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História Almas Trigêmeas - A lenda do cavaleiro sem cabeça (3 parte)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Mais um capítulo deste intrigante caso. Boa leitura!

Capítulo 8 - A lenda do cavaleiro sem cabeça (3 parte)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - A lenda do cavaleiro sem cabeça (3 parte)

Anteriormente:

– Então você acha que..? – tornou Sam

– Tudo bate. Se lembram da primeira vez que ela falou dos Tassel e Schmidts? Com um ódio intenso. E depois teve aquela briga do filho dela com o William. Se é verdade o que o Bill disse sobre ser o alvo do fantasma, então faz sentido dizer que Marta é quem está controlando o cavaleiro.

(...)

Achava que tinha trancado o quarto, entretanto, Victoria abriu a porta e entrou. De imediato, ele levantou o olhar e encontrou com o dela. Ela estava paralisada e com os olhos arregalados. Sam também ficou estático e sem saber o que fazer; não estava totalmente nu, mas exposto suficiente para ela. Nenhum deles sabia o que dizer ou fazer: Sam não sabia se vestia a calça ou se cobria-se com a toalha; Collins não sabia se devia voltar ou ficar no quarto. Apenas se encaravam como se estivessem hipnotizados. E justo naquela hora, o Winchester sentiu o princípio de uma ereção por causa do calor daquela situação. O rosto corou e também notou uma perturbação no rosto de Vic. Ambos prenderam a respiração.

(...)

Capítulo 7

A lenda do cavaleiro sem cabeça (3ª parte)

Victoria aguardava o momento propício para invadir o quarto de Marta Thompson, estava difícil de encontrar uma brecha. A toda hora vinha algum hóspede que passava ali pelo terceiro andar onde se localizava o quarto da hoteleira. Ficava fim do corredor, à direita.

Os federais eram os que mais atrapalhavam a manobra da moça. Iam e vinham por ali com algum equipamento de investigação ou munição. O cavaleiro estava lhes dando muito trabalho.

Ainda bem que Davis não ficava naquele hotel. Apesar de considerá-lo um homem charmoso e inteligente, também era um pedante, metido a sabido e que gostava de se exibir. Não chegava nem aos pés de seus homens: Sam com o jeito doce e cavalheiro de ser e até mesmo Dean com aquele jeito arrogante e safado, mas divertido e sedutor.

Não, não havia margem de comparação. Nenhum homem que conheceu causava tanto efeito nela como aqueles dois. Nem mesmo...

Droga! Concentre-se! Pare de pensar no passado! E pare de pensar neles!

Porém, outra vez voltava aos Winchesters. Dean era tão sexy, tão másculo, tão viril, com um jeito de olhar que a deixava sem ar e um sorriso torto e convencido que a fazia querer encostá-lo na parede e arrancar suas roupas.

Na biblioteca da Vila, enquanto lia alguns livros sobre uma pista do caso, Vic o repreendeu e ele a olhou com certa raiva mesclada com luxúria. Bastou para deixá-la nervosa, embora disfarçasse, mas nem tanto. Ela costumava puxar uma mecha de seu cabelo com os dedos para cima e para baixo toda vez que ficava inquieta e sem graça. Fingiu não notar a maneira como o loiro a devorou com o olhar, mas podia ver pelo canto do olho, o que a deixou mais nervosa ainda.

E Sam? Não ficava atrás. Por trás daquele ar doce e cavalheiresco, Collins suspeitava que havia um homem que sabia como dominar uma mulher na cama e fazê-la delirar. Nossa! E aquelas mãos dele! Que mãos grandes!

Que vergonha passou na tarde daquele dia quando por descuido o pegou quase nu no quarto!

Tinha combinado com seus colegas que toda vez que ela fosse se banhar, eles deveriam sair do quarto e aguardar no saguão do hotel ou no restaurante até que ela fosse chamá-los ou vice-versa. Para não que ocorresse "algum acidente".

E naquela tarde, pouco depois da discussão que presenciaram entre os irmãos Thompson, os moços subiram para tomar banho e ela resolveu dar um passeio pelos arredores do hotel, em algumas daquelas lojas. Ao mesmo tempo, pensava naquele caso e em como poderiam descobrir indícios mais precisos da culpabilidade de Marta Thompson. Não adiantaria muito ir ao cemitério para queimar só uma parte dos restos de Alan, precisavam fazer algo mais concreto. Veio-lhe a ideia de ficar e vigiar os passos de Marta e entrar no quarto da mulher a fim de encontrar os diários do Schmidt ou o seu crânio.

Comunicaria aos Winchesterss assim que voltasse, mas se distraiu com as variedades de artigos que viu. Quando voltou ao hotel, subiu ao quarto para falar sobre sua decisão de ficar por lá, só que havia se esquecido do combinado com “seus homens” de que ela esperaria por eles no saguão.

Assim que abriu a porta, Victoria deu de cara com algo inesperado: o seu Gigante estava apenas de cueca. Vic perdeu a linha de seu raciocínio na mesma hora diante da perfeição daquele homem. Sam era realmente lindo: barriga bem definida; os braços longos e musculosos; as pernas longas e duras; o peito largo e liso com uma tatuagem que a caçadora reconheceu como proteção contra possessão demoníaca e que ficava sexy ali; e o volume considerável que viu sob a cueca.

Estava hipnotizada perante o Winchester, tanto que não teve uma reação imediata. Ele também parecia constrangido pelo incidente e ficou mais ainda quando a cueca se acentuou: ele estava tendo um princípio de ereção. A respiração da moça falhou e foi nessa hora que ela recobrou a noção e saiu de lá às pressas depois de se desculpar.

Deus! Que tola! Bancou a adolescente inexperiente e puritana! E o que ele estaria pensando? Será que julgava que ela fez de propósito?

Voltou ao saguão e não quis se sentar. Seus pensamentos estavam bem longe do caso, detinham-se sobre a anatomia do Winchester.

Estava de costas para a escadaria. Uma mão lhe tocou o ombro e uma corrente elétrica lhe percorreu o corpo ao mesmo tempo em que se arrepiava. Temia se virar; somente duas pessoas lhe causavam aquela sensação e, naquele momento, uma delas tinha vergonha de encarar.

Mesmo assim, virou-se. Era Dean.

– Winchester, não chegue assim em mim! – esbravejou

– Desculpe... foi mal – esboçou um sorriso cínico – Te assustei?

– Não, eu só... deixa pra lá – menos mal que fosse Dean. – E o Sam?

– Já está descendo. Eu vim só te avisar que o banheiro tá liberado.

Naquele momento, Sam descia as escadarias e encarou Victoria. Parecia um pouco embaraçado ainda pelo incidente; Collins desviou os olhos.

– Er... vou subir então. Depois, no jantar a gente se encontra. Eu tive uma ideia e queria comunicar pra vocês.

– Que ideia? – indagou Dean

– Depois, Winchester. Depois.

E subiu para o quarto enquanto os rapazes foram tomar café e dar uma volta. À hora do jantar, Victoria se reuniu a eles no restaurante do hotel. Estava sentada de frente para Sam e, por mais que tentasse, não conseguia ficar à vontade.

Por sua vez, Sam também parecia um pouco desconfortável; porém, ao mesmo tempo sentia certa satisfação por saber que perturbava a postura calma de Vic. Dean notou e perguntou:

– Tem algum problema com vocês?

–Problema? – replicou Vic

– Como assim problema? – tornou Sam

– Comigo não tem problema nenhum. E com você, Samuel? – Vic perguntou num tom de desafio o chamando pelo nome inteiro – Tem algum?

– Não. Comigo não. – Sam se endireitou na cadeira e assumiu o mesmo tom. Seu olhar era sério e penetrante. – E que bom que com você tampouco

– Tá... Se vocês dizem – Dean deu de ombros – Então que ideia você teve e queria nos contar, Victoria?

– É que resolvi não ir ao cemitério com vocês. Acho melhor eu ficar e vigiar a Marta. Tentar ver se ela guarda os diários do Alan e a cabeça dele no quarto dela.

– Mas você acha prudente, Victoria? – interrogou Sam preocupado – Afinal, ela é uma bruxa.

– E eu tenho uma boa experiência com bruxos, Winchester – Vic assumiu uma postura fria – Pode deixar que sei tomar conta de mim mesma.

– Claro – Sam falou com aquela expressão aborrecida que fazia Victoria querer morder a própria língua por ter sido ríspida mais uma vez.

– Então tá certo. Já que a nossa tão experiente caçadora vai ficar com a bruxa... nós vamos ter a companhia maravilhosa do cadáver de Alan! – ironizou Dean – É, o serviço mais pesado sempre sobra pra gente.

– Não seja por isso, Winchester. Vocês ficam aqui pra descobrir algo sobre a Marta enquanto eu resolvo o caso dos ossos no cemitério.

– Que tal você e eu irmos ao cemitério juntos e o Sam fica aqui com a bruxa? – tornou Dean com olhar maroto e aquele sorriso torto.

Por que ele tinha que provocá-la daquele jeito?

Antes que Victoria retrucasse com mais uma de suas respostas, Sam interviu:

– Não, está bem assim. Sua estratégia é boa, Victoria. Pode deixar que Dean e eu queimamos os ossos do Alan e você vigia a Marta.

Dean teve vontade de dar um chute na canela do irmão, entretanto, conteve-se e sorriu forçado:

– Claro. O seu plano original é melhor, Victoria.

Depois dessa conversa, os Winchesters pegaram as coisas de que necessitariam e rumaram para o cemitério. E Victoria ali paciente relembrava aqueles momentos enquanto aguardava uma oportunidade de entrar no quarto.

Por fim, a chance se apresentou. Ninguém mais passava pelo corredor e Marta Thompson havia ido em direção à cozinha – do corrimão onde Vic estava, dava para ver o que se passava no saguão.

Victoria correu para o quarto. Como deduziu, a porta estava trancada. Sem se abalar e olhando a toda hora para verificar se alguém vinha, a caçadora pegou um grampo de seu cabelo e introduziu-o no buraco da fechadura. Depois de um pequeno esforço, a porta se abriu.

O quarto era grande, de cores vivas e, embora reformado, conservava alguns resquícios da época antiga. No meio da parede, havia um retrato de uma moça de cabelos castanhos claros e olhos acinzentados. A princípio, Vic pensou se tratar de um retrato de Marta mais jovem, entretanto, a inscrição abaixo da moldura dizia: Elizabeth Thompson.

No meio do quarto, havia uma cama de casal; ao lado uma cômoda com um retrato: era Marta e seu falecido marido, Gerald Thompson. Vic o pegou e analisou os traços do homem: era ruivo igual ao filho caçula e, embora pudesse ser considerado um homem bonito, havia uma expressão apagada em seu rosto, uma falta de brilho, ao contrário da esposa.

Collins pôs o retrato de volta e tratou de procurar em todos os cantos do quarto por alguma coisa que lembrasse um diário: revirou as gavetas da cômoda, olhou debaixo da cama, abriu o guarda-roupa, mas nada. Até que reparou num canto um pequeno baú fechado com um cadeado. Mais uma vez, Victoria usou suas habilidades com o grampo e conseguiu abri-lo.

Ergueu a tampa e encontrou dentro vários itens que lhe chamaram a atenção: velas brancas, azuis e cor-de-rosa, sal marinho, cristais de rocha, athame, pentáculos de vários tamanhos, garrafa das bruxas e outros objetos que conferiam proteção aos portadores contra feitiçaria do mal. Havia também um caderno grosso e muito antigo com páginas bastante descascadas com um símbolo do pentagrama sobre a capa.

Por um momento, Vic achou que havia encontrado um dos diários de Alan, porém, ao abrir o caderno, na primeira página, numa caligrafia antiga escrita à tinta, constava:

 

MANUAL DE PROTEÇÃO AOS ENTES QUERIDOS CONTRA FORÇAS DO MAL.

Este manual pertence à Elizabeth Thompson que o passa à sua filha Mary Thompson e a todos os descendentes desta família

 

Victoria leu algumas páginas e deteve-se sobre uma em particular. Súbito, ouviu som de passos que se dirigiam até lá. Rapidamente, guardou o manual no baú, trancou-o e escondeu-se debaixo da cama. Por um triz, não era descoberta por Marta que acabava de entrar.

A mulher sentiu algo errado: para começar não se lembrava de ter deixado a porta destrancada e também o porta-retratos com seu marido estava um pouco fora de lugar; mas acima de tudo, tinha um sexto sentido aguçado. Ia se abaixar para verificar se havia alguém embaixo da cama, só por garantia. Victoria tentava pensar em algum motivo bem maluco para justificar sua presença ali.

Para a sorte da caçadora, Brian chegou nessa hora. Estava de calça jeans e jaqueta preta.

– Mãe, eu vou sair.

– Como assim vai sair? – indagou a mulher alterada – Já não basta seu irmão não ter voltado até agora com esse cavaleiro sem cabeça à solta? Estou aqui morrendo de preocupação e você quer me deixar mais preocupada?

– Mãe, por favor – ele revirou os olhos e deu as costas – Tô indo.

– Como assim está indo? Brian, não é assim, não. Brian! – a mulher se esqueceu de checar o quarto e fechou a porta.

Victoria suspirou de alívio e fez uma prece de agradecimento. Em seguida, saiu debaixo da cama. Pensou em sair pela porta, entretanto, não queria abusar da sorte. E se Marta ainda estivesse por perto?

O jeito era fazer de um modo mais difícil, mas que garantisse que não fosse descoberta. Sairia pela janela que estava aberta.

Vic olhou para fora. Ótimo. Estava escuro e não havia ninguém à vista àquela hora. A caçadora colocou um pé no balcão da janela para sentir a firmeza. Depois, colocou o outro pé e foi descendo com cuidado se firmando nos balcões inferiores até chegar ao chão. Ainda bem que havia praticado rapel por um tempo, o que lhe facilitou se segurar com firmeza.

Deu a volta e entrou pelo saguão. Neste instante, Brian saía sendo seguido pela mãe que o tentava impedir. Ficaram espantados ao ver Victoria.

– Senhorita Ryan? Estava lá fora? – indagou a senhora

– Sim. Estava ...sem sono – contestou Vic com naturalidade – Vim respirar ar fresco.

– Mas... estanho. Não te vi saindo.

– Mãe, por favor, agora vai querer tomar conta da vida dos hóspedes? – replicou Brian – Perdão, senhorita. E com licença.

– Brian! Brian! Volte aqui!

– Tchau, mãe!

– Brian!

Enquanto Marta tentava inutilmente impedir seu filho mais velho de sair, Victoria se apressou em chegar a seu quarto antes que a mulher lhe viesse com alguma indagação.

Eu tenho que falar com os rapazes logo.

– 0 –

Droga! Por que a demora?

Mark não aguentava esperar; era ansioso por natureza. A toda hora olhava o relógio. Já era mais de meia noite. Se não chegasse em dez minutos, iria embora.

Estava escuro e fazia frio. O rapaz se encontrava perto de uma pequena propriedade rural quase nos limites de Tarrytown.

Por que marcar um encontro justo naquele lugar e naquela hora?

A resposta veio em seguida de uma maneira que Mark não esperava. Um nevoeiro se formou e no meio dele, a poucos metros, aparecia mais uma vez o cavaleiro sem cabeça.

Não, algo estava errado. Não era possível. O cavaleiro não podia matá-lo, não ele.

O fantasma mostrou o contrário; disparou o cavalo já com o machado erguido para desferir um golpe.

O moço correu com todas as suas forças. Inútil. O cavalo e seu ocupante já se aproximavam.

Miserável!

– Socorro! Socorro! Alguém me ajude!

Mas ninguém apareceu.

– 0 –

Após a ida ao cemitério, Dean e Sam estavam dentro do Impala vigiando a propriedade dos Schmidt. Estariam atentos se o jovem Bill saísse da propriedade e o seguiriam, o que duvidavam já que eram quase três da madrugada.

Foi sugestão de Victoria. Ela concluiu que se Marta fosse a responsável por aquelas mortes e houvesse mesmo mandado o cavaleiro matar o rapaz, os Winchesters deveriam estar por perto para protegê-lo da assombração.

No momento, o moço não deu sinal de vida. Sabiam que ele estava em casa porque discretamente perguntaram ao vigia da propriedade e este confirmou a presença do rapaz.

– Que saco! Essa é parte que menos gosto... ter que bancar a babá de alguém – reclamou Dean – Ainda mais esse cara. Chega a ser tão irritante quanto o Davis!

– É, mas é o nosso trabalho e temos que proteger seja quem for – contestou Sam

Se conseguirmos. Duvido que alguns tiros vão parar o Alan de "seguir com sua sede de sangue"

– Pode não parar, mas vai atrasá-lo até que a Vic consiga achar a cabeça do cavaleiro e queimar.

– Isso se tiver mesmo no quarto da dona bruxa.

A conversa foi interrompida pelo toque do celular de Dean. Ele atendeu:

– Alô... Victoria – não pôde deixar de esboçar um sorriso ao ouvir a voz suave de Collins – O quê? Tá, entendi. Estamos indo pra aí.

Desligou o celular.

– O que houve? – perguntou Sam

– Parece que o cavaleiro fez mais uma vítima hoje... mas não foi o Bill Schmidt.

– 0 –

No Sleepy Hollow Hotel, alguns federais já se encontravam de serviço em plena madrugada. Alguns hóspedes também estavam acordados pelo alvoroço que ocorria.

Agentes do FBI haviam encontrado o corpo de Mark quase uma hora depois de ele ser morto. Moradores da pequena propriedade local onde ele esteve perto, haviam escutado os gritos do rapaz e o barulho de cascos de cavalos. Concluíram que deveria ser o cavaleiro sem cabeça . Mesmo sem saberem, telefonaram para o xerife Mitchell Cunningham. Este foi averiguar o local; ao achar o corpo sem vida do jovem, comunicou ao FBI.

Russell foi pessoalmente dar a má notícia à mãe do rapaz. A mulher ficou perplexa e não quis acreditar; por fim, acordou todos os hóspedes aos berros, inclusive Victoria. Imediatamente, a caçadora desceu e providenciou com o pessoal da cozinha uma água com açúcar para acalmar os nervos da hoteleira que se debulhava em lágrimas e lamentações de cortar o peito.

– Meu Deus! Por quê? Por quê? – exclamava sentada no sofá do saguão– Mark! Não era pra você ter morrido, meu filho! Não você! É impossível! Não tem como ser!

– Calma, senhora Thompson. A senhora tem que ser forte – Vic procurava tranquilizá-la. Estava sentada ao lado da hoteleira. Davis permanecia em pé e aguardava que a mulher se acalmasse.

– N... não posso! Não... tenho forças. Podia ser qualquer um, menos meu filho!

Russell deu um pigarro.

– Perdão, senhora... Sei que o momento não é oportuno, mas preciso que a senhora me acompanhe para identificar o corpo de seu filho.

– Isso não pode esperar, agente? – indagou Collins com reprovação – Ainda nem amanheceu.

– Lamento, mas é o procedimento.

– Ai, meu Deus! E Brian que não chega! Esse menino nem me disse aonde ia.

Dean e Sam chegaram nesse momento. Ao verem o agente Davis, fecharam a cara. O federal, por sua vez, olhou-os de modo cínico.

– Agente Davis. Parece que estamos sempre nos encontrando não? – replicou Sam forçando um tom amigável

– Pois é, meu caro Fox. O fantasma não dorme em serviço e nem eu – retrucou na mesma tentativa – E vocês, se me permitem perguntar, onde estavam até essa hora?

– É uma pergunta de cunho profissional ou você só está sendo intrometido mesmo? – provocou Dean com um sorriso mais cínico ainda.

Davis riu.

– Ah, Sasha... posso lhe chamar de Sasha, não? – provocou – É só curiosidade mesmo, intromissão se prefere dizer. Me interessa saber os passos de qualquer pessoa estranha à cidade.

– Por quê? Está querendo achar algum culpado para incriminar e mostrar serviço aos seus mandachuvas?

Sam deu uma cotovelada em Dean que gemeu de dor.

– Er... perdoe o Sasha, agente. Às vezes ele é muito brincalhão – sorriu forçado – Ele tem um senso de humor... negro.

– Não se preocupe. Não levo a sério nada do que ele me diz – mediu Dean de cima a baixo. O Winchester se segurou para não partir para cima do homem.

– Mãe! Mãe! – Brian acabava de chegar. Sua mãe se levantou do sofá e correu até ele. Abraçaram-se. Marta chorou mais ainda – É verdade... mãe? O Mark... ele está...

Marta não respondeu, apenas assentiu com a cabeça. Brian não conteve as lágrimas e os dois voltaram a se abraçar.

Victoria trocou olhares com os Winchesters e levantou-se para subirem.

– Com licença, agente Davis. Meus colegas e eu vamos subir. Foi um prazer revê-lo – cumprimentou-o com a cabeça

Porém, Russel se adiantou e pegou na mão de Vic para beijá-la. Não se importou em fazê-lo na frente de dois homens que estavam com vontade de tomar o lugar do cavaleiro e degolar o federal.

– O prazer é todo meu, senhorita Ryan. É sempre bom revê-la e... me desculpe se fui um pouco rude na última vez que nos encontramos.

– Tudo bem – Collins sorriu sem graça

– Vamos? – falou com os caçadores.

– Vamos! – os dois falaram ao mesmo tempo e postaram-se cada um de um lado da mulher, quase como se a estivessem prensando. Queriam de alguma forma marcar território e mostrar ao federal que mantivesse à distância.

Russell os olhou intrigado enquanto os três subiam.

– 0 –

– Acho que podemos descartar a nossa teoria de que a Marta seja a bruxa que controla o cavaleiro – declarou Sam tão logo os três se sentaram: ele e Dean na cama e Vic no sofá, de frente para os dois.

– A não ser que ela seja uma mãe desnaturada – completou Dean

– Eu consegui entrar no quarto dela – contestou Victoria

– E descobriu alguma coisa? – tornou Sam

– Sim... eu vi um baú e dentro dele havia alguns artigos de bruxaria.

– Mas então...

– Na verdade, eram artigos de proteção contra bruxaria ou qualquer entidade sobrenatural evocada por artes das trevas, tipo alguns pentáculos, cristais e até garrafa de bruxa.

– Você acha que era para se defender contra o cavaleiro sem cabeça?

– Sim. Havia também um manual de uma tal Elizabeth Thompson. É bem antigo, talvez da época em que começou essa maldição. Mas só tem feitiços para se proteger de entidades malignas, assim como para proteger os familiares. Essa Elizabeth era ancestral dos Thompson e uma bruxa, mas do bem.

– Ah, por favor, que história é essa? Uma bruxa do bem? – comentou um Dean sarcástico - Não existe isso.

– E por que não, Winchester?

– Pela experiência, oras. Todos os bruxos que o Sam e eu encontramos contradizem essa sua afirmação. Não tem essa, um bruxo é um ser maligno e pronto.

– Você parece enxergar as coisas muito preto ou branco, Dean – ela o inquiriu com leve repreensão

– É, minha vida tem sido assim: preto ou branco, aliás, mais preto do que branco.

– E por acaso você acha que minha vida também não? Eu passei por muita coisa que faria qualquer pessoa desacreditar de tudo, de Deus, da vida, das pessoas - fez uma pausa - Mas eu ainda acredito nas pessoas e no bem. Eu tenho esperança de que tudo vai melhorar um dia para todos nós, pra toda a humanidade. É por isso que sou uma caçadora: para garantir isso.

Os Winchesters ficaram surpreendidos por aquelas palavras de Collins que revelavam um pouco mais de seu caráter. Fitaram-na profundamente; aquela declaração havia despertado neles aquela mesma esperança e tranquilidade que sentiam quando estavam com ela em seus sonhos.

Vic se deu conta de que se abriu demais para eles e abaixou a cabeça brevemente um tanto constrangida. Levantou os olhos e os dois ainda permaneciam calados à espera que revelasse mais alguma coisa sobre si. Contudo, a caçadora recobrou sua postura inatingível e prosseguiu encarando Dean:

– Independente de sua opinião, Winchester, de qualquer jeito existe o fato de que parece que os Thompson estavam se protegendo do cavaleiro. Acho que por isso que ele parou com a maldição. Essa Elizabeth realizou um feitiço que afastou o fantasma e garantiu a eterna proteção da família. Eu li algumas páginas do manual e tinha um feitiço assim.

– Me explica então por que Mark Thompson foi assassinado pelo Alan? – retrucou Dean – Se é verdade que está sob algum feitiço de proteção perpétuo.

– Não deu pra ler o resto porque eu quase fui pega pela Marta nessa hora, tive que me esconder. Parece que tinha uma advertência, um porém para esse feitiço ser quebrado. Talvez esse seja o motivo do Mark ter sido uma vítima, inclusive... – Vic baixou os olhos como se recordasse de algo.

– Inclusive? – Sam incentivou

– Agora há pouco quando eu estava com a Marta, ela falou coisas como se o filho não pudesse ter morrido, como se ele fosse imune ao cavaleiro. Acho que é certo pensar que a Marta estava protegendo sua família da mesma forma que sua ancestral Elizabeth, mas algo saiu errado e o Mark foi atingido pela maldição.

– Talvez o feitiço não dê certo se alguém da própria família atiçar o cavaleiro contra outra pessoa da família – sugeriu Dean

– Dean, por favor, está sugerindo que a Marta sacrificou o próprio filho para o cavaleiro?– Sam rechaçou a ideia – A troco de quê?

– Ah... nunca se sabe, talvez esse seja o preço para ela completar sua vingança contra os Tassel e os Schmidt que arruinaram sua família há séculos. Ela é uma bruxa e com bruxas, tudo pode ser – tanto Vic quanto Sam reviraram os olhos – Mas não... não estava pensando nela. Vejam bem... talvez seja possível que o Brian Thompson esteja por trás disso.

– O Brian? Por quê?

– Tudo se encaixa, pessoal. Pô, ele quer se vingar das duas famílias que fizeram da sua família gato e sapato por um monte de anos... e até ele próprio. Se lembram da briga dele com o idiota do tal Bill? É um motivo forte.

- Certo. Vingança. Pode ser... – Vic resolveu considerar a possibilidade – Mas como ele pôde ter descoberto os diários de feitiço do Alan?

– Vai ver havia algum feitiço nesse manual que você achou.

- Só havia feitiços de proteção.

- Mas e se não? E se tiver algum feitiço pra descobrir algo sobre a maldição dos Thompson?

- Tudo bem. Vamos supor que sim. Como fica o resto?

- Que resto?

- Os diários. E por que Brian mataria o próprio irmão?

– Ah! Dá... dá pra encaixar as coisas... Nunca fui de quebra-cabeça, mas dá pra montar esse esquema.

- Hum-hum. – Victoria assentiu com expressão de passagem – Vamos? Estou esperando o seu esquema.

- Bem... er.... eu – Dean coçou a cabeça. Sam reprimiu uma risadinha – Certo. Tem esse feitiço que o gerente descobre... ele decide fazer. Talvez conjura algum espírito, sei lá... algo assim.

- Aham

- Aí ele descobre que no Arquivo Público existem os diários do Alan, o tal cavaleiro sem cabeça. Ele dá um jeito de descobrir a localização desses diários, entra no Arquivo uma noite e rouba os diários. Agora que o bicho vai pegar! – o Winchester esfrega as mãos entusiasmado por detectar certo interesse de Victoria por sua teoria. Sam revira os olhos – E então... ele invoca o cavaleiro e começa a eliminar todos os Tassel e Schmidt da cidade. E depois do vexame aqui com o mané do Bill e sua gangue na frente de todo mundo e até da garota Tassel, ele diz que o cavaleiro sem cabeça há de pegar o Bill. Mas, pasmem! O cavaleiro fracassa. E no outro dia, o gerente discute com o irmão dele.... e pode ser por isso. Não pelo que ele disse de um hóspede cair fora, mas pode ser que o tal Mark sacou o lance do irmão e foi ameaçado de morte. O mané não acredita que o Brian vai mandar o cavaleiro pra cima dele, mas... pimba! – Dean bate o punho na palma da mão – O cavaleiro pega ele de jeito.

Dean terminou seu relato minucioso dos supostos passos de Brian com um orgulho estampado no rosto. Porém, desmoronou ao contemplar os rostos de paisagem de seus companheiros.

– É nessa parte que nós tínhamos que bater palmas? – Victoria apoiou a mão no rosto. Sam disfarçou o riso ao esconder o rosto na mão.

– Era uma bela teoria – disse com expressão aborrecida

– Sou obrigada a concordar – tanto Dean quanto Sam a fitaram pasmos – Não é de todo mal.

– Victoria... você não pode estar considerando essa possibilidade. – replicou Sam – Está?

– Tenho que admitir que não esperava que seu irmão elaborasse boas teorias – Dean estreitou os olhos e sorriu amarelo para ela – Mas não é absurdo o que ele disse – voltou-se para Sam - Veja bem, é muita coincidência que duas pessoas com que o Brian tenha discutido tenham sido atacadas pelo cavaleiro na noite do mesmo dia, sendo que uma teve a sorte de escapar.

Dean olhou para Sam com um sorriso vitorioso de quem diz "Tomou?".

Sam ainda não estava convencido.

– Mas os dois são irmãos. Brian não poderia...

– Qualé, Sam? Até parece.... – Dean revirou os olhos – E aquele caso que pegamos do navio fantasma? – virou-se para Victoria ao notar sua expressão indagadora – Um monte de gente doida que morria asfixiada com água por terem matado alguém do próprio sangue depois de verem por dias um antigo navio de um capitão morto pelo irmão. Tinha até uns irmãos que assassinaram o próprio pai pra ficarem com a herança.

Sam não respondeu. Sabia que Dean tinha certa razão em seu argumento, embora para ele fosse inadmissível um irmão querer matar o outro. Por outro lado, não queria aceitar tal ideia porque lhe incomodava que Victoria fosse da mesma opinião.

– Então... essa é a nossa possibilidade? – tornou o Winchester mais novo – O nosso próximo passo? Investigar Brian Thompson?

– Por falta de alguém mais provável, creio que sim – respondeu Victoria – Mas vamos ficar atentos, continuar a vigiar também o Bill pra ver se o cavaleiro vai atacá-lo de novo, talvez pesquisar mais a fundo... não sei. No momento só temos isso.

O Winchester assentiu.

Dean bocejou e esticou os braços.

– Gente, eu não sei quanto a vocês, mas estou pregado.

– É, melhor dormirmos. – assentiu Victoria – Daqui a pouco vamos ter que acordar mesmo pra mais investigações

– 0 –

Num lugar escuro, a um canto bem escondido dos olhares de curiosos, estava um saco imenso amarrado por um cordão.

Um vulto se aproximou do saco. Carregava uma cabeça pelos cabelos. Colocou-a no chão duro, desamarrou o saco e abriu-o. Um cheiro fétido e podre saiu de dentro.

A pessoa pegou a cabeça e, antes de colocá-la lá, virou a face de frente para si. Era o rosto de Mark Thompson com seus cabelos ruivos e os olhos abertos sem vida.

A figura sorriu maldosa e disse com desprezo:

– Idiota.

– 0-

Sam não conseguia dormir, pelo menos não desde que havia começado a dividir o mesmo quarto que Victoria Collins.

Contemplava sua face serena. Parecia que ela sonhava com algo tranquilo envolta pelo cobertor que escondia suas formas voluptuosas. Não se parecia em nada com aquela mulher preparada para lutar contra todos. Naquele momento, ela não era a Indomável, mas sim sua Fada.

O moço sorriu. Aquilo era uma tortura para ele. Tê-la ali perto dele e não tocá-la.

Estava deitado do lado esquerdo da cama de frente para o sofá onde a caçadora dormia. Dean e ele brigaram até para quem ficava com o lado esquerdo da cama e tiveram que tirar na sorte. Felizmente, ele ganhou mais uma vez.

A sorte parecia estar a seu favor quanto à questão do amor. Amor. Será que podia definir assim tão de repente seus sentimentos por Victoria? Ela não era nada sua. Ainda.

Tinha certeza apenas que se sentia feliz a seu lado mesmo que o destratasse. Ela era real. E isso era tão bom!

Seja o que fosse que sentisse por Victoria, queria se aproximar até onde ela permitisse. Seria seu colega de trabalho, um simples amigo... ou algo mais. E esse algo mais era o que desejava.

Que Bobby o perdoasse, mas não sabia se conseguiria cumprir a promessa de não se envolver com sua sobrinha, caso tivesse alguma oportunidade com ela.

– 0 –

– Quando eu soube, eu quis correr para o hotel te abraçar, mas... fiquei com medo de sua mãe não gostar e me mandar embora – disse Katharina abraçada a Brian.

Estavam os dois numa praça pouco frequentada. Eram quase nove horas da manhã.

– Ela nem saiu do quarto depois que tivemos... que ir ao necrotério identificar o corpo. – o gerente se desgrudou do abraço da namorada. – Ela não teria visto você por lá.

– Você parece tão cansado.

– É, com toda essa confusão não deu pra dormir.

– Quem está tomando conta do hotel?

– O Simon, nosso chefe de cozinha. Ele trabalha há tanto tempo conosco que já aprendeu alguns macetes de dirigir um hotel. Vai quebrar um galho só por hoje até minha mãe se recuperar do choque... e eu também.

– E como você está, amor?

– Me sinto tão mal... Kath, eu discuti com meu irmão na última vez em que nos falamos. Eu desejei nunca ter tido um irmão... E agora... ele está morto. Morto e eu não posso pedir desculpas a ele por ter falado coisas tão horríveis.

– Brian... – ela o abraçou de novo. De repente, ela se soltou e olhou-o assustada como se lhe passasse uma ideia tenebrosa – Meu Deus... seu irmão... um Thompson foi morto! Será que... sua família também está amaldiçoada pelo cavaleiro... outra vez? E se ele... ele vier atrás de você, Brian?

– Se ele vier, estarei pronto – disse com postura de desafio – Eu acabarei com esse fantasma nem que seja a última coisa que eu faça!

– Não, Brian! Ficou louco? É... é um fantasma. Um ser sobrenatural. Você não pode com ele! – fez uma pausa – A gente não pode mais ficar aqui! Nós temos que fugir como você tem me pedido.

– Fugir pra onde, Kath? Ninguém pode sair de Noth Tarrytown enquanto os federais estiverem por aqui. E como ficam nossas mães?

– Mas, Brian...

– Não podemos sair daqui agora e deixar nossas mães desamparadas. E se elas também forem as próximas vítimas? Temos que ficar até que tudo isso se resolva.

– Não vou suportar se alguma coisa acontecer com você! Eu já perdi meu irmão, meu pai... eu não quero perder você.

– Não se preocupe, Kath. Você não vai me perder. Olha pra mim – fitou-a - Aconteça o que acontecer esse demônio não vai matar mais ninguém e nem separar a gente.

– Como você pode ter tanta certeza disso?

– Eu... não sei. Eu só sinto.

– 0 –

Ela estava penteando seus cabelos e mirava-se no espelho de corpo inteiro na porta do guarda-roupa.

Victoria havia colocado um conjunto de terno e saia azul claro, sapatos de salto e deixou os cabelos soltos. Enquanto se arrumava, certo Winchester não parava de admirá-la.

Naquele momento, Dean observava mais do que as belas formas da moça; também estudava o ar distinto que possuía e os gestos suaves com que se aprontava. Ela parecia tão suave... como um anjo. Seu Anjo.

Queria poder esquecer toda aquela coisa de cavaleiros sem cabeças, agentes do FBI, apocalipse, Miguel e Lúcifer e até mesmo Sam e ir para um lugar tranquilo com ela.

Deus, no que estava pensando? Que viagem! Claro que não! Aquela mulher era uma chata e mandona. Gostosa e linda, mas chata e mandona. O que ele menos queria era se envolver com ela, ficar à sua mercê igual à versão alternativa de seu Eu futuro. Se havia mesmo um Deus que Castiel insistia em procurar, que Ele o livrasse daquele destino.

Estava cansado. Era isso. Dormiu pouco; sua mente estava a pensar em disparates.

Na mesma hora em que rechaçava aqueles sentimentos, lá estava ele a contemplar a "mulher de seus sonhos".

Victoria acabou percebendo, pelo reflexo do espelho, que o Winchester a fitava com aqueles olhos verdes abrasadores. O coração da moça disparou e ela tentou fingir que não via nada, entretanto, seus movimentos começaram a ficar um pouco paralisados; era como se os olhos de Dean pesassem sobre ela.

Felizmente, o outro Winchester, que conseguia perturbá-la da mesma forma, saiu do banheiro e fez com que ela mudasse o foco da mente.

– Muito bem. Vocês estão prontos?

– Sim – respondeu Sam

– Então eu já vou. Vou dar um pulo na delegacia pra ver se me informam alguma coisa sobre o caso do Mark.

– Não vai procurar o Davis? Ele parece bem disposto a lhe dar alguma informação – provocou Dean, mas queria saber se ela, de fato, viria o agente, coisa que o incomodava bastante.

– Não, mas... se eu fosse, você teria alguma objeção? – devolveu no mesmo tom

– Objeção? Nenhuma – replicou fazendo um breve bico que desdenhava a sugestão.

Collins conteve um sorriso que insistia em se desenhar em sua face.

– OK. Vamos só repassar o nosso plano – tornou em tom professoral e apontou para Dean - Você vai observar o movimento no terceiro andar perto da porta do quarto do Brian...

– Se tiver tudo OK, faço sinal para o Sam – continuou o loiro – Aí ele vai usar o grampo de cabelo que você emprestou pra abrir a porta e vai entrar no quarto.

– Certo.

– Depois, vou revirar as coisas dele pra ver se está com o diário e a cabeça do cavaleiro – completou Sam – E depois, dou um toque no celular do Dean pra que me confirme se a barra está limpa.

– E se estiver, dou um toque em resposta. E se não tiver, dois toques.

– E aí eu saio.

– Muito bem, Winchesters. Gostei de ver. – Vic sorriu sem se conter – Que bom que estão sincronizados.

Cada vez mais gostava de trabalhar com aqueles homens e mais admirava as habilidades de ambos.

Os dois nada disseram, apenas devolveram com sorrisos em resposta. Adoravam quando Victoria sorria; era lindo de se ver.

– 0 –

Um telefonema ao meio-dia tocou na delegacia. O xerife Cunningham atendeu.

– Alô?

– Alô. Eu tenho uma denúncia a fazer – respondeu uma voz abafada do outro lado da linha, a qual não dava para distinguir se era masculina ou feminina.

– Denúncia a respeito de quê? – perguntou o xerife

– Sobre a identidade da pessoa que tem se passado por cavaleiro sem cabeça e matado tanta gente. Sei quem é e onde se encontram escondidas todas as cabeças que ele recolheu das vítimas.

– 0 –

Victoria retornou mais tarde do que esperava, quase na hora do almoço. Foi à delegacia questionar o xerife se havia achado alguma evidência do assassinato de Mark. Usou como pretexto o fato de ser hóspede do hotel onde o rapaz trabalhava e que, por isso, lamentava e queria colaborar de alguma forma. Pediu para Cunningham mantê-la informada e, ao sair, acabou encontrando o agente Davis.

O federal insistiu em que tomassem um café juntos mesmo que fosse rápido. A caçadora não teve remédio senão aceitar, porém, logo se arrependeu. Russell a crivou de perguntas sobre sua vida pessoal, a qual habilmente ela inventou várias respostas.

Felizmente, não durou muito esse pequeno encontro deles, pois o federal foi chamado por um dos seus subordinados. Era isso que explicava para seus companheiros de quarto.

– Se divertiram? – Dean não conseguiu se segurar

– Nossa! E como! Davis é uma ótima companhia – não era verdade, apenas disse para provocar o Winchester. Sentia certa satisfação ao perceber ciúmes da parte dele.

Dean ia retrucar aquela resposta, entretanto, Sam interrompeu:

– E... você descobriu alguma coisa?

– Não. Como sempre as mesmas evidências sem nenhuma base; um corpo com o sangue todo drenado e nada mais. E vocês? Encontraram alguma coisa no quarto do Brian?

Sam negou com a cabeça.

– Mas não me surpreende – replicou Dean – Se eu tivesse uma mãe superprotetora que gosta de se meter em tudo na minha vida, eu nunca esconderia qualquer coisa no meu quarto que indicasse que "estou me desviando do caminho". Mas a gente está pensando em segui-lo, talvez nos leve para algum outro lugar que esconda esses diários e uma cabeça.

– Ótimo! Façam isso.

O celular de Victoria tocou. Ela atendeu.

– Ah...oi – abaixou o tom de voz, levantou-se do sofá e foi para um canto do quarto.

Tentou falar o mais baixo possível para que os Winchesters não escutassem. Dean trocou olhares com Sam, mas este deu de ombros.

Era Matt no telefone, o informante de Collins. Graças a ele, Vic recuperou seu celular – que havia esquecido num motel ao saber do acidente de Bobby. O aparelho havia sido enviado pelo correio quando ela estava na casa do tio e continha todos os seus contatos importantes.

– Está tudo providenciado? - sussurrava enquanto se distanciava o mais que podia de seus companheiros – Isso. Você levantou as fichas direitinho. Ótimo! Você pode falar com... o Bobby – abaixou mais ainda o tom de voz ao sussurrar o nome do tio – Não... agora não dá, tem que ser você. Estou com eles aqui. Ele lhe dirá em quais nomes. Sim, obrigada. Como sempre você fez um ótimo trabalho. Tchau.

Desligou o aparelho e voltou sua atenção para os Winchesters. Ambos lhe dirigiam olhares inquisidores como se quisessem saber com quem estava falando e o teor do assunto. Ela, porém, despistou:

– O que estávamos falando mesmo?

– Mas os senhores não têm esse direito! – o grito estridente de Marta Thompson no corredor do terceiro andar chegou aos ouvidos dos caçadores.

– O que será que está acontecendo? – indagou Collins

– É melhor a gente descer pra descobrir – sugeriu Dean e foi o primeiro a sair do quarto seguido por seus companheiros.

Desceram até o terceiro andar e avistaram Marta do lado de fora do quarto de Brian discutindo com o xerife Cunningham e mais três federais, dentre eles, Russell Davis.

– Vocês não podem vir aqui com esse tipo de acusação absurda! Meu Deus! Não basta terem me submetido a ver meu filho morto, agora invadem minha casa com insinuações de que o Brian é o autor de todos esses assassinatos, até do próprio irmão?

– Senhora Thompson – Collins a chamou – Algum problema?

– Oh, Senhorita Ryan. Por favor, me ajudem! – a mulher correu para os braços de Vic igual a uma criança chorona – Esses desalmados estão dizendo que meu filho pode ser o assassino do próprio irmão e invadiram minha casa. Tire eles daqui, por favor!

– Não é invasão. Nós temos um mandato, senhora – Russell falou num tom paternal como se dissesse a uma criança malcriada e ignorou os caçadores, até mesmo Victoria – E temos que investigar qualquer evidência. Fizeram uma denúncia contra seu filho.

– Coisa de algum malvado! De pessoa que não tem nada mais nada a fazer do que brincar com vidas alheias – a mulher esbravejou com revolta. Depois, dirigiu um olhar de súplica a Cunningham - Xerife, por favor. Não me submeta a algo assim.

– Me desculpe, Marta. Mas não está em minhas mãos – disse com expressão pesarosa.

– Foi o próprio xerife que nos comunicou – anunciou Davis como para se eximir um pouco daquela responsabilidade – Não se preocupe, só vamos dar uma olhada. Se for realmente uma brincadeira cruel, não encontraremos nada.

Entraram no quarto. Marta quis correr e tentar impedir, entretanto, foi segurada por Collins que a olhou com bondade e apertou seu ombro como para lhe aconselhar a colaborar. A mulher assentiu pesarosa.

– Posso pelo menos estar presente? – indagou em tom alto.

– Pode. – gritou Davis do quarto

Marta puxou Victoria como que pedindo para acompanhá-la e Collins se deixou conduzir seguida pelos Winchesters.

Os agentes começaram a revirar o quarto do rapaz, mas nada encontravam. Marta e seus três hóspedes só observavam. Dean sentiu um cheiro podre e fétido vindo não se sabia de onde. Franziu o nariz.

– O que foi? – perguntou Sam ao ver a expressão de nojo do irmão.

– Vocês não estão sentindo?

– O quê? – indagaram Collins e Sam quase ao mesmo tempo.

– Esse cheiro.

Russell, mesmo concentrado em seu trabalho, estava atento a tudo. Ouviu o comentário. Parou um instante e começou a aspirar o ar.

– Hum, é mesmo. Bom olfato, Sasha – olhou para Dean - E está vindo dali – apontou em direção a um guarda-roupa embutido na parede. Era o único lugar que faltava para investigarem.

Abriram o guarda-roupa. O cheiro ficou mais forte. Todos do quarto torceram o nariz. Russell afastou algumas roupas e sapatos até chegar ao fundo do compartimento. Havia uma pequena porta lacrada.

– Aonde vai dar isso? – perguntou à Marta

– A... uma antiga passagem secreta... na verdade, um labirinto que existe dentro do hotel que só meus filhos e eu sabemos da existência. Essa é uma das entradas, mas está lacrada há anos. Tem outra entrada, mas eu nunca deixei meus filhos entrarem nesse local porque deve estar cheio de aranhas, ratos ou outros bichos nocivos.

– Vamos descobrir se eles lhe obedeceram – tornou com sarcasmo

Russell era um homem precavido. Trouxe dentro de um saco carregado pelos seus subordinados uma picareta. Tirou-a de dentro.

– Me desculpe, senhora, mas... são ossos do ofício – dirigiu-se à Marta como que se desculpando pelo que faria.

Começou a bater forte naquela porta com a picareta. Marta fechou os olhos não tanto pelo barulho em si, mas por um pressentimento de que algo ruim estava por vir. Vic apertou sua mão como que lhe passando segurança.

Depois de algum tempo, a porta já estava destruída, mas nada se enxergava além tal a escuridão que tomava conta. Contudo, o cheiro estava mais forte.

– Ilumine aqui – ordenou Russell a um dos seus subordinados.

O federal acendeu a lanterna e permitiu que Russell tivesse um vislumbre do interior do local. Ele entrou seguido pelos seus empregados e pelo xerife.

Passaram-se vários minutos. Dean, Sam e Vic tinham vontade de entrar, porém, sabiam que não podiam. Era abusar muito "da permissão" do FBI. Aquela espera os estava impacientando, mas nada diziam uns aos outros.

Finalmente, os federais e o xerife voltaram. Traziam com eles um saco grande com uma mancha enorme vermelha no fundo e dois galões de gasolina.

O cheiro que dantes era insuportável, agora invadia as narinas mais profundamente, ia até a bílis e fazia qualquer um querer vomitar.

– O que vocês acharam? – perguntou Collins olhando firme para Russell.

Neste momento, Brian chegava meio assustado.

– Mãe, o que está acontecendo? – perguntou confuso olhando para Marta e os demais – O que a polícia está fazendo aqui?

– Brian Thompson, você está preso pelo assassinato de quinze pessoas, incluindo seu irmão Mark e de ter provocado o incêndio na casa de Richard Van Tassel – anunciou Davis

– O quê? Que absurdo é esse? – Marta gritou descontrolada. Collins a segurava

– As provas estão aqui – continuou o agente – Esses são os galões de gasolina e neste saco estão quinze cabeças... a do seu filho Mark também está aí.

Marta não gritou. Olhou aterrorizada para o saco. E sem que ninguém esperasse, desmaiou. Sam a amparou nos braços juntos com Victoria.

– Mãe! - Brian gritou disposto a acudir Marta, entretanto, foi impedido por Russell.

– Queira nos acompanhar, Brian Thompson.


Notas Finais


Bom, gente, é isso aí! O próximo capítulo será a conclusão do caso. Já estou escrevendo e falta pouco para terminar.

Até lá.


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