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História Almas Trigêmeas - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 2) - Fim


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bem, a conclusão do caso! Espero que gostem.

Capítulo 56 - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 2) - Fim


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 2) - Fim

Anteriormente:

(...)

– Vírus Croatoan, certo? É a cartada final deles? – indagou Dean ao seu Eu futuro

- É eficiente, incurável, e dá muito medo. – confirmou o Dean futuro – Transforma gente em monstro. Começou a se espalhar nas grandes cidades há uns dois anos. O mundo foi para os cucuias depois disso.

(...)

– Meus parabéns! – o demônio bateu palmas – Tiro o meu chapéu pra você, Dean Winchester! Está certo, fui descoberto, mas e daí? Podem ter conseguido se libertar da minha influência, mas isso não faz diferença. Vocês não podem me destruir, nem mesmo com a sua faquinha de matar demônios. E se tentarem me exorcizar, posso até sair deste corpo, mas não voltarei para o inferno... irei possuir outra pessoa. De qualquer jeito, eu venci. Toda a região florestal de Wyoming me pertence e quando meu mestre vier, o Cavaleiro Morte, farei o resto do mundo mergulhar num eterno pesadelo.

 (...)

Sua atenção se focou nas profundezas da cova. Finalmente, o Cavaleiro Morte subiu à tona. Lúcifer o recebeu com sorriso de escárnio:

– Olá, Morte.

(...)

Assim que se viu a sós, Brady abaixou a cabeça em direção ao cálice e começou a recitar algumas palavras numa língua estranha. As luzes do escritório começaram a falhar. O sangue da taça borbulhou. Do interior do recipiente, uma mosca saiu anunciando a comunicação com o Peste. Os olhos do empresário se tornaram negros.

- Senhor, boas novas dos testes com a vacina. – informou o demônio com um largo sorriso – Os resultados são bastante grotescos. Acho que ficará satisfeito. – outra mosca saiu do cálice - Quando sairá? Distribuição nessa escala... Precisamos de humanos.

(...)

- Vic, eu posso explicar – Sam ia se aproximar – Eu...

- Fica longe de mim, cara! – ela sibilou com o dedo em riste. Sua voz reprimia a fúria que sentia. Sam parou onde estava.

- Victoria... – Bobby também quis se aproximar, mas Collins levantou a palma no alto para detê-lo.

- Não quero ouvir suas explicações também... tio – disse a última palavra com desdém. Deu uma risada curta – Sabe o que é engraçado? Eu até esperaria algo assim de Dean... – o caçador revirou os olhos como quem pensa “Eu é quem levo a fama?” –... mas de vocês dois, não.

- Vic... – Sam tentou se acercar.

- Eu já disse pra ficar longe de mim – ela o advertiu. Sam engoliu em seco. O olhar dela era assassino. Em seguida, Victoria tirou o anel do dedo e o mostrou – Acho que não preciso mais usar essa porcaria! – jogou o objeto no chão com toda força e fúria que empregou. Os três ficaram estarrecidos, principalmente Sam – Eu não quero mais isso! E também não quero mais você!

(...)

- A última coisa que o Peste disse. – declarou Sam – Tarde demais.

- Ele não foi mais específico?

- Não.

- Temos medo que ele tenha deixado uma bomba por aí. – replicou Dean

- Algo como uma nova peste em grande escala – sugeriu Vic sem fitar Bobby

 

 Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (2ª parte) – Final

Victoria não suportava mais aquela fúria, não mais com o fato de Bobby vender à alma, além de sua cumplicidade no engano com Sam. Tentou reprimir aquela emoção, ignorá-la, extravasá-la (o que conseguiu em parte na Missão contra o Peste), mas não dava mais.

Ignorar Sam, fingir que não estava tão sentida, foi um estratagema para feri-lo um pouco que fosse da mesma maneira que ele a havia ferido. Só que não era mulher de guardar para si todos os desaforos que tinha em mente, a vontade de despejá-los no Winchester. Além de lhe desferir socos e chutes.

Para não atingir Sam – não que ele não merecesse, mas porque não queria lhe dar o gosto de saber o quanto estava ferida –, fez a única coisa que podia para descarregar aquela raiva: apanhou um pedaço de ferro e começou a aplicar golpes no que já tinha sido um bom carro no meio daquele ferro-velho. Amassou a lataria, quebrou o restante dos vidros e bateu em qualquer parte ainda prestável do acabado veículo.

Vic berrava de raiva, frustração, mágoa e decepção. Como Sam pôde fazer aquilo com ela? Mentir para ela. Iludi-la com promessas de uma vida a dois. Fazer planos que não pretendia cumprir. E planejar deixá-la plantada em vão diante de um juiz enquanto se entregava a Lúcifer.

Victoria golpeou o carro diversas vezes até a exaustão tomar conta de seus membros. Ela ofegou, abaixou o ferro e começou a chorar. Novamente. Maldição! Desde que começou a namorar Sam Winchester, só derramava lágrimas por causa dele.

- Vic... – a voz de Sam chegou a seus ouvidos com uma nota de súplica.

- Me... deixa... em... paz. – ela pronunciou cada palavra num tom baixo, mas audível suficiente para transparecer sua fúria. Não se voltou para o Winchester, não queria que a visse num estado tão vulnerável ainda mais por causa dele.

- Vic, me deixa eu te explicar, eu...

- Não quero ouvir você! Sai daqui! –ela apertou o cabo do ferro que ainda segurava. A tentação era grande.

- Não sem você me escutar antes.

- Eu juro por Deus, Sam... – a voz saía estrangulada de raiva por entre os dentes – Se você não sair daqui, eu vou...

- Me bater? Ótimo – ele estendeu os braços para o alto – Vá em frente se isso te ajudar a aliviar sua raiva.

Mal acabou de falar, Collins se virou e quase o acerta com o pedaço de ferro. Se não fossem os reflexos de caçador, Sam seria golpeado fortemente. Ele segurou a outra ponta do ferro bem a tempo antes que fosse atingido.

- Vic... – ele a olhou surpreendido, embora estivesse preparado para receber qualquer golpe dela. Mas não daquela magnitude.

Collins soltou a outra ponta e aproveitando que o Winchester segurava o ferro com ambas as mãos, avançou nele e o estapeou na face esquerda. Sam não reagiu, apenas se limitou a alisar a parte do rosto atingida. Isso só aumentou a raiva de Victoria que o estapeou mais quatro vezes e, por fim, começou a lhe esmurrar o peito até se cansar. Sem se importar em demonstrar fraqueza, repousou os braços no peito do causador de sua mágoa e caiu no choro.

Sam largou o ferro e a amparou cuidadosamente. Os golpes dela latejavam no rosto e no peito, mas não se importou. Com certeza, doíam bem menos do que a ferida que lhe causou.

Ficaram um bom tempo ali parados e sem pronunciar nenhuma palavra. Tudo que se ouvia era o pranto de Victoria e o som da respiração de Sam. Foi ele quem ousou quebrar o silêncio:

- Me perdoe, Vic. Não foi minha intenção te enganar, muito menos te magoar.

- É mesmo? – ela se soltou bruscamente de seu abraço ainda com os olhos marejados e se afastou – Pois adivinhe, Sam Winchester... Você o fez!

- Sei disso. E lamento. – ele suspirou – Eu só fiz tudo isso para te proteger.

- Me proteger do quê? De Lúcifer? – ela riu – Se entregando para ele? Que bela proteção!

- Não, de te manter longe depois que... que eu dissesse Sim para ele.

- Isso não me entra na cabeça, Sam! Eu confiei em você! Enquanto todos duvidavam que você faria isso, eu acreditei e neguei. Como você pode fazer isso agora depois de tudo?

- Eu sei, Vic... e acredite, foi sua confiança que não me fez fraquejar. Mas não estou me entregando para ele pelo motivo errado, por desespero... como daquela vez em que quase fiz por causa do seu acidente.  Estou fazendo pelo motivo certo como uma estratégia de guerra.

- Pelo amor de Deus, Sam! Ouça você mesmo o que está dizendo! Isso é uma loucura!

- Não, é a única forma que pensei em obrigar o diabo a se jogar na jaula. Do que adiantam os anéis se não tivermos como atrai-lo para uma armadilha?

- Então é só encontrar outra solução, não essa!

- Vic... não há outro jeito! E sabe disso!

- Não, não sei! E não espere que eu aceite isso – balançou o dedo em riste – E ainda bem que seu irmão concorda comigo.

- Tudo bem... Deixemos isso de lado – não queria debater aquilo com ela, pois sabia que perderia seu tempo no momento – Eu só quero que saiba que nunca foi minha intenção te iludir e te enganar dessa maneira.

- Custo a crer, Sam. – ela conteve o choro, mas fungava – Como pôde fazer isso comigo? Mentir pra mim, me deixar acreditar que poderíamos ter uma vida a dois quando tudo o que você planejava era dizer Sim ao diabo enquanto a trouxa ficava te esperando sabe-se lá onde?

- Eu...

- Bem que a minha intuição me dizia que havia algo errado, mas eu ignorei. Por... por te amar! – ela gritou. Ele engoliu em seco – Fui eu que me enganei desde o primeiro momento em que você me pediu lá naquela ponte – sorriu – Meu Deus! Você foi tão convincente naquela hora que acho que até minha intuição falhou.

- Não, Vic, isso não. Eu estava sendo sincero naquele momento. Nem havia passado pela minha cabeça essa ideia... não sabíamos nem sobre os anéis, se você está lembrada. Acredite, eu queria mesmo poder me casar com você... Se eu pudesse, eu me casava agora.

- Sei. – ela cruzou os braços e riu

- Vic, você sabe que é verdade.

- Só sei que daqui pra frente não vou confiar em nenhuma palavra mais que sair de sua boca.

- É? Mas pra mim não foi tão difícil voltar a confiar em você. – sem querer ele insinuou num tom meio ressentido. Depois apertou os olhos e desejou morder a língua quando Vic estreitou os dela – Me desculpe... não devia ter te falado assim.

- Não, você está certo. Eu menti pra você também, né, Sam? – declarou num tom de amargura – Quem sou eu para julgá-lo?  Como se diz... estamos quites.

Deu-lhe as costas e saiu apressada. Sam soltou mais um suspiro cansado. Não se animou a ir atrás dela.

- 0 –

Dean estava terminando de ajeitar o armamento no porta-malas do carro quando Sam se aproximou. O mais novo se recostou no carro e exalou um suspiro. O mias velho parou o que fazia e se acercou a ele.

- Deixe-me adivinhar... Seu papo cabeça com a Vic foi um total fracasso.

- Mais ou menos. Consegui me explicar, mas ela ainda está muito chateada. E não concordou de jeito nenhum com meu plano.

- Me surpreende você achar que ela concordaria – observou as marcas na face de Sam – Hum... ela te golpeou feio, hein? Sei como é levar um golpe de Victoria Collins. Já experimentei isso... um soco no nariz... bom, seu nariz, mas deu pra sentir. E o tapa quando você e o Cass me resgataram do meu surto com o Miguel.

- É, ela me deu uns tapas...

- Veja pelo lado positivo... ao menos ela descontou a maior parte num carro. Deu pra ouvir o barulho dos golpes na pobre vítima daqui. Imagina se fosse você.

- O ruim nem foi isso, mas a decepção e mágoa que vi no olhar dela – suspirou – Foi horrível. Ela chorou... e só depois conversamos. Mesmo assim, ela não me desculpou.

- Está certo, Sam. – Dean ficou sério e colocou a mão no ombro do irmão em sinal de solidariedade – Dê um tempo a ela.

Sam deu de ombros. Que remédio!

- Mas não foi só pra falar da Vic que você veio até aqui, não é? – tornou Dean com desconfiança.

- Ouça, Dean... ahm... para que conste... concordo com você... sobre mim. Acha que sou fraco demais para encarar Lúcifer? Eu também acho. Acredite. Sei o quanto sou problemático. Você, Bobby, Cass... a Vic. Sou o pior de todos.

- Sam. – o loiro revirou os olhos

- É verdade. É mesmo. Mas também só temos a mim. Se houvesse outro jeito... Tem até esse suposto lance da Vic que o Gabriel insinuou, mas...

- Nem pensar. Nem sabemos se é verdade.

- Concordo. Mesmo que seja, não vou colocar a vida dela em risco de algo incerto. Então sobrou para mim. Não sei mais o que fazer... fora tentar fazer o que tem ser feito.

- Chega de cena – Crowley os interrompeu surgindo logo atrás deles. Caminhou até eles e lhes entregou um jornal – Algo que precisam ver.

- A Niveus está apressando a entrega da nova vacina contra a gripe. – Sam lia o jornal em suas mãos – Segundo eles, “para conter um surto sem precedentes.” Os carregamentos saem na quarta.

- Farmacêuticos Niveus. Entenderam? – tentou lhes recordar o demônio. Eles ficaram na mesma. Crowley revirou os olhos – Vocês têm sorte de serem bonitos. – dirigiu-se a Sam – Seu amante-demônio, Brady... vice-presidente da distribuição, Niveus... – o olhar deles de compreensão se iluminou – Ah, sim... Estou ouvindo o ábaco. Entenderam?

- O peste estava espalhando gripe suína. – concluiu Sam

- Esse foi o primeiro passo. O segundo foi a vacina. – completou Dean e voltou-se para Crowley – E você acha...

- Eu sei. – afirmou o demônio – Aposto a minha reputação. A vacina está cheia de vírus croatoan recém saído do forno.

- Distribuição nacional simultânea. Um plano e tanto – retomou Sam

- Você não vira Cavaleiro do nada. Então, abasteçam seus estoques de... tudo. Na próxima quinta, estaremos na terra dos zumbis.

- 0 –

Castiel estava num campo de futebol vazio a três quarteirões da casa de Bobby. Era noite. Ele precisava tirar algumas dúvidas... e ver possíveis soluções. Dean lhe contou sobre o plano de Sam, mencionado por Victoria na discussão com ele e Bobby.

Cass nada disse a respeito, embora o caçador o fitasse como quem esperasse uma opinião. Ele se limitou apenas a devolver a interrogação muda ao caçador:

- E o que você acha?

- É claro que não! Fim de papo. – esbravejou Dean

O anjo apenas assentiu.

Não queria dizê-lo ainda ao caçador, mas achava a ideia de Sam perfeita, mesmo com o risco do domínio do Diabo sobre ele. O único detalhe era que Sam ficaria preso naquela jaula para sempre. E isso era algo que uma parte de si – a emocional que desenvolveu pelo Winchester, assim como por Dean, Bobby e Victoria – não concordava de todo.

Por isso, estava ali para verificar se havia alguma forma de tirar o Winchester da jaula caso o plano fosse bem sucedido. Era meio estranho para ele ter que usar os pés de seu receptáculo e caminhar até ali, ao invés de poder se deslocar com a força de seu pensamento antes da perda total de seus poderes.

- Joshua! Joshua! – gritou – Sei que você ainda vigia os Winchesters e Victoria! Apareça!

- Me chamou? – o demônio apareceu segundos depois atrás de Cass

- Sim. Desejo falar com a Anna. – virou- se para ele – Onde ela está?

- Não tenho permissão para incomodá-la se não for algo importante. – desdenhou

- Isso é importante – Cass se aproximou com um brilho mortal nos olhos – Exijo que a chame agora!

- Está muito corajoso para alguém sem poderes – Cass estreitou os olhos – Como você disse, continuo vigiando os Winchesters e Victoria, inclusive todos que mantêm contato. Tenho meios mais avançados do que Crowley.

- E você está muito petulante para alguém que esteve prestes a ser morto pela minha lâmina a um tempo atrás.

Joshua ia replicar, contudo, calou-se ao ver Anna surgir à sua frente e atrás de Castiel.

- Pode deixar, Josh. Deixe que cuido disso.

O demônio apenas assentiu, encarou Cass com expressão zombeteira e desapareceu.

- O que deseja de mim, Castiel?

- Apenas algumas respostas. Imagino que você já saiba do que se trata. Seu lacaio deve fazer muito bem o dever de casa.

- Sim, estou sabendo da ideia de Sam Winchester.

- O que Isabel acha a respeito?

- Por que o interesse? – Anna arqueou a sobrancelha e emulou um sorriso – Pensei que não lhe importasse a opinião de Isabel... muito menos sua intervenção.

- Mas dada a intervenção dela para salvar a vida de Victoria, estou... digamos, apenas curioso.

- Uma característica bastante humana, se me permite dizer – zombou Anna. Cass não retrucou – Então você deduziu que foi ela?

- Se não foi ela, foi você?

- Por quê? Pretende me matar por ter deixado de lado seus avisos?

- Mesmo que eu quisesse, como vê, não tenho como.

- Isabel não vai interferir na decisão de Sam – respondeu Anna, por fim – E nem vai impedir o Apocalipse.

- Pensei que ela se importasse com a humanidade. Não estou de acordo com seus planos, mas achei que fosse fazer algo a respeito.

- E é isso o que você teme? Não, Cass, pode ficar tranquilo. A hora de Isabel entrar no jogo não é agora.

- Então ela vai deixar Victoria Collins fora de cena?

- Sam Winchester vai intervir.   E para ela, isso basta. Não é só Victoria que importa, mas também as ações de Sam e de Dean. Esse é um motivo forte para ela não interferir... não nesse assunto. Ela confia neles.

Castiel apenas assentiu. Parecia mais tranquilo... ou pelo menos não tão desconfiado.

- Isso significa... que se o plano de Sam der certo, ele pode ser trazido de volta sem implicar na soltura de Lúcifer?

- Sim. Isabel vai tirá-lo da gaiola, mas só depois de completar um ano terrestre.

- Entendo – Cass estreitou os olhos – Agradeço pelas informações.

Um silêncio se fez entre eles.

- Quando você quiser, Cass – retrucou ela – Mesmo que não aceite nossa causa.

E sumiu.

- 0 -

Quase uma semana decorreu.

As coisas com Victoria ainda continuavam tensas tanto com Bobby quanto com Sam, embora não faltassem tentativas dos dois para que ela lhes perdoasse.

Contudo, o Winchester tinha a ligeira impressão que Collins agia dessa forma mais como uma forma de protesto contra sua ideia do que realmente ainda conservar mágoa ou raiva contra ele ou Singer.

- Ela vai acabar nos desculpando, Sam. Aquilo é só birra mesmo – Bobby parecia compartilhar de sua impressão

Apenas com Dean, Victoria se dirigia sem hostilidade, porém, mantendo certa distância porque ele sempre tentava dar um jeito de convencê-la a fazer as pazes tanto com o irmão quanto com Bobby.

- Eles sabem que não vamos concordar com esse plano absurdo, Vic. – disse ele numa dessas ocasiões – Não precisa empacar mais.

- Mas ainda esperam nossa aprovação, sei que não desistiram... caso contrário, teriam nos comunicado – retrucou ela – É claro, Bobby tem suas ressalvas, mas... está sim de acordo com Sam.  Vou continuar pressionando até que reconsiderem.

Ela também tentou convencer Cass às escondidas para investigar sobre a insinuação dita por Gabriel. Mas este, além de se negar – alegando que o restante do grupo não pretendia arriscar a vida dela fosse aquilo verdade ou não –  lembrou-a de que também estava sem seus poderes. Não poderia ir muito longe.

- Então pergunte a Anna! Ela deve saber! – disse exasperada.

- Ela não é de confiança – justificou-se ele, procurando ocultar a verdade

Por fim, Vic desistiu daquela ideia.

Era noite de quarta-feira, justamente o dia anterior ao de quinta em que planejavam impedir a distribuição da suposta vacina da gripe suína. E encontrar o Morte antes que agisse sobre Chicago.

Uma van carregada de armas estava em frente à casa de Bobby. Ele e Castiel aguardavam os outros. O caçador terminava de colocar alguns cartuchos de munição dentro da bolsa. O anjo, por sua vez, estava agitado e com expressão aborrecida.

- Qual é o problema? – inquiriu o caçador notando seu estado de espírito

- Isso é o que quiseram dizer com “décima primeira hora.”.

- Mais ou menos.

- É a décima primeira hora, e eu não sirvo para nada. – mostrou a arma que carregava – Só tenho isto. O que vou fazer com isto?

- Apontar e disparar.

- Eu era...

- Vai mesmo reclamar para mim? – recordou-o de sua própria condição. O anjo permaneceu calado. Bobby mexeu a cadeira e se aproximou dele – Pare de pensar nos anos de faculdade... – jogou-lhe a bolsa que Cass apanhou desajeitadamente –... e carregue a van.

Bobby girou a cadeira e deu-lhe as costas, deixando-o sozinho. Sem alternativa, o anjo resolveu continuar aquele trabalho.

Após algum tempo, juntaram-se aos Winchesters. Dean fechou o porta-malas do Impala com toda a munição que precisava. Encarou o irmão.

- Bem, boa sorte na empreitada contra o apocalipse zumbi. – desejou-lhe Dean

- É, boa sorte com a de matar o Morte. – respondeu-lhe Sam - Lembra quando só caçávamos wendigos?  Como as coisas eram simples?

- Não realmente.

- Certo. – disse sem muito ânimo. Olhou para os lados – Onde está Victoria?

- Terminando de se aprontar – respondeu Bobby.

- Acho estanho ela querer ir comigo e com o Bobby. Nem está falando com a gente.

- Ela quer ficar de olho em vocês. – Dean sorriu

- Sério? Ela acha que eu vou abandonar a missão pra dizer Sim a Lúcifer e Bobby vai me dar cobertura?  – Sam riu – Nem temos todos os anéis.

- Como se você não conhecesse minha sobrinha – Bobby deu de ombros e emulou um largo sorriso – Paranoica ao extremo.

Houve um breve silêncio.

- Bem... – Sam tirou a lâmina do bolso e ia entregar ao irmão –... pode precisar disto.

- Pode ficar. Dean já tem isto. – Crowley surgiu no meio deles. E mostrou-lhe uma pequena foice de mão. O mais velho dos Winchesters a tomou. – Da própria Morte. Mata demônios, anjos... e ceifeiros. Dizem que mata até o dito cujo.

- Como conseguiu? – questionou Cass

- Olá! Sou o Rei das Encruzilhadas. Então, podemos?

- Falta só a Vic – informou Dean – Está terminando de se arrumar

- Então acho que vamos virar a madrugada para esperar – ele revirou os olhos – Mulheres! Caçadoras ou não são, são todas iguais. – voltou-se para Singer – Bobby, vai ficar sentado aí?

- Não, vou fazer Riverdance – replicou o caçador sarcástico

- Por que não? Encantaria as damas. – todos o fitaram sem entender a piada. Ele torceu o rosto – Bobby, Bobby, Bobby. Você desperdiçou aquele acordo. Você consegue mais se der a resposta certa. Tomei a liberdade de acrescentar mais uma pequena cláusula por você. – todos permaneceram em silêncio, porém, com uma expressão de entendimento – O que posso dizer? Sou altruísta. Vai ficar sentado aí?

Cass, Dean e Sam observaram Singer. Com espanto, ele viu que podia mexer o pé. Pouco a pouco foi se levantando da cadeira, até ficar totalmente em pé. Os Winchesters se regozijaram por vê-lo livre da paralisia.

- Filho da mãe! – Singer exclamou ao se dirigir ao demônio sem saber o que dizer além daquilo

- Eu sei. Vale cada centavo da sua alma. – tornou Crowley – Sou um cara e tanto.

- Obrigado – retrucou Bobby após uns segundos com expressão comovida. Não podia evitar o sentimento mesmo para o demônio

- Está ficando sentimental. Se me permite, vou apressar a sua sobrinha – deu-lhes as costas, afastou-se um pouco e colocou a boca entre as mãos em forma de concha – Ei, senhorita Collins, já está pronta ou tá difícil?

Bobby alargou o sorriso ao ver as expressões alegres dos Winchesters.

- Não precisa gritar. – reclamou Victoria se aproximando com uma bolsa e uma espingarda – Eu já estava vindo

- Demorou por quê? Estava tentando combinar o cinto com sua bota ou com a espingarda?

- Há-há – Vic emulou um sorriso amarelo – Estou pronta, é o que importa. Com licença, vou me juntar ao meu grupo.

- Fique à vontade.

Collins passou por Crowley, ignorando o sorriso superior e misterioso que ele ostentava (estranhou, mas não ia lhe dar o prazer de lhe perguntar o motivo) e aproximou-se dos outros.

- Bem, gente, desculpem o atraso, mas... – interrompeu-se ao ver Bobby de pé.

Este a fitou, assim como os Winchesters e Castiel, aguardando alguma reação.

- Como...? – ela balbuciava, a emoção lhe tomava o coração. Não acreditava no que via. Dirigiu seu olhar pra Cass.

- Não fui eu – ele se apressou em dizer. – Antes eu não podia, agora menos.

- Pode me agradecer depois... querida – Crowley surgiu ao seu lado. Vic o fitou perplexa – Agora, vai logo abraçar seu tio... e acabemos logo com essa cena de novela.

E se afastou mais uma vez. Por alguns instantes, Vic encarou Bobby com hesitação e ele devolveu o olhar. Ainda havia aquela sensação de haver sido traída por ele. Mas a emoção em vê-lo de pé foi mais forte e correu para abraça-lo. Singer a apertou nos braços com um sorriso de orelha a orelha. Sam e Dean trocares olhares e sorrisos.

- Bom tê-lo de volta, tio – ela disse.

- Também acho – respondeu ele – E Vic...

- Esqueça – disse ela se afastando apenas para fita-lo – Deixemos isso pra lá.

Olhou Sam que estava ao lado com um sorriso tímido como que esperando que ela fizesse o mesmo com ele. Collins fechou o rosto e deu-lhe as costas.

- Vamos. Já perdemos muito tempo – foi tudo o que disse.

O sorriso do Winchester murchou.

- Um por vez, rapaz. Daqui a pouco chega a sua – afirmou Bobby lhe dando um tapinha no ombro.

- 0 –

Bobby, Sam, Vic e Castiel seguiam pela estrada na van preta rumo à missão de impedirem a distribuição do Croatoan. Apesar do clima amistoso pela recuperação de Bobby, viajavam em silêncio. Foi Cass quem o quebrou ao mencionar o assunto tabu:

- Sim para Lúcifer e pular no buraco.

Todos o fitaram. Em seguida, Collins lançou um olhar feio para Sam que desviou o seu.

- É uma idiotice – comentou ela

- Pode dizer que é o pior plano que já ouviu. – anuiu Sam

- Claro. Posso dizer isso se é o que quer ouvir. – tornou o anjo – Mas não é o que penso.

- Como? – Victoria praticamente berrou, quase no ouvido de Bobby. Ele precisou se concentrar para não perder a direção – Ah, não, Cass, você também não!

Sam e Bobby também ficaram surpresos.

- Refleti sobre esse plano que me contaram. – justificou-se ele – Tanto Dean como Sam têm mania de superar minhas expectativas. Dean resistiu a Miguel.  Talvez Sam possa resistir a Lúcifer. – ignorou a carranca feia que Victoria imprimiu no rosto e voltou-se para Sam – Mas há coisas que vai precisar saber.

- Por exemplo? – indagou Sam

- Miguel achou outro receptáculo.

- O quê?

- Adam, por acaso? – refletiu Vic

- Exato – confirmou Cass

-Estávamos tentando não pensar nessa possibilidade – admitiu Sam

- Sam... se disser sim a Lúcifer e falhar... haverá uma briga... e os danos colaterais... serão enormes.

- E é exatamente por isso que ele não vai dizer Sim – esbravejou Vic – Mesmo que dê certo, não vou permitir que meu namorado fique trancafiado pela eternidade com um arcanjo psicótico.

Sam não retrucou, mas gostou de ouvi-la chama-lo de “meu namorado”.

- Vic... – começou Bobby.

- Não e não. Não se fala mais nisso!

Cass ficou pensativo e depois a olhou com brandura.

- Entendo o que esteja sentindo, mas...

- Não, não entende. Você nunca amou e perdeu alguém que amasse!

- Eu vejo a mente de meu receptáculo e convivo com vocês. Então tenho pelo menos uma vaga noção – Collins se calou, mas seu olhar zangado permanecia – E não me entenda mal, Victoria, mas seus sentimentos ou os de Dean, Bobby... e até mesmo os meus não são relevantes. Não quando se trata de salvar bilhões de pessoas. E essa é a única solução que temos à mão.

Vic não contestou, mas sabia que ele tinha razão. Bobby e Sam não ousaram se pronunciar.

- Então... pode ao menos considerar a possibilidade?

Vic mordeu os lábios. Não era justo que Sam se sacrificasse mesmo que fosse para salvar a humanidade. Nem ela queria se sacrificar abrindo mão dele pelos bilhões de vidas. Por outro lado, sabia que estava sendo egoísta.

- É Sam que tem que decidir no fim das contas – foi tudo o que disse.

Bobby e Sam a fitaram, mas ela não teve coragem de devolver o olhar. No fim, era uma pequena vitória. Castiel assentiu.

- Bem, se ele for fazer... há outra questão a se considerar – tornou ele ao se dirigir a Sam – O sangue do demônio.

- O quê? O que está dizendo? – perguntou Sam

- Beber Lúcifer vai ser mais do que já bebeu na vida.

- Mas por quê?

- Fortalece o receptáculo. Impede que exploda.

- Mas o cara que o abriga agora...

- Está bebendo horrores.

- E você ainda tem coragem de dizer que não é o pior plano que já ouviu? – alfinetou Victoria

- Assino embaixo – concordou Bobby.

Sam não disse mais, apenas pensava em tudo aquilo.

- 0 –

Pela manhã, já estavam no local visado. Era um grande depósito e em torno dele estavam vários caminhões prontos a serem carregados. Havia muitos funcionários a postos.

- Eles estão carregando os croatoans nos caminhões – afirmou Bobby e tirou o binóculo dos olhos. Dirigiu-se a Sam, Cass e a Vic – Certo. O primeiro só sai em uma hora. Entramos, colocamos C-4 a cada 8 metros e disparamos o alarme de incêndio.

- Aquele caminhão está saindo – apontou Cass

De fato, um caminhão amarelo partia naquele instante rumo ao seu destino.

- Droga! – praguejou Bobby – OK. Novo plano.

O veículo estacionou diante do portão fechado. O motorista apanhou seu cartão de reconhecimento e ativou-o num ponto eletrônico que abria o portão quando Castiel agarrou seu braço e o golpeou. Em seguida, Cass quebrou a chave geral do portão e travou a entrada.

O gerente responsável pela liberação do carregamento – um demônio – viu o que acontecia.

- São os irmãos Winchesters – deduziu e informou a outro demônio encarregado da operação.

- Vamos preparar uma surpresa – retrucou o outro

O gerente começou fechar todas as portas do depósito enquanto seu companheiro abria uma das grandes caixas e retirava um dos produtos lacrados com a marca Niveus.

Sam, Bobby e Vic ao tentarem entrar pela frente do depósito foram impedidos pelo fechamento das portas.

- Merda! – esbravejou Victoria.

- Porta lateral! – ordenou Bobby disparando na frente

- Afaste-se – disse Sam

Tentou destrancar uma porta menor, mas não conseguiu. Vários funcionários que eram humanos gritavam aflitos para sair. Uma confusão interna ocorria.

- Afastem-se! – gritou Sam e atirou na fechadura com o revólver

Abriu a porta e ordenou que todos saíssem:

- Vão! Andem!

- Vamos, pessoal! – Vic também incitava.

- Mexam-se! – Bobby dizia

Os três entraram armados e preparados. Começaram a percorrer o amplo espaço com os olhos atentos. Ouviram gritos de alguém e sons de golpes.

Um homem estava sendo estraçalhado por vários sujeitos infectados pelo Croatoan. Imediatamente pararam o que faziam ao notar a presença dos caçadores. Suas pupilas estavam dilatadas e avermelhadas.

- Meu Deus... –murmurou Victoria

Eles avançaram para atacar e os três não tiveram alternativa a não ser atirar até matá-los.

- Socorro! Ajudem! – o grito de uma mulher em outra parte chamou a atenção deles

- Ainda há gente aqui. – disse Sam disposto a socorrê-la

- Sam, não – Bobby falou

- Esperem aqui – disse Sam tanto para Bobby quanto para Vic e estendeu a lâmina para que um deles a apanhasse.

- Droga. – murmurou Bobby e a tomou.

Vic nada disse. Apenas o fitou. Um nó se formou em sua garganta. Sam apenas a olhou brevemente e se foi.

Bobby e Vic se entreolharam e ficaram atentos.

Alguns demônios surgiram a começar pelo gerente da operação. Singer o atingiu e mais outros enquanto Victoria substituiu seu revólver por uma espingarda de sal, atirava e rapidamente murmurava um exorcismo em alguns.

- Acho que seria uma boa hora – disse Bobby alto numa pausa

- Uma boa hora para quê? – perguntou Vic após exorcizar um demônio

- Para você se acertar com Sam – ele esfaqueou um

- Claro e enquanto isso os demônios param e ficam assistindo o final da novela! – ironizou e atirou em dois demônios

- Você entendeu o que eu disse – ele se desviou de um e tentava acertá-lo

- Que tal nos livramos desse rolo antes de querer que eu me livre de outro?

- Concordo – disse Bobby ofegante e encostou as costas nas de Vic.

Cinco demônios os cercavam.

- 0 –

Em Chicago, Dean e Crowley caminhavam por uma redondeza em que supostamente o Morte estaria.

- E aí? – Crowley resolver puxar assunto

- E aí o quê? – Dean o encarou com estranheza

- Já disse pra garota que você está afim?

- Ahm? – fechou os olhos como se tentasse entender

- A garota. – revirou os olhos – A Indomável. Victoria Collins. É afim dela, não?

- Eu... ahm... não sei do que está falando.

- Por favor, Dean. Estamos só nós dois aqui. Não precisa fingir pra mim. Sou um demônio, lembra-se? Dá pra perceber a quilômetros que você baba pela namorada do seu irmão.

O Winchester riu.

- Vem cá... Essa é uma daquelas tentativas toscas de vocês demônios tentarem mexer com a cabeça da gente?

- Não, é apenas vontade de matar o tempo com uma boa conversa.

- Bem, não tenho nada a dizer pra você – esboçou um falso sorriso de simpatia – E se não tem nada melhor pra falar, dispenso o papo cabeça.

- Relaxe... Vamos comer uma pizza.

- Está brincando?

- Soube que é boa. Só isso. – pararam debaixo de um viaduto onde se via mais à frente algumas construções – Adiante. Prédio grande e feio. Ground zero. O estábulo do Cavaleiro. Ele está lá dentro.

- Como sabe?

- Não me conhece? Porque eu sei. O quarteirão está coalhado de ceifadores. – de fato, o lugar estava rodeado deles, embora somente Crowley pudesse enxergá-los – Eu já volto.

Sumiu. Dean ficou ali parado com expressão intrigada. Virou-se ao escutar em poucos segundos a voz do demônio atrás de si:

- Puxa, fiquei vermelho. O Morte não está lá.

-Vai parar de gracinha... e dizer onde ele está?

- Desculpe. Não sei.

E deu meia-volta como se não fosse nada. Dean foi atrás e o interceptou.

- Ôôô! Espere aí. Não sabe?

- Tudo apontava para cá. Estou tão chocado quanto você.

- Bobby vendeu a alma para isso!

- Calma. Ou a alma é devolvida, ou serve de crédito. Pegaremos a Morte na próxima cidade perdida.

- Milhões, Crowley! Milhões de pessoas vão morrer.

- É verdade. Por isso, sugiro dar o fora daqui.

E retomou seu caminho.

- 0 –

Uma mulher loira que se segurava numa escada de uma grande prateleira do depósito tentava se defender de um crote que agarrava sua perna, chutando-o.

Sam atirou nele. Aproximou-se da moça:

- Você está bem?

Ela assentiu e olhou apavorada para trás. O Winchester se virou e derrubou outro crote que tentou surpreendê-lo. Atirou nele. Em seguida, conduziu a moça e outras pessoas para a saída. Chegaram onde Bobby e Victoria estavam. Haviam abatido os cinco demônios e estavam a postos para enfrentar outros.

- Vão, vão – Sam incitou os civis a saírem

E se juntou aos seus companheiros. Eles o olharam com admiração, sobretudo Victoria. Por fim, ela se aproximou dele e sem dizer nada lhe tascou um beijo na boca. Bobby arqueou as sobrancelhas e desviou o rosto um tanto constrangido pela cena.

E ainda sem dizer nada, Collins se soltou de Sam. Ele a encarou surpreso e tonto pelo beijo.

- Vamos ficar atentos – foi tudo o que ela disse e se afastou para um lado com a arma em punho. Viu a expressão do tio – Quê? Não era isso que você queria?

Bobby apenas trocou um olhar com Sam e deu de ombros. Este apenas sorriu e se distanciou para o outro lado.

- 0 –

Dean atravessava a rua onde deixou o Impala. Ele se encolhia com a jaqueta que usava. Uma garoa começava a se formar em Chicago.

Abriu a porta do carro e entrou. Crowley já estava dentro.

- E agora? – indagou o Winchester aborrecido – Alertamos sobre a bomba? Sobre as milhares de bombas? Como vou tirar três milhões de pessoas de Chicago em dez minutos? – ao se virar para encarar o demônio, ele havia sumido. Procurou-o com a vista no banco de trás e do lado de fora. Ergueu os braços para cima em sinal de aflição – Ora, essa!

Divisou-o do outro lado da rua olhando dentro de uma pizzaria pelo vidro da porta. Estranhou. Crowley se virou, fez sinal e tentou lhe dizer algo, mas o Winchester balançou a cabeça sem conseguir entender.

- O quê? – perguntou como se o demônio pudesse ouvi-lo daquela distância. Balançou as mãos para o alto – Não consigo ouvi-lo.

- Eu disse que o achei. – declarou Crowley de volta no Impala ao lado de Dean, assustando-o. Apontou a pizzaria – O Morte. Está lá dentro.

Dean abriu a porta e saiu do carro. Analisou o estabelecimento por uns instantes. Inclinou-se para dentro do veículo a fim de chamar Crowley.

- Você vem ou... – ele sumiu novamente. Dean suspirou e endireitou o corpo –... não?

- 0 –

Mais demônios foram mortos pelos três caçadores e mais civis foram resgatados e soltos do depósito.

- Tudo livre – disse ele tanto para Bobby como para Vic

- Sam! – gritou Victoria

Um crote se jogou sobre ele e o derrubou. Bobby tentou atirar, mas sua espingarda estava sem munição assim como o de Victoria. O infectado estava estrangulando Sam. Vic se jogou sobre as costas dele e tentou estrangulá-lo com sua arma. A criatura afrouxou o aperto na garganta do moço.

- Larga ele agora!

Com uma força descomunal, o crote conseguiu derrubar Victoria no chão. Virou-se para ataca-la enquanto Sam recuperava o fôlego. Bobby procurava carregar desesperadamente a arma. Um som de uma arma disparou e esmigalhou o cérebro do crote para todos os lados. Era Castiel.

- Estas coisas podem ser úteis – disse ele observando a própria arma

- Vic! – Sam se levantou sem se importar com a dor que ainda sentia no pescoço – Você está bem?

Estendeu a mão para ela. Victoria estava sentada e bem, poderia perfeitamente se erguer. Contudo, aceitou de bom grado a mão que ele lhe oferecia.

- Estou. E você?

- Sim, graças a você. – fitou-a intensamente

- Eu acho que dei uma ajudinha – disse Cass sem malícia e quebrando o clima entre eles.

- Podemos cometer nosso ato de terrorismo doméstico? – disse Bobby chamando a atenção de todos – Vamos.

- 0 –

Dean entrou pela porta dos fundos do estabelecimento. Havia o corpo de uma mulher morta escorado num balcão, a garçonete.

Ele fechou cuidadosamente a porta para não ser ouvido. Outra garçonete também estava estirada e alguns clientes com os corpos caídos sobre as mesas. Todos mortos.

Ele caminhava de mansinho empunhando a pequena foice que Crowley lhe conseguiu. Localizou um homem todo vestido de preto, franzino, o cabelo ralo, sentado a uma mesa. O Morte, com certeza. E comia algo.

A mão do Winchester começou a tremer. O cabo da foice começou a esquentar e se avermelhar igual brasa. Dean não suportou segurá-la e deixou-a cair no chão. Deixou escapar um gemido baixo de dor.

- Obrigado por devolver isso – disse Morte sem nem se virar. Dean viu que a foice havia sumido do chão e reaparecido sobre a mesa onde estava o Cavaleiro – Junte-se a mim. A pizza está deliciosa.

Dean se aproximou com cautela até vislumbrar o rosto do Cavaleiro. Em sua mesa, além da foice, havia um copo com uma vela e uma pizza tamanho gigante. Ele saboreava um pedaço no prato. Nem ergueu a vista para o Winchester.

- Sente-se - ordenou, embora não houvesse um tom imperioso. Dean obedeceu e ficou diante dele. Ocultava o tremor – Demorou para me encontrar. Venho querendo falar com você.

- Já eu não tenho muita certeza. – replicou Dean inseguro – Então, é agora que... você me mata?

- Você se acha importante demais. – finalmente, o Morte levantou o olhar para encarar seu interlocutor. Uma pausa de alguns segundos intermináveis para Dean antes de se pronunciar – Para algo como eu, algo como você, bem...  – ele sorveu através do canudo o refrigerante de um copo. O caçador engoliu em seco. O tom que o Cavaleiro usava não denotava irritação, mas era de uma calma deprimente e desprovida de qualquer emoção – Pense em uma bactéria que se senta à sua mesa... e começa a ficar sarcástica. Este é apenas um planetinha em um minúsculo sistema... em uma galáxia que mal saiu do cueiro. Eu sou velho, Dean. Muito velho. E o convido para contemplar o quão insignificante eu o acho. – com uma espátula, serviu o Winchester de uma fatia de pizza – Coma.

Dean hesitou. Porém, o olhar penetrante do Morte o intimidava. Bem devagar, ele apanhou os talheres, cortou um pedacinho e pôs na boca (por um breve momento, hesitou como se temesse que com aquilo o Cavaleiro pudesse mata-lo). Acabou por saborear o gosto.

- Boa, não acha? – tornou Morte e voltou a comer

- Tenho que perguntar. – falou com a boca cheia. Engoliu – Qual é a sua idade?

- A mesma de Deus. Eu talvez seja mais velho. Nem eu me lembro, nem ele se lembra. Vida, morte, galinha, ovo. Apesar de tudo, no final, eu o levarei também.

- Deus? – pensou ter escutado mal – Vai levar Deus?

- Vou, sim. – assentiu – Deus também morrerá, Dean.

- Isso é demais para mim. – retrucou após uma pausa

- Só um pouco.

- Por que ainda estou respirando... sentado aqui com você? O que quer?

- Que tire a minha coleira. Lúcifer me tem amarrado a ele. Com algum feitiço. Ele me tem onde quer, quando ele quer. Por isso, não fui a você. Tive que esperar que me alcançasse. – Dean o fitava surpreso – Ele fez de mim sua arma. Furacões, enchentes, levantar os mortos. Tenho mais poder do que pode imaginar... e sou escravo de um pirralho mimado que fica tendo chiliques.

- Acha que posso soltá-lo?

- Lá vem você, com sua bravata ridícula. Claro que não. Mas pode me ajudar a desarmar Lúcifer. – mostrou a mão em que carregava o anel – Sei que quer isto.

- É – os olhos de Dean piscaram cuidadosamente

- Estou inclinado a dá-lo.

-Para mim?

- Foi o que eu disse.

- Mas e Chicago?

- Pode continuar – fez uma curta pausa – Gosto da pizza. – retirou o anel e o mostrou. – Há condições.

- Certo. Como?

- Você tem que fazer o necessário para colocar Lúcifer na cela dele.

- Claro.

- O que for necessário – enfatizou.

- É o plano.

- Não. Ainda não há plano. Seu irmão. Ele pode deter Lúcifer. É o único que pode.

- Acha...

- Eu sei.  E não há nada que sua amiga possa fazer a respeito.

- Amiga? – ele pareceu confuso

- Victoria Collins. Ela não pode impedir a batalha do Apocalipse. – ele parecia saber de tudo, até sobre Victoria – É perda de tempo tentar buscar respostas que não podem ser dadas.

- O que quer dizer?

- Apenas a convença que ela não pode impedir Sam.  E também preciso de sua promessa. Você vai deixar seu irmão pular dentro do buraco infernal. – Dean engoliu em seco. Morte lhe estendeu o anel – Tenho a sua palavra?

- Sim. Tem. – estendeu a mão

- É melhor que seja sim mesmo, Dean. Você não pode com a Morte. – deixou o anel cair sobre a mão dele – Agora, quer o manual de instrução?

- 0 -

De volta à casa de Bobby, na mesa de um galpão, Dean colocou o anel do Morte no centro da mesa junto com os outros anéis dos demais Cavaleiros. Como se fossem imãs, os três convergiram para o anel do Morte, formando uma espécie de triângulo. Bobby chutou um encosto de pneu para atrair a atenção de Dean. O Winchester ergueu a vista para ele.

- Como foi no teste para as Rockettes? – perguntou Dean

- Battements bons. Peitos, precisam melhorar. Fiquei subindo e descendo escadas sem razão aparente. – riu – Estou doído. É tão bom, que tenho medo de ser um sonho. Mas daí me lembro que o mundo está capitulando. Aceita?

Entregou uma garrafa de cerveja a Dean que a abriu e a colocou na mesa.

- Veja.

Dean separou os anéis e os dispôs da mesma forma antes da chegada de Bobby e mostrou a ele como se atraíam formando o triângulo. O caçador quase engasgou ao tomar a própria cerveja.

- Hum... – Bobby quase encostou os dedos nos anéis, mas mudou de ideia e afastou a mão – Não. O Morte disse como funciona?  Tudo?

- É uma maluquice. Mas tenho problemas maiores.

- Mesmo? Como?

- O que acha que a Morte faz com quem mente para ela?

- Nada de bom. – sentou-se à mesa – O que você disse?

- Que tudo bem Sam tomar a frente do plano.

- O Morte acha que Sam deve dizer sim?

- Não sei... É. Ele diria isso. Trabalha para Lúcifer.

- Contra a vontade dele, pelo que disse.

- Eu diria que não se deve acreditar em tudo. Afinal, ele é a Morte.

- Exatamente. Ele é a Morte. Pense em como ele pode ver de cima.

- Sério?

- Só estou falando.

- Você realmente apoia a decisão de Sam sem a menor sombra de dúvida?

- Não digo que Sam não seja cheio de defeitos, mas...

- Mas o quê?

- Na Niveus, eu o vi resgatar um civil após outro. Ele deve ter salvado dez pessoas. Não parou. Nem diminuiu o ritmo. Você e eu, somos duros com ele, Dean. Sempre fomos. Mas, nesse meio tempo... ele entra correndo em prédios em chamas desde os doze.

- Mais ou menos.

- Ouça, Sam tem um lado sombrio. Não digo que não tenha. Mas também tem muita coisa boa nele. Vic foi capaz de ver isso nele em pouco tempo de convívio e sempre tentou lembra-lo desse lado nesse meio tempo em que andávamos desapontados com ele.

- Eu sei – Dean abaixou o rosto

- Então, sabe que Sam vai derrotar o diabo ou morrer tentando. É o melhor que poderíamos ter. Então, vou perguntar. Do que você tem medo exatamente? De perder? Ou de perder seu irmão?

- 0 –

Sam bateu na porta do quarto de Vic. Ela abriu. Ficaram alguns segundos se fitando sem saber o que fazer ou o que falar até que Vic resolveu por eles.  Puxou-o pela mão para dentro do cômodo e o abraçou. Ele a estreitou fortemente. Não disseram nada, queriam apenas vivenciar o momento, esquecidos de tudo.

- Isso significa que estou perdoado? – indagou ele após longos minutos naquela posição

- Não, significa que cansei de brigar com você – Vic se afastou minimamente dos braços dele para contemplá-lo – Mas ainda estou zangada não pela sua ideia, mas por ter mentido pra mim e tentado me enganar.

- Vic, eu...

- Eu sei, você queria me proteger para que eu não o impedisse ou que estivesse por perto se... Lúcifer o tomasse. Mesmo assim, Sam, doeu.

- Eu sei. E sinto muito por isso. – suspirou e colocou as mãos sobre o rosto de Victoria – E estive pensando, Vic, se você quiser, desisto de tudo. Quando começamos a namorar, prometi a você que nunca te deixaria... e quero cumprir essa promessa. Eu...

- Não.

- Não o quê?

- Por mais que me agrade escutar isso de você, percebi que não tenho esse direito. É uma decisão sua, que não posso querer interferir. – sua voz tremia ao pronunciar cada palavra

- Vic, se é por causa do que o Dean contou sobre o que o Morte disse, eu...

- Não, foram as palavras de Castiel... e ele está certo. Bilhões de vida vão perecer. Não posso com meu egoísmo impedir a salvação do mundo... mesmo que...  –ela abaixou o rosto para não ter que encará-lo –... mesmo que seja a custo da nossa felicidade. Se está bem para você se sacrificar, Sam... então quem sou eu para ser um obstáculo?

- Me desculpe por isso, Vic. Queria poder ter outra solução, mas não encontro nenhuma. Acredite, vai ser muito difícil pra mim ter que fazer isso... te deixar e ao Dean.

- Eu sei... e é por isso que te admiro mais ainda, Sam Winchester- foi a vez dela colocar as mãos no rosto dele – Pra mim ficou mais claro lá na nossa missão em Niveus o quanto se importa com as pessoas. E me fez lembrar o motivo de eu ter me tornado uma caçadora. Evitar que outros sofram o que já sofremos e... estamos sofrendo.

- Vic... – ele a contemplava emocionado.

- Você se culpa todos os dias por ter libertado Lúcifer e... essa foi a maneira que encontrou de compensar o que fez. Sei que se você desistir disso por mim, nunca poderá se perdoar... e não vai conseguir me olhar nos olhos. Nem eu poderia conviver com isso.

- Então... você realmente está de acordo?

- Sim. E não quero mais brigar com você, Sam. Se temos apenas poucos dias antes de... antes de você fazer o que tem que ser feito, quero aproveitá-los cada minuto que puder.

Aproximaram os rostos e beijaram-se com uma intensidade desesperadora. Sam fechou aporta com estrondo e a conduziu para a cama. Tiraram as roupas com rapidez e urgência e logo sentiram o contato entre as peles.

Enquanto se perdiam nos braços um do outro, Vic teve certeza de uma coisa: não poderia viver num mundo sem Sam Winchester.

Sam pularia na gaiola de Lúcifer. E ela pularia junto.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         


Notas Finais


Bom, gente, espero que tenham gostado! Estamos chegando ao fim. Faltam só dois capítulos para esta primeira fic da história. Logo vamos para a segunda fase. Aguardo reviews.

Até a próxima.


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