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História Almas Trigêmeas - O Espelho tem duas faces (Parte 2)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Olá, gente! Por fim, a conclusão dessa aventura! Desculpem o tamanho do capítulo, mas eu tinha que conclui-lo. Abaixo algumas notas. Boa leitura!

Capítulo 27 - O Espelho tem duas faces (Parte 2)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - O Espelho tem duas faces (Parte 2)

Anteriormente:

– Bem, não sei quando aconteceu. Talvez enquanto eu estava no inferno. Talvez tenha sido enquanto eu olhava pra você. Mas o Sam que conheci se foi – desabafou Dean sem reservas

– É mesmo? – retrucou o mais novo com desdém

– E não tem nada a ver com o sangue de demônio ou os poderes. São as pequenas coisas...

– Ah, é? Que segredos?

– Ligações pra Ruby, pra começar.

– Então preciso de sua permissão pra fazer um telefonema?

– É aí que está. Você está escondendo coisas de mim. O que mais não está me dizendo?

– Não é da sua conta.

– Entende o que eu digo? A gente estava nessa juntos. A gente defendia um ao outro.

– OK, tá bem! Quer saber por que eu não te contei sobre a Ruby? E sobre estarmos caçando Lilith? Por que você é fraco demais para ir atrás dela, Dean. – disse com um sorriso desdenhoso – Você está me atrapalhando. Sou um caçador melhor do que você. Mais forte e mais esperto. Posso acabar com demônios que você tem medo de chegar perto.

(...)

– Olha, Dean... eu...

– Sim? – ele a incentivou com certa ansiedade.

– Sobre o que você viu entre o Sam e eu... olha, eu... ele e eu...

– Relaxe, Vic. Sam já me esclareceu tudo sobre vocês.

– Já?

– Sim, vocês estão meio que se acertando, não é?

Ela nada disse. Ele continuou:

– Acho que... você devia ficar mesmo com meu irmão.

– Você acha? – ela se admirou – Mas eu pensei que...

– Se é sobre esses dias em que eu fiquei um pouco empolgado demais com você, não esquenta.

– Dean...

– Não nego que você me atrai, mas... eu ia acabar te magoando como as outras – era quase a mesma coisa que dissera para Sam.

– É mesmo?

–É, eu sou assim. Não consigo me amarrar a ninguém.

(...)

– Bem... o que descobrimos até agora? – questionou Vic enquanto andavam por uma avenida. O carro dela estava num estacionamento a algumas quadras dali.

– Pelo que eu pude perceber, todas as vítimas antes de se matarem, parece que... jogaram na cara das pessoas com que moravam coisas do passado que as magoaram.

– Sim, é verdade. E se você se lembra, pelo o que o Dean disse e o que vimos desses Tormentos, é isso que eles fazem. Extraem tudo de ruim que possuímos no interior. – fez expressão de quem se recorda de algo desagradável – Aquele... Vingador dos Anjinhos com as mulheres que abortaram...

– O tal Freddy Gruguer dos Infernos...

– E esse... esse parece que faz com que as mágoas das pessoas vêm à tona.

Capítulo 25

O Espelho tem duas faces (2ª parte)

– Ele é amigo seu? – perguntou um garçom ao se aproximar de Cass e apontando Dean.

– Sim – respondeu o anjo.

– É melhor levá-lo daqui. O cara tá mais pra lá do que pra cá.

– Pra lá? – o anjo não entendeu

– É, ele tá que não se aguenta mais. Vendi esse monte de bebida pra ele, mas... é melhor ele parar. Acho que nem consegue dirigir.

– Quuuue... nada! – protestou o loiro e apontou o dedo para o servente – Garçoooom... Me vende maizuma aí.

– Venha, Dean, vamos sair daqui.

Castiel tentou pegá-lo, mas o caçador o empurrou.

– Queero não... Me deixaaaa aqui! – pegou uma garrafa e bebeu de seu gargalo

– Hum... Vai querer que eu chame um táxi? –indagou o garçom

– Não, obrigado. Não vai precisar, tenho como transportá-lo.

– OK. Deixa só eu colocar isso ali que te ajudo a carregá-lo até seu carro.

O garçom deu as costas para o anjo e colocou a bandeja que carregava em cima do balcão. Ao se virar, Cass já havia ido embora e levado Dean. O homem piscou várias vezes todo confuso.

– 0 –

– Encontrei ele – disse Castiel ao celular no corredor do motel – Onde vocês estão?

– Estávamos investigando mais lugares onde ocorreram suicídios. – respondeu Sam com certo alívio na voz – Achávamos que talvez encontraríamos Dean assim. Ele passou por algumas dessas casas. Como ele está?

– Está... descansando.

– Descansando?

– Caaaaaass! – o loiro gritou de dentro.

O anjo apenas deu uma olhada para a porta. Não achou prudente mencionar o "mero" detalhe da bebedeira de Dean.

– É melhor voltarem para cá o quanto antes – disse

– Algum problema com... o Dean? – Sam ficou alarmado

– Quando vocês chegarem aqui... eu explico.

– Já estamos a caminho.

Desligou a ligação.

Castiel voltou para dentro. Dean estava sentado na beira da cama com uma garrafa vazia.

– O que foi, Dean? – o anjo se aproximou pronto a atendê-lo.

– Acabooou... minha bebida. Quero maaaaais! – Castiel não se moveu; encarava o loiro numa expressão séria. Este se aborreceu – O queeeeê? Não... ouviu ?

– Dean... Você está muito bêbado.

– Ah, não... me diga! – o tom era sarcástico e arrastado

– Digo sim. Sam e Vic estavam preocupados com o seu sumiço e estão vindo para cá. Se eles te virem nesse estado...

– E... daiiiiií? Dane-se! – esbravejou – Eu só quero beber! Beber até morrer... – falou num tom mais firme

Cass se abaixou e perscrutou o interior do Winchester olhando-o profundamente nos olhos.

– O que... foi? – indagou o caçador incomodado com a análise

– Você não está nada bem. – disse ele – Não está normal. Alguma coisa te afetou pra você estar assim.

– Quer saber? É mezzzmo! A minha vida é uma droga... uma merda!

– Dean, olha... – o anjo queria informá-lo mais a respeito, porém foi interrompido bruscamente.

– Escute aquiiiii! – apontou o dedo para o anjo - Já disse que eu quero... beber... Dá pra pega pra mim ou...vou ter que buscar? – tentou se levantar da cama, porém, cambaleou e caiu sentado.

Castiel se ergueu. E observou o loiro. Percebeu que ele falava a sério.

– Está bem. Mas só até seu irmão e a Victoria chegarem.

– Cassss?

– O que foi?

– Aproveita... pega minha querida... no bar... – disse se referindo ao Impala – A pobrezinha ficou abandonada lá...

– 0 –

Fazia meia hora que Castiel estava naquele quarto com Dean. Havia trazido mais algumas garrafas para o Winchester. Este continuava cada vez mais bêbado. Embora fosse muito resistente a álcool, havia bebido mais do que seu limite. O anjo olhava ansioso para a porta esperando que Sam e Vic chegassem a qualquer momento.

– Esperando... o casal... vinte? – perguntou o loiro notando o estado de espírito de seu companheiro. Estava com uma garrafa na mão.

– Sim – admitiu.

Dean soltou um riso nervoso.

– Cara... eles são... tão bonitos juntos... não? É o que as pessoas dizem... feitos um para o outro. – abriu os braços como se mostrasse algo – O casal perfeito!

Cass apenas o fitava.

– O bom moço... meu irmão – bateu no próprio peito – com a... mulher que é o sonho de qualquer homem – soltou um soluço – Literalmente.

– Você a ama, não é? – perguntou o anjo de repente

O loiro fez um gesto com a mão que desdenhava a afirmação.

– Euuuu... o Grande Batman... apaixonado? – gargalhou – Qualeeeé, Cass!

– Você a ama – insistia o anjo

– Tsc, paaara com isso... As mulheres... que caem por mim.

Levantou-se da cama para fazer pose, contudo, perdeu o equilíbrio e quase vai ao chão. Cass o segurou a tempo, fê-lo se sentar ao seu lado na cama e encará-lo.

– Você a ama.

O loiro desviou os olhos e abaixou a cabeça. Súbito, voltou-se com raiva para o anjo:

– É , Cass! Eu amo ela, porra! – gritou e jogou a garrafa que se espatifou na parede do outro lado do quarto. Depois, deu uma risada amarga. – Eu amo... a namorada... do meu irmão! Era isso o que... você queria ouvir? – disse com a voz arrastada

– Dean... – Castiel tentou dizer algo, mas foi interrompido.

– Merda... por que isso... tinha que acontecer? – perguntou mais para si num tom angustiado.

Castiel abriu a boca para dizer algo, entretanto, batidas na porta foram ouvidas.

– Cass? – era a voz de Sam.

O anjo se levantou e abriu a porta. Sam e Vic entraram afobados.

– Como ele está? – inquiriu Sam com visível preocupação ao encarar Castiel.

– Ele...

– Saaaaam! – a voz do loiro os interrompeu – Viiiic!

– Dean? – o moço virou a cabeça e olhou confuso para o irmão que erguia uma garrafa no ar sentado na cama.

Victoria também olhou perplexa para o loiro.

– A gente estava... esperando voceis...

E sem poder mais aguentar, caiu desmaiado na cama.

– Dean! – Vic correu até ele e abaixou-se até ficar à altura do rosto dele caído de lado. Afastou-se um pouco com repugnância ao sentir cheiro de álcool. – Meu Deus, ele... bebeu todas.

– É, dá pra notar – comentou Sam ao observar algumas garrafas amontoadas num canto do quarto e os cacos de vidro da que ele jogou na parede.

– Mas como ele foi ficar assim? – inquiriu Collins olhando para Castiel

– Eu o encontrei nesse estado num bar – respondeu – E o trouxe pra cá.

– Com bebida e tudo?

– Só ele e uma garrafa. Mas ele me pediu que trouxesse mais bebida pra ele.

– Ah, que ótimo! Quer dizer então que se ele pedir pra você pular no buraco, você vai? – Vic se levantou indignada

– Bem, acho que sim. Não vou morrer.

– Meu Deus, Cass! Isso é só força de expressão. – ela colocou a mão na testa – Você tem que parar com essa mania de entender tudo ao pé da letra – ela se aproximou – O que eu quero dizer é que se você sabia que a bebida não ia trazer benefício algum pra ele, por que fez o que ele pediu?

– Eu queria acalmá-lo um pouco antes de vocês chegarem. Ele não está normal.

– Isso deu pra perceber. Dean é mais resistente do que um elefante pra bebidas. Mas até ele mesmo deve ter ultrapassado o próprio limite.

– E aí que vem a pergunta: o que você quer dizer com ele não está normal? – indagou Sam para o anjo

– Tem algo sombrio dentro dele... como um veneno.

– Veneno? – Sam o encarou assustado

– Sim, mas um veneno da alma, algo obscuro que está liberando uma energia negativa de dentro dele, autodestrutiva – fez uma pausa – Certamente foi isso que o fez se embebedar bastante.

– Meu Deus! Será que...– Collins se interrompeu e olhou aflita para Sam, ele assentiu como se chegasse ao mesmo raciocínio que ela.

– Um Tormento – confirmou Cass – Sem sombra de dúvida.

– Não. – Vic se voltou para seu companheiro e abaixou-se de novo perto dele. Pôs a mão em seu rosto com visível preocupação. Olhou para Sam – Temos que ajudá-lo! Ou ele pode surtar e querer se matar igual àquelas pessoas!

– Ele pretendia fazer isso com a bebida. – informou o anjo

– Mas logo vai constatar que existem meios mais rápidos e práticos – disse Sam sem sombra de humor e também se aproximou do irmão ao lado de Vic – Cass, pode tirá-lo desse estado?

– Posso. Deixem comigo. – ele se acercou ao amigo do outro lado da cama e tocou em sua testa.

No mesmo instante, Dean abriu os olhos e levantou-se de uma vez ao se sentar com as costas na cabeceira. Olhou as pessoas que estavam ao seu redor, mas antes de proferir qualquer coisa, colocou as mãos na cabeça e abaixou-a. O efeito da ressaca se fazia sentir.

– Puta merda! – esbravejou – Que dor é essa? Onde estou?

– Você está no seu quarto do motel – respondeu Sam – O Cass te trouxe pra cá.

– Ai, cala a boca! – gritou ele e apertou mais a cabeça massageando as têmporas com as mãos – Tá muito forte o som da sua voz!

Sam se afastou um pouco chateado pela rispidez do irmão.

– Cass! – chamou Dean

– Oi?

– Ai, por favor, você também não. – apertou mais a cabeça - Sem falar nada, pode apenas tocar minha cabeça e fazer essa dor sumir?

A pedido dele, o anjo nada comentou. Limitou-se a tocar em sua testa e logo o loiro experimentou uma sensação de alívio.

– Ah, obrigado! – disse e dirigiu-se a Castiel – O que aconteceu?

– Nós é que perguntamos: o que aconteceu? – inquiriu Sam

O loiro ficou pensativo por uns momentos. Olhou para Sam e depois para Victoria. Fechou o rosto para ambos. Seu olhar exprimia certa magoa. Eles ficaram confusos.

– Nada – replicou e deitou-se novamente na cama ignorando a todos. A expressão de seu rosto era de tédio e ele fitava apenas o teto. Collins, Sam e Vic estranharam sua atitude.

– Como assim "Nada"? – esbravejou Collins – Você some por horas, nos deixa superpreocupados a ponto de chamar o Cass, ele te encontra se afogando em bebidas e tudo o que você nos diz é simplesmente "Nada".

– Que querem que eu diga? – ele perguntou sem se afetar.

– Dean, o Cass nos disse que você foi afetado pelo Tormento que estamos procurando. – respondeu Sam impaciente – Queremos saber com quem você esteve nas últimas horas.

O loiro se levantou incrédulo e sentou-se de novo com as costas na cabeceira da cama. Exprimia um sorriso zombeteiro.

– Um Tormento me afetou? Ah, por favor! – desdenhou

– É verdade, Dean – confirmou Castiel – Posso sentir a aura dele sobre você.

O caçador não respondeu nada por instantes. Limitou-se a abaixar o rosto, entretanto, replicou:

– Então por que me pergunta? Se há um Tormento, você pode encontrar.

– Não é tão simples assim. Tormentos são demônios bem mais complexos de encontrar mesmo para um anjo com todos seus poderes. Eles têm um padrão um pouco diferente. – olhou para Dean – Mas acredite em mim, Dean, você teve contato com um Tormento. Você não está normal e sabe disso.

– Tá – tornou o loiro – Se querem mesmo saber, eu estive conversando com uma psicanalista.

– Uma... psicanalista? – indagou Sam incrédulo. Era a última coisa que esperava que seu irmão mais velho fosse fazer.

– Ei, não me olhe com essa cara, tá legal? – apontou o dedo – Eu... só queria uma opinião profissional para o caso – diante da expressão de descrença de seus companheiros, acrescentou – OK, eu... eu senti uma vontade muito forte de procurar essa profissional, foi quase como... se fosse um chamado irresistível me atraindo.

– Como aconteceu comigo – interrompeu Victoria com expressão de entendimento – Foi quando fomos resolver aquele caso do Vingador dos Anjinhos. Eu senti necessidade de me confessar com a freira Lucy e depois começaram aquelas visões que tive com... meu aborto.

– Os Tormentos atraem aqueles cujos sentimentos ruins são mais fortes – completou Castiel - Esse parece que desperta magoas mal resolvidas.

Um silêncio se fez por alguns instantes. O anjo havia dito algo que incomodou aos caçadores, sobretudo os dois irmãos. Ambos sabiam que havia magoas profundas entre eles nos últimos tempos, sobretudo em Dean.

– Esse camarada deve ser o Despeja Merda – informou o loiro para quebrar o clima constrangedor.

– O... o quê? – indagou Collins pensando ouvir mal

– O Despeja Merda. Eu vi o que ele fazia com aqueles que tinham morrido com muito ódio e sem ter perdoado os seus na Terra – disse sem muito ânimo – A punição que ele dava era fazer com que todos despejassem sem parar um monte de...

– Pare! – pediu Collins com repugnância – Não quero nem ouvir o resto.

– Pois é. É isso o que vai acontecer comigo quando eu me matar. – disse como se não se importasse

– Dean, por favor, pare de falar assim! Até parece que nós vamos deixar isso acontecer.

O loiro deu de ombros.

– Então pelo o que você disse, você falou com uma psicanalista. – tornou Sam procurando desviar os pensamentos sombrios do irmão – Qual o nome dela?

– Doutora Brenda Donovan.

Sam coçou o queixo.

– Acho que ela deve ser mesmo a ligação entre as vítimas – afirmou o moço – Margareth Banks afirmou que a mãe dela se tratava com um psicólogo. Talvez fosse essa doutora.

– Isso. – concordou Victoria olhando para ele – E quando você e eu estávamos no apartamento daquele senhor que a esposa se enforcou, eu vi um cartão com o nome dessa mulher na estante.

– Então vamos pra lá – dirigiu-se ao irmão – Dean, nos mostre onde é.

Todavia, o loiro não se mexeu.

– Dean! – chamou Sam – Você não me ouviu?

– Ouvi e, sinceramente, não me interessa nada disso.

– Dean...

– Eu não suporto mais essa droga, Sam! Eu tô cansado! Chega! A minha vida toda corri atrás desses monstros e quando mal resolvemos um problema, lá vem outro maior – deitou-se na cama – Se esse Tormento quiser me levar, que leve. Não tem nada aqui pra mim.

Sam e Victoria se olharam com perplexidade. Aquilo era grave! Se Dean mantinha aquela atitude, ele estava próximo de fazer uma grande besteira.

– Está certo – disse Sam impaciente – Pode deixar que eu mesmo acho essa doutora.

Ia dar meia-volta , no entanto, Collins o segurou.

– Espere, Sam! Como assim você vai enfrentá-lo? Ele também pode te atingir assim como fez com Dean.

– Não creio, afinal, eu sou a menina dos olhos de Lúcifer – disse com amargura – Essa é uma vantagem que eu tenho.

– De qualquer jeito não vai adiantar – avisou Castiel – Somente um atingido pelo Tormento, pode destruí-lo.

– É verdade, Sam, lembre-se que foi assim com os dois Tormentos antes desse. – confirmou Vic

– Então no fim das contas tem que ser eu mesmo pra resolver essa bosta toda – disse Dean sem se levantar e com visível indiferença – Pois que se dane!

– Agora chega! – Sam foi até ele – Não vou permitir que você se deixe vencer desse jeito! Saia logo dessa cama, Dean!

Contudo, Dean soltou uma gargalhada sarcástica. Seus três companheiros se olharam com perplexidade.

– Qualé, hein, Sam? – disse e sentou-se outra vez com os pés para fora de costas para o irmão – Está achando que manda em mim? Acha que sou fraco demais porque um demônio me atingiu e você quem deve tomar as rédeas da situação?

– Dean, olha, você não...

– Quer saber? – ele se pôs de pé – Você acha isso mesmo. Você me disse isso uma vez lá naquele caso da sirena. Tá lembrado? Você disse que eu era um fraco e que estava te atrapalhando.

– Dean, não era eu mesmo quem estava falando e você sabe disso. Era a sirena.

– É claro que era você! – ele gritou – O veneno daquele monstro foi apenas um estimulante pra você botar pra fora tudo o que sempre pensou de mim! Você sempre se julgou superior, não é? Tanto que foi por isso que abandonou a mim e ao papai pra ir pra droga daquela faculdade. Você sempre se julgou melhor do que eu e acima de tudo que fazíamos. – ergueu os braços – O grande Sam Winchester que queria ter uma vida normal e se tornar um grande advogado longe dos dois malucos que eram seu pai e seu irmão mais velho!

– Dean, pare. – Vic o alertou com a voz baixa

– Não se meta nisso – apontou para ela – Isso é um assunto entre meu irmão e eu.

– Não fale assim com ela! – Sam o advertiu.

– Falo. E falo tudo o que tá engasgado aqui há muito tempo – deu tapinhas de leve na garganta – Você se julga um caçador mais forte do que eu e que pode lidar melhor com demônios, mas... olha o que aconteceu – sorriu com escárnio – Você foi enganado por uma demônio! Isso depois de ter ficado viciado em sangue de demônio! Tsc, pra quem disse que era mais forte e mais esperto, meu irmão, você foi uma decepção.

Sam cerrou os punhos com visível fúria. Tentava se controlar porque sabia que o irmão estava sob o efeito do Tormento. Mesmo assim, cada palavra que ele dizia era como uma facada em seu coração.

– Pare, Dean! Chega! Não vê que está torturando o Sam? – gritou Vic

– Que beleza! O Sam agora tem uma advogada! - bateu palmas e aproximou-se dela – Meus parabéns! Mas me diga, Vic, como você consegue dormir com uma pessoa que foi culpada de provocar o Apocalipse e é uma aberração igual a Lúcifer?

Sam não suportou e foi para cima do irmão, entretanto, Cass se interpôs entre eles a tempo. A postura do mais velho era de desdém enquanto a do mais novo era de fúria.

– Não, Sam – Vic se afastou de Dean, chegou no namorado, puxou-o e obrigou-o a encará-la – Não é ele quem está dizendo isso! É o Tormento. Lembre-se! E isso... é um sintoma de que ele pode se matar se não destruirmos o demônio.

Sam respirou profundamente para se acalmar.

– Tem razão – disse ele mais calmo e voltou-se para o irmão – Diga o que quiser, Dean, mas não vou me aborrecer com o que você disser. Sei que não deseja me ferir assim intencionalmente.

O outro soltou um riso de escárnio.

– Mas se te incomoda mesmo tudo isso que eu te disse sobre você ser fraco, então, prove o contrário – continuou Sam – Nos leve até esse Tormento.

– Primeiro temos que preparar a forma para matá-lo – disse Castiel se virando para ele.

– Como assim? Não basta somente o Dean chegar até ele e esfaqueá-lo com a lâmina de matar demônios?

– Não, tem que ser de um jeito mais específico. Temos que arranjar uma faca que nunca foi usada e banhá-la em sangue de alguém que tenha se suicidado há menos de vinte e quatro horas. Mas não pode ser de nenhuma vítima desse Tormento.

Ótimo. Aquilo tudo pedia um ritual. Era uma pena que houvessem perdido a Colt¹na batalha de Carthage. A arma seria um meio mais rápido.

– Está certo. – assentiu – Vamos, Dean.

O outro ignorou Sam, deu-lhe as costas e voltou para cama.

– Dean! – insistia Sam com impaciência.

– Eu não recebo ordens suas, Sam – foi o que disse e deitou-se na cama – E já disse que não me importo nem um pouco com isso.

Sam teve vontade de ir naquela cama, esmurrar seu irmão por se deixar dominar por um demônio e obrigá-lo a segui-lo, entretanto, Vic o impediu. Puxou-o a um canto.

Olhe, Sam, deixe ele. – ela disse num tom mais baixo – Primeiro, vocês têm que providenciar a arma necessária do jeito que o Cass explicou para matar o Tormento. Façam isso e depois voltem pra cá.

– Mas e você?

– Eu vou ficar com ele e tentar fazê-lo voltar à razão – olhou para o loiro – Mas não vai adiantar você confrontá-lo agora. Ele não está raciocinando bem e é isso que aquele Tormento deseja. Jogar vocês um contra o outro.

Sam suspirou. Vic estava certa.

– Ainda bem que você está aqui, Vic – sorriu para ela – E você tem razão. Meu irmão está mal e me zangando não vou resolver nada. – voltou-se para Castiel – Tudo bem! Vamos, Cass, vamos providenciar tudo. – a um olhar que o anjo indicou na direção de Dean, Sam replicou – Resolvemos isso depois. Vamos.

E na mesma hora, os dois desapareceram. No quarto ficaram apenas Victoria e Dean.

– Não vai com eles? – inquiriu sem a encarar.

– Não, prefiro ficar aqui com você – respondeu com um leve sorriso.

– Estou bem, não se preocupe. E não preciso de uma babá.

Collins suspirou.

– Dean, estamos tentando ajudá-lo. Mas você também tem que colaborar. Você não pode se entregar assim.

Ele não respondeu.

– O Dean Winchester que conheço jamais deixaria que um demônio ou qualquer tipo de monstro o derrotasse.

– O Dean Winchester que você conhece? – ele riu – Você acha mesmo que me conhece?

– Eu...

– Então tá legal, vou te dizer umas coisas sobre esse cara – ele se colocou de pé novamente – Esse Dean Winchester que você diz conhecer nunca existiu. Ele é só uma máscara pra um cara que teve tudo tirado dele: a família, amigos, uma vida normal.

Vic permanecia calada.

– Esse cara só faz merda! Onde passa só deixa um rastro de destruição e miséria.

– Isso não é verdade e sabe disso! – protestou a caçadora – Você e Sam salvaram muitas vidas e ainda salvam.

– Como as da Jo e da Ellen, por exemplo?

A caçadora hesitou por um momento, mas retrucou:

– Elas se sacrificaram para nos ajudar. E também como caçadoras uma hora acabariam morrendo.

– É isso que diz pra si mesma quando vai se deitar? – esboçou um sorriso amargo – Se você consegue usar isso como desculpa pra dormir em paz, meu Deus, você é uma hipócrita.

– Como pode falar isso de mim? Acha que não me sinto culpada pelo o que aconteceu? Acha que eu não queria ter feito algo pra ajudá-las? Eu te disse hoje mais cedo como me sentia! – o rosto dela exprimia magoa com o que ele havia dito – Mas só que eu não vou deixar isso me consumir por dentro porque há outras vidas a serem salvas! O mundo tem que ser salvo!

– O mundo! Claro que tem. – ironizou – O mundo já estava uma droga antes do Apocalipse acontecer, ele só ficou um tantinho pior. – mostrou o indicador e o polegar de lado numa abertura mínima.

– Deus, esse não é mesmo você! – Collins balançou a cabeça – É o Tormento falando.

– Não é e sabe disso. – apontou para ela – Os Tormentos apenas estimulam os sentimentos ruins que tem dentro da gente, mas eles existem, estão bem no fundo, mas existem.

– Mas ainda assim, você não se deixaria dominar por eles. E é isso que pessoas normais fazem, não se deixam dominar pelos pensamentos ruins que as levariam cometer besteiras.

– Mas eu não sou normal! – gritou – Eu sou aquele que Miguel quer usar como espada para derrotar Lúcifer e destruir metade do mundo!

– Dean... – ela balançava a cabeça em negação

– Qual o problema, Victoria? – ele cruzou os braços – Você não queria que eu dissesse como me sentia mais cedo?

– Mas não dessa forma.

– Do que você tem medo? – ele foi se aproximando – Tem medo de que eu diga algo que no fundo você deseja ouvir?

– Dean, por favor – ela pediu com certo nervosismo. Não estava gostando do rumo daquela conversa e nem do encurtamento da distância entre eles.

– Ou será que tem medo disso?

Ele chegou perto demais dela. Tão perto a ponto de pegar em seu rosto. Collins piscou seguidas vezes visivelmente nervosa.

– O... o que pensa que está fazendo? – sua voz saiu num sussurro. Começou a tremer. Não saberia dizer se de medo... ou excitação.

– Quero terminar o que começamos mais cedo antes de sermos interrompidos pelo Sam. Quando você estava no meu quarto no outro motel. – disse com voz ofegante – E sei que você também quer.

E fez menção de beijá-la.

– Não! – gritou ela e, dessa vez, teve presença de espírito de se libertar de suas mãos e afastar-se dele. Não precisou de uma chamada de celular.

Posicionou-se do outro lado do quarto. Dean a olhou com profunda frustração.

– Olhe, eu vou esquecer o que aconteceu agora porque sei que você está confuso e perturbado – disse num tom baixo e apontava o dedo para ele – Mas se tentar fazer isso de novo, eu juro que não vou ser tão compreensiva.

– Tá legal – ele esboçou um imperceptível sorriso amargo com a cabeça baixa – Eu entendo, é o Sam , não é?

– É claro que é o Sam! – esbravejou – Ele é meu namorado! Eu nunca faria nada que o magoasse. Eu o amo! – fez uma pausa – E você também o ama. Ele é seu irmão!

– Sim, eu o amo! Amo meu irmão! É esse o meu grande problema! Amar demais o Sam a ponto de ter feito coisas por ele que nenhum irmão do mundo faria! Por ele eu vendi minha alma e fui parar no inferno! E pra quê? Pra depois ele preferir confiar numa demônio vagabunda e me trair?

– Você nunca vai perdoá-lo por isso?

– Eu tento! Mas ainda machuca só de lembrar. E mesmo depois do que ele fez, eu ainda... sou capaz de fazer qualquer coisa por ele. Até de abrir mão do que mais quero.

E olhou de forma significativa para Collins. Ela engoliu em seco. A intensidade do olhar dele a fez estremecer.

– Quer saber? Deixa pra lá! – cortou o ar com a mão

E começou a caminhar em direção ao banheiro.

– Aonde vai? – Vic ficou em alerta.

– Aonde parece? Ao banheiro.

– Eu vou com você. – disse decidida

Ele riu.

– Está brincando, não é?

– Não, não estou. Como eu disse, você está confuso e perturbado. Está agindo igual às vítimas do Tormento. Não vou deixar você sozinho pra cometer alguma besteira.

Cruzou os braços numa postura que não admitia ser contrariada.

– E como vamos fazer? Eu faço e você fica olhando? – fez piada num tom sarcástico

– Queria me poupar de ter que responder a isso – olhou-o irritada – Você faz... o que tem que fazer e eu fico de costas. Entendeu?

Ele balançou a cabeça em sinal positivo várias vezes com um sorriso irônico.

– Tá certo – disse. – Vamos lá. Primeiro, as damas.

Abriu a porta e esperou Collins passar. Assim que ela entrou no banheiro, ele fechou a porta com estrondo e começou a trancá-la.

– Merda! – ela xingou ao se dar conta da manobra do caçador e virou-se. Começou a bater na porta e tentar abrir a maçaneta – Dean! Dean! O que pensa que está fazendo?

– Estou garantindo que você não venha atrás de mim – disse do outro lado e terminou de trancar.

– O que você pretende fazer?

– O que já devia ter feito. Dá um fim em tudo isso. Chega de Apocalipse , chega de monstros e chega de você e do Sam na minha cola.

Meu Deus, será que ele pretende...?

– Dean, não, por favor! – ela bateu na porta com mais força – Abra, por favor!

Todavia, o Winchester já havia se afastado. Abriu a porta do quarto, deu uma última olhada para o banheiro ainda ouvindo os gritos e súplicas de Victoria e saiu.

– 0 –

Sam e Castiel haviam se teletransportado para um necrotério de outra cidade a milhas de Chicago. Era o único local em que tinha o cadáver de um suicida nas condições especificadas pelo anjo.

O local estava vazio àquela hora. Pararam em frente de uma daquelas gavetas em que se guardam os cadáveres e Sam a abriu. No interior, havia um adolescente bastante belo de pele negra e com os pulsos cortados. O Winchester por instantes sentiu piedade ao ver uma vida tão jovem terminar daquela forma, porém, não perdeu tempo e tirou de sua bolsa a faca que havia comprado numa loja qualquer de Chicago antes de irem para lá.

– Então... é só isso que falta? – indagou ao anjo.

– Sim. Passe pelo menos umas setenta vezes a faca em qualquer parte do corpo dele.

– Setenta vezes? – estranhou

– Sabe aquela resposta de Cristo "Setenta vezes sete" quando Pedro lhe perguntou quanto deveria perdoar uma pessoa?

– Entendo – disse. E fez um corte no braço do jovem por onde saiu sangue. – Como esse Tormento faz surgir magoas antigas, ofensas não perdoadas, essa deve ser a lógica pra esse ritual.

Seu maxilar se apertou com certa tensão enquanto começou a contar mentalmente o número de vezes que passava a lâmina no corte. Por mais que soubesse que seu irmão estivesse influenciado pelo Tormento, sabia que ele era só uma vítima por ainda guardar tudo o que lhe dissera em seu coração. Castiel notou o estado de espírito do moço.

– Sam, não fique magoado com o que seu irmão disse. No fundo ele sabe que pode contar com você.

– Será mesmo, Cass? Tenho lá minhas dúvidas. – paralisou a atividade – Droga! Perdi a contagem.

– Dezenove. Não se preocupe, pode continuar que eu direi quando parar. – afirmou o anjo – Se ele não confiasse em você, não estaria lutando ao seu lado.

– Meio que ele não tem escolha, né? Separados fica mais fácil para Miguel e Lúcifer nos influenciar. Juntos é mais difícil. Mas eu não me engano, sei que Dean espera que eu vá pisar na bola de novo como fiz com a Ruby.

– Ele está tentando, Sam, ele está tentando.

– É, você disse bem, ele está tentando, mas ainda duvida. – sorriu amargamente – Sabe como isso é frustrante?

– Mais do que querer a confiança do Dean, você deve confiar em você mesmo.

– Eu sei, mas tem horas... que minha confiança fica abalada. Tenho medo de falhar com meu irmão de novo e, dessa vez, as coisas seriam muito catastróficas se isso acontecesse. Custaria mais do que minha relação com Dean.

– É isso que fará com que você não falhe dessa vez.

– Que belo consolo! – ironizou

– A Victoria confia em você. – insistiu o anjo

–Isso que me dá forças. – suavizou a expressão ao se recordar da namorada – Se não fosse por ela, seria bem mais complicado lidar com tudo isso... e com Dean.

– O Bobby também confia em você. E... eu também. – o anjo o olhou firme – Confesso que cheguei a duvidar de você, mas posso ver em seu coração o quanto você está determinado.

– Obrigado, Cass – Sam sorriu com sincera gratidão – Sei da confiança de vocês todos, mas... eu queria mesmo é que meu irmão voltasse a confiar inteiramente em mim.

– Setenta. – informou o anjo. Sam tirou a lâmina banhada em sangue do braço do garoto – Está pronto.

– 0 -

Assim que chegaram ao quarto , não viram Victoria nem Dean.

– Onde eles estão? – perguntou preocupado olhando para Cass - Dean! Vic!

– Sam! – gritou Victoria do banheiro – Sam! Abra a porta! Estou presa!

– Vic! – ele correu até lá e destrancou a porta.

– Graças a Deus você voltaram logo! – disse ao sair e abraçou o namorado

– O que aconteceu? Por que você estava nesse banheiro? E cadê o Dean? – ele disparou as perguntas

– Foi o Dean que me prendeu aqui. – ela se soltou dele e respondeu com certa vergonha – Ele me enganou. E eu não sei pra onde ele foi, mas acho... que ele vai fazer alguma besteira.

– Droga! – praguejou Sam – Cass, não existe nenhuma maneira de você localizá-lo?

– Você sabe que não.

Súbito, a expressão de Victoria se iluminou.

– Espere, tive uma ideia. Cass, você consegue detectar rastros de um carro e diferenciar de outros?

– Nunca tentei algo do tipo, mas acredito que sim.

– Ótimo, então se Dean tiver saído com o carro dele, talvez você possa rastreá-lo.

– Boa! Vamos experimentar! – incentivou Sam.

Os três correram até o estacionamento. Rezavam para que Dean tivesse saído com o Impala, o que era muito provável.

Dito e feito. O carro não estava na vaga em que fora colocado. Todavia, as marcas dos pneus estavam visíveis o suficiente para eles, principalmente para o anjo. Ele analisou-as e disse com precisão:

– Ele foi para aquele lado – indicou uma direção que dava para a área central da cidade

– OK. Vamos entrar no meu carro e você nos guia, Cass.

– 0 -

Do ponto em que estava, encostado a um meio-fio de uma grande avenida, Dean observava os imensos viadutos de Chicago sob as luzes que iluminavam o centro à noite. O mais alto devia ter pelo menos uns dez metros de altura. Era para lá que pretendia ir.

Sua cabeça começou a concatenar melhor os acontecimentos que o haviam levado até ali. Desde o início do seu jogo com a tal doutora Brenda Donovan.

Recostou-se no divã com os braços cruzados atrás da cabeça como se fosse simplesmente relaxar. Brenda se sentou numa cadeira próxima a ele com seu gravador. Ficaram em silêncio. Nos primeiros quinze minutos, não houve nenhuma palavra por parte dele, a não ser duas ou três gracinhas que tentou dizer à psicanalista, mas sem resultado. A mulher parecia uma estátua. Não emitiu nenhuma reação, o que o deixou sem graça.

Todavia, sem explicar o motivo, Dean começou a relatar toda sua vida de caçador, não emitindo nenhum detalhe. Falou até do Apocalipse e de como era uma das peças-chaves do grande evento.

E falou de todas as suas mágoas, frustrações e decepções. A perda da mãe. A vida de nômade. Uma infância anormal. O rompimento de seu namoro por Cassy, a primeira garota por quem realmente chegou a se apaixonar. Os segredos do pai. O fato de este ter escondido que teve um filho com outra mulher depois de Mary e que, dedicou a este uma atenção e uma vida normal que nunca fez por ele ou Sam. A dedicação dele pelo irmão. O abandono deste para cursar uma faculdade. O sacrifício de sua alma pela vida dele. A traição com a Ruby. O fato dos dois sonharem com a mesma mulher desde a infância e o irmão nunca lhe ter revelado isso, pelo menos antes de começar a se envolver com ela. E o fato de Vic ter escolhido Sam ao invés dele.

Quanto mais revelava todas essa mágoas que lhe corroíam, mais sentia seu coração pesado e ferido. Não soube precisar por quanto tempo confessou seus mais íntimos segredos para Brenda, contudo, depois que falou tudo, olhou para o rosto da mulher. Havia um olhar de medo mesclado com pena como se ela conversasse com uma pessoa completamente louca. Só nessa hora, ele se tocou do que havia feito. Saiu de lá correndo como um garoto assustado sem dar ouvidos aos chamados da mulher. A essa altura, nem mais lhe importava a maldita aposta.

Não esperou nem o elevador chegar. Desceu toda a escadaria correndo. Entretanto, não fugia da doutora. Fugia de si, das próprias constatações que nunca quis admitir nem para ele mesmo. Era um homem amargurado, ferido por dentro, decepcionado por pessoas que, um dia, amou, como Cassy, e pelas que amava: seu pai, Vic e Sam. Principalmente, Sam.

Ele pegou o Impala e deu partida. Queria correr, esconder-se. Em dado momento, freou numa rua e deu-se conta de que era inútil. Não podia se esconder dele próprio. E foi aí que entrou num bar no centro de Chicago e começou a beber até a hora em que Cass o encontrou.

Suspirou alto. Não importava se foi o Tormento que lhe desencadeou aquela perturbação. Ela sempre existiu. Olhou para o interior de seu Impala.

– É, minha querida, é o fim. – acariciou o volante – Você é a única que nunca me deixou na mão. E é justo que me acompanhe nesta jornada final. – começou a acelerar o carro – Vamos para um último passeio.

Pisou com tudo no acelerador e o carro disparou com potência. Ultrapassou vários veículos sem se importar com o risco de bater. Alguns dos motoristas o xingaram em sua passagem.

Mas ele não se importava. Nada nem ninguém o pararia.

Em poucos instantes, estava no meio do viaduto mais alto. Havia um ponto específico em que queria chegar. Tudo estava livre à sua frente. Ele se preparava para girar o volante e jogar seu carro numa das extremidades. Iria voar. Que maneira melhor para morrer?

Olhou para a esquerda que estava livre. Jogou o carro para aquele lado. A grade de proteção estava bem à sua frente, mas ele tinha confiança que "sua querida" iria ultrapassar aquela barreira.

Súbito, à frente do carro, Castiel apareceu e parou-o com um só toque no veículo. Vários carros também pararam de repente por causa do Impala que lhes atravessava a passagem pela posição em que estava. Um congestionamento começou a se formar. Porém, logo a confusão se dispersou porque na mesma hora o carro desapareceu. Os motoristas acharam que haviam sido vítimas de uma alucinação coletiva.

Quando deu por si, Dean estava num lugar descampado. Castiel ainda estava parado na frente.

– Cass, o que você pensa que está fazendo? – gritou furioso

Mas antes que o anjo respondesse à sua indagação, Sam e Victoria surgiram repentinamente e apontavam revólveres para a sua cabeça do lado de fora. Ele os olhava perplexo.

– Saia do carro agora, Dean! – gritou Sam

– Ei, por acaso eu perdi o começo da piada? – indagou ele passando da perplexidade para a irritação – Isso não tem graça nenhuma!

– Não tem mesmo! Você não é você, Dean! E vamos ter que obrigá-lo a agir como tal – explicou Collins sem largar a arma – Anda, saia! Ou nós vamos atirar em você!

– É? Pois eu quero ver. – cruzou os braços com desafio

– Não nos provoque! Não estamos blefando!

– E daí? Mesmo que não seja um blefe, não tenho nada a perder em me arriscar. Vocês só estariam me fazendo um favor. Não seria como eu planejei morrer, mas... ainda assim seria válido.

Eles se entreolharam.

– Droga! – praguejou Sam abaixando a arma. É claro que não ia atirar em seu irmão – É, Vic, acho que ele não vai sair.

Collins não respondeu. Continuava apontando o revólver.

– Vic? – Sam a chamou – Abaixe a arma.

– Não, Sam. Só até ele sair desse carro!

– Ah, a Indomável acha que estou com medo? – provocou o loiro – Pode atirar que eu quero ver.

– Dean, cale a boca! – Sam começou a se apavorar. Sabia que sua namorada era cismada quando colocava algo na cabeça. Dirigiu-se a ela – Vic, por favor, ele não está normal! Você sabe que ele não vai te obedecer.

– Anda, Victoria, pode atirar! Não tenho medo!

– Dean! – Sam tentava alertá-lo

– Cale a boca, Sam! Não estou nem aí se ela atirar em mim.

Collins esboçou um sorriso perverso.

– E quem disse que vou atirar em você?

Disparou um tiro no vidro da porta traseira. Estilhaçou com o buraco da bala, mas não rompeu. Saiu pelo vidro de trás. Sam e Dean tomaram um susto. Castiel se limitou a arquear as sobrancelhas.

– Maldição! Olha o que você fez, sua doida! – ele a xingou furioso ao olhar para trás e ver o estrago nos vidros.

– Você vai sair ou não?

Ele crispou os lábios com fúria, mas não pretendia ceder a ela.

– Lá vai outro tiro!

E disparou na lateral do vidro da frente em direção ao banco de passageiro. Este vidro também ficou como o outro. E a bala penetrou no banco.

– Tá bom, tá bom, chega! – gritou, abriu a porta e saiu com as mãos na cabeça. – Eu saí! Eu saí! Está satisfeita? Agora pare de atirar na minha mina!

Imediatamente, Victoria guardou a arma.

– Você é louca! – esbravejou ele – Olha só o que fez! - apontou para os vidros – Mas você vai me pagar esse prejuízo!

Collins pegou na gola da camisa dele e empurrou-o na lateral do carro:

– Que bom que você ainda se importa com o seu carro, além de você mesmo! – esbravejou – Sabe o que o Sam, o Cass e eu passamos de aflição por sua causa? O quanto ficamos preocupados com o que poderia acontecer com você? Mas não! Você saiu por aí igual um derrotado só pensando no quanto a vida foi injusta com você!

– Vic... – Sam ia interrompê-la, mas Cass colocou a mão em seu ombro como para impedi-lo.

– Você disse para o Sam o quanto ele é uma decepção para você, mas é você quem está sendo uma decepção pra ele! Pra nós todos! – largou a gola dele e mostrou-o com as mãos – Olha pra você! Olha só! Que coisa deprimente! Você não é nem sombra do Dean Winchester que conheço! O Dean que conheço é forte! É corajoso! Ele nunca desiste! E não permite que demônios o dominem, que o destruam, que acabem com ele! Ele quem os derrota! Ele quem mostra pra esses filhos da puta quem é quem manda! E mesmo assim, ainda consegue ser engraçado, fazer piada de tudo isso. – ela deu uma pausa para recuperar o fôlego, mas ainda o encarava com raiva. Ele engoliu em seco – Sei que o que você está sentindo agora parece ser mais forte do que você, eu mesma passei por isso por causa daquele Vingador. Mas você e Sam me deram forças para enfrentá-lo. Só que se eu não tivesse tirado forças de mim mesma, eu teria sucumbido. Você não está sozinho, acredite! O Sam não é perfeito, ele errou com você, mas te ama e... eu também me importo com você.

Sam sentiu uma pontada de ciúmes com o último comentário, mas ignorou. E Dean começou a se reanimar.

– Nós estamos com você, Dean, mas depende só de você. Você disse que Dean Winchester é só uma máscara, mas não creio que seja totalmente. Foi com esse cara que você sobreviveu até agora, foi com esse cara que você adquiriu forças para suportar tudo porque passou. E esse cara... é o nosso herói.

Nenhum dos três conseguia tirar os olhos de Victoria. Embora suas palavras fossem dirigidas para Dean, elas transmitiam esperança.

– E você vai se deixar derrotar por um Tormentozinho de araque? Depois de já ter enfrentado o Freddy Krueger dos infernos que era bem mais foda?

O loiro não pôde deixar de sorrir. Sam e Castiel também. Mas Collins não esmoreceu e apontou o dedo no rosto do loiro que recuou um pouco.

– Agora faça o favor de voltar a ser homem e acabar com aquele Tormento! Ou eu juro que taco fogo nesse carro com você dentro. Entendeu?

– Tá, já entendi! – ele respondeu com voz mais firme e pose de soldado. Sentia-se mais encorajado – Me passe a tal faca pra eu matá-lo!

– Aqui – disse Sam tirando a lâmina de sua cintura e entregando-a ao irmão. – Cass e eu já providenciamos todo o ritual pra que ela funcione contra o Tormento.

– OK, vamos lá – ele ia abrir a porta do carro, porém, Victoria o impediu.

– É melhor irmos todos no meu carro. – disse

– Não se preocupe, Vic, eu estou melhor, juro.

– Eu sei, mas por via das dúvidas, é melhor vir conosco. Nós esconderemos seu carro num lugar seguro

Ele suspirou, mas resolveu concordar.

– OK, mas você vai ter que pagar os vidros do meu carro. – alertou-a – E o banco também.

– Eu pago, Dean, pode deixar. – ela beijou os dedos indicadores cruzados como se fizesse uma promessa - Mas mate esse Tormento primeiro.

– Eu vou cobrar. – balançou o dedo em riste.

– 0 –

– Então essa Dra. Brenda Donovan foi a única pessoa com quem você falou... fora as pessoas que investigou? – indagou Collins no volante enquanto dirigia.

– Falei também com a recepcionista dela. – respondeu Dean no banco de trás – Mas por que pergunta? Vocês mesmos não concluíram que pode ela ser o Despeja Merda?

– Ai, por favor, não precisa falar esse nome feio! – pediu Vic com cara de repugnância.

– OK, o Tormento – retificou com voz tediosa – Você tem dúvidas que seja ela?

– Não se esqueça de que quando fui vítima do Vingador dos Anjinhos, não foi exatamente pra ele que revelei... a culpa que eu sentia. Ele apenas a canalizou através da freira Lucy. Talvez seja o mesmo padrão desse Tormento.

– Tô ligado... Nosso alvo também pode ser a recepcionista. Que seja! Estarei pronto pra mandar esse Despeja Merda à merda! – falou com um pouco mais de ânimo sem se tocar que havia repetido o nome feio do demônio, mas Collins não ligou.

– É isso aí! Esse é o Dean que queremos – sorriu sem se virar e trocou um olhar com Sam ao seu lado. Este também sorriu.

Chegaram ao prédio onde se localizava o consultório da dita psiquiatra. Desceram do veículo preparados com as armas.

– Cass, será que podia encurtar as coisas pra gente? – pediu Dean se virando para o anjo – Você sabe, essa coisa de pegar elevador e tal é muito chato. Sei que você por estar quase sem poder, deve estar meio sobrecarregado, e tem que guardar energia pra lutar, mas... pode ser?

– Todos peguem em mim – disse o anjo sem retrucar. Fizeram como o ordenado e já estavam dentro do prédio diante do consultório – Chegamos.

O recinto estava com as luzes apagadas àquela hora.

– Parece que não tem ninguém – comentou Sam.

– Isso já veremos – retrucou Vic. Retirou um grampo de cabelo da polchete pendurada em sua cintura. Aproximou-se da porta de vidro e começou a abri-la com cuidado. Após um tempo, destravou-a. – Vamos com cuidado.

Entrou com seu revólver seguida por seus companheiros. Iam com passo cuidadoso. Talvez o demônio não estivesse. Ou talvez os aguardasse numa emboscada depois de ter influenciado a um deles.

Na recepção, não havia ninguém. Seguiram pelo corredor em que havia três portas: duas à direita e uma à esquerda (o banheiro).

– Creio que não esteja nada aqui – sussurrou Castiel – Eu não sinto o Tormento.

– Não temos certeza. – replicou Sam em tom baixo - Você mesmo disse que ele possui um padrão diferente dos outros demônios

– É aqui a sala. – avisou Dean quando chegaram perto da porta. Ele colocou a mão na maçaneta. – Não está trancada.

– Preparem-se! – disse Vic

O loiro abriu a porta. O lugar estava com a luz acesa. Entraram. No meio da sala, não havia nada a não ser o divã. Contudo, a escrivaninha de Brenda estava caída com a parte de cima virada para frente como se houvesse algum sinal de luta.

Eles nada disseram, apenas se entreolharam. Chegaram mais perto. Vic e Cass foram pela esquerda e Dean e Sam pela direita. Uma poça de sangue escorria do lado em que a caçadora e o anjo estavam.

– Droga! - comentou Dean ao verificar um corpo caído em seu lado enquanto Sam se abaixava para examinar os sinais vitais. – Parece que a doutora não era mesmo nosso Tormento.

De fato, a mulher estava morta. Seu pescoço estava quebrado com um corte profundo por onde escorria o sangue e o cabelo todo desgrenhado.

– Isso significa... – Vic ia completar o raciocínio, porém, um barulho de passadas vindo do corredor a interrompeu. Todos ficaram a postos com as armas voltadas em direção à porta – Que foi isso?

– Logo vamos descobrir – respondeu Sam

A porta se abriu lentamente. Ninguém entrou. Segundos demoravam. Ouvia-se apenas o som das respirações dos caçadores. Três passos de salto alto se ouviram. A linda silhueta da recepcionista loira apareceu no limiar da porta.

– Parado, demônio! Sabemos que é você o Tormento! – ameaçou Collins com sua arma.

A expressão de Julia foi de sobressalto, mas ela continuou a caminhar lentamente. Os caçadores acionaram os gatilhos prontos a dispararem.

– Esperem! – Castiel os avisou – Olhem!

Eles observaram que a moça tremia de pavor. E, o braço esquerdo dela estava subjugado em suas costas. Atrás dela, entrou mais uma pessoa. Um rapaz de cabelos castanho claro.

– O panfleteiro! – exclamou Dean surpreso – O garoto que me entregou o anúncio daqui!

– Olá, Dean! – o jovem esboçou um sorriso zombeteiro e torceu mais ainda o braço da moça que gemeu de dor – Á-á! Não se mexam! Ou ela já era!

– Seu filho da puta desgraçado! – Dean esbravejou – Era você o tempo todo!

– Claro que era. De que maneira você explicaria a sua vontade irresistível de procurar a tal doutora para externar seus problemas? – o loiro não respondeu, mas queria fuzilar o Tormento com os olhos – Vocês mataram a charada em parte. Eu usei essa doutora, mas não foi só ela. Todos os terapeutas e psicólogos da cidade foram canais pra que eu pudesse sugar os desabafos das minhas vítimas – retrucou sem abandonar o ar de troça – Mas você, Dean, foi minha segunda vítima através dela

– A primeira foi uma senhora que se enforcou, imagino - comentou Sam

– Sim, mas com ela foi preciso três sessões. Mas com você, Dean, só precisou de uma única. - riu ao se dirigir ao loiro - Você foi tão fácil de dobrar!

– Seu maldito! - o loiro se segurou para não avançar nele por causa de Julia - Como pode usar o corpo de um guri que talvez nem tenha tido a primeira vez?

– Apesar da aparência, o Mathew já tem uns dezoito anos... Mas quer saber? Talvez eu devesse ter possuído um menino de doze anos. Assim ia ser bem divertido fazer vocês vacilarem em tentar me matar ou deixar vivo um jovem que mal começou a vida.

– Cara, eu já estive perto de matar uma menina de menos de dez anos possuída pela Lilith. Acredite... eu não vacilaria.

– De qualquer jeito, vocês nem chegarão perto de mim.

– Quer apostar? – o loiro deu um passo.

O Tormento aproximou o corpo de Julia mais ainda perto dele.

– Por favor, me ajudem! – ela suplicou

– Dean, vá com calma – pediu Sam

– Isso, Deanzinho, vá com calma. Nossa, foi tão... como eu posso dizer? Foi ... orgásmico ouvir as confissões de Dean Winchester para aquela doutora ali – apontou o corpo de Brenda com a cabeça – O grande Dean Winchester choramingando suas mágoas e decepções!

– Cale a boca. – o loiro trincou os dentes

– Ouvir você falar da namoradinha que o deixou, que terminou com o grande pegador de mulheres porque ficou assustada por ele ter contado que caçava monstros. Ou do papai que era seu herói ter escondido o filho bastardo que tinha...

– Fecha a matraca... – o caçador apertou os punhos com força enquanto segurava o revólver.

– Mas o mais interessante foi... ouvir sobre o pequeno Sammy – olhou para Sam com ar irônico – Ouvir você falar como o amava, que havia se sacrificado, mas... de nada valeu. Que Sammy o traiu por uma demônio e que por causa dele o Apocalipse está acontecendo. – olhou para Collins – E também que por causa dele você não podia ter...

– Chega, seu merda! – o loiro gritou e disparou o revólver se esquecendo da refém

– Não! – gritou Sam

– Não, Dean! – Victoria também gritou

Mas era tarde. A bala fez sua trajetória. Julia berrou apavorada, porém, não foi atingida. O tiro pegou na cabeça do demônio. Mas é claro que não podia matá-lo. Mesmo assim, serviu para que ele soltasse por um momento a moça.

– Rápido, fuja! – gritou Dean – Saia do prédio!

Nem precisou ordenar porque a moça já havia empurrado o demônio e corrido em disparada para fora. Mal acabou de sair, o Tormento se recuperou e, com um só movimento da mão, atirou os caçadores e o anjo contra as paredes: Vic e Cass à esquerda e Dean e Sam à direita. Eles ficaram imprensados nelas.

– Boa manobra, Winchester. – começou a falar num tom mais sério ao se dirigir ao loiro – O que custou a vida de meus irmãos foi ter subestimado vocês. E eu quase ia por esse caminho. Não vou perder meu tempo com brincadeiras. Vou acabar com você, com a vadia e com o emplumado ali – olhou para Castiel – E depois vou chamar Lúcifer para vir buscá-lo, Sam Winchester – sorriu com satisfação ao contemplar o moço – E como bom escudeiro que sou, irei me juntar ao meu Cavaleiro assim que ele chegar, o Fome.

– Me parece um bom plano, mas tem uma pequena falha – comentou Castiel

– É mesmo? – O Tormento se virou e aproximou-se dele com ar superior – Qual?

– Eu. – dizendo isso, libertou-se da pressão, saiu de perto da parede e agarrou o pescoço do demônio com força. Colocou a mão na testa dele, porém, não fez efeito.

O Tormento riu.

– Idiota! Você não pode matar demônios. Está sem seus poderes pelo que fiquei sabendo. E mesmo que estivesse com eles, ainda assim, não adiantaria. Sou um demônio especial.

– Eu sei. Sempre soube que não conseguiria te destruir.

– E por que perdeu seu tempo? – o sorriso zombeteiro ainda estava em seu rosto, entretanto, logo se desfez ao sentir algo trespassar seu coração. Seus olhos se arregalaram ao ver a ponta de uma faca ensanguentada em seu peito

– Ele só estava ganhando tempo para me soltar e te matar... idiota – sussurrou Dean no ouvido do Tormento. Ele o havia acertado com a faca preparada antes por Castiel e Sam

O caçador e o anjo largaram o corpo do demônio. Este não caiu. De pé mesmo, começou a se desintegrar em forma de chamas. Reduziu-se a pó.

Na mesma hora, Vic e Sam caíram das paredes em que estavam imprensados. Os dois ganharam fôlego e acercaram-se de seus companheiros.

– Boa, irmão. – disse Sam orgulhoso.

– Como se sente? – indagou Victoria.

– Bem melhor – disse ele aliviado – Como se um grande peso tivesse saído de dentro de mim.

Ela assentiu.

– Ah, e trate de arrumar os vidros do meu carro – apontou o dedo para ela que revirou os olhos – Eu disse que ia cobrar.

– Está certo, mas podemos sair daqui o quanto antes? – pediu Collins – Aquela recepcionista deve ter acionado a polícia.

– Eu... acho que consigo tirá-los daqui – anunciou Castiel

– Peguem cada um sua passagem e vamos lá... – brincou Dean ao tocar no anjo.

– 0 –

Estava no quarto pegando suas últimas coisas. Fazia três dias que o caso fora resolvido. Logo os três partiriam o quanto antes da cidade. Não foram antes porque ele aguardava o reparo de seu automóvel. Estranhava apenas a demora, afinal, eram só três vidros e um banco. Porém, Vic o avisou que o carro seria entregue dali a pouco.

Dean ainda não havia se desculpado pelas coisas que dissera ao seu irmão e nem a Vic, entretanto, sabia que devia. Suspirou. Não gostava de admitir seus erros e nem era muito bom em se desculpar, mas o fazia quando era necessário.

No final das contas aquele Tormento até o havia ajudado. Não só toda aquela opressão que sentia havia sumido ao destruir a criatura, como também até os pequenos resquícios de mágoa que havia em seu coração, principalmente com relação a Sam. Sentia que sua confiança no irmão começava a crescer mais do que em todos aqueles dias em que decidiu retomar junto com ele as caçadas após um breve período de separação.

Sim. Devia confiar no irmão. Era tudo o que lhe sobrou de família. E depois quem era ele para julgá-lo? Acusava-o de ter rompido o último selo e provocado aquela bagunça, entretanto, ele quem quebrara o primeiro. Não importava se foi devido às torturas no inferno e nem que fê-lo sem saber. Ele fez. E talvez se houvesse sido mais forte, não teria empurrado o irmão para aquilo. No fundo, sabia disso e até o admitiu para Victoria, mas era mais fácil culpar Sammy.

E havia Vic. Seu Anjo. Ela os estava ajudando mais do que podiam imaginar. E não era só nas caçadas, era até na relação entre eles. Não importava mais se ela estava com Sam. Não mesmo. Ela preenchia um vazio em seu coração. Um vazio que havia desde quando ele retornou do inferno como se uma parte dele houvesse sido apagada por todos os horrores que vivenciou por lá. Mas só o fato de ela existir e estar ali para eles era o suficiente.

Deus, estava ficando piegas com aqueles pensamentos! E isso não ficava nada bem para o bom e velho Dean que estava novinho em folha. Voltou a ajuntar suas tralhas.

Batidas na porta o fizeram interromper a tarefa. Ele foi atender. Eram justamente Sam e Vic.

– Olá, gente, entrem. Eu já estava mesmo acabando de arrumar minhas coisas e ia... falar com vocês.

– Dean, tem uma coisa que queremos te mostrar! – disse Victoria entusiasmada.

– Olha, antes de qualquer coisa, eu... preciso me desculpar com vocês por tudo o que eu disse. – olhou para o irmão – Primeiro pra você, Sam.

– Dean, não tem que fazer isso. Eu sei que era o Tormento.

– É, mas... eram coisas que eu sentia de verdade mesmo distorcidas por ele – suspirou – Me desculpe, Sammy.

– Tudo bem – o moço sorriu.

– Só não vou te abraçar. OK? Sabe que é meloso demais pra mim.

– Pra mim também. – balançou a cabeça em sinal positivo

– E me desculpe, Vic, por ter te prendido no banheiro. – dirigiu-se à caçadora – E... por outras bobagens que eu disse. Sabe que eu não queria falar aquilo realmente, não é? – ele sorriu forçado

– É, eu sei – o sorriso dela também foi forçado

– Do que vocês estão falando? – inquiriu Sam olhando para um e para o outro

– Nada – responderam os dois ao mesmo tempo.

– E aí, vocês disseram que tinha uma coisa pra me mostrar? – continuou o loiro

– Sim, venha conosco. – disse Sam

– É o meu carro? Já chegou com os vidros reparados?

–Isso também, mas vem – pediu Collins - Ah, feche os olhos.

– E não vale olhar – acrescentou Sam.

O loiro obedeceu e foi guiado pelo irmão até chegarem ao pátio do motel.

– Pode abrir – avisou Sam.

A visão que Dean teve à sua frente foi como se houvesse ido ao paraíso. Não só os vidros do Impala estavam trocados, como toda a carroceria e a pintura estavam como novos. Parecia um modelo recém- saído da fábrica.

– Puta que pariu! – ele exclamou com alegria

Ele foi até o veículo, passou a mão na estrutura e abriu a porta. Por dentro, os estofados também estavam reformados e até o velho rádio. Cheirava como algo novo. Depois de analisar seu carro como um garotinho maravilhado diante de um brinquedo novo, ele se voltou para seus companheiros:

– Vocês... vocês mandaram restaurar minha princesa?

Os dois se entreolharam e falaram juntos com animação:

– Feliz aniversário, Dean!

Uma ruga se formou na testa do loiro e, depois seu rosto se abriu animado. Ele nem se lembrava, mas completava trinta e um anos naquele dia, vinte e quatro de janeiro de 2010.

– Poxa, eu... eu nem me lembrava.

– Mas nós sim – respondeu Sam – Não sabíamos o que te dar de presente, mas como a Vic ia mandar trocar os vidros, resolvemos aproveitar para dar uma recalibrada geral no Impala.

– E nos melhores especialistas – ela acrescentou.

– Eu... nem sei o que dizer...

– Apenas diga se gostou.

– Tá brincando? É... é uma coisa de outro mundo – ele estava abobado – Valeu, gente.

Aproximou-se dos dois. Deu tapinhas no ombro do irmão e contentou-se somente em apertar a mão de Victoria. Ainda se lembrava da última vez em que se abraçaram.

– Certo, então vá dar uma volta com ele, você e Sam para comemorarem.

– Mas a gente ia embora.

–Vamos amanhã pela manhã. Um dia a mais ou a menos não faz diferença.

– Você não vem com a gente?

– Não, eu aconselhei o Sam que essa noite fosse só de você dois. Uma noite de homens, de irmãos como há muito tempo vocês não têm. Estou monopolizando demais o Sam, você precisa dele também. E ele de você.

– Não fale assim, Vic – ele coçou a cabeça – Pega mal.

– Pega mesmo – concordou Sam

– Ai, vocês entenderam. – ela revirou os olhos – Vão lá e coloquem o papo em dia – balançou o dedo para o loiro – Mas, olha só, Dean, não se atreva a levar o Sam pra nenhum clube de strippers. Está bem?

– Que pena! Isso tinha acabado de passar pela minha cabeça. – esboçou um sorriso cretino

– Há-há! Estou morrendo de rir. – deu um rápido beijo em Sam – Tchau, amor.

– Tchau. Tem certeza que não quer vir?

– Tenho. – ela se afastou – Divirtam-se, rapazes!

– Vamos lá, Dean.

– Uh, demorou!

Os dois entraram no carro. Collins ficou lá até eles sumirem de vista. Depois, voltou ao seu quarto. Nenhum deles reparou numa sombra que se encontrava deitada no alto do telhado de um prédio a alguns metros dali. Observava-os. Era o corpo de um indivíduo alto, negro, o cabelo bem cortado e musculoso. Seus olhos enegreceram por completo revelando que era um demônio. Ele discou um número no celular.

– Diga – uma voz feminina respondeu do outro lado da linha.

– Eu consegui encontrá-los. – respondeu o demônio

– Ótimo, não os perca de vista.

– Não vou perdê-los ainda mais pelo modo difícil que eu os achei. Esses patuás que usam são uma droga! Você chega quando?

– Daqui a uns dez dias no mínimo.

– Todo esse tempo?

–É preciso, são ordens primordiais do nosso Pai. Estou organizando vários grupos de busca para acharem o traidor do Crowley para ele. Como vou demorar, é melhor você trocar de corpo várias vezes para eles não notarem que estão sendo vigiados.

– Se quiser posso eu mesmo fazer o serviço que você tiver. – um sorriso perverso se desenhou nos lábios do maldito – Particularmente, eu adoraria brincar com a caçadora gostosa.

– Não faça nada mais do que lhe foi ordenado, imbecil! – a voz esbravejou – Sou eu que fui designada para uma tarefa com eles.

– Que tarefa?

– Isso não lhe diz respeito. Apenas obedeça.

– Está certo. Você é quem manda – concordou de má vontade. Odiava receber ordens dela, mas não tinha opção.

– É assim que eu gosto. Deixe-os em paz, entendeu? Principalmente a Indomável. Assim que der, me encontro com você.

– Então te espero.

Desligou o telefone e guardou-o. Continuou observando o quarto de Collins. Que pena! Havia imaginado tantas torturas deliciosas com aquela mulher! Mas não ia ser bobo de contrariar as determinações de "sua chefe". Não porque tivesse medo dela, mas eram ordens superiores vindas de Lúcifer.

Meg, gostaria de saber o que você pretende com eles.


Notas Finais


Colt¹ - Pessoal, não ficou claro o que aconteceu com a arma depois que eles enfrentaram Lúcifer em Carthage. Ela só voltou a aparecer num episódio da sexta temporada lá no velho oeste e mesmo assim a arma que tinha acabado de ser fabricada por Samuel Colt. De qualquer jeito, na fic vou dá-la como perdida, pelo menos por enquanto.

É isso aí, pessoal! Finalmente, Dean está retomando sua paz de espírito. E esse capítulo quis muito ressaltar a relação entre o Sam e ele. Senti meio que estava perdendo isso de vista. Por mais que a Victoria seja fundamental para a vida deles (e cada vez mais os dois vão se dar conta disso), a ligação entre os Winchesters é algo que não pode ser quebrado e é um dos pilares da série. Mas não se iludam, conflitos ainda vão surgir.Espero que tenham gostado desse longo capítulo! Até mais!


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