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História Almas Trigêmeas - O garoto que podia voar (1 parte)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


E aí, pessoal! Beleza? Este capítulo contém spoilers do episódio 6, As crianças são o futuro.
Abaixo alguns esclarecimentos. Boa leitura!

Capítulo 10 - O garoto que podia voar (1 parte)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - O garoto que podia voar (1 parte)

Anteriormente:

– Escolheu um demônio ao invés de seu irmão. E olha no que deu – disse Dean sem ocultar sua decepção.

– Fui eu. Iniciei o Apocalipse e libertei Lúcifer – admitiu Sam pesaroso – Sinto muito. Eu faria qualquer coisa para reverter tudo isso.

– Sei que faria.

(...)

– Pra mim parece coisa de fim do mundo – fez piada, mas como Bobby permanecesse calado, Victoria o olhou espantada – Está brincando, não é? É o Apocalipse?

– Por que se espanta? Lembra dos selos da Lilith?

– Mas eu achei que tudo estava sobre o controle... Você não me falou mais nada depois. Que o seus queridos Winchesters tinham resolvido tudo – Bobby permaneceu calado. Victoria o fitou intrigada – O quão grave é a situação? Você disse que... Lúcifer poderia até vir – ela arregalou os olhos diante do silêncio de Bobby – Ele... está à solta?

– Calma, você vai saber de tudo quando Dean e Sam chegarem.

(...)

Gemeu alto e forte quando Victoria o agarrou nas partes baixas com a mão do braço que estava livre. Ele soltou o outro braço dela e curvou-se para frente com a dor; Collins aproveitou para lhe dar um golpe nas costas com as duas mãos juntas e derrubou-o no chão.

– Da próxima vez, aceite quando uma mulher lhe disser um não – disse o olhando caído

Todos da lanchonete ficaram boquiabertos, até mesmo os Winchesters. Os outros motoqueiros foram ajudar seu colega, mas não tentaram fazer nada contra a moça e deram-lhe passagem para chegar aos dois irmãos.

– Vamos, rapazes.  Não temos tempo a perder.

– Ela é tímida, meio recatada e doce? – sussurrou Dean caminhando ao lado do irmão. – Sério?

(...)

– Ei, Collins! – gritou Dean enquanto a caçadora guardava a bagagem

– Sim?

– E aí? O que achou da atuação da gente nesse caso? Comprovou a grande lenda que somos nós, os Winchesters?

Vic se voltou para ele com um sorriso irônico. Sam já imaginava uma resposta que não lhe agradaria escutar.

– Sinceramente... essa lenda deixou a desejar.

Capítulo 9

O garoto que podia voar (1ª parte)

– Muito bem, Dean Winchester, qual é o seu problema? – questionou para si mesmo.

Há, pelo menos, quinze minutos se mirava no espelho e tentava achar algum defeito em si, algo que mudou bruscamente em sua aparência e que o tornou repelente e asqueroso de uma hora para outra.

Não encontrou nada.

Como sempre, estava com o cabelo bem cortado num tom loiro natural, que as mulheres com quem se relacionava adoravam alisar; os dentes perfeitos, brancos e bem enfileirados que lhe garantiam um sorriso de derreter corações; os olhos verdes que conseguiam fazer o seu efeito fatal e hipnótico de atrair suas escolhidas. Seria o cheiro? Não, seu cheiro natural era marcante, algo selvagem. As mulheres adoravam cheirá-lo. Principalmente, quando usava um perfume que, embora não fosse importado, não era uma fragrância barata e ruim. E o corpo? Capaz de matar de inveja qualquer galã de cinema com os músculos bem definidos, a barriga bem sarada, uma bunda que todas adoravam pegar e... "o campeão" dotado lá embaixo. Era com aquele corpo que conseguia levar suas parceiras à loucura.

Em suma: ele era a perfeição em todos os sentidos.

Então por que cargas d'água, Victoria Collins parecia imune a todos esses adjetivos e fazia de tudo para ser desagradável?

Ela não podia ser "seu Anjo"; parecia mais um demônio em forma de mulher do que aquele ser angelical dos seus sonhos.

Seu irmão estava enganado ao afirmar que era pura autoproteção a atitude dela. Tudo bem que ela se desconcertou na primeira vez que se viram; talvez fosse o impacto diante da beleza que ele possuía. Só que nem mesmo sua beleza ou suas "frases de efeito" estavam conseguindo dominar a Indomável. Aquela mulher o estava desnorteando de tal maneira que não sabia como agir com ela.

Odiava-se por toda vez jogar o seu charme para cima dela, sabendo de antemão que teria uma resposta nada delicada ou um olhar de desdém. E olhe que nunca foi do tipo masoquista ou que se rasteja por causa de qualquer mulher. Sabia bem receber um "não" como resposta (o que era raro); no caso de Collins, ele não aprendia.

É verdade que teve a impressão de que a caçadora se sentia atraída por ele e até parecia ter ciúmes toda vez que ele olhava de uma forma despudorada para outras mulheres; ao mesmo tempo, cada vez mais ela se mostrava indiferente e distante com relação a ele. Isso também o confundia.

Que ódio! Já não suportava mais as cortadas, a indiferença e as críticas ao seu trabalho que recebia da caçadora.

Depois do caso do cavaleiro sem cabeça, eles haviam pegado mais três casos: dois com outros espíritos errantes (pensaram ter algum sinal com o Apocalipse, mas não passou de alarme falso, embora não deixassem de resolver) e um com um bando de vampiros. Fazia um mês que trabalhavam juntos e, o tratamento de Collins para com os Winchesters não melhorou em nada; pelo contrário: eram mais cortadas e críticas por parte dela.

E o pior era que nem ele e muito menos Sam protestavam. A mulher agia como se fosse a chefe deles naquelas operações e aceitavam sem retrucar. Mas por dentro, ele fervia de raiva.

Tudo porque queria evitar discussões. Porque jurou para si mesmo que resistiria aos encantos daquela mulher por causa das consequências na viagem temporal do futuro.

Queria fazer o contrário do que seu Eu futuro fez, conforme o relato do Castiel boêmio. Se o Dean futuro vivia brigando feito cão e gato com Victoria, ele ficaria quieto; se o outro seduziu e levou Collins para a cama, ele resistiria aos próprios instintos e ao seu desejo; e se o Dean futuro se rendeu a algum sentimento por Vic, ele lutaria contra.

Contudo, todas essas resoluções estavam cada dia mais difíceis de manter. Para começar, nunca foi do tipo que escutava desaforos calado e nem era de receber ordens; ele quem dava as cartadas e sempre ganhava numa discussão ou briga. Bem, quase sempre; “às vezes”, Sam levava vantagem. Somente às vezes.

Quanto a resistir aos dotes físicos de Collins... que suplício! Aquela mulher mexia com seus sentidos com um simples olhar, mesmo que não tivesse intenção alguma. E o pior era que quase toda a noite, tinha sonhos eróticos com ela. E não adiantava tanto aliviar aquele desejo com outras mulheres; era mais um paliativo.

Quanto a evitar ter qualquer sentimento pela garota, tampouco estava sob controle. Ele negava para si mesmo, dizia que era pura idealização romântica por causa dos sonhos que teve com ela desde criança, entretanto, não parava de pensar em Vic, em imaginar como seria uma vida tranquila ao seu lado, longe de toda aquela confusão.

É, talvez num ponto fosse bom ela manter essa postura inatingível com ele. Mas algo lhe dizia que era questão de tempo até explodir. Das duas uma: ou falaria umas boas verdades para aquela maluca... ou a encostaria na parede, arrancaria suas roupas e a faria gemer até que implorasse para que a tomasse nos braços.

O seu problema é Victoria Collins, concluiu.

– Anda logo, Dean! – gritou Sam – Daqui a pouco a Victoria está na porta.

Sam era outro que pensava em Vic.  Estava sentado na cama do quarto de um motel enquanto aguardava pelo irmão.

Ele também penava com a atitude autoritária e agressiva da caçadora, embora numa escala menor do que a do irmão justamente porque não tentava seduzi-la como Dean ou evitava falar asneiras como este.

Ainda assim, quando recebia uma reprimenda de Vic, era suficiente para deixá-lo aborrecido e até irritado. Tentava relevar, dizia para si mesmo que ela só estava numa atitude de defesa, porém, era difícil suportar tais insultos.

Estaria no meio de um campo de batalha se Dean explodisse com Victoria, o que estava a ponto de acontecer. Estranhava apenas que o irmão ainda não havia soltado os cachorros. Por mais que sua colega de equipe fosse mulher, Dean não costumava ouvir desaforos de ninguém sem retrucar.

Por outro lado, ele preferia tal situação ao lado de Victoria do que não ter nada; do que ter passado o resto da vida sem saber que sua Fada era real. Não era masoquismo, mas se sentia feliz com ela, até mesmo em paz, apesar de a caçadora instaurar um clima constante de Guerra Fria contra ele e o irmão.

E sabia que por mais que a caçadora disfarçasse sentia-se atraída por ele.

A porta do quarto foi batida e ele atendeu: era Victoria. Sam sorriu ao vê-la e ia cumprimentá-la, mas foi cortado:

– Estou pronta. – disse com expressão de tédio – E vocês?

– Eu também já estou pronto. Só falta o Dean.

Ela deu um riso de escárnio.

– Como sempre.

Nesse momento, o Winchester saía do banheiro. Viu Collins e tentou esboçar um sorriso charmoso.

– Você é pior do que mulher pra se arrumar – disse. O sorriso do homem murchou ao ouvir aquilo – Nós não estamos indo para uma festa, Winchester. Estamos indo para o necrotério da cidade. Ou acha que alguma mulher cadáver vai ressuscitar por sua causa?

Dean olhou para Sam que fez uma expressão de quem diz "Muita calma nessa hora". Victoria com certeza havia despertado com o pé esquerdo. Bom, ela parecia sempre despertar assim todos os dias, só que naquela manhã era mais evidente.

– Bom dia pra você também, Collins – forçou um sorriso, mas louco para dizer "algumas delicadezas".

A caçadora nada respondeu. Deu as costas aos seus companheiros e apenas disse:

– Vamos que já estamos atrasados.

Os dois se entreolharam, soltaram um suspiro e seguiram-na até seus carros.

– 0 –

Estavam na cidade de Alliance, em Nebraska, por causa de uma notícia de jornal. Uma jovem babá foi encontrada morta na casa dos patrões com parte da cabeça destroçada por arranhões, descritos como feitos por um animal de grande força.

O que chamou a atenção dos caçadores era pela casa estar trancada e sem sinais de invasão ou arrombamento por algum animal. Cogitavam a possibilidade de ser algum lobisomem.

Estavam hospedados num motel barato. Dessa vez, os Winchesters num quarto e Collins em outro, embora contíguos. Dean insistiu por um lugar de melhor categoria agora que eram financiados por um bilionário, mas Sam achou melhor que, dessa vez, ficassem num lugar mais modesto para não chamar a atenção por se tratar de uma cidade pequena. Quanto a Collins, eximia-se de qualquer opinião; para ela tanto fazia.

Depois que deixaram North Tarrytown para resolver outros casos, ligaram para Bobby a fim de agradecerem por ter pagado a estadia deles no hotel da Vila.

– Na verdade, não fui eu – respondeu para Sam no celular – Apenas fui o intermediário.

– Então...quem foi? – perguntou Sam

– O nome... não sei. Apenas sei que é um ex-caçador bilionário que financia outros caçadores que não têm muitas condições de se sustentarem e utilizam cartões de crédito roubados. É uma forma de evitar que acabem sendo descobertos pelo FBI como foi o caso de vocês um tempo atrás.

– E porque só agora ele resolveu nos financiar? Por que não antes?

– É que esse programa é secreto, só funciona para quem tiver no mínimo cinco anos na praça, ser casado e ter indicação de outro caçador mais experiente. No caso de vocês, pedi para que se abrisse uma exceção, tive que explicar sobre a questão do fim do mundo e o quanto vocês estão implicados nisso. Não se preocupem... o homem é discreto, não vai divulgar essa informação.

– Mas, Bobby... Você não disse que não sabe quem é esse bilionário?

– Er... Eu não sei quem ele é, mas sei da pessoa que mantém contato com ele. É isso. Chega de perguntas! O que vocês precisam saber é que vão ter uma conta para cada um com uma quantia fixa todo mês. Foi aberta no nome de vocês, mas com o meu sobrenome porque... como se lembram, para todos os efeitos Sam e Dean Winchester estão mortos, mas não Sam Singer e Dean Singer. E como a Victoria não teve problemas com os federais, coloquei no nome dela mesmo. Mesmo que forem usar identidades falsas, usem cheques nesses nomes ou dinheiro. Nada mais de cartões.

Apesar da explicação de Bobby, os Winchesters estavam intrigados com aquele benefício inesperado. E quase caíram para trás ao verem o valor da quantia: dava para sustentar uma família de seis membros durante três meses. Somente Victoria não parecia muito impressionada com aquele valor depositado em sua conta.

– 0 –

Os três estavam vestidos como federais: os Winchesters em ternos pretos e engravatados e Collins no mesmo estilo só que com uma saia e sem a gravata; levava os cabelos presos num coque atrás da cabeça. Apresentaram-se no necrotério do hospital da cidade e foram recebidos pelo médico responsável, um senhor baixo e de cabelos grisalhos.

– Agentes Page, Plant e Plus do FBI – anunciou Dean enquanto os três mostravam as identificações.

– O que traz os senhores por aqui? – perguntou o médico

– Precisamos ver o corpo de Amber Greer – respondeu Sam.

– Sério?– o homem parecia intrigado – Por quê?

– A polícia disse que algo arranhou seu crânio adentro – tornou Dean

– Não leram o laudo da autópsia que mandei por e-mail pela manhã?

Os caçadores se entreolharam.

– Tivemos problemas no servidor – mentiu Sam

– Acredite, doutor, é algo que acontece com frequência no nosso sistema – ressaltou Collins. Esboçou um sorriso simpático e um olhar sedutor – Pode nos levar até o corpo?

O médico ficou encantado com a moça e também sorriu.

– Claro...Me sigam.

Levou-os até um dos compartimentos do local. Dean e Vic ficaram de um lado e Sam de outro. O médico puxou a gaveta para fora e descobriu o lençol por cima de um corpo feminino. Era uma moça clara e de cabelos lisos e pretos, com o lado esquerdo da nuca destruído por marcas de arranhões.

Os caçadores sentiram repugnância ao verem o estado deplorável da jovem, embora disfarçassem suas expressões para o legista.

– Quando a trouxeram, achávamos que tinha sido atacada por um lobo ou coisa do tipo – declarou ao encarar Collins.

– Ou coisa do tipo – afirmou Dean.

– Mas estávamos errados – tirou um saquinho da maca contendo algo minúsculo e mostrou a eles.

– Isso é... começou Sam

– Uma unha postiça – adiantou Victoria antes do médico

Ele assentiu mantendo os olhos na caçadora.

– Achamos em seu lóbulo temporal.

– Isso é possível? – indagou Sam com estranheza

– Está dizendo que ela fez isso a si mesma? – tornou Dean

– Estou. Ela arranhou até o cérebro. Deve ter durado horas e doído pacas, mas... é possível sim.

– Como?

– Pode escolher a abreviação: TOC, PCP... Tudo isso significa "loucura". Em minha opinião, foi algum tipo de coceira imaginária. Digo, num caso bem extremo, mas...

– Coceira imaginária? – perguntou Sam

– É – o homem tapou o corpo e fechou o compartimento – Alguém só precisa falar na coceira, ou até pensar nela. E de repente, não se consegue parar de coçar.

– Obrigado, doutor.

– Foi um prazer

O olhar dele continuava preso em Collins. Os dois irmãos trocaram olhares entre si e balançaram a cabeça como quem diz "Outro."

– 0 –

Foram até a casa dos patrões da babá. Tanto o homem como a mulher ainda se encontravam abalados pelo terrível acontecimento. Sentaram-se na sala: o casal em um sofá e Sam e Victoria em outro diante deles; Dean permaneceu em pé.

– Sei que deve ser desagradável terem que enfrentar essa situação de novo depois de falarem com a polícia - afirmou Victoria em tom conciliador e gentil - Mas acreditem, é de extrema importância que respondam a mais perguntas para encerrarmos esse caso. Compreendem isso?

O casal concordou.

– O agente Plant fará algumas perguntas para os senhores - Vic indicou Sam. Este já estava com um bloco de anotações e uma caneta em mãos.

– Meu Deus, foi horrível! - exclamou a mulher beirando às lágrimas - Nunca pensei que algo assim fosse acontecer com a gente. Pobre Amber! Era tão jovem! Nosso filho Jimmy está chocado até agora.

– Foi a senhora que a encontrou morta? - perguntou Sam.

– Não, fui eu - contestou o homem

– Pode descrever as circunstâncias em que encontrou a Amber?

– Minha esposa e eu tínhamos voltado do nosso passeio noturno. Quando chegamos, vimos a televisão ligada e a Amber deitada no sofá. No começo, pensamos que ela estivesse cochilando como fazia de outras vezes quando ficava com Jimmy. Mas quando cheguei perto para acordá-la, eu a chamei várias vezes, só que... ela não despertou. Aí eu a virei de lado e... e... o resto vocês devem saber – o homem não conseguiu articular as palavras para descrever o estado lamentável em que acharam o corpo da babá.

– Tudo bem, nós entendemos - tranquilizou Collins

– Agora, vou fazer outras perguntas para os senhores - tornou Sam - Uma dessas perguntas pode parecer estranha, mas, por favor, sejam indulgentes comigo - fez uma pausa - Notaram pontos frios na casa?

– Não - respondeu o homem

– E quanto a cheiros estranhos?

– Cheiros?

Enquanto Sam e Vic continuavam o interrogatório, Dean deu uma circulada discreta pela sala e foi até o saguão de entrada onde se encontrava uma escada. Nos degraus, estava um menino gordo, claro e cabeludo, que aparentava entre onze e doze anos. Usava uma blusa preta com estampa de algum tipo de banda de rock. Olhava de forma intrigada para o Winchester.

– O que está procurando? – perguntou

– Ainda não sei - respondeu Dean com ar displicente. Deu uma leve guinada de lado com o corpo. Aproximou-se do garoto - É Jimmy, certo?

O menino assentiu. Dean esboçou um sorriso simpático.

– Amber era a sua babá?

– Sim, senhor - falou com certa desconfiança

– A maioria das minhas babás eram uma droga. Principalmente a Senhora Chancey. Ela só ligava pra duas coisas... Dinastia e hora de dormir - enumerou com os dedos polegar e indicador da mão direita.

Continuou sorrindo, mas o menino não. O sorriso do Winchester murchou.

– Viu algo estranho à noite?

– Não, senhor.

– Tem certeza? - indagou com ar desconfiado

– Ahn... Contaria se soubesse de alguma coisa. Eu garanto. Juro por Deus.

O Winchester deu uma rápida olhada para trás a fim de verificar se os pais do garoto ainda estavam lá com Vic e Sam.

– Jimmy, eu... Sei que está mentindo - tornou com expressão séria.

– Não estou - o garoto parecia bastante nervoso. Tentou sorrir para desvanecer a suspeita "do agente"

Dean se abaixou à altura do rosto do jovenzinho e colocou a mão sobre seu ombro.

– Vamos começar a falar a verdade, ou teremos que ir à delegacia?

A expressão do garoto foi de pavor.

– De...delegacia?

Dean suspirou com falsa expressão de pesar.

– Infelizmente, vamos ter que te levar se você não cooperar.

O menino arregalou os olhos e começou a gaguejar.

– N...n...não, senhor. Por favor... Eu falo... Eu falo tudo, mas... por favor, não me leve!

– OK. Então desembuche.

– Eu... preciso pegar um negócio pra mostrar pro senhor – ia subir para o quarto, mas  Dean o deteve pelo braço com expressão severa.

– Ei, aonde você pensa que vai?

– Vou pro meu quarto... Eu ju...juro que volto logo.

– Tudo bem. Eu vou esperar aqui – apontou o dedo no rosto de Jimmy – Mas não tente fugir ou me enganar, porque senão... já sabe.

Jimmy assentiu com a boca trêmula e subiu. Dean soltou uma risada baixa assim que o garoto sumiu de sua vista. Do sofá, Vic pôde ouvir o riso do Winchester e estranhou.

Alguns minutos depois, Jimmy regressava com um saquinho alaranjado. Dean reassumiu sua postura séria. O garoto se aproximou dele ainda apavorado e entregou-lhe o saquinho com a mão tremendo.

– Eu juro que foi só uma brincadeira... Eu... não achei que ela fosse se coçar até morrer.

Dean olhou intrigado para o saquinho. Era pó de mico.

– Está dizendo que você jogou pó de mico nela e que isso a fez se coçar?

– Eu coloquei... na escova de cabelo dela.

O loiro olhava apalermado ora para o menino, ora para o pó de mico.

– O senhor... não vai me prender, não é? Eu... não fiz por mal.

Dean sorriu conciliador e guardou o saquinho dentro de seu paletó.

– Eu sei que você não teve a intenção, mas... nunca mais mexa com algo assim. Brincadeiras podem ser fatais.

Jimmy assentiu.

– Algum problema por aqui? – Collins chegou perto de Dean com expressão interrogativa.

– Nenhum. Está tudo sob controle – o loiro se virou para ela com o mesmo sorriso conciliador.

– O senhor então não vai me prender? – tornou Jimmy

– De onde você tirou essa ideia? – inquiriu Vic

O olhar do menino em direção ao Winchester respondeu à indagação de Collins. Ela olhou o caçador que desmanchou o sorriso um tanto desconfortável com o olhar severo da mulher. Ela se virou com um sorriso espontâneo para Jimmy:

– Claro que não vamos te prender. Pode ir tranquilo.

– Ah... Então... tchau - deu um aceno rápido ainda bastante assustado e correu escada acima para o quarto.

Victoria voltou seu olhar nada amigável para Dean.

– Sam terminou as perguntas com o casal. É hora de nós irmos – foi tudo que disse e deu meia-volta.

Dean sabia que ouviria. Deu um profundo suspiro e levantou os olhos para o alto pedindo ajuda.

– 0 –

– Muito bem! Que palhaçada foi aquela lá dentro com o garoto? – Collins foi logo perguntando assim que saíram.

Os três haviam parado diante da casa. Vic estava de frente para Dean e Sam ao lado de ambos.

– Como assim? O que ele fez? – indagou Sam

– Parece que andou assustando um garoto a troco de nada – replicou Victoria – Disse para o menino que ia prendê-lo.

– Ah, qualé? Eu estava colhendo informações sobre a morte da babá – retrucou Dean

– E precisava bancar o terrorista pra cima daquele menino? O garoto só faltou urinar nas calças.

– Que exagero! Foi só... uma leve pressãozinha.

– Pelo amor de Deus, Winchester! Não me venha com suas ideias idiotas.

– Ah, é, então me diga o que você teria feito? - elevou o tom de voz – Teria mostrado seus peitos pra ele também?

A expressão assassina da caçadora fez o caçador se arrepender na mesma hora. Sam virou o rosto porque já imaginava o irmão caído e com as partes de baixo doloridas. Dean visualizou a mesma cena, posto que fechasse os olhos. Entretanto... nada. Ele arriscou abrir um olho e ela ainda estava lá parada. E sorria. O loiro abriu o outro olho e encarou-a sem entender. Sam também voltou a olhar para ambos.

Para a surpresa dos dois irmãos, Victoria aproximou seu rosto sedutoramente do rosto de Dean, faltava pouco para beijá-lo. O Winchester arfou ao sentir a respiração quente de Victoria e seu perfume envolvente. Um calor começou a subir por sua virilha. Sam engoliu em seco. Não era possível que...

– Você é desprezível – sussurrou ela ao estreitar os olhos e desfez o sorriso

Afastou-se no minuto seguinte. Dean ficou tonto, ainda estava parado esperando "o beijo". Quanto a Sam, ficou boquiaberto, embora aliviado.

– Olha, Collins... – Dean se recompôs e tentou se desculpar, mas foi interrompido.

– Sam, me faz o favor? Diga para seu irmão que não me dirija mais a palavra até eu decidir falar com ele diretamente.

– Ahn... Bem... – Sam não sabia o que dizer

– Pode dizer isso a ele?

– Claro... Er, Dean, a Victoria pediu pra dizer que não lhe dirija mais a palavra até ela decidir voltar a falar com você diretamente.

– OK – o loiro fez um bico, mas não retrucou.

– E agora pergunte a ele o que de "tão importante" ele descobriu com aquele menino.

– Dean, o que...

– Já entendi o recado. Diga pra ela que foi isso. – tirou o saquinho de pó de mico de dentro do paletó. Sam olhou intrigado para o saquinho; Collins se aproximou e também o olhou. – O garoto disse que colocou isso na escova de cabelo da babá.

– Ah, por favor! – exclamou Vic com incredulidade sem se voltar para Dean

– Dean, pó de mico nunca faria a garota coçar o cabelo – Sam também estava incrédulo – São só sementes de bordo triturado.

– Se vocês tiverem outras teorias, sou todo ouvidos – acrescentou para o irmão num tom sarcástico embora olhasse para Vic – Pode dizer isso a ela também.

Victoria teve vontade de dar uma resposta nada cordial ao seu colega, mas resolveu continuar a ignorá-lo. Seu celular tocou como que para dissipar aquele clima.

– Alô. Oi, doutor, tudo bem? – a expressão dela mudou de cordialidade para espanto – Estamos indo aí.

– O que foi? – perguntou Sam

– Temos que voltar para o hospital – foi sua única resposta enquanto ia para seu carro.

– 0 -

Dean, Sam e Victoria entraram numa loja de artigos de logros e brincadeiras.

Mais cedo, passaram no hospital a chamado do legista do necrotério. Um homem foi eletrocutado em circunstâncias desconhecidas. Apenas um tal de Sr. Stanley, um idoso e amigo da vítima, foi apontado como testemunha. Todavia, julgavam-no um caduco por afirmar ter matado seu amigo com um anel de choque de brinquedo ao apertar a mão dele.

Os Winchesters e Collins foram os únicos que deram crédito à história do homem embora com ressalvas. Ficaram com o anel com a permissão de Stanley, voltaram para o motel e resolveram testar o objeto no quarto dos rapazes.

Munido de óculos e luvas assim como Vic e Sam, Dean ativou o anel num imenso pernil sobre a mesa que ficava na pequena minicozinha do quarto. A carne ficou assada por completo. Os três ficaram boquiabertos.

Por isso, estavam naquela loja. Descobriram que tanto o pó de mico como o anel de choques embora fossem originários de lugares diferentes, haviam sido comprados naquele mesmo lugar. Era provável que fossem amaldiçoados pelo dono, algum bruxo.

Diversas prateleiras com brinquedos e artigos - cujo propósito era o de sacanear alguém - estavam expostos; alguns pendurados, outros enfileirados.

– Sam - Dean sussurrou aproveitando que Collins estava em outro canto da loja e mostrou para o irmão um pacote com uma daquelas bexigas que imitam o som de "peido".

Sam revirou os olhos.

Os caçadores ficaram um tempo analisando cada item quando o dono da loja chegou para atendê-los. Havia o balcão e atrás ficava uma cortina vermelha aberta com uma pequena mesa circular ao centro. Em cima, uma cartola e varinha de mágico. No alto, pendurada no teto, uma placa com os dizeres "O Conjurador" e com a pintura de uma pequena caveira na parte inferior.

– Bem-vindos ao Conjurador - anunciou - Santuário da magia e do mistério.

Os caçadores olharam em direção a voz que se apresentava atrás do balcão. Era um homem magro, alto, de cabelo castanho médio, olhos acinzentados e que aparentava a idade entre quarenta e cinquenta anos. Vestia uma jaqueta cinza com listras, calças da mesma cor e uma blusa preta com a foto do mágico David Copperfield estampada.

– É o dono? - Sam se aproximou do balcão.

– Sou. - respondeu ele

– Vendeu anéis que dão choque e pós de mico recentemente? - indagou Dean

– É, uma grande quantia de cada um - respondeu com certo sarcasmo mesclado num tom de amargura - Eles não são exatamente itens de sucesso. Querem comprar alguma coisa, ou o quê?

Dean pagou pela bexiga.

– Tem muitos clientes? - tornou Sam

– As crianças aparecem. Não compram muito, mas estão mais do que felizes em quebrar coisas. Hoje em dia, só curtem !Phones e filmes de vampiros se beijando. Isso tudo me deixa...

– Com raiva... - completou Dean sério

O homem assentiu com expressão zangada.

– É, é... Estou com raiva. Essa loja tem sido minha vida por vinte anos. E agora está jogada às traças.

– Por isso os odeia?

– Acho que sim.

– Queria poder fazer alguma coisa a respeito? - inquiriu com desdém

– É, acho que sim.

– Então, está se vingando... - Dean fez uma pausa, tirou uma galinha de borracha pendurada num gancho e jogou-a sobre o balcão -... com isso.

Mostrou o anel e eletrocutou a galinha. O homem tomou um susto. A galinha se derreteu por completo enquanto o vendedor caiu sentado no chão, gritou e tremia de pavor.

Os caçadores ficaram surpresos com sua reação.

– Algo me diz que esse cara não é um bruxo poderoso - concluiu Sam

– Não me resta a menor dúvida - disse Vic em tom monótono.

– Desculpa - tornou Dean meio sem graça para o homem.

Saíram de lá.

– Diga ao seu irmão que foi um belo show - disse Vic com ironia para Sam na calçada da loja

Sam ia repetir, porém, o olhar irritado de Dean o calou.

– 0 -

Era pouco mais de meia-noite. Victoria estava deitada, mas não conseguia dormir.

Não parava de pensar em certo Winchester. Na verdade, não havia noite em que não dormisse com Dean e Sam em seus pensamentos. Era por isso que cada vez mais estava intratável com os rapazes. Cada dia se atraía por eles: física e emocionalmente.

Se antes, estava decidida a ser implacável com eles, agora mais do que nunca. Detestava tratá-los de tal forma, mas... não tinha escolha, era para o bem deles. E para o seu. No entanto, cada má resposta que lhes dava era como uma agulhada em seu próprio coração.

Ah! Por que com eles era muito mais difícil manter sua postura de Indomável?

A maior parte das vezes em que os repreendia ou ignorava era mais pose do que realmente alguma zanga ou crítica. No entanto, naquele momento, estava mesmo furiosa com Dean pelo que havia dito pela manhã.

Tudo bem que usava de seus encantos femininos para atrair os homens e arrancar alguma informação, mas jamais se prestou ao papel de dormir com algum deles. Ela não se encaixava no estereótipo de “mulher fatal”.

Havia caçadoras que, devido àquela vida instável e perigosa, eram adeptas do "amor livre" como os homens caçadores; ela não. Não que julgasse quem gostasse de sexo casual, mas simplesmente não conseguia dissociar sexo de amor. Que a julgassem antiquada, não se importava. Estava acostumada a ser vista como lésbica ou maria macho.

Entregou-se somente a dois homens na vida., a quem amou. E fazia quase cinco anos que não dormia com ninguém.

Por isso, doía-lhe pensar que Dean achasse que fosse uma leviana. Seu comentário insinuava tal conotação. Será que Sam pensava da mesma forma?

Por outro lado, não poderia culpar Dean. Ele devia estar no limite devido às suas provocações. Talvez devesse relevar.

Suspirou. Amanhã seria outro dia.

– 0 –

Céus! Aquela mulher o tirava do sério!

Ela o estava ignorando. Ele, Dean Winchester.

OK. Foi um grosso ao se referir daquela forma aos peitos dela como algo que usasse para arrancar informações – sendo que tal estratagema foi usado uma vez no caso do cavaleiro sem cabeça, bom, que ele tinha visto. Contudo, disse mais por ter perdido a paciência com tantas cortadas de Victoria.

Mas tinha que admitir que se incomodava sempre que Vic se insinuava ou correspondia aos olhares e sorrisos de qualquer homem que encontrava durante aqueles casos. Sabia que ela o fazia como modo de arrancar informações e que não passava disso – pelo menos, ele não a viu se envolver com nenhum homem. Mesmo assim, não deixava de lhe incomodar.

Não parava de se mexer e remexer na cama com bastante estardalhaço. Tanto que Sam se levantou, acendeu a luz do abajur na cômoda entre eles, sentou-se na beira da cama do lado que estava e inquiriu-o:

– Muito bem, Dean. Qual é o problema?

– Que problema? – ele se virou para o lado de Sam

– É o que estou perguntando. Tem algum problema? Por que você normalmente já estaria ferrado no sono numa hora dessas e aos roncos. Só que não para de ficar se virando todo, faltando pouco pra quebrar a cama. Por favor, dá pra aguentar seus roncos mas... esse barulho de molas está me incomodando. Me diz o que está acontecendo.

– É a Collins, Sam. Não suporto mais essa garota!

– Que novidade! Quase todo dia você fica me falando isso.

– Porque todo o dia ela não cansa de dar patada. Qualé, Sam! Você também não fica livre da implicância dela.

– Mas eu não perco meu sono por causa disso. Eu tento... relevar.

– É esse o problema! A gente tá relevando demais e ela tá montando em cima! Qualquer hora, eu me canso e digo umas boas pra ela.

– Como a de hoje dos peitos? Sinceramente, Dean, não sei como ela não te fez parar no chão como aquele motoqueiro.

– É, mas agora tá com essa de me ignorar. E o pior é que você em vez de ficar do meu lado, fica como garoto de recados dela. Está gostando do seu novo posto? – tornou com sarcasmo – Ou espera que a Victoria te promova no conceito dela?

Sam quis retrucar, porém, não conseguiu achar uma boa resposta.

– Quer saber de uma coisa? – disse por fim – Vê se tenta dormir e melhora esse humor pra amanhã.

Sam apagou a luz do abajur, virou de costas para o irmão e fechou os olhos para tentar dormir. Dean ainda ficou lá com cara de tacho. Virou de lado e resolveu contar carneirinhos até pegar no sono.

– 0 –

Do outro lado da cidade, numa casa, um homem era atacado em sua cama. Seus dentes eram todos arrancados sem dó por um indivíduo alto, magro e barbudo vestido de fada do dente que usava um alicate na operação.

– 0 –

No hospital, estava um homem com os dentes arrancados na maca de um quarto do hospital. Sam tomava anotações dele.

– Então, pelo que entendi, depois que o senhor colocou sua filha pra dormir e... lhe falou sobre a Fada do dente, o senhor foi dormir.

– Enñn ... – o sujeito confirmou com a cabeça. Estava com dificuldade de falar tamanha a dor na boca. Seu depoimento foi bastante demorado e difícil de compreender.

– E por volta da meia-noite, apareceu esse... ahn... tal sujeito que seria a Fada do dente.

O moço confirmou com o polegar. Sua esposa entrou no quarto com um suco gelado, mas ele se recusou a tomar.

Enquanto Sam repassava algumas informações para ter certeza de que havia anotado tudo, Vic olhava distraída fora do quarto; Dean havia saído. Certamente, não aguentava mais ser ignorado por ela. Tomou uma decisão: falaria com ele, afinal, sua atitude não era a de uma mulher adulta.

Vic chegou ao corredor disposta a se entender com o Winchester, porém, encontrou-o de paquera com uma enfermeira. A moça era clara, de cabelos pretos e anelados e olhos castanhos escuros.

Ele não perde tempo.

Aquilo a irritou. Enquanto Sam e ela levavam o trabalho a sério, ele jogava charme em cima de qualquer uma. E que enfermeira mais oferecida! Não tinha o que fazer não?

Victoria não se segurou e aproximou-se dos dois.

– Bem, eu agradeço, enfermeira Fremont – Dean esboçou um sorriso sedutor para a moça

– Por favor, me chame de Jen.

– Então será Jen.

– Com licença, Jen, me permite conversar com meu colega agente Page? – interrompeu Vic com falso sorriso e falsa doçura na voz. Dean a olhou surpreso.

– Ah... claro. Até mais... agente Page – ela sorriu.

– Me chame de... James.

– Certo, James.

A enfermeira saiu. Vic revirou os olhos e interpelou Dean:

– Já acabou o seu momento de "idílio amoroso"? Porque temos trabalho a fazer.

O  Wincester olhou para os lados e para trás como se procurasse outra pessoa com quem Victoria estivesse falando. Em seguida, voltou seu olhar para ela.

– É comigo? – não resistiu em provocá-la.

Ela suspirou e cruzou os braços.

– Não, é com o faxineiro bem no final do corredor. Ele tem ouvido biônico.

– Eh... engraçadinha – ele deu um sorriso amarelo que ela também esboçou – Resolveu voltar a falar comigo?

– Fazer o quê, né? Nós somos colegas e temos que agir como adultos.

– Mas não fui eu quem começou o joguinho do "Sam, fala pra ele que eu não quero mais falar com ele." – imitou a voz dela.

– Escuta aqui, Winchester! – Victoria apontou o dedo para ele – Da próxima vez que falar alguma pérola do tipo daquela de ontem comigo, garanto que não vou te ignorar... e nem as suas partes baixas.

– Uh! – Dean levantou os braços em sinal de trégua embora ainda houvesse escárnio em sua postura – Falou e disse, Collins.

Victoria não respondeu, mas seu olhar ainda estava flamejante. Dean não pôde deixar de se sentir atraído por ele. Tinha que confessar que ela ficava linda e fogosa quando estava com raiva. Ele prendeu seu olhar no dela.

– Foi mal – disse com voz rouca – Me desculpe.

– Tudo...tudo bem – Collins desmanchou sua postura e ficou embaraçada pela intensidade do olhar dele.

– Aham. – Sam pigarreou.

Os dois se viraram em direção a ele. O Winchester tinha uma expressão sombria no rosto. Percebeu que Vic e Dean estavam conversando, mas chegou a notar certo clima que não lhe agradou em nada.

– Que bom que estão se falando. – foi tudo o que disse.

– Pois é – Vic se afastou um pouco de Dean. Sam se aproximou e ficou entre eles.

– Qual é a do desdentado? – indagou Dean. – Cáries malditas o assustaram?

– É, quase isso. Ele deu uma descrição. Um metro e cinquenta e cinco, cento e cinquenta quilos, asas e um tutu rosa. Ele disse que era a fada do dente.

– Obviamente ele estava sob o efeito de analgésicos.

– Talvez. O que quer que tenha sido, atravessou portas e janelas trancadas, sem acionar o alarme.

– Fala sério, a fada do dente?

– Pior que o homem falou sério – replicou Vic.

– E deixou trinta e duas moedas debaixo do travesseiro dele. – tornou Sam. – Uma para cada dente.

–O caso parece de uma loucura completa – Vic assentiu com a cabeça.

– Se isso é loucura, o que vou falar é mais ainda – anunciou Dean

– O que você descobriu?

– Tem uns garotos lá em cima, com úlceras de estômago por terem misturado o doce pop rocks com coca-cola – fez uma pausa – Um outro cara, a cara dele ficou assim.

– Assim como? – inquiriu Sam.

Dean olhou para os lados meio constrangido, juntou os olhos para o centro do nariz e arreganhou os dentes numa careta horrorosa.

Vic não resistiu e soltou um riso curto.

– Não brinque, Winchester.

– Se duvida, vá lá em cima ver. Ele segurou por muito tempo e ficou assim. Estão trazendo um cirurgião plástico.

– Então, se adicionar isso tudo... Não tenho ideia – Sam ficou sem palavras.

– Parece algo como mitos - arriscou Collins – Histórias que o povo diz.

– Isso. Talvez seja essa a ligação. – concordou Dean. Os três começaram a caminhar pelo corredor. – A fada do dente, pop rocks com coca-cola, o anel que dá choque em você. Todas são mentiras que as crianças acreditam.

– E agora estão se tornando realidade. – completou Sam

– Parabéns pela conclusão, Dean. Fico feliz que você pense – provocou Collins. Dean fez uma cara engraçada para ela.

– O que estiver fazendo isso, está remontando a realidade – tornou Sam – Tem poderes de um deus ou...

– Ou de um Trickster – completou Vic.

–É, com o senso humor de uma criança de nove anos – conclui Dean

– Ou com o seu – replicou Sam.

– Era só o que faltava – Vic arqueou as sobrancelhas – Um Dean Winchester com superpoderes. Já não basta aguentar um sem poder.

E adiantou o passo.

– Opa!– Dean apontou o dedo – O que ela quis dizer?

– Vamos – Sam balançou a cabeça e sorriu sem responder.

– 0 –

Victoria e Sam saíram para encontrar alguma pista ou ponto em comum que ligasse todos aqueles estranhos casos. Collins achou melhor que se separassem para agilizar as buscas. Dean até quis acompanhá-la, mas ela o dispensou no seu tom delicado.

O Winchester ficou sozinho no quarto. Estava sentado à mesa devorando o pedaço de pernil que havia assado com o anel de choques. A carne estava em bom estado para se comer.

Uma batida na porta interrompeu a degustação do Winchester. Droga! E se fosse Victoria? Ele ainda não tinha se livrado "daquilo".

Abriu a porta. Era Victoria conforme temia.

– Oi... er... o Sam me ligou e pediu que eu voltasse pra cá. Parece que ele achou alguma coisa e deve estar chegando – ela se justificou

– Ahn... claro – ele escondeu a mão direita rapidamente dentro do bolso da calça. Collins percebeu – Entre.

– Tem alguma coisa com a sua mão? – ela perguntou assim que o caçador fechou a porta com a outra mão.

– Er... quer um pedaço? – ele indicou o pernil

Ela notou que Dean havia se desviado do assunto, mas antes que o interpelasse, Sam chegou e abriu a porta. Estava ofegante pela pressa.

– Oi, gente. – voltou-se para Victoria – Demorei muito?

- Não, eu também cheguei agora.

Ele assentiu. Em seguida, notou que uma parte do pernil estava devorada. Virou-se para o irmão:

– Cara, sério... Ainda com o pernil?

– Não temos geladeira. – deu de ombros

Vic segurou o riso.

– Achei uma coisa – tornou a olhar para Collins que se aproximou, Dean também. Sam afastou o pernil para o lado e colocou em cima da mesa a planta da cidade com vários pontos marcados de X. Ficou entre seu irmão e a caçadora – Aqui. O ataque da fada do dente foi aqui – indicou um ponto e foi mostrando outros – O pop rocks aqui, e tem o pó-de-mico, rosto congelado e anel que dá choque, todos localizados em uma área de 500 m².

– Então dentro dessa zona, a fantasia se torna realidade. – concluiu Dean

– Parece que sim.

– Onde fica o núcleo?

– Quatro acres de fazenda e uma casa.

– Foi... um bom trabalho de pesquisa – admitiu Collins com um sorriso para Sam

– Obrigado – ele devolveu o sorriso.

– Nosso hotel por acaso não fica nesse círculo? – interrompeu Dean com um pigarro

– Fica. Por quê?

– Er... É melhor sair ou fechar os olhos, Collins.

– Por quê? – ela estranhou.

– Não quero te ofender com mais "uma pérola"

– Tem algo a ver com a sua mão, não é?

Dean não respondeu. Estava meio embaraçado.

– Mostre – ela ordenou.

– Olha...

– Mostre.

– Tá, mas não diga que não avisei.

Ele abaixou a cabeça e mostrou a palma da mão direita. Estava com alguns pelos bem crescidos.

– Meu... Deus! – ela virou o rosto – Não acredito no que vejo.

– Eu avisei.

– Bicho... isso não é o que eu acho que seja, é? – Sam também virou o rosto com repugnância

– Fiquei entediado. Eu... pensei... estava pensando... bem.

– Estava pensando naquela enfermeira lá do hospital, não é? A tal de Jen!

Victoria o inquiriu. Seu olhar cruzou o do loiro. Ele a olhou intenso.

– É... – assentiu – Foi nela mesmo.

Mentira. Não foi na Jen que ele pensou a tarde toda para fazer aquilo na solidão do quarto. Aliás, sempre que ficava sozinho, fosse debaixo do chuveiro, em sua cama ou até mesmo no carro, apenas uma única mulher passou a tomar conta de sua mente a ponto de ele "se divertir" sozinho com "seu campeão."

Victoria desviou o olhar. No fundo, ela sabia.

– Sabe que pode ficar cego por isso também – repreendeu Sam.

– Winchester, você é mesmo um depravado. – declarou Collins com reprovação

– Ah, por favor. Todo homem faz isso – o loiro se defendeu – Até o Sam faz isso – Sam corou e abriu a boca para protestar, mas Dean ignorou e fitou a caçadora – Até... mulheres fazem isso.

Um silêncio constrangedor se instalou por alguns instantes.

– Acho melhor nós averiguarmos essa pista – Victoria  se distanciou dos dois caçadores, sem encarar nenhum.

– Me deem cinco minutos e vamos checar aquela casa – Dean saiu em direção ao banheiro.

– Ei, não use meu barbeador – advertiu Sam.

– 0 –

Os carros foram estacionados no meio de uma estrada de terra onde se localizava apenas uma casa. Os três fizeram sinal um para o outro com a cabeça. Estavam armados para enfrentarem o ser que habitava aquela residência e que era o provável causador daquela bagunça na cidade.

Subiram as escadas. Sam chegou perto da porta.

– Aqui - Vic lhe entregou um grampo de seu cabelo

Ele se abaixou e começou a tentar abrir a porta. Para a surpresa deles, a porta foi aberta por um lindo menino de cabelos lisos pretos e de franja e os olhos negros como jabuticabas. Aparentava ter entre nove a dez anos.

– Posso ajudá-los? - perguntou com uma vozinha fina, mas firme.

– Oi! Qual é o seu nome? - indagou Sam

– Quem quer saber?

Eles se entreolharam. O menino era esperto. Mostraram as falsas identidades.

– O FBI - respondeu Dean

– Deixa eu ver isso - pegou a carteira de Dean, analisou-a e devolveu-a - Então o quê? Vocês não batem na porta?

– Seus pais estão em casa?

– Eles trabalham.

– Podemos fazer umas perguntas? Dar uma olhada pela casa?

– Não sei - disse desconfiado.

Os Winchesters sorriram feito bobos. O menino parecia em dúvida. Collins se aproximou dele e abaixou à sua altura.

– Olha, nós prometemos que vai ser rápido. Seus pais nem precisam saber que estivemos aqui - garantiu. Olhava o menino com certa ternura, gostava de crianças.

– Tá - foi sua resposta curta enquanto fitava Vic sem devolver o sorriso dela.

Fosse pelo jeito maternal de Victoria ou porque havia se convencido que os caçadores eram confiáveis, o menino deixou que entrassem. Ele os conduziu até a cozinha de um estilo mais rústico. Uma panela fervia no fogão.

– O que é isso? - Sam apontou a panela.

– Chama-se sopa. Esquentamos e comemos – o menino respondeu como se explicasse a algum desavisado.

Vic e Dean reprimiram o riso.

– Certo, eu sei. É só que... - ficou sem resposta diante daquele garoto que não se intimidava com ninguém – Eu também costumava fazer o meu jantar. Quando eu era criança.

– Não sou criança.

– Não, eu sei - fingiu concordar - A propósito, sou Robert - apertou a mão do garoto.

– Jesse.

– Jesse? Prazer em te conhecer.

– Desenhou isso? – Dean mostrou a figura de um homem barbudo como fada do dente.

– É a fada do dente – respondeu Jesse

– É assim que acha que a fada do dente é? – tornou o caçador com sarcasmo. Virou o desenho para olhar mais uma vez.

– É, meu pai me contou sobre ele – ao ver a cara incrédula de Dean, o menino estranhou – O quê? Seu pai não te contou sobre a fada do dente?

– Meu pai? O meu contou histórias diferentes.

– Bem, a fada do dente não é uma história.

– O que sabe sobre pó de mico, Jesse?

– É uma coisa que faz você coçar até o cérebro.

Dean assentiu e trocou um rápido olhar com Victoria. Ela estava abismada.

– Pop rocks e coca-cola?

– Se misturar, vai parar no hospital. Todo mundo sabe disso.

Dean mostrou o anel de choques guardado no bolso.

– Não deveria ter isso – o menino se assustou um pouco

– Por que não?

– Vai te eletrocutar!

– Na verdade, não pode. É só um brinquedo. Totalmente inofensivo. Não tem nem bateria.

– Então não pode te dar choque? – Jesse franziu a testa

– Não. De jeito nenhum. Eu juro.

– Ah, está bem – convenceu-se após uma breve pausa

– Só faz tremer na mão. É meio bobo – apertou o objeto no ombro de Sam que tomou um susto e sibilou. Vic quase gritou e levou as mãos automaticamente na altura da boca – Viu?

Jesse esboçou um tímido sorriso. Quanto a Sam e Vic, olharam feio para Dean.

– Como disse mesmo que se chamava?

– 0 –

– Cara, que foi isso? – indagou Sam

– Tive um palpite e arrisquei. – retrucou Dean

– Arriscou minha pele por um palpite?

– Você está bem.

– Não graças a você, Winchester! – esbravejou Vic que estava ao lado de Dean – Que ideia! Eu achei que você fosse idiota, mas nunca pensei que fosse maluco – olhou para Sam com certa preocupação e abaixou o tom de voz – Você... está bem mesmo, Sam?

– Estou. Obrigado por se preocupar – sorriu

Dean revirou os olhos.

– Tá, tá. Já passou. Sam está bem como estamos vendo. O que importa é que já sabemos quem transformou a cidade no pior pesadelo de Willy Wonka. Um garoto. Tudo o que Jesse acredita, vira realidade. Ele acha que a fada do dente parece com o Belushi, que anéis de fato dão choque. Bum! É o que acontece.

– Foi só convencer ele que os anéis não funcionam, e eles vão de armas a brinquedos imbecis. – tornou Sam

– Ele nem deve saber que está fazendo isso.

– Disfarcem, pessoal – avisou Collins.

Jesse havia aberto a cortina da janela de seu quarto e estava os observando. Dean acenou para ele.

– Como ele está fazendo isso? – sussurrou o loiro.

- Tenho a impressão que vamos descobrir logo – retrucou Victoria – E acho que não vamos gostar de saber.


Notas Finais


Bem, é isso aí, pessoal!

O título do capítulo remete a um filme muito bonito e um pouco antigo. Devem estar se perguntando: por que o título O garoto que podia voar? Como já disse, todos os títulos vão se referir a algum filme, livro ou peça seja por associação de ideias, paródia ou metáfora. Deixo a interpretação a cargo de vcs.

Bem, que viu o episódio sabem como ele termina. Mas o que vcs não sabem é o que vai acontecer entre nosso triângulo no próximo capítulo, conclusão do caso. Adianto que as coisas entre eles vão ficar bem tensas.


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