jatos que continuavam subindo. Ele apertou meu braço e tentou falar, mas sua garganta contraiu e o sangue jorrou mais. Emmanuelle estava sorrindo. "Ma... Ma... M... Mat... Mate", eu arregalei os olhos e chorei. Algumas das minhas lágrimas caíram em seu rosto. Eu neguei, mas ele retrucou com uma afirmação de cabeça. Emmanuelle jogou a faca no corpo de Peter. Ele a pegou e entregou para mim, apertando-a em minha mão. "Não consigo fazer isso", chorei mais e solucei. Ele segurou na lâmina e apontou para o próprio coração. Havia uma lágrima cristalina percorrendo pelo seu rosto. Ela caiu na água e o lugar clareou completamente, se tornou branco, por um segundo. Ele deu um sorriso curto. "Fa... (tosse) Faça!".


Segurei o cabo da faca com as duas mãos e a levantei no alto. Pensei, por um segundo, em matá-lo, mas não consigo. Nunca conseguirei. Ver aqueles olhos cor de mel perder a vida, o brilho, é doloroso. É como ver um anjo ter as asas cortadas por tesouras enferrujadas. É injusto e desrespeitoso. Prefiro morrer do que matar Peter. "Sem coup de gracê, Peter", falei abaixando a faca.


Levei a faca ao meu pescoço. "Nã... Não", ele se desesperou, com o sangue manchando toda a camiseta, deixando-a cor de vinho e rosa, em algumas partes. Girei meu pescoço. Senti a pele se abrir e a ardência enquanto o sangue escorria. Cai com a cabeça no peito de Peter e olhei para ele enquanto dava seus últimos suspiros, o sangue caindo em meu rosto. Deixei o sangue cair livre, minha vida passar despercebida nos braços do meu namorado


Prometo. 


Três mortes.

 
* * *


Abri meus olhos.

 
A luz do sol atravessou as janelas e iluminou o quarto com seu amarelo único. Me viro e vejo Peter do meu lado, nu e ofegante. Eu também estava nu e ofegante. "Thomas", murmurou e me abraçou. Beijou meu pescoço e empurrou para a cama, ficando em cima de mim. A persona original era a minha favorita. "Por que fez aquilo? Por que se matou?", colocou algumas mechas do meu cabelo para o lado, "Você é teimoso!", falou sério, mas sorriu em seguida. Namorado. Anjo. "Você me chamou de namorado", ele botou a mão no meu rosto, "É isso que realmente somos? Namorados?", coloquei minha mão nos bíceps dele e fechei os olhos. "Se você quiser que seja assim... Quer dizer, você quer que sejamos namorados?", abri os olhos. "Não é muito cedo?", indaguei e ele deu uma risada, "Talvez não seja o certo a se fazer". "Thomas, quando tentou ficar longe de mim, nós acabamos transando no banheiro... Não sei o que pode acontecer se ficarmos separados de novo", brincou, ambos sorrimos. "Então, estamos namorando?". "Não sei". "Como assim?". "Eu não sei!". "Como pode não saber?", me levanto da cama. "Ah Thomas, mal começamos a namorar e já estamos discutindo". "Então estamos namorando, não é?". "Talvez". "Talvez?! Você acabou de dizer começamos a namorar!". Ele dá uma gargalhada, inclinando a cabeça para trás. "Eu adoro você, Thomas", sorriu. Eu abro a bolsa com roupas minhas e espalho-as pelo chão. "Odeio quando faz isso", jogo uma camiseta nele. 


Me visto com uma blusa de manga curta de tecido fino, uma calça preta e uma bota marrom. Coloquei o outro par de botas e as outras roupas dentro da bolsa. Peter olhou para mim. "Coloque as suas roupas no armário", ele saiu da cama, foi para frente do armário e abriu as portas de madeira, "Ainda tem espaço para roupas", apontou para as estantes vazias com a cabeça. As roupas de Peter eram todas dobradas de um jeito diferente, um jeito desleixado. "Você sabe dobrar roupas?", relei nele com o ombro. Ele deu um sorriso sem graça e negou, mas não colocou a mão na nuca. "Deixe pra lá, eu ajeito seu armário", comecei tirando as blusas nos compartimentos altos e depois as calças. Joguei tudo na cama e dobrei. As roupas cheiravam a sabão, terra e um pouco de Peter. Peter sorriu ao me ver cheirando suas roupas. Dobrei-as do jeito que Henry me ensinou: dobrar mas mangas para dentro (se tiver mangas) e segurar. Então, dobrar no meio na horizontal e voilà, está dobrada. Repeti esse processo várias vezes, até Peter se cansar de olhar para as minhas nádegas, sair do quarto e depois voltar porque estava nu e não queria que James o visse nu. "Você poderia ter pego as suas roupas antes de eu arrumar tudo, Peter", ele deu de ombros e pegou uma camiseta sem mangas e uma calça de pano. Saiu do quarto, descalço e com mechas minúsculas arrepiadas. Tirei a roupas que eu estava vestido, dobrei e coloquei no armário. Como as roupas dele ficariam em mim?. Vesti uma camiseta de Peter, daquelas com um vão que deve ser amarrado pelo colarinho com uma cordinha, essa tinha um babado simples. Era azul marinha, um tanto transparente e batia nas minhas coxas. Também vesti o calção, uma roupa íntima dele, que ficou extremamente larga. Havia botões nas laterais, na altura dos joelhos. Abotoei e ficou um pouco mais apertado, mas ainda continuou largo. Então peguei o cinto e passei pelas quatro presilhas do calção e apertei o suficiente para não cair. Tive que fazer um novo buraco no cinto, perto da extremidade. Saí do quarto e fui para a cozinha. Peguei uma maça e mordi, o gosto meio-azedo e meio-doce na gengiva inferior. A porta dos fundos estava aberta, com vários caminhos longos de terra, um do lado do outro, com alguns centímetros de distância e com folhinhas nascendo em cada um.


"James", falei baixinho. O livro que ele trouxe estava jogado no chão, então ele não estava longe. "Venha aqui, James, por favor", dei outra mordida na maçã. Ele apareceu, cabisbaixo e aparentemente entediado. Me olhou torto por um instante. "É sério, James", deixei a maça no balcão e limpei a boca com as costas da mão, "É sobre Peter", murmurei. James levantou as sobrancelhas. "Eu escutei, vocês são namorados, e daí?". Eu tossi, surpreso e pigarreei. Cocei a nuca e olhei para James. "Não é isso", ele levantou, ligeiramente, o queixo para mim, como se estivesse perguntando o que é, então?, "Ele é um Filho de Oblivion, não sei como, mas ele é...", James franziu as sobrancelhas, em suspeita, mas se aproximou de mim para ouvir mais. "Ele estava no meu sonho e me salvou da Vermelha, com um soco!", levantei o dedo indicador. Um. James fez um movimento com boca. "Legal", mas não saiu nenhum som. "E quando olhei para ele, estava com as mesmas marcas que nós temos no braço", levantei as mangas compridas, "E com os olhos brancos, brilhando", gesticulei com as mãos, os punhos cerrados nas têmporas e abri a mão, os dedos esticados simbolizando a luz dos olhos. James rodou o cômodo com os dedos no queixo. "Sim, entendi, mas o que você quer que eu faça com isso?", cruzou os braços, "O que vamos fazer?", dei de ombros, olhando para a porta dos fundos, "E como ele não tem marcas nos braços aqui? Como ele não consegue me ver?", balancei a cabeça para as perguntas. Eu não sei, mas sei que ele é o é. Ou pode ser. O sangue de Oblivion é venenoso. Poderia ser outra coisa. Sempre falaram do contato com os filhos de Oblivion, mas nunca falaram de relações sexuais com eles. A maldição pode ser transmitida sexualmente?. "Thomas, você está bem?", James se aproximou de mim, tocando meu braço. Eu balanço a cabeça. Peter poderá morrer e se ele é um filho de Oblivion, ele já deveria estar morto. 17 anos. 


Escuto passos se aproximando do lado de fora. Peter entra e arrasta as solas das botas largas que estava vestindo. "Thomas, eu...", ele levanta a cabeça e arregala os olhos, "Quem é você?!", ele se aproxima de James. Ele consegue te ver agora. James olha para mim, preocupado. "James Ellwood, fantasma", fala para Peter, que se abaixa na frente de James e sorri. "Eu consigo te ver agora! Isso é demais...", tocou no ombro de James, esperando atravessá-lo, talvez; "Nada bom...", murmuro. Peter se vira para mim, "O quê falou?", forço um sorriso e balanço a cabeça. "Não falei nada". "Hum...", ele franze o nariz, "Enfim, eu só vim te chamar para me ajudar na colheita, tenho que espalhar sementes pela terra". Eu assenti e sorri. Primeira lição da vida: Nunca recuse um novo ensinamento.


Saímos pela porta dos fundos. O sol já brilhava no alto, o olho amarelo no céu azul com nuvens douradas. Ele me conduziu por uma trilha de terra até uma casinha de madeira, mas não era a das galinhas. Estava com várias ferramentas de jardinagem e uma máquina. Aquela maquina, a que eu vi no sonho. "É uma semeadeira", Peter falou, empurrando-a para fora da casa. Ele a posicionou para mim. "Tudo o que tem que fazer é empurrar e puxar essa alavanca", apontou, "Aí as sementas cairão na areia... Não é tão difícil", deu um sorriso. "Empurre e puxe", me viro para ele, franzindo as sobrancelhas, pensando que ele estava brincando, "O que foi?!... Ah, Thomas, eu não estava falando disso", sorriu e eu comecei a empurrar a máquina. Eu empurrei, esperei três segundos e puxei a alavanca. Fiz em um padrão. Enquanto fazia, a imagem de Peter e aquela garota penetrou minha mente. O jeito que ele tocou e a beijou. Era apenas uma ilusão de Eleanor, Thomas... Mas não posso conter o ciúme. Peter estava cobrindo as sementes com a terra a cada vez que eu puxava a alavanca. "Peter...", ele estava ajoelhado, com luvas, batendo na terra suavemente. Levantou a cabeça para mim. "Fale", se levantou, batendo as palmas umas nas outras para limpar a terra. Respirei fundo. "Eu só queria saber quem era aquela garota, a garota do sonho", ele pareceu confuso. "Garota do sonho", repetiu, pensativo, "Emmanuelle?", cruzou os braços. Eu balancei a cabeça. "Uma garota loira, bonita e que estava te beijando", ele arregalou e levantou as sobrancelhas, ainda confuso. "O que?! Eu nunca beijei nenhuma garota, Thomas", soltou uma risadinha seca, "Você foi a primeira pessoa que eu beijei... Mas não me importo com você sendo ciumento, você fica lindo quando está sério", ele se aproximou e beijou minha testa. "Por que estamos agindo desse jeito tão repentinamente?", perguntei. Ele deu de ombros. "Continue, vamos, vamos!", bateu palmas, "Você é minha propriedade, Thomas", piscou. Eu dei um sorriso e continuei a empurrar a máquina. Não grite comigo, Peter, só porque sou sua propriedade. 


* * *


Quando o crepúsculo coloriu o céu, entramos para descansar um pouco. Eu havia espalhado as sementes pelos caminhos limpos de terra. Trabalho feito. Estávamos ofegantes e suados, com nossas camisetas grudadas nas costas. Estava quente e abafado. Bebi dois copos de água, Peter bebeu quatro e James, bom, James estava lá. Ao me olhar no espelho, percebi que minha pele estava mais escura, um pouco bronzeada e meus ombros tinham manchas vermelhas, que começaram a arder. "Eu vou tomar um banho, Peter", falei, me abanando. "Tudo bem, as toalhas estão em cima da cadeira, no banheiro", se sentou numa cadeira, com a boca molhada, o peito subindo e descendo rapidamente. Segui pelo corredor, abri a porta do banheiro, entrei e tranquei, com a chave que estava na fechadura do lado de dentro. Me despi e joguei as roupas no chão. A bacia estava vazia, jogamos a água com substâncias brancas fora. Sêmen, gozo, porra e outras definições que Peter me falou, mas que sei que não adicionarei ao meu vocabulário. Leite é um pouco controverso. Me esqueço de trazer a panela com água e fico olhando para bacia. Há várias pocinhas de água no fundo da bacia. Eu tenho poderes, talvez eu possa... Eu toco em uma poça de água, fecho os olhos e imagino ela se multiplicando, se tornando um monte de água. Barulho de água. Sinto a água subindo, molhando o meu braço, até perto do ombro. Abro os olhos. A bacia está cheia, com água cristalina e gelada. Percebo que sempre farei a mesma coisa quando entrar na bacia: me deitar de costas e afundar. Faço isso e fico alguns segundos submerso, deixando a água refrescar meu corpo.


"Tudo começa com o Mar, Thomas... Vá para o Mar", escuto uma voz de um garoto, um irmão. Abro os olhos embaixo d'água e vejo que há um garoto na borda da bacia, borrado, mas não é James. Me levanto e uso as mãos para colocar meu cabelo para trás. "Quem é você?", tampo meu pênis e me afasto, encostando na borda oposta a ele. Ele olha para mim, inseguro. "Sou Darwin... Darwin Griffiths, o terceiro filho Filho de Oblivion daqui, de Cornwall", ele estava nervoso, "Eu morri perto das ilhas de Scilly... (suspiro) Eleanor pediu para eu procurar por você, disse que você precisa de ajuda para acabar com os suicídios". Fiquei feliz por ele não ter falado sacrifícios. "Então me diga o que ela sabe!", me aproximei dele. Darwin tinha uma pele morena, mas pálida, olhos castanhos escuros, boca rosada e cabelos castanhos ondulados na altura da mandíbula. Ele se afastou um pouco, inclinando o tronco para trás. "Esse é o problema, ela não se lembra mais", ele colocou as mãos nos meus ombros, "Você se lembra se ela lhe falou alguma coisa sobre como acabar com isso?", eu neguei. "Ela não me falou nada", minha resposta o deixou frustrado. "Então tente descobrir, durma e sonhe com o que aconteceu! Se o portal de Oblivion for aberto no seu aniversário, ela matará todos aqui...", ele me soltou e colocou as mãos na cabeça. Me apoio na borda da bacia. Ele tinha costas largas e músculos, braços seguros.


 
"Como sabe dos meus poderes?", apoiei meu queixo no antebraço e o antebraço na borda da bacia. Ele levantou a cabeça e deu uma risada curta. "Você tem poderes que nenhum outro Filho teve, é o segundo a ter poderes únicos assim...". Olhei para ele, que estava de lado. O nariz angular, as sobrancelhas grossas e arqueadas. "Quem foi o primeiro?", estendi meu braço e abri a palma da mão. Uma toalha levitou até pousar nela. "Eu fui o primeiro", ele deu um sorriso orgulhoso. Eu tentei pensar sobre o assunto, mas não tenho por onde começar porque não sabia de nada, então achei melhor perguntar. "Por que isso acontece?", ele se aproximou. "Bom, aconteceu comigo quando eu nasci e já havia um Filho de Oblivion, aí eu me tornei um", eu pisquei, "Mas quando eu fiz oito anos, uma menina nasceu, Gemma, e ela se tornou a próxima na linha e meus poderes foram anulados", se sentou com as pernas cruzadas. Anulados. Olhei para os braço dele, procurando por veias escuras, mas não havia nenhuma. Olhei para o meu braço, também não haviam veias escuras. Eu dei um pulo de susto. Ele olhou para mim e para o meu braço. "Também me assustei quando as minhas veias perderam a coloração escura. Isso acontece quando ficamos muito tempo à luz do sol. Oblivion é um lugar escuro, quando nos banhamos na luz, o fluido desaparece permanentemente", ele deu um sorriso. "Faz sentido, para variar", falei, passando os dedos no meu braço sem marcas pretas. Eu balancei a cabeça e olhei para Darwin, que olhava em volta do cômodo. "Espere, se seus poderes foram anulados, como você está aqui agora?", ele deu um meio sorriso e se virou. "Boa pergunta...", falou como Henry, quando eu fazia uma pergunta em latim, "Eu os recuperei com um estímulo artificial". Artificial?. Cerrei os olhos em dúvida. "Quando você fez 14 anos?", ele negou rapidamente à minha indagação. "Não, repetindo... Gemma nasceu quando eu tinha oito anos e aí eu perdi os poderes, os recuperei com 22 anos, quando ela tinha 14 anos", ele mordeu o lábio, "Esse estímulo deve ser feito pelo Filho de Oblivion atual, que no meu caso, foi Gemma", e no meu caso, foi Peter, "É um estímulo emocional e físico, que se for forte o bastante pode recuperar os poderes". Me levantei e me enrolei na toalha.


Relembrei o que eu passei com Peter, os beijos e o sexo, os momentos em que fui feliz genuinamente. "O que foi, Thomas?", ele se levantou e veio para perto de mim. Eu estava quase chorando, com as bochechas e os ombros ardendo. "O que estimula o outro Filho?", perguntei com a mão na boca, por conseguinte, minha voz saiu abafada. Darwin se levantou, com uma expressão ue mostrava hesitação. Ele era mais alto do que eu, mais não era mas alto do que Peter. "Qualquer coisa que una os dois emocionalmente, pode ser qualquer coisa", ele meio que deu de ombros. "O que você fez?", as lágrimas caíram do meu rosto. "Eu dei uma boneca para ela, ela adorou...", ele sorriu involuntariamente, "E quando eu recuperei meus poderes, não queira deixá-la morrer, então fui no lugar dela", ele trincou os lábios. Darwin passou as costas da mão em meu rosto, limpando minhas lágrimas. "O que aconteceu depois? Quando se sacrificou?", ele tremeu, com a mandíbula rígida. Ele virou o rosto. Repeti a pergunta. Ele deu um suspiro fraco, mesmo sendo um fantasma. "Eu a matei, Thomas", a voz forçada, os olhos lacrimejando. Senti um choque de surpresa. "O quê?! Por quê?!", me aproximei dele. Ele balançou a cabeça repetidas vezes, chorando. "As almas ficam conectadas no momento em que o estímulo acontece", ele respirou fundo, "Quando eu fui me matar (suspiro), eu a matei tamb...", a voz falhou e ele caiu ajoelhado no chão em prantos. Me abaixei do lado dele e afaguei suas costas. "A alma e os poderes são divididos entre os dois, se ele morrer, você morre... Se ele estiver em perigo, você saberá... Estão conectados até a morte", murmurou. Senti uma pontada no peito que fez minhas costelas estalarem e meu coração acelerar. Peter e eu, nós estamos conectados.


Emmanuelle, nascida em abril de 1757... seguida de Peter Mitchell, nascido em 21 de março de 1769... sem estímulo.


Peter Mitchell, nascido em 21 de março de 1769... seguido de Thomas Rosegardin, nascido em 16 de dezembro de 1772... com estímulo.


Dois Filhos de Oblivion.


"Thomas, tem outro filho de Oblivion, não é?", ele levantou a cabeça, com o rosto vermelho. Eu afirmei. "Peter Mitchell é o outro", continuei chorando, "O estímulo aconteceu ontem à noite". Ele se virou para mim, com o rosto próximo do meu. "O que aconteceu?", Darwin se levantou e estendeu a mão para mim. Eu a segurei e ele me puxou para cima. "Nós fizemos sexo", falei e abaixei a cabeça. Darwin pareceu surpreso, mas não falou nada. "Se eu soubesse, não teria feito...". "Por que?". "Porque isso significa que se Eleanor pode matar dois coelhos com cajadada só", falei, me aproximando da porta. Eu destranquei e segui pelo corredor até o quarto de Peter. Me sentei na cama e Darwin se sentou do meu lado. Eu começo a gargalhar, de repente. Darwin franze o nariz e abre a boca. "Está rindo de que?", eu paro de rir, tampando a boca com a palma da mão. Peter. Peter está feliz, está gargalhando, posso sentir. "Peter", é tudo que falo. Darwin entende e abre a boca.


"Não é uma desvantagem total, Thomas", me viro para ele, "Agora você tem outro Filho de Oblivion ligado aos seus poderes, o que significa que ele é forte... Mais outras centenas de Filhos de Oblivion para te ajudar", apenas o olho diretamente nos olhos e ele não se vira. Ele é confiante, gostei disso... Pouca insegurança. "Ainda temos chance de ganhar do lado obscuro de Eleanor, podemos acabar com as mortes!", gritou. A voz grave e quase adulta.


"Me ensine a usar meus poderes, Darwin... Me ensine a ser forte", falo, confiante, "Me ajude a impedir Eleanor".


"É para isso que eu apareci para você, eu vim ensiná-los a serem fortes", ele se levanta, "Precisamos de toda a ajuda. Se você e Peter tem mais chances de serem mortes, sugiro que sejam mortos enquanto lutam para acabar com essa maldição".


Prefiro morrer do que matar Peter.


Se eu morrer, Peter morre.


"Está pronto, Thomas?", Darwin pergunta, com as mãos nos bolsos. 


Segunda lição de vida: Sempre esteja disposto a ser mais forte. 


"Não precisa responder, Thomas", diz Peter, com uma expressão séria, apoiado no batente da porta, com James atrás dele, "Estamos prontos, aliás, sou um Filho de Oblivion, não é? Estou pronto pra morrer", ele olhou para mim, franzindo as sobrancelhas e trincando os dentes.  Os olhos, com um brilho branco. 
 


Notas Finais


Espero que tenham gostado!

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Críticas são sempre bem vindas!!

Próximos capítulos em breve!

Eu editarei qualquer erro!

UM FELIZ 2017 PARA TODOS VOCÊS, MEUS LINDOS E LINDAS!

* * *

A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

* * *

Abraços ^^

~Flexszible


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