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História Almas Trigêmeas - Enquanto você dormia (parte 1)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Olá, pessoal!

Preparem-se para um capítulo cheio de emoções... e mistérios!

Capítulo 47 - Enquanto você dormia (parte 1)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Enquanto você dormia (parte 1)

Anteriormente:

O diabo que, até então estava com expressão neutra, pareceu levar um choque ao fitar Victoria.

– Você é.... - ele parecia ter perdido a fala

Sam instintivamente puxou a namorada para trás de si a fim de protegê-la como se ele fosse um escudo.

– Ela o quê? - indagou intrigado

– A Indomável... suponho.

Foi o que disse voltando a assumir sua expressão neutra. Todavia, o Winchester teve a ligeira impressão que o diabo por um breve instante entrara em pânico ao ver Collins.

(...)

– Uma coisa tinha me deixado intrigada, mas não dei muita importância na época. Só que quando possuí a namorada dele, percebi que os padrões de suas mentes são iguais. O Sam também possui o mesmo tamanho do bloqueio dela.

– Uma coisa tinha me deixado intrigada, mas não dei muita importância na época. Só que quando possuí a namorada dele, percebi que os padrões de suas mentes são iguais. O Sam também possui o mesmo tamanho do bloqueio dela.

O diabo não pareceu impressionado, era como se já soubesse. Apenas disse:

– Ótimo. Fico feliz por mais essa informação. Agora, Meg, tenho mais uma missão pra você. Você a fará?

– Claro, Pai, é só me pedir.

– Essa não vai ser tão fácil e divertida.

Ele afiançou num tom que não agradou a demônio. Porém, ela estava disposta a fazer tudo para agradá-lo.

(...)

Até então Miguel nem tinha dado por sua presença, todavia, no momento em que ouviu o som de sua voz chorosa, ele apenas lhe dirigiu um olhar desinteressado. Mas assim que viu o rosto dela, sua expressão se contorceu de visível espanto.

– É você!? Aqui!? – o tom enérgico e alto assustou a ela e a Dean

Victoria o olhou apavorada. No olhar do arcanjo, havia um misto de pânico e ao mesmo tempo, satisfação. Collins se sentiu por um segundo como uma barata que alguém temesse em encontrar, mas ao mesmo tempo, sentia-se satisfeito por achar porque pretendia exterminá-la.

Instintivamente, ela se encolheu. Miguel deu um passo até ela, mas Dean se postou rapidamente na sua frente.

– Afaste-se dela! – esbravejou com uma careta de dor pelo esforço

Miguel se recompôs e fez o que o caçador disse. Tanto o loiro como a caçadora estavam confusos com a atitude dele.

(...)

– Agora você é vadia de Lúcifer. – zombou Dean fazendo esforço para se soltar. – E isso só pra manter a Victoria longe da gente?

– Não. Não é só por isso. Lúcifer a quer fora do caminho de vocês. Foi por isso que me contatou através de uma demônio.

– Deixa ver se eu adivinho: Meg.

– Sim. Ele é muito poderoso. De outro modo, não teria conseguido fazer com que ela chegasse até mim. Como vocês notaram, nem demônios têm acesso fácil a esta ilha.

– Engraçado, pra quem fez um acordo com o Diabo, você não está cumprindo sua parte. Você pretende matar, Sam. Não sabe que ele o receptáculo de Lúcifer.

– Ele pode ressuscitá-lo depois, que eu sei. Pelo menos lhe fiz um favor maior tirando Elizabeth do caminho dele. Mas não me importa o que ele quer. Eu fiz por mim... e por ela. Eu só quero protegê-la! Eu a amo!

– Amor? Você se chama isso de amor? – retrucou Sam cada vez mais furioso

– Muito mais do que você, Sam Winchester! Você acha que a ama mesmo? Pois eu digo que não! Prova maior é você ter se envolvido com ela, mesmo sabendo o quanto é perigoso por causa de Lúcifer.

(...)

– O que você quer? – insistiu Collins ignorando o comentário

– Sem rodeios? Ótimo, aprecio isso. Vim apenas lhe dar um aviso. – fez uma longa pausa bem calculada como se quisesse despertar certa agonia em Victoria. Ela permaneceu calada, mas não lhe fez perguntas para não demonstrar ansiedade. – Para seu bem, se afaste de Sam Winchester assim que você acordar.

– Senão...? – Vic levantou o queixo em sinal de desafio, aguardando o resto da ameaça implícita.

– Quer mesmo que eu diga?

– Não gosto de recados dados pela metade.

– Oh, minha querida, você honra a sua reputação, apesar de tudo – ele alargou o sorriso cínico – Bem, senão serei obrigado a tomar atitudes mais drásticas.

(...)

– Por isso é que meu time vai vencer – gabava-se a Prostituta para Dean – Você é a grande casca? Você é patético, infeliz e sem fé. Isto é o fim do mundo... e você vai sentar e deixar acontecer – Dean estava quase sem forças. Leah riu e aproximou mais seu rosto de Dean – E vai assistir sua namoradinha morrer. Deveria ter me ouvido, Dean. Deveria ter feito o que eu disse pra convencê-la a se afastar. Lúcifer está na cola dela e você vai ser o responsável quando ele possuir seu irmão e arrancar o coração dela.

 

Enquanto Você Dormia (1ª parte)

 

Dois meses antes

Jerusalém, Israel

Meg caminhava por entre as ruínas de um antigo templo judaico. Não lhe agradava estar ali e nem a tarefa que teria que realizar. Contudo, ordens eram ordens. Devia cumprir a missão que seu Pai havia lhe confiado. Felizmente, usava uma pulseira cujo material não saberia dizer de que era feito. Só sabia que o objeto a protegeria de ser aniquilada. Lúcifer havia garantido. Mesmo assim, faria qualquer coisa por Ele, até arriscar sua própria vida.

Com um suspiro, aproximou-se do que era um antigo altar. Tirou uma faca de dentro de sua jaqueta e, com ela, fez um corte sobre o braço direito. Deixou que o sangue pingasse sobre uma pedra, resquício do altar e pronunciou algumas palavras decoradas em hebraico.

De repente, um feixe de luz surgiu diante dela. A luminosidade cegou seus olhos e ela os cobriu. Sentiu uma espécie de vibração percorrer todo seu corpo. Teve a estranha sensação de que iria explodir, mas sentiu que a pulseira drenava aquela energia.

E da mesma forma que a luz surgiu, desapareceu repentinamente. Meg olhou ao seu redor e não viu nada. Diabos, será que havia feito algo errado? Mas seguiu todas as instruções passo a passo.

– É muita coragem sua se atrever a chamar um de nós aqui, demônio.

Meg se assustou ao ouvir aquela voz forte e severa atrás de si. Virou-se em direção ao dono dela. Era Zacarias. Ostentava um semblante nada amigável. Mesmo aterrorizada, ela não pretendia demonstrar fraqueza ou pavor. É claro que tampouco demonstraria ousadia. Apenas se manteve com expressão neutra e procurou manter o tom de voz da mesma maneira:

– Vim por ordem de meu Pai. Lúcifer.

– É evidente que sim. Somente a pulseira que ele lhe deu lhe protegeria de ser fulminada no instante em que me invocou – ele chegou bem perto dela, o rosto quase encostando para intimidá-la – Demônios mais antigos que você que tiveram acesso a esse lugar e se atreveram a fazer o mesmo ritual não tiveram nem chance de dizer a que vieram.

– Estou ciente – Meg tentou se manter firme na voz e na postura, a despeito de querer recuar e sair correndo – Vocês atiram primeiro e perguntam depois, como os Winchesters.

– Não se atreva a me comparar com estes macacos, cadela do Diabo. Ou juro que arranco sua língua assim como essa pulseira agora mesmo. – o tom que Zacarias usou era baixo e comedido, mas o suficiente para causar temor em qualquer um. Sorriu perversamente – Sem ela, você fica à minha mercê.

– Que seja – Meg empinou a cabeça com valentia – Tenho um recado urgente de Lúcifer para seu chefe.

– Seja o que for, diga que meu chefe não está interessado. Lúcifer tentou contatá-lo, mas Miguel se recusa a escutá-lo. Só vão conversar no Grande Dia. Ou melhor, nem conversa vai ter. Se Lúcifer achou que mandando você aqui como último recurso para ser levado a sério, mudaria algo, perdeu tempo. – virou-se e deu às costas à demônio – É tudo.

– Não irei até que o recado seja dado – insistiu Meg – Pode me fulminar, matar ou o que quiser, mas terá que me ouvir.

Zacarias se voltou para ela.

– Oh, não sei se você é muito corajosa ou muito burra para se atrever a me dirigir a palavra assim – ele colocou a mão no queixo e coçou-o – Sabe, normalmente eu reduziria coisas como você em menos do que pó. Mas como fiquei curioso, posso reconsiderar. Lúcifer parece mesmo desesperado para falar com Miguel, embora ele ache que possa ser algum truque. Vamos ver... como sou o intermediador, posso verificar o teor do recado. Se eu considera-lo viável, talvez não te desintegre aqui mesmo – levantou o indicador e aproximou-se de Meg –Talvez...

Meg engoliu em seco, mas disse:

– Lúcifer deseja falar com Miguel na mansão de Crowley. Diga a seu Chefe que é sobre a Profecia dos Três... e sobre Isabel.

Zacarias não conseguiu esconder a surpresa em sua fisionomia.

– Lúcifer está de brincadeira, não? Ele acredita mesmo que Miguel vai levar a sério um recado como esse?

– Ele disse que Miguel entenderia. E disse também que se você não der o recado, Ele recorrerá a medidas extremas pra avisar seu Chefe e dirá que você se recusou a lhe falar.

Meg se calou, escondendo seu receio. Zacarias a fitou longamente. Ela provavelmente não sabia o que significava aquela mensagem, mas isso não significava que poderia ser um blefe do Diabo.

O anjo estava num impasse. Temia que se o recado fosse apenas uma brincadeira, aquilo lhe custaria mais do que uma bronca. E Miguel estava bastante intratável ultimamente. Culpa dos Winchesters, como sempre.

Por outro lado, o que Lúcifer estaria planejando com aquilo? Não poderia alterar as coisas com qualquer tipo de truque. E se por uma precaução tola, Zacarias não passasse o recado e aquilo arruinasse os planos de seu Chefe, sobraria para ele. É, seria muito pior se não falasse com o Arcanjo.

– Está bem. Diga a Lúcifer que o recado será dado. – empertigou-se com orgulho. Meg não pôde esconder seu sorriso de satisfação, o que o incomodou – Agora vá. Você tem exatamente dois segundos para desaparecer de minha vista.

A demônio sumiu sem deixar vestígios.

– 0 –

Lincoln, Nebraska, Estados Unidos

Lúcifer observava próximo a uma árvore a festa que seus servos faziam ao queimar a mansão de Crowley, isso logo depois de terem devorado o alfaiate bem como o cozinheiro dele. As criaturas agiam piores do que adolescentes desvairados.

Demônios, pensou com desprezo. Não via a hora de se livrar deles quando não mais precisasse de seus serviços. Crowley não estava errado em supor que assim seria, mas foi burro o suficiente para ousar tentar escapar de seu destino e antecipar o inevitável.

Bom, não o inevitável. Sua punição vai ser muito pior do que morrer, meu caro Crowley.

Súbito, de onde estava escutou um som fraco, porém, audível o suficiente para seus ouvidos. Sorriu. Por fim, Miguel atenderia seu chamado. Meg era mesmo eficiente, tinha que admitir. Só queria saber em que tipo de recipiente seu irmão viria. Duvidava que encontrasse algum realmente bom que pudesse comportá-lo por mais do que um dia. Ele mesmo teve dificuldades em achar Nick e em conseguir mantê-lo até o momento.

– Crianças, vão – disse Ele se dirigindo aos demônios – Vou ter uma conversa importante com alguém.

– Mas, Pai... Agora que estamos nos divertindo pra valer! – protestou um dos demônios

– Não conteste nosso Pai – recriminou Meg dando um tapa na orelha de seu colega – Se Ele diz pra gente ir, a gente vai.

– Está certo – murmurou com um olhar de ódio para Meg, mas sem ousar contestá-la – Vamo embora, pessoal.

Em poucos instantes, todos sumiram dali. Não decorreu nem um segundo quando Miguel surgiu diante de seu irmão. Usava um corpo de uma loira estonteante e fogosa que usava um minivestido preto que mal a cobria.

– Olá, irmão – Lúcifer o saudou e olhou-o de cima a baixo, deixando entrever um pequeno sorriso de zombaria – Vejo que... encontrou um recipiente bastante adequado para essa conversa.

– Guarde seus comentários idiotas pra você. – tornou o outro com expressão séria – Não tenho muito tempo. Esse recipiente não me suportará por muitos minutos. Fale logo o que é tão urgente.

– Recebeu o meu recado, não é? Sabe do que se trata.

– Poderia ter sido mais sutil, não? Zacarias me passou a mensagem como se quisesse saber mais a respeito.

– Ele o questionou por acaso?

– Ele não se atreveria. Mas eu o conheço. No mínimo ficou intrigado. E o que menos precisamos é de que algum anjo saiba mais a respeito.

– Desculpe, irmão, você não me deu muita escolha. Não respondeu aos chamados que lhe enviei anteriormente.

– Não confio em você. Conheço seus truques.

– Por favor, Miguel, assim você até me ofende. Pode dizer qualquer coisa contra mim, mas não pode dizer que eu não honre meus compromissos. Se fosse assim, já teria dado um jeito em Dean Winchester há muito tempo.

– Primeiro, você não o fez porque como eu não consegue localizá-lo. E segundo, você sabe que eu fulminaria Sam Winchester em resposta.

– Ora, ora, irmão, sem hostilidades. Não é hora de disputarmos entre nós, temos que nos unir e dar uma trégua. Há um Inimigo em comum.

– Nossa querida e inconveniente irmã Isabel. Já suspeitava que ela quer nos atrapalhar como sempre. – Miguel fechou mais ainda a expressão – Anna estava presa no Céu e foi libertada por um grupo de anjos que se rebelaram contra mim há tempos. Acredito que sejam partidários dela.

–Então você concorda que ela seja uma pedra grande no nosso caminho?

– Sim. Ela...e Victoria Collins. Elas têm sido pedras há milênios no nosso Destino.

– Por falar na tal Victoria, tem uma coisa que eu não entendo, irmão. Todo esse tempo em que estive preso, você poderia sozinho ter resolvido esse probleminha de uma vez.

– Não me critique, você também no meu lugar não teria conseguido nada. Eu tentei várias vezes, mas há uma proteção sobre a alma daquela mulher que me impede de localizá-la. Isabel pensou em tudo.

O Diabo não retrucou.

– É claro que não é infalível porque só dura durante sua infância e some quando ela está prestes a se tornar mulher. Mesmo assim, Isabel sempre se adianta e sabe o momento exato de colocar o cunho nela sem matá-la e continuar que não seja localizada.

– Então... não há nenhuma brecha.

– Houve uma. Dessa vez, houve uma. Consegui encontrá-la nesse ponto exato antes da intervenção da nossa irmã... Achei que a tivesse eliminado. Mas não. De alguma forma, ela foi salva sem eu perceber.

– Você acha... que pode ter sido Ele?

– Não, claro que não. Ele sumiu há muito tempo... Por que se incomodar com uma simples macaca quando sou eu que estou cumprindo a vontade dele?

– Na sua opinião – Lúcifer sorriu com desdém

– Acredito que... foi alguma magia forte, outra precaução que Isabel preparou, caso eu tentasse interferir no destino deles. – Miguel ignorou o comentário do Diabo

– Você quer dizer maldição. Aliás, maldição que você mesmo determinou.

– Um erro de cálculo, admito.

– Não se preocupe, irmão. Agora que estou livre depois de tanto tempo, fica mais fácil nós burlarmos esse... seu erro de cálculo e cumprirmos o nosso destino e de nossos recipientes.

– O que você tem em mente?

– Hum... vai colaborar comigo? Fico contente.

–Só nesse caso. Não confunda as coisas, Lúcifer e nem tente me manipular. Nosso confronto vai acontecer.

– Tudo bem, irmão. Uma coisa de cada vez.

– Diga logo o que planeja, este receptáculo está prestes a se explodir.

– Calma, mano. Você sempre foi o mais tranquilo de nós dois – fez uma longa pausa proposital – Ouvi dizer que há um bruxo poderosos obcecado por Victoria.

– Sim. George Tudor, mas ele também não pode localizá-la. Parece que Isabel notou o quanto ele poderia ser inconveniente.

– É, uma coisa você tem que admitir em nossa irmã. Ela poder ser chata, mas é perceptiva e tem boas ideias. – o Diabo sorriu

– Não tão boas assim.

– É, uma delas nos levou aonde estamos. Mas de qualquer jeito, sinto falta daqueles tempos antes do que nos aconteceu.

– No que você pensou? – Miguel o cortou, claramente desconfortável com o comentário.

– O tal bruxo não precisa exatamente achar Victoria Collins. Basta encontrar quem está com ela.

Miguel assentiu.

– Entendo. Belo plano, irmão, tenho que admitir.

– Obrigado.

– Mas sabe que eles farão de tudo para encontrá-la e mesmo sendo só homenzinhos insignificantes, tem que admitir que não são fáceis.

– É por isso que sempre guardo vários ases na manga. Se esse bruxo não der conta do recado, meus demônios estarão a postos para eliminar Victoria Collins definitivamente.

– É mesmo? E como você pretende fazer isso se também não pode...

Miguel não completou a frase. Seu recipiente explodiu para todos os lados. Uma onda de luz se espalhou por aquela região seguida de um ruído capaz de estourar tímpanos humanos. Em seguida, a luz e o som desapareceram.

– Tão cedo, irmão? – sussurrou Lúcifer ostentando um leve sorriso de deboche – Até logo. Te mando notícias.

– 0 –

Agora

– Eles estão saindo... e a vadia está sozinha no carro! – avisou a demônio observando Dean, Sam e Vic pelo binóculo – Quero matá-la logo! Ela teve coragem de trair Sam com o próprio irmão!

– Ah, foi só um beijinho de nada. Podia ter rolado um espetáculo maior – comentou o outro demônio esfregando uma mão no peito.

– Deixe de ser cretino!

– Nossa, tá toda sentimental! E isso por causa de Sam Winchester? – zombou – Desde quando virou fã dele?

– Desde que ele se tornou a roupa favorita de nosso Pai. E pra ser sincera, eu adoraria tirar uma casquinha... E essa vadia age como se fosse a rainha da cocada preta ficando com os dois irmãos.

– Ora, vamos, você agiria igual ou pior.

– É, mas só que sou uma demônio. Eu posso.

– Tá bom.

– Vamos logo! Me deixe acionar esse aparelho!

– Tire as mãos! Só eu posso mexer nele – o loiro afastou o dispositivo do alcance de sua colega Calma! Não vamos botar tudo a perder agora. Deixa eles pegarem a estrada primeiro.

– 0 –

Vic, Sam e Dean se despediram de Gideon e desejaram sorte e força para que reerguesse o ânimo dos habitantes da cidade. Ele ia precisar. Quanto a Cass, havia desaparecido pouco depois da meia-noite sem deixar vestígios; na certa, já estava recuperado da praga da Prostituta.

Dean não discutiu quando Sam declarou que viajaria com ele. Primeiro, já estavam viajando juntos nos últimos dias, com exceção da noite anterior em que levaram Cass e Guideon feridos em diferentes carros; segundo, imaginava que Victoria alertara o namorado sobre suas intenções de se entregar a Miguel; e terceiro, a culpa que sentia pelo beijo.

Será que Victoria contou a Sam? O irmão estava tenso, com a expressão vigilante e talvez irritado, mas não furioso. Significava que não sabia dessa parte.

Os sentimentos de Dean sobre o beijo estavam confusos. Não sabia se sentia felicidade, culpa ou raiva. Talvez os três. Raiva de quem? De Vic ou de si mesmo? De qualquer jeito, não queria pensar a respeito do que havia acontecido entre ele e Collins e, muito menos com Sam ao seu lado.

Ele nem iria contar para Sam, isso estava fora de cogitação. Não era nem pela relação entre eles; àquela altura nem mais se importava. Era por Vic. Não ia prejudicar seu relacionamento com o irmão.

Ah! A cabeça estava uma pilha! Era Vic, era Sam, o casamento deles, o Apocalipse, a Prostituta, Lúcifer, o “sim” que desejava proclamar a Miguel. E agora deveria elaborar uma maneira de fugir da vigilância de seus companheiros.

– E aí, Dean? O que você quer? – inquiriu Sam repentinamente interrompendo o fluxo de ideias do irmão.

– Hunh? – Dean confuso virou o rosto um pouco para ele

– Você quer parar de lutar?

Dean não retrucou e voltou os olhos para a rodovia em que dirigia.

– E não finja que não sabe do que estou falando – tornou Sam

– Não sei mesmo – deu de ombros se fazendo de desentendido

– Dean, pare – suspirou Sam impaciente – Não insulte a minha inteligência. A Vic me contou tudo o que vocês conversaram.

– O que ela te falou exatamente? – indagou com cautela. Receava que fosse sobre o beijo.

– Ah, tenho mesmo que falar? O seu brilhante plano de fuga para se entregar a Miguel!

– Ah, certo. – suspirou levemente com alívio

– Certo? É tudo isso que você tem a me dizer?

– Corta essa, Sam.

– Corta essa você, Dean! Você quer desistir de tudo, se entregar!

– Não sei. Talvez – disse cansado

– Não diga isso. – Sam balançou a cabeça e sorriu amargo

– Por que não?

– Porque não pode fazer isto.

– Na verdade, posso.

– Não. Não pode. Você não pode fazer isto comigo... e nem com a Vic. Não depois de tudo o que temos passado. Não depois de todos esses Tormentos e de tudo o mais. Pô, Dean, você acha que é o único aqui ralando? As únicas pessoas que me fazem seguir em frente são você e ela.

Dean não respondeu, em parte por causa da culpa. Mas nem aquele sentimento, aquela sensação de traição a Sam o deteria.

– Se vocês se sentem mais seguros, me vigiando, façam. – foi tudo o que disse.

– Pode apostar que vamos mesmo

– Vão se cansar à toa. – grunhiu.

E o assunto morreu entre eles.

– 0 –

Vou contar tudo ao Sam.

Vic se decidiu. Não, não poderia mais haver segredos entre ela e o Winchester. Ela tentou esconder sobre seu passado e sua vida e veja no que deu. Causou a ele mágoa e decepção, embora lhe perdoasse.

Tinha que contar sobre o beijo entre ela e Dean. Não. Tinha que contar sobre bem antes. Sobre os sonhos que também teve com ele. E sobre o que sentia. Não era tão forte como o que havia entre ela e Sam, mas era algo.

Ela sabia que corria um risco enorme de perder Sam. De talvez ele nunca mais querer olhar em sua cara. Mas se sentiria aliviada com a sua consciência. E mesmo que ele não a quisesse mais, não se afastaria dele enquanto não resolvessem a questão do Apocalipse. Porém, manteria à distância caso fosse sua vontade. E também manteria a distância de Dean. E depois de tudo resolvido... o adeus definitivo. Aos dois.

O coração se apertou. Suspirou. Tinha que pensar na pior das hipóteses. Sam era compreensivo, mas era pedir demais que aceitasse aquela situação entre ela e Dean. Ela não aceitaria.

Por outro lado, se houvesse a mais remota possibilidade de ele compreendê-la, o fato de ser sincera demonstraria que o amava e queria mesmo evoluir a relação deles num passo decisivo. Sem mais nenhum segredo.

O único problema era como ficaria a relação de Sam com Dean. Porém, não usaria aquilo como desculpa para mentir e enganar seu namorado. Os irmãos que se entendessem. E Dean que lhe perdoasse, mas aquilo era algo que tinha mais a ver com ela e Sam do que com ele propriamente.

O beijo. A lembrança acelerou o coração de Vic. Ela tinha que se esquecer daquilo. E tinha que agir com normalidade com Dean. Como se fosse fácil! Nem conseguiu encará-lo direito depois do acontecido. Só entrou no seu Impala após se despedir do namorado e evitar beijá-lo – em parte, por não achar certo após ter beijado o irmão dele e, em parte, por estar constrangida com a presença de Dean – e mal falou com o Winchester mais velho.

Ainda bem que Sam aceitou a sugestão de viajar com Dean, assim a deixava sozinha com os próprios pensamentos.

Sim, doa a quem doesse iria contar a verdade para Sam. Tornou a firmar sua resolução. Na próxima vez que fossem descansar, contaria a ele longe das vistas de Dean (teria que chamar Castiel e pedir que vigiasse o Winchester, já que não podiam perde-lo de vista nem por um segundo). Com esse pensamento, tranquilizou-se um pouco, embora a ansiedade em fazê-lo tomasse conta.

Procurou focar sua atenção na rodovia. O carro de Dean estava alguns metros à sua frente. Um caminhão de gás e longa carroceria vinha em direção contrária a deles.

Victoria não notou o veículo que seguia seu carro a considerável distância. Nele, estavam os demônios que tramavam sua morte. O loiro informou à sua parceira:

– É agora. Vou fazer.

– Já não era sem tempo! – exclamou ela batendo palmas com entusiasmo como uma criança ansiosa por um presente – Rápido!

O demônio apertou um botão vermelho do dispositivo e começou a mexer uma pequena manivela que havia no meio.

Em seu Impala, repentinamente, Victoria perdeu o controle do volante. Seu carro começou a se desgovernar.

– Que isso, meu Deus? – estranhou

Viu que o Impala de Dean ultrapassou o caminhão sem maiores problemas. Quanto a ela, seu veículo foi guiado de tal forma a ficar defronte o caminhão.

– Deus, o que está acontecendo? – gritou aflita tentando inutilmente retomar o controle.

O motorista do caminhão viu tarde demais o que ocorria e freou. Todavia, o peso era tanto que derrapou ainda uns metros com a carroceria virada para o lado.

Vic gritou de desespero antes de seu carro se chocar.

– 0 –

Alguns minutos depois, Dean e Sam ouviam um barulho de explosão atrás de si. Dean tomou um susto e brecou repentinamente. Os corpos dos Winchesters se inclinaram para frente num solavanco sendo segurados pelos cintos.

– Dean, que isso? – reclamou Sam se endireitando

– Que isso digo eu! – replicou Dean e olhou para trás. Via-se uma fumaça e chamas na rodovia – Que explosão foi essa?

– Victoria... – Sam arregalou os olhos e também virou o rosto para trás. – Eu não vejo o carro dela, Dean!

Dean não disse nada. Apenas trocou um olhar de pânico com o irmão, brecou para trás e girou o automóvel em direção à explosão.

Chegaram e viram grande parte do caminhão destruída pelo fogo. A rodovia estava bloqueada pelas chamas e alguns destroços do transporte. Os dois desceram do carro e deram a volta por uma brecha daquele fogaréu. Cada um pedia mentalmente que Victoria não estivesse envolvida naquele acidente. Que fosse apenas uma testemunha.

– 0 -

– Está feito, Meg – disse o demônio loiro ao celular - Avise ao Pai que tudo saiu conforme o previsto.

– Ótimo - respondeu a voz de Meg do outro lado da linha - Mas fiquem de olho e se certifiquem que ela não sobreviveu.

– 0 -

Dean e Sam avistaram uma fileira de carros que se engarrafaram no trecho. Um aglomerado de pessoas circundava alguma coisa. Ou alguém. Com o murmúrio alto de suas vozes não se conseguia ouvir muita coisa.

Viram o carro que se chocou contra o caminhão entre a parte da frente e sua carroceria. Parecia todo destruído e chamuscado. Não se conseguia identificar o modelo e nem cor. Os Winchesters nada comentaram, a apreensão tomava conta deles. Olharam para todos os lados, mas nem sinal do Impala de Vic. Nem da própria Vic.

Sem trocar qualquer palavra ou olhar, ambos correram até o aglomerado. Era como se pudessem adivinhar quem estava ali.

– Me deixem passar! Me deixem passar! – disse Sam na frente afastando quem estivesse em seu campo de visão sem se importar em ser grosseiro.

Assim que atravessou aquela roda, parou. O que viu diante de si foi como se o mundo também parasse. Dean, que estava atrás dele, quase colado, também teve a mesma sensação.

Havia um homem claro, grisalho, de meia-idade e boné sentado na rodovia. Era o motorista do caminhão. Havia leves escoriações em sua perna e braço direitos. Seu rosto estava pálido e ele respirava com certa dificuldade, mas não parecia muito mal.

Ao lado dele, estava um corpo... o de Victoria. Todo ensanguentado e com vários cortes, o rosto da mesma forma e uma ferida grande na altura do abdômen.

– Não! – o grito em uníssono dos Winchesters despertou a atenção das pessoas

Correram imediatamente até o corpo de Vic, mas foi Sam que se abaixou primeiro e pegou no rosto dela sem levantá-lo do chão. Não via mais nada ao seu redor.

– Vic! Vic! – gritava desesperado – Vic, fale comigo!

– Ei, não mexa nela... Ela ainda está respirando. – informou um rapaz com um celular próximo ao motorista. – Vocês a conhecem?

– O que aconteceu aqui, porra? – berrou Dean também desesperado pegando o moço pela gola

– Ei, calma, cara! – ele empurrou o Winchester para se soltar – Não tenho nada a ver com isso! Eu... só chamei a polícia e a emergência. Estão vindo pra cá.

– Ela... veio direto pra mim – disse o motorista com o tom lamurioso e o olhar perdido – Eu não pude virar a tempo. O carro dela parecia... sem direção. – abaixou o rosto – Eu não pude, eu não consegui... Só deu tempo de tirar ela do carro antes de tudo explodir, mas acho que ela não vai...

– Cale a boca, infeliz! – gritou Dean se contendo para não avançar no motorista – Não se atreva a falar mais nada ou juro que eu acabo com você!

Nem o motorista, nem o rapaz ou qualquer outra pessoa disse mais nada. O olhar feroz de Dean e seu tom de voz era o suficiente para amedrontar qualquer um. Em seguida, ele se abaixou ao lado do irmão. Este parecia alheio a tudo, só fitava o rosto de Vic. Sua face estava banhada de lágrimas e balançava a cabeça várias vezes tentando negar aquela visão terrível de sua namorada.

– Sam... Sam... – chamou Dean. Ele também estava a ponto de perder o controle ao vislumbrar Victoria ferida daquele jeito, quase... como morta. Porém, sabia que tinha que manter a cabeça no lugar – Sam!

– Ela... ela... – Sam não conseguia nem raciocinar, quanto mais falar

– Sam, escute... – Dean colocou as mãos nos ombros do irmão. Sentia um nó na garganta e um aperto no coração – Já chamaram a emergência... estão vindo pra cá. A Vic ainda está viva. Viva! Entendeu?

Sam não respondeu. Parecia desnorteado.

– Entendeu, Sam? – Dean teve que balança-lo – Ela está viva e não vai morrer. Não aqui. Não assim. E nem agora.

Por fim, Sam assentiu com o olhar meio disperso.

– Agora deixe ela...

– Não!

– Sam, você tem que larga-la. Não pode mexer no corpo dela mais do que já mexeram. A gente não vai sair de perto dela nem um minuto. É só... pra não tocá-la mais. OK?

– Certo – disse Sam num tom quase inaudível

Levantou-se junto com Dean e ficaram de pé. Não falaram mais nada, não havia palavras que pudessem expressar o tamanho da incredulidade e do desespero que sentiam por presenciaram a mulher que amavam naquela situação. Só podiam esperar.

E foi o que fizeram. Esperaram até o carro da emergência chegar junto com pelo menos quatro viaturas policiais. Depois, tudo se passou rápido. Uma equipe de paramédicos teve que imobilizar o corpo de Victoria por constatarem lesões e drenaram o sangue que escorria por sua boca. Em seguida, removeram-na com cuidado para o carro. Nesse meio tempo, um policial anotava o depoimento do motorista. Os outros policiais ordenavam que o aglomerado de gente se afastasse mais e circundaram a área do acidente.

O motorista explicou que o Impala foi em sua direção e que tentou parar o caminhão, mas não deu tempo. O veículo se chocou contra a carroceria e a frente. Depois do susto inicial e de verificar que não havia ferimentos graves em si mesmo, desceu do caminhão e foi acudir Victoria. Constatou que estava muito ferida e que uma ferragem perfurou seu abdômen. Mas apesar de saber que não era bom removê-la, não havia alternativa. Teve que tirar os estilhaços de vidro e de metal do carro sobre ela, retirar um pedaço de ferragem de seu abdomen e movê-la às pressas porque a qualquer momento o caminhão explodiria, pois o gás começava a sair. Foi uma sorte não ter ocorrido no impacto. Ele usou a gola da camisa para tapar o nariz o máximo que conseguiu para não inalar a substância, mas não pôde fazer o mesmo por Vic, preocupado em tirá-la do Impala e afastar-se dali. Instantes depois, houve a explosão.

Após esse relato, levaram o homem em uma viatura para ser examinado, apesar de não ter lesão grave. Afinal, havia inspirado um pouco do gás.

– Qual é o estado dela? - indagou Sam aflito a um dos paramédicos que examinou Victoria. Dean estava ao seu lado com expressão taciturna.

– Não sei. Só no hospital que poderão dizer com certeza. - disse o homem com reservas - Qual de vocês dois irá com a moça na viatura?

– Eu! - responderam os Winchesters ao mesmo tempo.

– Só cabe um.

– Meu irmão vai - disse Dean a contragosto – Eles... são noivos.

– Então vamos logo.

Sam ia subir no veículo, mas antes foi detido por Dean. Voltou-se para ele.

– Sam, por favor, cabeça fria.

– Não me peça isso. – foi tudo o que disse com a voz embargada

Dean também estava desesperado, mas precisava manter o controle ou enlouqueceria.

– Eu vou no Impala. A gente se encontra no hospital. – disse

Sam assentiu e entrou no carro junto com os paramédicos. O motorista do veículo fechou as portas traseiras.

Dean se afastou e observou o carro partir. E foi aí que tapou o rosto com ambas as mãos. Pensamentos negativos lhe vinham à mente e uma onda de sentimentos esmagadores lhe oprimiam. Começava a ficar no mesmo estado aflito de Sam.

Não, aquilo não podia estar acontecendo! Não com Victoria. Ela não podia morrer! Ela não morreria!

Suspirou e levantou o rosto, observando ao seu redor. Acercou-se dos destroços do que era o carro dela. A faixa o isolava. Viu caído fora da área, a poucos centímetros de distância de seus pés, a imagem minúscula de São Cristóvão que ficava no painel do carro de Victoria. Abaixou-se e pegou-o. Sorriu com amargura. O protetor dos motoristas não parecia ter feito um bom trabalho.

Ou talvez sim. Poderia ter sido pior. Poderia ter explodido o carro com Victoria dentro e nenhum vestígio de seu corpo restar.

Ele soltou uma gargalhada nervosa (algumas pessoas o fitaram com estranheza). Que pensamento otimista!

Dean se levantou com prontidão. O que estava acontecendo com ele? Não podia se dar o luxo de perder a calma. Bastava Sam.

Agia como alguém que havia perdido o grande amor. E não era assim. Victoria estava viva! Ainda. Não podia perder mais tempo. Tinha que ir ao hospital!

Sem saber o motivo, guardou o santo no bolso e correu para seu Impala. Bloqueou todos os pensamentos e sentimentos opressivos. Acelerou o carro e minutos depois, conseguiu avistar a emergência.

O trajeto até o hospital mais próximo foi longo, pois estavam no meio de uma rodovia. Chegaram numa pequena cidade. Assim que o carro da emergência estacionou, Dean saiu do seu. Desceram a maca com Victoria e os paramédicos a conduziram às pressas para o hospital. Lá, imediatamente ela foi socorrida pelos médicos do hospital e levada à ala de emergências. Como Sam estava com ele, solicitaram que providenciasse o registro de sua internação na recepção. Ele não estava com cabeça para aquilo, Dean teve que tomar as rédeas do problema.

Após fornecer os dados para a recepcionista – que não pôde deixar de admirar o belo perfil do caçador, mas foi ignorada –, tratou de encontrar a emergência.

No segundo andar do prédio, encontrou Sam numa sala onde ficavam as pessoas que aguardavam notícias dos pacientes da ala de emergência. Ele queria ter ficado no corredor onde se localizava a ala, mas não era permitido. Andava de um lado para o outro na sala. Ótimo, parecia que havia saído do estado de estupefação.

– Sam! - chamou ele num tom baixo e aproximou-se, colocando uma mão em seu ombro - Já estão com ela? O que disseram?

– Nada. Ainda é cedo... - respondeu vago, numa voz aflita e triste. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar

– Sam, olha pra mim – Dean o obrigou a se virar para ele - Você está bem?

Pergunta idiota. Claro que não. Ele mesmo não estava, embora se recusasse a se entregar à dor e ao desespero. Em resposta, Sam riu baixinho em meio ao choro.

– Só vou estar bem quando a Vic estiver. – respondeu com a voz tremida

Dean engoliu em seco.

– Ela... não pode morrer, Dean! Ela não pode! – elevou a voz, o corpo dele tremia em meio ao pranto. Abaixou o rosto transtornado - Ela não pode fazer isso comigo...

– É claro que ela não pode, Sam. Ela não vai fazer isso com... você - Dean disse a última palavra espremida, mas pensou em dizer “com a gente.” – Ela é durona!

– Eu não suportaria. Não mais essa. Me recuso aceitar.

– Sam, calma, ela vai ficar bem. – Dean tentava ser convincente não só com seu irmão, mas consigo mesmo. Abraçou-o como forma de confortá-lo, mas também para se confortar.

Sam se controlou e conteve o choro. Depois de algum tempo, afastaram-se. Pairou um silêncio incômodo entre eles.

– Eu vou ligar pro Bobby - tornou Dean – Ele tem que saber o que tá acontecendo.

– Dean! - Sam o chamou antes que se afastasse. Uma ideia havia lhe ocorrido, uma que alterou a expressão mortificada de seu rosto levemente - Ligue pro Cass também! Ele pode ajudar com a Vic! Os médicos vão fazer o que puderem, mas eu... não quero confiar só numa alternativa.

– Ele não está com todos os poderes - Dean o lembrou.

– Não importa. Ele deve saber alguma forma de ajudá-la.

– Certo - concordou Dean.

Ele também recorreria a qualquer recurso que pudesse salvar Victoria. Pelo pouco que os dois puderam notar, sabiam que havia poucas chances de Collins sobreviver apenas com recursos médicos.

– 0 -

Do terraço de um prédio, Joshua observava dois pontos: o hospital a alguns metros e a camionete com os demônios estacionada em frente à portaria do estabelecimento.

Discou o número de seu celular. Ficou mais prático se comunicar com Anna através dele. Ela própria o sugeriu. Ele achou graça, porque supunha que os anjos fossem bem conservadores e desprezassem as invenções humanas.

– Anna? Nós temos um problema.

– 0 -

Os Winchesters aguardavam ansiosos por alguma notícia sobre o estado de Victoria. Sempre que viam algum médico, residente ou enfermeiro perambulando por perto, não deixavam de perguntar, mas sem sucesso. Ou porque o profissional nada tinha a ver com o caso ou porque só o médico-chefe era o único que podia lhes dar alguma informação.

Estava cada qual imerso em seus próprios pensamentos, embora partilhando da mesma dor e aflição. Sam estava sentado num sofá com o corpo inclinado para a frente e as mãos entrelaçadas; vez ou outra, uma lágrima escorria de seus olhos. Dean estava de pé encostado numa parede, o rosto neutro fixava os olhos num ponto qualquer, frio. Mas seus punhos se apertavam com força como uma forma de externar o que lhe corroía por dentro.

Havia ligado para Bobby e foi mais difícil do que pensava dar a notícia do acidente. O velho caçador mal o deixou falar, apenas pediu com a voz aparentemente sem nenhuma emoção o endereço do hospital. Dean não quis falar e tentou dissuadir que Singer fosse para lá até terem notícias mais concretas (afinal, era uma longa distância a ser percorrida, ainda mais no estado dele), porém, Bobby insistiu com um tom mais rude. Garantiu que tinha meios de chegar bem rápido até lá.

Em seguida, Dean ligou para Castiel, mas não obteve resposta. Deixou um recado relatando a situação e pedindo a máxima urgência.

– É minha culpa, não é, Dean? – interpelou Sam tirando o irmão de seus pensamentos.

– Ahm?

– É minha culpa a Vic estar nesta situação.

– Sam... – Dean queria contestá-lo, mas não sabia como

– Eu sei que é, você sabe... Isso não foi acidente. De alguma forma, sei que Lúcifer e os demônios têm a ver com o que aconteceu com a Vic. Não pode ser coincidência.

Dean permaneceu calado. No meio de toda aquela preocupação, por alguns momentos havia pensado naquela possibilidade e tinha absoluta certeza da conclusão de Sam. Só não quis mencioná-la antes.

– Não é coincidência. Não depois daquele lance com o Mason. E depois, tem esse motorista do caminhão que disse que o carro dela parecia descontrolado. E isso depois que a Vic o deixou lá naquela lanchonete quando nós fugimos daqueles demônios... Eles devem ter feito algo com o carro.

– É, eu também acho isso – Dean confirmou sua certeza. Em seguida, deu um murro na parede – Desgraçados!

– Mas se eles fizeram isso, não deixa de ser por minha causa. É minha culpa, não é, Dean? – tornou Sam – Você me avisou. Disse que se acontecesse alguma coisa com ela eu seria responsável. Você estava certo... Eu devia ter te escutado.

– OK, agora escute... – Dean se aproximou de Sam e sentou-se ao seu lado. Procurava tirar forças para tentar se animar e ao seu irmão. Não podia deixar Sam se entregar, seria como se ele próprio estivesse entregando os pontos. O Apocalipse era coisa certa, mas a morte de Vic não. Não para ele. – Não fale assim como se a Vic... não estivesse lá dentro lutando pela vida dela. Já disse que ela é durona, Sam! Pô, até parece que você não conhece sua namorada!

– Eu sei que ela é, eu tenho que acreditar... mas ela está ferida e por minha causa.

– Ei, esquece isso, tá? – o loiro tentou esboçar um sorriso animador, mas não chegava em seus olhos

– É minha culpa, sim – Sam desviou o rosto

– Não, Sam, não. – o tom de Dean foi mais sério e firme – É nossa culpa.

Sam voltou a fitá-lo, mas não disse nada. Dean se levantou e dirigiu-se ao lugar em que estava. Sim, era culpa dos dois. Jogar a responsabilidade nos ombros de Sam era fácil, mas ele sabia que tinha sua parcela pelo o que aconteceu.

Era sua culpa ter concordado que Victoria entrasse para a equipe. Não era à toa que ele e Sam não gostavam de admitir outras pessoas em suas caçadas. Não era por serem lobos solitários. Era porque pessoas próximas a eles morriam ou se feriam muito. Seus pais. Jessica. Bobby. Ash. Ellen. Jo. Pamela. E outros.

E agora Victoria.

Era sua culpa também por não ter aceito Miguel bem antes de conhecer Vic. Seu Eu futuro tinha razão. Ele era arrogante, não pensava que ia perder. Sua arrogância levou Victoria àquela situação.

Mas...e se nem o Diabo e nem os demônios tivessem algo a ver com o acidente de Victoria? Não, não era possível. Seus instintos nunca falhavam. Apesar disso, certa ideia o incomodava. Sentia que se houvesse a mais remota possiblidade daquilo não ser obra do Arcanjo, então significava...

Finalmente, o médico de Vic entrou na sala vestido com o uniforme de atendimento cirúrgico. Sam e Dean se aproximaram afoitos.

– Sou o Doutor Peter Carter. – ele se apresentou – Vocês são parentes de Victoria Collins?

– Eu sou noivo dela. Sam Winchester – Sam se adiantou – - Doutor, como ela está?

– O estado dela é crítico – disse sem rodeios – Ela sofreu várias lesões, o estômago foi gravemente perfurado, teve muitos cortes, perdeu muito sangue... e se agravou pelo motorista tê-la removido do carro, embora fosse necessário por causa do risco de explosão. Além disso, ela inalou muito gás e isso afetou seus pulmões. Um deles foi perfurado por uma costela...

Dean ficou estarrecido, mas nada disse.

– Mas ela... vai sobreviver, não é? – a voz de Sam vacilou

Peter soltou um longo suspiro antes de responder:

– Eu não acredito em milagres.

– Não! Ela não pode e nem vai morrer! – Sam explodiu e agarrou a roupa do médico – Vocês têm que salvá-la de qualquer jeito!

– Senhor Winchester, se acalme! – Carter tentou tranquilizá-lo ao mesmo tempo em que procurava se soltar

– Ela não pode, ela não vai morrer!

– Sam, pare! – Dean se aproximou e tentou separar o irmão do médico. – Sam!

Por fim, Sam soltou Peter.

– Acalme-se, sim? – tornou o médico com cautela – Nós vamos fazer o possível... nesse momento vamos transferi-la para o CTI e mantê-la instável, mas... eu não posso dar falsas esperanças.

Nesse exato momento, uma residente se aproximou às pressas.

– Doutor, o senhor tem que vir imediatamente agora! A paciente está tendo convulsões!

Peter correu à sala de operações junto com a residente... e não viu que os Winchesters foram atrás deles. O médico se juntou à equipe e verificou o batimento cardíaco e os sinais vitais de Collins. Fracos. Tratou de pegar o eletrochoque e aplicá-lo no peito dela. Nada.

– Nós a estamos perdendo, doutor – disse uma residente.

– Ei, não podem entrar aqui! – alguém gritou.

– Viccccc! – Sam gritou desesperado prestes a se aproximar da mesa de cirurgia, mas foi impedido por dois residentes. Dean ficou na porta. Não ousou se aproximar.

– O que vocês estão fazendo aqui? – Peter se voltou para Sam e Dean – Não podem ficar aqui!

Sam conseguiu se soltar e empurrou os dois residentes para se aproximar de Victoria.

– Vicccc! Não me deixe! – gritou ele pegando na mão dela.

– Pelo amor de Deus, saia! – ameaçou Peter – Tirem ele daqui!

Sam não ofereceu resistência quando dois rapazes o arrastaram para a porta. Seu olhar se fixou em Victoria estendida na mesa e com o corpo em parte descoberto com alguns fios conectados e uma máscara de oxigênio.

– Por favor, saiam. – disse um residente para os Winchesters – Ou teremos que chamar a segurança.

Os dois se afastaram da porta sem trocarem palavras, mas ficaram no corredor. Estavam desolados.

Sam colocou as mãos na cabeça como se quisesse acordar e constatar que aquilo não passava de um pesadelo. Ao mesmo tempo, olhava toda hora para a porta e tentava escutar alguma coisa sobre o que acontecia lá dentro.

Dean se escorou na parede, estático. Não, não era possível. Victoria não podia morrer. Era inconcebível. Não alguém como ela cheia de vida e otimismo, apesar de todas as coisas horríveis que poderiam lhe ter passado. E de todas as coisas tenebrosas que estavam enfrentando. Olhou para o alto, o rosto em fúria e murmurou baixinho com os dentes cerrados:

– Deus, onde quer que você esteja, não pode fazer isso com ela. Desgraçado, se Victoria morrer... eu vou te caçar. Eu juro.

Súbito, a porta se abriu. Peter saiu, a cabeça baixa, a máscara tirada e a expressão do rosto derrotada. Não precisou dizer nada. Sam o ignorou e entrou correndo na sala. O médico tentou impedi-lo, mas foi empurrado.

Dean não se animou a ir atrás do irmão e os berros deste vindos da sala de operações não alcançaram seus ouvidos. Não via, escutava ou sentia mais nada. Só dor. Muita dor.

Não sentiu suas costas deslizarem pela parede até seu corpo cair sentado. Nem reparou na brancura do chão que seus olhos fitavam com a cabeça baixa. Nem sentiu as próprias lágrimas que a custo havia segurado. Nem escutou o som do próprio choro.

 


Notas Finais


Bom, gente, não entendo muito sobre procedimentos médicos, acidentes e nem ferimentos. Procurei pesquisar e tentar montar algo. Até recebi umas dicas de uma leitora médica. Enfim, tentei fazer o mais próximo da realidade possível.

E agora? Será mesmo o fim de Victoria Collins? E o que farão Dean e Sam? Só no próximo capítulo.

Até lá.


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