1. Spirit Fanfics >
  2. Almas Trigêmeas >
  3. Enquanto você dormia (parte 2) - Final

História Almas Trigêmeas - Enquanto você dormia (parte 2) - Final


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bom, aí está a conclusão do capítulo anterior.


Espero que gostem!

Capítulo 48 - Enquanto você dormia (parte 2) - Final


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Enquanto você dormia (parte 2) - Final

Anteriormente:

– Você pode me ver? – indagou Dean à jovem de cabelos pretos e olhos azuis no alto de uma escadaria do hospital.

– Sim – ela disse com expressão assustada ao se voltar para ele

– Procure se acalmar. – ele se aproximou subindo uns degraus até ela – Qual é o seu nome?

– Tessa.

(...)

– Não se lembra de mim? – indagou Tessa ao acompanhar Dean e Sam até a sala

Dean a fitou com expressão confusa

– Sinceramente, se eu ganhasse para cada vez em que ouço isso... Vai ter que refrescar minha memória.

Ela se aproximou dele e encostou os lábios nos dele. Imediatamente, recordações do dia do acidente que o matou – e que custou a alma de seu pai – lhe vieram à cabeça. Ela se afastou ao lhe mostrar o suficiente. Ele a encarou perplexo.

– Tessa. – sussurrou.

– Esse é um dos meus nomes, sim.

– Então você a conhece mesmo – concluiu Sam

– Do hospital, depois do acidente.

– O acidente com o pai?

Dean assentiu.

– Então ela é a Morte que veio atrás de você. – tornou Sam cruzando os braços

– Sim.

(...)

– Certo – Sam se levantou e apontou o dedo para ele – Mas esta já é a segunda vez que você beija a minha namorada. Sei que não foi... por sua iniciativa. Mas se fizer isso de uma próxima vez seja por engano ou qualquer outro motivo, eu juro que quebro a sua cara.

Sam falava sério, embora num tom leve.

(...)

– Não precisa ficar assim, Anna – uma voz soou ao lado da anjo. - Você tentou.

Era Isabel. A arcanjo de cabelos pretos e olhos verdes.

– Por que ele não pôde aceitar?

– Porque é demais para ele.

– Talvez se você se mostrasse e falasse com ele...

– Não, as coisas tem que acontecer sem as pressionarmos. É por isso que não vou interferir a não ser que seja estritamente necessário. Os meus irmãos precisam aprender essa lição.

– Mas no meio disso tudo, Sam, Dean e Victoria podem se machucar.

– Eles vão sobreviver. São sobreviventes. Sempre foram.

(...)

– Correu tudo bem?

Ele tremeu um pouco com receio de Anna. Sabia que anjos podiam ser impiedosos, mais até do que demônios.

– A coisa... meio que saiu de controle eu... tive que intervir... tive que ajuda-los.

Anna permaneceu imperturbável.

– Só que... pra não ficar muito estranho... eu disse para os Winchesters e a Indomável que estava a serviço de Crowley – ele começou a gaguejar pelo silêncio de Anna – Sei que as instruções eram pra não me meter, somente começar a segui-los, mas...

– Tudo bem – Anna o interrompeu – Você fez bem.

– Sério? - indagou desconfiado – Quer dizer... Não vai me incinerar por isso?

– Não, fique sossegado.

Joshua teve a impressão de ver um brilho divertido nos olhos de Ana como se ela achasse graça no que ele havia perguntado. Deu de ombros.

– E... agora? – tornou o demônio

– Volte pra onde estão e não os perca de vista. E procure não fazer nada pra ajuda-los... se for algo com que realmente não puderem lidar.

(...)

– No fim das contas, Isabel não é melhor do que Lúcifer ou Miguel. – Anna ia protestar, mas se calou – Não mande mais seu empregadinho tentar ajudar aqueles três. Não tente aderi-los à sua causa ou à causa de Isabel usando a gratidão deles como uma troca de favores.

– Isabel jamais os ajudaria com tal intenção. Muito menos eu.

– Seja por qual motivo for, não se aproximem deles. – o tom de Castiel era de ameaça – Eu já falei para você que posso esquecer o que passamos juntos e matá-la se for preciso.

– Sinto muito, Cass. Não cabe a você decidir isso. – ela ignorou a ameaça – Isabel não vai interferir... por agora. Mas se assim ela decidir, você não poderá impedi-la de chegar até eles. Nem mesmo a mim.

(...)

Dean se calou imediatamente e desviou o rosto para não encarar Sam. Depois, saiu do carro seguido pelo irmão. Cada um se postou de um lado do carro de frente para o outro.

– Olha, quer saber do que mais? Chega desse assunto! – ele resolveu não responder aquela indagação de Sam – Não vou falar mais nada, Sam. Você faça o que quiser. Chame logo a Vic pra gente cair fora daqui.

Sam pensou em pressionar Dean, entretanto, ponderou que seria uma péssima escolha. Apenas assentiu. Quando ele ia dar as costas, Dean o advertiu:

– Sam.

– Sim?

– Tenha em mente apenas uma coisa: se acontecer alguma coisa com a Vic, você será o único responsável. Espero que consiga viver com isso.

(...)

Súbito, a porta se abriu. Peter saiu, a cabeça baixa, a máscara tirada e a expressão do rosto derrotada. Não precisou dizer nada. Sam o ignorou e entrou correndo na sala. O médico tentou impedi-lo, mas foi empurrado.

Dean não se animou a ir atrás do irmão e os berros deste vindos da sala de operações não alcançaram seus ouvidos. Não via, escutava ou sentia mais nada. Só dor. Muita dor.

Não sentiu suas costas deslizarem pela parede até seu corpo cair sentado. Nem reparou na brancura do chão que seus olhos fitavam com a cabeça baixa. Nem sentiu as próprias lágrimas que a custo havia segurado. Nem escutou o som do próprio choro.

Enquanto Você Dormia (2ª parte) - Final

Dean não sabia quanto tempo se passou. Segundos. Minutos. Horas. A dor parece eterna, não importa a passagem cronológica do tempo.

Talvez tenham se passado umas duas horas. Duas horas desde o momento em que Victoria Collins foi declarada como morta. Não tinha certeza.

Morta. Seu Anjo morto. Mas anjos não morrem. Sim, morrem. Eles próprios matavam uns aos outros. Cass matou alguns.

Mas não Victoria. Não ela. Era um anjo diferente.

As ideias estavam confusas na mente de Dean. Não conseguia concatená-las direito.

Estava sozinho num corredor com a cabeça encostada na parede ao lado da porta de um quarto. Sam estava lá dentro numa cama sob o efeito de calmantes. E ele estava ali para garantir que o irmão recuperasse a razão tão logo despertasse.

Mas nem sabia se estava em condições para isso. Mal conseguia se situar no tempo e espaço, nem tinha cabeça para qualquer iniciativa.

Haviam informado que deveria tomar providências para... o enterro de Vic. Ele só não socou o rosto da assistente que fez tal declaração por ela ser mulher. Mesmo assim, controlou-se para não dizer um monte de impropérios. Apenas se limitou a dizer que não iria determinar nada enquanto o tio de Victoria não chegasse. Exigiu também que não levassem o corpo dela para o necrotério, pelo menos por um tempo. E não houve argumentos que lhe convencessem do contrário.

Mas era uma desculpa. Não ia permitir que enterrassem Victoria enquanto houvesse alternativas para isso. E havia. Tinha que ter. Só esperava Castiel. Onde estava quando mais precisavam dele?

Castiel não podia fazer nada, estava sem poderes. Mas o anjo caído sabia de outro anjo que poderia salvar Victoria. Anna.

Não importava para ele se Cass desconfiasse das intenções dela. No momento era quem podia devolver a vida a Vic e o ânimo para ele e Sam. Principalmente, Sam.

Dean convenceria Bobby daquela resolução e certamente o caçador concordaria de imediato. Dariam um jeito de roubar o corpo de Victoria do hospital e tomariam as devidas providências para facilitar a intervenção de Anna. Ou talvez nem precisasse. Ela própria poderia tirar Collins dali.

Essa certeza fazia com que Dean não sucumbisse ao desespero total como Sam. Só lhe havia ocorrido um bom tempo depois do choque e da dor pela morte de Vic. Morte temporária para ele, via isso agora. As emoções embotam o raciocínio muitas vezes. Só tinha que esperar Castiel.

Mas... e depois? O que faria?

O que havia planejado mesmo antes do acidente com Victoria. Entregar-se a Miguel. Sim, não tinha ilusões. O fato de Anna ter condições de salvar Collins não era garantia de que pudesse impedir o Apocalipse. Nem ela e Castiel juntos.

Isso significava que a vida de Victoria continuaria em risco e ele não daria chances de que se repetisse quaisquer incidentes com ela, depois que a tirassem daquela situação.

Cass, onde você está?, suspirou Dean com os olhos fechados

– Dean?

– 0 –

Uma fumaça negra entrou dentro da camionete e reanimou o corpo do demônio loiro.

– E então? – sua companheira o inquiriu

– Entrei no corpo de um dos assistentes do médico que operou Victoria Collins.

– Ela está morta?

– Bem morta. – esboçou um sorriso de satisfação – E tem mais: parece que Sam Winchester surtou. Tiveram até que imobilizá-lo e aplicarem calmantes nele.

– E isso parece bom pra você? – sua colega o repreendeu – Ele tem que estar bem para nosso Pai.

– Você não entende? Se ele enlouquecer ao se dar conta de que sua namoradinha já era, não vai ter nada que o impeça de recorrer ao Diabo.

– Tem sim. Dean Winchester.

– O cara parece bastante transtornado pra sequer ouvir o irmão mais velho. Devemos ficar a postos caso ele resolva procurar o Pai.

– Está louco? Ele vai se tocar que estamos por trás disso, se é que já não se tocou. E se vir a gente, é capaz de nos degolar com aquela faca dele.

– Ele não precisa saber que vamos ajudá-lo caso se decida a procurar Lúcifer.

– Ainda assim tem o mala do irmão dele que pode impedi-lo de qualquer maneira.

– A gente dá um jeitinho nele sem machucá-lo... muito. Talvez só um pouquinho.

Os dois gargalharam, mas o riso morreu em suas gargantas quando ouviram uma voz no banco de trás:

– Eu acho que não.

Viraram para trás e arregalaram os olhos ao verem um anjo em seu veículo. Antes de dizerem qualquer coisa, Anna encostou as duas mãos – uma na cabeça de cada um – e os queimou por dentro. Seus corpos sem olhos caíram estatelados para frente.

Do lado de fora, Joshua observava tudo. Não queria estar na pele daqueles dois.

– Bom trabalho, Josh. – ela apareceu a seu lado na mesma hora

Ele se assustou, mas não demonstrou. Detestava quando ela fazia isso.

– Não foi nada. – replicou – Eu não interferi conforme suas ordens. Mas... você vai fazer algo a respeito sobre Victoria Collins?

– Não. Já fiz o que tinha que fazer. Não posso mais interferir.

– Então... é o fim da linha para ela?

– Certamente que não. – fez uma pausa proposital – Eu disse que não ia interferir, mas Isabel sim.

– 0 –

– Cass? – a expressão de Dean era um misto de surpresa, alívio e raiva.

– Ouvi seu recado... e já sei que Victoria morreu. Sinto muito.

– Não, não diga isso – Dean o agarrou pela gola do sobretudo. Seu tom era rude, acusador – Não você. Por que não chegou aqui mais cedo?

– Dean, eu não pude. Estava... me recuperando do ataque da Prostituta.

Dean se acalmou e soltou-o.

– Desculpe.

– Tudo bem, eu entendo.

– Cass, você tem que trazê-la de volta. Tem que fazer alguma coisa.

– Não posso fazer nada.

– Você não, mas a Anna pode.

– Dean... – Castiel balançou a cabeça discordando daquela ideia.

– Cass, ela não pode nos localizar por causa dos cunhos e não tenho como chamá-la aqui. Mas você pode entrar em contato com ela. Tem que pedir pra que nos ajude. Ela já nos ajudou antes várias vezes. Nos avisou sobre o tal Leonel que tentou matar nossos pais.

– Dean...

– Ela que marcou um cunho na Vic. Foi você mesmo que nos contou. Significa que ela tem algum tipo de interesse no que acontece com a Vic.

– Não exatamente – afirma Castiel – Pode ser alguma armadilha.

– Armadilha para o quê, Cass? Pô, até parece que você prefere deixar a Vic morrer do que pedir ajuda a Anna – o anjo não respondeu. A expressão de Dean se fechou mais ainda – Você prefere isso?

– Dean, eu...

– Não! Não me venha com desculpas! Sabe o que eu acho? Você sabe de alguma coisa da Anna e está escondendo isso da gente. Uma coisa da qual você tem medo a ponto de não querer dever nada a ela... mesmo que seja pra salvar a Vic. O que é?

Castiel nada disse.

– O que é, Cass? – esbravejou

Castiel permaneceu calado.

– Não quer me contar? Ótimo! Mas se você não confia nela, eu sim. Chame ela agora!

– Dean, melhor não.

– Chame ela aqui, porra! – gritou

– Você não sabe o que isso pode custar.

– Que se dane! Eu assumo as consequências!

– Dean, eu juro que tentarei arrumar alguma maneira de trazer a Vic de volta. Juro pra você. Mas, por favor, não vamos recorrer a Anna. Pelo menos não se pudermos evitar.

– Há outros meios disponíveis por acaso? Outros anjos com poderes? – retrucou com sarcasmo.

– Outros anjos não nos ajudarão. – teve cuidado para que a afirmação soasse verdadeira. Não poderia citar Isabel. – Mas posso descobrir outros meios. Já ouvi falar de alguns feitiços, alguns bruxos. Só me dê tempo, sim?

Dean riu amargo.

– Me dê tempo, Dean. Se eu não conseguir achar nada, aí sim, podemos recorrer a Anna.

Dean concordou com má vontade.

– Está bem. Mas, por favor, não demore. – seu tom de voz antes exigente, agora era de súplica - Cada segundo que a Vic permanece morta é fatal para o Sam.

E para mim, pensou.

– Onde ele está?

– Está neste quarto...teve que ser sedado. O Sam enlouqueceu, Cass! Ele invadiu a sala de operações em que a Vic estava, tentou tirar o corpo dela de lá, jogou no chão os objetos cirúrgicos e agrediu dois residentes que tentaram impedi-lo. Tiveram que chamar os guardas do hospital pra segurá-lo e aplicar-lhe um calmante. O médico só não chamou a polícia porque entendeu que ele estava transtornado. Foi o que me contou.

– Você não estava quando aconteceu?

– Estava... mais ou menos. Eu...

Calou-se para conter o choro. O anjo entendeu.

– Ele nunca teve esse tipo de reação, Cass – prosseguiu – Nem quando a Jess morreu. Estou preocupado... sei do que Sam pode ser capaz se estiver desesperado. Ele pode... ele vai dizer sim ao Diabo, tenho certeza. Compreende agora porque estou te pedindo que faça o impossível para salvar a Vic?

Castiel assentiu e desapareceu das vistas do Winchester.

– 0 –

O que vou fazer?

Vic se perguntava enquanto contemplava o rosto adormecido de Sam, um rosto atormentado. Há pouco esteve ao lado de Dean ouvindo sua conversa com Castiel. Será que podia mesmo ser trazida de volta à vida? Fosse a tal Anna ou qualquer outro meio? Esperava que sim.

Estava vagando por aquele hospital desde que havia morrido na sala de emergência. Foi um choque se ver fora do próprio corpo, flutuando acima dele. Em seguida, tomou consciência do que aconteceu e viu a reação tresloucada de Sam e o que tiveram que fazer para acalmá-lo. Acompanhou a dor de Dean e tentou se comunicar com ele, avisar que ainda estava ali, mas sem sucesso. Doía-lhe ver seus companheiros sofrendo por sua morte, especialmente Sam.

Sim. Dean tinha razão. Depois de ver a reação do namorado, Vic tinha certeza de que ele faria qualquer loucura para ressuscitá-la, até mesmo dizer Sim ao Diabo. Mas ela também intuía que se Sam não fizesse isso, Dean o faria com Miguel. Bom, ele já queria fazer antes, mas agora mais do que nunca se Castiel não lhe apresentasse uma solução e se negasse a contatar Anna.

– Victoria?

A voz de Castiel ao seu lado a surpreendeu.

– Cass?

– Eu sabia que você estava por aqui. Pude senti-la.

– Por que não contou ao Dean?

– Não queria criar expectativas antes do tempo para ele. Mas pode estar certa que vou te tirar desta. Eu só queria que soubesse antes de eu partir.

– Você sabe mesmo uma maneira de me trazer de volta?

– Já ouvi de alguns feitiços, embora não tenha certeza.

– E a Anna? Não pode pedir a ela?

– Ela não é confiável. Vai querer algo em troca que pode custar caro mais pra frente.

– Você tem certeza disso ou é uma suposição?

O anjo não respondeu.

– Olha... tudo bem. Se você acha que pode complicar as coisas, não precisa recorrer a ela.

– Não se preocupe, Victoria. Trarei você de volta de um jeito ou de outro, não só pelos rapazes... mas também porque te considero minha amiga e quero vê-la bem.

Collins se surpreendeu com a demonstração de afeto do anjo, embora sua voz e rosto permanecessem neutros.

– Obrigada, Cass – disse comovida

– Então... até logo.

O anjo sumiu. Mal ele desapareceu, Victoria ouviu uma voz atrás de si:

– Aqui de novo, querida?

– Você outra vez? – ela se voltou irritada para quem a interpelou. Uma ceifeira que assumiu a forma humana de uma morena de cabelos longos e pretos e olhos azuis. Era Tessa – Deixe-me em paz!

E saiu do quarto atravessando uma parede. Tessa soltou um suspiro cansado:

– Por que eles sempre têm que fazer isso?

– 0 –

Dean lavava o rosto no banheiro do quarto em que Sam ainda dormia. Já havia passado um bom tempo desde que Castiel partiu. Ficou com o rosto abaixado vendo a água da pia escorrer. O pensamento ia longe.

Ele era um maldito hipócrita! Afirmava que Sam diria sim para o Diabo assim que acordasse e tivesse chance de escapar, mas ele mesmo estava cogitando a possibilidade de fazer o mesmo com Miguel se Castiel não tomasse nenhuma providência a respeito.

É claro que faria isso de qualquer jeito, só não queria fazê-lo sem antes ver Collins viva pela última vez.

Vic.

Lembrar-se dela lhe apertou o coração. E aquela ideia fixa também.

E se não foi o Diabo e seus servos que tiveram a ver com o acidente? E se foi... por causa dele? Por causa do beijo? Embora a possibilidade fosse muito remota, ele a temia. Talvez aquilo houvesse chateado Victoria mais do que ela deixou transparecer.

Sabia que ela havia gostado do beijo tanto quanto ele. Sentiu. Na hora. Mas depois... ela teve aquela reação. Aquele olhar acusador e o tom empregado naquelas palavras “Como você pôde fazer isso comigo?” o remoíam por dentro.

E se por causa daquele beijo Victoria estivesse se sentindo tão culpada ou mais do que ele a ponto de afetar seu senso de direção? Sabia que ela era uma excelente motorista pelo o que Sam lhe contou. Mas ninguém é infalível. Nem mesmo ele, tinha que admitir. Se Vic houvesse se distraído um momento por causa da culpa causada por aquele beijo...

Deus, ele nunca se perdoaria se fosse isso! Seus instintos lhe diziam o contrário, que tudo era culpa de Lúcifer. Mas e se por conveniência, seus instintos falhassem?

Por outro lado, aquilo poderia ser paranoia sua, apenas um sentimento de culpa por beijar a namorada do próprio irmão e que se acentuou vendo o desespero de Sam.

A dúvida o matava. Se ao menos pudesse saber...

Fosse paranoia ou verdade, o fato é que não devia ter beijado Victoria.

– Eu não devia ter te beijado, Vic – disse para si mesmo em voz alta ainda com a cabeça baixa – Não devia ter te beijado. Me perdoe.

Ergueu o rosto para se contemplar no espelho e tomou um susto ao ver o reflexo do irmão atrás do seu.

– Sam? – virou-se para ele alarmado – Você... já acordou?

– O que... você disse? – indagou Sam com expressão ainda sonolenta sob o efeito dos remédios. Estava um pouco cambaleante e vestia apenas a camiseta e a cueca. Estava descalço. – Ouvi você... dizer... que beijou a Vic.

Dean não respondeu ainda surpreso que Sam estivesse de pé. Julgou que ele fosse dormir por horas.

– Você... beijou a Vic? – Sam repetiu a indagação.

– Quê? Ah, Sam, que isso? – ele esboçou uma expressão de falsa surpresa e, em seguida, riu – Você escutou demais... efeito do calmante – agarrou a parte frontal do irmão como se o conduzisse de volta à cama – Venha, volte a dormir, você ainda não tá legal...

Porém, Sam mesmo cambaleante o derrubou. Do chão, Dean o fitou pasmo.

– Não tente me fazer de idiota, Dean! – esbravejou. Parecia que o efeito do remédio havia desaparecido com a raiva – Sei muito bem quando mente pra mim!

– Sam, calma... Você não está bem – Dean foi se levantando devagar

– Me responda, Dean! Você beijou a Vic?

Dean pensou em negar, mas viu que seria inútil. Suspirou.

– Beijei. Sinto muito, Sam.

– Quando? – a expressão de Sam era de um animal ferido

– Sam, olha...

– Quando? – elevou a voz

– Hoje de madrugada... quando conversamos. A culpa foi minha, Sam – apressou-se a explicar – Eu que a beijei.

– Ela... correspondeu?

– Sam, por favor...

– Ela deixou que você a beijasse? – o tom de voz de Sam era o de alguém que houvesse levado uma facada.

– Isso não importa, Sam – declarou Dean enfático. Não valia a pena torturar seu irmão com detalhes – Não temos tempo pra isso. Olha...

– Foi por isso que ela não quis me beijar – Sam ignorou o restante do que Dean disse. Falava mais para si com expressão doída – Ela não conseguiu.

– Sam... – Dean engoliu em seco.

– Você foi o último a beijá-la. – ele sorriu amargo – Eu quem sou o namorado dela, mas... o último beijo dela foi com você.

– Sam, pare! – Dean se aproximou e agarrou o rosto do irmão obrigando-o a encará-lo – Não pense mais nisso! – ficaram instantes se encarando. No olhar de Sam, havia um brilho insano – Olha, eu preciso que se concentre... e me escute... a Vic não vai ficar assim por muito tempo. A gente tem que trazê-la de volta... Eu falei com o Cass, ele...

Não completou a sentença porque Sam empurrou sua cabeça fortemente contra a parede. Em seguida, socou-o no estômago. Pego de surpresa, Dean não reagiu.

Sam continuou o socando em todas as partes até derrubá-lo de novo. Parecia que uma força descomunal havia se apossado dele e eliminado os últimos efeitos dos calmantes. Por fim, aproveitou que o irmão se recuperava para abaixar e tirar as chaves do Impala de seu bolso.

– Sam... não... – disse Dean com voz fraca. Segurou a mão de Sam, mas este abaixou, deu-lhe mais um soco no rosto e apanhou o objeto. Um filete de sangue escorreu do canto da boca de Dean.

– Você tem razão – disse ele ao erguer o tronco. – A Vic não vai ficar assim por muito tempo.

Vestiu as calças rapidamente e saiu correndo levando os sapatos nas mãos.

– 0 –

Vic estava agachada num canto do necrotério. Escondia-se de Tessa. Era irônico, mas não sabia mais para onde ir. Aquela maldita ceifeira insistia em levá-la embora e ela não podia. Não podia deixar Sam e Dean, não naquele momento.

Nunca pensou que ceifeiros pudessem agir daquela forma. Primeiro, tentavam capturar suas vítimas; se não conseguiam, enganavam-nos. E era isso que a tal de Tessa – se era mesmo esse seu nome – havia feito. Passou-se por uma mulher morta só para se aproximar dela. Contudo, Vic foi esperta e descobriu o engano. Ninguém aceitava a morte assim tão bem logo de cara – pelo menos não alguém jovem.

Esses ceifeiros eram engraçados! Toda vez que ela perdia os seus, desejava que a morte viesse e lhe pegasse – nunca teve coragem de suicidar, pois segundo teorias religiosas, quem o fizesse iria direto para o inferno – mas a morte não vinha, por mais que se metesse em caçadas perigosas. Agora que tinha duas pessoas por quem lutar, aparecia uma maldita ceifeira? E em pleno Apocalipse para enfrentar? Ora, por favor!

Vic apenas estranhou não ter ido direto para o Céu (sim, ela acreditava que merecia o Céu sem falsa modéstia). Dean e Sam lhe contaram que foram para lá imediatamente na última vez em que foram “mortos”. Bom, menos mal, seria mais difícil sair de lá. Estando ali no hospital tinha uma chance de evitar Tessa e esperar uma solução por parte de Castiel.

– Victoria.

Vic deu um pulo de susto ao ouvir a voz de Tessa. Afastou-se dela e colocou-se em posição de defesa.

– Fique longe de mim! – gritou – Eu não irei com você!

– Será pior pra você se ficar por mais tempo.

– Conversa.

– Sabe que não. É assim que ficam aqueles fantasmas que você enfrenta. Eles se agarram a algum lugar ou pessoa e perdem a razão.

– Não pretendo ficar aqui muito tempo. Castiel vai dar um jeito de me trazer de volta.

– Ele não vai conseguir, não há feitiço ou bruxo que consigam.

– Tem a tal Anna.

– Será o último recurso dele, mas quem garante que ele vai falar com ela? Ele não confia nela.

– Você está bem informada das coisas.

– Ceifeiros estão sempre a par do que acontece no mundo. Estamos sempre à espera de mais pessoas quando chega sua hora.

– Pois não precisa esperar por mim. Não importa... vou aguardar pelo Cass. Vou correr o risco de me transformar num espírito birrento e insuportável.

Tessa ia argumentar mais alguma coisa, porém, calou-se. Sua expressão era de espanto.

– O que foi? – Vic estranhou

– Acho que você não vai precisar esperar mais por Castiel.

– O que quer dizer?

– Tem alguém que quer falar com você. Alguém mais poderoso do que eu.

– Que novo truque é esse? – Collins a encarou desconfiada.

– Truque nenhum. Bem, já vou. Talvez você não se lembre de nada disso quando voltar, mas se acaso se recordar, diga a Dean que lhe mando saudações.

E desapareceu. Vic ficou parada sem entender nada do que Tessa quis dizer. De repente, sentiu uma presença atrás de si. Virou-se. A poucos centímetros estava uma bela mulher de cabelos pretos e olhos verdes, vestida num terno feminino todo branco. Isabel.

– É um prazer finalmente revê-la, Victoria.

– 0 –

– Isso, Cass. Ele saiu correndo daqui com as chaves do meu carro. Ai! – gemeu Dean massageando uma parte do corpo atingida pelos golpes de Sam. Falava com Castiel pelo celular – Sei que te pedi para achar algo que trouxesse a Vic de volta, mas não vai adiantar nada se Sam for possuído por Lúcifer. Não confio que o Diabo vai deixar a Vic viva por muito tempo, mesmo que prometa ao Sam. – Dean fez uma pausa – Tá, Cass, sei que você não tem como achá-lo, mas acho que tenho um palpite. O único modo de Sam contatar o Diabo é através dos demônios e se tivermos sorte de não ter nenhum por perto, acho que Sam vai chamar algum na encruzilhada mais próxima daqui. Tente por aí. – suspirou – Desculpe, Cass, por mais essa que tenho que te pedir com todos os problemas que já temos. Valeu... até mais.

O Winchester desligou o celular e sentou-se na beira da cama onde estava seu irmão. Comunicou a Peter Carter sobre a fuga de Sam, mas disse ao médico que não se preocupasse, havia mandado gente atrás do irmão. Tentou ligar para este várias vezes, mas inútil. Sam não atendeu nenhuma chamada. Nem atenderia.

Em seguida, o médico insistiu que já era hora de levarem o corpo de Victoria para o necrotério. Dean pediu que aguardassem só por mais duas horas, Bobby deveria chegar a qualquer momento. O velho caçador havia garantido quando lhe deu a notícia. Mas depois da última conversa, Bobby não lhe retornou. Dean estava preocupado. Ele não queria que levassem Vic para o necrotério. Era como admitir sua morte definitiva. Sem retorno.

Vic, aguente mais um pouco. Sam, não seja idiota! Não confie no Diabo!

– 0 –

– Quem é você? – perguntou Vic receosa – Ah, é de você que essa Tessa estava falando? Você era quem queria falar comigo.

– Isso mesmo.

– Ela disse... que você é mais poderosa do que ela – Victoria deu alguns passos para trás – Por acaso, você é uma espécie de Ceifeira-gerente? A Tessa não conseguiu me levar por bem e você vai me levar à força?

– Não. Não sou uma ceifeira.

– Então quem é você?

– Sou um arcanjo. Meu nome é Isabel.

Vic engoliu em seco. Era pior do que pensava.

– Isso não me deixa nem um pouco mais tranquila. – apontou o dedo para Isabel – Já entendi. Você... está ao lado de Lúcifer. Foi ele que teve a ver com a minha morte, não é? Veio aqui garantir minha ida ao Inferno ou algum lugar em que eu não possa ser trazida de volta pelo Cass. Você me quer fora do caminho do Sam.

– Não. Não vim para te levar para o inferno. Você não fez nada para merecê-lo.

– Então você veio para me levar para o Céu. Quer me distrair com velhas lembranças felizes pela eternidade? Obrigada, mas dispenso. Aliás... por que não fui direto pra lá?

– Agora, ouça... você está enganada. –Isabel se aproximou – Não vim pra te levar pra lugar algum

– É mesmo? – Vic recuou

– Sim. E esclarecendo sua outra dúvida, quando alguém morre pela primeira vez, não vai direto para o inferno ou o Céu. Primeiro, encontra um Ceifeiro. É claro, excetuando os casos das pessoas que venderam suas almas. Quem as busca, você deve saber pelo seu amigo Dean, são os cães do inferno.

– Grata pela informação – Collins foi sarcástica – Mas se você não pretende me levar, o que quer?

– Quero te trazer de volta à vida.

Victoria nada respondeu surpresa com a informação.

– Qual a pegadinha? – indagou desconfiada depois de uma pausa

– Nenhuma. Apenas desejo ajudá-la.

– Não – Vic balançou a cabeça – Vocês anjos e arcanjos não são muito diferentes dos demônios pelo que descobri. Sempre querem algo em troca.

– Eu não. Posso lhe garantir. – retrucou sem parecer ofendida pela comparação – Pelo menos não a princípio.

– Ah, sabia! E o que você vai querer?

– Nada que você não possa escolher. No momento certo eu lhe direi, mas você não estará obrigada a fazer nada do que não quiser. Não tirarei sua vida se você se recusar.

– Me desculpe se não consigo acreditar em você.

– Não a culpo. Mas saiba que você não tem motivos para desconfiar de mim, Victoria. –Isabel se acercou e tomou a mão de Vic. Dessa vez, ela não se afastou. Estranho. Fitando mais atentamente o olhar de Isabel sua desconfiança havia diminuído. Não desapareceu, mas diminuiu. Ela só teve certeza de que a arcanjo não a levaria – Somos companheiras de muito tempo.

– O que você quer dizer? – Vic piscou longamente confusa

– Não importa. Quando chegar a hora, você saberá. Agora me responda: você quer voltar? Quer viver?

A proposta era tentadora, mas Vic receava as consequências futuras daquela decisão. Contudo, se não retornasse, o que seria dos rapazes? Principalmente, de Sam. Era quem mais lhe preocupava.

Foi esse último pensamento que fê-la se decidir.

– Sim. Quero voltar. Me faça voltar.

Isabel sorriu. Soltou a mão de Vic e ergueu o dedo para encostá-lo no rosto da caçadora.

Seja o que Deus quiser. Espero que não me arrependa.

– 0 –

Sam dirigia o Impala o mais rápido que podia. Entrou pela mesma rodovia por onde viajou no carro da emergência ao lado de Vic.

Vic.

A lembrança daqueles momentos angustiantes, o estado de seu corpo, a notícia da morte dela quase o fizeram desviar sua atenção da estrada. Tinha que manter a mente concentrada e desperta. Ainda podia sentir o efeito dos analgésicos. Era sua força de vontade que o faziam resistir.

– Você beijou a Vic?

– Beijei. Sinto muito, Sam.

Maldição! Não era a hora de pensar naquilo!

– Ela deixou que você a beijasse?

– Isso não importa, Sam

Ele cerrou os dentes com fúria.

Droga! Droga! Droga! Pare de pensar nisso! Onde está?

Procurava uma estrada que cortava aquela rodovia. Formava uma encruzilhada. Onde foi que a viu?

Tinha que se apressar. Dean já devia ter colocado Castiel a par da situação. Tinha a vantagem de não poder ser localizado pelo anjo, mas isso não significava muita coisa. Dean pensava como ele. Certamente adivinharia que ele procurava uma encruzilhada para contatar algum demônio e mandaria Cass tentar achá-lo na que estivesse mais perto. Mas ele já havia se prevenido.

Onde estavam esses demônios quando se precisava deles?

Por fim, divisou a encruzilhada. Imediatamente, girou o volante e encostou o carro. Saiu. O lugar era asfaltado, mas isso não era problema. Era só enterrar a caixa com os devidos apetrechos num local de terra ali perto mesmo.

Por sorte, Dean e ele costumavam guardar algumas coisas que encontravam em certos rituais de feitiçaria, claro desmontando os feitiços. Eles riam. Para que isso? Uma espécie de troféu pelas caçadas. Ainda bem que estranho costume iria ter sua serventia. No meio de alguns desses objetos, estavam ossos de gato e um vidro de pó de cemitério com o qual montou sua caixa com a identidade dentro.

– Sam, não faça isso.

Ele se virou. Não se surpreendeu em ver Castiel parado no meio da encruzilhada.

– Sabia que você viria. Imaginei que Dean avisaria você.

– Sam, eu vou procurar uma solução pra isso, prometo. Mas, por favor, não diga sim ao Diabo para ressuscitar a Vic. Se for preciso, eu... recorro a Anna – Cass se decidiu.

Ele sabia que não havia outra solução. Teria que correr o risco se aliando a outra Arcanjo, Isabel, mesmo que a perspectiva desta também não lhe agradasse. Fitou o semblante de Sam e vislumbrou uma chama de esperança, porém, desvaneceu-se.

– Não – disse ele balançando a cabeça para os lados – Mesmo que Anna traga a Vic de volta, isso não vai adiantar. Lúcifer pode matá-la de novo e ele é mais poderoso do que você e ela juntos.

– Escute, talvez possa existir alguém capaz de detê-lo.

– É mesmo? Deus, por exemplo? – Sam riu amargo – Já tentamos isso e o jardineiro dele nos garantiu que é um beco sem saída. Achei que você tivesse desistido.

Castiel emudeceu. Devia ou não contar sobre Isabel?

– Quer saber? Acho que você só está querendo ganhar tempo. – tornou o caçador e procurou se desviar do anjo, mas este não deixou – Me deixe passar, Cass.

– Não. Sabe que não posso.

– Cass, não fique no meu caminho.

– O que você está pretendo fazer vai comprometer a vida de bilhões. Acha que Victoria gostaria disso?

– Vic está morta. Ela não tem como opinar agora.

– O espírito dela vaga pelo hospital. E ela observou vocês o tempo todo depois que morreu.

Sam não disse nada surpreendido. Um nó na garganta se formou.

–Isso não muda nada – disse após uma pausa – Ela me deixou, não lutou como devia... Não tenho que considerar o que ela gostaria ou não.

– Fala isso como se ela tivesse alguma escolha. E você vai sacrificar o mundo inteiro pelo seu egoísmo? Pessoas inocentes?

– Vou. Não conheço a maioria dessas pessoas. E já me sacrifiquei muito por elas.

– Esse não é você – Castiel balançou a cabeça – Você não está pensando direito... está transtornado. Não tem capacidade de decidir nada com clareza.

– Chega dessa conversa! Saia do caminho, Cass!

– Não.

Viu a determinação no olhar do anjo. É, teria que fazer aquilo. Deu-lhe as costas.

– O que você pretende? – perguntou enquanto caminhava até a traseira do carro – Me levar amarrado de volta para o hospital?

– Se for preciso, sim.

– Cass, sei que que quer me impedir não só pelo mundo, mas porque se importa mesmo comigo – ele levantou o porta-malas – Mas me perdoe por isso.

Castiel não entendeu. Porém, tarde demais percebeu o que Sam pretendia.

– Sam, não!

Mas o Winchester já havia tocado com a mão no círculo enoquiano que desenhou dentro da parte de cima do porta-malas com o sangue da ferida oculta que fez no lado esquerdo de seu tronco. O anjo desapareceu imediatamente.

– Sinto muito, Cass.

– 0 –

– Dean Winchester?

– Sim?

– Chegou a pessoa que o senhor aguardava – informou uma jovem enfermeira muito bonita

Dean se levantou apreensivo.

– Bobby Singer?

– Sim, está na sala conversando com o doutor Carter. E... está muito nervoso. O doutor pediu que você viesse imediatamente para acalmá-lo.

O Winchester a acompanhou em passos rápidos. Logo chegaram à sala. Um homem calvo, magro, baixo, de óculos e bem vestido dava um copo d’água e um comprimido a Bobby. Era Matt Spencer. Diante deles, em sua escrivaninha, estava Peter Carter.

– Tome isto, Bobby. – disse Matt

– Não quero nada! Não preciso de calmantes! - bateu na mão em que Matt segurava o copo. Este se espatifou no chão – O que eu quero é a minha sobrinha viva! Eu não aceito isso!

– Bobby... – Dean se aproximou. Bobby girou a cadeira e encarou-o. Havia acusação em seus olhos

– Onde ela está? – gritou

– Bobby, calma!

– Eu quero vê-la! Vou obrigá-la a se levantar! – foi aproximando a cadeira do Winchester.

– Bobby, escute...

– Não, escute você! – com dificuldade, estendeu os braços e puxou Dean pela camisa o obrigando a ficar com o rosto à sua altura – Você deveria ter evitado isso! Eu confiei a vida dela nas suas mãos... e nas de Sam também. Principalmente nas dele. Vocês... vocês – a voz dele tremia de revolta e tristeza – Vocês não deviam ter deixado que ela... que isso acontecesse com ela.

Dean não conseguiu retrucar. Mas as palavras de Singer o atingiram profundamente. O velho caçador o soltou de repente e abaixou o rosto. Tentou conter o choro, mas sem sucesso.

– Não... A culpa foi minha – disse com voz embargada – Eu nunca devia ter apresentado ela a vocês. Ela.... ela não queria caçar com ninguém, mas eu pedi isso. Fui eu. Eu a matei... assim como matei a Samantha quando deixei que fosse embora com Jack Collins.

Ninguém disse nada, mas todos se comoveram. Até mesmo o médico e a enfermeira, embora não entendessem bem o significado daquela conversa.

– Eu a matei. – continuou – Como pude pensar que ela estaria segura justo com vocês? Eu devia estar louco!

– Não diga isso, Bobby – Matt colocou a mão em seu ombro. Dean o observou intrigado, mas não se animou a se apresentar.

Como se lesse seus pensamentos, Spencer se adiantou:

– Sou Matt Spencer – estendeu a outra mão que Dean apertou.

– Matt Spencer? – ele franziu o cenho – O informante de caçadas da Victoria?

Matt assentiu com expressão neutra.

Súbito, uma enfermeira chegou correndo até a porta. Sua expressão era de assombro:

– Doutor Carter! Doutor Carter!

– Calma, enfermeira Willis. Pra quê essa correria e gritaria aqui no hospital? – repreendeu-a num tom calmo. A enfermeira era novata.

– Desculpe, mas... – ela procurou recobrar o fôlego – É melhor o senhor vir imediatamente!

– O que houve?

– A paciente que morreu... a do acidente... está viva. E sem ferimento algum.

– Como?

A essa altura, nem Dean muito menos Bobby e Matt puderam ficar indiferentes. Os três se entreolharam.

– Venha ver o senhor mesmo.

O médico foi seguido pela outra enfermeira. Os três homens também o seguiram, Matt conduzindo Bobby.

O corpo de Vic se encontrava numa ala isolada, prestes a ser conduzido ao necrotério. No corredor do local, ouviam-se vozes altas.

– Me deixem ir! Me deixem! – era a voz dela

– Senhorita Collins, não podemos deixá-la ir assim – dizia uma enfermeira – Tem que ficar para ser examinada.

Contudo, Victoria a empurrou e aos residentes que estavam com ela. Usava apenas a roupa de hospital que deixava entrever parte de suas costas nuas. Saiu às pressas para o corredor.

Dean foi o primeiro a avistá-la de longe. Ela parou abruptamente ao vê-lo.

– Vic...

– Dean...

– Vic! – gritou e correu até ela ignorando Bobby e Matt.

– Dean! – ela também correu até ele também ignorando tudo e todos ao redor

Eles se encontraram num forte abraço. Dean sentiu como se a vida voltasse a pulsar dentro de si. Estreitou o corpo de Victoria junto ao seu, suas mãos percorreram a superfície macia da pele dela, mas sem malícia. Vic não se importou com o contato. Seu coração batia quase tão forte quanto o dele. Não soube dizer quanto ficou naqueles braços, mas um pensamento fê-la se separar de Dean (muito cedo para ele).

Sam.

– Dean, onde está Sam? – perguntou fitando o caçador

Antes que ele respondesse, uma turba de profissionais os cercaram. Todos denotavam sinais de assombro em seus rostos.

– Senhorita Collins, lamento interromper, mas terá que ficar no hospital em observação e fazer alguns exames – anunciou Carter procurando disfarçar seu espanto e incredulidade.

– Olhe, doutor, eu faço o que quiser, mas agora eu preciso resolver algumas questões.

– Senhorita Collins...

– Eu prometo que não vou fugir, mas eu preciso conversar com esse meu amigo por alguns instantes. É uma emergência. Olha, como vê não tenho nenhuma ferida externa no corpo – mostrou os braços e pernas – Por favor. Só um minuto.

O médico hesitou, porém, diante do olhar determinado da moça e do pedido mudo no rosto de Dean, assentiu.

– Está bem. Mas seja rápida e, por favor, não chamem muita atenção.

Afastou-se e mandou que todos se dispersassem. Discretamente mandaria alguém vigiá-la à distância. Aquele caso era único! Não podia perdê-la de vista.

– Agora, Dean, você precisa me dizer...

– Ei, mocinha, que negócio é esse? – Bobby se aproximou com expressão furiosa – Vai deixar de cumprimentar esse velho?

– Bobby! – exclamou Vic

– Vem cá, me dê um abraço.

Collins se abaixou e abraçou-o. Singer a apertava forte.

– Não sabe o que passei quando soube, mocinha... – acusou-a depois de se desvencilharem do abraço – Como você se atreveu a morrer desse jeito?

– Então... quer dizer que morri mesmo? – Notou Matt que havia se aproximado – Matt, você por aqui também?

– Oi, Victoria, que bom... que está bem. Sim, vim acompanhando Bobby. Eu o trouxe.

Eles se abraçaram rapidamente. Dean ficou mais intrigado. Então o tal Matt também conhecia Bobby? Bem, não devia estranhar.

– Agora me digam: fui declarada morta? – tornou Collins

–Foi. Eu estava aqui quando aconteceu. – respondeu Dean sem ocultar a dor em seu tom – E o estado em que seu corpo ficou não era dos melhores.

– Isso significa... – ficou apreensiva e encarou Dean. A expressão dele era a mesma que a dela. Também estava pensando a mesma coisa – Dean, cadê o Sam?

– 0 –

Sam escavou a terra num canto da rodovia. Enterrou a caixa e esperou. Não decorreram dez segundos e no meio da encruzilhada surgiu uma bela mulher de traços orientais e longos cabelos pretos.

– Sam Winchester... Hummm! – disse maliciosa – Em que posso ajudá-lo?

– Deixe de onda! Sabe bem pra que vim! – aproximou-se transparecendo fúria – Me leve até o seu falso deus agora!

– Será um prazer para mim. Não sabe como me sinto honrada por ser eu a te entregar a Ele. – estendeu a mão – Vamos?

Sam estava a ponto de estender sua mão, porém, paralisou o movimento.

– O que você está pretendo fazer vai comprometer a vida de bilhões. Acha que Victoria gostaria disso?

Engoliu em seco ao se recordar do que Cass havia lhe dito.

– Vamos, Sam Winchester! O que espera? – era evidente a ansiedade na voz da demônio

Sam abaixou o rosto visivelmente perturbado.

– Eu não estou querendo te justificar. Apenas... quero que você saiba que te compreendo. E confio em você. Sei que não vai me desapontar... e nem ao Dean. Você é mais forte do que imagina. Eu sei disso.

– Você me julga melhor do que sou.

– Não, você que se julga menos do que é. Você pode ser viciado em sangue demoníaco, recipiente de Lúcifer ou qualquer coisa do tipo, mas não importa. Eu te amo mesmo assim. Você é perfeito pra mim.

Ele não podia fazer aquilo por mais que doesse a possibilidade de ficar sem Victoria. Mas ele ficaria sem ela de qualquer jeito se fosse se entregar a Lúcifer.

– Sam Winchester! – insistiu a demônio.

– Mudei de ideia – disse ele com voz embargada – Vá embora.

– Não! – ela esbravejou e com o poder de sua mão, derrubou-o – Acha que vou perder uma chance única dessas? Você vai comigo dizer Sim para Lúcifer mesmo que seja à força!

Aproximou-se dele para tocá-lo, porém, Sam a atingiu com a faca especial na altura do coração. Levantou-se devagar.

– Eu disse pra você ir embora – declarou com os dentes cerrados – Não diga que um Winchester não te deu uma chance.

A demônio se contorceu e explodiu por dentro. Só restava um cadáver nos braços de Sam. Ele tirou a faca do corpo e jogou-o no asfalto. Em seguida, voltou a refletir. Se fosse para vender sua alma, não hesitaria nem um instante porque seria o único atingido (e sabia que sua alma àquela altura era inegociável). Mas se entregar para o Diabo era outra coisa. Não. Não tinha o direito de cometer tal insensatez. Havia outros bilhões de envolvidos, muitos inocentes.

Victoria confiava nele. Talvez fosse quem mais tivesse fé que ele não falharia. E se Cass disse a verdade sobre ela vagar pelo hospital o observando sua atitude a decepcionaria. Além disso, havia Dean. Jurou para o irmão que nunca mais trairia sua confiança.

Mas uma vida sem a Vic não me importa também.

Não sabia mais o que fazer. Cass disse que podia trazê-la de volta com a ajuda de Anna. Isso não garantia uma proteção cem por cento contra o Diabo, mas... era a melhor alternativa que tinha à mão, não?

Decidiu ligar seu celular e telefonar para Dean. Isso. Talvez seu irmão pudesse lhe ajudar a clarear as ideias. Foi o que fez.

– Sam? – a voz de Dean do outro lado transparecia surpresa e aflição

– Dean, eu... olha...

– É você mesmo?

– Sim. Sou eu. Não se preocupe. Eu... não disse sim para Lúcifer.

O outro lado da linha ficou mudo.

– Eu... eu estava confuso. Ainda estou, mas...

– Sam, escute... Volte para o hospital imediatamente.

– Tá, eu... eu vou – disse após uma pausa – Cass me disse que pode trazer a Vic de volta com a ajuda da Anna. Isso é verdade?

– Ele está aí com você?

– Não. Eu... o despachei pra bem longe.

Outro silêncio.

– Dean?

– Sam? – era Vic. Havia tomado o celular de Dean.

Sam perdeu a fala ao ouvir a voz firme e suave da namorada.

– Sam, fale comigo!

– Vic... é você mesma? – ele mal conseguia falar tamanha a emoção

– Sim. Sou eu. Não sei como... mas estou viva.

Sam não retrucou tomado pela emoção. Seus olhos se encheram de lágrimas.

– Sam, me escute. Volte para o hospital. OK?

– OK... – concordou com a voz espremida pelo choro

– Estarei te esperando. Eu te amo.

– Eu também. – disse com voz mais firme – Vou pra aí agora.

Desligou. Não entendia o que estava acontecendo. A única coisa que importava era que Victoria estava viva outra vez e parecia bem. Limpou as lágrimas do rosto, procurou se acalmar e entrou no Impala.

– 0 –

Num quarto do hospital, Peter Carter e as enfermeiras terminavam de fazer os últimos exames em Victoria. Se ainda estavam assombrados com a súbita ressurreição e desaparecimento das feridas de Victoria? Estavam. Mas procuravam não demonstrar. Também não puderam evitar que a notícia se espalhasse e a imprensa logo viesse à porta para noticiar “o milagre.” Contudo, impediram que os repórteres entrassem e incomodassem Collins.

– Pronto? – disse Vic com uma nota de impaciência

– Ao que parece, está tudo bem. – respondeu Carter.

–Será que posso ir agora?

– Preferimos que passe só mais uma noite aqui conosco. Só por garantia.

– Ela vai ficar, doutor. Ela vai ficar. – garantiu Bobby antes que ela replicasse. Foi o único que o médico permitiu que permanecesse no quarto com a moça. – Nem que eu tenha que lhe dar umas palmadas, ela vai ficar.

O médico riu. Collins revirou os olhos.

– Tudo bem, eu fico. Mas preciso conversar com os outros homens que estão lá fora me esperando.

– Está certo. Bem, qualquer coisa de anormal que sentir, me avise.

Carter fez sinal para as enfermeiras e saíram.

– Sinceramente você devia descansar... depois do que aconteceu – Bobby a repreendeu suavemente.

– Tio, não comece. Estou perfeitamente bem. E se eu ficar aqui mais tempo, vou chamar mais atenção do que deveria.

Bobby não retrucou. Sabia que ela estava certa.

– Vic? – Dean chegou na porta junto com Matt.

– Entrem vocês dois.

– Você... está legal mesmo? Nenhum pedaço faltando?

– Por favor, gente, parem com isso. Não quero que me tratem como se eu fosse de vidro – reclamou. Os três não puderam deixar de sorrir. Era bom ter a Victoria de sempre – Castiel deve ter feito algo ou achado a tal Anna já que pareço como nova.

– Acho que não. – afirmou Dean – Pelo que entendi do Sam, ele mesmo mandou o Cass pra longe quando foi encontrado.

– Talvez Anna tenha o achado depois.

– Você não se lembra de nada? De como voltou?

– Sinceramente... não – ela fixou o olhar num ponto qualquer como se fizesse um esforço para se recordar – Mas... eu vejo flashes na minha cabeça. Fragmentos de quando estava morta... Me vi fora do meu corpo.

– Sério?

– Sim... Não sei, podem ser alucinações... não está muito claro. Me lembro... me parece que vi o Sam surtar na sala de operações quando... morri.

Dean assentiu.

– Então aconteceu mesmo? – tornou Vic – Isso significa...

– O quê? – ele a incentivou

– Encontrei uma ceifeira. Uma tal Tessa.

– Tessa? – Dean se surpreendeu – Ela que ia te levar?

– Você a conhece?

– Sim. A primeira vez que... que morri num acidente com meu pai e Sam, ela apareceu pra mim também, pra me levar. Só não fez porque... meu pai fez o trato com Azazel.

– Ahm, certo – ela se recordava desse relato

– Depois encontrei com ela de novo numa ocasião em que Sam eu tentávamos impedir a quebra de um dos selos do Apocalipse. – esclareceu Dean – Foi aí que ela me fez lembrar do nosso primeiro encontro.

– Agora entendo o que ela quis dizer.

– O que ela disse?

– Te mandou saudações.

Dean torceu a boca.

– E aí? Mais alguma coisa que você se lembra? – indagou Bobby

– Não. A última coisa foi essa Tessa tentar me convencer de que era melhor partir com ela.

– Ela sabe ser convincente, tenho que admitir – Dean esboçou um sorriso amargo.

– Mais nada? – dessa vez, Matt quem perguntou

– Nada, tudo branco. Depois me vi acordar aqui no hospital. O pessoal praticamente já ia me levar para o necrotério.

– Uau! Se você tivesse ido pra lá, aí que íamos ter vários mortos ressuscitando – calou-se quando o fitaram sem acharem nenhuma graça. – Foi só uma piada.

– Há-há. Estou morrendo de rir – replicou Bobby com sarcasmo

– Não deve ter sido Lúcifer que te trouxe de volta já que Sam ainda é ele mesmo – Dean se voltou para Collins

– Você não acha que pode ser fingimento? – inquiriu Bobby – Talvez você tenha falado com o Diabo e ele quis se passar por Sam.

– Com que propósito? Ele já teria o que quer.

– Então se não foi Lúcifer que me devolveu a vida, quem foi? – indagou Vic

– Isso eu também gostaria de saber – declarou Cass atrás de todos.

Matt tomou um susto ao vê-lo, porém, disfarçou.

– Cass, você tá legal? – perguntou Dean.

– Não graças ao seu irmão – disse com certo rancor.

– Cara, perdoe o Sam por isso... – Dean coçou a cabeça – Mas se te serve de consolo, parece que ele recuperou o senso e está a caminho.

– Ótimo. – voltou-se para Victoria – Você não sabe mesmo quem te ressuscitou?

– Não, não faço a menor ideia. É como... se alguém quisesse apagar minha memória por algum motivo. – estreitou os olhos – Anjos podem fazer isso. Sei que não foi você já que parece não fazer a menor ideia do que aconteceu. Será que sua amiga Anna não agiu por conta própria mesmo sem você pedir?

Cass permaneceu calado por um tempo antes de responder:

– Pode ser. Fora ela, não vejo qual outro anjo além de mim que teria interesse em te ver bem.

A maneira como falou comoveu Victoria.

– Me lembro de ter falado com você também quando estava... vagando por aqui – disse

– Ah, e você nem pra me contar, não é, seu tratante? – repreendeu Dean – Podia ter feito contato.

– Não quis criar expectativas antes de ter certeza do que fazer – Castiel se justificou – Mas não importa agora. Vou ver se localizo Anna e falo com ela pra saber o que pretende.

– Cass, olha... deixa pra lá – pediu Victoria – Seja qual for o motivo da Anna, estou em débito com ela.

– Todos estamos – acrescentou Dean – Concordo com a Vic. E Cass, não que eu duvide de você, mas eu confio na Anna. Agora mais do que nunca.

Castiel o fitou, porém, não disse nada.

– Só mais uma coisa: dei uma rápida olhada no local do acidente e encontrei isso – o anjo mostrou uma espécie de chip

– O que é? – perguntou Dean

– Não sei muito bem, mas senti cheiro de enxofre. Deve ser o que provocou a falha no carro de Victoria.

– Miseráveis! Então foram eles mesmos! Eles e o Diabo.

– Você tinha alguma dúvida sobre isso?

Todos o encararam estranhados.

– Não. Só disse... por dizer – deu de ombros.

Não precisavam saber da possibilidade que conjeturou do “acidente” de Vic ser por sua culpa. Por tê-la beijado e provocado algum sentimento de culpa e confusão que a desnorteasse.

– Bem, preciso ir. – tornou Cass – Até mais.

E desapareceu.

– Ele não vai deixar isso pra lá – tornou Dean – Conheço ele.

– Bem, estamos esclarecidos agora – anunciou Bobby – Vamos deixar Vic descansando.

– Tio, se não se importa, quero conversar um pouco mais com Dean... a sós.

– Vic...

– Por favor.

Bobby assentiu com expressão azeda.

– Está certo, mas não se demorem – apontou o dedo para os dois e começou a movimentar a cadeira de rodas – Vamos, Matt.

Os dois homens saíram deixando o Winchester e Collins sozinhos. Pairou um silêncio entre ambos. Fitaram-se longamente sem saber o que dizer. Tinham consciência de que era a primeira vez que ficavam a sós desde o beijo entre eles.

– Acho que vou me sentar um pouco – Dean quebrou o silêncio e arrastou-se para uma poltrona próximo à cabeceira de Vic. Acomodou-se e pigarreou. – Sou todo seu.

Collins refletiu sobre o que ia dizer. Sabia que precisavam falar sobre o acontecido às claras, porém, não sabia como.

Dean tinha noção do que ela poderia abordar, mas temia tocar no assunto. Pensou em distrai-la comentando algo sobre o tal Matt. Pensou em questioná-la sobre o tal sujeito. O cara parecia uma porta! Nos poucos minutos em que tentou conversar, o homem respondeu polidamente a alguns comentários, mas se esquivava de responder qualquer coisa sobre si. Tudo o que loiro sabia – e lhe foi confirmado pelo próprio indivíduo – era que o tal era um ex-caçador e informante de Vic.

Saiu de seus devaneios, quando Vic o interpelou:

– Dean...

– Hunh... – incentivou-a embora tenso

– Como ficou meu carro?

Ela resolveu começar por aí. Se Dean ficou aliviado, não demonstrou, mas demorou uns instantes para responder:

– Total destruição... Não tem jeito de recuperá-lo. Sinto muito.

Ela assentiu. Sua expressão era de profundo pesar. Sim, o carro era um objeto inanimado e antes ele do que ela. Com o dinheiro que ela possuía poderia comprar centenas de carros do último modelo. Mas o Impala branco representava muito para Vic. Era a maior recordação que tinha de seu pai biológico, William.

Ela assentiu. Sua expressão era de profundo pesar. Sim, o carro era um objeto inanimado e antes ele do que ela. Com o dinheiro que ela possuía poderia comprar centenas de carros do último modelo. Mas o Impala branco representava muito para Vic. Era a maior recordação de seu pai adotivo, Jack Collins.

Pertenceu a ele antes de casar e quando ainda era um caçador. Quando Victoria retornou aos Estados Unidos para reclamar a fortuna de seu pai biológico, William Blackwell, Matt lhe entregou o veículo e contou que Jack o deixou ali antes de partirem para o Brasil, a única herança que podia lhe legar, caso lhe acontecesse alguma coisa. O veículo o ajudou bastante no antigo trabalho de caçador e, mesmo depois de ter se casado, largado as caçadas e assumido um cargo de confiança no império de William, às vezes gostava de circular com o automóvel junto com seu amigo para saírem como bons dois companheiros que eram desde os tempos de caçada.

Sim, era uma recordação tanto de Jack quanto de William. Vic se pegou muitas vezes imaginando seus dois pais circulando naquele carro para  se divertirem ou mesmo Jack em suas caçadas.

ntuário com suas fotos e várias recordações. E seu ninho de amor com Sam, o único namorado que adentrou o veículo. Nem mesmo Henry teve tal concessão.

E agora... seu Impala estava reduzido a mera lataria e ferro. Talvez nem isso.

– Achei no chão – Dean a tirou de seus devaneios e entregou-lhe a minúscula imagem de São Cristóvão que havia guardado no bolso. – Foi tudo o que sobrou.

– É, pelo menos alguma coisa restou – ela sorriu com amargura e pegou o objeto. Enxugou uma lágrima que saiu do rosto. Não se envergonhou de demonstrar sua tristeza para Dean por causa do Impala. Sabia que ela a compreendia – Sinto como se tivesse perdido uma parte de mim.

– Eu te entendo perfeitamente. Se fosse com a minha baby, eu surtava.

Collins assentiu. E logo voltou aquele silêncio constrangedor. Vic suspirou para tomar coragem.

– Dean, olha, sobre o que aconteceu hoje de madrugada...

Entretanto, ele a interrompeu:

– Não diga nada, Vic. Esqueça. Foi... uma coisa do momento – pensou em dizer “um erro”, mas já não pensava assim, não depois de saber que aquilo não tinha nada a ver com o acidente. Nem mesmo o remorso de ter magoado Sam o fazia mais pensar daquela maneira – Sei que isso não muda nada entre a gente. Que você é louca pelo Sam e... vai continuar com ele.

Pronto. Havia dito. Era preferível dizer tais conclusões do que ouvi-las da própria boca de Vic.

– Eu só... precisava fazer aquilo. Entende?

Vic engoliu em seco, mas não disse nada. Apenas acenou com a cabeça. Dean se lembrou de que Sam se inteirou do beijo por descuido dele e pensou em alertá-la, porém, ficou com o olhar preso no dela. Como era bom contemplar o brilho naqueles orbes verdes novamente!

Os dois permaneceram calados, os olhos sem se desgrudarem, quase hipnotizados. Foi uma voz que os interrompeu:

– Vic!

Era Sam parado na porta. A emoção em ver a namorada viva foi tão forte que ignorou o fato de ver seu irmão e Vic bem próximos.

– Sam! – Vic saiu do transe e levantou-se de supetão. Ignorou Dean por completo, só via Sam.

Os dois se abraçaram fortemente. Sam a ergueu nos braços emocionado. Seu coração vibrava de amor e alegria. Ela estava viva! Viva! Vic também estava radiante. Aquele abraço era como um alento para ambos.

Dean experimentou um misto de alívio e frustração por vê-los abraçados e desviou os olhos daquela cena.

Sem prestarem atenção a mais nada, beijaram-se com paixão e ânsia. Era como retornar ao Céu depois de terem saído dele. Foi só quando estavam sem fôlego é que desgrudaram os lábios.

– Vic! – disse Sam a apertando junto ao peito – Que bom que você está bem!

– Sam...

Dean os ignorou. Parecia meditar sobre algo. Com uma calma premeditada, levantou-se, aproximou-se do casal e disse:

– Sem querer interromper, mas interrompendo... Sam, me devolve as chaves do meu carro – estendeu a mão.

Ambos o olharam constrangidos por terem se deixado levar em sua presença. Sam mais ainda ao se recordar de como agiu com Dean.

– Aqui – disse ele tirando as chaves do bolso e entregando-as ao irmão – Sinto muito pelo que fiz. Eu...

– Tudo bem. Esquece. Vou... tomar um café. – ia dar meia-volta, porém, voltou-se para o irmão – Cuide dela, Sam.

– Pode deixar.

Dirigiu um último olhar para Vic. Esta estremeceu por algo, uma sensação estranha. Ela pensou em dizer alguma coisa em resposta, mas ele se virou rapidamente e saiu.

Sam a desviou de sua impressão ao pegar em seu rosto com carinho. Olhou-a com adoração. Sorriram. Voltaram a se beijar intensamente.

– 0 –

Dean precisava conferir. Não viu nem Bobby nem Matt no hall da entrada. Talvez estivessem na cafeteria. Bingo. Ao chegar à porta do local, avistou-os lanchando numa mesa grande num canto. Eles não o perceberam.

Não entrou. Saiu imediatamente da porta para não ser visto.

Ótimo. Estava sozinho. Vic e Sam no quarto do hospital ficariam entretidos por lá um bom tempo. Bobby e Matt ali. Cass havia ido embora provavelmente para averiguar se Anna quem ressuscitou Victoria.

Ninguém.

Era agora ou nunca.

Vic.

Sorriu tristemente.

Não tinha mais motivos para adiar seu plano. Pôde testemunhar Victoria com vida novamente, falar com ela e, de certa forma, dizer adeus. Era mais do que esperava.

Não iria mais perder tempo. Tinha que ir naquele instante.

Era sua chance.

– 0 –

– Conheci o Matt – comentou Sam.

Estava sentado na cama com Vic, os dois de frente um para o outro com as mãos entrelaçadas.

– Ah, sim? E o que você achou?

– Ele parece ser muito leal a você... e muito discreto. Não falou nada sobre ser seu representante na sua... multinacional.

– Eu não contei a ele que você já sabe. E olhe que ele me incentivou várias vezes a te falar a respeito.

– Ele parece ter um certo carinho por você também... quase o tipo de carinho que o Bobby.

– É. Às vezes ele meio protetor também, sabe? Tentei apenas manter uma relação profissional sem nenhum tipo de afeto. Mas é difícil. Além do Jack, Matt também foi um grande amigo do meu pai.

– É... E pensar que cheguei a sentir ciúmes dele. Mas vejo que não tenho motivos.

– Não mesmo, seu bobo – Vic riu

– É bom ouvir esse som de novo – Sam tocou no rosto dela com a ponta dos dedos – Cheguei a pensar que nunca mais ouviria sua risada, mesmo me negando a aceitar.

– Por falar nisso, Sam, você não devia ter se precipitado e fugido daquele jeito – Collins o encarou séria – Não parou pra pensar que Cass poderia nos ajudar?

– Eu sei... Eu mesmo sugeri que Dean o chamasse. Mas, Vic... quando... quando eu te vi como morta, foi como se o raciocínio me fugisse. Mas também lembrei que você estava daquele jeito por culpa do Diabo, por minha culpa indiretamente.

– Sam...

– Eu refleti que mesmo que o Cass conseguisse te trazer de volta, você ainda estaria em perigo e... talvez Lúcifer pudesse fazer de novo. Te matar outra vez e talvez arrumar uma forma de você não voltar.

– Não importa, Sam. – Vic pegou no rosto dele – Olha, não importa a minha vida... não nesses termos. Seria um desastre se você recorresse a ele. Como eu poderia me sentir feliz em estar viva à custa de sua alma e das vidas de bilhões de pessoas?

– Eu sei – ele suspirou com os olhos fechados e acenou com a cabeça diversas vezes – Eu sei.

– O que te fez mudar de ideia? Foi a proposta do Cass em falar com a Anna mesmo você tendo mandado ele viajar?

– Um pouco. Mas foi porque também eu não podia te decepcionar... e nem ao Dean. Jurei pra ele e pra mim mesmo que não falharia de novo.

– E sei que você não vai falhar, Sam. Confio em você.

A confiança que notou nos olhos de Vic o emocionou. Beijou-a com todo ardor que sentia. Quando ambos estavam sem fôlego, Sam desgrudou os lábios e declarou:

– Eu te amo tanto! Nunca mais me deixe assim.

– Eu também te amo, Sam. Não quero te deixar e nem que você me deixe. – disse ela ofegante. Em seguida, ficou calada como se recordasse de algo que precisasse contar.

– O que foi? – ele notou

– Sam, sei que não é bem a hora e o local... mas tem uma coisa que eu preciso te dizer – suspirou – Se eu não te contar agora, talvez arrume desculpas pra não falar depois.

Sam permaneceu calado e engoliu em seco.

– Talvez depois do que eu te falar, você nem queira mais saber de mim, mas... eu não posso mais esconder nada de você. Prometi que não haveria mais segredos entre nós. – a expressão cautelosa de Sam a fez se calar por instantes, mas ela estava decidida –Eu devia ter te falado sobre isso naquele mesmo dia que você descobriu sobre minha verdadeira identidade e me questionou se havia mais coisas. Eu disse que não, mas menti. – Sam não moveu um músculo - É sobre o Dean. Sobre algo que aconteceu hoje antes do meu... bom, do meu atentado. Na verdade, algo que tem acontecido há muito tempo... Sam, eu...

– Não tem que me contar nada – ele a silenciou colocando dois dedos em sua boca.

– Sam, me escuta... – ela tirou os dedos dele – Você precisa saber...

– Vic, só preciso saber de duas coisas. A primeira é se você ainda me ama. E a segunda se ainda quer se casar comigo.

Vic o fitou por um segundo antes de assentir com um sorriso:

– Sim. Para as duas coisas.

– Então é só o que me importa.

E a beijou outra vez com intensidade.

– Então você não vai se afastar de mim de nenhuma maneira? – indagou ela após desgrudarem as bocas depois de um tempo – Não vai me dizer algo do tipo que tem que ficar longe pra me proteger?

– Quando eu vinha pra cá, pensei nisso. Pensei: quero apenas vê-la mais uma vez com vida e depois vou deixa-la... terminar tudo. Mas aí vi o Bobby na entrada me esperando. Ele interceptou meu caminho. Achei que fosse me impedir de te ver e me pedir pra me afastar. Eu disse: “Pode deixar, Bobby, eu só quero ver como ela está e depois vou ficar longe, vou terminar com ela como você me pediu”.

– E o que ele te disse?

– Primeiro me deu uma bronca por ter pensado em dizer Sim a Lúcifer mesmo por um momento. Depois, me disse que era tarde demais em ter tomado essa decisão. Longe ou perto, você é uma carta marcada pelo Diabo pra jogar comigo. E se é assim, é melhor você ficar perto de mim. E depois, ele sabe que você teimosa do jeito que é não se afastará por nada.

– Pode apostar que não – ela sorriu – Nada poderá nos separar. Nem mesmo a morte.

– Não brinque com isso.

– Não estou brincando, falo sério. Sam, tenha isso em mente. Se por acaso me acontecer alguma coisa...

– Vic... – ele bufou

– Não, me escute. Ele vai tentar outra vez como você mesmo disse. Mas se acontecer de novo... e eu não puder voltar, não se deixe apanhar. – Sam fez expressão doída – Se você dizer Sim a ele pra me salvar, você estará condenando não só a humanidade à destruição, mas também estará se separando de mim para sempre. Você foi para o Céu, sabe que existe, mesmo governado por aqueles anjos fascistas. E é pra lá que eu vou se morrer. Por favor, não me entende mal – disse ela quando ele desviou o rosto irritado – Não estou desejando morrer, apenas digo como uma possibilidade. Mesmo que se acontecesse de novo, lembre-se que estaríamos um tempo separados... um longo tempo. Mas eu estaria esperando por você.

– Só mesmo você para dizer algo assim. – ele balançou a cabeça para os lados – E logo depois do que passou.

– Eu só quero que você entenda...

– Tudo bem. Entendi o que quis dizer e você está certa. – riu a contragosto – Tem certeza de que tem entrada garantida no Céu?

– Ah, claro que sim! Se você e o Dean tem, por que eu não?

– É, os anjos terão que aturar a Indomável entre eles.

– Cala a boca! – deu um tapa no ombro dele. Riram-se. – Você me promete que vai ter isso em mente se por acaso acontecer de novo?

– Vou. Mas, por favor, não falemos sobre isso – pediu com tom dolorido na voz

– E me promete mais uma vez que não dirá em hipótese alguma Sim para Lúcifer? Confio em você – apressou-se em dizer – Mas quero que me prometa mesmo assim.

– Está bem. Eu prometo – levantou a mão como se fizesse um juramento – Palavra de escoteiro.

– Ótimo. E tem que prometer isso mais uma vez para o Dean. Você sabe que ele anda querendo dizer Sim a Miguel...

Collins se interrompeu. Ela e Sam se encararam com aflição ao se recordar de Dean e do que pretendia fazer antes do atentado de Vic. E também de que o vigiariam o tempo todo.

– Fique aqui – Sam se levantou de supetão – Vou só verificar se ele está com o Bobby e o Matt.

Vic assentiu.

No corredor, Sam encontrou Bobby.

– Sam, sei que você passou um mau bocado com a Vic. – disse – Mas agora quero ficar um pouco com ela antes dela descansar...

– Bobby, você viu o Dean?

– Não, eu estava na cafeteria com o Matt. Ele está lá no saguão da entrada agora.

– O Dean?

– Não, o Matt. Não vi mais o Dean desde que você chegou. Por quê?

Sam não respondeu. Correu imediatamente para a entrada do hospital. Do outro lado da rua havia deixado o Impala do irmão. Se estivesse lá ainda...

Entretanto, o veículo não estava mais no local. Sam colocou as mãos na cabeça.

– Droga, Dean!

 


Notas Finais


A foto acima é da atriz Courteney Cox, da série Friends. Achei sua imagem perfeita para representar a Isabel

Bem, é isso aí. Um capítulo enorme, mas precisava ser postado assim. É o último capítulo totalmente original desta temporada. Os próximos serão adaptações dos últimos episódios desta temporada. Espero que tenham gostado.

Até a próxima.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...