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História Almas Trigêmeas - Madrugada dos Mortos


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Olá, pessoal!

Esse capítulo contém partes do episódio 15, "Os Mortos pedem vingança". Resolvi aproveitá-lo para Sam finalmente descobrir o segredo da Vic.

Boa leitura!

Capítulo 37 - Madrugada dos Mortos


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Madrugada dos Mortos

Anteriormente:

– Depressa – ordenou Bobby assustado assim que as luzes da casa começaram a piscar

– O que está havendo? – indagou Dean detendo-o

– Ela está vindo.

– Sabe que isso é um sonho, não é?

– Está maluco?

– É um sonho, Bobby. Nada é real.

– Aquilo parece de mentira? – ele apontou para frente.

Dean se virou. No fim do corredor saindo da porta estava parada uma jovem mulher descalça, de camisola branca, cabelos loiros e curtos desgrenhados, a expressão de cólera no rosto e vários tiros no corpo. Bobby ficou completamente apavorado.

– Bobby, quem é essa? – inquiriu Dean

– Ela... Ela é minha esposa.

(...)

– Pergunte – insistiu Collins colocando os cotovelos sobre a mesa e apoiando o queixo sobre as mãos.

– É que...você é sobrinha do Bobby por parte de mãe, não é?

– Sim – confirmou Vic

– Curioso – Dean fez uma expressão intrigada

– O quê?

– É que você é parda, o Bobby é branco e pelo que eu já ouvi falar, o Jack Collins era branco...

– A mãe dela era só meia-irmã do Bobby – Sam se intrometeu achando que encerrara a questão.

(...)

– Era sua família?

– Era. Meus pais e meu irmão Thomas.

– Então Bobby tinha outro sobrinho?

– É.

– E esta que é a grande lenda Jack Collins? Nossa! Eu... tinha uma ideia bem diferente de como ele era – confessou o Winchester ao observar o traje elegante que o homem vestia – É Samantha, a meia-irmã do Bobby? – apontou a mulher da foto. Ela era quase idêntica à Victoria, com exceção da cor dos olhos e dos cabelos.

– É... sim... é ela – Vic parecia meio vaga.

(...)

– É a Morte, o Cavaleiro Pálido em carne e osso.

– "Soltar?" E a morte não está solta por todo o lugar? Quer dizer, eu mesmo já morri umas vezes.

– Não com esse camarada. Esse é o Anjo da Morte. O Chefão Ceifador. Tem ficado acorrentado numa caixa bem lá no fundo. Da última vez que veio à tona, Noé estava construindo a Arca. Por isso esse lugar está cheio de Ceifadores. Estão esperando o Chefão aparecer.

(...)

– Bobby, você sabe que não é uma questão de confiança. Se trata de proteger o Sam. Sabe que quanto menos pessoas souberem, melhor. Meu pai assim o determinou. Todos que sabem sobre mim podem acabar mortos.

– Samantha, Jack, Luke, seus parentes e Henry não morreram por causa desse seu segredo.

– Mesmo assim, não quero me arriscar. Infelizmente, será melhor pra mim e pro Sam que ele não saiba de nada.

– Você é quem sabe. Só que você se engana, minha filha, o Sam é um cara muito esperto e observador. Pode não ser explosivo como o Dean, mas ele também não é do tipo que deixa as coisas sem se resolverem. Ele vai começar a fazer perguntas e se você não as responder, de um jeito ou de outro ele vai descobrir. E não pense que isso não vai magoá-lo. Eu o conheço suficiente pra dizer que mentiras e segredos doem muito nele tanto quanto em Dean.

(...)

– Victoria, olha pra mim – ele pegou nas mãos dela e esperou ser atendido – O que está acontecendo? O que esconde de mim? – ela fez expressão de que ia protestar, mas ele a interrompeu – E não me diga que não há nada porque sei que é mentira. Não pense que eu não sei, que não observo suas atitudes. Você recebe uns telefonemas misteriosos que a fazem se afastar de mim ou do Dean. E também... já te vi virando madrugadas mexendo no seu computador como se estivesse fazendo... algum tipo de trabalho secreto.

– Pelo amor de Deus, Sam, você agora deu pra me vigiar? – ela soltou as mãos das dele – Que paranoia é essa?

– Não é paranoia e você sabe muito bem disso – fez uma pausa – Seja o que for, pode me falar, eu vou entender.

– Não tem nada. – ela lhe dirigiu um olhar duro.

(...)

– Vic, espere aí. – ele a chamou

– O que foi, Sam? – ela parou visivelmente aborrecida

– O que você tem? Por que saiu daquele jeito?

– Não tenho nada. Impressão sua.

– Ah, é? – ele estreitou os olhos encarando-a profundamente – Você foi meio rude com aquele casal só porque afirmaram que você se parecia com essa modelo... Como é mesmo o nome dela?

– Ai, Sam, não começa não. Não foi rude coisa nenhuma, eu apenas... apenas não queria render muita conversa – suspirou – Esse pessoal de cidadezinha começa a puxar assunto e quando você vê, eles estão te retendo. Temos muito o que fazer e não podemos chamar a atenção.

O Winchester não respondeu. Continuava a olhá-la de modo interrogativo. Sabia que ela estava mentindo para ele outra vez. Ela não o encarava muito tempo nos olhos e estava tensa.

– Vamos ficar aqui parados ou podemos ir? –ela queria encerrar o assunto.

(...)

– Você fala de traição, mas é você que tem agido nas minhas costas ultimamente!

– É mesmo? – ela colocou as mãos na cintura – Então fala o que eu tenho feito pra você insinuar que estou te traindo?

Ele já estava arrependido de ter começado aquela conversa, porém, não ia voltar atrás.

– Todos os segredos que você esconde de mim e as mentiras que tem me contado – antes que ela negasse, ele afiançou – E não venha me dizer que estou paranoico! A própria Meg disse que...

– Ah, então você confia mais na palavra de uma demônio do que na minha?

– Demônios mentem sim, mas não quando sabem que a verdade vai te ferir. E ela só confirmou tudo o que tenho observado. O que você está escondendo de mim, Vic?

Collins ficou calada. Infelizmente, naquele ponto, o Winchester estava certo.

– Vê? Você não tem resposta porque o que eu digo não é um produto da minha imaginação.

Capítulo 36

Madrugada dos Mortos

Victoria se sentia num beco sem saída.

Matt havia ligado pedindo que ela fosse encontrá-lo com a máxima urgência na BBG.

– Mas, Matt, por que fazem tanta questão da minha presença aí? – ela havia protestado mais cedo pela manhã pelo celular aproveitando um momento em que Sam tomava banho – Você que está à frente de tudo, nomeado por direito com todos os poderes que o estatuto lhe atribui!

– Eu expliquei isso para eles, Victoria. Mas sabem como são. Infelizmente, a empresa foi criada com essa tradição.

– Mas se o meu... – ela se calou com receio de Sam ouvir. Não estava mais escutando o barulho do chuveiro. Abaixou o tom de voz – Mas se... você sabe quem mudou essas disposições antes de morrer, por que eles insistem nisso?

– Burocracia. Vai entender.

– Olha, Matt, eu sinto muito... mas dessa vez não vai dar. Meu namorado anda desconfiado de mim. Se eu for assim sem mais nem menos...

– Victoria, conte pra ele.

– Ficou maluco? – ela elevou o tom de voz sem querer. Depois, abaixou.– O que você está falando? Você sabe que não posso.

– Se esse cara já tem uma relação séria com você, não vejo porque ele não possa saber. Se o Bobby, que é próximo de você sabe...

– E veja no que deu! Ele quase morreu por saber demais sobre mim assim como Luke, os pais dele... e os meus pais.

– Victoria, uma coisa não tem nada a ver com a outra, você cismou com essa ideia.

– Não é o que está escrito naquela carta. Não é o que parece pelas coisas que aconteceram.

– Victoria, as circunstâncias não foram as mesmas. Nem com Bobby e nem com a família do Luke. Isso aconteceu apenas pelo fato de você ser caçadora. Com qualquer caçador pode acontecer isso.

– Sim, com qualquer caçador, mas principalmente comigo. Não, Matt, eu não vou me arriscar. Se eu contar para o Sam, talvez ele fique imune... por ser um protegido do Diabo, mas talvez isso prejudique o Dean... e até o Bobby possa ser vítima deles de novo. – fez uma pausa para suspirar – E depois... já menti muito para o Sam. Tenho medo de que ele não me entenda a essa altura.

– Victoria, olha...

– Não, Matt, não insista. Sam nunca vai saber!

Ela ouviu um curto suspiro do outro lado.

– Tudo bem, Victoria... Você é quem sabe. Mas de qualquer jeito você tem que vir.

– Matt, eu...

– Victoria, eles estão querendo me tirar da presidência.

– O queeeê!? – ela praticamente gritou. Depois tapou a boca percebendo a indelicadeza, além da possibilidade de Sam ter ouvido – Desculpe, Matt, sem querer gritei com você.

– Não, tudo bem.

– Mas como assim esses cretinos querem tirar você da presidência? Sob qual alegação?

– Dizem que não tenho o direito legítimo não importa se fui designado como tal – ele suspirou – Victoria, é por isso que você tem que vir pra cá mais vezes. Caso contrário, além de me tirarem do cargo, vão alegar que você não está querendo honrar com a tradição da empresa... e também vão dar um jeito de descartar você pra um deles se autoproclamar o presidente e conduzir os negócios em outra direção contrária do que ela foi proposta.

Vic fechou os olhos com crescente irritação e colocou a mão na testa para se acalmar.

– Sei que você não quer ter que assumir qualquer responsabilidade, que confia em mim. Mas tudo depende de você. Vários setores poderão ser fechados... inclusive o mais importante de todos.

Sim. Ela sabia. Tudo dependia dela. Malditos burocratas!

– Tudo bem – declarou ela por fim após um longo suspiro – Vou tentar arrumar uma desculpa com o Sam e... amanhã sem falta estarei aí até de tarde.

– Sábia decisão, Victoria. – o alívio na voz de Matt era evidente – Você está fazendo o que é certo para todos.

– Espero que eu esteja fazendo o que é certo pra mim também – desabafou – E para meu relacionamento.

Essa foi a conversa que teve mais cedo com Matt. No momento, encontrava-se perdida em seus pensamentos sentada com os Winchesters à mesa de uma lanchonete para o café da manhã. Ela tentava pensar em alguma desculpa para justificar sua ida a São Francisco ou qualquer lugar que inventasse ir para que não descobrissem seu segredo.

– Vic? – Sam a chamou. Estava sentado ao seu lado.

– Hunh? – ela se virou para ele.

– Você está bem?

– Claro. – ela sorriu forçado alternando o olhar de Sam para Dean – Por que não estaria?

– Porque você não ouviu uma palavra do que falei – alegou Dean do outro lado da mesa com o jornal aberto na segunda ou terceira página. Também olhava intrigado para ela.

– É por causa do telefonema que você recebeu hoje pela manhã? – bombardeou Sam não dando espaço para ela refletir

Collins disfarçou a surpresa. Então ele ouviu? Bom, infelizmente, ela deixou escapar duas ou três falas em tom mais alto.

– Er... Era o Matt.

– Matt? Seu contato? – questionou Dean

– Sim... ele... está com problemas.

– Que tipo de problemas? – tornou Sam a fitando com um olhar inquisitivo.

– Ah... problemas pessoais. Ele... me ligou para me pedir um conselho. Eu... acho que consegui ajudá-lo.

Resolveu admitir parcialmente a verdade. Seria mais inteligente e eles não desconfiariam tanto. Contudo, ainda não tinha coragem de anunciar seu afastamento deles por um ou dois dias. Um silêncio se fez entre eles. Vic sustentou seu olhar com firmeza para que não notassem a mentira.

– OK – disse Dean por fim. Trocou um rápido olhar com o irmão que não passou despercebido para Collins. – Mas... será que podemos voltar aos negócios?

– O que tem para nós? – perguntou Vic procurando se concentrar

– Uma notícia curiosa – ele colocou o jornal sobre a mesa apontando a parte inferior que mostrava uma reportagem. Vic pegou o jornal – Aí fala sobre um assassinato de um homem em seu trailer... Benny Sutton. Foi morto por um tal Clay Thompson... segundo uma testemunha.

– Foi na cidade do tio – observou Victoria ao ler a notícia "Mistério em Sioux Falls" – E qual é o mistério?

– Esse Clay já tá morto tem pelo menos uns cinco anos.

– Nossa – Vic piscou várias vezes e abriu um pouco a boca meio atordoada – Isso sim é um mistério.

– Ou pode ser só uma história de algum bêbado.

– Mesmo assim, devemos conferir – rebateu Sam – Com o Apocalipse batendo na nossa porta, não podemos descartar nenhuma possibilidade.

Um lampejo ecoou na mente de Victoria. Talvez essa fosse a solução...

– Olha, gente, talvez não fosse uma boa ideia eu participar desse caso... pelo menos não diretamente.

– Por que não? – inquiriu Dean intrigado.

– Se lembram que eu disse que morei com o Bobby por uns três anos?

– Sim, e daí?

– Pelo o que eu li na notícia, o crime aconteceu nos arredores de onde ele mora. Mesmo eu não sendo uma pessoa... muito sociável nessa época, tem muita gente que vai me reconhecer se eu me passar por federal.

– É mesmo – concordou Sam.

– Então... podemos fazer o seguinte: eu ligo para o Bobby e combino de ficar na casa dele como se eu fosse visita-lo. Aí vou dando um jeito de coletar alguma informação aqui e outra ali com os vizinhos... como a última fofoca do momento. Eles não vão suspeitar de nada.

– Só vão achar estranho que de repente você resolveu virar a Miss Simpatia – zombou Dean.

Collins fez uma careta de desdém para ele.

– E então? O que acham?

– OK. Assim a gente ganha mais tempo na investigação se nos dividirmos – Dean concordou

– Sam? – Vic se voltou para ele.

Achou-o estranhamente quieto. Será que estava desconfiado das verdadeiras intenções dela por trás daquela proposta?

– Você está certa... – disse ele após uma pausa

– Mas?

– Vai ser difícil pra mim ficar longe de você – sorriu.

Collins ficou aliviada, embora disfarçasse o sentimento. Também sorriu e pegou na mão do Winchester.

– Então somos dois – disse.

– Ô, pessoal, que exagero! – comentou Dean revirando os olhos – Até parece que vocês nunca mais vão se ver. É lá mesmo na cidade. Só fazerem uma visitinha se pintar saudades. Não se preocupe, Sam, você ainda vai ter um bom tempo para aguentar as mudanças de humor da Vic – zombou.

Sam o fuzilou com os olhos.

– Dean, o dia que você tiver uma relação séria com alguém, você vai entender. – retrucou.

Dean permaneceu calado. Ele duvidava que esse dia chegasse. Quanto a Vic, ficou um pouco desconfortável com o comentário, mas não demonstrou e anunciou:

– Bem, eu vou ligar para o Bobby e avisá-lo da nossa ida pra lá.

Ela discou o número do caçador. Chamou várias vezes, mas não atendeu.

–Que estranho... O Bobby não atende.

– Tente mais vezes – sugeriu Sam.

Ela assim o fez, mas não conseguiu.

– É, ele não atende mesmo. – disse – Deve estar ocupado, talvez até já esteja investigando esse caso.

– Não esquenta, Vic. A gente vai pra lá mesmo de qualquer jeito. Depois, você fala com o Bobby – tornou Dean se levantando – Então, pessoal... Já que todo mundo encheu a barriga, pé na estrada.

– 0 –

Chegaram em Sioux Falls na manhã do dia seguinte como o pretendido.

Os rapazes ficariam num motel enquanto Victoria iria direto para casa de Bobby para tentar encontrá-lo já que não haviam conseguido contatá-lo por telefone.

– Você acha mesmo conveniente ir lá no Bobby? E... se ele não tiver mesmo por lá? Talvez esteja até viajando. – sugeriu Sam tentando elaborar um argumento para Vic não se afastar deles

– Pra onde mais ele iria? – ela rebateu. Torcia para que Bobby estivesse em casa ou não poderia seguir com seu plano – Pode ser que ele também esteja com algum problema no telefone. Mas se ele não tiver mesmo por lá, eu volto pra ficar aqui com vocês.

– Está certo.

– Sam, eu só vou ficar no Bobby aqui mesmo na cidade – Vic garantiu ao notar a expressão de pesar no rosto do namorado. Sentiu uma sensação de culpa a invadir. Ela mentia, mas disfarçou – Nós podemos nos encontrar no intervalo das investigações.

– Eu sei, só que não vai ser a mesma coisa. – ele fez uma expressão de menino carente – Pode parecer pegajoso, mas... é difícil pra mim ficar muito tempo longe de você.

Ela acariciou a face dele.

– Pra mim também, Sammy. – sorriu

Eles se olharam com ternura e paixão e beijaram-se profundamente. As mãos de Vic acariciavam o belo rosto de Sam enquanto ele massageava os ombros dela. Aproximaram seus corpos mais ainda, embora com um pequeno espaço entre eles devido à posição em que estavam sentados no carro.

Sam sentiu um aperto no coração, um sentimento que não soube definir como se alguma coisa fosse afastá-lo de Vic. Aumentou a urgência do beijo. Sem se importar com mais nada, queria se perder na boca de Victoria, em sua essência, em seu ser, como se nada no mundo pudesse separá-los. Collins também sentiu o mesmo e correspondeu na mesma intensidade.

Batidas no vidro da porta do lado do banco de passageiro quebrou a magia entre eles. Desgrudaram os lábios e olharam na direção do som. Era Dean com expressão impaciente. Não disse nada, apenas chamou Sam com a mão. Em seguida, afastou-se.

– É melhor eu ir – disse Sam se voltando para Collins com relutância – Me ligue quando você chegar no Bobby.

– Claro – disse ela tentando não se sentir culpada – Nos vemos depois.

– E logo. – deu-lhe mais um beijo rápido.

Saiu do carro, foi até o porta-malas onde tirou sua bagagem, acenou mais uma vez para Vic e esta, após corresponder ao gesto e também acenar para Dean, deu partida no carro e foi-se.

– 0 –

Victoria chegou ao ferro-velho. Ela estacionou, caminhou até a porta da casa de Bobby e bateu:

– Bobby! – chamou – Bobby!

Esperou uns dois minutos. Ouviu a voz de Bobby de dentro de casa. Suspirou de alívio. Contudo, teve a impressão de ouvi-lo falar com alguém. Finalmente, ele abriu a porta.

– Vic... o que faz aqui? – ele parecia surpreso e não muito contente em vê-la, apesar do sorriso estampado no rosto. Um sorriso forçado.

– Oi, Bobby. – ela estranhou – Algum problema?

Ela o viu prender a respiração por um instante antes de responder:

– Er... Nenhum. Só estou surpreso com a sua chegada considerando que você esteve aqui há poucos dias por causa do problema com o Sam. Ele... está melhor?

– Sim, está. – ela não engoliu a desculpa.

– Cadê os meninos? Vieram com você? - parecia visivelmente preocupado.

– Estão na cidade, mas só eu vim aqui. Precisava falar com você.

– Mas... qual o problema? Aqueles dois estão azucrinando a sua vida? – disse mais relaxado.

– Não – ela riu – Nós soubemos o que aconteceu na sua cidade.

– Ahm... Do que você está falando? – indagou parecendo desconfortável

–Ora, Bobby... Você deve estar mais por dentro do que a gente. Nós lemos no jornal a notícia...

– Ahm, certo... Sobre o Clay – Bobby se lembrou. Ou fez que se lembrou de repente, na opinião de Vic – Isso é lorota de... um bêbado.

– É o que Dean acha – retrucou – Mas Sam acha que deveríamos investigar. Eu concordo com ele. Qualquer coisa por mais insignificante que apareça pode ter relevância com o Apocalipse.

– Com certeza isso não. – negou ele com veemência – Mortos se levantando de sua tumba não tem relação alguma com os planos de Lúcifer.

– Achei que você tivesse dito que o caso era lorota de bêbado.

– Er... Por isso mesmo – o caçador parecia se enrolar em suas próprias palavras o que fez Victoria desconfiar que ele escondesse alguma coisa – Por ser lorota de bêbado, é que não tem nada a ver.

– Você já investigou?

– Claro – disse ele com um sorriso nervoso que não passou despercebido para Collins –E não tem absolutamente nada. Foi tudo um engano de um bêbado, o Wells, conhecido aqui por todos como Coveiro.

– Você tem certeza?

– Se estou dizendo... – ele fez expressão severa de quem não admitia que duvidassem de sua palavra – Pode dizer pra aqueles dois que foi tudo uma perda de tempo.

– Droga! – exclamou Victoria – Pior que esse caso me convinha.

– Por quê? – Bobby ficou intrigado.

– É o Matt. Ele me ligou de novo. Precisa que eu vá pra São Francisco resolver uns problemas por lá.

– Entendo. – o rosto de Bobby assumiu uma expressão compreensiva – E você precisava de um álibi de minha parte como uma justificativa pra sua ausência.

– Isso.

– Não se preocupe. Posso inventar que o Rufus me ligou com urgência e me pediu pra indicar alguém que o ajudasse lá num caso no Texas. Ele não sabe se está lidando com um grande número de vampiros ou um bando de lobisomens. E como você apareceu de repente, resolvi te mandar pra lá imediatamente.

– Isso, tio. Acho... que isso deve convencê-los.

– Eu não acredito muito nisso. Ainda mais o Sam. Aliás, você sabe a minha opinião a respeito.

– Sei, mas não quero discutir isso. – não deu tempo para Bobby rebater. Ele suspirou.

– Então... Você vai entrar um pouco ou já vai pra São Francisco?

– Não, eu acho melhor ir de uma vez. Matt e os outros estão me aguardando ainda hoje.

– Ah... – foi a resposta do caçador que tentava não transparecer seu alívio.

– Tio... algum problema? – Vic estava cada vez mais intrigada.

– Problema? Nenhum! – ele foi rápido em responder.

Collins olhou para ele e depois olhou para a casa. Resolveu testar a reação de Bobby

– Quer saber? Acho que uns minutos a mais não vão fazer diferença. – anunciou ela e fez menção de se dirigir para o interior da residência

Bobby travou o passo dela segurando sua mão

– Espere, Vic. Não... entre. Ainda não.

– Por quê? Tem alguma coisa que você não queira que eu veja na sua casa?

– Er... bem... Na verdade, é uma pessoa.

– Uma pessoa?

– É... ela... bem... é complicado de explicar, mas...

– Ela? Tio, então quer dizer que você está com alguém? – a expressão de Victoria se abriu

– É, sim, mas... – ele estava sem jeito.

– Nossa, Bobby, você, hein? – ela colocou as mãos na cintura com ar de troça - Então é por isso que você não estava atendendo nossos telefonemas?

– Vic, olha...

– Não, não, tio. Não precisa ficar envergonhado. Você está mais do que certo em querer retomar sua vida amorosa depois de tanto tempo. Sei que você tem sofrido muito esses anos pela falta da tia Karen.

Bobby não retrucou. Apenas a olhou pensativo. Como nada dissesse, Vic prosseguiu:

– Mas já que você ainda está se acostumando com a ideia de ter alguém, não deve estar pronto para me apresentar a felizarda. Eu entendo, não se preocupe. Quando você estiver pronto, pode apresenta-la a mim e aos rapazes.

– É, admito. Eu ainda quero ver no que vai dar – Bobby parecia mais aliviado que Collins chegasse àquela conclusão.

– Mas só espero que ela esteja à sua altura e esteja cuidando bem de você.

– Não se preocupe. Ela é... uma mulher maravilhosa. – a expressão do caçador era a mesma que Vic contemplava em Sam quando ele a olhava. Ela sorriu feliz por seu tio.

– Bem, como não quero atrapalhar os dois pombinhos... então já vou.

– Você tem certeza que continuar com essa farsa, Vic? Não seria melhor contar para o Sam? Pense bem.

– Tio, já disse que não vou discutir esse assunto com você. Pra mim está mais do que resolvido que o Sam não deve saber de nada. Não insista! – ela se impacientou – Primeiro, o Matt, agora você.

– Está bem, não está mais aqui quem falou. – ele balançou o dedo em riste para ela – Mas depois não diga que não avisei.

– Pode deixar que eu não vou dizer. O Sam pode até desconfiar, mas nunca vai descobrir nada sobre mim. Eu sou muito cuidadosa.

Bobby deu de ombros. Não ia mais dar palpites.

– Então até a volta, menina... E juízo.

Collins o abraçou e entrou no carro.

– 0 –

– Como assim a Vic partiu, Bobby? – indagou Sam bastante incrédulo

Tanto ele como Dean não avançaram muito em sua investigação daquele estranho caso. Depois de se instalarem no motel, marcaram na lanchonete principal do bairro uma conversa com um tal Sr. Wells – que se intitulava "Coveiro" – , a testemunha que viu o cadáver de Clay assassinar Benny Sutton.

No meio da conversa, apareceu a xerife Jody Mills, uma mulher alta, morena clara e tão intimidadora quanto Collins. Para o azar dos caçadores, ela descobriu a farsa em se passarem por federais pelo fato de ter insistido em falar com o superior da jurisdição deles. Forneceram um dos números de telefone com que Bobby se passava por chefe do FBI, porém, a xerife reconheceu a voz de Singer, que tentou despistar sem sucesso.

O velho caçador parecia não ter uma boa fama na cidade. Mills ordenou aos Winchesters que encerrassem a falsa investigação e fossem embora.

Frustrados, resolveram ir à casa de Bobby para ver se ele tinha alguma pista a respeito do caso. E Sam aproveitaria para ver Vic antes do que haviam planejado. Unir o útil ao agradável. Como ela não ligasse, achou que era sinal de que estivesse com Singer – apesar de ter combinado de telefonar. Porém, o Winchester teve uma desagradável surpresa ao chegar à casa do caçador e ser informado por este de que a namorada não se encontrava.

– A partida dela tem a ver com o caso? – Sam continuou a perguntar

– Na verdade, eu... pedi a ela que investigasse um caso do Rufus. Algo que achei mais urgente e que ela poderia fazer sozinha.

– Do Rufus? E pra onde ela foi? – Sam começou a desconfiar.

– Ela foi pro Texas.

– Que lugar do Texas, Bobby? Pode ser mais específico? – Sam estava impaciente.

– Ei, garoto, que isso? Por acaso, acha que estou mentindo?

Sam não retrucou. O tom de censura de Bobby o intimidou.

– Era só o que me faltava. Logo você, Sam Winchester, duvidar de mim. E que mau juízo você faz de sua própria namorada.

– Ora, Bobby... dê um desconto pro Sam – interveio Dean – A Vic não ligou pra avisar nem nada. Até eu estou achando estranho.

– Ela não avisou porque não teve tempo. O negócio surgiu de última hora e era urgente – suspirou Bobby. Até ele se convencia da própria mentira – Por pouco vocês não topam com ela. Não tem nem dez minutos que saiu. Ela deve ligar pra vocês logo.

– Está certo, Bobby. Se você diz... – Sam procurou se convencer – Mas era tão urgente assim pra ela sair de repente?

– Era. Mas nada que seja relacionado com o Apocalipse... pelo que parece. Acho que só um caso corriqueiro de lobisomens ou vampiros. Rufus não foi muito específico... mas pelo o que me disse, precisava mesmo de uma força.

– Ainda assim não gosto de saber que a Vic está sozinha metida em algum caso. É melhor irmos até ela.

Bobby ia retrucar, mas Dean foi mais rápido.

– Melhor não, Sam. A Vic talvez não goste da nossa intromissão. É capaz até de ficar brava.

– Brava por quê? Somos uma equipe.

– Eu sei, mas como a gente veio pra cá investigar um caso, temos que termina-lo. E se Bobby confiou uma tarefa pra ela é porque sabe que ela é capaz de se virar sozinha. E se não tem nenhuma relação com o Diabo, não há muito com que se preocupar.

– Tirou as palavras da minha boca, rapaz. – concordou Singer.

– Sim, eu entendi – concluiu Sam com um suspiro. Passou a mão pelo cabelo – E se formos encontra-la assim de repente, ela vai pensar que é porque eu não confio nela. E vai se zangar comigo.

Dean e Bobby acenaram juntos com a cabeça.

– Está certo. – ele concordou de má vontade – Mas se ela não me telefonar logo, eu ligo pra ela.

– Isso é com você – Bobby deu de ombros. Resolveu mudar de assunto – Mas... o que há de novo, rapazes?

– Como assim, Bobby? – estranhou Sam – A Vic não te explicou quando veio aqui? E você como morador da região, deve saber muito bem do que se trata.

– Ahm... É... Certo. O lance do Benny Sulton.

Dean fungou o nariz sentindo um cheiro no ar.

– Que cheiro é esse? – perguntou – É sabão? Limpou por aqui?

– Virou minha mãe? Não enche! – o caçador ficou na defensiva

– Mas e aí, Bobby, o que pode nos dizer sobre esse caso? – tornou Sam – Tudo aconteceu a menos de oito quilômetros de sua casa.

– Eu dei uma olhada. Não tem nada.

– A não ser uma testemunha que viu o morto cometer assassinato.

– Que testemunha? Coveiro Wells? – seu tom era de desdém

– É, e daí? – inquiriu Dean

– Daí que ele é um bêbado. Foi o que eu disse pra Vic.

– E quanto às tempestades de raio? – Sam retomou a palavra – Parecem presságios.

– Exceto que fevereiro, em Dakota do Sul, é a temporada de tempestades. – os rapazes fizeram expressão de descrença – Pessoal, achei que também tivesse algo lá. Às vezes um cigarro é apenas um cigarro

– Então quem matou o cara? – inquiriu Sam

– Pode escolher. Esse Benny Sutton era um grande filho da mãe. Muita gente viva adoraria apertar o nó da gravata dele.

– Então, está nos dizendo... nada? – Dean não estava muito convencido

– Desculpem. Parece que gastaram um tanque de gasolina à toa.

– Bem, Bobby, se é assim, você podia ter nos telefonado e encaminhado nós "três" para este caso do Rufus. Podia ter nos esperado antes de mandar só a Vic – Sam enfatizou otrês.

– Eu já disse que foi repentino – enfatizou Bobby impaciente – E resolvi mandar só a Vic porque enquanto ela soluciona esse trabalho, vocês poderiam averiguar um caso concreto relacionado ao fim do mundo.

Sam permaneceu calado. Não havia nota de hesitação na voz de Bobby. Mesmo assim, não se sentia muito seguro das afirmações do caçador.

– Está bem, Bobby. – respondeu Dean por ele encerrando a questão.

– 0 –

– Sam, me desculpe, mas realmente tive que partir. Foi um pedido do Bobby. – explicou Victoria no celular. Procurava manter o tom de voz o mais natural possível para Sam não detectar a mentira.

– Eu sei, Vic. Mas por que você não me telefonou antes de partir? Por mais urgente que fosse, não te custaria nada falar comigo uns cinco minutos que fosse.

– E você não ia tentar me convencer a não ir sozinha?

– Bem, eu...

– Está vendo? Foi por isso que não quis te falar nada. Sei que se preocupa comigo, que quer me proteger, mas você tem que entender, Sam, que já sou uma caçadora experiente bem antes de te conhecer.

– Eu sei, Vic, eu sei – ele bufou – Mas com o Apocalipse à solta, fica bem mais perigoso você sozinha por aí. E quem garante se o caso não for relacionado com o Diabo?

– Vamos fazer o seguinte: eu prometo que se for algo muito perigoso, algo que eu não puder combater, telefono imediatamente pra você.

– Promete? – a voz dele era ansiosa.

– Prometo – ela garantiu.

– Então... está bem, meu amor, vou confiar em você.

Collins se sentiu culpada com aquela afirmativa, mas não deixou transparecer.

– Está certo, meu amor. Eu te ligo assim que eu resolver tudo ou se precisar de ajuda. – disse ela

– Estarei esperando. Bobby falou pra procurarmos por algo, mas vamos te esperar. Vou sentir saudades.

– Eu também. Até logo.

– Até.

Desligaram. Collins suspirou. Odiava mentir e enganar Sam, mas não tinha escolha. Ao menos ela estava sendo sincera em dizer que se ocorresse algo perigoso com que não pudesse lidar, telefonaria para ele.

Bom, Sam não precisava se preocupar porque não havia perigo nenhum para ela. Só dores de cabeça com um bando de burocratas.

Ela se encontrava na sala presidencial de Matt. Havia uma enorme mesa com doze cadeiras no centro. Nos fundos do local, ele ainda conservava a foto do fundador da multinacional: William Blackwell. Era um homem bastante bonito, de cabelos loiros cacheados, olhos verdes, sorriso cativante e um porte imponente sem ser arrogante.

Vic sorriu. Um sorriso meio triste.

Você foi um grande homem. Gostaria de...

O barulho da porta se abrindo interrompeu seus pensamentos. Era Matt.

– Victoria, eles chegaram – ele disse.

– Não gosto nada disso – disse ela com voz monótona – Pra sincera, Matt, eu preferia lidar com um bando de demônios do que com esses homens.

Ele riu.

–E, eu também. Sinto falta dessa época.

– Bem, mande os abutres entrarem. – disse resignada – Hora do show.

– 0 –

Se antes Sam tinha uma leve suspeita de que a súbita partida de Victoria poderia ser uma mentira em acordo com Bobby, os fatos presenciados por ele e Dean o fizeram ter quase certeza.

Os irmãos foram presos pelos simples fato de terem invadido a casa de Clay Thompson – depois de descobrirem sua tumba vazia no cemitério ao investigarem à noite por insistência de Dean que não se convenceu de que não havia nada errado –, passarem-se por agentes federais e quase levarem o sujeito com eles para matá-lo.

A esposa de Clay telefonou para a polícia antes de ele ter se convencido de que os caçadores eram federais e concordar em acompanhá-los. A xerife e mais um ajudante chegaram a tempo de pegá-los em flagrante. MIlls não se mostrou nem um pouco reticente pelo fato de Clay ser zumbi ou mesmo ter matado Benny por vingança. Ele continuava sendo um bom cidadão que pagava seus impostos.

Bobby convenceu Jody a libertá-los e revelou para eles sobre o estranho acontecimento dos mortos da cidade terem voltado à vida de repente há cinco dias.

– Você sabia disso? – indagou Sam enquanto empurrava a cadeira de rodas e saíam da delegacia.

– Sabia. – admitiu o caçador

– O que acho que Sam quis dizer foi: você mentiu pra gente? – replicou Dean

– Olhe, eu disse que não tinha nada aqui – redarguiu ele se afastando de Sam e girando ele mesmo a cadeira para encará-los – E não há. Não pra vocês.

– Tem zumbis aqui. – Dean retrucou pasmo com a tranquilidade de Singer sobre o assunto.

– Existem zumbis e zumbis. – a expressão pasma de Dean se acentuou – Venham comigo.

Girou a cadeira outra vez e seguiu em frente.

Bobby dispensou o táxi que havia chamado para ir à delegacia e entrou no Impala preto com os rapazes. Dean o ajudou a se acomodar no assento de passageiro e ajeitou a cadeira no porta-malas. Ninguém falou nada no carro. No banco de trás, Sam olhava para o lado de fora da janela e meditava sobre os fatos que haviam ocorrido até ali.

Por que Bobby havia mentido para eles? E por que não estava preocupado sobre aquilo que parecia um claro indício do Apocalipse? E o mais inquietante para Sam: se o velho caçador havia mentido sobre aquele caso, será que não havia mentido sobre o paradeiro de Collins e o motivo de sua partida? Mas por qual razão tanto ele como Victoria mentiriam?

A resposta veio num estalo. Matt. Mas é claro! Como não associou uma coisa à outra? O tal Matt havia ligado ontem para Vic e ela viaja justo um dia depois? Com certeza não era uma coincidência.

Por que Victoria precisou mentir para encontrar aquele homem outra vez? Por que simplesmente não contou a verdade como na ocasião em que reviram Chuck? Ele teria compreendido por mais que o intrigasse a relação dela com o indivíduo.

A resposta era óbvia. Victoria não queria que ele a questionasse. E ela não confiava nele suficiente para lhe contar algo tão simples. Aquilo magoou Sam profundamente. E fê-lo acreditar que havia algo de muito profundo na relação entre ela e o tal que dizia ser caçador. Se é que era mesmo um. Talvez fossem mesmo amantes como ele insinuou há três dias sob a influência do Tormento. O ciúme era o pior conselheiro, mas o que ele deveria concluir se Vic mentia sobre se encontrar com outro homem?

Não. Não podia ser aquilo. Vic não parecia ser aquilo tipo de mulher. E estavam juntos tempo suficiente para ele não duvidar dela naquele aspecto. Além disso, Bobby jamais compactuaria com aquele tipo de coisa. Vic podia ser a sobrinha dele, como uma filha para ele, mas sabia que o velho caçador considerava tanto ele quanto Dean como seus filhos.

A dúvida sufocava Sam e, sem perceber, chegaram à casa de Bobby. Após descerem e ajuda-lo novamente a se ajustar na cadeira, acompanharam-no até o interior da casa. Seguiram em silêncio até a sala de jantar. Dean resolveu indagar impaciente:

– Quer nos dizer que diabos...

– Olá – uma voz feminina os saudou

Fitaram a dona da voz. Era uma jovem mulher de cabelos loiros e curtos até o pescoço. Usava um vestido simples num tom bege meio desbotado e com minúsculas estampas de florezinhas sobrepostas umas sobre as outras que cobriam o tecido. Ostentava um brilho de alegria nos olhos, um sorriso radiante e uma expressão serena. Dean teve a ligeira impressão de tê-la visto antes.

– Não sabia que teríamos companhia – falou ela num tom afetuoso numa voz suave. Olhava com curiosidade para os rapazes.

– São quatro da manhã, amor. Não precisava cozinhar. – disse Bobby se afastando um pouco dos Winchesters

– Por favor, pegarei mais pratos – anunciou e voltou para a cozinha

Assim que ela se afastou, Dean interpelou Bobby:

– Quem é essa?

– Karen. Minha esposa.

– Sua nova esposa? – Dean ficou confuso

– Minha esposa morta – respondeu Singer após curta pausa.

Dean se lembrou de onde a viu. Quando esteve dentro de um pesadelo de Bobby. Ele e Sam encararam Singer. Agora entendiam a estranha atitude do caçador.

Em silêncio, os três se sentaram à mesa e Karen lhes serviu uma deliciosa torta. A princípio, Dean deu a primeira garfada com certo receio do que poderia conter o quitute. Mas ao constatar que o sabor era bom, não pôde deixar de elogiar de boca cheia:

– Isso está incrível, Sra. Singer.

– Obrigada, Dean.

Sam o olhou com estranheza.

– Que foi? Está mesmo – retrucou ele

– Está ótimo, Karen. Obrigado – disse Bobby ao ser servido com mais uma porção pela esposa. – Poderia nos dar um minuto?

Ela assentiu e olhou para os rapazes que esboçaram um meio sorriso forçado. Os três homens ficaram a sós. Dean se virou possesso para Bobby:

– Ficou doido? Mas que diabos...

– Dean, eu posso explicar – garantiu Bobby.

– Explicado o quê? Ter mentido pra gente? Ou a garota americana zumbi assando bolinhos na sua cozinha?

– Primeiramente, ela é minha esposa, então, respeito. – a voz de Bobby foi de advertência

– Bobby, seja lá o que essa coisa for, não é sua esposa. – Sam o alertou

– E como sabe disso?

– Está falando sério?

– Acha que sou idiota, garoto? Minha esposa morta aparece à minha porta, e não vou testá-la de todas as maneiras que conheço?

– A Vic está sabendo disso? – uma ideia ocorreu a Sam. Talvez aquilo explicasse a partida de Collins

– Não. Eu... até pensei em contar pra ela quando esteve aqui, mas...

– Então ela passou mesmo aqui? – Sam parecia ansioso.

– É claro que sim, Sam – Bobby entendeu aonde ele queria chegar.– Eu... eu a mandei mesmo pra resolver um caso pra que ela não descobrisse sobre a Karen.

Sam pareceu ficar aliviado com a explicação como se precisasse acreditar que Victoria não o havia enganado. Quanto a Bobby, resolveu aproveitar a deixa para continuar sustentando a farsa da sobrinha.

– Então, o que é isso? – tornou Dean – Zumbis? Espectros?

– Se eu soubesse... Ela não tem cicatrizes, feridas, não reage ao sal, prata, água benta...

– Bobby, ela saiu do caixão.

– Não saiu. Eu a cremei. – fez uma pausa – De algum jeito, ela está de volta.

– Isso é impossível. – afirmou Sam

– Nem me fale.

– Você enterrou as cinzas dela?

– Sim.

– Onde?

– No cemitério. Foi de lá que todos surgiram.

– Quantos? – inquiriu Dean

– Uns quinze, vinte. Eu fiz uma lista – tirou um papel do bolso da camisa e entregou-a a Sam – Tem a Karen, o Clay... Xerife Mills, o garotinho dela voltou.

Os irmãos se entreolharam. Isso explicava a aquiescência da oficial.

– E não houve nenhum sinal? Nenhum presságio? – indagou Sam

– Houve as tempestades de raios. – admitiu Bobby com expressão culpada

– Foi o que dissemos – retrucou Dean depois de um gesto de "Eu não disse?" – Que mais?

Bobby se distanciou da mesa e pegou uma velha bíblia de gravuras que estava sobre o armário.

– Eis que através do fogo, estava perante a mim um cavalo pálido – começou a ler uma citação bíblica – E aquele montado nele carregava uma foice, e eu vi desde que ele surgira, eles também surgiriam, e por ele e através dele.

Olhou para os dois. Suas expressões eram sombrias. Colocou a bíblia no lugar.

– A Morte está por trás disso? – questionou Dean

– A Morte mesmo? Com ceifeiros e tudo? – indagou Sam

– Isso – confirmou Bobby e voltou à mesa

– Legal – Dean colocou a mão no rosto – Outro cavaleiro. Deve ser quinta-feira.

Sam se levantou

– Por que a Morte ressuscitaria quinze pessoas de uma cidade pequena como Sioux Falls? – inquiriu

– Não sei – Bobby balançou a cabeça para os lados

– Se a Morte está por trás disso, então, o que quer que sejam essas coisas, não são boas. – alertou Dean. Fitou Bobby de modo significativo – Sabe o que temos que fazer aqui.

– Ela não se lembra de nada, sabe? – Bobby se recusava a pensar no que Dean sugeria

– O que quer dizer?

– Ter sido possuída. Eu a matando. Ela voltando.

– Bobby...

– Não, não me venha com "Bobby." – ele fechou os olhos com força se recusando a ouvir qualquer comentário negativo – Só escutem, tá legal?

Fizeram silêncio. O som da voz de Karen na cozinha chegava aos ouvidos deles. Era algo parecido como um cantarolar, um leve murmúrio.

– Ela murmura quando cozinha – esclareceu Bobby com o semblante sereno – Ela sempre murmurou enquanto cozinhava. De um jeito ensurdecedor, mas... Nunca achei que fosse ouvir isso outra vez.

As expressões dos Winchesters não eram nada animadoras.

– Leiam o Apocalipse – insistia o caçador tentando convencê-los – Os mortos ressurgem durante o Apocalipse. Não há nada que diga que isso é ruim! Talvez seja uma coisa boa no meio de tanto sangue.

– E o que você faria se fosse a gente? – Dean alfinetou

Bobby não tinha resposta para aquilo. Dean havia tocado no ponto crucial. Singer o fitou e depois a Sam; abaixou o rosto com expressão triste.

– Eu sei o que eu faria. – admitiu – E sei o que acham que eu deva fazer. Mas estou implorando. Por favor. – suplicava quase desesperado com o olhar alternando de um para o outro – Por favor. Deixem-na em paz.

Dean e Sam não responderam. O mais novo apenas acenou com a cabeça, seguido pelo mais velho.

– Obrigado – Bobby não escondeu o alívio em sua voz.

– Mas eu vou contar pra Vic – anunciou Sam – Ela tem que saber.

– Sim. Faça isso... mas espere ela chegar. Sei que vai ficar preocupada de qualquer jeito, mas... não quero que ela volte assustada por uma notícia assim dada por telefone. Prepare o espírito dela antes. – fez uma pausa. Parecia meditar sobre alguma questão – E tem outra coisa... Karen não chegou a conhecer a Vic porque... ela morreu antes de da minha irmã Samantha ter a minha sobrinha. Ela acha que pode estar com lapsos de memória por não se lembrar nem da Vic e nem de vocês. Tive que inventar que ela se sofreu um golpe na cabeça num acidente de carro e... que ficou essa sequela. Eu precisava explicar pra ela sobre vocês... e sobre a passagem do tempo.

Sam assentiu.

– Bem... vamos voltar à torta. Querida, pode vir! – chamou Bobby.

Karen voltou a se juntar a eles e tanto Singer como os rapazes procuraram agir com naturalidade.

Os rapazes esperaram na sala o dia clarear para saírem. Bobby e Karen ficaram com eles. A mulher procurou entretê-los com uma boa conversa, contando pormenores de sua vida conjugal com o marido. Este se embaraçou em alguns momentos com certas revelações cômicas feitas por sua esposa. Os rapazes chegaram a rir. Tinham admitir que Karen era uma boa anfitriã a despeito de ser uma morta-viva.

– É uma pena que a Victoria teve que partir tão de repente. Gostaria de revê-la... mesmo não me lembrando muito bem dela. – lamentou Karen e, depois seu sorriso se alargou – É bom ter uma sobrinha. Bobby disse que vocês são namorados. – dirigiu-se a Sam.

– Sim – respondeu ele.

– Antes de vocês irem, será que você poderia entregar a ela um presente meu?

– Claro.

– Venha comigo, por favor – ela se levantou esperando Sam.

– Eu, hã... – Sam ficou confuso. Fitou Bobby que fez um gesto afirmativo.

– É rapidinho – insistiu Karen.

– OK – concordou e se pôs de pé. Dean lhe dirigiu um olhar disfarçado do tipo "Tome cuidado"

Haviam concordado em não matar Karen, mas isso não queria dizer que não estavam vigilantes.

Sam a acompanhou até o quarto que ela dividia com Bobby. Ela abriu a porta e fechou-a depois que ele entrou.

– Eu descobri umas fotos guardadas num baú velho do Bobby e resolvi montar um álbum com elas. Não falei pro Bobby, acho que ele não vai se importar. – esclareceu Karen se dirigindo até a cômoda ao lado da cama. Abriu a gaveta e tirou uma pequena caixa de veludo. Estendeu-a para Sam. – Aqui. Eu comprei e colei as fotos.

Sam pegou a caixa que continha o álbum.

– Pode abrir se você quiser. – disse a mulher – Aí estão as fotos dos pais da Victoria e do irmão dela. Só não tem fotos dela com eles, mas tem algumas dela com Bobby. Achei que ela ia gostar de guardar alguma coisa da família.

Ela se sentou na beirada da cama e indicou um lugar ao seu lado para Sam se acomodar.

– Vamos, pode se sentar e ver.

– Eu... – Sam se sentia desconfortável em estar sozinho com Karen. Não confiava totalmente nela.

– Só uma olhadinha rápida não vai fazer mal algum.

Sam resolveu atende-la em atenção a Bobby, embora estivesse de sobreaviso. Por outro lado, gostaria de ver mais fotos de Victoria com sua família. Ela só tinha as três fotos que sempre levava no retrovisor e das quais ele nunca mais fez perguntas depois de vê-las: uma foto com os pais e o irmão, outra com Luke e os pais dele e mais uma dela com o rapaz, já como namorados.

Sentou-se na beirada da cama, abriu a pequena caixa e tirou o álbum da mesma textura que a do embrulho. Ao ver a primeira foto, Sam estranhou. Conhecia o rosto da bela mulher, mas não entendia porque aquela foto deveria estar logo ali. Era a foto da mãe de Luke. Possuía os cabelos loiros e longos e os olhos azuis. Karen comentou:

– Essa é Samantha.

– Como? – a expressão dele foi de espanto.

– Samantha Singer, quer dizer... Collins, a irmã de Bobby. Victoria não tem nenhuma foto dela?

– Só... uma. Mas... eu não me lembrava – despistou Sam completamente confuso.

– Ela não era linda? Eu a amava como uma irmã mais nova – suspirou – Bobby a adorava como uma filha! Ainda bem que não me lembro da morte dela.

– Como ela morreu? – Sam indagou apenas para disfarçar sua confusão. Sabia que Bobby devia ter inventado algo a respeito.

– Num incêndio. Ela, Jack e o filho deles. Victoria não te contou?

– Ela não gosta de tocar no assunto. – ele disse sombrio

– Ah, certo. Aqui – ela virou a próxima página e mostrou as fotos seguintes, cinco numa página e três em outra. Apontou uma com Samantha, o marido e o filho mais crescido – Esse é Jack e este é...

– Luke – completou Sam. Precisou tragar ar para falar. Tudo estava meio embaralhado na mente dele, mas algo começava a fazer sentido. – O... irmão dela. – sua voz tremeu um pouco pela mentira que empregou.

– Sim. Você sabe, não tem fotos dela aqui porque ela só foi adotada quando tinha dez anos depois que os pais dela morreram. – explicou Karen imaginando que Sam soubesse de tudo aquilo.

– Claro – ele confirmou como se soubesse daquela informação.

Sam viu mais fotos dos "pais de Vic",depois, guardou o álbum na caixa com a promessa de entregar o presente a Victoria. Voltou para sala junto com Karen. Ele e Dean se despediram dela e de Bobby e foram embora.

Em todo o tempo, Sam procurou disfarçar sua perturbação diante de Dean pela descoberta que havia feito. As informações pululavam na sua cabeça, fervilhando.

Victoria foi adotada pelos Collins. Ela não era sobrinha de Bobby, não de sangue. Luke, seu antigo amor, que era filho de Jack e Samantha e sobrinho de Bobby.

Ela havia mentido para ele sobre isso. Havia mostrado aquela foto de um homem loiro com uma mulher negra e um menino negro como se eles fossem os Collins. Mas por quê?

Certamente, era sua verdadeira família: seus pais e o irmão dela que se chamava Thomas. Mas não eram os Collins. Então quem seriam?

– 0-

Para a infelicidade de Victoria, ela teria que ficar mais dois dias em São Francisco.

Eram nove horas da manhã. Ela estava hospedada numa luxuosa suíte do hotel mais caro da cidade. Andava inquieta de um lado para o outro. Nem quis tomar o café da manhã.

Estava irada com aqueles malditos empresários burocratas que exigiram sua permanência para mais um dia. Quanta audácia! Como eles se atreviam? Tinha vontade de manda-los todos para o inferno, mas resolveu atende-los. Matt precisava ficar na presidência da Blackwell Blue Global. E ela precisava garantir isso não só por ele como pelo futuro de milhares de pessoas.

Havia tentado ligar na noite anterior para Sam, mas por algum motivo ele não atendeu. Estava preocupada. Será que havia acontecido alguma coisa? Será que o caso em Sioux Falls era mais perigoso do que esperavam?

Estava com um aperto no coração. Não sabia exatamente o quê, mas pressentia que algo de ruim se aproximava para ameaçar tanto a ela como Sam. Por diversas vezes, sentiu um calafrio.

Assim que amanheceu o dia, voltou a ligar para Sam, mas, dessa vez, as ligações caiam na caixa postal. Era esse o motivo de sua aflição.

Estava decidida: se não conseguisse falar com Sam até meio-dia, voltaria para onde ele estava. E que se danasse a multinacional e todos os seus burocratas!

Matt que a perdoasse por aquilo. E William Blackwell também.

– 0 –

Sam viu na caixa de mensagens de seu celular várias ligações perdidas de Victoria. As primeiras, não pôde retornar por ter sido preso. Quanto às demais, não se animava nem um pouco a responder. Não depois de ter descoberto as mentiras que Victoria lhe escondeu por tanto tempo.

Apenas para desencargo de consciência, enviou uma mensagem com os dizeres: "Não se preocupe, está tudo bem. Só estou muito ocupado com as investigações. Depois, te ligo."

Suspirou. Não podida confrontar Victoria por telefone. Teriam que conversar pessoalmente.

Mais cedo, assim que ele e Dean saíram da casa de Bobby, decidiram investigar mais a fundo a história dos zumbis e confirmar se eram mesmo inofensivos. Dean ficaria nas proximidades da casa de Bobby para vigiar Karen enquanto ele verificaria os demais mortos-vivos.

Sam ia passar na casa de uma tal Sra. Jones – a primeira morta a ressuscitar –, mas antes não resistiu ao impulso de passar numa Lan House na rua da casa da referida senhora.

Ele tinha que checar uma determinada informação que há tempos passava por sua mente desde sua primeira briga com Vic por causa de Meg. Ele havia desistido de investigar a namorada para voltarem às boas. No entanto, não podia ignorar mais nenhuma mentira.

Depois de pagar pelo uso de meia hora a um jovem da recepção que controlava o sistema das máquinas, ele se sentou num computador a um canto do estabelecimento. Na página inicial do Google, ele digitou "Verônica Torres". Suspirou. Sabia que ao clicar o comando da pesquisa, não poderia voltar atrás.

Deu o comado e inúmeros links se apresentaram. De primeira, apareceram várias fotos antes de ele acessar alguma página. Prendeu o fôlego. Clicou numa imagem e viu uma foto ampliada da mulher.

A não ser pela cor dos olhos que eram negros e o cabelo bem crespo, era quase como ver uma irmã gêmea de Victoria.

A mesma mulher na foto do painel que sua namorada levava no carro. A foto com os verdadeiros pais de Collins e seu irmão. Verônica era a mãe de Vic.

Após contemplar um bom tempo a foto de Verônica, Sam clicou em outra página e leu todas as informações sobre ela. Uma, em especial, a mais importante que lhe chamou a atenção. Outro nome.

Sam passou as mãos pela cabeça. Estava perplexo.

Ele voltou à máquina e pesquisou mais páginas para aprofundar em sua descoberta. Quando percebeu, já haviam se esgotado seus créditos de uso. Porém, tudo o que leu era suficiente. Resolveu apenas pagar por mais quinze minutos a fim de imprimir aquelas informações e jogá-las na cara de Victoria sem lhe dar chance de negar ou inventar alguma outra mentira.

Agora tudo fazia sentido. Ou pelo menos em parte.

A outra parte Vic teria muito que lhe esclarecer. O porquê de tudo. Das mentiras. Dos segredos.

– 0 –

Victoria havia acabado de chegar de São Francisco. Estava furiosa com Bobby e também com Sam, especialmente com este. Mas com ele, ela se entenderia depois.

No dia anterior, como só havia recebido a mensagem que Sam lhe enviou (seca e fria, em sua opinião) e ele não se dignasse a telefonar, ela resolveu contatar Dean. Este despistou dizendo que o caso não era nada grave, pois havia combinado com Sam de só revelar a ela sobre aquela investigação depois que terminasse por causa do pedido de Bobby e porque não queriam que ela interrompesse repentinamente o suposto caso em que estava envolvida.

Foi só quando tudo terminou que Dean telefonou para Victoria a pedido de Sam. Ele se mostrou surpreso pelo irmão não querer falar com ela, mas fez a ligação. Vic também estranhou o fato de ser Dean a lhe telefonar para dar notícias, mas prestou atenção no que o caçador lhe disse.

Em pormenores, ele contou sobre os zumbis e que estes se transformaram em verdadeiros canibais a começar pela tal Sra. Jones que havia matado o marido, devorado seu estômago e quase atacado Sam que foi vê-la.

Relatou também sobre Karen e que tentaram fazer Bobby concordar em matá-la depois de descobrirem a verdadeira natureza dos zumbis. Este se recusou em atirar na mulher e até os expulsou da casa, ameaçando-os com um revólver. Depois, ele concordou em fazer o que era preciso a sós com a esposa, a pedido dela mesma.

E, no fim, eles quase foram massacrados pela orla de zumbis. Felizmente, os caçadores contaram com a ajuda da xerife Mills para matar todos os mortos-vivos. Àquela altura, Jody havia constatado da pior maneira possível o quanto os mortos eram um perigo: seu filhinho ressuscitado matou o próprio pai, marido dela. E o pequeno teve que ser morto por Sam.

Collins quase teve uma síncope por tudo o que ouviu e ficou furiosa por ser a última a saber. Resolveu não insistir em falar com Sam, iria exigir pessoalmente uma explicação pela atitude dele, por sua indiferença. Estava magoada. Não entendia porque ele a estava ignorando. De novo. E depois de prometer que não faria isso há menos de uma semana.

Despediu-se de Matt assim que tomou as últimas providências com ele e pegou o primeiro voo para Sioux Falls. Chegou à casa de Bobby; os rapazes não se encontravam mais lá. Aguardavam-na no motel em que se hospedaram.

A expressão de Bobby era de uma desolação que fez a zanga de Victoria diminuir. Ele deu passagem para ela entrar sem esperar qualquer manifestação de cumprimento.

– Se veio aqui me reprovar por ter escondido sobre a Karen e me exposto a um grande perigo, pode dar meia-volta que não estou pra isso – anunciou ele curto e grosso.

– Tio, onde você estava com a cabeça? – esbravejou Victoria sem se ater ao comentário mordaz.

– Eu não estava com a cabeça. Estava com o coração – admitiu sem se importar em demonstrar sentimentalismo – E ele está...mal.

Na mesma hora, o vestígio de raiva de Collins e quaisquer admoestações que pretendia proferir se esfumaçaram. Ela se aproximou de Bobby, abaixou-se e abraçou-o. Singer não correspondeu, mas se deixou envolver pelo gesto com a dor estampada no rosto.

– Tio... Sinto muito... De verdade – após um tempo, ela desfez o abraço, levantou-se e fitou-o – Sinto mesmo. Posso imaginar como você está se sentindo.

– Sabe o que é engraçado? Eu não sei se tento me consolar por ao menos ter convivido com ela mais um pouco ou se me arrependo por isso... De não ter feito o que os rapazes me disseram pra fazer desde o começo – suspirou – Do que adiantou minha teimosia se no fim eu tive que mata-la de novo e cremar seu corpo? Se tive que sentir toda essa dor mais uma vez?

– Você a amava. Acho... que não tenho o direito de te reprovar. Talvez no seu lugar eu faria o mesmo.

– Amava não. Amo. Ela está morta... mas eu não consigo aceitar. Acho que nunca consegui. Por isso, foi tão difícil agir com a cabeça.

– Não vou ser hipócrita de falar que se eu estivesse aqui, não iria ter o impulso de também querer mata-la. Mas... eu queria tê-la visto, queria ao menos saber como a tia era. Você fala tão pouco sobre ela.

– Ela é... era maravilhosa. E mesmo como zumbi ainda tinha as mesmas qualidades que me fizeram amá-la. – ele esboçou um sorriso triste – Ela foi até capaz de fingir que não se lembrava que foi possuída e de que eu a matei . Só me falou disso no fim pra me convencer a mata-la de novo. Fingiu até que acreditava na minha história fajuta de acidente que inventei pra preencher algumas lacunas.

– Então ela te amava de verdade mesmo depois de tudo. – ele abaixou a cabeça sem responder. Houve uma longa pausa entre eles – Bobby, é verdade o que Dean me disse?

– O que ele te disse?

– Que foi o Cavaleiro Morte que veio aqui ressuscitar os mortos só pra tia Karen te enviar uma mensagem?

– Sim. Uma mensagem pra que eu fique fora do caminho do Diabo ou serei atingido. – suspirou – Mandar a Karen de volta pra depois me tirá-la foi uma maneira bem certeira de me atingir.

– Filho da mãe. – sussurrou Victoria com revolta.

– Isso me fez pensar... Tive um erro de julgamento com você assim como tive com a Karen.

– Como assim? – Vic fez expressão desentendida.

– Achei que se juntasse você com os garotos, você seria de grande ajuda... mas a razão principal era te proteger dos perigos do Apocalipse se você estivesse c om eles.

– Isso eu sei – bufou Collins – Você com essa mania de proteção.

– Foi um erro levado pela emoção. Por te juntar a esses dois e... mais ainda por você estar com o Sam, eu praticamente te coloquei como alvo do Diabo e de qualquer um de seus comparsas.

– Tio...

– Se afaste deles, Vic, eu te peço. Você mais do que eu é uma das razões pelas quais o Sam não disse ainda sim para o Diabo. E ele vai fazer uso disso. Desde o momento em que soube do envolvimento de vocês, eu percebi o tamanho do meu erro. Era algo... que eu devia ter previsto.

– Bobby, não – ela balançou a cabeça

– Eu estou te pedindo. Se afaste dele e também de Dean. Não vou suportar se você também acabar morta no meio dessa guerra... e por minha culpa ainda por cima.

Ela se levantou e afastou-se para não brigar com ele.

– Por favor, Vic. Já carrego o sangue de Karen nas minhas mãos, o de Samantha de certa forma por não ter sido mais firme em afastá-la de Jack e dessa vida de caçadas... Não quero carregar o seu sangue também.

– E não vai carregar. Esta é uma decisão minha e assumo as consequências.

– Vic...

– Não insista, Bobby. Eu já me envolvi demais pra me afastar agora. E não falo só por causa do meu relacionamento com Sam, é com tudo.

Bobby abaixou a cabeça e calou-se. Era inútil. Assim como ele, Victoria era teimosa por natureza. E seu amor por Sam a cegava para o perigo. Assim como ele por Karen.

– 0 –

– Oi – disse Sam ao abrir a porta do quarto de motel em que estava.

– Oi? Eu te liguei várias vezes desde anteontem, você não me retorna, esconde o fato de que meu tio estava ao lado do perigo, não me liga pra me contar, seu irmão que me liga pra me explicar o que aconteceu e tudo o que você me diz é "Oi?" – esbravejou Victoria do corredor num tom alto sem se importar se alguém passasse e ouvisse.

– É melhor você entrar – ele disse num tom frio. Sua expressão era sombria.

– Qual o problema, Sam? – ela entrou e virou-se para ele – Por que você fez isso comigo? Por que ignorou meus telefonemas?

Como ele nada respondesse, ela prosseguiu:

– Vai agir de novo comigo assim? Da mesma maneira que você agiu depois que se livrou do sangue demoníaco?

Sam continuava calado. Havia algo em seu olhar que fez Victoria se inquietar, porém, ela continuava a discutir.

– Sam, o que foi? Me diga! Esse seu silêncio está me matando! Você prometeu que nunca mais agiria assim comigo! Me prometeu que seria sincero.

Dessa vez, ele soltou um riso de escárnio.

– É, eu prometi e tenho procurado agir assim. Eu que tenho agido com sinceridade nessa relação. – disse irônico.

– O que quer dizer? – Vic abaixou o tom. Algo na fala de seu namorado a gelou por dentro.

Será que ele havia descoberto a mentira sobre sua partida?

Sam não retrucou. Ao invés disso, foi até a cômoda. Em cima, estava o álbum que Karen havia pedido que entregasse para Victoria. Pegou-o e estendeu-o para a namorada. Estava fora da caixa que o guardava.

– Sua tia Karen antes de toda aquela confusão, pediu que eu te entregasse. Ela mesma o fez.

– O que é isso? – Vic pegou o álbum com uma estranha sensação.

– Um álbum com fotos de sua família. Os Collins – ela arregalou os olhos ao compreender – Os verdadeiros Collins. Pais de Luke.

Um silêncio tenso pairou entre eles. Durante alguns instantes, nenhum deles falou nada. Vic se questionava sobre o quê e o quanto ele poderia ter descoberto sobre ela. Por fim, ela abriu a boca para tentar se justificar:

– Sam, olha... eu posso explicar...

– Explicar o quê? Que nesse tempo todo que estamos juntos, você ainda não confia em mim e me esconde coisas? Por que não me contou quem você era, Victoria? Ou você prefere que eu te chame de... Sara Blackwell?


Notas Finais


Bom, enfim, o mistério começa a se clarear em parte. E aí? Alguém imaginava que fosse esse o segredo que a Vic escondia? No próximo capítulo, haverá mais esclarecimentos. Ela vai contar sua história para Sam (vou procurar resumir tudo num capítulo)

Ah, gente, só pra adiantar, a fic vai entrar numa fase mais sombria e mais dramática também, principalmente pra esses dois. Eles vão passar por muitas provações. Não gosto de nada muito dramalhão, mas estou vendo que seguirá por esse caminho na metade dessa temporada. Por isso, aguenta coração!

Até a próxima.


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