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História Almas Trigêmeas - A Estranha Perfeita


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Finalmente, a Vic conta a história dela. Procurei colocar a parte em que ela se alongava na narração entre aspas e não fiz tantas correções em relação à estrutura de frases porque queria deixar o mais natural possível, próximo de alguém que conta alguma coisa. Estou dizendo isso para quem (como eu) é muito criterioso em relação às normas de sintaxe, enfim.

O final do capítulo vai deixá-las mais confusas. Só no próximo, que será permeado de emoções, que vcs vão compreender. Mas se preferirem, deem uma retomada lá no trailler, que tem um trecho que expõe parte do próximo capitulo (ou próximos, caso eu não conseguir concluir tudo num só).

Boa leitura!

Capítulo 38 - A Estranha Perfeita


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - A Estranha Perfeita

Anteriormente:

– A Indomável já é minha marca registrada e com ela tem funcionado muito bem. Acredite em mim, tio, sei o que estou fazendo.

– Tudo bem – Bobby suspirou. Não adiantava discutir com a sobrinha, por isso, mudou o assunto – Você pretende incluí-los também no programa?

(...)

Era Matt no telefone, o informante de Collins. Graças a ele, Vic recuperou seu celular – que havia esquecido num motel ao saber do acidente de Bobby. O aparelho havia sido enviado pelo correio quando ela estava na casa do tio e continha todos os seus contatos importantes.

– Está tudo providenciado? - sussurrava ela ficando o mais distante que podia de seus companheiros – Isso. Você levantou as fichas direitinho. Ótimo! Você pode falar com... o Bobby – abaixou mais ainda o tom de voz ao sussurrar o nome do tio – Não... agora não dá, tem que ser você. Estou com eles aqui. Ele lhe dirá em quais nomes. Sim, obrigada. Como sempre você fez um ótimo trabalho. Tchau. – sorriu

Desligou o aparelho e voltou sua atenção para os Winchesters. Ambos lhe dirigiam olhares inquisidores como se quisessem saber com quem estava falando e o teor do assunto. Ela, porém, despistou:

– O que estávamos falando mesmo?

(...)

– O nome... não sei. Apenas sei que é um ex-caçador bilionário que financia outros caçadores que não tem muitas condições de se sustentarem e utilizam cartões de crédito roubados. É uma forma de evitar que acabem sendo descobertos pelo FBI como foi o caso de vocês um tempo atrás.

– É porque só agora ele resolveu nos financiar? Por que não fez isso antes?

– É que esse programa é secreto, só funciona para quem tiver no mínimo cinco anos na praça, ser casado e ter indicação de outro caçador mais experiente. No caso de vocês, pedi para que se abrisse uma exceção, tive que explicar sobre a questão do fim do mundo e o quanto vocês estão implicados nisso. Não se preocupem que o homem é discreto, não vai divulgar essa informação.

– Mas, Bobby... Você não disse que não sabe quem é esse bilionário?

– Er... Eu não sei quem ele é, mas sei da pessoa que mantém contato com ele. É isso. Chega de perguntas! O que vocês precisam saber é que vão ter uma conta para cada um com uma quantia fixa todo mês. Foi aberta no nome de vocês, mas com o meu sobrenome porque... como se lembram, para todos os efeitos Sam e Dean Winchester estão mortos, mas não Sam Singer e Dean Singer. E como a Victoria não teve problemas com os federais, coloquei no nome dela mesmo. Mesmo que forem usar identidades falsas, usem cheques nesses nomes ou dinheiro. Nada mais de cartões.

(...)

– Senhorita Collins! Me desculpe, eu... não a tinha percebido. – voltou a falar no celular – Depois eu ligo pra você – desligou o aparelho, ignorou Sam e aproximou-se de Victoria apertando sua mão. – A senhorita chegou agora?

– Er, bem... É. Como vai, Taylor? – ela não teve remédio a não ser cumprimentar o moço. Sam observava a cena intrigado.

– Veio para conferir a contabilidade da empresa?

– Não, eu... estou apenas a passeio com meu... meu namorado... Sam Winchester – ela teve que apresentar os dois – Este é... Robert Taylor.

– Robert Taylor? – indagou Sam ao apertar a mão do outro.

– Sim, diretor-superintendente da filial da Blackwell Blue Global aqui em Chicago. – retrucou com ar altivo e sorriso orgulhoso.

(...)

– Você... é a cara da modelo Verônica Torres! – ela respondeu à Victoria ignorando o moço

– Verônica Torres?

– Nossa! Foi uma modelo brasileira que fez bastante sucesso aqui antes mesmo dessa quem falam agora... a Gisele Bündchen. E também de uma antes... uma tal de Shirley... Shirley Mallman.

– É mesmo? – Sam se mostrou bastante interessado. Vic, por sua vez nada dizia. Parecia tensa.

– Sim, foi mais no fim dos anos setenta e comecinho dos oitenta. Você se lembra, querido? – ela se virou para o esposo.

– Agora que você falou, acho que... sim.

– É, querido, se lembra que ela ficou conhecida porque se casou com...

– Não, não me pareço nem um pouco com ela – cortou Victoria com rispidez.

– Claro que parece. – insistia a mulher – Vocês até poderiam ser...

– Desculpe, estamos com pressa – Vic tornou a cortá-la. Ela se voltou para o namorado – Pague o moço de uma vez, Sam, nós temos que ir.

– Tá... claro – ele a olhava com estranheza

(...)

– Uma coisa tinha me deixado intrigada, mas não dei muita importância na época. Só que quando possuí a namorada dele, percebi que os padrões de suas mentes são iguais. O Sam também possui o mesmo tamanho do bloqueio dela.

O diabo não pareceu impressionado, era como se já soubesse. Apenas disse:

– Ótimo. Fico feliz por mais essa informação. Agora, Meg, tenho mais uma missão pra você. Você a fará?

– Claro, Pai, é só me pedir.

– Essa não vai ser tão fácil e divertida.

(...)

– E tem esse tal de Matt também. Quem é esse cara?

– Eu já disse que ele é só um amigo. Um... contato.

– É claro que não é! Tenho certeza de que ele é seu amante! Ou pelo menos foi!

(...)

– O que é isso? – Vic pegou o álbum com uma estranha sensação.

– Um álbum com fotos de sua família. Os Collins – ela arregalou os olhos ao compreender – Os verdadeiros Collins. Pais de Luke.

Um silêncio tenso pairou entre eles. Durante alguns instantes, nenhum deles falou nada. Vic se questionava sobre o quê e o quanto ele poderia ter descoberto sobre ela. Por fim, ela abriu a boca para tentar se justificar:

– Sam, olha... eu posso explicar...

– Explicar o quê? Que nesse tempo todo que estamos juntos, você ainda não confia em mim e me esconde coisas? Por que não me contou quem você era, Victoria? Ou você prefere que eu te chame de... Sara Blackwell?

Capítulo 37

A Estranha Perfeita

Sara Blackwell.

Há muito tempo que não ouvia aquele nome. Há muito tempo que não a chamavam assim. Nem mesmo Bobby ou Matt que eram os únicos sabedores de seu segredo voltaram a chamá-la daquela forma. Se bem que só estreitou mesmo laços com o primeiro depois que os Collins morreram e ela foi morar com ele. Quanto ao segundo, só o viu duas vezes quando criança foi visitar a empresa de seu pai e depois quando adulta já com o nome mudado.

Agora voltava a ouvir seu nome ser pronunciado pela voz de Sam. E num tom misto de sarcasmo, desprezo e mágoa. Ouvir seu antigo nome ser dito, especialmente de forma nada generosa por seu amado lhe provocava desconforto.

– E então? Não tem nada a dizer... Sara? – insistiu Sam carregando de ironia o nome dela.

– Não me chame assim – pediu Vic com certo tom magoado.

– Por quê? Não é o seu verdadeiro nome? Sara Blackwell, filha da top model brasileira Verônica Torres e do multimilionário norte-americano William Blackwell, o fundador da grande multinacional Blackwell Blue Global? – ele continuou com tom mais sarcástico e amargo

– Você... pesquisou sobre mim? – um nó se formou em sua garganta

– Depois de descobrir uma mentira sua, seria natural eu querer saber sobre quais segredos você escondia de mim – apontou a cômoda – Estão ali várias páginas que imprimi, um dossiê completo sobre você, sua família e a empresa, caso você resolva negar.

– Eu... não vou negar.

– Ah, e tem o tal Matt, seu contato. É o mesmo cara que é o atual presidente da empresa, não é? Ou é algo mais?

– Não, isso eu nunca menti pra você – Vic o fitou diretamente nos olhos com coragem – Matt nunca representou nada para mim, a não ser um relacionamento profissional. Nunca tive nada com ele.

– Então ele é só um testa de ferro. Você que é a verdadeira dona de toda a companhia, não é?

– Sim, Sam, eu não nego, mas...

– Meu Deus! Como eu pude ser tão cego? Estava na minha frente o tempo todo, várias evidências eu não me dei conta – ele esboçou um sorriso amargo – E logo eu que o Dean costuma chamar de "o nerd da família".

– Sam, por favor – Vic se aproximou dele tentando fazê-la ouvir, mas ele se afastou.

– As roupas de grife, os sapatos caros, os cosméticos de marca... até seu perfume. Tudo em você mostrava que você se vestia muito bem para uma caçadora, mesmo que... fosse uma simples calça ou bota – ele balançava a cabeça incapaz de aceitar a dura realidade. Victoria o olhava com consternação, sentindo um nó na garganta – E as contas que foram abertas em meu nome e no Dean? O tal bilionário misterioso era você o tempo todo, não é?

Ela assentiu, mordendo os lábios com nervosismo.

– Deus, esse tempo todo eu estava sendo sustentado por minha namorada... como se eu fosse... um gigolô.

– Sam, não pense assim – protestou ela – Esse benefício que você recebeu foi muito antes de você eu namorarmos... Eu nem imaginava me envolver com você. E depois outros caçadores que têm família também o recebem.

– Dispenso – disse ele – Eu não tenho mais família... a não ser Dean. E nós conseguimos muito bem nos virarmos sem o seu dinheiro.

– Sam... não faz assim... – ela suspirou cansada. Passou a mão na testa – Me desculpe. O que você quer que eu diga?

Ela tentou se aproximar dele mais uma vez erguendo as mãos para pegá-lo no rosto, mas ele segurou seus braços. Fechou os olhos para controlar a irritação e, ao mesmo tempo, a vontade de sentir o toque dela com receio de não conseguir confrontá-la. Por mais que não desejasse brigar com Victoria, não podia deixar as coisas como estavam.

– A única coisa que eu quero que você faça é que me conte a verdade – ele disse num tom mais calmo, porém, firme – E que me explique porque você me escondeu tudo isso todo esse tempo. Por que mentiu pra mim?

Victoria o fitou. Havia determinação no olhar de Sam. Ele não ia se deixar envolver pelas desculpas ou artimanhas dela.

– Está bem – suspirou derrotada e afastou-se. Deu-lhe as costas por breves instantes e depois, virou-se. – É melhor se sentar. A minha história é longa

Sam obedeceu se acomodando na beira da cama enquanto Victoria se sentava numa cadeira. Os dois ficaram frente a frente. O rosto do Winchester estava com expressão zangada e atenta, suas mãos se entrelaçaram e sua postura era rígida. Vic queria tanto acariciar aquele rosto perfeito cujos traços não se cansava de admirar, e beijar a boca daquele homem que abalava todo seu ser. Entretanto, dispersou tais pensamentos e concentrou-se em suas lembranças.

"Meu pai, William Blackwell tinha uns vinte anos quando decidiu construir um império financeiro. É claro que ele nunca imaginava chegar tão longe, mas se tornou um verdadeiro magnata, um Bill Gates de seu tempo. Depois que conseguiu, conheceu minha mãe numa viagem de negócios no Brasil, num desfile em São Paulo. Eles se apaixonaram logo de cara, se casaram, minha mãe se mudou pra cá. Durante um bom tempo graças em parte ao nome de meu pai, ela fez sucesso como modelo internacional.

Meu pai tinha uns quarenta anos e mamãe uns dezoito quando se casaram. Mas mesmo com a diferença de idade, eles se davam muito bem, talvez pelo fato de ambos serem de famílias de caçadores. Isso sobre eles serem caçadores, eu só fui descobrir mais tarde... vou chegar lá.

Depois de alguns anos, mamãe resolveu abandonar a carreira e teve seus filhos: meu irmão Thomas e eu. Nasci em berço de ouro, como costumam dizer. Sempre tive tudo do bom e do melhor, assim como meu irmão. Meus pais faziam todas as minhas vontades. Eu era uma criança mimada e meio egoísta que não me importava com muita coisa, a não ser em fazer e ter tudo o que me dava vontade. Se eu não conseguia, batia o pé até ser atendida. Sempre me considerei como se fosse uma princesa.

Eu sabia que meu pai, William Blackwell era um homem muito importante. Só pelo fato de eu ser filha dele, de usar seu sobrenome, era muito bajulada na escola pelos meus colegas. Acho que por isso nunca cheguei a sofrer racismo pela minha cor ou o chamado buyling, apesar de eu ser um dos poucos alunos negros, além do meu irmão, que frequentavam uma importante escola de elite cuja maioria era só de brancos. Talvez os pais desses meus colegas dissessem pra que eles fossem meus amigos. Claro, alguns deles faziam negócios com meu pai.

Apesar dessas amizades, eu não mantinha uma relação íntima com ninguém, apenas era educada e uma menina bem-comportada. Mas só. Talvez no fundo eu soubesse que meus colegas eram todos uns interesseiros. Mas tinha um amigo de verdade que frequentava minha casa e que apesar do meu jeito arrogante e mimado, se importava muito comigo. Era Luke, o único filho do Jack Collins e da Samantha.

Jack era um dos empregados de confiança de meu pai e trabalhava no ramo imobiliário da empresa e foi um grande amigo do meu pai na infância e na juventude. Eles foram companheiros de várias caçadas, na verdade. E assim como meu pai, depois que se casou, Jack tentou largar essa vida e meu pai lhe ofereceu uma oportunidade de trabalho.

Jack e a família dele passaram a frequentar minha casa desde que eu tinha quatro anos. No começo, eu não dava a mínima para o Luke. Achava ele um menino irritante. Só nos aproximamos mesmo quando eu completei sete anos e foi porque ele era bem insistente e fascinado por mim. Mas também sabia como me colocar no meu lugar, ele era o único que queria uma amizade desinteressada comigo. Então... crescemos praticamente juntos.

Essa era a minha vida. Acreditando que vivia num mundo cor-de-rosa, um conto de fadas, sem desconfiar dos monstros e demônios que existiam. Até aquele dia."

Vic fez uma pausa em sua narrativa como se fosse para conseguir forças para continuar.

– Que dia? – indagou Sam bem atento. Em seguida, lembrou-se de uma informação que leu em sua pesquisa. Por uns momentos demonstrou certo pesar em seu rosto – Você fala da explosão que matou sua família? Foram terroristas, não é?

– Foi os que os jornais disseram. Mas nunca foi uma explosão causada por terroristas– declarou sem rodeios

– Então o que foi? – perguntou confuso

"Eu não sei exatamente o que aconteceu. Estava com eles em casa. Estávamos na sala. Eu... acho que estava jogando vídeo game com meu irmão, o jogo do Mario Bros. Foi quando sem mais nem menos ouvi um barulho muito estranho e logo depois uma explosão. Parecia... uma luz branca. Depois, tudo o que me lembro foi de acordar num quarto de hospital com a Samantha velando meu sono.

Foi ela quem me contou com muito tato sobre a morte da minha família. Foi o primeiro golpe que tive na vida. Me senti num... um pesadelo.

E de fato se tornou o meu pesadelo de quase todas as noites."

– Entendo. – Sam se recordava. Às vezes, ele consolava Vic quando ela acordava no meio da noite aos berros – Você sonha com a morte da sua família.

– Sim, com cada detalhe da última vez em que estivemos juntos... naquela sala. Mas antes era pior, era mais frequente... antes de eu começar a dormir com você.

Ela olhou com ternura para Sam, mas este desviou os olhos.

– Certo – disse ele – Continue.

"Como eu disse, o que aconteceu comigo e com minha família foi noticiado como um ataque terrorista devido ao grau de importância do meu pai para a economia norte-americana. Ele comercializava com pessoas de vários países. Não foi difícil com a ajuda do Matt, passar esse boato e muito menos uma notícia falsa à imprensa de que eu não resisti aos ferimentos e acabei morta. Eles me tiraram do hospital. Não sei como fizeram... e nem perguntei na época, confusa e traumatizada com tudo.

Depois, Jack e Samantha me disseram que me adotariam como filha deles, mas que eu teria que mudar de nome pra minha própria segurança. Para todos os efeitos, Sara Blackwell estava morta para o mundo assim como toda sua família. A partir daquele dia, eu passaria a me chamar Victoria Collins. Eles também conseguiram com a ajuda do Matt, fazer meus papéis de adoção sem grandes complicações e burocracia.

Além dos Collins, Matt era pessoa em que meu pai mais confiava. E também, um ex-caçador que resolveu se dedicar à empresa."

– Mas é só isso que ele representa pra mim – reforçou Vic

Sam assentiu. Sobre isso, já estava convencido.

"Então... com minha nova família nos mudamos para o Brasil. Eu não entendia porque tínhamos que ir pra lá, mas Jack garantiu que era pelo meu próprio bem. Quanto mais distante de tudo aquilo, melhor. Nos instalamos numa cidade pequena, no interior do estado da Bahia. No começo, pra mim foi um pouco estranho me acostumar com tudo aquilo. Vivíamos em boas condições, numa casa até grande, de praia, mas longe do luxo a que eu estava acostumada, num país diferente, um clima muito quente, uma cultura distante a qual eu não conhecia, embora fossem as origens de minha mãe biológica. Eu acordava todas as noites tendo pesadelos com a morte dos meus pais. Jack, Samantha e Luke foram muito pacientes e amorosos comigo. Isso foi fundamental pra mim. Sem eles, eu não sei o que seria de mim.

Mas mesmo com o que aconteceu com minha família, eu ignorava por completo o mundo de monstros e demônios que me rodeava. Apesar de temer o Diabo e essas coisas, não achava que fossem algo tão concreto na vida da gente e já tinha idade para acreditar que monstros não existiam. E notava que meus novos pais às vezes, saíam à noite e que, algumas vezes ficavam fora de casa por vários dias. Eu perguntava o motivo a Luke e ele dizia que não sabia, mas eu suspeitava que mentia pra mim. Eu o conhecia suficiente pra saber quando mentia pra mim. Mas não adiantava insistir, ele parecia disposto a não me contar mesmo se eu ficasse chateada com ele.

Até que, um dia, um ano depois dessa reviravolta, quando eu tinha onze anos, eu conheci a verdadeira realidade do mundo ao meu redor. Não tínhamos muito contato com a vizinhança, mas soubemos que algumas crianças ou pré-adolescentes estavam sumindo misteriosamente das redondezas. Cada noite, sumia uma ou mais crianças de cada casa em que havia alguma. Fiquei preocupada com aquilo e disse aos meus pais, mas eles garantiram que não era nada. Acabei acreditando neles, mas... numa noite em que estava sozinha com o Luke, ouvi um barulho na parte debaixo da casa. Saí do meu quarto pra ver o que era... Luke já estava no corredor do andar de cima e... carregava uma espingarda. Eu fiquei muito assustada. Eu sabia que havia aquela arma em casa, já tinha visto até o Jack carrega-la, mas ver Luke a portando foi um choque pra mim. Armas me davam nos nervos!

Luke me mandou voltar para o quarto que ele ia ver o que estava acontecendo, só que eu me recusei. Fui teimosa mesmo! Aí ele viu que não ia ter jeito e me disse que eu poderia ir, se ficasse atrás dele. Nós descemos juntos as escadas e fomos em direção à cozinha de onde vinha o barulho. Era uma mistura de ruídos de panelas, murmúrios e lamentações incompreensíveis. Quando entramos, eu vi aquela coisa pavorosa: uma mulher toda de branco chorando encolhida num canto enquanto batia uma panela no chão.

Aquilo foi demais pra mim! Eu gritei e... nisso, ela nos viu e avançou na gente. Luke atirou sal nela e a fez desaparecer. Ele me mandou que fosse pra cozinha que ia nos proteger, mas eu estava paralisada de medo. Ele praticamente teve que me puxar à força para que eu lhe obedecesse e me fez sentar em cima da mesa.

Ele me deu a arma pra segurar e me disse que atirasse se a coisa aparecesse. Eu estava tão assustada que só balancei a cabeça e peguei na espingarda tremendo. Ele começou a fazer um círculo em torno da mesa com o sal, mas não chegou a terminar porque a assombração apareceu, o pegou pelo pé e sumiu com ele antes que eu tivesse chance de atirar.

Eu gritei feito uma louca por ele e mesmo com medo sair de onde estava, desci pra procura-lo pela casa. A coisa então voltou a surgir pra me pegar, eu tentei atirar nela, mas não acertei e quando ela ia me agarrar, Jack e Samantha apareceram e atiraram na assombração.

Depois de me acalmarem, me disseram pra ir com eles. Iam procurar por Luke e as outras crianças, mas sem me deixar sozinha. No meio do caminho, Samantha e eu nos separamos do Jack, ele ia achar o lugar onde poderia estar o Luke enquanto nós duas fomos ao cemitério queimar os ossos da assombração.

Bom, encurtando a história, destruímos o espírito que era a alma de uma mulher que assassinou os próprios filhos pra se vingar do marido traidor e raptava as crianças de sete a doze anos para reviver a dor como uma punição a si própria. Algum desavisado havia mexido em sua sepultura e liberado o espírito dela. Salvamos todas as crianças que ela raptava, incluindo Luke. Aí os Collins tiveram que me contar a verdade sobre o que eram e o que faziam. Foi um choque pra mim, mas acabei aceitando a realidade das coisas. Só fiquei um pouco chateada com Luke por não ter me contado sobre isso, já que a gente não escondia nada um do outro.

E um ano depois, pra que tanto eu como Luke soubéssemos nos proteger de coisas assim, começou nosso treinamento como caçadores. Samantha relutou bastante sobre isso, mas Jack acabou a convencendo. Ela queria nos negar algo que ela mesma se propôs a aprender com Jack para nos proteger. Com nossa mudança para o Brasil, Jack não teve escolha a não ser voltar a caçar, aquela região parecia um chamariz para coisas sobrenaturais.

No início, Luke e eu mais observávamos as caçadas do que tomar qualquer parte nelas, mas aos poucos fomos auxiliando nossos pais, claro com coisas bem simples e nunca tomando à frente.

Depois de uns três anos, eu já estava me habituando a esta vida e achava que apesar de tudo, tinha reencontrado a felicidade ao lado da minha nova família. Mas a vida tratou de me pregar uma nova peça, parecia que queriam me testar com provações.

Luke e eu ainda não sabíamos como lidar totalmente com demônios, embora tivéssemos visto nossos pais os exorcizando ou usando outros artifícios para afastá-los. Por isso, não conseguimos evitar de sermos capturados por um grupo deles como reféns para atrair Samantha e Jack. Nossos pais conseguiram nos salvar... mas foram mortos no processo. Luke e eu ficamos arrasados. E pra mim foi pior porque apesar de não ser filha de sangue deles, foi como perder meus pais pela segunda vez.

Depois disso, voltamos pra casa. Não sabíamos o que fazer, éramos jovens, além de aprender a caçar, só estudávamos e ainda éramos menores de idade. Foi quando um homem que se dizia meu tio foi nos buscar. Ele havia recebido instruções de Jack, caso acontecesse alguma coisa com ele e Samantha e disse que passaríamos a morar com ele e outros parentes.

Soube então que ele era o irmão de minha mãe biológica, Verônica. Além dele, ela tinha mais dois irmãos e uma irmã, todos mais velhos do que ela e que moravam numa outra cidade da Bahia. E o que mais me surpreendeu foi que todos eram de uma família de caçadores. Nunca podia imaginar que minha mãe, uma famosa topo model pudesse também fazer parte disso. Para mim ela era só uma mulher incrível e simples, apesar da fama e que se sentia realizada ao lado de meu pai e cuidando de mim e do meu irmão.

E foi aí que entendi porque Jack quis mudar para o Brasil. Talvez no fundo ele sentisse que se algo acontecesse com ele e com Samantha, Luke e eu estaríamos mais seguros com um grupo maior de caçadores, parentes meus, tios e primos. Só não entendia porque ele nunca entrou em contato antes com esses meus parentes com nossa ida pra lá e também porque minha mãe nunca me falou deles.

Sobre a atitude de minha mãe, eles explicaram que foi porque ela queria manter a mim e a Thomas longe desse mundo e, por isso, resolveu cortar os laços com a família. Os pais dela tinha sido massacrados numa caçada pouco antes dela conhecer meu pai e isso a abalou profundamente.

E depois... bem, essa história minha e do Luke, você já conhece como te contei. Nós nos envolvemos, ele sempre foi apaixonado por mim, nunca me viu como uma irmã... e eu acabei dando uma chance pra ele. Você sabe o que aconteceu depois... Ele e todos esses meus parentes..."

– Sim, me lembro. Não precisa contar essa parte – declarou Sam num tom mais brando.

– OK – ela suspirou – Restou só um tio, o mesmo que havia ido buscar Luke e eu. Eu estava em estado catatônico e ele achou que para o meu próprio bem, eu devesse voltar aos Estados Unidos. Então ligou para o Bobby... para que me buscasse. – fez uma pausa – Mas antes disso... eu descobri o verdadeiro motivo da morte de meus pais biológicos e de meu irmão Thomas. E... é isso que eu espero que você entenda, Sam, porque eu tive que mentir pra você.

Sam não replicou de imediato. Deixou-se prender pelo olhar dela. Estava menos hostil ao ouvir parte da história dela, embora a mágoa pelos segredos e mentiras de Vic estivesse presente.

– O que você descobriu? – indagou ele, por fim.

"Meu pai, William, deixou uma carta para mim, documentos e... instruções. Jack os guardou e depois, antes de morrer, deu um jeito de entregar para esse meu tio quando foi nos buscar com a recomendação de me entregar. Na carta que meu pai me escreveu, ele me contava que era um ex-caçador e que se estivesse a lendo, era sinal de que eu já sabia do mundo sobrenatural que me cercava. E que supunha ou que eu já tinha alcançado a maioridade para ler a carta ou Jack estava morto.

E me contava que ele havia abandonado aquela vida pra se dedicar a construir uma grande empresa que pudesse algum dia beneficiar os caçadores, ou a maior parte deles. Ele não achava justo que tais pessoas pudessem passar tantas necessidades com os perigos que enfrentavam quase todos os dias, assim como ele, os pais e tantos outros passavam. Por isso, ele se dedicou a esse ideal. Com muito esforço, mas graças à sua genialidade, conseguiu construir um grande império.

E disse que eu devia continuar o seu legado, como anônima. Havia uma pessoa de sua confiança, o Matt, que estaria a postos pra me instruir a respeito quando eu estivesse pronta.

Por último, ele dizia que deixava aquela carta porque sabia que talvez pudesse morrer. Ele não podia me contar o que o estava ameaçando, mas era algo muito terrível que, na verdade visava a mim. Ele não podia me contar porque era algo além da minha compreensão. Mas que no momento certo, eu descobriria. Ele só me alertava que era perigoso demais pra mim e para outras pessoas ao meu redor, se descobrissem que Sara Blackwell estava viva. Que em hipótese alguma, eu deveria contar sobre mim ou isso custaria a minha vida e de qualquer um perto de mim.

E foi aí que entendi porque tudo e todos morriam ao meu redor. Não eram só porque eram caçadores. Eu que era a culpada, eu trazia morte e maldição a todos. Foi por isso que meus pais, meu irmão, os Collins e meus parentes estavam mortos."

Lágrimas involuntárias saíram dos olhos de Vic. Sam teve ímpetos de se levantar e consolá-la, porém, permaneceu sentado. Precisava entender.

– Espere aí... Está dizendo que William não explicou o que o estava ameaçando? Era a mesma coisa que podia tê-lo matado?

– Não, não explicou... mas acho que talvez fosse algum tipo de demônio que quis se vingar dele e com certeza atingir os que importavam pra ele. Prova disso é que minha mãe e meu irmão foram atingidos. E se ele me pedia pra nunca revelar minha identidade a quem quer que fosse... era porque eu estava realmente em perigo. E... ainda estou.

– Mas isso não faz sentido. Ele devia ter alertado sua mãe e a todos vocês. Devia ter tomado todas as precauções contra... esse demônio, se era mesmo um caçador.

– Talvez ele não quisesse nos assustar. E sobre o demônio, se era mesmo um, talvez fosse um mais poderoso que os demais. Não teve o tal Azazel, Alastair ou Lilith que você e Dean enfrentaram? Também pensei em outro tipo de criatura poderosa, mas... não descobri muita coisa nos registros de caçadores ou livros que pesquisei. De qualquer jeito, eu estava convencida de que era um perigo ambulante e talvez meio que atraísse a desgraça para os que estavam perto de mim... principalmente os que sabiam sobre minha identidade.

– E depois?

"Depois, como eu disse, meu tio telefonou para o Bobby. Quando eu ainda morava com meus pais biológicos, eu apenas o vi duas vezes na casa dos Collins. Não era de muito papo, mas mesmo assim simpatizei com ele. Depois que fui adotada e mudei para o Brasil, nunca mais o vi enquanto Jack e Samantha estavam vivos. Ele e a irmã mantinham contato por telefone, mas só. Ele até chegou a visitar a mim e a Luke numa rápida visita ao Brasil depois que fomos morar com meus parentes só pra checar se estávamos em boas mãos. Ele estava abalado pela morte de nossos pais e disse que se precisássemos de qualquer coisa, se quiséssemos voltar aos Estados Unidos, as portas de sua casa estariam abertas, mesmo que não tivesse muito a oferecer em termos materiais.

E com a morte de Luke, eu estava em frangalhos, meu tio achou melhor eu me afastar dali... havia lembranças demais naquele país. Eu concordei, mesmo sabendo que a distância não apagaria minha dor.

Bobby quis me buscar, mas eu achei melhor ir até ele... Queria partir o mais rápido possível. Ele me recebeu de braços abertos. Eu aprendi muitas coisas com Jack e meus parentes, mas foi com Bobby que, realmente, me tornei essa caçadora que você conhece. Depois de uns dois anos, eu já tinha fama suficiente entre os caçadores. Eles sabiam que eu era filha de Jack... só não sabiam do meu laço com Bobby. Ele e eu concordamos que quanto menos informações soubessem de mim, melhor.

É claro que houve aqueles que acharam que eu tinha um caso com o Bobby e... uns mais atrevidos, achavam que podiam tirar uma casquinha... principalmente depois que saí da casa do Bobby. Eu mostrei que estavam enganados de um modo na da sutil. Daí nasceu minha fama de Indomável, a quebradora de rostos, a Maria macho, a lésbica ou até a virgem intocável."

Ela riu. Um riso nervoso de toda aquela tensão. Tais denominações a divertiam. Sam apenas assentiu. Teria rido também se ainda não estivesse determinado a ouvir o resto da história.

"Aconteceu um incidente que me fez se afastar da casa do Bobby e me convenceu mais ainda de que as pessoas próximas a mim se feriam. Num exorcismo de algumas pessoas possuídas, quando achávamos que tínhamos o controle da situação, um dos demônios aproveitou uma pequena distração nossa e saiu do corpo do homem que ele tomava para possuir Bobby por uns instantes. A criatura sorriu pra mim e me disse que sabia quem eu era e que usaria a informação na mente do Bobby para chamar aquele que havia destruído a minha família para completar o serviço e que eu era amaldiçoada e sempre seria. Eu fiquei tão atônita com o que ele disse que me esqueci de pronunciar o exorcismo e libertar meu tio. E aí ele tentou fazer o Bobby atirar em si próprio, mas joguei água benta nele e ele acabou errando, fazendo o tio atirar no ombro e saindo dele rapidamente.

Você entende porque me senti culpada pelo tio ter parado nessa cadeira de rodas? De certa forma, a história se repetia, mesmo com eu à distância. Mas, vendo por outro lado... num certo sentido foi até bom o Bobby ter sido possuído naquela época porque permitiu que ele conseguisse se libertar desse outro demônio que tentou instiga-lo contra Dean.

É claro que quando ele foi possuído pela primeira vez, com eu envolvida, não vi assim. Bobby ficou apenas dois dias no hospital, não foi grave. Só que naquela altura eu me sentia responsável pelo o que aconteceu e sentia que se ficasse mais tempo perto dele, acabaria atraindo a morte para ele. Bobby chiou, protestou, fez de tudo pra me demover da minha decisão e alegou que aquilo era mentira do demônio só pra me deixar confusa. Mas algo dentro de mim gritava que eu poderia ser a causadora da morte dele, assim como tinha sido dos outros.

Depois, procurei o Matt e me revelei para ele com a documentação que possuía e ele começou a me explicar as minhas funções na empresa. Eu não pretendia assumir o controle da BBG, porém, soube pelo Matt que dois membros da diretoria estavam querendo tirá-lo do cargo alegando sua desonestidade. Como falei, temos um setor que financia muitos caçadores, aqueles que ainda têm família e na morte destes, seus filhos ou dependentes recebem ajuda vitalícia. Oficialmente, não poderíamos alardear sobre esse setor, que recebia uma boa parte das verbas da empresa, então constava como um segmento de filantropia.

Só que isso não convenceu alguns membros da diretoria, que estavam dispostos a fechar tal setor e o único jeito, era tirar o Matt da jogada. A solução foi eu me apresentar diante deles, como Victoria Collins, uma sobrinha de Verônica Torres, sua única parente viva e impor minha autoridade para que mantivessem o Matt no cargo.

Havia uma cláusula na empresa de que somente parentes vivos do fundador, mesmo um que não fosse direto poderia assumir o controle da BBG ou delegar poderes. E, por isso, pude contestar a decisão da diretoria. Minha semelhança com minha mãe, bem como os documentos muito bem falsificados não davam margem de dúvida.É claro que cogitaram a possibilidade de eu ser a mesma Sara Blackwell, mas como havia indícios fortes de sua morte e neguei com veemência, ficaram convencidos. Dava na mesma, afinal.

Eles não tiveram alternativa, senão me aceitar. Mas pra minha segurança, porque ainda se acreditava que a morte da minha família foi causada por terroristas, achou-se melhor nunca se divulgar que os Blackwell deixaram herdeiros. E deixei Matt como encarregado de minhas decisões, pelo menos aquelas que não fossem emergenciais.

Mas eu deveria se preciso verificar a auditoria de algumas filiais, como a de Chicago e comparecer em pelo menos umas duas ou três reuniões por ano, fora as em período de crise, como a que teve no setor imobiliário em que precisei ir quando fomos atender o chamado de Chuck, bom... da Becky."

Ela olhou Sam por alguns instantes. Ele acenou com a cabeça. Lembrava-se desse dia.

"E como não estive presente no fim do ano com eles para o balancete da empresa e a revisão do planejamento anual, alegaram que eu não estava me dedicando como deveria e que minha decisão em delegar Matt não era acertada. Foi pra lá que estive agora esses dois dias, para colocar as coisas nos eixos. No fundo, sei que estão fazendo de tudo pra tirarem Matt da presidência e o meu direito sobre ela. Querem a todo custo fechar alguns setores que os impedem de ter mais lucro, o que inclui o Setor de Verbas para os caçadores."

– Enfim, essa é minha história – conclui Victoria com um suspiro.

– Acabou? Não tem mais nada? – insistiu Sam

– Como já te falei, fiz um curso técnico de gestão de negócios em Stanford e lá conheci Henry, um professor com quem me envolvi. E o final você já sabe.

– Sim, demônios.

– Sim, demônios, sempre demônios. Mas também porque... devo ser mesmo amaldiçoada. É por isso... que depois da morte do Henry, decidi não me envolver com mais ninguém, fosse amizade ou romance. Eu temia que se soubessem demais sobre mim... as pessoas correriam perigo. – ela fez uma pausa. Aproximou-se cautelosamente de Sam e abaixou-se diante dele – E quando te conheci... e também ao Dean, fiz de tudo pra que não fôssemos nem amigos. Mas Sam, eu acabei não resistindo a você.

Ele engoliu em seco sem retrucar.

– Eu sabia que o fato de você ser uma espécie de protegido do Diabo, seu recipiente, o tornava intocável aos demônios – ela colocou uma mão sobre o rosto dele. Ele estremeceu com o toque, estava difícil resistir a ela – Mas mesmo assim, Sam, eu tive medo de envolvê-lo, de que algo de ruim te acontecesse por causa desse meu segredo. Talvez a coisa não seja mesmo um demônio, isso não tem como eu saber – ele suspirou chateado – O Bobby me disse que não tinha nada a ver, que era paranoia minha, que eu devia te contar a verdade, até o Matt falou. Mas aquela carta do meu pai, a recomendação contundente... e todos o que eu perdi me fez temer isso.- ela colocou a outra mão sobre o rosto dele e aproximou face perto da dele – E também tive medo de você não me aceitar, de querer se afastar de mim. E havia a mentira também, eu... temia magoá-lo. – suspirou – Foi tudo junto. Sam, me perdoe.

Ele desviou o olhar. Estava confuso e ainda chateado.

– Sam, eu sei que menti, mas... foi pra te proteger. Foi pra proteger nossa relação. Não importa se fui Sara Blackwell. Sou e sempre serei pra você Victoria Collins, aquela que te ama. Eu te amo, Sam. Não duvide disso.

Ele ficou calado alguns instantes.

– Tem mais alguma coisa que você queira me contar? – ele foi enfático.

Havia. Sobre Dean. Os seus sonhos com ele e os sentimentos que nutria. Mas ela não podia simplesmente jogar aquilo sobre ele. Não naquele momento.

– A esse respeito, não tenho mais nada. – foi tudo o que disse.

Ele estreitou os olhos, mas não disse nada. Aquele silêncio entre eles era incômodo.

– Sam, fala alguma coisa – ela pediu – Diz que me perdoa.

O Winchester pegou em suas mãos delicadamente e segurou-as. Hesitava. Por fim, proferiu:

– Vic, eu entendi seus motivos pra esconder seu segredo de mim, mas... eu não sei o que fazer. Não sei nem o que pensar ou falar.

Ela assentiu. Ele soltou as mãos dela.

– Uma parte de mim quer esquecer tudo isso, te apertar nos braços agora e te beijar – ele sorriu e abaixou o rosto. Ela engoliu em seco na expectativa – Mas eu sei que isso não vai apagar a mágoa que estou sentindo agora. Eu... ainda estou processando tudo que você me contou pra tentar te entender. – ele suspirou – Eu sempre fui sincero com você e queria que você tivesse sido desde o primeiro momento.

– Sam, eu... – ela tentou argumentar.

– Sei que você fez achando que me protegeria, fosse paranoia sua ou não. Mas pra mim uma relação só é válida com confiança e sinceridade. E eu não sei se vou conseguir confiar em você daqui pra frente.

– Então... você quer terminar comigo? – ela sentia o coração tremer. Não suportaria ficar perto dele sem poder tocá-lo ou abraça-lo.

– Não... quer dizer, não sei. – ele fechou os olhos. Estava confuso – Eu... preciso de um tempo, Vic. Tenho que pensar.

– Vai dormir aqui? – ela se sentia uma tola por agir como uma criança insegura, mas não conseguia se conter.

– É melhor não – ele se levantou usando toda sua força de vontade para se afastar dela. Ela também se pôs de pé, mas não saiu do lugar – Se eu ficar, sei que não vou resistir a você... e isso no momento não seria bom pra nós enquanto minha cabeça estiver martelando desse jeito.

Ela teve ímpetos de chorar e pedir ele que reconsiderasse. Entretanto, tinha amor-próprio suficiente para não se humilhar, apesar de saber que ele estava com a razão.

– Vou dormir com o Dean. – ele disse

– Você... vai contar pra ele? – perguntou ansiosa.

– Não, pode ficar tranquila. Se alguém tiver que contar algo pra ele, esse alguém vai ser você.

Ele a fitou com intensidade. Ela correspondeu. O desejo e o amor que havia entre eles pairavam no ar. Foi um custo para Sam desviar o olhar e ir até sua mala catar alguns itens para dormir enquanto Victoria continuava parada, sem ânimo para detê-lo.

– Boa noite, Vic – disse num sussurro sem fita-la diretamente e abrindo a porta. Fechou-a suavemente.

– Boa noite... Sam – ela disse para si mesma.

E liberou o choro que havia segurado.

– 0 –

Elizabeth, Elizabeth, onde você pode estar agora?

O belo homem de olhos azuis tentava localizá-la desesperadamente. Era o milésimo feitiço que experimentava, mas sem sucesso. Com um suspiro de frustração, derrubou todos os objetos em cima da imensa mesa de pedra.

Colocou as mãos na cabeça e sentou-se com ela abaixada num banco de madeira a um canto do porão de sua mansão onde praticava magia.

Ele era poderoso, muito poderoso, mais do que a maioria de sua classe. Ele podia achar qualquer ser humano no mundo. Menos ela. Justo a pessoa que mais queria encontrar. Irônico.

E pensar que esteve perto dela por um bom tempo. Que quase conseguiu tê-la para si. Se não fosse por...

– George Tudor, suponho.

O homem se assustou um pouco pelo surgimento repentino da mulher à sua frente.

Era Meg. Seus olhos se escureceram ao contemplá-lo. Havia um sorriso irônico em seus lábios.

– O primo de Henrique, rei da Inglaterra. – continuou a falar

– O que quer, demônio? – indagou sem medo e sem ânimo, embora estivesse curioso com a presença dela.

Conhecia bem aquela raça. Tentou fazer acordos com vários deles para encontrarem sua amada Elizabeth. Abriria mão de sua eternidade só para tê-la num curto espaço de tempo. Contudo, todos os tratos foram rompidos porque aquelas criaturas não conseguiram encontrá-la. Eles mentiam e enganavam, mas, em se tratando de pactos, estes só valiam quando os demônios cumpriam a sua parte.

– Vim te dar o que você tanto deseja.

– Sei – ele debochou – Se nenhum de seus colegas conseguiu, como você espera conseguir?

– É diferente porque um Ser mais poderoso do que todos os demônios juntos deseja ajuda-lo.

Com essa, George não podia ficar indiferente.

– Está dizendo que...

– Sim. Lúcifer está livre. Você como grande bruxo deveria saber. Não notou os estranhos fenômenos que estão ocorrendo? Como as coisas estão mais loucas?

– É verdade – ele olhou para o lado como se procurasse concatenar as ideias – Mas... eu estava tão ocupado que nem parei pra pensar.

– Pois agora você não terá mais que pensar. Terá que agir. Você mesmo pode localizá-la agora.

– Mas como? Eu tento e não consigo. – olhou-a desconfiado – Achei que estava aqui pra me ajudar a encontra-la.

– E vou ajudar. Você não pode localizá-la, mas pode achar as pessoas que estão com ela.

Ele estreitou os olhos. Meg alargou o sorriso numa expressão cruel e prosseguiu:

– Os Winchesters.


Notas Finais


Para quem quiser relembrar o que Vic contou sobre Luke e Henry, retome os capítulos "Senhora dos Afogados (parte 2) e "Pânico na Floresta" (parte 1)

A foto acima é do ator Patrick Dempsey, cuja imagem utilizarei para o rosto do bruxo George (quem não queria ser enfeitiçada por um bruxo assim?) e que vai dar uma dor de cabeça nos próximos capítulos pra Vic (principalmente ela) e para os Winchesters.

Bem, é isso aí! Espero que tenha gostado.

Até a próxima.


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