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História Almas Trigêmeas - Zoando na TV


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Sim, eu sei, demorei dois meses para postar, mas sempre aparecem contratempos na vida da gente por mais que nos organizemos. Meu computador estragou e agora que consegui comprar um. Mas foi bom que o outro estava já meio velho, com pouca capacidade no HD e lento.
O capítulo é reescrita do episódio 9, Trocando de Canal. E a letra da música nas notas finais é Catedral, de Zélia Duncan. Espero que gostem!

Capítulo 16 - Zoando na TV


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Zoando na TV

Anteriormente:

– É um trickster – disse Bobby

– É um espírito, demônio? - indagou Dean

– São semideuses. São imortais e podem criar coisas do nada, geralmente com senso de humor. Piadas mortais.

(...)

– Isso é divertido pra você? Matar Dean várias vezes? – inquiriu Sam indignado

– Sam, há uma lição aqui – replicou o trickster

– Qual?

– Dean é a sua fraqueza. Os vilões também sabem disso. Ele será a sua morte, Sam.

(...)

– Hum, Sam, você realmente não dá pra isso – Dean mal disfarçava sua satisfação em ver o azar do irmão no jogo

– Tudo bem. Azar no jogo, mas... sorte no amor – disse com serenidade ao inverter o ditado e olhar com intensidade para Victoria.

Capítulo 15

Zoando na TV

– Justiça poética, louco por doces, bagunçando a vida das pessoas antes de matá-las. Estamos lidando com o trickter, né? – concluiu Dean após enunciar as evidências

Estava no quarto de motel que dividia com Sam. Vic se encontrava com eles e tentavam chegar as possíveis causas de um estranho caso que investigavam.

Foram até Wellington, Ohio, como agentes do FBI a fim de pesquisar a notícia da morte de um tal de Bill Randolph que, no relatório oficial de investigação, constava ter sido provocada por um urso. Entretanto, certas circunstâncias chamaram a atenção dos caçadores para além de um mero ataque animal.

O xerife da delegacia local encaminhou Kathy Randolph – esposa da vítima – para prestar seu depoimento aos “federais.” Depois de muita hesitação, a mulher lhes confidenciou que Bill foi morto pelo incrível Hulk, o do seriado.

Investigando mais a fundo a estranha história, descobriram que a vítima tinha passagem na delegacia por queixas de agressão e brigas no bar, além de frequentar sessões de terapia. O que evidenciava uma pessoa violenta e de pavio curto.

No entanto, a descoberta mais importante na cena do crime, além de um grande buraco feito pelo Hulk, tinham sido papéis de bombons. E havia a ironia de um personagem esquentado matar outro esquentado.

Justiça poética definida por Sam e corroborada por Dean. Obra de ninguém menos que um trickster.

– Parece que sim – respondeu Sam à pergunta de seu irmão.

– Esse trickster... Bobby chegou a me contar que vocês o encontraram quando foram investigar um caso numa universidade – comentou Victoria – Como ele é?

– Nem queira saber – Sam desconversou.

– Imagine aquele tipo que não é nem um pouco boa pinta, mas ainda assim consegue ser tão simpático que atrai as pessoas, até mulheres em seu círculo social – responde Dean contendo a irritação – E imagine que você resolve desenterrar o jardim da casa dele e descobre um monte de corpos. Bem, esse é o trickster.

– Com essa descrição, já vi que não posso adicioná-lo ao meu Facebook – brincou Vic.

Dean sorriu para ela. Em seguida, exprimiu com satisfação:

– Que ótimo que seja ele por trás disso tudo! Quero matá-lo desde o “Lugar Misterioso”.

– Tem certeza? – perguntou Sam

– Tenho.

– Não, tem certeza de que quer matá-lo?

– O filho da mãe não pensou duas vezes antes de acabar comigo umas mil vezes.

– Peraí, peraí... – interrompeu Vic e direcionou-se para Dean – Desculpe, mas eu não entendi essa última parte. Como assim ele acabou com você mil vezes?

– Depois do caso da Universidade, encontramos o trickster outra vez – respondeu Sam antes que Dean se pronunciasse – E ele... fez com que um mesmo dia se repetisse e matava o Dean na minha frente uma porção de vezes de diferentes formas.

– Meu Deus!

– Entende agora minha descrição sobre ele? – tornou Dean – O cara é um maldito sádico!

– E você se lembra de todas essas mortes? – Vic parecia transtornada.

– Graças a Deus não. Só o Sam que se lembra... e ele que me contou. Mas só o fato do desgraçado ter feito isso comigo pra torturar Sam já é motivo suficiente pra eu querer fazer picadinho dele.

– Quer mesmo matá-lo? – Sam retomou a questão.

– Sam, eu já disse que sim! O que ele fez com você, o que fez comigo...

– Eu sei. Só estou dizendo.

– O que é? – Dean perdeu a paciência – Se não quer matá-lo, então o quê?

Sam fez uma pausa. Vic também estava intrigada aonde ele queria chegar.

– Falar com ele – disse por fim

– Como é?

– Pensa bem, Dean. Ele é uma das criaturas mais poderosas que já conhecemos. Talvez possamos usá-lo.

– Pra quê?

– Um trickster é tipo um Hugh Hefnes – ele falou e olhou para Victoria como que se quisesse dar outra definição sobre o semideus – Vinho, mulheres, música... Talvez ele não queira que termine. Talvez também odeie essa coisa de “Anjos e Demônios”. Talvez nos ajude.

– Está falando sério? – o loiro ficou pasmo

– Estou.

– Nos aliar com o trickster.

– É.

– Me parece uma boa ideia – pronunciou-se Vic

Sam a olhou com gratidão.

– Você... está de acordo com essa maluquice? – Dean deu uma piscada longa para absorver aquilo

– Pelo o que vocês me contaram, a figura não é de todo o mau. Pode ser sádico, mas parece inteligente e criativo. E depois, não acho que seria de bom tom irritá-lo sem necessidade – Collins mantinha um tom de prudência na voz mesclado com preocupação e uma expressão sombria no rosto – Eu não gostaria de ficar presa num eterno Feitiço da Lua vendo qualquer um de vocês morrerem na minha frente várias vezes.

Os dois ficaram sem saber o que dizer diante daquela preocupação que Vic exprimia. Ela ficou um pouco constrangida com o silêncio e tornou a falar:

– E como Sam disse, ele aprecia mulheres... e talvez eu possa agir nesse sentido, usando meu poder de sedução – o tom de voz era divertido, mas ela falava sério.

– Há, que beleza! – exclamou Dean e levantou os braços – E vamos torcer pra que ele não queira te raptar pra uma ilha deserta. Nem pense nisso, Vic! – vendo que a caçadora ia protestar, ele se adiantou - Olha, Sam e eu já enfrentamos ele. Ele é um monstro violento e sangrento, não tem papo com algo assim.

– Dean e sua visão preto no branco – ironizou a caçadora

– Vic está certa, Dean.O mundo vai acabar – interrompeu Sam antes que o loiro replicasse – Não temos o luxo de padrões morais.

– Ah, você concorda em usar a Vic como isca pra atrair o trickster?

– Não, essa parte não! – ele olhou com ar reprovador para Collins que cruzou os braços – Mas conversar, sim. Só estou dizendo que vale a pena tentar. Se não funcionar, o matamos.

Vic assentiu em concordância. Dean suspirou derrotado. Eram dois contra um.

– E como vamos achar o cara? – perguntou

– Ele nunca faz só uma vítima, certo? Ele vai aparecer.

– 0 –

Ouviram um chamado de emergência no rádio sobre um estranho homicídio numa antiga fábrica de papel. Os Winchesters costumavam sintonizar na frequência das ondas da rádio policial para se informarem de algum crime que soasse fora do comum.

– Mas... não tem nada aqui – declarou Collins ao se juntar aos Winchesters

Tinham parado os carros em frente à fábrica.

– Nenhuma viatura, ninguém. – disse Dean em resposta ao comentário de Vic – O que isso parece?

– Uma droga – concluiu Sam

E foram até o porta-luvas de Dean onde estavam grandes estacas de madeira pontiagudas e lanternas. Cada um pegou uma. Em seguida, o loiro se dirigiu a uma porta de ferro da fábrica. Antes de abri-la, disse:

– Tá legal. Sam, você entra primeiro. Depois, eu. Se estiver tudo OK, eu grito pra você entrar, Vic.

– Cai na real, Dean! Estamos perdendo tempo! – bufou Collins.

– Eu sou adepto do “damas primeiro”, mas nesse caso, Vic, eu prefiro abrir uma exceção – concordou Sam com um sorriso conciliador.

Vic revirou os olhos. Não gostava muito quando seus parceiros agiam com certa preocupação para com ela.

– Então vão logo antes que eu dê um chute no traseiro de vocês!

Os dois seguraram o riso e Dean abriu a porta. Sam entrou na frente e Dean entrou logo depois, deixando a porta só um pouco entreaberta para Vic. Contudo, antes que o Winchester proferisse qualquer chamado, de repente, a porta se fechou e deixou Vic do lado de fora.

Imediatamente, ela foi tentar abri-la, mas a porta estava emperrada. Vic bateu nela.

– Dean! – ela forçou mais uma vez – Dean! Sam! Abram!

Do outro lado, Dean e Sam viram assombrados que estavam dentro de um hospital. Só demorou uma fração de segundos para reconhecerem o ambiente antes de perceberem que a porta se fechou com estrondo atrás deles.

– Vic! – gritaram os dois ao mesmo tempo e voltaram-se em direção à porta.

Dean a abriu, mas do outro lado não encontraram o ambiente exterior com Victoria e os carros estacionados. Ao invés disso, a porta dava para uma minúscula sala onde um homem e uma mulher se agarravam com desejo e nem se deram conta dos Winchesters que os observavam com assombro. Fecharam a porta.

– Droga! Cadê a Victoria? – exclamou Sam com preocupação – Onde ela foi parar?

– Acho que a gente devia se perguntar onde fomos parar – disse Dean

Os dois se observaram. Estavam vestidos com jalecos brancos e crachás. E estavam sem as estacas e lanternas. Duas moças que pareciam residentes do hospital passaram por eles e os cumprimentaram com sorrisos.

– Doutor – disse uma que era loira

– Doutor – disse a outra morena clara.

Os dois se entreolharam.

– 0 –

– Dean! Sam! – Vic continuava insistindo

Tentava inutilmente abrir a porta que não cedia. Começou a dar chutes, entretanto, a porta não cedeu um milímetro.

– Droga! – esbravejou com um murro na porta e encostou a testa para se acalmar e pensar no que fazer.

– Por que não se senta e relaxa? – uma voz masculina que tentou soar sedutora a alertou

Na mesma hora, Vic se virou e observou com surpresa que não estava mais diante da velha fábrica. Ela se encontrava num amplo quarto de luxo com paredes brancas e uma cama grande de cabeceira com um espelho. Num canto à esquerda, uma minigeladeira. Diante da cama, uma imensa televisão SLD. Do outro lado, uma porta de vidro onde dava para enxergar uma praia à distância com os ruídos das ondas do mar. E, ao lado da mesma, um sofá de dois lugares. Nele, estava sentado um homem claro de olhos verdes com um brilho divertido, cabelos pretos, testa meio avantajada e um rosto alongado com expressão zombeteira. Era o Trickster.

Victoria percebeu também que não segurava mais a estaca nem a lanterna. E tinha certeza quem o homem no aposento era, ou melhor, o que ele era. Por isso, não perdeu tempo com perguntas sobre a identidade dele. Apenas indagou com uma voz baixa que não deixava de transparecer sua fúria:

– Onde estão Dean e Sam?

– Ora, minha querida, não vamos nos esquecer das boas maneiras, não é? – ele se levantou e aproximou-se com um olhar avaliador e malicioso. Um sorriso cínico e satisfeito evidenciava o quanto Collins lhe agradava. Sem esperar, pegou na mão de Vic e beijou-a – Trickster a seu dispor. É um prazer conhecer a grande Victoria Collins.

Vic esboçou um leve sorriso e dirigiu-lhe um olhar amistoso. Em seguida, recolheu com delicadeza sua mão e, com o máximo de força que empregou, esmurrou o nariz do Trickster.

– O prazer é todo meu, desgraçado! – esbravejou – Agora diga onde estão Dean e Sam!

O Trickster fez uma leve careta de dor que foi substituída pelo sorriso cínico. Ele colocou o nariz quebrado no lugar e voltou a encarar a caçadora.

– Uh! Selvagem, hein? Eu adoro isso... em mulheres – sibilou mostrando a ponta da língua.

Vic estreitou os olhos com impaciência.

– Se quer saber dos seus “heróis”, ligue a TV – continuou ele

– Eu não tenho tempo pra suas gracinhas! Me leve até eles agora!

– Sinto muito, docinho, mas eles vão estar muito ocupados e você não poderá fazer parte do show. Mas... poderá assistir com requinte – estendeu os braços mostrando o luxuoso quarto

– O que quer dizer? – Vic respirou para se controlar e não dar outro soco no semideus.

– Ligue a TV e você entenderá –apontou o aparelho – Eu preciso ir, mas prometo que voltarei pra você desfrutar da minha agradável companhia.

– Olha aqui, seu... – a caçadora deu um passo até ele.

Contudo, o Trickster já tinha sumido não sem antes dar uma piscada rápida.

Vic se encontrou sozinha no aposento. Maldito trickster! Devia ter batido mais nele para obrigá-lo a revelar o paradeiro de Sam e Dean.

Collins foi até a varanda do quarto. Do balcão, viu que estava numa imensa mansão com piscina. E parecia localizada em algum tipo de praia deserta, talvez uma ilha. Não se via viva alma, além dela mesma e, muito menos, outras habitações. É. Duvidava que fosse encontrar os Winchesters por ali.

Tinha a intuição de que o trickster tinha preparado algo grande para os rapazes e que não a incluía diretamente. O que não queria dizer que não estava encrencada.

Suspirou com frustração e virou-se. O ser endiabrado insistira que ela ligasse a televisão para obter alguma resposta. Pelo visto, não tinha outra opção. Tomara que não fosse nenhum truque!

Collins pegou o controle remoto em cima do pequeno armário escuro onde estava o aparelho, sentou-se na beira da cama (os lençóis eram felpudos e macios, de primeira qualidade) e ligou.

A princípio, não viu nada de extraordinário. Na TV, passava algum tipo de filme ou seriado cuja cena se passava num hospital. De repente, Vic reconheceu Dean e Sam no meio dos personagens.

– Vic... Vic... – ambos chamavam por ela e procuravam-na por todos os lados naquele lugar

– Eu estou aqui! – ela gritou automaticamente – Estou aqui!

Levantou-se, agachou-se em frente à televisão e começou a acenar.

Que ótimo! Como se eles pudessem vê-la...

Collins percebeu que estavam em algum tipo de dimensão paralela e que não havia a menor possibilidade de se comunicar com eles.

Nesse instante, uma morena clara vestida de jaleco branco se aproximou dos dois e estapeou Sam.

Vic estreitou os olhos. Quem era a vadia que se atrevia a tocar em seu Sam?

– 0 –

– Doutor. Sério – disse a mulher para Sam com raiva

– O quê? – Sam estava confuso pela bofetada

– Sério, você é brilhante, sabia? E um covarde. Um brilhante covarde.

– Do que está falando?

A mulher o estapeou de novo. O Winchester fez uma expressão de impaciência.

– Como se não soubesse... – ela respondeu indignada e deu meia-volta

– Não acredito nisso – pronunciou-se Dean que assistia a cena abobado.

– O quê? – indagou Sam

– Aquela era a Dra. Piccolo – ele avançou um pouco pelo corredor na direção tomada pela mulher – A sexy e séria doutora do... – parou diante da recepção e apontou um letreiro grande e dourado –... Seattle Mercy Hospital.

– Dean, do que você está falando? – Sam se aproximou do irmão e tocou-o no peito.

– As roupas de médico. As internas sexy. Os “sérios”. Tudo faz sentido.

– O que faz sentido? O que está acontecendo?

– Estamos no “Dr. Sexy”.

Vic piscou assombrada enquanto assistia o diálogo dos rapazes. Não era de assistir televisão e muito menos seriados, entretanto, já ouvira falar daquele.

Então aquele era o plano do trickster? Colocar os Winchesters no mundo da TV? Bem, ao que parecia não no mundo real, concreto, em que se viam as câmeras, mas dentro da história em si. E com que intuito? Será que queria se divertir à custa dos caçadores? Mas se fosse assim, por que a deixava de fora?

Do outro lado, os Winchesters debatiam a mesma teoria entre si. E Dean negava que assistisse o seriado já que tinha tantas informações a respeito. Pararam de falar assim que o tal Dr. Sexy surgiu por uma porta do corredor.

– O Dr. Sexy – sussurrou Dean

Era um homem alto, cabelos pretos e longos até o pescoço, cavanhaque e olhos negros. Também vestia um jaleco branco. Aproximou-se dos Winchesters e parou diante deles.

– Doutor – disse para Dean

– Doutor – respondeu o loiro

– Doutor – disse o Sexy para Sam.

Este se limitou a acenar com a cabeça. Dean lhe deu uma cotovelada para que respondesse da mesma forma que ele. O moço entendeu.

– Doutor – respondeu Sam

– Dê-me um bom motivo porque desafiou minha ordem direta para fazer o experimental transplante de rosto na senhora Beale? – ele dirigiu a pergunta para Dean

– Um motivo? – o loiro gaguejou. O médico esperava. – Claro.

Ele sorriu e abaixou os olhos sem graça para pensar numa resposta. Sua expressão mudou ao ver que o Sexy usava tênis brancos. Imprensou o médico na parede.

– Você não é o Dr. Sexy – afirmou

– Está louco.

– Sério? Porque o que deixa sexy o Dr. Sexy é o fato dele usar botas de cowboys... não tênis.

– Você não é fã? – troçou Sam em resposta à negativa de Dean

– É um prazer, queima-filme – replicou Dean para o irmão.

– Chamem a segurança – disse o doutor em tom calmo e tedioso para duas médicas que vinham em direção a eles.

– Vai fundo, Chapa. Sabemos o que você é.

Súbito, todas as pessoas no hospital, exceto Sam, Dean e o Sexy congelaram no tempo e no espaço.

Dean estranhou e voltou a olhar para o médico. Este sorriu com ironia e transformou-se no trickster.

– Vocês estão ficando melhores! – disse com cinismo

– Cadê a Victoria? O que você fez com ela?

– Ah, não se preocupem. Ela está num lugar seguro. Eu não faria mal nenhum a ela. Seria... um desperdício. Que mulherão, hein?

No quarto, Vic revirou os olhos.

– Traga ela até a gente! – Dean perdeu a paciência e imprensou mais ainda o semideus na parede – E nos tire daqui.

– Ou o quê?

Ele tirou as mãos do loiro de seu pescoço e empurrou-o. O Winchester gemeu de dor pelo aperto que o trickster deu em seus braços e massageou-os.

– Não estou vendo as estacas, valentão – deu um tapinha amigo no ombro de Dean.

– Foi você no rádio da polícia, né? – indagou Sam – Isto é um truque?

– Olá?! Trickster? – respondeu como se Sam tivesse dito algo óbvio e apontou o próprio rosto – Qual é? Soube que vocês estavam na cidade. Não dava pra resistir... ainda mais com aquele espetáculo de mulher ao lado de vocês.

Dean se conteve para não avançar no semideus.

–Se você pensar em tocar na Vic... – a ameaça estava implícita em sem tom de voz

–Hum... Parece que alguém aqui morreria pela caçadora.

O loiro não respondeu àquela provocação, contudo, seus olhos pareciam querer saltar pelas órbitas. A expressão de Sam era semelhante a do irmão. O trickster olhou para ambos e deu uma risada zombeteira. Estendeu a mão para cima em sinal de paz.

– Relaxem, amigos. Como eu disse, sua amiga está segura. Não vou encostar nela e nem mordê-la... a não ser, é claro, se ela me pedir.

Se Vic pudesse, saltaria para dentro daquela TV e pularia no pescoço do trickster para esganá-lo.

– Onde estamos? – perguntou Dean contendo a irritação.

– Gostou? Foi tudo feito em casa. Meus próprios sets, meus próprios atores. – deu uma batidinha de leve na janela e mostrou as pessoas – Digamos que seja a minha tevezinha.

– Como podemos sair?

– Isto, amigo, é a pergunta de sessenta e quatro dólares.

– Que seja. Queremos falar com você – Sam resolveu usar de diplomacia –Precisamos de sua ajuda.

O Trickster fez uma cara estranha, entretanto, sua expressão se iluminou de compreensão e girou o dedo indicador para eles.

– Me deixe adivinhar. As duas antas destruíram o mundo e me querem para varrer a bagunça?

– Por favor. Só cinco minutos. Nos escute.

– Claro. Façamos o seguinte. Se sobreviverem às próximas vinte e quatro horas, conversaremos.

– Sobreviver ao quê? – inquiriu Dean

– O jogo!

– Que jogo?

– Este jogo.

Levou alguns segundos para o loiro processar a informação.

– Como jogamos? – continuou

– Já estão jogando.

– Quais são as regras?

O trickster não respondeu, mas piscou como se dissesse que eles descobririam em breve. E desapareceu.

– Filho da mãe! – exclamou Dean

Victoria estava aturdida. Vinte e quatro horas de TV? Ela não aguentaria ficar ali parada sem poder fazer nada para ajudar seus companheiros. Esperava que não houvesse nada aterrorizante que pudesse ferir os dois. Nada do tipo O massacre da serra elétrica.

– Preparada para a maratona Os Winchesters versus Trickster? – a voz zombeteira do semideus voltou a tirá-la de seus pensamentos.

Ela se virou em direção ao sofá onde mais uma vez o Brincalhão estava sentado.

– Que espécie de jogo você está tramando, seu sádico! – esbravejou Collins se pondo de pé.

– Calma, minha deusa. Relaxe e aproveite o programa.

Collins avançou e deu outro murro no irritante ser em resposta. Ele apenas pegou de leve no queixo como se o golpe não o tivesse abalado.

– Eu não estou pra brincadeira! Me tire já deste lugar e tire eles de lá! – apontou para a televisão.

– Sabe, você tem duas opções: ficar aqui esmurrando minha cara até se cansar ou assistir pra ver o que acontece. Por mim, eu não me importo com a primeira opção. Adoro ser maltratado, pisado e algemado. Pode vir, gata!

Victoria bufou e foi se sentar na beira da cama. Percebeu que ia perder seu tempo. Fingiria que aquela criatura não estava lá.

– Ah, se estiver com fome, a geladeira está bem abastecida – continuou ele e apontou a minigeladeira.

– Espero que você engula tudo e vomite até morrer! – replicou Vic

O Brincalhão riu com o atrevimento da destemida caçadora.

– Ah, Victoria, gostei muito de você! É uma pena que você esteja interessada nos caras errados.

Victoria estreitou os olhos, mas ignorou o comentário dele. Voltou a prestar atenção no seriado. Aquela tal de Dra. Piccolo tinha estapeado Sam outra vez e depois, começou a se derreter de amores para o lado dele e enaltecer suas qualidades como “um brilhante cirurgião”.

Vic queria poder esmurrá-la também.

– 0 –

Os rapazes continuaram a andar por um dos corredores daquele hospital.

– Doutor? – um homem baixo, loiro, de cara meio enrugada e barbas chamou por Dean

– Diga – tornou o loiro com impaciência

– Minha mulher precisa de transplante de rosto.

– Quer saber, amigo? Nada disso é real. E a sua mulher não precisa de coisa nenhuma.

E se afastou junto com Sam. O sujeito ficou profundamente ressentido com as palavras do caçador e sacou um revólver.

– Dean, cuidado! – Vic gritou, mas é claro que não podia ser ouvida.

– Doutor? – o indivíduo chamou Dean que não seu deu o trabalho de se virar

Então atirou no Winchester pelas costas e correu.

– Dean, não! – Vic estava desesperada

– Hum, até que enfim algo pra movimentar esse episódio. Já tava ficando chato – comentou o Brincalhão

– Dean! – Vic ignorou o Trickster e continuou a acompanhar com aflição o desenrolar dos fatos.

Sam acudiu o irmão que estava realmente ferido e pediu ajuda médica. Entretanto, para seu desespero, ele foi o designado para proceder a cirurgia de remoção da bala.

Foram para a sala de cirurgia. Dean deitado de bruços na maca com o rosto preso a um buraco do encosto da cabeça. Uma equipe médica se reunia em torno deles aguardando as instruções de Sam que não fazia a menor ideia de como proceder.

– Já chega dessa palhaçada! – vociferou Collins para o trickster - Diga logo o que você pretende com esse jogo! Não torture mais eles assim! E nem a mim...

– Shhhh – o Brincalhão pôs a mão nos lábios para acalmar a caçadora – Tenha um pouco de fé nos seus companheiros. Eles vão sair dessa.

Collins suspirou e pôs as mãos na cabeça. Não se aguentava de aflição.

– Vamos, Sam... Você consegue! – disse como se estivesse sentindo a mesma angústia que o Winchester assim como sentia que passava pela mesma dor que Dean.

Felizmente, Sam dominou a situação. Pediu à equipe que lhe trouxessem objetos nada convencionais (canivete, fio dental, agulha de costura e uma garrafa de uísque) com os quais iniciou a cirurgia.

Depois de algum tempo, conseguiu estabilizar o estado de Dean.

– Terminou? – questionou Dean com um imperceptível tom de pânico na voz

– É, você vai ficar bem. – tranquilizou Sam

A Dra. Piccolo que observava Sam do outro lado do vidro da sala, chamou a atenção dele.

– Eu te amo – declarou-se ela. Colocou a mão no vidro e suspirou.

Raiva e alívio se mesclaram no interior de Vic.

– Eu não disse? – comentou o trickster para confirmar o que tinha dito – Esses garotos se saem bem de qualquer situação. Antes que Vic o mandasse para o inferno ao olhá-lo com extremo ódio, ele indicou – Ah, como eles jogaram bem o jogo, vão mudar de ares.

E com um estalar de dedos do semideus, a televisão mudou para outro canal.

– O que você fez? – sibilou Collins

– Calma, docinho, eles estão bem. Olhe – apontou para a tela.

De fato, os Winchesters estavam numa espécie de programa de outro idioma. Um japonês baixinho de meia-idade e paletó cinza entrou por uma porta azul.

– Vamos brincar de “Quebra, Nozes!” – o homenzinho vibrou enquanto as palmas da plateia ecoavam.

Ainda sem entender, os Winchesters se entreolharam e vislumbraram o local onde se encontravam.

Além do japonês – que devia ser o apresentador do programa – estavam presentes duas assistentes vestidas com uma minúscula roupa e com um chifrinho de brinquedo na cabeça. E havia um painel de todo o tamanho à esquerda de ambos.

Os dois estavam parados de lados opostos, cada um em cima do que parecia um tipo de bancada com um pequeno pilar com um botão vermelho no meio. Uma manivela de tamanho considerável estava deitada diante deles e, em sua extremidade, ficava presa uma bola do tamanho de uma de tênis.

– Isso não vai prestar. – Vic comentou com um mau pressentimento.

– Este jogo é demais! – exclamou o trickster e esfregou as palmas das mãos todo animado.

– Sam Winchester – disse o apresentador olhando para o moço após tirar um envelope do paletó – Qual era o nome do demônio que você preferiu no lugar do seu irmão?

A pergunta fora dita em japonês, porém, com a legenda em inglês para quem via da TV.

– O quê? – perguntou o rapaz sem ter entendido uma única palavra.

– Essa... Ele me contou. Ruby, Sam, Ruby – exclamou Vic enquanto balançava a mão. Sentia que era vital para o Winchester responder.

– Eu não entendo japonês – disse Sam para o apresentador.

Este repetiu a pergunta no mesmo idioma. No placar, a contagem regressiva já tinha se iniciado e o tempo de Sam se esgotava.

Por fim, o tempo acabou. Um “Ah!” geral soou da plateia.

– A resposta é... Ruby. – disse o japonês no idioma dos rapazes – Lamento muito, Sam Winchester – ele disse em um tom pesaroso.

– Lamenta pelo quê? – indagou Sam com inquietação

De repente, a alavanca da bancada onde Sam estava se levantou de uma só vez e a bola da extremidade acertou “nas bolas” de Sam. Ele mal conseguiu emitir um grito de dor e suas mãos foram até a região atingida. Dean tapou a boca completamente assombrado e viu que tanto seus pés como de Sam estavam presos. Não havia como sair dali.

–Ahhhhhh! – o grito de Vic foi alto. Ela ficou boquiaberta. – S... Sam... Oh, meu Deus!

– Quebra-nozes! – vibrou o japonês

O trickster gargalhava sem parar no sofá.

– Que... goleada! – disse

Vic avançou nele com tanta fúria e deu-lhe outro murro.

– Acha isso engraçado? Toma! – mirou nas partes baixas do Brincalhão e tentou lhe aplicar um chute

Todavia, o sofá encolheu para trás onde ela tinha mirado e o pé dela só acertou o chão.

– Aí não, neném. Volte pra lá – ele ordenou com um leve balançar da mão

Vic foi arrastada até a beira da cama e caiu no mesmo lugar em que estava.

– Filho da mãe! – ela disse enquanto o semideus a encarava com um sorriso de deboche. Ela voltou a olhar para o programa.

Justamente nessa hora, Castiel entrava pela porta azul. O japonês se pôs em posição de luta assim que viu o anjo.

– O que aquele intrometido do Castiel pensa que está fazendo? –o humor do trickster sumiu na mesma hora

– Ahn!? – Vic murmurou – Você... conhece o Cass?

O Brincalhão a ignorou e sumiu de vista.

– Cass? – Dean ficou confuso com a entrada do amigo

– É outro truque? – perguntou Sam ainda com as mãos na parte dolorida

– Sou eu – afirmou Cass e ficou entre eles – O que fazem aqui?

– O que você faz aqui? – Dean devolveu a pergunta

– Procurando vocês. Estão sumidos.

– Então nos tire daqui.

– E a Victoria? – ele a procurou por todos os lados, mas não a viu.

– Não sabemos, mas... tire a gente daqui primeiro. Depois, a gente vai achá-la.

– Vamos.

No entanto, quando ia tocá-los, sumiu como se tivesse sido desligado.

– Cass? – Dean o chamou preocupado

– Não, não, não, não. – o japonês se aproximou deles – O Sr. Trickster não gosta de anjinhos.

Dean estranhou aquela informação. O apresentador tirou outro envelope do paletó e olhou para o loiro.

– Dean Winchester... Seu pai e sua mãe ainda estariam vivos se Sam Winchester nunca tivesse nascido? (pergunta em japonês)

– Sim! Sim! Diga sim, Dean! – Vic estava em pânico. Não queria que o loiro também levasse uma cacetada “lá”. E se continuassem levando mais aquelas, talvez nunca mais pudessem...

– Não! Sai pra lá pensamento ruim! Vamos, Dean, vamos – Collins fez figa nas duas mãos e tentou pensar positivo.

Por fim, os Winchesters entenderam exatamente o que tinham que fazer: seguir o papel, como Sam tinha feito a operação no seriado do Dr. Sexy. Eles tinham que fazer seus papéis. Isso era o jogo. Ou pelo menos o que supunham.

Dean apertou o botão de sua bancada e, apesar de não saber uma palavra em japonês, conseguiu dizer uma palavra qualquer como se fosse a resposta: soutusu .

Apesar de Vic saber que tal palavra não tinha nada a ver (ela conhecia um pouco de japonês), respirou com alívio ao ver que a legenda traduziu como “sim”.

– Isso, Dean! – ela exclamou

Levantou os dois punhos para o alto. Queria poder encher de beijos seu colega.

Dean foi declarado campeão do Quebra-Nozes.

– 0 –

Vic acompanhou a incursão dos Winchesters em todos os canais, em diversos tipos de programas, filmes, seriados e até propagandas.

Seu coração quase saltou para fora diversas vezes quando eles foram parar em filmes de terror (na mira de zumbis comedores de cérebro) ou filmes policiais e de faroeste (na mira de balas e tiroteios).

E, a contragosto, riu de algumas situações como, por exemplo, Sam ser obrigado a anunciar uma propaganda de um remédio chamado Herpexia, indicado para quem tinha herpes genital. O Winchester teve que declarar que sofria desse mal e que suas chances de transmitir a doença tinham se diminuído graças ao medicamento. Ainda bem que ele não sabia que ela o estava assistindo.

Nesse meio tempo, ela se alimentava de vez em quando de sanduíches, sucos e frutas que havia na minigeladeira. Teve um pouco de receio de a comida estar com alguma substância que a fizesse dormir – e o trickster se aproveitar dela. Contudo, pelo pouco que conversou com o semideus, algo lhe fez crer que ele não faria semelhante coisa. O Brincalhão podia ser um sádico, cruel e descarado de primeira, mas, por ter um fraco por mulheres, era um cavalheiro a seu modo.

Vic não o viu mais desde o jogo do Quebra-nozes. Estava intrigada. Ele parecia conhecer Castiel quando este surgiu no meio do programa e ficara muito zangado por vê-lo.

Assim que uma propaganda com Dean anunciando o modelo de um novo carro (e que ele parecia aliviado e satisfeito de fazer) acabou, um novo programa começou. Era um seriado de comédia intitulado “Sobrenatural”.

Mostrou uma enorme casa verde por fora. Em seu interior, Dean estava na cozinha que era decorada com um papel de parede esverdeado e cheio de flores grandes e brancas. O Winchester guardava ketchup e mostarda na geladeira. Depois, virou-se e contemplou um gigantesco sanduíche em cima da mesa.

– Vou precisar de uma boca maior – disse com um sorriso de satisfação.

Um som de risadas ecoou pelo espaço. Vic também riu. Aquele Dean!

Sam entrou na cozinha. Dean se virou para ele e perguntou-lhe:

– E aí, Sam? O que tá rolando?

– Ah, nada. Só o fim do mundo – falou de modo displicente com as mãos na cintura enquanto um novo murmúrio de risadas ecoava. Olhou para o sanduíche – Vai precisar de uma boca maior.

Dean fez expressão de quem diz “Foi o que eu acabei de dizer comigo mesmo”.

– Já fez sua pesquisa? – indagou Sam.

O loiro deu as costas para o irmão com uma cara de quem sabe que fez coisa errada, entretanto, respondeu:

– Já sim. Todos os tipos de pesquisa. A noite toda.

– É?

Uma morena clara entrou na cozinha por outra porta da casa – provavelmente, a do quarto – e estava vestida com um minúsculo biquíni. Barulho de assobios.

– Dean... temos mais “pesquisa” pra fazer – ela disse com voz sensual

– Dean!? – Sam cruzou os braços com ar de reprovação

– Filho da mãe! – exclamou Dean com uma expressão de desalento.

O trickster o estava expondo de uma maneira descabida!

A cena foi cortada dando espaço à vinheta do seriado com as estripulias de Sam e Dean.

– Filho da mãe! – foi a voz de Collins que exclamou.

A caçadora jogou o controle remoto da TV na parede do quarto. O objeto se espatifou. Não tinha utilidade mesmo, já que os canais mudavam de modo automático controlados pelo trickster.

Quer dizer que enquanto ela morria de preocupação por aquele loiro descarado, ele se divertia com uma vadia sem cérebro da ficção?

Que pena que tenha sido Sam a levar a pior no Quebra-Nozes! O irmão dele sem-vergonha é quem tinha que ter levado “nas bolas”. Assim aquietava o facho!

Collins procurou se acalmar. Afinal, não era da conta dela com quem Dean Winchester dormia ou deixava de dormir. Se bem que há muito tempo não o via desfilar com nenhuma outra mulher desde que se acertaram como amigos.

Na verdade, sua irritação era por tudo! Não aguentava mais nenhum minuto fechada naquele cubículo, sem poder fazer nada para ajudar seus companheiros.

Uma coisa era certa: nunca mais ia querer ver televisão na vida!

Suspirou. Já era noite no lugar onde se encontrava. A lua brilhava lá fora provocando marés na praia.

Vinte e quatro horas. Pelas suas contas, havia se passado cerca de onze horas do prazo estipulado pelo Brincalhão para que ele tirasse os Winchesters dali. Esperava que ele cumprisse a proposta.

Estava cansada, queria poder dormir. Todavia, não podia, pois tinha que estar atenta ao que aconteceria com os rapazes. Se pelo menos eles pudessem encontrar uma oportunidade de acabar com aquele maldito trickster!

Os comerciais com os rapazes tinham acabado e o episódio voltou ao ponto que tinha parado. Vic crispou os lábios com irritação.

– 0 –

Sam foi até a moça, pegou-a gentilmente pelo braço e conduzia-a até a saída enquanto lhe falava:

– Eu sinto muito, muitíssimo, mas... temos coisas a fazer.

– Mas já fizemos “coisas”! Muitas coisas – ela lançou um olhar para Dean ao passar por ele. Este sorriu malicioso.

A moça acenou para ele em despedida e ele retribuiu. Sam fechou a porta e balançou a cabeça.

– Quando será que isso vai acabar? – o loiro estava exasperado

– Não sei – Sam forçou um sorriso – Talvez nunca? Podemos morrer aqui.

Novas risadas.

– Qual é a graça? Seus exploradores! – Dean estava no seu limite de paciência

Castiel entrou para a surpresa dos caçadores. Estava coberto de machucados no rosto. Foi recebido com um som de palmas.

– Tudo bem? – indagou Dean

– Não tenho tempo.

– O que houve? – inquiriu Sam

– Eu saí.

– De onde? – tornou Dean

– Tem coisa errada. É mais poderosa do que deveria ser.

– O trickster?

– Se for um.

– Como assim? – Sam não entendeu

Antes que Cass pudesse explicar, foi arremessado de costas contra a parede e caiu no chão. Nessa hora, o Brincalhão entrou com animação.

– Oi.

Palmas ecoaram para ele. Enquanto isso, Cass se levantava aos poucos, porém, sua boca estava fechada por uma fita crepe cinza.

– Obrigado! Parem com isso, vamos! – ele agradecia as palmas que tinham aumentado. Por fim, cessaram. O semideus ser virou para o anjo com familiaridade– Oi, Castiel!

E, na mesma hora, Cass desapareceu.

– Você o conhece? – questionou Sam

– Aonde o mandou? – interpelou Dean

– Ele vai sobreviver... talvez.

– Já chega dessa biolagem, está bem? – Dean o confrontou – Já sacamos.

– É? Sacaram o quê, espertalhão?

– Fazermos os nossos papéis, né? É esse o seu jogo?

– Isso é metade dele.

– Qual a outra metade? – indagou Sam

– Fazerem seus papéis lá fora.

– Como assim?

– Você sabe! “Sam estrelando como Lúcifer, Dean estrelando como Miguel!” – apontou para ambos – Sua briga de celebridades. Fazer seus papéis.

– Quer que digamos sim para os filhos da puta?

– Com certeza. Vamos acender essa vela!

– Se fizermos isso, o mundo acaba!

– Sério, cara? E de quem é a culpa? Quem tirou Lúcifer da caixinha? Hein? – voltou-se para Dean – Olhem, começou. Vocês que começaram. Não pode ser parado. Vamos logo para os finalmentes!

– Céu ou inferno, de que lado você está? – interrogou Dean

– Nenhum dos dois.

– Sei. – o loiro riu com escárnio – Vai puxar pro lado do Miguel ou de Lúcifer?

– Escute-me, seu desgraçado arrogante – o Brincalhão se aproximou do caçador. Ainda mantinha o sorriso de deboche, porém, o tom não era mais de brincadeira – Não trabalho para nenhum dos filhos da puta. Acredite.

– Você é a putinha de algum deles, sim.

Aquela foi demais para o Brincalhão! Ele pegou Dean pela gola e imprensou-o na porta.

– Nunca, nunquinha, pense que sabe o que sou – disse com muita raiva. Soltou o loiro e depois encarou Sam – Agora, ouçam bem. Eis o que vai acontecer: vocês vão pegar, aceitar a responsabilidade e fazer os papéis que o destino escolheu para vocês!

– E se não fizermos? – Sam o desafiou

O trickster sorriu maldoso.

– Daí vocês vão ficar aqui na terra da TV. Para sempre. Trezentos canais e nada passando. Ah! E sua amiguinha vai continuar presa no lugar em que a deixei e vai enlouquecer de tanta televisão que vai assistir.

– Como assim?- Dean arregalou os olhos – A... Vic está nos assistindo?

– Sim. Ela tem acompanhado todos os filmes, seriados e comercias que vocês estrelaram.

Dean ficou boquiaberto. Isso significava que ela tinha visto a parte daquele seriado em que a moça do biquíni se apresentou. Droga!

Sam estava vermelho. Vic devia ter visto a propaganda do Herpexia.

– Oi... Vic – Dean não sabia em que ponto olhar, mas acenou para a caçadora com um sorriso constrangedor. Sam também fez o mesmo com o mesmo tipo de sorriso.

Collins maldizia o trickster. Antes ele não tivesse dito nada.

– Não se preocupem com nada, garotos – zombou o trickster – Ela já viu todos os seus ângulos e sofreu todas as dores que vocês tiveram. Mas... se vocês recusarem minha proposta, talvez eu a convide para estrelar La femme fatale para acabar com vocês.

– Seu...

Dean ia socar o semideus, porém, este estalou os dedos. Os Winchesters foram transportados para um seriado policial.

Na cena, era de noite e havia um morto numa campina cercado por policiais. Uma faixa amarela circundava o local.

Sam e Dean estavam de camisa azul, terno preto e óculos escuros.

– Ah, qual é! – exclamou Dean

Um homem baixinho e moreno claro se aproximou deles.

– O que você acha? – perguntou

– O que eu acho? Acho bom você se ferrar!

– Pode nos dar um tempinho? – pediu Sam. O homem assentiu. – Valeu. Acalme-se – disse com a mão no ombro do irmão

– Calma? Primeiro, a Vic está nos observando fazer papel de palhaço desde que tudo isso começou – o loiro olhou para cima como se desculpasse – Er... desculpe, Vic, somos... parceiros, mas mesmo assim isso é constrangedor.

Collins assentiu.

– Segundo, estou de óculos escuros à noite, feito aqueles retardados sem talento – continuou ele – Odeio este jogo. Odeio isso de série policial. E quer saber por quê? Porque eu odeio séries policiais! Tem trezentas delas na TV! São tudo igual! Tipo “um avião caiu aqui”. Ah, vá se ferrar!

Enquanto Dean falava, Sam olhava para o lado. Parecia notar alguma coisa.

– Ei – disse

– Fala.

– Olha o carinha ali – tirou os óculos e apontou o mesmo sujeito que dantes falara com eles.

O indivíduo estava perto de uma árvore e chupava um pirulito.

– Acha que é ele? – indagou o loiro

– Siga-me. – decidiu Sam após um breve momento de hesitação.

– Ai, meu Deus! – exclamou Vic.

Estava aflita. Tomara que a suspeita de Sam fosse acertada! Já não aguentava mais aquela agonia!

Ela acompanhou com atenção cada movimento dos Winchesters naquela cena. Eles se aproximaram com um fingido interesse no cadáver e chamaram o rapaz de que suspeitavam. Dean pegou uma grande vara para cutucar o ferimento do morto e distraiu o sujeito que riu de uma piadinha que os caçadores fizeram sobre a situação. Este deu as costas para falar com Sam e recebeu um golpe de Dean com a vara na altura do coração.

O homem se contorceu, caiu de joelhos e morreu na hora. O loiro percebeu que se enganara.

Um policial próximo a eles, de repente, gargalhou e transformou-se no trickster.

– Pegou o cara errado, seu burro! – zombou

– Tem certeza?

Sam pegou o Brincalhão desprevenido ao atingi-lo pelas costas com a ponta de uma tora de madeira.

– Isso! – Vic se levantou e bateu palmas

O semideus caiu duro no chão. As imagens daquele seriado se desvaneceram e Dean e Sam se viram de volta à fábrica.

O quarto onde Victoria estava também se desmanchou e ela se viu em frente à porta da fábrica. Abriu-a e gritou pelos rapazes:

– Dean! Sam!

A voz de Collins foi como uma melodia agradável aos seus ouvidos.

– Vic! – os dois responderam ao mesmo tempo e correram até ela.

Ela teve ímpetos de abraçar a ambos assim que chegaram perto dela, mas se conteve. Limitou-se em pegar num ombro de cada um.

– E aí, como vocês estão? – perguntou.

– Você sabe, você viu tudo. – respondeu Dean baixando os olhos

Ela estreitou os olhos para ele. Recordou-se da vadia de biquíni.

– É, eu vi tudo – disse irritada e virou-se para Sam com ar preocupado – Você... está bem? Não sente nenhuma dor? – olhou automaticamente para as partes baixas dele

Sam sabia que ela se referia ao programa do Quebra-Nozes.

– Sim. Aquilo... já passou. E você?

– Fora uma overdose televisiva e alguns comentários sarcásticos? Sim. Mas vamos embora. Foram longas horas.

– Eu é quem o diga – tornou Dean

– 0 –

Dean escovava os dentes no banheiro. Era de manhã. Dali a pouco, ele, o irmão e Vic iriam embora da cidade. Sam já estava pronto e aguardava no quarto.

O loiro refletia sobre sua relação com Vic. Bom, não é que havia uma relação entre eles – a não ser de amizade e coleguismo –, porém, estava claro que ambos se queriam. Só faltava a caçadora se decidir.

Todavia, ele estava preocupado se Collins ficaria com mais um pé atrás pelo simples fato de ele ter se divertido com a jovem de biquíni.

Oras, ele não tinha compromisso com Vic! Por que deveria se preocupar? E também foi uma forma de aliviar a tensão por aquela maratona que passou no mundo televisivo por causa do trickster.

Só que a indiferença com que se despediu dele à noite antes de dormir – ao contrário da despedida calorosa com Sam –, indicava que ela não considerava tais razões como desculpa.

Dean bufou. Eita mulher complicada!

Seus pensamentos se concentraram em Castiel.

– Estou preocupado com o que aquele filho da puta fez com o Cass – disse em voz alta para Sam após terminar a escovação – Sabe, cadê ele?

Não houve resposta por parte de Sam. Dean estranhou e saiu do banheiro. Não viu o irmão no quarto.

– Sam? Cadê você?

Ele devia estar lá fora. O loiro saiu, mas não os encontrou. Será que ele... estava com Collins no quarto dela? Deviam estar conversando.

O loiro não pôde deixar de sentir ciúmes, contudo, tratou de desvanecer esse sentimento. Bateu na porta do quarto de Collins.

– Vic? Vic?

Silêncio.

– Vic, está aí? Sam está com você?

Não houve resposta.

O Impala de Victoria estava ali encostado. Será que ela e Sam tinham resolvido caminhar juntos sem lhe comunicar? Aquilo o incomodou bastante.

Não, se fosse assim, Sam o avisaria. E ele com certeza teria ido junto. Não perdia a chance de impedir que seu irmão e Victoria ficassem sozinhos. Mas talvez por isso mesmo, Sam não teria lhe comunicado nada.

Ligou para o celular dele.

– É o Sam. Deixe seu recado – foi a resposta do correio de voz

– Sam, sou eu. Para onde diabos você foi? – ele entrou no Impala – Vic está com você?

– Dean – a voz baixa de Sam o chamou.

– Sam... – o rapaz o procurou pelos lados – Onde você está?

– Não sei.

O loiro percebeu que a voz de seu irmão vinha de um painel do carro. Sam era o carro.

– Ah, droga – ele próprio percebeu em que tinha se transformado – Não matamos o trickster.

– E acho que a Vic deve estar nos assistindo de novo neste momento.

De fato, Collins estava outra vez no quarto luxuoso e louca para matar o Brincalhão. Ela arrancou uma parte do móvel de madeira que sustentava a TV para transformá-lo em uma arma pontiaguda com que pudesse ela mesma trespassar o coração do cretino se ele ousasse aparecer por ali.

Deveria ter pensado nisso antes.

Na televisão, Dean percorria a estrada no “Sam”.

– A estaca não deu certo. Isso é outro truque? – indagou Dean tentando entender

– Não sei. Talvez a estaca não deu certo porque não é um trickster.

– Como assim?

– Você ouviu o Cass. Disse que essa coisa era poderosa demais pra ser um trickster.

– Notou o jeito que ele olhou pra Cass? Como se conhecesse ele?

– E ficou bravo quando tocou no assunto de Miguel e Lúcifer.

– Filho da mãe.

– O que foi?

– Acho que sei com o que estamos lidando.

Estacionaram no que parecia um bosque, em frente a um pequeno galpão. Dean mexia no motor de “Sam”.

– Dean?

– O que foi?

– Você pegando aí, é desconfortável.

O caçador perdeu a paciência e fechou o capô. Foi mais para frente.

– Tem certeza de que vai dar certo? – inquiriu Sam

– Não, mas estou sem ideias – olhou para o alto e gritou – Está bem, filho da puta. Peço arrego! Nós topamos – estendeu os braços para os lados

– Devo buzinar? – insinuou Sam

Não precisou, posto que aparecesse o trickster caminhando até eles.

– Sam, que rodão, hein! – zombou ele com seu sorrisinho irritante

– Vá se danar.

– Estão prontos para irem calmamente?

– Alto lá! Ninguém vai a lugar nenhum até o Sam ter polegares – exigiu Dean

– Qual é a diferença? Satanás vai montar nele de qualquer jeito.

Dean fez expressão de contrariedade. O semideus revirou os olhos e estalou os dedos. E logo Sam saiu de dentro do carro, um pouco confuso.

– Feliz? – perguntou o Brincalhão.

– E agora, traga a Vic de volta.

– Não acha que está muito exigente? E pense bem, ela está segura. Acredite em mim, será melhor para ela ficar fora de tudo isso.

– Pode trazê-la ou não?

– OK. Vai querer mais alguma outra coisa acompanhando? Talvez um cheeseburguer com bacon.

O Winchester bufou, mas o trickster ignorou e estalou os dedos outra vez.

Collins saiu por entre umas árvores com os punhos cerrados e os dentes trincados. Estava morrendo de vontade de socar o trickster. Ele abriu os braços para recebê-la:

– Oh, aí está minha mortal favorita! – ele deu leves tainhas no próprio rosto – Pode vir que dou minha cara a tapas com prazer.

– Vic, não. – Dean se interpôs no caminho que ela já traçava bem próxima ao Brincalhão – Deixa pra lá.

– Tem razão, não vale a pena. Não quero estragar tudo pra vocês. – ela disse com ar de cumplicidade a Dean.

Dean nada comentou, mas percebeu que ela devia ter entendido o que se passava ali sem precisar trocar nenhuma palavra.

– Sério? Não vai fazer nenhum drama? – tornou o semideus parecendo decepcionado – Nada do tipo “por favor, não façam isso. Não se deixem levar pelas palavras desse perverso”?

– Desculpe te desapontar. Eu não sirvo pra esse tipo de papel – devolveu Vic

– Diga-me uma coisa – tornou Dean para o Brincalhão – Por que a estaca não matou você?

– Eu sou o trickster.

– Mas talvez não seja.

Sam jogou um isqueiro no chão perto do semideus. Um círculo de fogo se formou ao seu redor.

– Talvez sempre foi um anjo – tornou Dean

O trickster riu.

– Um o quê? Alguém colocou droga na sua vitamina?

– Façamos assim. Saia do fogo santo e será engano nosso.

Os três esperaram com calma. O Brincalhão ainda riu em tom debochado, porém, sua postura zombeteira desmoronou. A imagem do bosque sumiu e eles se viram novamente dentro da fábrica.

– Bem jogado, garotos. Bem jogado... – ele bateu palmas – Onde conseguiram o óleo santo?

– Pode-se dizer que tiramos do cu do Sam.

Sam olhou feio para Dean. Vic só balançou a cabeça para os lados.

– Onde eu errei? – continuou o suposto trickster

– Você não errou. Mas ninguém surpreende Cass como você fez – replicou Sam

– Foi mais pelo jeito em que falou do Armageddon – completou Dean

– Como assim?

– Experiência própria. Quando se fala da família, fica-se bravo pra caramba.

– Então... qual deles é você? – tornou Sam – Zangado, Atchim ou Babaca?

– Gabriel, beleza? – respondeu após uma breve pausa – Me chamam de Gabriel.

– Gabriel? O arcanjo? – inquiriu Sam

– O próprio.

– Sério? – Vic pareceu surpresa tanto como seus companheiros – Nossa, de mensageiro da vinda do Salvador pra... isso? – estendeu a mão com desdém para ele – Você caiu um bocado, hein?

O arcanjo olhou feio para ela.

– Gabriel, como um arcanjo se torna um trickster? – Dean retomou a palavra

– Minha própria proteção à testemunha privada. Eu fugi do céu, fiz transplante de rosto, esculpi meu próprio canto do mundo, até vocês estragarem tudo.

– Foi você que quis aparecer de diretor da vida deles – Collins o acusou

– E o que o papai disse quando se juntou aos pagãos? – indagou Dean

– Papai não tem opinião.

– Então o que houve? Por que fugiu? – quis saber Sam

– Eu entendo ele. Os irmãos dele são todos uns babacas – deduziu Dean

– Fecha a matraca. Não sabe nada sobre a minha família – ficou irado – Eu amava meu pai, meus irmãos, eu os amava. Mas vê-los se voltar um contra o outro? Um na garganta do outro? Não aguentava! Está bem? Então eu parti. E agora está acontecendo tudo de novo.

– Então nos ajude a impedir! – pediu Sam

– Não se pode impedir.

– Quer ver o fim do mundo? – Dean estranhou

– Eu quero que isso acabe! Vou ver meus irmãos se matarem graças a vocês! – esbravejou – Céu, inferno, eu não ligo para quem vença! Só quero que isso acabe!

– Não precisa ser desse jeito – Sam insistia – Tem que haver algum jeito de puxar a tomada!

Por um segundo, Gabriel olhou de um jeito estranho para Collins que a fez estremecer. Mas logo ele riu.

– Você não conhece a minha família. O que vocês chamam de Apocalipse, eu chamava de almoço de domingo. Por isso não tem jeito. Pois isso não se trata de uma guerra. Trata-se de dois irmãos que se amavam e se traíram. Vocês dois são iguaizinhos a eles!

– Como assim?

Gabriel olhou para Sam como quem diz “Você ainda pergunta?” e virou a cabeça de lado com deploração enquanto assobiava.

– Como vocês são lamentáveis! Por que acham que vocês são os recipientes? Pensem bem: Miguel, o irmão mais velho, leal ao pai ausente – olhou para Dean – E Lúcifer, o irmão mais novo, rebelou-se contra os planos do papai. – olhou para Sam – Vocês nasceram para isso, garotos! É o destino de vocês! Sempre foram vocês! Assim na Terra... – ergueu os braços para o alto e, depois, estendeu-os para frente com sarcasmo –... como no Céu. Um irmão tem que matar o outro.

O arcanjo tornou a olhar de modo estranho para Victoria. Ela sentiu um arrepio, uma sensação estranha de deja vu tomar conta dela ao ouvir aquelas últimas palavras.

– Como assim? – perguntou Dean

– Por que acham que sempre tive interesse em vocês? Porque desde que o Pai ligou as luzes por aqui sabíamos que tudo ia acabar com vocês. Desde sempre.

– Você fala como se eles já tivessem aqui há muito tempo, como se há séculos os observassem – Vic não disse a sentença como uma afirmação, era mais uma pergunta.

O arcanjo não respondeu, apenas sorriu de modo enigmático para ela.

– Isso não vai acontecer – afirmou Dean

– Lamento, mas vai. Gente, quisera eu que isso fosse um programa de TV. Respostas fáceis, finais com aplausos. Mas isso é real – disse com sincero pesar – E vai terminar em sangue para todos nós. É assim que tem que ser.

Os três nada disseram: Dean e Sam suspiraram procurando disfarçar suas inquietações. Vic parecia muito perturbada com toda aquela conversa, com uma sensação indefinível de algo que ia acontecer, mas que, ao mesmo tempo, ela tinha impressão de já ter ocorrido e que ela fazia parte disso.

– Então, garotos... E agora? – tornou o arcanjo – Ficar olhando para o outro pelo resto da eternidade?

– Antes, traga o Cass de volta para cá – exigiu Dean

– Trago é?

– Traga. Ou vamos enfiar você em óleo santo e vamos fritar um arcanjo.

Pressionado, Gabriel estalou os dedos e Cass apareceu ofegante atrás dos caçadores.

– Cass, você está bem? – perguntou Dean

– Estou bem – ele olhava o arcanjo – Olá, Gabriel.

– E aí, mano? Como vai a procura pelo Papai? – Gabriel disse com sarcasmo – Vou chutar: terrível.

– Vamos dar o fora daqui – sugeriu Dean – Vamos, Sam. Vic – pegou de leve no ombro da moça. Ela ainda refletia sobre as palavras do arcanjo.

Castiel e os caçadores se afastavam.

– Ei, pessoal! E agora? – chamou Gabriel – Vão me deixar aqui para sempre?

– Não. Porque não ferramos com os outros como você – Dean parou perto de uma caixinha vermelha de vidro com uma alavanca para incêndio. – E pro seu governo... isso não se trata de uma luta entre seus irmãos ou um destino que não pode ser impedido! Trata-se de você estar com muito medo de enfrentar sua família.

O loiro quebrou o vidro e ativou a alavanca. Um compressor num cano acima do local onde estava Gabriel espirrou água no círculo de fogo e foi apagando aos poucos.

– Pra não dizer que nunca fiz nada por você – afirmou Dean

Os caçadores saíram e, por último, Castiel que dirigiu um último olhar a Gabriel. O fogo se apagou.

– De tudo o que ele disse, será que é verdade? – questionou Dean enquanto se aproximavam do Impala

– Ele acredita que é. – respondeu Sam

– Então o que faremos?

– Não sei.

– Eu sei o que faremos – contestou Vic e parou ao lado de uma das portas traseiras do carro – Vocês vão permanecer firmes em sua decisão de não dizer “Sim” a nenhum desses babacas. E eu vou estar por perto pra garantir que vocês não desistam.

– Uh, assim me sinto bastante animado e seguro! – zombou Dean – Nossa heroína!

– Ah, cala a boca! – Vic sorriu

Sam nada disse. Seu rosto ficou sério de repente. Lembrou-se do aviso implícito nas palavras do arcanjo: seria mais seguro para Victoria não se meter naquela batalha.

– Você também já tinha sacado que o trickster podia ser um anjo naquela hora que ele te trouxe de volta, não é? – inquiriu Dean

– Sim, na hora em que vocês começaram a questionar se ele era mesmo um trickster e sobre a reação dele ao Cass. E me lembrei de que no jogo do Quebra-Nozes, quando o Castiel apareceu, ele estava comigo e ficou puto de repente. Ah, isso me lembra – ela se virou para Castiel – Castiel? Você vem com a gente?

– Não. Tenho que continuar minha procura.

– É que... antes que você vá, eu queria me desculpar pelo o que eu te disse naquele dia sobre você... por ter tentado matar o Jess – respondeu Vic.

– Não se preocupe, você... estava certa. E não é a primeira pessoa a me criticar pelo meu jeito radical de ser.

– Nós fomos os primeiros – respondeu Dean.

– E várias vezes – completou Sam.

– Desculpas aceitas – ele sorriu para Vic. Teve a impressão de que ela queria dizer mais alguma coisa, porém, não na frente dos Winchesters – É melhor vocês irem de uma vez.

Eles entraram no carro. Iriam passar no motel só para pegarem suas bagagens e o carro de Victoria que ainda estava estacionado no local.

– 0 –

– Muito bem, o que você queria me perguntar que Dean e Sam não podiam saber? – perguntou Castiel no banco de trás do carro de Vic.

Vic tomou um susto e colocou a mão no peito. Tinha acabado de dar partida no carro. Os rapazes tinham saído na frente e ela os seguiria.

– Que susto, Castiel! Por favor, não faça mais isso.

– Desculpe. É melhor você ir – indicou ele.

Collins dirigiu em silêncio e pensou nas perguntas que faria ao anjo. Ainda bem que ele tinha notado sua necessidade urgente de falar a sós.

– Eu queria perguntar se realmente não existe uma maneira de evitar tudo isso? - ela começou

– Pra ser sincero, eu não vejo como. Mas... esses dois vão encontrar alguma maneira. Eles não são de se subestimar. E acho que talvez esse possa ser o erro de Miguel e Lúcifer e meus outros irmãos.

– E também você está procurando por outras vias, quer dizer, procurando Deus.

– Exato.

– Mas... não, deixa pra lá.

– Diga.

– Não se diz que o reino de Deus está dentro de nós? Se é assim, por que procurar Deus fora?

Castiel esboçou um sorriso espontâneo.

– É muito raro encontrar humanos como você, Victoria, ainda mais caçadores.

Vic ficou lisonjeada com o comentário, mas nada disse.

– Na teoria isso parece simples, mas... do que eu sei, Deus só está naquele que acredita. E ele se ausentou do mundo dos homens depois de ver as coisas terríveis de que eles são capazes. E com essa briga entre Miguel e Lúcifer, creio que ele resolveu não intervir porque não quer tomar partido de nenhum de seus filhos. Eu espero encontrá-lo e convencê-lo a ficar do lado dos homens que não têm culpa dessa disputa sem sentido.

Vic não concordava com aquele ponto de vista sobre Deus, porém, resolveu não discutir.

– Você não concorda comigo – observou Cass.

–Pra ser sincera, não, mas... isso não importa. Tem outra coisa que eu gostaria que você me explicasse.

– Diga.

– Antes de conhecer Dean e Sam, eu... sonhava com eles.

E relatou ao anjo todos os detalhes que se recordava de seus sonhos até o momento de conhecer os Winchesters.

– Como você me explicaria isso? O que significa? – concluiu ela.

– Você pesquisou a respeito? – ele parecia um pouco perturbado com aquelas revelações

– Pesquisei, mas... o que li não faz sentido.

– Tipo?

– Coisas como viagem astral, vidas passadas, almas gêmeas. Mas nenhuma se encaixa pra nossa realidade. Vidas passadas implica na teoria da reencarnação e já está comprovado para mim que isso é inviável. Dean esteve até no inferno. Almas gêmeas nem se fala, eu teria que sonhar só com um... pra considerar como minha alma gêmea e eles... são dois. Então isso não se aplica. O que pode ser?

Cass não respondeu.

– Você não pode me dizer? –ela insistiu

– Os sonhos devem ser um aviso de um destino em comum. Vocês... tinham que se encontrar para tentar impedir o Apocalipse – ele respondeu, mas seu tom de voz não convenceu Vic.

– E que papel eu teria em tudo isso?

Como Castiel permanecesse em silêncio, Vic concluiu que ele não sabia ou estava escondendo alguma coisa. Essa última constatação era a mais adequada. Todavia, percebeu que seria inútil insistir.

– Você está apaixonada pelos dois. – foi tudo o que ele disse.

O rosto de Collins queimou de vergonha. Aquele anjo sabia ser bem direto quando queria.

– Não precisa me responder. Vejo em seus olhos. E não precisa se preocupar que não direi nada. – olhou para ela com compreensão – Mas... espero que você não se machuque e nem a eles.

Collins ia contestar, mas ao olhar rapidamente para trás, Cass já tinha ido embora.

– 0 –

Victoria despertou de seu cochilo. Ela dormia com a cabeça encostada no vidro da porta do carro. Viu em seu relógio de pulso que passava da meia-noite.

Ela estava em algum ponto da longa estrada que os conduziria para outro estado, outro caso que ela e os Winchesters tinham resolvido pegar após verem um noticiário mais cedo numa parada.

Como demorassem a encontrar um motel e estivessem muito cansados (principalmente, os rapazes após a exaustiva aventura no mundo da TV), resolveram pernoitar naquele trecho mesmo, num acostamento.

Vic deu uma espiada no carro dos meninos parado ao lado do seu a poucos metros. Vislumbrou Dean apoiado com a cabeça no vidro com os braços cruzados e a boca aberta. Ela não viu Sam, talvez estivesse deitado no banco de trás.

Collins tentou pegar no sono, mas não conseguiu. Saiu do carro e resolveu dar uma caminhada. Não deixou de levar seu revólver, água benta e uma faca de prata. Nunca se sabia com o que se poderia encontrar.

Ela se embrenhou por algumas árvores que ficavam por ali. Andou por um bom tempo até divisar um barranco. Foi para lá, mas parou de repente: tinha um homem parado na beira. Hesitou se continuava, porém, reparando no porte do sujeito, pareceu-lhe familiar. Era Sam.

– Sam? – chamou-o

Ele virou a cabeça em sua direção.

–Vic? – respondeu ao chamado.

Collins se aproximou. Sam alargou o sorriso ao vê-la.

– O que está fazendo aqui? – ele perguntou quando ela se pôs ao seu lado a uma considerável distância.

– Eu... estava sem sono e resolvi caminhar um pouco. E você?

– Parece que o deus Hipnos não quis me visitar também – riu

Vic também riu com ele. Um silêncio se instalou. Era estranho estarem ali sozinhos, aliás, era raro. Vic evitava a todo custo ficar sozinha com um dos Winchesters e tinha a ligeira impressão de que um evitava que o outro também ficasse sozinho com ela.

Victoria olhava para frente, porém, tinha plena consciência do olhar de Sam sobre ela.

– Como você... está depois de toda essa experiência? – ela indagou mais para disfarçar os tremores e a palpitações do coração.

– Pra ser sincero, acho que preferia estar de volta no mundo da TV do que ter que enfrentar tudo isso que tem pela frente.

– Por favor, não me diga isso! Eu já não gostava muito de TV. Depois dessa, quero distância.

Eles riram juntos mais uma vez e olharam-se com mais intensidade.

– Mas... sério, o que te preocupa? – ela voltou a perguntar.

– Tudo. Eu me sinto responsável por todas as coisas que vão acontecer daqui em diante. Já estava ruim e com Lúcifer e o Apocalipse pra acontecer, piorou. E também... tem o Dean – ele abaixou a cabeça.

– O que tem ele?

– Sei que... ele está se esforçando pra seguir comigo nesta batalha... ele quer acreditar que vai dar certo e que eu não vou falhar... de novo. Mas ele não me engana, não consegue. Por mais que disfarce, eu vejo nos olhos dele a hesitação, o desapontamento... e também que ele me culpa por tudo isso que está acontecendo.

– Não pense assim, talvez... seja só impressão sua. Talvez ele esteja tão angustiado quanto você por causa dessa responsabilidade de ter que ser um dos pilares para o Apocalipse – suspirou – Essa coisa de destino é incômoda!

– Nem me fale. Eu... não posso aceitar que não existe outro caminho. Que tudo o que me aconteceu de ruim tenha sido programado pra que eu chegasse até aqui – suspirou – Eu não quero dizer sim para Lúcifer!

– Então não diga! - Vic se aproximou mais de Sam. A angústia que via nele a comovia – Você é dono do seu destino! É nisso que eu acredito!

– Será mesmo? Começo a me perguntar se Gabriel não está com a razão.

– É claro que não está! Ele é só mais um anjo babaca.

– Mas ele sabe das minhas fraquezas. Ele sabe que uma delas é Dean. O pior que não só ele, mas... Lúcifer também. Tenho medo de que ele use isso pra me obrigar a dizer sim pra ele e... eu não posso. Sei que não posso porque isso decepcionaria Dean... e também outras pessoas – olhou para Vic com intensidade.

– Sam... –ela tentou tranquilizá-lo.

– Se eu pudesse simplesmente morrer, seria o melhor! – exclamou o moço com angústia – Mas isso... nem mesmo isso eu posso... porque... ele me traria de volta.

– Cale a boca, Sam Winchester! - gritou a moça e, por impulso, pegou no rosto do homem com ambas as mãos e se aproximou mais dele. Fitou-o com firmeza nos olhos – Não fale isso nem de brincadeira! Você não pode e nem deve morrer! Eu não suportaria se alguma coisa te acontecesse.

A respiração dela falhou ao proferir a última frase. Sam também parou de respirar por um segundo ao ouvi-la se pronunciar daquela forma e pela aproximação de ambos. Eles estavam com os corpos bem próximos. Seus corações começaram a acelerar quase no mesmo ritmo. Ele sentia o suave perfume que vinha das mãos dela.

Victoria percebeu que acabara de cometer um erro. Contudo, seu corpo e seu coração não obedeciam a sua mente que clamava para se afastar. Seus olhos estavam presos nos dele. Duraram apenas alguns segundos o olhar, mas pareceu transcorrer um milênio. E, como se fosse de comum acordo, Sam abaixou sua cabeça ao mesmo tempo em que Vic procurava levantar um pouco o corpo. Os rostos se aproximaram e os lábios se tocaram.

O deserto 
Que atravessei 
Ninguém me viu passar 
Estranha e só 
Nem pude ver 
Que o céu é maior 
Tentei dizer

A princípio, Sam apenas se permitiu saborear os lábios de Vic sem aprofundar o beijo. Eram doces e macios. As mãos de Collins acariciaram o rosto masculino e entranharam-se pelo cabelo dele até chegarem ao pescoço e rodearem-no. Uma mão do Winchester deslizou pela lateral do corpo feminino enquanto que a outra subia pelos cabelos longos e sedosos da mulher.

Mas vi você 
Tão longe de chegar 
Mas perto de algum lugar

Sam beijava com suavidade e deslizava seus lábios pelos dela, até que começou a mordiscá-los com leveza. Um gemido involuntário saiu da garganta de Vic. Só com aquelas pequenas carícias entre os lábios, os dois se sentiram transportados para outro mundo.

É deserto 
Onde eu te encontrei 
Você me viu passar 
Correndo só 
Nem pude ver 
Que o tempo é maior

Depois de algum tempo, Sam a puxou mais para si encaixando o corpo dela ao seu e aprofundou o beijo. Explorou avidamente o interior da sua boca com a língua. O gosto dela era tão bom! Ele enroscava os dedos nos fios do cabelo dela. Depois, deslizou-os no rosto suave de Collins e em seu pescoço para sentir a textura macia de sua pele.

Olhei pra mim 
Me vi assim 
Tão perto de chegar 
Onde você não está

As mãos de Sam percorreram toda a extensão das costas de Vic, subiam e desciam. As mãos dela ora se concentravam nos ombros dele, ora iam para seu cabelo e ora voltavam a enroscar o pescoço dele. Era como se não tivessem mais controle de seus corpos. Suas línguas se encontravam como se realizassem uma dança luxuriosa dentro de suas bocas. Sentiam o hálito e o gosto um do outro. Eles estavam em brasa! Era algo incrível! Nem um romance seria capaz de descrever as sensações que tinham. Nem mesmo os beijos que trocaram em sonhos podiam ser tão reais e intensos como aquele!

No silêncio uma catedral 
Um templo em mim 

 

Sem saber o que fazia ou via, mais por instinto, o Winchester os conduziu para uma árvore próxima e prensou o corpo de Vic. O beijo se tornou mais urgente e quente. As poucas vezes que desgrudavam as bocas era só para puxarem o ar para os pulmões e mergulharem novamente um na boca do outro. Sam deslizou uma mão para uma perna de Collins e levantou-a para que se encaixasse em seu tronco. Ela estava de calças, mas mesmo sob o tecido, podia sentir o corpo másculo de Sam contra o dela.

Onde eu possa ser imortal 
Mas vai existir 
Eu sei 
Vai ter que existir 
Vai resistir nosso lugar

Eram tantas sensações que suas mentes não conseguiam se focar em nenhuma: deslumbramento, excitação, felicidade, ânsia. Sentiam que o mundo tinha desparecido para eles e não havia mais nada. Suas bocas, suas línguas, seus perfumes tinham se tornado um.

Solidão 
Quem pode evitar 
Te encontro enfim 

 

O tempo para eles também tinha desparecido. Não sabiam se estava há horas se beijando ou apenas minutos.

Meu coração é secular 
Sonha e deságua 
Dentro de mim 

 

Vic sentiu a língua de Sam migrar da sua boca para seu pescoço e as mãos dele desabotoarem sua camisa. Se não fosse um medo repentino que alertou sua mente, não teria forças para pará-lo.

Amanhã devagar 
Me diz 
Como voltar... nãoooo

– Sam! – ela o afastou com os braços assustada com as próprias reações. Quase se deixava levar.

Uhhhhh

– Vic... – ele disse ofegante e confuso. Estava um pouco envergonhado por ter perdido o controle e quase passar dos limites sem saber se podia. Encostou sua testa na dela.

Os dois ficaram mudos. Estavam com os olhos fechados tentando processar toda aquela avalanche de sentimentos. Suas respirações aceleradas voltavam ao normal aos poucos.

Se eu disser 
Que foi por amor 
Não vou mentir pra mim

Por fim, Vic tirou sua testa da dele e empurrou-o levemente para se desencostar da árvore.

– Acho... melhor eu ir – disse Collins sem encará-lo.

– Vic, eu...

– Por favor, Sam, agora não – ela pediu e estendeu a palma da mão – Eu preciso ir.

E sem esperar resposta dele, Victoria saiu caminhando às pressas.

Se eu disser 
Deixa pra depois 
Não foi sempre assim 

 

– Vic... Vic... – ele a chamou, mas ela não se voltou.

Tentei dizer
Mas vi você

 

Pensou em correr atrás dela, contudo, notou que ela estava abalada e confusa com o que tinha acabado de ocorrer. Resolveu lhe dar um tempo. Assim que a perdeu de vista, colocou as duas mãos na cabeça, olhou para o alto e começou a rir feito um bobo alegre.

Vic! Vic!Vic!


Tão longe de chegar
Mas perto de algum lugar


Notas Finais


http://www.youtube.com/watch?v=1KQTo4XwocM

Eis o link da música

E agora? Como ficará a relação desses dois? E onde fica o Dean nessa história? Tais perguntas serão respondidas no próximo caso deles que será uma aventura inédita e importante para o desenrolar da fic. Talvez por isso eu tenha que dividir em duas partes.

O título do capítulo faz referência a um filme brasileiro, com Angélica e Márcio Garcia.
Bem, gente, procurei caprichar o máximo possível no beijo. Espero que tenham gostado.

Até a próxima.


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