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História Almas Trigêmeas - O Exterminador do Futuro (parte 2)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bom, a conclusão do caso. Muita emoções no capítulo! Divirtam-se!

Capítulo 30 - O Exterminador do Futuro (parte 2)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - O Exterminador do Futuro (parte 2)

Anteriormente:

– É uma honra conhecer um anjo de Deus – disse Vic.

– Você é uma caçadora difícil de encontrar, Victoria Collins.

Vic não soube o que responder. Não havia sentimento naquela sentença, fora dita com neutralidade. Por isso, não sabia interpretar se fora um elogio ou não. E nem o que aquele anjo queria dizer.

(...)

– Er... não vem ao caso, mas nessas visões, a Victoria não aparece. É como... se ela simplesmente não existisse.

– Como assim? O que isso quer dizer?

– Nem eles mesmos sabem. Eu até tinha visto ela numa profecia, mas... foi algo isolado, nada relevante – ele se referia ao futuro alternativo em que Sam e Dean estavam separados e o loiro era casado com a caçadora, porém, resolveu não mencionar tal fato – Depois disso, eles pararam de vê-la, embora soubessem que ela está com vocês nessa do Apocalipse. Ouço os sussurros deles de vez em quando a respeito dela. Estão intrigados e me arrisco a dizer até com certo medo. É como se a Victoria fosse um grande personagem de uma importância essencial na história de vocês, mas ninguém sabe dizer que papel e em que momento. Como um personagem surpresa que você resolvesse criar de última hora pra dar aquele desfecho.

(...)

– Só mais uma coisa, Cass... O Chuck nos contou algo que talvez só você possa esclarecer.

E relatou em breves palavras a informação sobre Victoria, de o profeta não poder vê-la em suas visões.

– O que você acha? – concluiu Dean

– Eu... sinceramente não sei – o anjo parecia hesitar em dizer alguma coisa – Estou sem boa parte dos meus poderes e não tenho como acessar o pensamento deles.

(...)

Precisa de algo?

– De nada. Mas tinha que te encontrar não por mim, mas por você e Sam.

– Como assim?

– Vocês correm perigo. Na verdade, é mais o Sam. Há um grupo de anjos, os mesmos que me mantinham prisioneira que temem que seu irmão diga sim a Lúcifer antes que Miguel tenha acesso a você. E eles vão arrumar alguém para matá-lo e espalhar as células do corpo dele pelo universo de modo que nem o Diabo consiga reconstruir.

(...)

– Não acredito nela – declarou o anjo – Pode ser um truque.

– Um truque da Anna? Mas por quê? – indagou Dean espantado.

– Ninguém consegue sair daquela prisão. Se ela saiu, é porque eles deixaram. Isso significa que ela quem deve estar planejando matá-los.

(...)

Estacionou o veículo e saíram. Verificaram o número da casa e para lá se dirigiram. Tocaram a campainha. Logo uma moça loura muito jovem e bonita abriu a porta. Era Mary Winchester. Seu rosto sorridente assumiu uma expressão de assombro ao rever Dean. Ao seu lado, estavam Sam e Vic.

– Oi, Mary – disse o loiro num tom de desculpas.

 

Capítulo 29

O Exterminador do Futuro (2ª parte) - Final

– Não pode estar aqui – foi a resposta de Mary ao se deparar novamente com aquele desconhecido caçador que havia sumido após a morte de seu pai.

Ele era uma lembrança desagradável de seu passado como caçadora que poderia arruinar o segredo que mantinha guardado a sete chaves de John pelo bem do casamento deles.

– Lamento se é uma hora inoportuna – disse Dean e aproximou-se mais da porta. Seu olhar convergiu rapidamente para o interior da casa.

– Você não entende. Eu não... – sussurrou e olhou estranhada para Sam.

O caçador assombrado a olhava de boca aberta como se ela fosse uma deusa do Olimpo. Vic notou e o cutucou; ele se recompôs. Mas ela não podia culpá-lo; também estava impressionada ao ver “sua sogra”, embora mantivesse uma postura impassível. Mary era diferente do que imaginava. Havia visto uma foto dela que Sam lhe mostrara uma vez, uma que ele carregava na carteira. Todavia, na foto, ela mantinha uma postura mais matrona, decidida. Agora que via à sua frente, ela lhe parecia meio delicada. E também era muito jovem e bonita; lembrava um anjo.

– Não faço mais aquilo – continuou Mary voltando a fixar o olhar em Dean – Tenho uma vida normal agora. Vá embora.

– Desculpe, mas isso é importante. OK? – disse Dean impedindo com a mão que ela fechasse a porta.

Com a demora da esposa, John apareceu à porta e postou-se a seu lado.

– Desculpe, querido, eles são... – Mary tentou pensar em alguma explicação

– Primos da Mary. – Dean pensou mais rápido. – Não poderíamos passar pela cidade sem fazer uma visita. – sorriu e estendeu a mão para seu pai – Dean.

– Você parece familiar. – afirmou John correspondendo ao aperto

– Sério? – o loiro se fez de desentendido. Trocou um rápido olhar com Mary – Você também, sabia? Devemos ter nos esbarrado por aí. Cidade pequena, né? Aí já viu.

– Me chamo John. – ele estendeu a mão pra Sam.

O moço voltou a ficar em estado meio abobado como se visse dois fantasmas do passado. Por isso, demorou alguns instantes para apertar a mão que lhe era estendida. Seu cumprimento foi forte.

– Ele se chama Sam. – tornou Dean

– O pai da Mary era um Sam – disse John achando a coincidência curiosa

– É um nome de família.

Sam continuava apertando a mão de John com força. Este notou e achou meio estranho. E mais ainda quando o moço olhou para ele e Mary alternadamente com perturbação.

– Você está bem, chapa? Parece assustado. – inquiriu Sam.

– Ah, não! É mais... a emoção do momento – disse Vic puxando a mão que o Winchester havia estendido para John e colocando-a entre as suas – Nós...decidimos nos casar, não é, Sam?

Ela sorria para ele com o semblante forçado. Sam a olhou confuso.

– Ah, é. Sim. É por isso. – ele disse ao captar a sugestão

– É... e queríamos que Mary fosse a primeira a saber – Dean também entrou no jogo.

– Que ótimo! – disse John – E qual o seu nome?

– Victoria Collins – disse ela e estendeu sua mão – Prazer.

– É um prazer também, Victoria – ele apertou sua mão com firmeza e depois soltou-a – Fico muito feliz por vocês.

– Obrigada. – Vic disse emocionada em também conhecer John. Parecia um homem feliz, simpático e amoroso, diferente do que diziam sobre ele. Claro, antes da tragédia familiar pela qual passaria. E também era muito bonito. Os Winchesters tinham a quem puxar.

– E se me permite dizer, vocês não vão se arrepender de sua decisão. A vida de casados é mesmo uma maravilha – enlaçou a cintura da esposa – Mary e eu podemos afirmar isso com certeza, não é, querida?

– Claro, meu amor – respondeu Mary com um sorriso nervoso. – Mas... eles só passaram mesmo para me dar essa notícia. Já estavam de saída.

– O quê? Mas acabaram de chegar. Fico feliz de conhecer parentes da Mary. Por favor, entrem para uma cerveja.

– Já que insiste – Dean não desperdiçaria aquela oportunidade.

Mary não gostou nem um pouco.

Os três entraram na casa e acomodaram-se na sala. John trouxe as bebidas. Por duas ou três vezes, enquanto bebiam, Vic teve que cutucar Sam ao seu lado por ele olhar de forma intensa e indiscreta para a sua mãe. No entanto, não adiantava; ele logo estava a contemplando novamente, era mais forte do que ele. E logo, tanto Mary como John perceberam a fixação do rapaz.

– Você está bem mesmo, Sam? – indagou John

– Sim. É só... – ele ficou sem jeito, mas não se conteve – Você está tão bonita.

– Em um sentido de família, não estranho e sadio. – Dean acudiu em explicar

– Sim, sim! – completou Sam

– Ele não vê Mary já faz um tempo, e... É que ela é a nossa mãe cagada e cuspida.

– É.

– Sinistro.

Collins nada disse, apenas concordou com a cabeça.

– Então, como vocês são parentes? – John se dirigiu aos irmãos

Mary ficou apreensiva.

– Sabe, distante – inventou Dean

– Conheceram os pais da Mary?

– Sim.

– Sim – repetiu Sam

– O pai da Mary era como se fosse um avô pra nós.

John os encarou com pesar.

– Foi trágico, aquele ataque cardíaco. – colocou a mão sobre o braço da esposa que lhe sorriu. Em seguida, ela olhou para Dean com certa advertência. Ele entendeu.

– Foi, sim. – replicou ele. A moça o olhou dessa vez com certo ressentimento. Ambos sabiam a verdade.

– E vocês já sabem quando pretendem se casar? – continuou John olhando de Sam para Vic

– Er... – o moço não soube o que responder

– O mais rápido possível – Vic se apressou em dizer – No máximo em seis meses.

– Isso.

– Nossa! Vocês devem estar mesmo apaixonados – tornou John com um sorriso.

Sam e Vic trocaram um rápido olhar cúmplice. A caçadora desviou o olhar primeiro.

– É, estamos sim – respondeu ela.

– Muito – completou Sam tomando a mão dela entre as suas e apertando-a firme. Ambos estremeceram pelo contato mais próximo.

Mary notou que aquela informação pelo menos era verdade. A contragosto, esboçou um imperceptível sorriso.

– Então o que estão fazendo pela cidade? – John voltou a interpelá-los

– Negócios, sabe? – falou Dean

– Que tipo de trabalho?

– Encanamento – respondeu Sam

– Sucata – disse Dean ao mesmo tempo

– Vendas – falou Vic sem querer na mesma hora.

Mary notou a contradição das informações e resolveu acudi-los.

– Puxa! Já são quase dezenove horas – levantou-se - Odeio ser grossa, mas tenho que fazer o jantar.

– Talvez eles poderiam ficar.

– Já devem querer ir embora – olhou para Dean com advertência

Nisso, o telefone da casa tocou chamando por um breve instante a atenção de todos.

– Por favor, fiquem. Significaria muito pra mim. Não conheci quase ninguém da parte da família da Mary.

E foi atender o telefonema. Mary os olhou como se fossem invasores de sua vida prontos a lhe tirarem a felicidade.

– 0 -

– Senhor Woodson, estou implorando para que reconsidere. – dizia John num telefone bem antigo pendurado na parede do corredor entre a sala e a cozinha.

– Eu gostaria, John. Você é um ótimo mecânico. – a voz do outro lado respondeu – Mas os tempos não estão bons.

– Até meio período. Preciso mesmo desse emprego.

– Venha até aqui agora e vamos conversar. Talvez podemos chegar a um acordo.

– Está falando sério?

– Te vejo daqui a dez minutos. Não demore – a voz enfatizou a última frase

– Sem problema, senhor Woodson! – disse com entusiasmo – Chego aí até em menos tempo.

– Ótimo. Aguardo por você.

– Até mais. E muito obrigado!

John desligou. Do outro lado da linha, alguém também havia desligado, porém, não era o senhor Woodson. Era Leonel.

– 0 –

– Você tem que ir embora. Agora! – ordenou Mary para Dean

– Só escuta... – ele tentou argumentar

– Não, você escuta. Da última vez que te vi, um demônio matou meus pais. E agora vem aqui como se fosse da família? Seja o que for, estou fora. Deixe-me em paz.

– Você e o John estão em perigo. – interveio Sam

– Que história é essa?

– É verdade, Mary – afiançou Collins – Algo está vindo atrás de vocês.

– Demônio?

– Não exatamente – tornou Dean.

– O quê, então?

– É meio ruim de explicar, OK? É um...

– Anjo. – completou Sam. Dean o olhou com reprovação.

– O quê? – ela riu por um segundo – Não existe isso.

– Quem me dera... – disse Dean – Mas são duas vezes mais forte que demônios. E mais otários.

– Por que um anjo iria querer nos matar?

– É uma longa história, e te contaremos tudo, mas agora, tem que confiar na gente e temos que ir. Olha na minha cara e me diz se estou mentindo.

Ela o encarou. Viu a verdade em seus olhos.

– Certo. – ela suspirou – Pra onde vamos?

– Fora daqui e tem que ser agora.

– Mas o que eu digo pro John?

– Diga a ele que... – o loiro se interrompeu ao ouvir uma batida de porta. Olhou para a direção em que John havia ido atender o telefonema – John?

Os outros também olharam para o mesmo lado e dirigiram-se ao corredor. Ao lado do telefone, estava um bilhete pregado deixado por ele com os dizeres “Volto em quinze minutos. John”. Mary o pegou e trocou olhares com os caçadores.

Enquanto isso, na oficina de carros onde trabalhava, o Winchester chegou.

– Sr. Woodson? – chamou e começou a procurar pelo homem - Ainda está aqui?

Acendeu a luz do local e viu um corpo caído. Era de um sujeito gordo, meio calvo, branco e barbudo que vestia uma camisa enxadrezada de mangas compridas. John o virou. Era o Sr. Woodson. Estava morto e com os olhos queimados e ensanguentados.

O Winchester foi se afastando aterrorizado com o que acabava de presenciar. Ao se virar, deu de cara com um indivíduo bem mais alto do que ele. Era Leonel que o encarava sem piedade. Com um só golpe de sua mão, o anjo o atirou contra uma estante de peças, derrubando o móvel.

Um pouco atordoado, o Winchester foi se levantando. Leonel poderia ter aproveitado e acabado com ele naquele momento, todavia, sentiu a visão turva e uma tontura. Ainda não estava totalmente recuperado de sua viagem temporal. John aproveitou, pegou um maçarico de ferro e acertou-o na cabeça do anjo. Este caiu no chão com o golpe. Contudo, na mesma hora, surgiu ao lado do moço. Jogou-o com a mão atrás de um carro vermelho.

Bem nessa hora, Dean apareceu atrás do anjo pronto a lhe apunhalar com a lâmina angelical, todavia, Leonel segurou seu braço a tempo com uma mão e com a outra apertou o pescoço dele.

– Então você é o famoso Leonel? – disse com a voz sufocada – Sinto dizer que não é um prazer te conhecer. – gemeu – Ou melhor, não sinto.

– E você é o famoso Dean Winchester. – retrucou o anjo irônico – Que decepção! Miguel poderia ter escolhido um recipiente melhor.

E o lançou contra uma janela. Dean foi cair do outro lado após quebrar o vidro com seu corpo. Enquanto Leonel o observava, Mary aproveitou e pegou a lâmina. Ela manejava a arma com habilidade. O anjo se virou para ela. Nesse instante, John recobrava os sentidos do golpe que levara e começava a se levantar. Viu sua esposa lutar com agilidade e destreza contra alguém que era bem mais alto e forte do que ela.

Leonel se desviou de alguns golpes, porém, foi atingido na mão por um. Em seguida, a moça o chutou na boca do estômago. John ficou surpreso em ver tanta força em sua mulher; até mesmo Leonel não esperava que a jovem fosse tão forte e ágil, apesar de saber que era uma caçadora.

Quando Mary foi lhe aplicar novo golpe, o anjo sumiu. A moça o procurou olhando para os lado. Deu alguns passos para trás. Leonel a surpreendeu. Mary tentou atingi-lo com a arma, contudo, dessa vez, o anjo segurou seu braço.

– Desculpe, mas você não devia brincar com algo assim – disse com sarcasmo

Tomou a lâmina dela e jogou-a no vidro dianteiro de um automóvel. Ela sentiu a dor do impacto. Enquanto Mary se arrastava pelo carro para se afastar do anjo, Leonel se aproximou para matá-la. Todavia, foi impedido por um golpe de Victoria que o perfurou pelas costas com a faca de matar demônios. Ele sentiu uma ligeira dor.

– Deixa ela em paz, maldito! – esbravejou a caçadora.

Leonel se virou pra ela e agarrou seu braço com uma mão. E com a outra, tirou a faca de si, jogando-a em qualquer canto.

– Acho que você está confundindo as coisas – disse mordaz – Não sou um demônio.

E derrubou-a contra uma parede. Vic bateu as costas e caiu meio inconsciente.

– E jamais me compare com um – concluiu Leonel com tom de desprezo

Depois, voltou sua atenção para Mary. Foi até ela. A moça conseguiu se levantar e correu até uma pequena estante onde estava um caniço. Agarrou-o e perfurou o peito de Leonel com o objeto na altura do coração.

Um pouco de sangue escorreu pela boca da entidade, porém, foi tudo o que Mary conseguiu provocar. Ela ficou estarrecida ao ver que aquele ser ainda continuava intacto. Este esboçou um sorriso maldoso e foi tirando pouco a pouco o objeto de si.

– Lamento, mas não é tão fácil matar um anjo.

– Não é. Mas podemos distraí-lo – disse Sam após desenhar numa parede com o próprio sangue o símbolo enoquiano que podia mandar um anjo para bem longe.

– Não! – gritou o anjo, porém, não pôde fazer nada, pois o Winchester tocou no símbolo com a palma da mão. Uma luz forte saiu. Em instantes, o anjo havia desaparecido de vez.

Mary ficou assombrada. E notou que não era a única. John a olhava com mais assombro ainda como se não a conhecesse.

– 0 –

Um carro percorria a estrada. Nele, estavam John ao volante, Mary ao seu lado e os Winchesters e Collins no banco de trás. Ela estava entre os rapazes e sentia uma dupla descarga elétrica percorrer seu corpo. Mas estava mais concentrada em Sam; ele segurava sua mão com carinho e ela não tinha vontade de largar por mais que se convencesse que estavam “dando um tempo”. Ele estava preocupado com ela pelo golpe que havia sofrido por Leonel, mesmo Vic tendo garantido que estava bem. Os dois focaram a atenção na conversa que se passava no veículo entre Mary e John.

– Monstros. – John tentava processar a informação enquanto dirigia. Virou-se para a esposa – Monstros?

– Sim – confirmou Mary

– Monstros existem. – afirmou como se tentasse se convencer

– Me desculpe, eu não sabia...

– E você luta contra eles? – interrompeu-a – Todos vocês? – interrogou os outros não dando tempo de a esposa responder

– Sim – respondeu Sam por todos. Ele, Vic e Dean se sentiam constrangidos, como garotos pegos numa travessura.

– Quanto tempo? – inquiriu após uma pausa

– A vida toda – respondeu Mary incapaz de encarar o marido. Como ele nada dissesse, voltou-se para ele – John, só tenta entender...

– Ela não tinha escolha... – Sam se apressou em justificar sua mãe

– Calem-se todos vocês! – ordenou John – Se eu ouvir mais um pio, dou meia-volta nesse carro!

Ninguém ousou dizer mais nada. Apenas Dean se limitou a comentar com seus companheiros:

– Viagem de carro embaraçosa.

Vic apenas assentiu.

– Não brinca – replicou Sam

Chegaram todos a uma velha casa inabitada. Após saírem do carro, seguiram Mary até o interior do local. Ela ligou o interruptor para iluminar a habitação e disse:

– Esse lugar tem sido da família por anos. – abaixou-se para remover uma parte de um tapete. Embaixo dele, havia uma chave de Salomão pintada de vermelho. – Armadilha para demônio. – mostrou numa estante alguns objetos – Ornamentos de ferro puro, é claro. – acendeu a luz da cozinha e virou-se para os três caçadores que olhavam os cantos do local – Deve haver sal e água benta na despensa. Facas, armas...

– Tudo isso só vai fazê-lo ficar mais irritado. – esclareceu Sam

– Então como o matamos? Ou o atrasamos, ao menos?

– Não há muita coisa.

– Ótimo – disse irônica e riu sem graça.

– Ele disse que não há muita coisa, não disse que não há nada. – retrucou Dean – Vamos nos equipar.

Colocou sua bolsa numa mesa e tirou um papel dobrado de seu interior. Os outros se aproximaram.

– Se colocarmos isso e ele se aproximar, nós o transportamos fora da nave espacial. – mostrou o mesmo tipo de símbolo enoquiano desenhado a lápis que Sam havia usado na oficina.

– É óleo santo – disse Sam mostrando um frasco – O equivalente a armadilha pra demônio pra anjos.

Nesse momento, John se acercou de sua esposa e dos outros caçadores atento ao que conversavam, embora ainda estivesse atordoado com a situação.

– Vamos. Vou te mostrar como funciona.

Mary assentiu.

– Vou com vocês – disse Vic

Eles saíram da cozinha junto com Mary, não sem antes de esta trocar um olhar de desculpas com John. Ele ainda estava aborrecido.

Ele e Dean ficaram a sós.

– O que é isso no papel? – indagou ao loiro

– É um cunho. – respondeu o caçador enquanto organizava mais itens que tirava da bolsa. – Significa...

– Não quero saber – John o cortou – Onde devemos colocá-lo?

– Em uma parede ou porta – respondeu Dean tentando entender o motivo da pergunta

– Tem que ser muito grande?

Dean compreendeu o que ele queria após ligeira pausa.

– John... – começou a querer demovê-lo

– O que foi? Vocês me tratam como um tolo, mas não sou um inútil. Sei desenhar o maldito seja lá o que for... Cunho.

– Por que não vai ajudar o Sam e a Vic? Isso tem que ser feito com... – fez uma pausa com medo de chocar o homem – Tem que ser feito com sangue humano.

John não demonstrou perturbação. Simplesmente pegou o punhal encapado em couro de Dean que estava em cima da mesa e, com a ponta, fez um corte na palma da mão esquerda. O sangue começou a escorrer, porém, John não demonstrou o menor incômodo. Dean admirou seu sangue-frio. Reconheceu naquele jovem moço a lenda que se tornaria seu pai.

– Então, qual o tamanho? – insistiu John

– Já te mostro – disse o loiro pegando o papel mal disfarçando sua emoção. Não pôde deixar de soltar um curto riso gutural.

– O que foi?

– Subitamente, você me lembra do meu pai. – disse orgulhoso

– 0 –

No meio do que parecia a sala da casa, Mary preparava uma armadilha de óleo santo tal como Sam e Vic haviam lhe mostrado. Enquanto ela se concentrava na atividade, o caçador contemplava extasiado sua mãe com um sorriso bobo. Vic olhou para ele e sorriu. Sentia uma ponta de inveja do Winchester; ele tinha a oportunidade de encontrar com sua mãe no passado mesmo em circunstâncias desesperadoras. Quisera ela ter igual sorte! Mas estava feliz também por compartilhar aquele momento com ele.

Ao notar o olhar da caçadora sobre si, Sam também a olhou. Também sorriu. Foi Mary que os despertou daquele enlevo. Ela levantara os olhos e percebeu a troca intensa de olhares entre os dois.

– O noivado de vocês realmente é uma mentira? – indagou

– Er... sim – respondeu Sam

– Mas vocês tem algo, não?

– Er...

– Não, quer dizer... sim – Vic tentou explicar a situação entre eles.

– Sim ou não? – ela pareceu confusa.

– Nós... meio que brigamos.

– Mas estamos tentando voltar – completou Sam

– Tentando? Pra mim vocês parecem mais do que tentando – retrucou Mary. – Mas... não é da minha conta.

– Não, mã... er, Mary. Não diga isso – protestou Sam – É da sua conta, sim. Você tem todo o direito de me perguntar qualquer coisa.

A moça o olhou confusa. Detectou aquela intensidade e adoração no olhar do moço. Queria lhe questionar sobre isso, contudo, Dean apareceu no cômodo e os interrompeu:

– Ah, vocês ainda estão aqui. – disse

– É, e você ainda não me explicou o que preciso saber – Mary cobrou.

– Tudo a seu tempo – justificou-se o moço – Só preciso falar com o Sam um minuto.

– Algum problema? – Vic indagou preocupada

– Não... coisa à toa – ele disfarçou e desviou os olhos dos da caçadora. Em seguida, fez sinal para o irmão segui-lo. – Fique um pouco com a Mary, Vic. Assim vocês se conhecem melhor.

Ele piscou para Collins. Ela não correspondeu. Teve uma sensação estranha de que Dean estava lhe escondendo algo, entretanto, resolveu ficar ali com “sua sogra”.

– Então... desde que idade você caça? – perguntou para Mary assim que os rapazes saíram

– 0 –

– O que foi? – indagou Sam

Eles tinham voltado para a cozinha.

– A gente tem que salvar nossos pais de qualquer maneira e não só do Leonel – respondeu Dean

–Vai contar para eles sobre quem somos?

– Eu não sei. Mas... se eu resolver, talvez só pra mãe. O pai já está com muita coisa na cabeça com o que descobriu hoje.

– E o que diria pra ela? Vai contar sobre a noite em que ela é morta pelo Azazel?

– Sim. E vou aconselhá-la a não entrar no quarto... e até levar você pra longe.

Sam assentiu. Imaginou que era isso o que o irmão quis dizer sobre “acertar as coisas” quando ainda estavam lá em 2010.

– Sam, olha... eu não quis falar perto da Vic, mas se pudermos fazer isso... se pudermos alterar as coisas... existe uma grande possibilidade de também mudarmos nossos caminhos com relação a ela.

Sam engoliu em seco.

– Com nossos pais vivos e a gente com eles, não haverá motivo para John se tornar caçador. E muito menos a gente. Isso quer dizer que talvez a gente nunca conheça a Vic... e vocês nunca vão poder estar juntos. – Dean engoliu em seco. Essa possibilidade não lhe agradava. Não só por seu irmão, mas por si mesmo porque talvez nunca conhecesse “seu Anjo”. Todavia, não tinham alternativa.

– E como a Vic fica? – Sam queria argumentar, mas sabia que era tolice. Era a vida de seus pais em jogo.

– Como sempre esteve antes de nos conhecer.

Com um nó na garganta e uma grande tristeza na alma, Sam concordou com um sinal de cabeça.

– 0 –

Leonel estava parado no meio de um bosque à espera de seu subordinado, Set. Depois dele, era o anjo mais eficiente em torturas e obedecia-lhe sem questionamentos.

– Set? – indagou Leonel ao sentir uma ventania percorrer o ambiente.

Virou-se. Lá estava Set no corpo de um jovem baixinho, de dezoito anos, cabelo castanho claro e olhos verdes.

– Leonel? – indagou estranhado – Mas... como? Você acabou de partir para uma missão em busca de alguns irmãos rebeldes.

– Sim, eu sei. Mas como você já deve ter percebido era meu outro eu de agora.

– É verdade. Você é de outra época. – o outro o avaliou de cima a baixo – Mas por que vir aqui agora? O assunto deve ser muito urgente para você ter me chamado, já que temos ordens restritas para não descermos aqui, muito menos possuir um recipiente.

– Está me questionando? – o outro não alterou o tom de voz, mas havia algo em sua postura que impunha temor aos anjos de escala inferior a ele.

– Não, de maneira nenhuma – o outro se apressou em explicar – Quero apenas entender.

– Tudo o que você precisa entender é que estou numa missão muito importante para a qual precisarei de sua ajuda. Preciso que mate uns humanos.

– Sempre estou disposto a matar. Mas não pode mesmo me dizer o que está havendo? – insistiu com certo tom de súplica

– Estas pessoas vão ser responsáveis por trazerem Lúcifer até nós antes que nosso chefe Miguel consiga possuir seu recipiente. Temos que impedir que isso suceda para que o Apocalipse ocorra a nosso favor.

O outro nada disse. Sua expressão era neutra.

– Tenho a sua colaboração? – tornou Leonel

– Sempre.

– 0 –

Victoria havia saído do interior da casa por alguns minutos e estava na varanda. Ela resolveu deixar Sam e Dean a sós com os pais deles. Um simples olhar de Dean foi o suficiente para que ela compreendesse isso.

O mais velho estava com a mãe e o mais novo deveria estar conversando com o pai. Era um momento que ela não queria roubar deles. Embora estivessem numa situação de emergência, isso não significava que seus companheiros não pudessem aproveitar uma oportunidade única como aquela de estar com seus genitores uma última vez.

Por sua parte, ela havia adorado conversar com Mary. Realmente era uma mulher esplêndida que suportara a mesma dor pela qual ela e os rapazes haviam passado: a perda dos pais. E ainda assim, não era uma pessoa amargurada, ao contrário, acreditava no amor e na felicidade apesar da existência do mal que lhe assombrava desde a infância. Prova disso era ter se casado com John Winchester.

Ela havia até lhe aconselhado a não deixar que qualquer coisa estragasse sua relação com Sam. Collins sorriu. O primeiro palpite de sogra. E, infelizmente, seria o único.

A caçadora sentiu um estranho arrepio como se alguém a observasse. Olhou para os lados e não viu ninguém. Mas confiava em sua intuição. Resolveu entrar e avisar a todos.

Nesse ínterim, Dean havia acabado de contar a Mary a verdade sobre ele e Sam serem seus filhos. Convenceu-a contando detalhes de sua vida que só ela própria saberia. A caçadora mal continha a avalanche de emoções que a dominavam: espanto por conhecer seus filhos que nem haviam nascido vindos do futuro; alegria por saber que eles eram fruto do seu amor por John e tristeza por vê-los seguir o mesmo destino que ela tanto tentava em deixar para trás. Destino que, infelizmente, seu marido tomara para si: ser um caçador.

– Me escute – continuou Dean interrompendo o fluxo dos pensamentos dela - Um demônio aparece no quarto do Sam, exatamente seis meses após ele ter nascido. Dois de novembro de 1983. Lembre-se dessa data. E o que quer que faça, não entre lá. Acorde naquela manhã, pegue o Sam e corra.

– Isso não vai adiantar, Dean – Sam entrou e os interrompeu. Fitou-a com pesar. – Aonde quer que ela vá, o demônio vai encontrá-la. Vai me encontrar.

– Bom, o que então?

Nesse exato momento, Victoria se dirigia até onde eles estavam. Havia passado pelo local onde John se encontrava. Parou a alguns metros deles ao ouvir essa parte da conversa. Hesitava se devia interromper um momento familiar.

Eles não a haviam visto e muito menos ouvido seus passos porque seus sapatos não produziam ruído. Sam estava de costas para ela e parado no limiar da porta.

– Ela pode deixar o pai. Isso sim. – disse

A imagem de Vic passava na mente dele. Ele deliberou bastante por causa dela antes de tomar a decisão radical de comunicar aquela ideia a seu irmão e à sua mãe. Mas era preciso.

Victoria sentiu uma pontada no coração. O que ele queria dizer? Dean refletia sobre aquela sugestão enquanto Mary o encarava sem entender.

– Precisa deixar o John. – prosseguiu

– Como é? – inquiriu Mary

– Quando tudo isso tiver terminado, vá embora e não olhe para trás.

Vic tentava captar a implicação daquelas palavras. Será que aquilo significava que...

– Assim nunca nasceremos. Ele tem razão. – Dean havia expressado em voz alta a dedução de Vic

– Como é que é? – ela gritou sem se importar em ser descoberta ouvindo a conversa dos três.

Dean e Mary a fitaram surpresos com sua presença. Sam se virou e viu a expressão acusadora no olhar dela. Ele fechou os olhos se recriminando por não ter ficado atento se ela estava por perto. Collins se aproximou com os punhos fechados. Sam lhe deu passagem para que entrasse no recinto, mas ela se postou apenas do lado dele no ártico da porta.

– Que absurdo é esse que vocês estão falando? – ela se dirigia aos dois, mas olhava fixamente para Sam.

– Vic, me desculpe, mas esse não é um assunto seu – Dean lhe disse de forma ríspida.

– É claro que é um assunto meu! Se trata de suas vidas! – virou-se magoada para ele. Depois voltou seu olhar para Sam – Se trata de nós, Sam! Você pretendia simplesmente morrer e me deixar?- os olhos dela se marejaram, mas ela conteve as lágrimas – Você nem ia me contar sobre isso, não é?

– Vic, não é como se eu fosse morrer, é como simplesmente eu deixasse de existir. - ele evitava olhá-la. Sabia que havia procedido mal.

– Me poupe do uso dos termos corretos! – tornou com sarcasmo

– A gente... a gente nem está mais junto... não totalmente – queria tentar convencê-la sob qualquer pretexto

Ela deu um curto riso de escárnio.

– É essa a sua desculpa? Então o que eu sinto por você, o que a gente viveu até agora não conta?

Sam engoliu em seco, porém, Dean interveio.

– Vic, isso está acima de você e do Sam. Está acima de todos nós. Se trata da vida dos nossos pais – ela ia retrucar, mas se calou ao ouvir a última frase – Se fosse seus pais, você não faria o mesmo?

Collins abaixou o rosto incapaz de responder por uns segundos

– E como eu fico sem vocês? Sem o Sam? – sussurrou.

Antes que Dean retrucasse, Mary disse olhando para ela:

– Não. Não precisa se preocupar, isso não vai acontecer – depois se voltou para Dean balançando a cabeça – Não posso fazer isso com vocês. Estão dizendo que são meus filhos, e agora dizem...

– Você não tem outra escolha – argumentou Sam.

Collins o olhou com vontade de lhe bater, porém, ao mesmo tempo, lembrou-se de que eram os pais dele. Não tinha o direito de impor sua atitude egoísta. Era uma decisão familiar a qual não cabia a ela.

– Há uma grande diferença entre morrer e nunca ter nascido. – tornou Dean – E acredite, estamos bem com isso. Prometo.

– Bem, eu não estou – a voz de Mary era chorosa. Vic também sentia vontade de chorar, mas se limitava a manter a cabeça baixa.

– Acha que poderá ter aquela vida normal que tanto quer, mas não pode. Sinto muito. – acrescentou Sam.

Victoria não queria ouvir mais nada e saiu de perto do Sam.

– Vic... – ele tentou segurar seu braço, mas ela se soltou com raiva

– Me deixa! – esbravejou

Ele fez menção de segui-la, mas Dean o chamou:

– Sam!

Sam o fitou. Dean balançou a cabeça para os lados como quem diz “É melhor deixá-la.” Sam assentiu. O loiro voltou a falar com Mary:

– Mary, sei que parece difícil agora, mas é a única solução.

– Eu não...

– Tudo irá pros infernos. – interrompeu-a Sam – Você vai morrer, e seus filhos serão amaldiçoados.

Após alguns minutos de pausa, a jovem mulher retrucou:

– Deve haver um jeito.

– Não, esse é o único jeito – replicou Dean – Deixe o John.

– Não posso. – teimou com firmeza

– Isso é maior do que nós – disse o loiro e olhou para Sam. Ele estava com a cabeça virada observando Victoria que estava de costas num canto de outro cômodo. Ela escondia o rosto entre as mãos, contudo, o Winchester sabia que estava chorando silenciosamente. Seu coração se comprimiu ao vê-la assim. Odiou-se por magoá-la mais uma vez mesmo sem querer. Dean tornou a fitar Mary – Há tantas vidas em jogo.

– Você não entende. Não posso – insistiu Mary e colocou a mão no ombro – É tarde demais.

Dean a olhou em pânico como se intuísse o que ela lhe diria.

– Estou grávida – ela disse.

Os dois irmãos a olharam estarrecidos. De onde estava, Vic ouviu a última frase e reteve as lágrimas. Ela se virou esperançosa para onde eles estavam. De repente, John passou por ela apressado e foi até onde estavam os outros três.

– Temos um problema – disse – Aquelas coisas de sangue, os cunhos sumiram.

– Sumiram de que forma? – indagou Sam

Vic havia se aproximado deles.

– Eu desenhei um atrás da porta. Me virei e quando olhei estava borrado.

Dean foi verificar através de outra entrada. Notou que numa porta havia, de fato, um cunho desfeito.

– Ele tem razão – disse

– Não há mais óleo santo – informou Mary ao se abaixar no mesmo local onde estava a poucos centímetros.

As luzes começaram a falhar e o princípio de um zumbido, característica da presença dos anjos, ecoava. Sam pegou a lâmina. Vic se postou ao lado dele. Os outros ficaram atentos.

O som aumentou de forma ensurdecedora e todos taparam os ouvidos gemendo de dor. Vic teve uma estranha sensação de déja vu, mas não prestou muita atenção a isso. As vidraças da casa começaram a se quebrar. De repente, o som foi diminuindo até desaparecer.

Uma porta se abriu sozinha. Por ela, Set surgiu e caminhou com passadas leves até eles.

– Quem diabos é você? – indagou Dean analisando o jovem recipiente de anjo

– Sou Set. – respondeu a entidade – Leonel é o meu chefe.

– Ah, fala sério – Dean o provocou ao mesmo tempo em que se afastava – Um garoto?

– Vão – Sam ordenou a seus pais. Eles se postaram atrás dele e de Victoria.

No alto de uma escada, surgiu Leonel. Todos olharam para ele e, depois alternaram para a figura de Set.

– Vai ser em vão, mas vamos tentar. – sugeriu Dean

O loiro avançou para dar um soco em Set, mas este segurou seu braço e o derrubou no chão. Quanto a Sam, avançou com a lâmina para acertá-lo, mas Leonel o impediu e jogou-o contra uma parede de madeira. No impacto, ele a quebrou.

– Sam! – Vic gritou, mas não se moveu para ajudá-lo. A ela cabia proteger os pais de seus companheiros.

Set se aproximou de Dean caído e começou a chutá-lo. Victoria ficou aflita; queria ajudar seus companheiros, mas não podia deixar John e Mary desprotegidos. Notou a lâmina caída a apenas alguns centímetros. De modo disfarçado, tentou chegar até ela, porém, Leonel interceptou seu caminho e jogou-a contra outra parede.

– Não! –gritou Mary

John também tentou fazer a mesma manobra, entretanto, o maldito anjo foi bem mais rápido. Só que dessa vez, não atingiu sua vítima de imediato. Como se sentisse um prazer sádico em ver a agonia nos olhos do Winchester, ele foi levantando seu rosto aos poucos e, depois, acertou-o com um golpe de mão no peito.

– John! – gritou Mary novamente com mais desespero

O golpe fez John atravessar a vidraça de uma janela e cair a alguns metros fora da casa embaixo de umas vigas que sustentavam uma grande caixa d’água de madeira.

Na habitação, Sam recuperava os sentidos. Set socava Dean sem parar. O recipiente do anjo podia ter um corpo franzino, mas isso não o impedia de ferir com força o loiro.

Leonel olhou sem piedade para Mary e começou a se aproximar. Sam se colocou no caminho dele. O anjo se virou, pegou uma faca escondida num buraco de uma parede e esfaqueou o estômago de Sam. Sangue escorreu por sua boca.

– Sammy! – Dean o chamou com a garganta sendo sufocada pela mão de Set.

O Winchester deu uma última olhada no irmão. Depois olhou para Victoria que acabava de recobrar a consciência. A primeira coisa que viu foi Sam encostado na parede com a faca enfiada em seu corpo.

– Vic... sussurrou

Do lado de fora, uma luz resplandecente ofuscou a vista de John e fê-lo recobrar os sentidos. Dentro da casa, Sam caiu mortalmente ferido.

– Sam! – gritou Dean ainda com Set o enforcando.

– S... Sam!!! – Vic gritou desesperada e sem se importar com a dor que sentia nas costas, levantou-se de um pulo e correu até ele. Abaixou-se e viu com horror o corpo do namorado trespassado. Tirou o instrumento cortante da barriga dele com cuidado.

Leonel se voltou para Mary.

– Agora não teremos mais interrupções – disse Leonel

Mary estava paralisada de medo.

– Desgraçado! – Victoria avançou no anjo com fúria. Mas este se virou, deu um tapa na mão dela que segurava a faca, fazendo o objeto cair e agarrou-a pelo pescoço. Começou a estrangular a caçadora.

– Vic... – Dean tentou gritar por seu nome, mas o aperto de Set estava cada vez mais forte.

– Solte ela! – gritou Mary desesperada – É a mim que você quer!

– Como quiser – disse ele e largou Collins no chão. Ela tossiu enfraquecida pelo sufocamento.

– Não se preocupe. Embora não seja do meu gosto, o farei rápido e indolor – disse o anjo sádico ao se aproximar de Mary

– Leonel – uma voz firme e enérgica o chamou

O anjo torturador se virou com um arrepio. Reconhecia aquela voz. Era Miguel e estava no corpo de John.

– Miguel. – ele ficou aterrorizado

O arcanjo não disse nada; apenas se aproximou de Leonel e com um só toque de mão no ombro deste, fê-lo se queimar por completo e reduzir-se a cinzas. O anjo berrou de dor. Em seguida, Miguel olhou para Set.

– Miguel... – o anjo havia largado Dean e se aproximou lentamente de seu superior em tom de desculpas. Parou. – Eu não sabia.

– Adeus, Set – com um estalar de dedos fez o outro sumir dali.

Enquanto isso se sucedia, Vic se afastou com cautela do arcanjo. Todavia, teve a impressão de que Mary não corria mais perigo. Então se esqueceu de tudo e de todos e olhou para Sam. Sentiu uma dor ao vê-lo caído... como morto. Não. Ele não podia estar morto. Ela se arrastou até ele e tentou acordá-lo chamando-o baixinho no ouvido.

– O que você fez com o John? – indagou Mary com um pouco receio de Miguel.

– John está bem – disse ele sereno

– Quem... O que você é?

– Shhh – ele colocou os dedos nos lábios pedindo que ficasse quieta. Depois, tocou-a com os mesmos na testa fazendo-a cair desacordada.

Dean recobrou fôlego e foi caminhando tropegamente até Miguel. Sentia uma dor nas costelas.

– Já chega de adiar essa nossa conversa – disse o arcanjo – Não acha?

– Conserte-o – Dean ordenou apontando Sam.

– Primeiro, nós conversaremos.

–Sam, por favor, acorda! – Vic disse em um tom mais audível. Tentava reanimar o Winchester sem sucesso. Lágrimas desciam do rosto dela.

Até então Miguel nem tinha dado por sua presença, todavia, no momento em que ouviu o som de sua voz chorosa, ele apenas lhe dirigiu um olhar desinteressado. Mas assim que viu o rosto dela, sua expressão se contorceu de visível espanto.

– É você!? Aqui!? – o tom enérgico e alto assustou a ela e a Dean

Victoria o olhou apavorada. No olhar do arcanjo, havia um misto de pânico e ao mesmo tempo, satisfação. Collins se sentiu por um segundo como uma barata que alguém temesse em encontrar, mas ao mesmo tempo, sentia-se satisfeito por achar porque pretendia exterminá-la.

Instintivamente, ela se encolheu. Miguel deu um passo até ela, mas Dean se postou rapidamente na sua frente.

– Afaste-se dela! – esbravejou com uma careta de dor pelo esforço

Miguel se recompôs e fez o que o caçador disse. Tanto o loiro como a caçadora estavam confusos com a atitude dele.

– Desculpe, achei que tinha visto uma espécie de demônio poderoso com que me defrontei uma vez – justificou-se.

Os dois caçadores não ficaram muito convencidos. A moça se lembrou de que Lúcifer havia tido a mesma reação na vez em que se encontraram. Mas ela resolveu ignorar o arcanjo e colocou a cabeça de Sam sobre seu colo.

Dean olhou para eles e saiu de perto, mas atento a qualquer manobra de Miguel.

– Vamos! O que espera para colocar Sam novinho em folha? – ele ordenou com sua postura arrogante.

– Como eu disse, vamos conversar. – tornou Miguel e olhou para Sam procurando ignorar a presença de Collins – Depois eu consertarei seu querido Sammy.

Ao ouvir isso, Collins se acalmou um pouco e secou as lágrimas. Mas evitou olhar para Miguel.

– Como conseguiu entrar no meu pai? – questionou Dean

– Eu disse que poderia salvar sua esposa e ele aceitou.

– Acho que eles encheram minha bola, sendo seu único recipiente.

– Você é meu verdadeiro, mas não único recipiente.

– O que isso quer dizer?

– É uma linhagem de sangue.

– Uma linhagem?

– Vem desde Caim e Abel. Está no seu sangue, no do seu pai, no da sua família.

– Maravilha. Seis graus de separação celestial. O que quer comigo?

– Realmente não sabe a resposta disso?

– Sabe que não aceitarei, então, por que está aqui? O que quer comigo?

– Só quero que entenda o que eu e você precisamos fazer. – ele se aproximou mais do Winchester.

– Entendi. Você tem uma birra com seu irmão. – ironizou

– Dean... – Collins o chamou em um tom baixo de advertência. Tinha receio que ele irritasse Miguel e este não quisesse ajudar Sammy e até machucasse o loiro.

– Façam terapia, amigo. Não descontem no nosso planeta! – Dean a ignorou e desafiou o arcanjo

– Você está errado. – fez uma breve pausa – Lúcifer desafiou nosso pai, ele me traiu. Mas ainda assim... Eu não quero isso assim como você não quer matar o Sam. – Dean ficou sem palavras. Collins estremeceu ao ouvir a última frase e também com a rápida olhada que mais uma vez Miguel lhe dirigiu ao se virar para ela e Sam dando as costas ao loiro. O arcanjo procurou fixar seus olhos no rosto do caçador sobre o colo de Victoria.– Sabe, o meu irmão eu praticamente o criei. Tomei conta dele de uma maneira que a maioria nunca entenderia, e ainda o amo. – depois, voltou-se para Dean – Mas vou matá-lo porque é certo e preciso fazer isso.

– Porque Deus lhe disse.

– Sim. Desde o início, Ele sabia como isso terminaria.

– E você vai fazer o que Deus mandar.

– Sim, porque sou um bom filho.

– Acredite, amigo, vindo de alguém que sabe, essa é uma rua sem saída.

– E você acha que sabe mais do que meu Pai? – ele sorria com escárnio – Um homenzinho sem importância... O que o faz pensar que você tem escolha?

– Porque preciso acreditar que posso escolher o que faço da minha vida sem importância.

– Você está errado.

– Não, não está – Vic ousou se pronunciar – Livre arbítrio, não?

Antes não houvesse dito nada porque Miguel lhe dirigiu um olhar de intenso ódio que a fez se arrepiar outra vez. Mas ele desvaneceu na mesma hora tal expressão. Sorriu condescendente para ela e disse:

Sabem como eu sei? – deu as costas mais uma vez para Dean e desviou os olhos da caçadora – Pensem em um milhão de atos aleatórios do acaso que fizeram com que John e Mary nascessem, se conhecessem, se apaixonassem e tivessem os dois, Dean e Sam – apontou os irmãos um de cada vez. Depois só se dirigiu a Dean – Pense em um milhão de escolhas aleatórias que fez e, mesmo assim, como cada uma delas leva vocês mais perto de seus destinos. Sabe por que é assim? Porque não é aleatório. Não é o acaso. É um plano que se desenrola perfeitamente sozinho. – olhou para Victoria sem demonstrar emoção – O livre arbítrio é uma ilusão, minha cara. – voltou a olhar Dean – Por isso que você aceitará.

Vic quis retrucar, mas algo em seu íntimo a impediu. Abaixou a cabeça e passou a prestar atenção só em Sam. Ao ver a expressão angustiada do loiro, Miguel acrescentou:

– Alegre-se. Podia ser pior. Sabe, ao contrário dos meus irmãos, eu não deixo você babando quando deixo seu corpo.

– E quanto ao meu pai?

– Melhor do que novo. Na verdade, farei um favor aos seus pais.

– Qual?

– Apagarei suas mentes. Eles não se lembrarão de mim ou de você.

– Não pode fazer isso.

– Só estou dando à sua mãe o que ela quer. Ela pode voltar ao seu marido, sua família...

– Ela estará naquele quartinho de bebê.

– Obviamente. – virou-se outra vez e se afastou – E você sempre soube que isso ia acontecer de um jeito ou de outro.

Dean ficou estarrecido. Vic olhou para ele. Uma parte dela se sentia mal por ele e a outra – e essa era a maior – sentia-se aliviada pelas coisas não mudarem o rumo que o levaria e a Sam até ela.

– Não pode lutar contra a administração – concluiu Miguel

Em seguida, se aproximou de Vic e Sam. Ela tremeu com sua proximidade, mas ele não lhe dirigiu o olhar. Mirava apenas Sam e abaixou-se para tocá-lo.

– Vai... vai ressuscitá-lo? – ela perguntou com voz trêmula.

– Shhh... – foi tudo o que ele disse e tocou na testa do moço ao mesmo tempo em que tocava na testa de Vic

Na mesma hora, ela e Sam desapareceram dali. Ficou apenas uma grande poça de sangue no lugar onde o corpo do caçador estava.

– Eles estão em casa. Sãos e salvos. Os dois pombinhos vão poder se entender enquanto ainda conversamos. – aproximou-se de Dean – Sua vez. Ah! Só um conselho que me esqueci de dizer à sua amiga. Dê um recado para ela.

O loiro ficou atento. Miguel parecia ter prestado bastante atenção em Victoria a despeito de quase ignorá-la.

– Avise-a que é melhor ela não se meter nessa luta de vocês. – prosseguiu – Que ela aproveite o quanto pode com seu irmão, mas na hora do encontro de nós quatro, você, eu, Sam e Lúcifer, é melhor ela estar bem longe.

Dean estreitou os olhos. Aquilo era um aviso ou uma ameaça velada? E Miguel estava preocupado com a intromissão de Victoria? Antes que fizesse qualquer pergunta, o arcanjo se despediu:

– Vejo-o em breve, Dean.

Tocou-o na testa e ele desapareceu. Miguel sorriu. Dois coelhos com uma só cajadada. Primeiro, havia conhecido pessoalmente seu recipiente e o abalado com suas palavras. Claro, não o havia convencido porque o Winchester era famoso por ser um grande teimoso e cabeça-dura. Mas já era um começo aquela conversa entre eles.

Segundo, finalmente, havia descoberto a única que podia arruinar seus planos. A única que sempre os arruinou. Não poderia chegar nela agora, mas sabia como encontrá-la. Ou melhor, quando, graças ao padrão que detectou em seu corpo. Iria achá-la antes que fosse tarde demais para localizá-la.

No fim, Leonel lhe fez um grande favor. Talvez devesse ter sido menos radical e o poupado. Bom, já estava feito.

– 0 –

Enquanto Dean ainda estava com Miguel, Vic e Sam haviam retornado ao motel no quarto dos Winchesters. Eles surgiram no meio do cômodo em pé de frente um para o outro.

– Sam! – Victoria gritou de alegria e pulou no pescoço do Winchester quase o derrubando. Ele sorriu e a envolveu nos braços apertando-a forte contra si. Depois, ela se afastou e começou a tatear o corpo dele para ver se não tinha nenhuma ferida – Meu Deus, Sam! Você está bem? Não se sente mal?

Ele segurou em suas mãos e fitou-a com intensidade.

– Estou bem.

Vic respirou fundo. Eles se olhavam intensamente. Estavam a ponto de aproximarem os rostos para se beijarem quando se deram conta do que havia acontecido até ali.

– Meu Deus! Dean! – exclamou Vic

– Os meus pais! – falou Sam

Todavia, nesse instante, o loiro surgiu diante deles.

– Dean! – Vic e Sam exclamaram quase ao mesmo tempo e se aproximaram do loiro

– Você está bem? – indagou Collins.

Ele confirmou com um movimento de cabeça.

– E os nossos pais? – inquiriu Sam.

– Está tudo bem. Miguel apareceu por lá e resolveu tudo.

– Miguel? Como assim? – Sam estranhou

Dean exausto se sentou na cama e, em poucas palavras, contou o que havia acontecido desde o momento em que Sam foi atingido até ele ser mandado de volta pelo arcanjo. Omitiu apenas o aviso que Miguel mandou para Victoria. Por ora, não queria preocupá-los com aquilo.

– Então não deu certo – Sam também se sentou ao seu lado – Não conseguimos salvar nossos pais da maneira que queríamos.

– Rapazes, me desculpem pelo o que vou dizer, mas uma parte de mim está aliviada por isso. Quer dizer, eu sei que são seus pais – ela se apressou em dizer ao ver suas expressões reprovadoras – E como vocês me disseram, se fossem meus pais, eu tentaria fazer o mesmo. – suspirou – Mas acontece que não sãos meus pais e eu não suportaria ficar sem vocês.

– Você nem saberia que um dia nos conheceu – disse Dean com amargura.

– Sim, mas minha vida teria continuado vazia, sem sentido, como esteve nesses últimos anos. Às vezes me pergunto o que seria de mim se não tivesse conhecido vocês. – olhou de um para o outro – Você, Sam, é importante para mim como meu namorado, mas você também é, Dean. É como um familiar pra mim.

– Como um irmão mais velho? – ele zombou

– É, algo assim.

Não como um irmão porque não se tem pensamentos lascivos sobre um, mas Vic queria simplificar as coisas. Dean pareceu entender.

– Nossa! Com toda essa confusão... E o Cass? Será que está bem? – ela indagou preocupada.

– Espero que sim – disse Sam

– Deve estar. Aquele lá é durão. E talvez Miguel o mande de volta pra gente como um favor adicional – acrescentou o loiro com amargura – Não gosto de pensar que estou devendo algo a ele.

– E não está. – afirmou Collins – Foi a corja dele que provocou tudo isso. Ele tinha a obrigação de consertar.

Houve um silêncio prolongado entre eles.

– Bem, acho que vou voltar para o quarto – concluiu Victoria – Está de noite aqui. Vou deixá-los descansando. – hesitou se beijava Sam nos lábios. Por fim, abaixou-se para dar um rápido beijo em seu rosto – Tchau, Sammy. Durma bem. Amanhã conversamos.

– Tchau. – ele sorriu.

– Tchau, Dean – ela se despediu também com um beijo no rosto do caçador.

– Tchau.

Collins foi até a porta, abriu-a e saiu. Antes deu mais uma olhada para Sam. Queria estar a sós com ele para finalmente se acertarem, mas já haviam tido muitas emoções por várias horas em diferentes épocas. Talvez o melhor fosse deixá-lo descansar. Fechou a porta.

– Sério, Sammy ? – disse Dean olhando para o irmão assim que Vic saiu

– O quê? – perguntou o outro sem entender

– Pelo o que eu vi, Vic está mais receptiva com você. Te chamou até de Sammy e até voltou a se referir a você como namorado.

– É. – ele sorriu

– E vai deixar assim?

– Assim como?

Dean revirou os olhos.

– Cara, às vezes me pergunto se você é mesmo o meu irmão. Só não duvido mais por causa desses otários que querem nos possuir. Você tem certeza de que quer passar mais uma noite ao meu lado ao invés de tirar o atraso com a Victoria?

– Dean, você é incrível! Com tudo o que passamos, como você diz uma coisa dessas? Acha que vou simplesmente chegar na Vic com esse tipo de atitude? Não vou força-la a isso. Ela deve querer que a gente converse primeiro. E isso só amanhã, ela deve estar cansada.

– Cara, tem certeza que você entende de mulher? E conhece a Vic mesmo? Tá na cara que ela quer que você vá naquele quarto e a pegue de jeito.

– Dean... – ele balançou a cabeça desdenhando a sugestão.

– Confie em mim, cara. Sei o que estou dizendo.

Sam hesitava. Mordeu os lábios.

– Seja homem, cara! – insistiu o loiro

Sam se levantou decidido.

– Está bem, mas se ela me botar pra fora daquele quarto, eu bato em você – apontou o dedo para ele como sinal de aviso enquanto se dirigia para a porta.

– Se você voltar sem ter sucesso eu é quem vou te bater.

Sam não disse mais nada e saiu do quarto. Assim que se viu sozinho, Dean deitou metade do corpo na cama de barriga para cima. Olhou para o teto. As palavras de Miguel ecoavam em sua mente. A dúvida o assaltava por instantes. Seria verdade? Ele não tinha livre arbítrio para escolher seu destino?

Mas o que mais o inquietava era o aviso que o arcanjo dera sobre Victoria. Deveria contar para ela e Sam? E deveria se preocupar com aquilo?

– 0 –

As roupas de Sam e Vic estavam espalhadas pelo quarto. Os corpos nus deles estavam colados um no outro, o dele por cima dela. Ambos suavam e recobravam o fôlego pela relação que haviam acabado de ter. Olhavam-se com carinho. Sam beijou os lábios dela com delicadeza.

Mal Vitoria havia acabado de entrar no quarto, Sam foi atrás e bateu na porta. Assim que ela abriu, sem dizerem uma palavra, jogaram-se nos braços um do outro e fizeram amor com uma ânsia e desejo acumulados por aquele tempo que não se tocavam.

– Eu te amo – disse Sam com a voz rouca com o rosto sobre o dela.

– Eu também te amo. – respondeu ela

Mentalmente, o Winchester agradeceu o conselho de seu irmão.

– E Sam – continuou ela

– Hum?

– Nunca mais faça isso comigo – ela encostou o dedo no nariz dele

– O quê? – perguntou confuso

– Morrer do jeito que você morreu lá em 1978.

– Foi algo que não pude evitar.

– Certo. Mas me prometa que também não vai ter uma ideia louca como essa de querer não existir. Você me prometeu uma vez que jamais me deixaria.

Ele não respondeu. Uma sombra de tristeza anuviou seu rosto.

– Eu sei, eu sei, eram os seus pais – ela notou seu estado de espírito - Mas, Sam... as coisas são como são. Não podemos querer mudar o passado.

– É, vejo que não – ele ficou pesaroso – Sabe, conversei com meu pai enquanto ele desenhava os cunhos. E tive outra visão dele. Agora eu o entendo.

– Você o culpava por tudo o que lhe aconteceu, não é? – ela passou a mão no rosto dele

– É. E de forma indireta, disse isso pra ele. Mas disse também que o entendia, que o perdoava por tudo. Só que eu gostaria de ter feito isso antes dele morrer e de forma direta.

– Aonde quer que ele esteja, ele sabe disso, meu amor.

Sam sorriu.

– Eu estava com saudades dessa sua capacidade de me animar.

– Fui má com você, né, Sammy?

– Foi, mas eu mereci.

– Hum, vamos esquecer isso. – ela alisou seu rosto outra vez

– E sabe do que mais? Estou feliz por você não ter feito a tatuagem nas nádegas como você disse que faria – ele sorriu malicioso

– Disse aquilo só pra te provocar. Imagina se eu ia deixar qualquer homem tocar na minha bunda!

– Nádegas.

– Bunda.

– Nádegas.

Riram.

– OK. E você não gostaria de beijar a tatuagem mais uma vez? – mordeu os lábios maliciosa.

– Adoraria.

Ele saiu de cima dela. Victoria se virou de costas e Sam observou toda a extensão nua de seu corpo visto por trás. De fato, a marca contra possessão não estava nas nádegas. Mas se encontrava um pouco acima delas, no vão das costas, um pouco abaixo das costelas. Era um lugar bem sexy para se apreciar.

E foi lá que Sam beijou e mordeu, começando a provocar nova onda de prazeres em Vic.

– 0 –

Castiel estava no alto de uma montanha. Havia chamado Anna Milton há alguns minutos e aguardava-a pacientemente.

Fazia quatro dias desde sua viagem no tempo e o anjo já estava recuperado para alívio de seus amigos caçadores. E, embora o problema com Leonel estivesse resolvido, Cass acreditava que não havia terminado. Tinha certeza de que Anna seria um problema maior. Por isso, queria conversar com ela.

– Como vai, Castiel? – a voz de Anna o saudou às suas costas. Ele se virou para ela – Recebi seu chamado.

A expressão no rosto dela era neutra, mas ela parecia em alerta.

– Olá, Anna – ele a saudou sem muito entusiasmo. Uma parte de si ainda se sentia culpada pelo que havia lhe feito.

– Soube que Leonel foi exterminado – ela foi direto ao assunto.

– E eu me pergunto o motivo de você ter avisado os Winchesters sobre ele.

– Eu quis simplesmente ajudá-los.

– Por quê?

– Tenho os meus motivos.

– E continuo a perguntar: por quê?

– Não confia em mim?

– Não.

– Então é a minha vez de perguntar: por quê?

– Você está fora da prisão, é esse o motivo. – ele começou a rodeá-la – E se está fora, é porque deixaram você sair. E a mandaram para fazer o trabalho sujo deles.

– Engraçado. Não fui eu quem tentou matar os pais de Sam em 1978.

– É, mas parece que está bem informada dos passos de Leonel tanto que sabe pra quando e onde ele foi.

– Tenho minhas fontes.

– E são elas que certamente elaboraram esse esquema. Sabe o que eu penso? O Leonel foi apenas uma distração para algo maior.

– Quando você se tornou tão desconfiado, Castiel? Éramos grandes aliados antes de tudo isso ocorrer. Antes da minha queda. Eu não faria nenhum mal aos Winchesters e muito menos a você.

– Então por que está com uma lâmina? – inquiriu sentindo o único objeto que poderia matá-lo.

– Proteção. Assim como você está segurando uma. – ela devolveu. Ele engoliu em seco. – Sabe, Castiel, foi você quem me entregou para eles...

– Foi um erro – ele disse a interrompendo

– Sou eu quem deveria duvidar de sua integridade – ela continuou ignorando a resposta – E pra ser sincera, eu nem teria vindo porque também não confio em você.

–Então por que veio?

– Ordens – ela disse. Resolveu contar a verdade para ele – Quer saber mesmo o que aconteceu? Você está certo. Não me libertei sozinha.

Cass estreitou os olhos.

– Mas não foram meus torturadores que me soltaram. Eu fui resgatada por um grupo de anjos.

– Qual grupo? Por acaso alguns partidários de Lúcifer?

– Não. Nem partidários de Lúcifer nem de Miguel.

– Então de quem?

– Isabel.

O anjo abriu a boca incapaz de acreditar.

– Sim. Isabel. A terceira arcanjo mais poderosa, irmã direta deles.

– Impossível – ele sussurrou num fio de voz – Ela é só uma lenda.

– Era o que eu pensava até ser salva por ela e pelos anjos que a apoiam. E sabe o que significa ela existir, não é?

– Não – ele lhe deu as costas – É absurdo demais.

– Não é. E você sabe no fundo que digo a verdade.

– O que quer dizer?

– Victoria Collins. Sim. Você sabe o que ela representa. E sabe também que Dean e Sam são mais do que meros recipientes escolhidos por Miguel e Lúcifer.

– Você está mentindo – ele não podia crer. Ia de encontro com tudo o que sempre acreditou.

– Você deve ter percebido assim que a encontrou pela primeira vez. – insistia Anna – Não perguntou pra ela como conseguiu o cunho que a protege de ser encontrada?

Ele balançava a cabeça negando a ideia.

– Ela não te falou sobre ter sonhos com eles?

Ele não respondeu, mas Anna deduziu a resposta afirmativa pelo silêncio dele.

– Cass, a verdade está na sua cara. Por que você prefere ignorar?

– Porque isso é um monte de mentiras inventadas por anjos que se rebelaram contra Deus.

– Contra Deus? Ou contra Miguel?

Cass não deu resposta.

– Castiel, você e eu somos anjos jovens. Há muita coisa que sabemos por intermédio de Miguel, mas nenhum de nós soube realmente de Deus porque nunca o conhecemos ou o vimos de verdade.

– Eu vou encontrá-lo.

– É mesmo? E como está a sua busca?

Ele não respondeu.

– Venha comigo – ela estendeu sua mão – Eu lhe provarei que o que digo é verdade. E também provarei que é a única esperança para acabarmos com tudo isso.

Castiel hesitou por alguns instantes. Por fim, afastou-se.

– Não. A resposta é não. – Anna abaixou a mão desapontada – Você é esperta, Anna. Diria qualquer coisa para me convencer. Deve estar querendo me afastar deles para me aprisionar.

– Cass... – ela tentou convencê-lo

– Anna, passamos por muitas coisas juntos. Mas se aproxime de Sam Winchester, de Dean...ou de Victoria Collins e eu a matarei.

Olharam-se longamente. Em seguida, Castiel sumiu. Anna suspirou inconformada.

– Não precisa ficar assim, Anna – uma voz soou ao lado da anjo.- Você tentou.

Era Isabel. A arcanjo de cabelos pretos e olhos verdes.

– Por que ele não pôde aceitar?

– Porque é demais para ele.

– Talvez se você se mostrasse e falasse com ele...

– Não, as coisas tem que acontecer sem as pressionarmos. É por isso que não vou interferir a não ser que seja estritamente necessário. Os meus irmãos precisam aprender essa lição.

– Mas no meio disso tudo, Sam, Dean e Victoria podem se machucar.

– Eles vão sobreviver. São sobreviventes. Sempre foram.

Isabel sorriu. Anna correspondeu.

– Vamos?

– Vamos.

As duas sumiram da montanha.


Notas Finais


Bem, gente, é isso aí. O mistério Collins se intensifica! E como devem ter reparado, não coloquei o personagem do Uriel. Como ele era ligado a Anna, não vi muito sentido em pô-lo no capítulo.Gente, perdoem se não coloquei um hentai entre o Sam e a Vic, mas é que já estava muito grande. Mas não se preocupem, haverá outros capítulos. OK?

.Até a próxima


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