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História Almas Trigêmeas - Na Companhia do Medo (Parte 1)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Olá de novo!

Este capítulo contém partes do episódio "99 Problemas". Espero que gostem!

Capítulo 45 - Na Companhia do Medo (Parte 1)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Na Companhia do Medo (Parte 1)

Anteriormente:

– Há alguém além do Miguel forte o bastante para enfrentar o Lúcifer – afirmou Castiel

– Quem? – indagou Sam

– Deus. Vou encontrar Deus.

(...)

– Não se atreva a chegar perto dele! - desafiou a caçadora

O diabo que, até então estava com expressão neutra, pareceu levar um choque ao fitar Victoria.

– Você é... - ele parecia ter perdido a fala

Sam instintivamente puxou a namorada para trás de si a fim de protegê-la como se ele fosse um escudo.

– Ela o quê? - indagou intrigado

– A Indomável... suponho.

Foi o que disse voltando a assumir sua expressão neutra. Todavia, o Winchester teve a ligeira impressão que o diabo por um breve instante entrara em pânico ao ver Collins.

– Não se preocupe, minha cara. Como eu disse... não pretendo machucar Sam. - disse num tom tranquilo enquanto olhava para Victoria

A caçadora sentiu um estranho arrepio ao encarar aquela criatura. Não conseguiu articular palavra.

– E também não vou machucar sua... sua namorada, suponho – tornou Lúcifer para Sam ao notar a atitude protetora de um para o outro

(...)

– É. Quando estou perto dela, esqueço tudo de ruim que me aconteceu... não me sinto uma aberração. Em parte, eu só estou aguentando toda essa pressão por causa dela.

– Então aguente ficar sem ela... para salvá-la.

– Dean... – ele balançava a cabeça para os lados

– Sammy , faça isso pela Vic. E por mim.

Sam o fitou com angústia.

– Por favor, Sammy.

Com relutância, Sam assentiu com ar desolado. Dean suavizou a expressão do rosto.

(...)

– Vai ver Joshua estava mentindo – declarou Castiel, quebrando o pesado silêncio a que se submeteu. Não havia firmeza em sua declaração, mas ele esperava que o contradissessem.

Olhava o vazio. Os rapazes pararam um momento o que faziam e o fitaram. Collins também o olhou penalizada.

– Eu acho que não, Cass. Lamento – afirmou Sam.

Castiel não retrucou. De costas voltadas para eles, deu alguns passos e falou para o alto numa voz carregada de raiva e decepção:

– Seu desgraçado. Eu tive fé que...

Fez uma pausa. Os três observavam pasmos o começo do que poderia ser uma blasfêmia vinda justamente daquele que não questionava seu Criador. Entretanto, Castiel não conseguiu formular mais nenhuma palavra. Voltou-se para eles.

– Não preciso mais disso – tirou o amuleto de Dean do bolso e jogou para ele. O moço o agarrou. – É inútil.

(...)

– Ele sabe o que os anjos estão fazendo. Sabe que o Apocalipse começou. Ele só acha que isso não é problema Dele.

– Não é problema Dele? – Dean estava pasmo

– Deus já salvou vocês. Ele os colocou naquele avião. Trouxe Castiel de volta. Ele vos concedeu salvação no Céu. – voltou-se para Sam – Mesmo depois de tudo que já fizeram. É mais do que Ele já interveio em um bom tempo. Ele está farto. Amuleto mágico ou não, não poderão achá-lo.

– Mas Ele pode por um fim nisso. Tudo isso.

– Suponho que sim, mas Ele não vai.

– Por que não?

– Por que Ele permite o mal pra início de conversa? Pode ficar louco fazendo perguntas assim.

– Então Ele só vai sentar e assistir o mundo queimar?

– Sei o quão importante isso é pra você, Dean. Eu lamento.

– Esqueça. – Dean sentiu não um balde de água fria, mas uma geleira cair sobre sua cabeça e tirar seus últimos resquícios de esperança – É só mais outro pai ausente com um monte de desculpas, né? Estou me acostumando com isso. Deixa que eu me viro.

– Só que não sabe se pode se virar dessa vez. Não pode matar o Diabo. Está perdendo a fé em si mesmo e no seu irmão. E tem medo de que a companheira de vocês saia morta no meio dessa batalha mesmo que a mandem para longe. – Sam olhou para Dean, mas este não correspondeu – E agora isso? Deus era sua última esperança. Só queria poder lhe contar algo diferente.

(...)

– Quer se casar comigo?

Surpreendida, Victoria prendeu a respiração. Colocou ambas as mãos sobre a boca.

– É claro... Depois que tudo isso acabar – ele se apressou em dizer.

Collins não conseguia responder. Havia perdido a voz tamanho o espanto. Seu coração batia acelerado. Houve um longo silêncio entre eles antes do Winchester prosseguir:

– Eu sei que o fim do mundo está vindo nos assombrar – disse Sam meio sem jeito – Sei que eu sou o homem mais perigoso pra a humanidade porque sou o recipiente de Lúcifer... mas mesmo assim... eu ainda quero ter esperança... eu quero acreditar que vamos conseguir superar tudo isso.

– Sam... – Vic estava com a voz embargada de emoção

– Então, eu pergunto: com tudo isso em cima de nós... Victoria Collins, você é louca o suficiente pra se casar comigo?

Vic não respondeu, apenas se abaixou à altura dele e jogou-se em seus braços, apertando-o forte. Sam a estreitou nos braços e levantou ambos.

Capítulo 44

Na Companhia do Medo (1ª parte)

– Victoria... Victoria...

A voz de Sam lhe chamando docemente fê-la abrir os olhos. Ela sorriu ao contemplar o belo rosto do moreno sustentado pelo braço, o corpo nu dele deitado de lado, a poucos milímetros do dela, quase a encostá-la. Quase. Olhava-a de uma forma... bem, ela não soube definir precisamente o que era, talvez de uma maneira analítica. E fria.

Havia algo de estranho.

– Você é realmente linda, Victoria Collins – o moço declarou, mas sorria de forma desdenhosa. Vic sentiu um arrepio esquisito percorrê-la dos pés à cabeça – Até mesmo alguém como eu admito.

Imediatamente, Victoria recuou para trás e pulou da cama, ficando de pé e envolvendo seu corpo no cobertor.

– Você não é Sam – era absurdo, mas ela tinha certeza do que falava.

Sem abandonar o sorriso de desdém, o cabelo preto de Sam mudou para um tom loiro, seu rosto se afinou e deixou aparecer uma rala barba, o corpo nu com alguns músculos apresentou uma compleição mais franzina e revestiu-se de roupas. Era o homem que Victoria havia visto em Carthage, o recipiente temporário de Lúcifer.

– Lúcifer. – ela falou quase num sussurro. Um pavor a invadiu. Era raro que alguma das coisas que caçava pudesse intimidá-la tanto como o Arcanjo. Contudo, não ia mostrar covardia para aquele ser – Onde está o Sam? O que fez com ele?

– Não se preocupe. Sam está precisamente mergulhado num sono profundo nesta mesma cama.

– Então isso é... um sonho?

– Hum... Sim e não. Digamos que é uma ligação telefônica que anjos usam para se comunicar com vocês... humanos. – falou a última palavra quase com desprezo, embora a expressão tranquila permanecesse.

– O que você quer? – ela questionou com ar destemido

– Eu queria ver o que você tem de tão especial que faz o Sam se fascinar – respondeu cinicamente – Para uma macaca¹, você é um belo espécime.

– O que você quer? – insistiu Collins ignorando o comentário

– Sem rodeios? Ótimo, aprecio isso. Vim apenas lhe dar um aviso. – fez uma longa pausa bem calculada como se quisesse despertar certa agonia em Victoria. Ela permaneceu calada, mas não lhe fez perguntas para não demonstrar ansiedade. – Para seu bem, se afaste de Sam Winchester assim que você acordar.

– Senão...? – Vic levantou o queixo em sinal de desafio, aguardando o resto da ameaça implícita.

– Quer mesmo que eu diga?

– Não gosto de recados dados pela metade.

– Oh, minha querida, você honra a sua reputação, apesar de tudo – ele alargou o sorriso cínico – Bem, senão serei obrigado a tomar atitudes mais drásticas.

– Como me matar?

– Por exemplo – completou ele – Se eu resolver ser bonzinho, o mínimo que posso fazer é isso. Mas acredite em mim, há coisas piores do que a morte que um arcanjo pode causar se for contrariado.

– Sei – ela também sorriu cinicamente – Como mandar um bruxo louco me sequestrar e me aprisionar pelo resto da vida.

– Isso foi apenas uma pequena amostra. – ele se levantou da cama e foi se aproximando de Victoria – Mas posso fazer cem vezes pior do que isso.

Ele parou diante de Vic, com o rosto a centímetros do dela. Havia uma serenidade em sua postura e rosto, mas algo em seus olhos fez Collins estremecer, porém, ela sustentou o olhar.

– Isso se você me achar – retrucou ela – Para a sua informação, eu também tenho um cunho enoquiano gravado nas minhas costelas.

Vic se surpreendeu ao se inteirar da marca quando Sam lhe contou. Ele lhe questionou se ela se lembrava de como, quando, onde e quem podia tê-la marcado. Naturalmente, ela não sabia. Ainda pairava a hipótese de ser Anna Milton quem a marcou.

– Há outras formas de acha-la, Victoria Collins – redarguiu Lúcifer não demonstrando a menor surpresa por aquela informação.

– Se houvesse, você já teria agarrado Sam.

– Não preciso fazer isso. Ele virá a mim por sua própria decisão.

– Para alguém que está tão seguro disso, não sei por que perde tempo advertindo essa macaca – cruzou os braços e olhou-o com desdém.

Por um minuto, achou ter visto uma faísca de ódio no olhar do Diabo, a despeito daquela postura de "Ser superior". Mas o brilho foi embora no mesmo instante. Ele deu dois passos para trás se distanciando.

– Quis apenas alertá-la para que quando eu estiver no corpo dele e você se intrometer, eu não a machuque "por acidente."– falou num tom de tédio – Essa luta não é sua, quis apenas poupá-la como um favor a Sam.

– Claro, você é muito bonzinho – ela replicou com sarcasmo. O Diabo ignorou.

– Já que insiste em permanecer ao lado dele, bem... como vocês macacos dizem... "Não diga que não avisei."

E sumiu na primeira piscada de Victoria.

No minuto seguinte, ela despertou deitada na mesma posição em que estava. Sentou-se com sobressalto no colchão. Ainda estava escuro. Ela consultou a hora de seu relógio de pulso na cômoda ao lado. Eram três horas e trinta e três minutos da madrugada.

– Vic... – um Sam sonolento se virou minimamente para ela.

Ela o contemplou com medo de ainda estar sonhando. Não, aquele era seu Sam. Seu coração o afirmava com certeza.

– Vic? – dessa vez, Sam despertou preocupado. Também se sentou e pegou nos ombros dela. – Algum problema?

– Não... não, só um pesadelo – ela disfarçou. – Está tudo bem, amor.

– Está mesmo?

– Sim, não se preocupe. Desculpe ter te acordado.

Esboçou um sorriso apaziguador, disfarçando seu estado de espírito. Sam se tranquilizou e abraçou-a sem nada dizer.

– Vamos voltar a dormir? – disse ela.

Eles se deitaram e ajeitaram-se na cama, enroscando seus corpos nus.

Victoria resolveu ocultar de Sam aquele encontro onírico com o Diabo. Não queria preocupa-lo e fazer com que mudasse de ideia sobre os planos que fizeram de uma vida juntos.

– 0 –

– Vocês o quê? – Dean praticamente berrou dentro do quarto de Sam e Vic.

Era de manhã e eles o chamaram para lhe comunicarem a notícia do casamento antes de tomarem café.

– Dean, não grite que aqui não tem ninguém surdo – Vic o advertiu.

– Pois eu acho que fiquei porque devo ter escutado mal! – ele continuou trovejando.

– Não, você escutou muito bem. Sam e eu decidimos nos casar. – ela disse com firmeza.

Foi Vic que decidiu comunicar de uma vez a notícia para Dean. Era difícil para ela fitar aqueles olhos verdes e se dar conta de que unindo definitivamente sua vida a de Sam, estaria colocando um muro ainda maior entre ela e o loiro.

Mas desde quando ela fez algum movimento para ultrapassar aquele muro? Apesar do sentimento de perda com relação a Dean, ela sabia que desejava pertencer única e exclusivamente a Sam Winchester.

O coração de Dean pareceu falhar uma batida. Ele fitou o irmão que até o presente momento não havia pronunciado sequer uma palavra, ao contrário, estava com a cabeça baixa como um menino que sabia que aprontou alguma travessura.

– Isso é verdade, Sam? – indagou não querendo acreditar.

Sam apenas acenou com a cabeça, mal encarando o irmão.

– Legal – Dean balançou a cabeça. Uma raiva e um sentimento de traição o corroíam por dentro. Riu com sarcasmo e levantou-se erguendo os braços para o alto – Então que tal convidarmos todos os anjos e demônios para o casamento do século... não... do milênio? Sam Winchester, o recipiente de Lúcifer se unindo com a temível Indomável!

– Dean, pare com isso. – Victoria disse entredentes com um brilho raivoso no olhar

– Não, parem vocês dois! – apontou o dedo para eles – Vocês endoidaram de vez!? O fim do mundo vai fazer um barulho tremendo sobre nós e vocês pretendem desfilar sobre o ruído dos sinos de uma igreja? Depois sou eu que tenho merda na cabeça!

– É claro que não seria assim, Dean! – protestou Victoria – Nós só vamos nos casar depois que resolvermos esse problema.

Dean riu com gosto.

– Nossa, Victoria, você fala disso como se tratasse de algo simples como decidir onde vocês vão morar ou como vão se sustentar juntos. – tornou a rir

– Não tem graça, Dean.

– E não tem mesmo. Alô! – ele falou colocando a boca entre as duas mãos juntas formando uma concha – Estamos falando do Apocalipse!

– Eu sei, Dean, eu sei muito bem que é o Apocalipse! Mas ao contrário de você, nem eu nem Sam ainda entregamos os pontos.

Dean se calou. Vic tocou no seu ponto. Porém, ele ainda não queria admitir aquilo. Pelo menos não para ela.

– Eu não entreguei nada. – disse com um nó na garganta – Eu só não estou tão otimista quanto vocês

E sem dizer mais nada, deu meia-volta para sair do quarto.

– Dean, espere! Dean!

Por fim, Sam abriu a boca para chamar o irmão, porém, este não se voltou e bateu a porta com estrondo.

Victoria soltou um suspiro.

– Nós sabíamos que não ia ser fácil – disse ela fitando Sam que mantinha as duas mãos encostadas na boca e olhava fixamente a porta.

– Não posso deixar ele sair assim. Tenho que falar com ele. – Sam se pôs de pé

– Sam...

Vic ia retrucar com medo de que ele mudasse de ideia, mas o namorado a tranquilizou.

– Não se preocupe, Vic. Eu já me decidi. – pegou no rosto dela com suavidade – Nada nem ninguém vai me fazer mudar de ideia. Eu volto logo.

E saiu. Sozinha, Vic se sentou na beirada da cama com as mãos entrecruzadas. Ela também estava decidida.

Mas por que se sentia tão mal pela reação de Dean? Seria por ele? Ou por ela mesma?

– 0 –

Dean estava quase entrando no carro quando Sam o impediu.

– Dean, espere! – chamou-o

Entretanto, o loiro o ignorou e entrou no veículo.

– Dean, espera aí, vamos conversar.

Felizmente, Sam entrou no Impala pela outra porta.

– Sam, quer sair do carro? Eu quero ficar sozinho – retrucou mal contendo a irritação e sem olhar para o irmão.

– Dean, por favor, vamos conversar.

– Conversar o quê? Você e a Vic já decidiram o que querem fazer e não precisam da minha aprovação.

– Você ficou chateado.

– Chateado? – riu – Chateado é pouco! Eu estou pê da vida! Mas é com você! – ele se virou para Sam.

– Eu sei. Eu... não consegui fazer o que você me pediu.

– Legal. Obrigado por reconhecer.

– Mas. Dean, eu tentei. Eu juro que tentei.

– Acredito – Dean acenou com a cabeça numa atitude debochada – Dá pra ver o quanto você tentou, Sam.

– Dean, é sério. Eu tentei falar com a Vic, mas antes mesmo que eu começasse, ela já tinha adivinhado tudo o que eu ia dizer e se recusou a se afastar.

– Hum-hum – Dean continuava a acenar com a cabeça. Fazia um bico de falsa concordância.

– Ela disse que... que ficaria com a gente de qualquer jeito – Sam tentava convencer o irmão de qualquer maneira. – Droga, Dean, eu não tive como argumentar com ela.

– Escute, Sam, não me venha com essa! – ele apontou o dedo quase no rosto do irmão – Se você quisesse mesmo mandar a Vic pra longe, era só ter mais brios. Mandasse ela pro inferno e dissesse que não queria olhar mais pra cara dela. É assim que se faz com uma mulher quando ela enche o saco!

– Eu não sou assim, eu jamais conseguiria agir desse jeito com ela – Sam fechou o rosto – E você também mesmo sendo do jeito que é, não age assim. E muito menos com a Vic.

– Se fosse pro bem dela, eu faria! Faria o que fosse preciso.

– Você nem mesmo sabe se isso daria certo. O próprio Joshua disse isso. Disse que você tem medo de que ela saia morta no meio de tudo isso mesmo que a mandemos pra longe. Eu estava lá, lembra?

Dean respirou fundo. Resolveu admitir.

– Certo, admito. Mas talvez ela tenha uma chance maior se não estiver com a gente.

– Pode garantir isso?

– Diabos, Sam! Se você acha que com isso vai me convencer dessa loucura que vocês decidiram, está muito enganado.

– Loucura por quê? – Sam estreitou os olhos – Dean, seja sincero: você está bravo com a notícia do nosso casamento só pela segurança da Vic ou também por causa dos seus sentimentos por ela?

– Não seja absurdo!

– Estou sendo?

Dean se calou imediatamente e desviou o rosto para não encarar Sam. Depois, saiu do carro seguido pelo irmão. Cada um se postou de um lado do carro de frente para o outro.

– Olha, quer saber do que mais? Chega desse assunto! – ele resolveu não responder aquela indagação de Sam – Não vou falar mais nada, Sam. Você faça o que quiser. Chame logo a Vic pra gente cair fora daqui.

Sam pensou em pressionar Dean, entretanto, ponderou que seria uma péssima escolha. Apenas assentiu. Quando ele ia dar as costas, Dean o advertiu:

– Sam.

– Sim?

– Tenha em mente apenas uma coisa: se acontecer alguma coisa com a Vic, você será o único responsável. Espero que consiga viver com isso.

Sam ia retrucar, porém, desistiu. Deu meia-volta e entrou no quarto.

Assim que ele se afastou, Dean bateu as duas mãos no capô do Impala.

– Droga!

– 0 –

Eram perto de umas sete horas da noite quando estacionaram numa lanchonete.

Era a terceira e última parada desde que abandonaram o motel. Pretendiam chegar a uma cidade onde investigariam um caso. Não havia presságios nem tempestades de raios, entretanto, um caso era um caso.

Sentaram numa mesa: Vic e Sam lado a lado e Dean de frente para ambos. As coisas estavam bem tensas entre eles; na verdade, Dean não trocava nenhuma palavra com os dois, principalmente com o Sam, desde sua última conversa.

O loiro estava com a cabeça cabisbaixa, fingindo prestar atenção no cheeseburguer de bacon que comia. Vic e Sam se entreolharam, mas não tiveram coragem de interpelá-lo.

Depois de algum tempo, Vic se levantou da mesa.

– Vou ao banheiro, rapazes. Volto logo. – anunciou e dirigiu-se à balconista do estabelecimento. - Por favor, onde é o banheiro?

– Lá fora, dobrando a esquina à esquerda.

– Obrigada.

Assim que Vic lhe deu as costas, a garçonete fez um sinal com a cabeça para um suposto cliente que bebericava café no balcão. Um homem de meia-idade que usava um boné. Seus olhos ficaram negros.

– 0 –

O banheiro feminino era um minúsculo compartimento com apenas um vaso sanitário e uma pia. Nada de saboneteira ou espelho.

Banheiro de quinta categoria, pensou Victoria. Mas para as necessidades básicas, não se pode ser muito exigente.

Ao lavar as mãos, Collins sentiu um mau pressentimento. Ela sempre tinha aquela sensação quando o perigo estava perto dela ou de alguém próximo.

Pegou a arma que estava no coldre e muniu-se também de água benta. Poderiam não ser demônios, mas achava que era o mais provável. Apesar de não ter compartilhado com Sam ou Dean o sonho que teve com Lúcifer, não queria dizer que não estivesse preparada. Certamente ele mandaria algum de seus capangas atrás dela.

Ela passou a garrafa de água benta para a mesma mão que carregava a arma e girou devagar a maçaneta da porta. Abriu-a apenas um pouco. Chutou-a forte. Se houvesse alguém do outro lado, levaria um bom golpe. Nada.

Não satisfeita, ela caminhou com cuidado até trespassar o limiar da porta. Antes que recebesse a facada do sujeito de boné que estava encostado na parede à esquerda, ela conseguiu interceptar seu braço e dar-lhe uma joelhada no estômago. Depois, jogou-lhe água benta. O demônio gritou e caiu de dor.

Vic quis correr em direção contrária, porém, vieram mais quatro homens possuídos brandindo facas para mata-la. Ela atirou sal em dois, golpeou um e jogou água benta no outro.

O que a atacou primeiro se recuperou e agarrou-a por trás. Ela tentou acertá-lo, mas não conseguiu.

– Exorcizamos te, omnis immundus spiritus. Ominis satanica potestas... – ela começou a pronunciar.

Todavia, o demônio tapou sua boca. Ela mordeu a mão dele e pisou em seu pé. Ele a soltou. O outro demônio que ela golpeou acertou-a no rosto.

Ela revidou com um soco, mas ao ver que os outros três a rodeavam, não teve remédio senão gritar o mais alto que pôde:

– Dean! Sam!

Do estabelecimento, os rapazes a escutaram embora o som não fosse muito audível. Largaram o que comiam e olharam-se confusos.

– Parece...a voz da Vic. – disse Dean

– Sam! – dessa vez o som ficou mais nítido.

– É a voz da Vic! Ela está em apuros – disse Sam.

Imediatamente, eles se puseram de pé, entretanto, a saída deles foi bloqueada por um casal de idosos. Seus olhos enegreceram.

– Creio que vocês não vão poder sair agora. – disse a senhora.

– É? Você e que exército vão nos impedir? – desafiou Dean.

Na mesma hora, todos da lanchonete – um grupo de vinte pessoas entre adultos e adolescentes, inclusive os serviçais – se levantaram. Estavam todos possuídos.

– Droga! – esbravejou o loiro.

E começaram a atacar o grupo usando a faca especial, golpeando-os ou exorcizando-os.

Do lado de fora, Victoria conseguiu com muito custo desacordar dois dos seus cinco perseguidores, mas ainda estava em desvantagem. Conseguiu despistar os outros três e correu até a lanchonete. Parou antes de entrar assim que viu a luta armada dos rapazes e os demônios que se encontravam lá dentro.

Girou sobre os calcanhares e chutou um que quase a pega por trás. Os outros dois avançaram nela e conseguiram, por fim, segurá-la um de cada lado.

O que ela chutou cuspiu um filete de sangue e, em seguida, olhou-a com um sorriso sádico e cruel. Ele segurou a faca que carregava e aproximou-se quase em êxtase da caçadora.

– Não sabe a satisfação que isso vai me dar – declarou ele. Vic tentava se soltar, mas sem sucesso – Com os cumprimentos do nosso Pai!

Ele ergueu a faca para enfiar no coração de Victoria, mas bem nessa hora, Sam apareceu.

– Vic! – gritou ele

E se interpôs, impedindo o golpe do demônio. A faca acertou em seu braço, quase na altura do ombro fazendo um corte.

– Sam! – Vic gritou preocupada, mas ele não deu importância à ferida.

Derrubou o demônio que o acertou bem como os outros dois que seguravam Collins.

– Você está bem? – ele perguntou enquanto tentava estancar o sangue com a mão.

– Sim, mas você... – ela colocou a mão sobre a que ele segurava o braço

– Gente, pé na tábua! Eles são muitos! – gritou Dean disparando sal em dois.

De fato, mais um grupo de trinta demônios veio de alguma parte e juntou-se com os que lá estavam.

Vic e Sam concordaram com Dean. Era hora de se mandarem. Os três correram até onde estavam os Impalas. Os demônios tentavam alcançá-los.

– Vamos! Vamos! – disse Dean indo na correria.

– Droga! O meu carro está lá do outro lado! – esbravejou Vic.

– Deixe, Vic! Depois você dá um jeito de pegar! É melhor ficarmos todos juntos – disse Sam – Ai!

– Sam, está doendo muito? – ela indagou enquanto corriam juntos.

– Vou sobreviver.

– Vamos! Vamos! – ordenou Dean

Alcançaram o carro e entraram rapidamente: Dean na frente e o casal no banco de trás. O loiro deu partida e atropelou os demônios que tentaram impedir o carro de sair.

O Impala disparou pela estrada. Aparentemente, conseguiu deixar as criaturas para trás. Ledo engano. Não demorou e os demônios conseguiram alcançá-los com um carro bem potente.

Dean aumentou a velocidade e ultrapassou o limite de 90 km por hora sem se importar com a sinalização de limite máximo das placas que via. Se aparecesse alguma radiopatrulha, que fosse para o inferno!

O Winchester olhou para trás assim como seus companheiros. Os demônios estavam cada vez mais perto.

– Dirija mais rápido, Dean. – pediu Victoria. Ela pegou um lenço no bolso da calça e estancava o sangue do braço do namorado

– Não dá. – retrucou ele olhando pelo espelho – Vocês estão bem?

– Estou ótimo. Ai! – um gemido que Sam soltou contradisse sua declaração

– Sim, com um belo de um corte bem profundo – ironizou Vic – Acho que vai ter que dar pontos. Temos que cuidar disso.

– Pode deixar, eu aguento

– Já tinham visto tantos assim? – tornou Dean

– Não. De jeito nenhum. Não em um só lugar.

– Nem eu – admitiu Vic

Será que era tudo por sua causa? Mas ela não pretendia compartilhar tal suspeita com seus parceiros.

– Mas que diabos...? – Dean virou o carro rapidamente e entrou por um cruzamento à direita.

Ao seguirem adiante, depararam-se com um caminhão caído em chamas que lhes obstruía o caminho. Era como se os demônios houvessem preparado aquilo de antemão para atrapalhá-los. Na certa, devia ser. Aqueles malditos pensavam em tudo!

– Droga! – praguejou Dean

Brecou para trás e virou o carro. Ia fazer uma manobra para voltar, mas antes que saísse, um demônio quebrou o vidro da porta do assento de trás e agarrou Sam tentando tirá-lo do veículo.

– Sam! – gritou Vic.

Mas não pôde fazer nada porque outro demônio fez o mesmo na outra porta e pegou-a. Dean ia sair do carro para acudi-la. Antes que fizesse qualquer movimento, alguém esguichou água benta através de uma comprida mangueira vinda de uma caminhonete de bombeiros.

Os demônios sentiram a pele queimar e largaram os dois caçadores. Todos fugiram apavorados. Os três caçadores ficaram no carro e olharam espantados a fuga das criaturas, tentando compreender o que ocorria.

Um homem alto e de cabelos castanhos começou a pronunciar palavras num megafone em enoquiano que fez aquelas entidades deixarem os corpos das pessoas que dominavam. Logo um amontoado de fumaça negra se formou e dispersou-se pelo espaço.

Os três caçadores estavam perplexos e permaneceram no Impala.

– Taí uma coisa que não se vê todo dia. – disse Dean

Por fim, desceram do carro.

– Vocês estão bem? – indagou o homem do megafone ao descer da caminhonete

Os três ainda estavam confusos e olharam ao redor, ainda sob forte emoção.

– Supimpa – respondeu Dean com os olhos arregalados. Estava impressionado com aquele pessoal

– Tomem cuidado. É perigoso aqui por perto. – disse o sujeito que deveria ser o líder e deu-lhes as costas voltando para seu transporte

– Opa, espera aí.

– Não precisam nos agradecer

– Não, espera um pouco. – pediu Dean. Ele e seus parceiros se aproximaram. Vic ainda estancava o sangue do braço de Sam, mas este fez sinal de que já podia fazê-lo sozinho. – Quem são vocês?

– Somos a milícia luterana do sacramento.

– Desculpa, a o quê?

– Odeio dizer isso, mas aqueles eram demônios. E isto é o Apocalipse – declarou o homem como se fosse a novidade do século para seus interlocutores – Então... apertem os cintos.

– Agradecemos pela informação, mas nós já sabíamos disso – retrucou Victoria com certo cinismo.

– Sabiam? – o homem os olhou com desdém. Vendo que nenhum dos três parecia espantado ou mesmo com ar de deboche, ele os olhou com desconfiança – Quem são vocês?

– Somos caçadores.

– Caçadores?

– Sim. Caçamos demônios, monstros e coisas do tipo. – tornou Dean

O indivíduo os encarava com perplexidade e desconfiança.

– Venha, eu te mostro.

Dean seguiu para seu Impala junto com Vic e Sam. O indivíduo ainda desconfiado fez sinal para que seus dois parceiros o acompanhassem. Assim que eles se aproximaram, Dean abriu o porta-malas e mostrou toda a artilharia que carregavam. Os três homens olharam para aquelas armas com visível surpresa.

– Parece que trabalhamos no mesmo ramo – declarou Sam

– É, e entre colegas – reforçou Dean e observou a espingarda que o líder carregava – Essa é uma arma policial. Aquela caminhonete é... inspirada. Onde vocês conseguiram tudo isso?

– Pegando as coisas ao longo do caminho – informou um sujeito, um moreno claro da mesma idade que o líder. Parecia cauteloso ao falar

Os caçadores o olharam com descrença. Haviam detectado uma mentira.

– Nossa, se é assim, podem nos indicar os lugares por onde vocês passaram? Estamos precisando renovar o estoque – retrucou Victoria com sarcasmo.

O moreno não achou graça, mas o líder e o outro sujeito – quase um adolescente – seguraram o riso. Dean e Sam também quase riram.

– Vamos, pessoal. Esse lado do Estado está cheio de presságios demoníacos. – replicou Dean – Só queremos ajudar, só isso.

– Somos do mesmo time aqui. Falem com a gente. – insistiu Sam

Os três estranhos se entreolharam. O líder foi quem decidiu:

– Nos sigam.

– Espere. Será que podem nos aguardar? O braço dele precisa de pontos. – pediu Victoria pegando no ombro de Sam – É coisa que conseguimos resolver em dez minutos.

– Está certo. Mas sejam rápidos.

– Quais os seus nomes... a propósito?

O líder hesitou a princípio, mas disse:

– Eu sou Rob, este é Paul – apontou o moreno claro e um rapaz loiro – E este é meu filho Dylan.

– Prazer. Sou Victoria – ela estendeu a mão que os três apertaram.

– Dean. – o loiro fez o mesmo

– Sam. – cumprimentou-os com um aceno de cabeça

– Vamos esperá-los na caminhonete. – tornou Rob – Quando estiverem prontos é só nos avisar.

– Certo – Vic assentiu

Assim que os sujeitos se afastaram, Dean pegou a caixa de primeiros socorros no porta-malas e, rapidamente, Vic deu pontos no braço de Sam, fechando o corte. Em seguida, entraram no Impala e fizeram sinal para os homens.

– Droga, eu tenho que pegar meu Impala – disse Victoria no banco de trás – Não posso deixá-lo assim.

– Sei exatamente como você se sente, Vic – declarou Dean solidário – Mas pelo o que a gente viu e esses caras disseram, essa área deve estar cercada de demônios. Vamos ver o que eles têm primeiro e aí a gente pensa numa operação de resgate do seu carro. OK?

Collins assentiu.

A caminhonete partiu e eles a seguiram. Depois de algumas horas, chegaram ao que parecia uma pequena cidade cercada tanto por arame farpado quanto por vários homens armados. Era Blue Earth, em Minnesota.

Estacionaram no que parecia uma pequena capela. Uma mulher ruiva de perto de quarenta anos – Jane, esposa de Rob – se aproximou de Dylan que ouvia música do celular e lhe disse em tom de censura:

– Dylan, é uma igreja. Tire os fones de ouvidos. –deu-lhe um carinhoso tapa na nuca

– Sim, mãe – respondeu o jovem num muxoxo.

Ele, Rob, Paul, os Winchesters e Collins entraram na igreja. Diante da porta, havia uma Chave de Salomão pintada.

O interior do local estava lotado. Realizava-se uma cerimônia de casamento bem simples. Eram três casais. Mesmo assim, havia pessoas armadas lá dentro, algo que tanto Sam e Vic perceberam. No altar, estava um homem de barba e cabelos grisalhos que celebrava o matrimônio.

– Quem diria que o Apocalipse seria tão romântico? – disse ele – Casamento, família... É uma bênção. Especialmente em tempos como estes. Então, se agarrem a isso.

– Casamento? Mesmo? – indagou Sam com estranheza

– Só essa semana já tivemos oito – informou Paul

– É, o pessoal parece desesperado. Por que você e a Vic não aproveitam e já não se casam de uma vez aqui mesmo? – Dean alfinetou baixinho somente para Sam e Victoria ouvirem.

Sam revirou os olhos e suspirou. Quanto a Victoria, limitou-se a responder com um sorriso amarelo e um falso tom de doçura.

– Por que nem Sam nem eu estamos desesperados. Nós acreditamos que vamos sobreviver ao Apocalipse e aí nos casaremos. Satisfeito, Dean? Mais alguma brilhante sugestão?

– Por hora não – retrucou ele com um sorriso mais amarelo.

– 0 –

Terminado o casamento triplo, os pares foram aclamados com arroz do lado de fora da igreja enquanto saíam.

– Então, o Rob me disse que vocês caçam demônios – o celebrante, pastor da igreja, comentou ao lado dos três caçadores

– Sim, senhor – respondeu Sam um pouco constrangido.

Dean e Vic assentiram. Notaram que até o pastor levava uma arma na altura da coxa direita

– Vocês perderam alguns. – tornou o pastor

– É, nem nos fale. Faz ideia do por que estão por aqui?

– Eles parecem gostar de nós. – respondeu sarcástico sem abandonar sua postura séria – Sigam-me, cavalheiros... e dama.

Entraram pelos fundos da igreja e desceramuma escadaria.

– Então você é pastor. – comentou Dean seguindo o homem. Vic e Sam estavam bem atrás dele.

– Não é o que esperava, né?

– Ora, cara, você está armado.

– Tempos estranhos.

O pastor abriu uma porta que se dividia em duas partes. Entraram num amplo salão. Em várias mesas, estavam pessoas – adultos, jovens, homens e mulheres – preparando tudo que podiam afastar demônios. Os caçadores circularam pelo espaço observando impressionados. Numa mesa, estava um garoto com seus pais.

– É um garoto de doze anos fazendo balas de sal? – questionou Dean

– Todos participam.

– Todos da igreja? – inquiriu Sam

– A cidade inteira.

– Uma cidade inteira, cheia de caçadores? Até mesmo crianças? – questionou Victoria sem esconder seu assombro. Olhava ainda para o garoto

– Não sei se corro gritando ou compro uma casa – retomou Dean num misto de gozação e incredulidade

– Os demônios estavam nos matando. Tivemos que agir. – o pastor se justificou como resposta a ambos

– Por que não chamar a guarda nacional? – interveio Sam

– Disseram pra não fazer isso.

– Quem disse?

O pastor permaneceu calado numa atitude de quem não queria compartilhar seu segredo.

– Vamos, padre. Vocês têm mais do que já vimos – insistiu Dean – E aquele exorcismo era em enoquiano. Alguém está lhe contando algo.

Ele hesitou.

– Olhem, desculpem. Não posso falar sobre isso. – balançou a cabeça

– Pai, está tudo bem – anunciou uma moça loira, bastante jovem. Chamava-se Leah – Estes são Sam e Dean Winchester. E Victoria Collins. Eles são seguros.

Os quatro permaneceram calados. Os caçadores a fitaram surpresos.

– Sei tudo sobre eles – prosseguiu Leah

– Sabe? – indagou Dean

– Claro. Os anjos me contaram.

– Os anjos. Ótimo. – ele sorriu nervoso

– Não se preocupem. Eles não podem vê-los aqui. As marcas em suas costelas, certo?

Os três ficaram boquiabertos.

– Então, sabe tudo sobre nós porque os anjos lhe disseram? – questionou Sam

– Sim. Entre outras coisas.

– Como aquele feitiço de exorcismo – tornou Dean

– E eles me mostram onde os demônios estarão antes que aconteça. Como revidar.

– Ela nunca errou. Nem uma vez. – declarou o pai da moça e aproximou-se dela – Ela é bem especial

– Pai. – ela sorriu sem graça

– Deixa eu adivinhar, antes de você ver alguma coisa, você tem uma terrível enxaqueca, vê luzes brilhantes? – Dean a interpelou

– Como sabia?

– Porque não é a primeira profeta que conhecemos. Mas é a mais bonitinha. – esboçou seu sorriso sacana, embora de forma mais discreta

Leah sorriu sem jeito, mas visivelmente lisonjeada. Vic queria fuzilar Dean com os olhos. Quanto ao pastor, olhou com reprovação para o Winchester.

– Eu digo isso com todo o respeito, claro. – acrescentou fitando o pai da jovem

Mas não pôde deixar de lançar mais um olhar de aprovação à jovem e passar rapidamente a língua pelos lábios.

A despeito de se irritar com a jogada de charme de Dean, Vic foi a única que não fez nenhuma pergunta à moça. Havia algo nela que não lhe agradava. Leah fitou a caçadora com ar sereno e despreocupado, mas Collins teve a nítida sensação de que a tal podia adivinhar o que ela estava pensando.

– 0 –

Foram relaxar num bar que pertencia a Paul. Sentaram-se os três numa mesa. Precisavam trocar impressões sobre tudo o que haviam visto, principalmente sobre a suposta profetisa.

– Ligue para o Cass e veja o que ele a acha de tudo isso – sugeriu Dean para Sam

– E não se esqueça de verificar com ele se tem como buscar meu carro – acrescentou Victoria

Sam se afastou para ligar num canto do bar, perto do balcão por causa do barulho. Dean e Vic ficaram breves segundos a sós. Fitaram-se. Um silêncio constrangedor pairava entre eles. Desviaram os olhos por instantes.

O Winchester queria poder conversar com ela sobre a decisão de seu casamento com Sam, mas longe das vistas do irmão, queria poder convencê-la a se afastar para sua própria segurança.

Ela desejava o mesmo, sentia que devia dizer algo, que devia explicar com mais sensibilidade a sua decisão. Sabia que Dean nutria sentimentos por ela, embora não soubesse o quão profundos eram.

– Lugar cheio, né? – comentou Dean fingindo que prestava atenção ao redor. Bebeu um gole de cerveja de sua garrafa

– É – ela replicou laconicamente. Também fez o mesmo.

E ficaram silenciosos de novo. Ruminavam em como e quando poderiam conversar quando Sam se aproximou e sentou-se entre eles.

– Conseguiu falar com o Cass? – questionou Dean sorvendo outro gole

– Eu deixei uma mensagem. – voltou-se para Vic – Falei do seu carro também e onde está. Então vocês têm uma teoria? Do porquê de tantos ataques?

Vic negou com a cabeça. Não achava mais que fosse por causa dela. Esperava.

– Não sei. – retrucou Dean – Talvez pra pegar a garota profeta?

– Se ela é mesmo uma profeta. - insinuou Vic

– O que quer dizer?

– Eu não sei... É uma sensação estranha. Tem alguma coisa nessa tal de Leah que não me agrada.

– A mim agradou bastante – rebateu Dean – Podia ter mais profetas como ela.

Vic o olhou, torcendo a boca para ele e com os olhos estreitados. Ele sorriu malicioso. Sam pigarreou.

– Bem, talvez essa sensação seja por causa do que ela representa. De quem ela representa. – fez uma pausa – Os anjos estão mandando essa gente fazer seu trabalho sujo.

– É. E? – tornou Dean com tédio

– E eles podiam virar picadinho.

– Todos vamos morrer, Sam, daqui a um ou dois meses. – disse como se não fosse nada

– Não brinque com isso, Dean – Vic o repreendeu

– Estou falando sério. É o fim do mundo. Mas essas pessoas não estão pirando. Na verdade, eles procuram pela saída de forma organizada. Não sei se essa é uma coisa tão ruim assim.

Vic virou o rosto e balançou a cabeça com um sorriso sarcástico.

– Quem disse que eles todos vão morrer? – Sam retomou – O que aconteceu com nós os salvando?

Vic acenou com a cabeça concordando. Dean não retrucou, apenas fitou a ambos. O barulho do sino da igreja interrompeu a conversa. Todos no bar começaram a se dispersar e sair. Os caçadores ficaram em seus lugares observando o fluxo.

– Foi algo que eu disse? – questionou Dean

– Paul, o que está acontecendo? – Sam perguntou ao dono do bar

– A Leah teve outra visão.

Os caçadores se entreolharam.

– Querem ir à igreja? – sugeriu Sam

– Você me conhece. Sou super religioso. – ironizou Dean

– 0 –

Na igreja, o pastor forneceu instruções que eram passadas pela filha em seu ouvido a respeito da localização de um grupo numeroso de demônios.

– Quem vai se juntar a mim? – solicitou o pastor

– Não perderia por nada – Rob foi o primeiro a levantar o braço, seguido de sua esposa.

– Alguém precisa dar cobertura pro Rob – Paul também se ofereceu sentado em outro banco. Trocou um olhar e um sorriso amistoso com o amigo.

– Conte com a gente, padre – Dean falou por seus companheiros

– Obrigado – disse o pastor – Gostaria de fazer uma oração.

Todos fizeram posição de oração, exceto Paul e os Winchesters.

– Pai nosso que estais no Céu... – iniciou o religioso

– Mal ele sabe – Dean sussurrou.

Vic o cutucou e também se colocou em posição de oração. Não iria perder sua fé somente porque um anjo que se dizia mensageiro de Deus havia dito que não restava nada mais a fazer. Ela ainda acreditava que havia algum engano naquilo.

Rob olhou para trás e notou que Paul não estava rezando; ao contrário, encontrava-se numa postura relaxada. Sam e Dean também notaram esse pormenor e surpreenderam-se ao ver o homem pegar uma garrafa de metal e beber.

Após as orações, o pastor e os voluntários da missão partiram. Em duas horas, estavam no local indicado. Uma casa grande, velha e abandonada.

A um sinal do pastor, separaram-se. Os Winchesters, Vic e Dylan pelos fundos e os demais pela frente. Um demônio surpreendeu Dean por trás espiando pela janela e tentou atacá-lo, mas Dylan interveio e atirou. Depois, exorcizou-o.

O resto da operação acabou sendo um grande sucesso. Exorcizaram, atiraram, jogaram água benta e até mataram com a faca especial os demônios. Não restou nenhum. Todos estavam satisfeitos. Dean, Sam e Vic caminhavam mais atrás do grupo.

– Ah, acho que a sensação é essa – desabafou Sam

– De quê? – perguntou Dean

– Ter ajuda.

O grupo se separou para irem em veículos diferentes.

– Dean! Sam! Victoria! – Dylan correu animado até o Impala

– Fala – Dean fechou o porta-malas e prestou atenção no rapaz

– Ei, tudo bem se eu pegar uma carona com vocês? – perguntou mal disfarçando a admiração por ter trabalhado com eles e visto como eram ágeis e rápidos em lidar com demônios

Nenhum deles se opôs. Dean cumprimentou Rob com um aceno de mão enquanto este respondia com um assentimento de cabeça e dava partida na caminhonete

– Já salvou minha pele duas vezes. Mais uma e pode dirigir – declarou Dean. – Tem uma cerveja?

Dirigiu à pergunta a Sam. Este pegou uma lata dentro da mochila no banco de passageiro.

– Ei! - Dean a jogou para o rapaz que a pegou no ar. Ele estava de um lado do veículo, oposto ao dos três – Você mereceu. Não conte à sua mãe.

– Acredite, não contarei.

Ele riu, deu-lhe as costas, abriu a lata e começou a sorver o líquido. Sam pegou cervejas pra seus companheiros também, brindaram e começaram a beber.

De repente, uma mão pegou no tornozelo de Dylan e puxou-o para debaixo do carro. Ele gritou. Dean e Vic deram a volta para acudi-lo enquanto Sam puxou a perna da criatura que estava escondida sob o Impala. Era uma demônio. Sam a matou com a faca.

– Dylan! – Vic o chamou.

Ela e Dean o puxaram de volta. Os olhos do jovem estavam arregalados.

– Por favor, não... – sussurrou Vic

O loiro pôs a cabeça do jovem sobre seus braços enquanto Vic verificava a pulsação. Dean puxou a gola de sua jaqueta, havia um corte profundo de faca no pescoço dele.

Sam foi até eles. Os dois estavam com os rostos angustiados.

– Não... – gemeu Dean

– 0 –

De volta à cidade, na capela, quatro homens colocaram o caixão com o corpo do rapaz diante do altar. Os três caçadores observavam da porta com um sentimento de culpa e pesar.

Rob e Jane chegaram abraçados vestidos de luto com profunda expressão de tristeza e dor.

– Senhora, nós sentimos muito – adiantou-se Dean fitando a mulher

– Se pudermos fazer alguma coisa... – completou Vic

–O que podiam fazer, não fizeram por meu filho – ela alternou o olhar entre os dois com lágrimas nos olhos e voz chorosa e amargurada – Sabem... É culpa de vocês.

– Jane. – Rob a repreendeu suavemente

Vic abriu aboca para retrucar, mas se calou. Sabia que a mulher estava consumida pela dor. O casal entrou. Os caçadores se entreolharam aborrecidos, mas sem trocarem palavras.

– Eu gostaria de saber o que dizer. Mas não sei. – o pastor começou a proferir a cerimônia diante de uma igreja lotada. Fitou os pais de Dylan – Sinto muitíssimo, Jane. Rob. Não há palavras. Dylan... Não sei porque isto aconteceu – voltou-se para todos – Não sei porque tudo isso está acontecendo. Não me vem respostas fáceis. Mas o que sei é...

Súbito, Leah caiu no chão.

– Leah? Leah, querida? – o pastor foi socorrê-la

A moça começou a se contorcer diante de todos que começaram a se levantar de seus lugares.

– Leah, querida? – o pastor pegou na mão da filha, cada vez mais preocupado. Tentava reanima-la – Está tudo bem, amor. Está tudo bem.

Aos poucos, ela foi se recompondo até se sentar. Seu olhar estava vazio como se ela estivesse em outro lugar

– Pai, é o Dylan. – informou

– Só descanse um segundo, está bem?

– Não, escutem. O Dylan está voltando.

Todos a olharam perplexos, sobretudo Rob e Jane. O pai de Leah a levantou e conduziu-a até o caixão do moço conforme ela pediu. De costas para o altar, ela se dirigiu aos pais do moço:

– Jane, Rob, vai ficar tudo bem. Vocês verão o Dylan outra vez.

Os dois se entreolharam confusos.

– Quando o dia final chegar, o dia do julgamento, ele vai ressuscitar e vocês ficarão juntos outra vez. Todos nos reuniremos com nossos amados. Fomos escolhidos. Os anjos nos escolheram. E nos será dado o Paraíso na Terra. Basta seguirmos os mandamentos dos anjos.

Todos da igreja se emocionaram, sobretudo Rob e Jane que ficaram mais confortados. Até mesmo Dean e Sam se comoveram.

Quanto a Vic, aquelas palavras da Leah lhe soavam como um doce canto de sereia que servia para hipnotizar, mas no fundo era apenas um embuste. Algo dentro de si não a convencia, o que era uma ironia já que ela era a mais crédula dos três.

Leah comunicou as recomendações (e proibições) dos anjos e todos da cidade concordaram prontamente em seguir. Paul era o único que não aceitava, mas guardou sua opinião para si.

Os três caçadores saíram um pouco atônitos com aqueles "mandamentos".

– Sem bebida, jogatina e sexo antes do casamento? – Sam enumerou nos dedos os pontos de que se lembrava. – Dean, eles praticamente declararam ilegal noventa por cento de sua personalidade.

Vic riu.

– Já você e eu, Sam, acho que não vamos poder dividir o mesmo quarto hoje. – falou

Ele esboçou um sorriso conformado e deu de ombros. Quanto a Dean, permaneceu sério.

– Em Roma, faça como os romanos. – disse num tom monótono

– Então, você está de boa com isso? – inquiriu Sam com ar debochado

– Não estou de boa, é que... Olha, cara, não sou profeta. Não somos daqui. Não cabe a mim.

– Dean, algum problema? – Vic o indagou.

Desde algum tempo naquela cidade, notou o estado de espírito do caçador. Na verdade, o estava observando desde a mensagem de Joshua. Dean parecia mais desanimado e sem motivação, mas ali e, principalmente, depois da notícia do casamento entre ela e Sam, Vic o notava mais ainda.

– Nenhum. – fez uma pausa. O casal o fitou com descrença. –Ele mordeu os lábios deliberando sobre alguma coisa. Olhou para a igreja e, em seguida, para seus companheiros – Alcanço vocês depois.

Entrou novamente para o local. Vic e Sam trocaram um longo olhar preocupado, mas nada disseram. Voltaram juntos para o motel em que estavam hospedados.

– 0 –

Dean abriu a porta que dava acesso a uma pequena sala nos fundos da igreja. Num sofá, encontrava-se Leah estirada com os olhos fechados e massageando as têmporas.

– É uma má hora? – perguntou o Winchester

– Quase sempre, mas agora está bem – disse ela se ajeitando

Ele fechou a porta.

– Essa coisa de anjo acaba com você, né?

– Não posso reclamar. Sei que seu caso é pior. – ela esperou que ele se sentasse – Então, o que passa pela sua cabeça, Dean?

Ele fez uma pausa antes de prosseguir

– Não entenda mal, mas... você estava sendo sincera?

– Sobre o quê?

– O Paraíso.

– O que tem ele?

– Quero saber o que os anjos estão te falando. Tudo.

– Bem... – ela fechou os olhos para refletir no que diria

– Esqueça o arco-íris – ele foi direto

– Será a recompensa de uma luta e vai ficar feio. Mas depois que vencermos, e venceremos, o planeta ficará com os escolhidos e finalmente teremos paz. Sem monstros, doenças ou morte. Ficará só com as pessoas que ama.

Ele piscou com desdém.

– Claro, isso se passar pelo tapete vermelho. Deve ser legal, ser escolhida.

– Bem, Dean, você foi escolhido.

– É – respondeu com desânimo – Estou mais pra amaldiçoado.

Ele se levantou pronto para ir embora.

– Deve ser difícil – prosseguiu Leah. Ele se voltou para ela – Ser o recipiente dos Céus e não ter esperança.

Dean ainda ficou parado a observando. Pensou que ela não fosse dizer mais nada, porém, mal deu as costas, Leah o inquiriu:

– Por que você não abre seu coração para ela?

– O... o quê? – ele piscou várias vezes um pouco confuso.

– Abra seu coração para ela, Dean. Para a Victoria.

Ele a olhou pasmo, mas tentou desconversar.

– Não sei do que está falando.

– Eu vi o que acontece com vocês dois, caso você se negue a Miguel.

O Winchester engoliu em seco, mas nada disse.

– Vi vocês dois casados – tornou a moça – O seu irmão tomado pelo Diabo e matando Victoria.

– Ele não vai fazer isso – Dean balançou a cabeça para os lados – Vic se tornou uma forte razão pro Sam não se entregar a Lúcifer.

– Se tem tanta certeza disso, então por que perdeu a fé no seu irmão?

Mais uma vez, Dean não conseguiu argumentar.

– A convença de todo o jeito a se afastar pelo bem de todos, Dean. Se preciso for, abra seu coração pra ela e conte sobre essa viagem no tempo que você fez.

– Ela não vai me ouvir.

– Tente.

Dean continuou parado olhando para Leah. Por fim, ela se calou, voltou a se escorar no sofá e continuou a massagear as têmporas.

O Winchester saiu de lá sem saber o que fazer. Falar com Victoria. Contar sobre o que lhe acontecia no futuro. Confessar seus sentimentos. Não, essas duas últimas medidas ele não tinha coragem de fazer.

Mas e se fosse seu último recurso para salvá-la?


Notas Finais


Bem, nos próximos capítulos, preparem os corações! Vão acontecer duas situações que vão abalar! Uma as Deangirl vão adorar! Muita emoção!

Até lá!


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