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História Almas Trigêmeas - Dia dos Namorados Macabro - (Parte 2) Final


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bem, a conclusão do caso. Espero que gostem! E não deixem de ler as notas finais.

Divirtam-se!

Capítulo 32 - Dia dos Namorados Macabro - (Parte 2) Final


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Dia dos Namorados Macabro - (Parte 2) Final

Anteriormente:

– Desculpe por ter mentido. Abra a porta – disse Sam da fresta da pequena janela do quarto do pânico.

– Não precisa se desculpar. Não é culpa sua ter mentido pra mim repetidamente – disse Dean do lado de fora pela fresta – Entendo agora. Você não pôde resistir.

– Não sou nenhum drogado.

– Sério? Então, foi só imaginação ter visto você tão debilitado ultimamente.

– Está tentando deturpar isso em uma ridícula intervenção de droga? – Sam deu as costas para seu irmão por um momento e passou as mãos pela cabeça com angústia. Depois se voltou para Dean

– Se a carapuça servir.

– Não bebo o sangue de demônio por prazer. Estou ficando forte o bastante para matar Lilith.

(...)

– Verdade, tinha esquecido – Sam esboçou um sorriso amargo – Acha que ao ver um demônio, vou ter uma recaída, como se, depois de tudo, eu não tivesse aprendido a lição.

– E aprendeu? – Dean perguntou irônico

Sam ferido pelas palavras do irmão o empurrou contra a parede. Ellen que estava com os outros notou o conflito entre eles.

– Se acha mesmo... – Sam não foi capaz de concluir a frase. Tremia de fúria.

(...)

– Então, quem é você? – perguntou Sam amarrado na cadeira

– Eis uma dica – o homem se sentou defronte ele – Eu estava na Alemanha, depois na Alemanha, depois no Oriente Médio... Estava em Darfur quando meu Pager apitou. E vou sair com os meus irmãos. Eu tenho três – enumerou nos dedos – Vamos nos divertir muito.

(...)

– Boa manobra, Winchester. – começou a falar num tom mais sério ao se dirigir ao loiro – O que custou a vida de meus irmãos foi ter subestimado vocês. E eu quase ia por esse caminho. Não vou perder meu tempo com brincadeiras. Vou acabar com você, com a vadia e com o emplumado ali – olhou para Castiel – E depois vou chamar Lúcifer para vir buscá-lo, Sam Winchester – sorriu com satisfação ao contemplar o moço – E como bom escudeiro que sou, irei me juntar ao meu Cavaleiro assim que ele chegar, o Fome.

(...)

– E em vez da gente ficar aqui perdendo tempo com cupidos e suas tramas, a gente devia buscar em outra direção o que está causando tudo isso. – retrucou Dean

– Bem, se não é o cupido que está fazendo isso, então o que pode ser? – questionou Sam

– Um Tormento? – sugeriu Victoria – Eles são peritos em causar transtorno em massa.

– Dessa vez não – negou Cass – Não sinto a energia de nenhum deles no ar.

– Seja o que for é melhor a gente descobrir e rápido – disse Dean enfático e saiu de lá apressado como se não suportasse ficar naquele espaço.

Seus companheiros intrigados o observaram.

– O Dean está com algum problema – comentou Sam

(...)

Vic ficou paralisada. Não sabia o que diria a ele porque não sabia nem como foi parar ali. O Winchester deu alguns passos e estacou ao se deparar com Victoria no meio do seu quarto usando apenas uma toalha – a sua tolha – que cobria parcialmente o corpo dela, dos seios até uma parte das coxas.

– Dean... eu juro pra você que não sei como vim parar aqui – ela tremeu e começou a tentar se explicar. Esticou o braço mostrando o banheiro – De repente eu estava tomando banho no seu chuveiro, mas eu...

Quando voltou seu rosto para fitar o Winchester, ele já havia se aproximado repentinamente e tomado seu rosto entre as mãos.

– Não fala mais nada – disse ele com a voz rouca e respiração entrecortada. Vic podia sentir seu hálito quente – Não importa como você chegou aqui, mas que você está aqui.

– Nós não devíamos... – ela tentou manter o bom senso, porém, não conseguiu.

No instante seguinte, Dean havia tomado seus lábios num beijo ardente.

Capítulo 31

Dia dos Namorados Macabro (2ª parte) - Final

– Você está bem mesmo? – indagou Sam pela quinta vez no carro de Victoria. Ele estava na direção e ela no banco de passageiro. Não se sentia animada a dirigir.

Era final de tarde. Iriam outra vez ao necrotério do hospital.

Collins suspirou. Não queria ter que responder àquela pergunta de novo e mentir para o namorado que estava tudo bem. Sam não era bobo. Se ele perguntava, era porque a perturbação dela era visível. Tudo por causa do maldito sonho. Bom, não tão maldito se visto sob outra perspectiva, mas não queria analisá-lo dessa forma.

– Sim... estou bem. – deu a mesma resposta

O Winchester olhou para frente tentando conter sua frustração. Conhecia Victoria o suficiente para saber que lhe mentia. Mas resolveu que novamente ignoraria a falta de confiança dela.

– Está certo... Se você diz

Ia dar partida no carro, mas Victoria segurou seu braço.

– Sam, olha, eu... eu me sinto perturbada desde que chegamos nessa cidade – resolveu admitir em parte o problema.

– Que tipo de perturbação? – ele virou o corpo parcialmente para ela

– Eu... não sei. – disfarçou – Só me sinto muito ansiosa. O sonho que eu tive tem a ver com isso.

Isso era verdade. Estava muito ansiosa. Mas sua ânsia tinha um nome definido: Dean Winchester. Só que essa parte Sam não precisava saber, em sua opinião.

– E por que você não me falou isso antes?

– Eu não queria te preocupar com coisa à toa.

– Ei, pare com isso – ele pegou seu rosto com as mãos. Havia repreensão em seu olhar – Nada do que acontece com você é coisa à toa pra mim. Eu já disse que você pode falar qualquer coisa que quiser comigo. Confie em mim, Vic.

Confiar. O problema não era esse. Ela só não queria magoá-lo com a verdade. E não só aquela referente aos seus sentimentos por Dean, mas todo o resto.

– É melhor nós irmos – resolveu desviar o assunto – Quero resolver esse caso logo e sair daqui.

O Winchester suspirou cansado. Victoria e sua mania de escapulir de contar seus segredos. Aquilo havia se tornado um hábito ao qual se acostumou. O que não significava que não o aborrecesse.

– Está bem – concordou Sam de má vontade e soltou o rosto dela para colocar as mãos no volante – É melhor resolvermos isso logo.

Deu partida no Impala e saíram. O trajeto foi silencioso, o que era incomum para o casal. Victoria continuava inquieta mergulhada nos próprios pensamentos. O sonho que tivera com Dean não lhe saía da cabeça por mais que tentasse afastá-lo. Foi tão real! Ela podia sentir o gosto da boca dele e seu cheiro másculo; seu toque rústico, mas preciso, que sabia exatamente onde tocar. Passou as mãos no rosto como se com isso pudesse afastar os pensamentos lascivos.

Sam notou, mas não teceu comentários. Ele havia percebido que tanto sua namorada como Dean estavam estranhos, perturbados. E tinha a ligeira impressão que estavam se evitando: não quiseram tomar café junto com ele e muito menos almoçar. Ficaram enclausurados em seus quartos a manhã toda e parte da tarde. Sam estranhou e até os questionou a respeito em separado, mas nenhum deles quis admitir que havia algum problema. Resolveu não pressioná-los e saiu sozinho para investigar, mas não obteve nada. Até que o legista do necrotério do hospital ligou para ele e avisou sobre a ocorrência de mais mortes em circunstâncias estranhas.

Quando voltou ao motel, foi chamar o irmão para conferirem a informação. Porém, este alegou que seria melhor se separarem e que iria à delegacia a fim de obter mais evidências. E quando comunicou à namorada que Dean não iria com eles, ela pareceu bastante aliviada e só aí, animou-se a sair.

Desde então, Sam estava com a pulga atrás da orelha. Era como se os dois escondessem um segredo que não queriam revelar para ele.

Bobagem! Talvez estivesse imaginando coisas. Ou talvez fosse produto... de sua própria perturbação. Sim! Ele também estava inquieto. Sentia uma ânsia incontrolável por... Não queria nem pensar. E tudo por causa daquele sujeito que viram a caminho do necrotério.

Os dois estavam tão entretidos em suas próprias reflexões que nem perceberam o tempo transcorrer até chegarem ao hospital. Sam estacionou o carro no meio-fio do lado oposto da rua em que ficava o hospital.

– Só espero que o Doutor Corman tenha algo interessante para nós – comentou Sam para quebrar o silêncio ao descerem do carro.

Victoria assentiu com a cabeça baixa.

– Vic, espera – ele a chamou. Collins ficou onde estava ao lado da porta do carro. Observou-o intrigada. Sam deu a volta, aproximou-se, encostou-a com delicadeza na lateral do veículo e envolveu-a pela cintura. – Preste atenção. Seja o que for que esteja te perturbando, esqueça. Se for ainda o sonho ruim, não pense mais nisso. Você é Victoria Collins, a Indomável, a mulher de punhos de aço! – ele falou num tom de grande eloquência a última sentença - Nada pode te abalar!

Vic riu.

– Ahm, até que enfim consigo arrancar um sorriso dos seus lábios.

– Sam, você não é do tipo engraçado, mas quando solta uma, é infalível.

– Você quem me inspira – retrucou – Agora, quero que pare de se atormentar e se concentre no caso. Pode fazer isso por mim?

Ela acenou com a cabeça e continuou sorrindo.

– Ótimo! Vamos entrar então.

Mas antes que se afastasse, Victoria o puxou para ela e beijou-o com todo o amor que sentia. Sam a prensou na lateral do carro e correspondeu-a com muito desejo. Ele sabia que ela precisava muito daquele beijo para afastar o que fosse que a estivesse inquietando. Ele também precisava beijá-la, senti-la sua para afastar os próprios demônios interiores que de alguma maneira começavam a querer se exteriorizar.

Não souberam quanto tempo ficaram ali se beijando, mas quando afastaram as bocas e recuperaram o fôlego, ambos se sentiam mais tranquilos. Sorriram um para o outro.

– Agora vamos – respondeu Victoria.

Caminhavam lado a lado. Só não se deram as mãos para não estragarem o disfarce de agentes federais. Chegaram ao hospital e encontraram o Doutor Corman. Após os cumprimentos, ele os conduziu ao local de trabalho.

– Vocês disseram que queriam saber de outros casos estranhos. – afirmou ele

– Certo – confirmou Sam.

– Bom, tivemos várias ocorrências incomuns ontem de vários corpos trazidos pouco depois que vocês saíram. Eu fui chamado às pressas para verificar antes do meu turno começar, mas não deu pra examinar sozinho todos os corpos. Tive que pedir ajuda extra de alguns médicos.

– O que aconteceu? – questionou Vic

–Deus sabe o que foi! Pelo que eu soube, quase todos estavam num tal bar de nome Wildifire.

Victoria e Sam se entreolharam. Era o mesmo local onde Dean esteve e do qual relatou o estranho comportamento das pessoas.

– Alguns morreram de tanto ingerir bebida ou comida até que o estômago não o suportasse mais e depois houve uma verdadeira carnificina. Casais que se devoravam aos poucos ao fazerem sexo igual àquele primeiro casal. E também de mulheres que se matavam umas às outras sabe-se lá por que.

Vic e Sam se olharam mais uma vez com mais assombro. Dean escapara por pouco.

– E onde estão os corpos? – tornou Collins

– Estão na outra sala se quiserem ver depois, mas quero lhes mostrar esse. – disse o legista indicando um cadáver coberto em cima de uma maca. Ele tirou o lençol. O morto tinha o estômago tão cheio que parecia ter devorado um balão inflável. Seus lábios apresentavam cortes. Sam e Vic fizeram expressão de repugnância – Lester Finch. Peguei seus arquivos. – entregou uma pasta de documentos para Sam – Parece que esse moço pesava 180 kg até fazer um desvio gástrico, o que abaixou.

Sam folheava o arquivo e mostrava-o também para Collins.

– Aí, por alguma razão, na noite passada, ele decidiu fazer uma festa com bolinhos.

– Então ele morreu por causa de bolinhos? – inquiriu Sam

– Depois de ter arrebentado a fita ao redor do estômago, ele continuou enchendo até explodir. Quando ele não podia mais engolir, começou a empurrar os bolos pela garganta, com uma escova para vaso. – Vic sentiu a bílis no estômago revirar só de imaginar a cena. Quanto a Sam, mexeu na gola do paletó para se livrar da sensação de sufoco. – Como se estivesse abastecendo um canhão.

– Então a que conclusão chegou?

– Eu diria que foi uma coisa peculiar de se fazer... – o legista tragou um gole de bebida de sua pequena garrafa de metal.

– Certo. Obrigado, doutor, por seu tempo – Sam apertou a mão dele.

– Não querem ver os outros corpos?

– Não, é o suficiente para nós – retrucou Victoria.

Os dois saíram um tanto inquietos do hospital e só quando estavam do lado de fora, a alguns metros da entrada, foi que Victoria indagou:

– Pelo amor de Deus, o que está acontecendo aqui?

– Ficou claro que não é só um surto de paixonite causado pelas flechas daquele cupido. Há outros tipos de ocorrência. – comentou Sam

– É como se as pessoas não pudessem refrear seus instintos básicos.

– Mas parece que varia de pessoa pra pessoa– completou Sam.

Victoria ia dizer algo, porém, sentiu o estômago reclamar. Observou uma lanchonete próxima deles do outro lado.

– Me deu fome agora. Acho que vou comer alguma coisa.

– O que não é de se admirar – disse Sam num tom levemente reprovador – Você quase não comeu hoje.

– Tá, mas agora eu vou compensar. Vou ali comprar alguma coisa pra mim. Você quer algo?

– Não, estou satisfeito.

– Me espera lá no carro. Eu já volto.

– Tudo bem. Vou ligar pro Dean enquanto isso.

Victoria atravessou a rua. Sam fez o mesmo, mas em direção ao ponto em que o Impala dela estava estacionado. Discou o número do irmão. Ele atendeu.

– Ei, tem um cara que não foi marcado pelo cupido, mas sua morte é definitivamente suspeita – informou Sam

– Acabei de conferir os relatórios policiais, e contando com ele foram uns cinquenta suicídios desde quarta-feira e dezenove overdoses – replicou Dean – E isso com o pessoal do bar que fui ontem. A loucura deles acabou em morte pelo que falaram.

– Eu soube. Os corpos deles vieram parar aqui também.

– Pois é. Escapei de boa, hein? – soltou um suspiro de alívio – Já pensou se aquela mulherada me estraçalha todo? De qualquer jeito, parece que ontem culminou num suicídio em massa. É bem acima dos registros da época.

– E se há um padrão aqui, não é só amor. – parou ao lado do carro de Victoria – É bem maior do que pensávamos. Parece até que é coisa de Tormento.

– Mas segundo o Cass, não é - fez uma pausa – Vejo você e... a Vic em dez minutos. – por dentro, estremeceu ao mencionar o nome de Collins, mas seu tom de voz saiu firme.

– Certo.

Assim que terminou de desligar o celular, Sam avistou o mesmo sujeito magro e careca da noite anterior que carregava uma maleta preta saindo do hospital. Uma fúria se apossou de Sam. Ele tremia só de sentir o sujeito e ouvir o som de suas passadas. Ele tinha que ir atrás daquele homem de qualquer jeito! Victoria ficaria preocupada, mas um impulso incontrolável fê-lo sair dali.

O indivíduo se esgueirou por um beco vazio. Sam havia tomado um atalho e aguardava por ele oculto atrás de uma parede de tijolos. Seu coração e mãos tremiam. Ele podia sentir a aproximação do sujeito, podia até sentir seu cheiro à distância. Ergueu a faca de matar demônios, pronto a desferi-la no momento certo. O instinto fê-lo sentir o homem bem próximo a si, à sua mercê. Ele investiu toda sua força e empurrou o homem contra outra parede. Este gemeu pela dor do impacto.

– Eu sei o que você é, maldito! – esbravejou Sam encostando a faca no pescoço do outro

Fez um corte na sua face que queimou revelando sua natureza demoníaca. A criatura gritou de dor.

– Pude sentir seu cheiro – continuou o caçador.

– Winchester – murmurou o demônio em reconhecimento

Sam se distraiu por uns momentos ao sentir o cheiro do sangue demoníaco em sua lâmina. Aproveitando-se desse lapso, o demônio se soltou repentinamente e bateu a mala no rosto do Winchester. O caçador se defendeu com mais um golpe que desferiu no braço da entidade. Este gritou de dor e tapou o corte com a mão, deixando a maleta cair no chão.

O caçador foi tentar acertá-lo com mais uma facada, porém, o demônio se desviou e escapou correndo. Sam ficou ali parado respirando ofegante pelo esforço. Seus olhos se detiveram sobre a lâmina e mais sangue do demônio incrustado nela. Sentiu uma vontade irresistível de provar aquele líquido viciante, todavia, o chamado de Collins à distância fê-lo recobrar o senso:

– Sam! Sam, você está aí?

Rapidamente, ele pegou um papel que estava em cima da tampa de uma grande lixeira dupla e limpou a prova de seu vício.

– Sam! – Collins continuava o chamando.

– Aqui! – respondeu ele mais refeito.

Ela correu até ele e encontrou-o encostado à lixeira. Abraçou-o.

– Fiquei preocupada – disse ao se afastar – Não vi você no carro e te procurei. E aí vi um homem... aquele mesmo que encontramos no corredor do necrotério saindo correndo daqui e achei que você estava nesse beco. O que aconteceu? Quem era ele?

– No caminho eu te explico.

– 0 –

– Como você conseguiu perceber que ele era um demônio? – inquiriu Victoria após Sam lhe contar o sucedido no beco. Ela estava sentada no banco de passageiro do carro e havia terminado de comer um cheeseburguer com bacon e um copo grande de café que havia comprado na lanchonete.

– Sei lá... Eu apenas sabia. – retrucou Sam

Deu de ombros enquanto dirigia para dissimular sua perturbação, porém, Collins não se enganou. Mas como ela própria estava inquieta, resolveu não pressioná-lo.

– E o que você acha que tem na maleta? – deu outra olhada no banco de trás onde estava o objeto.

– Quem sabe? Vamos falar com Dean e abri-la juntos.

Vic assentiu, embora não estivesse nem um pouco preparada para encarar seu cunhado após “o sonho”. Havia o evitado o máximo que pôde, mas não podia fugir dele para sempre. Estacionaram, desceram do carro e entraram no motel direto para o quarto de Dean.

Bateram na porta. Ele abriu. Parecia nervoso.

– Oi... de novo... Sam. – sua voz falhou ao fitar Collins. Engoliu em seco. – Oi... Vic.

– O...Oi... – a voz dela quase não saiu.

Sam entrou. Vic ficou paralisada na porta junto com Dean. Um simples olhar pareceu congelá-los por alguns segundos. O ar entre eles parecia quase inexistente tamanha a eletricidade que pairava no ar. Ambos souberam no mesmo instante que haviam sonhado a mesma coisa. Suas mãos suavam frio. Até mesmo tremiam.

– Pessoal? – Sam precisou chamá-los. Olhava-os sem entender.

Victoria saiu do estado de estupor na mesma hora e entrou. Dean também e fechou a porta. Respirou profundamente para se acalmar.

Sam continuava a olhá-los de modo intrigado alternadamente. Vic se postou ao seu lado numa postura um tanto acanhada que ele estranhou. Algo no íntimo do moço o alertou para o que acontecia ali, contudo, desvaneceu-se ao ser abordado pelo irmão que voltara a assumir sua postura confiante:

– Alguma outra novidade? – notou a maleta preta que Sam carregava – Que maleta é essa?

Sam colocou o item em cima da mesa e contou a mesma história que havia relatado à namorada.

– E como você soube que o careca era um demônio? – era a mesma indagação que Vic havia feito

– Eu... tive uma intuição. Sei lá, era meio suspeito um cara desses estar no necrotério.

– Podia ser um agente funerário – Dean não parecia convencido pela explicação do irmão, tal como Victoria.

Sam deu de ombros outra vez. Dean resolveu não insistir, aproximou-se da mesa e olhou o objeto. Sam e Victoria também se acercaram, ela bem distante do cunhado, do outro lado de Sam.

– O que um demônio tem a ver com isso? – questionou Dean intrigado

– Acredite, não faço a mínima ideia – respondeu Sam. Ele tremia um pouco.

– Está bem, amor? – indagou Victoria notando que Sam demonstrava um pouco mais de abalo do que antes.

– Sim... estou.

– Está bem mesmo? – insistiu Dean também notando.

– Sim, estou! – o tom de voz foi um pouco ríspido. Olhou para seus companheiros que o observavam preocupados – Qualé, gente? Ficarei legal.

Ambos não se convenceram, mas deixaram a questão de lado.

– Então... vamos abri-la – resolveu Dean

– Ficou maluco? – questionou Victoria sem encará-lo diretamente– Vindo de demônios pode ser perigoso.

– Qual é a pior coisa que pode acontecer? – retrucou Dean também sem fitá-la

Sam acenou com a cabeça concordando. Vic suspirou, mas resolveu concordar e assentiu.

Os dois homens se abaixaram.

– Cuidado. – pediu Vic também se abaixando

Os irmãos abriram juntos os trincos da maleta e a parte de cima dela se levantou sozinha expedindo um grande facho de luz. Os caçadores se levantaram, afastaram-se um pouco e fecharam os olhos até aquela luminosidade diminuir. Aparentemente não havia nada.

– Que merda foi essa? – indagou Dean

– É uma alma humana – a voz de Castiel se fez ouvir atrás deles

Eles se viraram. O anjo carregava um saco de papel onde se lia White Castle. Era uma marca de uma grande rede de hambúrgueres.

– Está começando a fazer sentido – prosseguiu ele e mastigou um pedaço de um sanduíche.

Os três caçadores o olharam estranhados por ele comer.

– O quê? – indagou Sam

– E quando começou a comer? – questionou Dean

– Exatamente – retrucou o anjo mostrando o pedaço – Minha fome é um sintoma.

– De quê? – perguntaram os três juntos

– Esta cidade não está sob o efeito de algum amor que deu errado. Está sob o efeito de penúria, inanição, pra ser exato – ele se aproximou deles – Especificamente... fome.

– Fome? – inquiriu Sam.

O anjo assentiu.

– Fome dos Quatro Cavaleiros? – Victoria formulou a pergunta que Sam pretendia fazer

– Ótimo. – disse Dean sarcástico e afastou-se do grupo – Simplesmente demais.

– Achava que fome significasse inanição, sabe, de comida – argumentou Sam.

– Eu também. – concordou Vic.

– Sim, absolutamente – Cass não os contradisse – Mas não só comida. Todo mundo parece estar faminto por algo, sexo, atenção, drogas, amor...

– Explica os pombinhos que o cupido flechou – afirmou Dean

– Exato. O querubim os fez almejar o amor, e daí o Fome veio e os fez ficarem violentos com isso.

Tanto Dean como Vic estremeceram ao ouvir a declaração do anjo. Não ousavam sequer se olhar com medo das consequências.

– E... aquele pessoal do bar – ele tentou disfarçar sua perturbação – Aquela mulherada atrás de mim...

– Certamente fome por bebida, comida, sexo e...atenção. Mulheres solitárias geralmente sentem fome de atenção masculina e chegam a disputar por causa disso. Normalmente, uma disputa leve.

– E com o Fome, a coisa se tornou um massacre – completou Victoria.

– E você? Desde quando anjos são famintos por White Castle? – Dean o interrogou e aproximou-se.

– É o meu recipiente, Jimmy. Seu apetite por carne vermelha foi afetado pelo efeito da Fome. – desviou o rosto um pouco envergonhado e continuou a comer

– Então a Fome entra na cidade e todo mundo fica louco?

– “E então virá a Fome cavalgando em um corcel negro. Ele andará pela terra da abundância... e grande será a fome do Cavaleiro, pois ele está faminto. Sua fome vazará e envenenará o ar.” – o anjo citou uma passagem bíblica – A fome do Fome. Ele devora as almas das suas vítimas.

– Então era isso que tinha naquela pasta, a alma do cara. – concluiu Dean olhando o objeto atrás de si

Castiel confirmou com a cabeça e disse:

– Lúcifer mandou seus demônios pra tomarem conta do Fome, pra alimentá-lo, garantir que ele esteja pronto.

– Pronto para o quê? – indagou Sam

– Pra marchar pela Terra.

Um silêncio incômodo se fez no quarto. Victoria se lembrou de algo e questionou:

– Me explica uma coisa, Cass – o anjo prestou atenção – Qual a relação dos Tormentos com os Cavaleiros do Apocalipse? – Dean e Sam ficaram atentos. Era algo que também queriam entender – Quer dizer, eu sei que são uma espécie de escudeiros, mas... o que mais? Eu pergunto isso porque o último Tormento afirmou servir o Fome. A sua destruição não afeta o Cavaleiro?

– Em parte. Os Tormentos são como uma espécie de força pra trazerem os Cavaleiros e os vincular neste mundo. Eles também podem servir para fortalecer os corpos e até apressar as vindas de seus mestres. Para isso, os Tormentos precisam da energia de suas vítimas. É por isso que trazem um monte de mortes consigo, como um sacrifício aos Cavaleiros. Mas quando um Tormento é destruído, dificulta um pouco as coisas.

– Espere aí, então... Pelo o que você está falando tanto o Morte como esse outro, o Fome já era pra terem vindo se não tivéssemos acabado com seus escudeiros?

– O Morte foi trazido pelo massacre que vimos no Carthage. Só que não era o que Lúcifer havia planejado de início. O fato do Tormento que servia o Morte ter sido destruído atrasou a sua vinda e forçou aquela medida. Mas esse Cavaleiro Fome, no caso dele, acredito que já tivesse sido trazido aqui antes da destruição do seu Tormento. Não faz nem um mês que ele foi destruído.

– Mas aquele Tormento deu a entender que o Fome não havia chegado.

– Chegado até ele para estabelecer o vínculo que fortaleceria o corpo físico do Cavaleiro – esclareceu Cass – Como isso não ocorreu, o Cavaleiro deve estar debilitado. Já no caso do Morte, acredito que não ocorre o mesmo. Isso varia de Cavaleiro para Cavaleiro. Mesmo que a ligação entre eles e os Tormentos seja forte, quanto maior o Cavaleiro, menos é afetado por ela. De qualquer jeito, ainda que o Fome esteja com o corpo enfraquecido, isso não reduz o seu poder.

– Temos mais outro Cavaleiro, não é? – Vic o lembrou

– O Peste.

– E também o Morte que ainda não enfrentamos. E outro Tormento – Sam também recordou – E pelo o que soubemos do Vingador dos Anjinhos, ele está muito zangado por termos acabado com o Cavaleiro Guerra, o seu Mestre.

– Ei, por favor, galera! Um problema de cada vez – disse Dean meio atordoado.

– 0 –

Numa lanchonete da cidade, estava um velho bastante debilitado que respirava por um tubo de ar. Seu cabelo branco era ralo, sua pele macilenta e cadavérica. Ele usava uma cadeira de rodas para se locomover. Havia sido trazido num furgão preto estacionado do lado de fora. Era o Fome.

Ao seu lado, de pé, estavam três sujeitos de terno e óculos pretos. Ao redor deles, vários cadáveres de pessoas, alguns caídos no chão, outros nas cadeiras. Todos mortos e entupidos fosse por ingestão de comida, sexo canibalesco ou outro excesso mortal. A entidade apreciava o ambiente.

O demônio que havia sido atacado por Sam entrou no estabelecimento. Ainda segurava o braço ferido pela faca. Aproximou-se do Cavaleiro que o fitava com certa dificuldade de manter os olhos abertos.

– Fome – sussurrou o Cavaleiro.

– Sam Winchester... o recipiente. – disse o demônio com expressão de agrado – Ele está aqui.

– Onde?

– No hospital. Nós lutamos, mas ele fugiu. Eu peguei isso dele – tirou uma chave do bolso, a do quarto do motel em que Sam e Vic dividiam. Entregou-a nas mãos do Fome.

– Ótimo. Sim, depois do almoço. Agora, onde está?

O demônio engoliu a saliva com receio

– O quê? – se fez de desentendido

– Aquele que ama tanto bolo de creme – o Fome se referia ao sujeito do necrotério morto por ingestão de bolinhos. Sorria de prazer ao imaginar o gosto dele – Onde está sua alma?

Ao ver a expressão do demônio, seu sorriso se desfez.

– Eu lamento. O Winchester tomou a pasta de mim. – respondeu a criatura com receio – Ele tinha a faca. – fez uma pausa – Eu perdi.

– Mas estou faminto! – esbravejou o Cavaleiro assustando o demônio

– Vou conseguir outra em menos de dez minutos. – garantiu e afastou-se às pressas dando as costas para o Cavaleiro

– Ei! – chamou o Cavaleiro e paralisou o demônio com um gesto da mão – Fome! Agora!

A criatura se contorceu agoniada e saiu do corpo que possuía transformando-se numa fumaça preta. O Fome a absorveu por completo pela boca.

– Delicioso! – exclamou satisfeito

– 0 –

Sam foi ao banheiro do quarto do irmão se lavar. Ele passou uma toalha de rosto em torno do pescoço. Sentia-se sufocar. Victoria o observou preocupada. Pressentia que tinha algo de errado com ele. Antes que se aproximasse para lhe questionar, ouviu Dean repetir pela terceira vez com Castiel o problema que enfrentavam:

– Fome?

– Sim. – respondeu o anjo novamente sentado na cama enquanto devorava mais hambúrgueres.

– Então a cidade toda vai beber, comer e se lascar até a morte? – indagou Sam do banheiro

– Devemos impedir.

– Ótima ideia. Como? – tornou Dean

– Como impediram o último Cavaleiro? – perguntou de boca cheia

Dean pensou um pouco. Vic nada disse. Seu olhar convergia entre a conversa dos dois e o vislumbre que tinha do namorado no banheiro. O comportamento dele a inquietava.

– Guerra conseguia seu poder através desse anel – respondeu Dean e pegou o objeto no bolso do seu casaco pendurado num guarda-chapéu. Mostrou-o a Cass. – E depois que cortamos, ele pôs o rabo entre as pernas e fugiu. E os que foram afetados, pareceu que tinham acordado de um sonho. Acha que o Fome tem um anel de formatura também?

– Sei que tem.

– Beleza. Vamos localizá-lo e cortar.

– Pois é. – disse Cass se levantando sem largar os sandubas.

– Por acaso, você é o Hamburglar? – zombou Dean

– Eu desenvolvi um gosto por carne moída

Enquanto Cass e Dean discutiam sobre o recente vício do anjo, Victoria se aproximou de Sam. Ele estava tenso, nervoso e suava como se uma febre tomasse conta. Lavou-se e passou a toalha várias vezes no rosto e no pescoço, mas não adiantava. Ela colocou a mão sobre as costas dele.

– Sam, o que foi? – seu tom de voz era aflito

Ele não respondeu, apenas suspirou sem coragem de se virar ou encará-la pelo reflexo do espelho à sua frente.

– Sam, Vic, vamos indo. – chamou Dean

Por fim, Sam se virou para a namorada e abraçou-a. Tremia.

– Meu Deus, Sam, o que você tem? – ela ficou mais aflita.

– Sam? Vic? – insistiu Dean.

– Só um momento, Dean – respondeu Vic por eles. Sam se afastou e olhou-a – O que está acontecendo, querido?

Ele ainda não respondeu, colocou um braço sobre a cintura dela e caminhou até a porta do banheiro, levando-a consigo.

– Gente, eu não consigo – respondeu finalmente se apoiando na namorada. Dean e Cass observavam o casal – Não posso ir.

– Como assim? – perguntou Dean

Victoria também olhou Sam de forma interrogativa.

– Acho que fui afetado. – fez uma pausa – Acho que estou faminto por aquilo.

– Faminto pelo quê?

– Você sabe, Dean.

– Sangue demoníaco?

Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça.

– O... o quê? – questionou Vic – Desde quando?

– Acho que desde o momento que vi aquele demônio no necrotério pela primeira vez. Mas a coisa só começou a aumentar depois que lutamos e eu... cortei ele com a faca e... senti o sangue dele que ficou nela.

– Por que você não me falou, Sam? – indagou sem largá-lo. Ele parecia abatido.

Sam não retrucou. Não tinha coragem de encará-la, mas Collins entendeu. Vergonha. Dean se virou com aflição para Cass:

– Só pode ser brincadeira. Tem que tirá-lo daqui. Teletransporte-o para Montana, qualquer lugar, menos aqui.

– Não vai adiantar. Ele já foi infectado – respondeu Castiel – A fome viajará com ele.

– Então o que faremos?

– Cortem o dedo do cretino. – retrucou Sam

Dean havia se voltado para ele. Depois, tornou a se dirigir ao anjo:

– Você o ouviu.

– Mas, Dean... Vic... – continuou ele e fitou Collins – Antes de irem, é melhor... é melhor me trancafiar, mas bem.

– Não! Que isso? Eu não vou te deixar trancado como se fosse um criminoso! – protestou Victoria

– Vic, acredite em mim, eu não estou em pleno domínio dos meus atos. Se eu ver algum demônio na minha frente, ao invés de querer brigar com ele para nos defender, vou querer cortá-lo pra sugar seu sangue.

– Não, Sam, você consegue... É só...

– Ouviu ele, Victoria – tornou Dean decidido – Não podemos nos arriscar.

– Você vai ter coragem de prender o seu irmão? – ela o fitou

– Vou fazer o que for preciso para protegê-lo de si mesmo – ele disse enfático. Nem o fato de encarar Victoria e sentir sua própria perturbação o demoveu de sua certeza

Collins desviou seu olhar do dele e tornou a fitar o namorado.

– Sam... – ela queria que ele reconsiderasse

– Por favor, Vic. Só eu que estou pedindo.

Ela suspirou. Não gostava daquilo.

– Está bem – respondeu – Mas vou ficar com você.

– Não, você será mais útil para o Dean e o Cass.

– Sam, não posso...

– Sem discussão, madame – tornou Dean – Você vem conosco.

A ideia de Victoria os acompanhar o inquietava porque ele sentia aquela atração entre eles se tornar mais irresistível e perigosa, entretanto, além de precisarem de toda ajuda possível, sabia que o irmão não queria que a namorada o visse naquele estado. E temia que Sam pudesse machucar Victoria mesmo sem querer.

– Eu não vou deixar o Sam! – teimou Victoria.

– Vic, por favor... – a voz de Sam era um sussurro fraco – Eu prefiro que você vá com eles.

– Mas, Sam...

– Por favor...

O olhar de súplica do Winchester era fatal para ela. Não queria deixá-lo não só por se preocupar com seu estado, mas também porque ela tinha medo de ficar perto de Dean, ainda que Castiel fosse junto. Mesmo assim, a contragosto, concordou.

Foram todos juntos ao quarto do casal. Victoria queria deixar Sam numa cama confortável, entretanto, ele ponderou que seria melhor ficar acorrentado na pia do banheiro. Dean aprovou a medida e tratou de procurar as algemas.

– Tem certeza de que não quer que eu fique, Sam? – insistia Victoria com as mãos no rosto dele.

– Tenho – respondeu sem hesitar

– Venha, Sam. – chamou Dean. Sam assentiu, distanciou-se de Collins e foi até o banheiro junto com o irmão.

Ele se sentou no chão e suas mãos foram presas à pia.

– Aguente firme aí. Voltaremos assim que pudermos. – garantiu Dean abaixado

– Tome cuidado e apresse-se. E... protege a Vic por mim. – abaixou o tom de voz ao proferir a última sentença.

Dean procurou não demonstrar sua insegurança no último pedido. Apenas deu um tapinha amigável no ombro do irmão como garantia e afastou-se. Ia fechar a porta, mas Victoria entrou.

– Aqui. Pra você ficar mais confortável – disse Collins se aproximando de Sam e colocando um travesseiro em suas costas que estavam junto à parede. Ele não pôde deixar de esboçar um sorriso por aquela demonstração de amor. Ela pegou no rosto dele com ambas as mãos.

– Me espere que eu volto logo – disse Vic com um sorriso encorajador

– Não se preocupe, não vou a lugar algum – ele retrucou.

Beijou-o com suavidade nos lábios. Dean desviou o rosto para lhes dar privacidade. Com relutância, Vic se afastou, levantou-se e saiu do cômodo.

Dean fechou a porta e trancou-a. Castiel empurrou o guarda-roupa na frente para lacrá-la mais ainda.

– Isso tudo é realmente necessário? – indagou Collins aos seus companheiros. Suspirou. Não gostava de tratarem Sam como se ele fosse um monstro perigoso.

– Acredite, Vic, também não me agrada fazer isso com meu irmão – respondeu Dean mais solícito – Mas eu sei bem do que ele é capaz fora de controle. E ele mesmo sabe.

Ela assentiu com o olhar abaixado e saiu dali com seus parceiros. Sam ficou sozinho trancado no banheiro; aconchegou-se ao travesseiro e pediu mentalmente que aquela “fome” passasse o quanto antes.

– 0 –

Dean, Cass e Vic foram ao necrotério da cidade em busca de mais pistas. Pretendiam encontrar o Doutor Corman, entretanto, Marty, seu assistente lhes deu a notícia da morte do legista e mostrou-lhes seu cadáver na maca.

– O cara ficou sóbrio por vinte anos – informou o assistente, um moço moreno de traços indianos – Mas essa manhã, ele deixou o trabalho, foi pra casa e bebeu até morrer.

– É o Fome. – disse Castiel impensadamente

– Perdão?

– Ah, nada – Collins interveio – Ele quis dizer que... é uma grande perda.

– Nos dá licença, por favor? – pediu Dean ao assistente

– Claro – disse ele. Olhava-os com estranheza

– Obrigado. – disse Dean quando Marty se afastou e deixou-os sozinhos. Dean rodeou a maca e foi até o outro lado observar o rosto de Corman – Droga! Eu realmente meio que gostei desse cara.

– E agora? – indagou Vic.

Dean não soube o que responder, mas voltou a fitá-la de forma intensa. Vic não conseguiu desviar os olhos. Castiel interrompeu o clima:

– Ainda não colheram sua alma – disse ao colocar a mão sobre o peito do médico

– Se queremos brincar de “Siga a alma” pra chegar até o Fome, nossa melhor chance começa com o doutor aqui – sugeriu o Winchester

– Boa ideia. – Vic aprovou.

Eles saíram de lá e resolveram vigiar do Impala a porta do hospital para verificarem se o mesmo demônio que Sam atacara voltaria a aparecer para recolher a alma do legista. Havia anoitecido. O restante dos sanduíches de Castiel terminaram.

– Preciso reabastecer mais meu recipiente – disse o anjo – Volto logo.

Antes que algum dos dois caçadores pudesse dizer algo, ele havia sumido.

Com a saída dele, Dean e Vic se deram conta de que estavam completamente sozinhos. Sabiam que o anjo não demoraria, mas mesmo assim parecia uma eternidade. A temperatura no carro se elevou para eles e não era porque fizesse calor.

Não saberiam dizer o motivo de terem aguentado tanto tempo e não terem se agarrado loucamente e terminado se devorando aos poucos como alguns dos casais ali. De qualquer jeito, aquilo era uma grande tortura, insuportável de se conter e ficava mais forte à medida que o tempo passava. Não se olhavam de maneira alguma; Dean olhava para a porta do hospital e Vic para o outro lado, à direita de onde estava sentada. Tinham até receio de conversarem, mas estavam conscientes da presença um do outro.

Victoria deu graças a Deus por estar no banco de trás; ainda assim, estava difícil para ela. Tentou focar seus pensamentos em Sam, mas não conseguia. As imagens do sonho erótico que teve com Dean, o gosto de sua boca, seu toque a estavam incendiado. Inconscientemente, sua mão percorreu a curva do pescoço e passou sobre os seios por cima de sua camiseta sem mangas. Sentiu os mamilos ficarem duros.

Quanto a Dean, o mesmo se passava com ele; também fervia ao se lembrar do sonho e também por se dar conta de que Collins estava próxima dele, a poucos centímetros de seu corpo. Ele segurava o volante com força, mas queria aliviar de alguma forma a ereção que aumentava debaixo de suas calças. Sua mão acabou se dirigindo para lá e acariciou sem membro por cima do tecido. Ele conteve um gemido baixo e apertou os olhos. Teve vontade de descer o zíper e enfiar a mão dentro, mas se fizesse isso, todo seu autocontrole iria por águia abaixo e não seria uma simples masturbação que o pararia. Ele atacaria Victoria.

A tal pensamento, sua respiração se acelerou e ele pôde ouvir a de Victoria também se acelerar. Como se fosse de pleno acordo, finalmente, os dois viraram o rosto um para o outro; Dean para trás e Vic para frente. A visão que tinham era diagonal, mas dava perfeitamente para se enxergarem. Seus olhos se encontraram e neles, estava refletido todos os sentimentos que nutriam reciprocamente, sobretudo, o desejo. Como em sincronia, morderam os lábios e estavam a ponto de saltarem para os braços um do outro – ou ele passaria para o banco de trás ou ela iria para frente –, quando Castiel veio em seu “socorro”.

Ele surgiu no banco de passageiro a qual estava antes com uma grande sacola cheia de sandubas enrolados. Vic e Dean tomaram um pequeno susto, mas se refizeram. Respiraram fundo para se acalmarem. O anjo pegou um sanduíche e desembrulhou-o do papel alumínio que o cobria.

– Está falando sério? – questionou Dean para puxar assunto e desviar sua mente do que quase ocorrera há momentos.

Cass não respondeu de imediato. Mordeu um pedaço e mastigou-o com imenso prazer no rosto.

– Isso me deixa muito feliz – disse ele de boca cheia com um grande sorriso

Dean revirou os olhos, Vic segurou um riso um pouco mais descontraída.

– Quantos já comeu? – tornou o Winchester.

– Perdi a conta. Está na casa dos cem.

O caçador arregalou os olhos e soltou um assobio de admiração.

– Mas... tenho que admitir. Estou envergonhado.

– Não se sinta. Se permita um pouco – respondeu Dean condescendente.

– Não é isso, é que... como anjo, eu não devia ceder. Já você e a Victoria estão resistindo bem.

– O quê? – Collins o interpelou incomodada – Não entendi essa última que você disse.

– A Fome de vocês.

– Eu? – Dean desdenhou – Não tenho fome alguma.

– Nem eu – Vic também negou – Por acaso estou comendo, bebendo ou fazendo sexo que nem uma louca?

O Anjo não respondeu.

– E eu quando quero beber, eu bebo. Quando quero transar, vou atrás. Mesma coisa se aplica por sanduíche ou luta. – afirmou Dean.

– Então está dizendo que você é bem equilibrado?

– Deus me livre, não. Só sou bem nutrido.

Castiel resolveu não debater com nenhum dos dois. Apesar de estar preso à sua própria fome, o anjo havia percebido muito bem o que estava acontecendo com eles. Só se admirava de ainda não terem cedido àquela vontade. Não que ele fosse incentivar.

– Ali – interrompeu sua própria reflexão ao localizar um sujeito de terno preto sair do hospital com uma maleta.

Não era o mesmo de antes, mas era claro o que ele era e seu objetivo. Entrou num furgão preto e partiu. Dean deu partida no Impala e seguiram-no.

– 0 –

Sam estava tentando se soltar da pia. Já havia chegado ao seu limite. Aquele desejo louco por sangue demoníaco o estava enlouquecendo. Ele precisava matar demônios e sugar o líquido viscoso deles.

Fez força, urrou, suou muito, mas não conseguia se soltar. De repente, ouviu barulho e alguém entrando no quarto.

– Pessoal? – chamou. Não obteve resposta. Ouviu o barulho do guarda-roupa ser afastado da porta – Pessoal, o que aconteceu? Acho que não funcionou. Eu acho que ainda estou... com fome.

A porta foi destrancada, mas quem a abriu foi um casal de demônios, um homem loiro e uma morena clara. Sam ficou surpreso.

– Vejam só – zombou a demônio com satisfação – Alguém o prendeu pra nós. O chefe diz que não podemos matá-lo... mas aposto que podemos quebrar alguns pedaços.

E olhou o seu parceiro que se aproximou do caçador. Sam se aquietou. O demônio o liberou das algemas e, em resposta, levou um golpe com ambas as mãos do Winchester. Caiu sentado numa banheira.

Então Sam avançou na outra demônio e derrubou-a sobre a mesinha de vidro no meio do quarto, espatifando o móvel. Enquanto a criatura gemia de dor e recuperava-se do impacto, o Winchester pegou um caco de vidro e fincou-o no pescoço dela. Em seguida, começou a sugar o sangue do local. O outro demônio entrou no quarto.

– Tire-o! Tire-o! – suplicou sua parceira.

Seu colega até tentou ajudá-la ao agarrar Sam pelas costas e puxá-lo pela camisa, porém, o moço havia adquirido uma força impressionante e não largou sua vítima. O demônio pegou um pedaço de madeira encostado na parede, mas antes que pudesse golpeá-lo em Sam, este largou sua presa e com um gesto de mão sem precisar tocar na criatura, lançou-o contra a parede. Ele caiu desacordado.

– Espere sua vez – disse Sam com a metade do rosto lambuzado de sangue.

– 0 –

Vic, Dean e Cass seguiram o demônio até o local onde se encontrava o Fome. Estacionaram o carro a certa distância e viram a criatura entrar na lanchonete. Havia outros dois parados na porta.

– Demônios – anunciou Dean. Logo depois eles entraram. Virou-se para seus companheiros – Querem revisar o plano outra vez?

– Não – disse Victoria – Sei o que devo fazer. Ou melhor, o que não devo.

– Ótimo. E você, Cass? – o anjo não deu resposta. Estava mais entretido com seus sandubas que haviam acabado – Ei, McLanche Feliz, o plano? Ei!

Só aí Castiel se tocou.

– Eu levo a faca, eu entro e corto o anel da mão do Fome, e encontro com vocês aqui no estacionamento.

– Tem certeza que dá conta sozinho, Cass? – indagou Victoria.

– Tenho.

– Bem, isso parece infalível – declarou Dean sem muita segurança ao se virar para a janela e observar a lanchonete. Mas era a única ideia que tinham no momento.

Ao se voltar para o anjo, ele tinha sumido.

– É, o Cass não dorme em serviço – comentou Victoria

Ficaram mais alguns minutos dentro do carro aguardando a volta do anjo, mas dessa vez, procuraram se focar na missão e espantaram qualquer tipo de pensamento lascivo que os desviasse de sua tarefa.

– Isso está demorando muito – comentou Dean – Mesmo para o Castiel.

– Acha que o descobriram e o pegaram mesmo ele sendo um anjo? – inquiriu Victoria.

– Só tem um jeito de saber... Vamos!

Saíram do carro cada qual de um lado. Vic se acercou a Dean e, ignorando ambos a faísca com a aproximação de seus corpos, juntos se dirigiram pelos fundos da lanchonete furtivamente. Dean abriu a porta e entrou primeiro.

– Tudo limpo – sussurrou. Vic também entrou e fechou a porta.

Caminhavam com cuidado munidos de suas espingardas, Dean à frente e ela na retaguarda. Aquela era a cozinha do estabelecimento e estava às escuras.

Ouviram um ruído e aproximaram-se com cautela. Dean fez expressão de repugnância enquanto Collins virava o rosto para o que viam: a metade inferior do corpo de um homem estava caída para fora enquanto a metade superior estava mergulhada dentro do que parecia uma máquina de fritura com a gordura fervendo. Pelas vestimentas, era algum empregado do local e mais uma vítima do Fome: havia morrido ao comer algumas fritas dentro da máquina sem esperar que estivessem prontas.

Distanciaram-se daquela cena e chegaram ao balcão onde eram colocados os pedidos dos clientes. Viram Castiel do outro lado, perto das mesas de atendimento, debruçado sobre alguma coisa no chão.

– Cass! – sussurrou Dean com desaprovação

– O que ele está fazendo? – questionou Victoria.

– Eu não sei... Parece que está... comendo?

De fato, o anjo comia um monte de carne moída crua dentro de uma grande bacia quadrada de metal. Levantou o tronco e mastigou com as duas mãos um montinho de carne. Os dois caçadores observaram e entreolharam-se.

– Vamos tirá-lo daqui – sussurrou Collins

Antes que tivessem chance, dois demônios se aproximaram deles, um de cada lado. Dean abateu um na cabeça com a parte dianteira da espingarda e Victoria derrubou o outro com um chute em suas partes baixas e depois com o cano da arma nas costas dele.

– Vamos, Dean, pegue o Cass! – gritou ela

No entanto, mais três demônios surgiram na frente deles. Um surpreendeu Victoria com um chute no estômago, derrubando-a.

– Vic! – Dean tentou acudi-la, mas foi puxado pelo braço e jogado contra a parede.

Ainda sob o efeito dos golpes, os dois caçadores foram levantados e levados cada um por dois demônios. Dean estava com um corte na testa pelo impacto na parede e Vic tossia pela dor em seu ventre.

– Cass... – gemeu Dean ao passarem perto do anjo que ainda se perdia na satisfação de seu apetite. Ele os olhou por um momento, mas voltou sua atenção na carne que devorava. Bem que queria libertar seus companheiros, mas sua fome era mais forte.

– O outro senhor Winchester – disse o Fome observando Dean. Depois, olhou Victoria com certa malícia – E a famosa e bela Indomável.

– Solta a gente, sua aberração detestável! – esbravejou Victoria tentando se libertar de seus captores – Ou eu juro que você vai desejar nunca ter me conhecido!

O Cavaleiro soltou uma risada fraca.

– Bem se vê que você é como lhe descreveram... Uma caçadora bastante destemida – ele assumiu um tom sarcástico – Ou talvez seja apenas uma tola por andar por aí com os Winchesters.

– O que fez com ele? – inquiriu Dean olhando para Castiel sobre o ombro.

– Mandou seu cachorro me atacar. Só fiz jogar a ele um bife.

– Então esse é o seu grande truque? Deixar pessoas loucas por chocolate?

– Não precisa muito. Só um empurrão. América, rodízio o tempo todo. Consomem, consomem. Um enxame de gafanhotos em calças elásticas.

– Você não me parece grande coisa! Um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse. E daí? – Vic desdenhou – Não me impressiona nem um pouco, olha só pra você. O puro retrato da decadência.

– Algo que devo a vocês por destruírem meu Tormento. – eles o olharam numa expressão interrogativa – Sim, eu já sei que vocês mataram o meu Tormento em Chicago. Eu estava indo ao seu encontro para que ele pudesse me dar um corpo mais forte. – disse com certo rancor, mas sua expressão se anuviou – Mas não importa. De qualquer jeito, minha jovem, não se engane com minha aparência. Meu poder de influência e destruição sobre os humanos é enorme e só está começando, como vocês puderam testemunhar até agora.

– Engraçado que até agora não senti essa influência – Vic o desafiou

– Vic! – Dean chamou-lhe a atenção. A caçadora estava pisando em ovos com sua postura de desafio. Bem, era algo que ele também costumava fazer.

– É verdade que notei uma resistência. Mas sua fome existe, sim. Você resiste, mas ela existe, embora deve ser mais profunda porque fome não vem somente do corpo, ela também vem da alma.

– Da minha alma não – Dean também desdenhou.

– Você também resiste, pois também consegue até andar na minha presença.

–Eu acho que é por causa da força do meu caráter.

– Eu discordo. – ele se aproximou do caçador movimentando a cadeira de rodas. Em seguida, foi aproximando sua mão ao poucos do peito do Winchester. Dean tentou se libertar dos demônios que o seguravam, mas não conseguia.

– O que vai fazer com ele? – esbravejou Vic também tentando se soltar – Pare!

Dean abafou o grito que sentiu com o toque do Cavaleiro, mas não conteve um ruído gutural de dor.

– Dean! – gritou Victoria – Pare com isso!

– Sim. Eu vejo. Eu sinto. Está aqui. – o caçador ainda estremeceu de dor, mas aguentou firme com os dentes trincados – Uma fome muito grande, mas você resiste. Fome de Amor.

Afastou a mão do tórax. Dean permaneceu calado. Victoria engoliu em seco.

– Uma Fome de Amor – ele olhou de modo significativo para Collins. Ela estremeceu. – Sabe por que você não sucumbiu até agora? Não é porque é especial, nem mais forte do que ninguém. É por causa da culpa. De um grande sentimento de culpa.

– Você só fala abobrinha – retrucou o caçador refeito da dor.

– Pode fazer piada e mentir pro seu irmão, mentir para sua... companheira – fitou Collins mais uma vez com olhar malicioso – Mas não pra você mesmo e nem pra mim! Você se culpa por querer algo que pertence ao Sam.

Dean não retrucou. Sentia-se exposto. Satisfeito, o Cavaleiro se voltou para Collins. O coração desta bateu forte tanto pelo que acabava de ouvir quanto pelo olhar do Fome. Um que enxergava dentro da alma.

– Eu não preciso te tocar pra saber que com você passa o mesmo, minha querida. Você também tem fome de amor.

– Já tenho um namorado, seu mal informado, o Sam. E o amo muito. – ela tentou desdenhar

– Eu sei, mas... isso não é suficiente pra você. Você deseja mais, você quer... outro amor para si. – dessa vez, olhou Dean de modo significativo, o que perturbou aos dois caçadores – Mas julga ser errado e a culpa também a domina. – fez uma breve pausa mostrando um sorriso cínico – Alguns dessa cidade ainda não caíram por sentirem que satisfazer sua fome irá lhes causar um arrependimento muito forte. Mas é só questão de tempo... E de incentivo. Virem esses dois de frente um para o outro! – ordenou com voz enérgica.

Os demônios fizeram conforme o ordenado, embora os caçadores resistissem.

– O que pensa que está fazendo... bastardo? – praguejou Dean

– Apenas lhes dando um incentivo – disse o Fome com sorriso cruel – Olhem um para o outro! – eles não obedeceram – Agora!

Fez um gesto para que seus subordinados virassem o rosto dos caçadores de frente um para o outro. Tentavam resistir porque temiam perder o controle como quase aconteceu no carro, mas os demônios eram mais fortes. Os dois fecharam os olhos, mas as criaturas tentavam abrir suas pálpebras à força. Entretanto, antes que o Fome conseguisse sucumbi-los por completo ao seu domínio, uma voz grave exclamou:

– Solte-os!

Era Sam. Dean e Vic olharam na direção em que ouviram sua voz assim como os demônios e o Fome, que girou a cadeira.

– Sam – sussurrou ele

Vic e Dean olharam espantados ao ver o estado em que se encontravam as roupas e os lábios de Sam, banhados em sangue.

– Sammy, não! – pediu Dean

Dois demônios que estavam ao lado do Fome deram um passo até o Winchester.

– Parem! – ele ordenou e foi obedecido – Ninguém toca um dedo nesse doce garotinho – falou num tom mais amigável – Sam, vejo que pegou o aperitivo que lhe enviei.

– Você enviou? – indagou Sam incrédulo

– Não se preocupe. Você não é como os outros. Nunca morreria por beber demais. Você é a exceção à regra. Do jeitinho... que Satanás queria que você fosse. Então... – o Fome estendeu os braços indicando os demônios à sua frente – Corte suas gargantas. Ataque-os.

As criaturas se entreolharam. Não gostaram daquilo.

– Sammy, não! – implorou Dean

– Sam, você é mais forte do que isso! – gritou Victoria

– Por favor, fique à vontade – insistiu o Cavaleiro

Sam hesitou por instantes. Por fim, estendeu sua mão e fez com que os demônios saíssem dos corpos que possuíam numa grande nuvem de fumaça preta. Vic e Dean foram soltos por aqueles que os seguravam e que se contorciam de dor pela pressão a que eram submetidos. Dean aproveitou para pegar a faca especial. Mas tanto ele como Collins ficaram paralisados, sem saber o que fazer ao verem como Sam conseguia dominar as criaturas.

Finalmente, Sam conseguiu que todos os corpos possuídos caíssem, restando apenas a nuvem negra flutuando no chão.

– Não – disse ele em resposta à oferta do Cavaleiro e abaixou o braço.

– Ótimo – disse o Fome após alguns instantes. – Se você não os quer... mas eu quero.

Abriu bem a boca e tragou toda aquela fumaça para dentro de si. Os caçadores o olharam horrorizados.

Sam deu alguns passos a frente e estendeu o braço para tentar fazer o mesmo com o Fome tal como os demônios. Mas nada aconteceu.

– Sou um cavaleiro, Sam – zombou ele. – Seu poder não funciona em mim.

– Tem razão – disse o moço – Mas funciona neles.

Apertou o punho com força e fez com que os demônios no estômago do Fome se revirassem. O Cavaleiro urrou de dor ao sentir a pressão dentro de si. Contorcia-se. Sam fez mais força. Um filete de sangue escorria por seu nariz.

– Sam... – sussurrou Victoria horrorizada

Finalmente, os demônios explodiram na barriga do Fome e saíram dele, voltando para o inferno. Era o fim do segundo cavaleiro que enfrentavam. Sam ofegava pelo esforço que fez. Castiel voltou a si. Dean se aproximou do Cavaleiro e constatou que não mais se movia.

Sam olhou para o irmão. Viu em seu olhar o horror e, depois a decepção estampada. Também olhou para Victoria. No olhar desta, havia espanto, incredulidade e certa repugnância.

– 0 –

– Socorro, Dean! Vic! Não me deixem aqui!– a voz de Sam berrava do quarto do pânico da casa de Bobby. Ele estava trancafiado como da primeira vez que o puseram ali ao descobrirem seu vício.

Cass estava parado junto à porta. Dean estava um pouco distante com as costas numa coluna. Bebia uísque direto da garrafa e olhava para um ponto qualquer do teto sem enxergar nada. Quanto a Vic, estava mais próxima à escada. Andava de um lado para o outro. Seu corpo tremia e ela se abraçava como numa busca inútil de conforto. Cada grito de Sam era como uma facada em seu peito. Ela fechava os olhos para espantar aquela agonia e aflição que sentia.

– Socorro! Vic, me ajude!

– Chega! Eu vou tirar ele de lá! – afirmou Vic e fez menção de se aproximar da porta.

– Não vai não. – afirmou Dean interceptando seu caminho – Pode voltar pra onde você estava andando que nem barata tonta.

– Sai da minha frente, Dean! – esbravejou ela – Eu não posso mais deixar o Sam preso como se fosse um animal!

– Você vai sim – disse o Winchester num tom de aparente calma – Isso é pro bem dele.

– Você não me falou nada disso quando o trouxemos pra cá!

– Porque eu sabia que você não ia concordar. – ele disse impaciente – Você é durona, Vic, mas quando se trata do Sam, não pensa direito.

– Como você se atreve a...

– Victoria, o Dean está certo – interveio Castiel. Vic o fitou. – O Sam precisa disso. Infelizmente, ele é viciado em sangue demoníaco e teve uma recaída. Se não tirarmos isso dele dessa forma, ele não vai se recuperar e vai querer ir atrás de outros demônios. Nesse passo, vai chegar uma hora em que ele vai acabar caindo nas garras de Lúcifer.

Collins cruzou os braços e abaixou a cabeça. Respirou profundamente. Dean a observava tenso. A influência do Fome sobre eles havia passado por completo, o que não significava que aquela atração entre eles havia cessado.

– Está bem – disse ela após uma pausa – Mas eu quero ficar lá com ele.

– Não – disse Dean enfático.

– Sam precisa de mim!

– Você só vai atrapalhar e transtornado do jeito que ele está, pode até te machucar mesmo sem querer.

– Dean, você não vai me impedir de ficar naquela cela com ele – ela disse segurando a irritação.

– Olha, Vic, não queira medir forças comigo porque você vai sair perdendo.

– Escuta aqui, Dean...

– Não, escuta você! – esbravejou ele impaciente apontando a porta – A vida toda eu sempre cuidei do Sam enquanto nosso pai ficava indo de um lugar para o outro caçar. E eu sabia exatamente do que o Sam precisava em todos os nossos momentos, bons ou ruins. Então se eu digo que ele deve ficar trancado lá dentro até essa maldita substância demoníaca sair dele, ele vai ficar lá! Não importa o tempo que for preciso! E você só vai atrapalhar se ficar no caminho! – fez uma pausa para tomar fôlego. Ele e Vic se encaravam com hostilidade – Se não pode lidar com isso, problema seu. Se não aguenta ficar aqui escutando os gritos de socorro de meu irmão e suas alucinações, então vá pra outro lugar e só volte quando eu te chamar assim que ele estiver bem. Fui claro?

Viu a mágoa refletida no olhar de Collins, mas não demonstrou seu abalo.

– Claro como água – sussurrou ela tremendo.

Dirigiu-lhe um último olhar de quem diz “Eu odeio você” e deu-lhe as costas. Subiu correndo a escada. Dean fechou os olhos e mordeu os lábios se sentindo um miserável pelo o que lhe dissera, mas já estava feito.

– Ela vai te perdoar – comentou Cass – Só está difícil para ela ver Sam nesse estado.

Dean nada disse. Retornou à coluna onde estava e voltou a beber. Depois de um bom tempo, os gritos de Sam recomeçaram:

– Socorro, Dean! Vic, me solte! Pessoal, sei que estão aí, por favor, me ajudem!

Dean fechou os olhos tentando não escutar os gritos de seu irmão que começavam a lhe incomodar, além de sua discussão com Victoria.

– Socorro! – insistia Sam

– Esse não é ele lá. – Castiel tentou puxar conversa com Dean que continuava alheio. – Não mesmo.

– Eu sei – disse por fim

– Dean, Sam tem que tirar isso do seu organismo – reforçou Castiel como se acreditasse que o caçador fosse fraquejar em sua decisão por causa da briga com Victoria – Então, ele estará...

– Escuta, só preciso... – mexeu os lábios com angústia antes de terminar a frase –... tomar um ar.

E saiu levando a garrafa. Não via por onde andava, apenas queria sair. Não topou com Bobby na sala. Talvez estivesse dormindo porque era tarde da noite. Ainda bem. Não queria conversar com ninguém.

Sua mente estava um turbilhão. Ele não sabia mais o que fazer. Embora soubesse que Sam havia agido como agiu por influência do Fome, ainda assim sentia-se decepcionado, traído pelo irmão mais uma vez. E logo quando havia voltado a acreditar nele.

Não adiantava. Voltaram à estaca zero. Por mais que quisesse acreditar o contrário, tudo indicava que não havia saída. Sam ia falhar. Ia dizer sim a Satanás.

E no processo, talvez as coisas ocorressem como havia visto no futuro. Sam possuído por Lúcifer. Sam mataria Victoria. E ele, Dean, ficaria sozinho, arrasado, com o sangue dela em suas mãos por não ter feito nada para impedir.

Ele podia suportar que Victoria o odiasse por deixar Sam preso naquela cela. Podia suportar nunca tê-la em seus braços. Mas nunca suportaria vê-la morta. Seria para ele quase tão terrível quanto perder Sam. Ou até igual.

Quando deu por si, estava do lado de fora da casa, entre os carros do ferro-velho. O uísque já estava no fim. Escutou os soluços altos de Vic. Talvez devesse deixá-la sozinha depois de tudo o que lhe dissera. Mas ouvi-la chorando abalou suas estruturas.

Abandonou a garrafa em cima do capô de um carro qualquer e seguiu o som do choro de Victoria. Encontrou-a encostada num carro com a cabeça baixa e os braços cruzados. Estava de costas para ele. Seu corpo tremia pelo pranto convulsivo. A garganta do Winchester deu um nó.

– Vic. – ele a chamou. Ela se virou para ele vagarosamente. No seu olhar, ainda havia mágoa e reprovação. Ele engoliu em seco – Olha... Me desculpe pelo que eu disse lá... Eu não quis falar daquele jeito... Eu apenas...

Não conseguiu falar mais nada e nem conter as próprias lágrimas. Tudo aquilo era demais para ele. Desviou o rosto para que ela não o visse chorando, mas não adiantou.

Victoria se aproximou dele a passos rápidos e surpreendeu-o abraçando-o forte. Dean aceitou aquele conforto mandando para o inferno seu orgulho de macho. Vic continuou chorando com a cabeça mergulhada em seu ombro. Ele também chorava, embora não fizesse ruído como ela. Não disseram mais nada um para o outro. Não precisavam.

Ambos sabiam que aquele abraço tinha vários significados: dor pelo sofrimento da mesma pessoa que amavam, consolo para suas próprias dores e, sobretudo, um alívio para o sentimento que nutriam um pelo outro, um sentimento proibido.

Aos poucos, suas lágrimas foram cessando e uma sensação de paz começou a lhes reconfortar. Mesmo assim, não queriam se desgrudar e não se importaram em saber quanto tempo ficariam ali. Tudo o que importava era estarem juntos daquela forma. Aquele abraço era tudo de que precisavam para renovarem suas forças.


Notas Finais


Bem, espero que tenham gostado. O próximo capítulo é uma aventura inédita e já vou adiantado que eles enfrentarão o último Tormento que falta. Alguém gostaria de arriscar que tipo de Tormento pode ser? Uma dica: o título do próximo capítulo será "Otelo". Hum, dá até pra imaginar, terá brigas e discussões.

Enfim, até a próxima


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