Não pude conter o sorriso enquanto relia pela terceira vez aquelas palavras tão simples, porém tão delicadas ao mesmo tempo. Ele sempre sabia o que falar.
Guardei a pequena carta dentro de uma caixinha na minha gaveta, caixa na qual guardava coisas que ele me dava, como aquele pequeno bilhete que falava sobre sua ‘’lista de vícios’’.
Coloquei o violino em meu colo e passei meus dedos pelas cordas, permitindo que meus olhos se enchessem de lágrimas.
Não estava triste, definitivamente não. Yoongi me deixava feliz com atitudes mínimas, ele sempre me fazia sorrir, mas existem momentos em que a alegria é tanta que ela se transforma em lágrimas.
Era tão bonito tudo que ele estava fazendo por mim, mas sinto que não faço o suficiente pra retribuí-lo. Eu, na verdade, não faço a mínima ideia de como poderia retribuir tudo isso.
Peguei meu celular e logo liguei pra ele, assim como tinha me pedido.
– Oppa – falei assim que ele atendeu, sorrindo ao ouvir sua voz novamente.
– O que achou do presente? – perguntou animado.
– Pode me dizer como me conhece tanto assim?
– Eu presto atenção em detalhes, lembra?
– Essa foi a coisa mais linda que alguém já fez por mim, Yoongi.
– Você gostou mesmo? Achei que seria antiquado, ou que me acharia velho...
– Você não é velho e nem antiquado, dá pra parar de falar isso?
– Parei!
– Olha, nem sei como te agradecer.
– Nem precisa.
– O que você quer de presente?
– Eu não te dei isso esperando algo em troca.
– Vai me ensinar a tocar, então?
– Só se você me prometer que fará parte do show de talentos.
– Eu prometo.
– Então eu te ensino – sorri fraco – Meu melhor amigo vai passar alguns dias aqui em casa, quero muito que vocês se conheçam.
– Vai ser um prazer conhecê-lo, quando ele chega?
– Daqui à dois dias, tem espaço na sua agenda pra esse importantíssimo compromisso?
– Vou dar uma olhada na minha agenda imaginária aqui, mas acho que pra sua sorte tenho o dia disponível.
– Ótimo – riu baixo.
– Tae acabou de mandar uma mensagem, acho que vou ter que desligar.
– Até logo, baixinha.
– Te amo – falei envergonhada e desliguei rapidamente, maldita timidez.
Li rapidamente a mensagem de Tae, que pedia para que eu fosse até o quarto dele. Não era mais fácil bater na porta e me chamar pessoalmente?
Larguei o celular na cama, coloquei o violino novamente na maleta e logo fui até o quarto do Taehyung.
– O que ele te deu? – Tae perguntou assim que abri a porta.
– Um violino, por que? – ele riu com certo tom de ironia.
– Você acha mesmo que um violino é um presente legal pra se dar pra namorada? É o tipo de presente que daria pra nossa tia ou até mesmo nossa avó.
– É um presente legal quando não se pensa apenas em ostentar o dinheiro da sua mesada – falei de braços cruzados.
– Só não quero que se decepcione.
– Infelizmente não acredito mais nisso – falei virando as costas pra ele.
– Não acredita no que?
– É praticamente impossível de acreditar que não quer que eu me decepcione sendo que você é o único que está me decepcionando.
– Onde está indo? – perguntou assim que segurei na maçaneta e abri uma pequena fresta da porta.
– Vou dormir na casa de um amigo.
– Jungkook?
– E desde quando isso te interessa?
– Desde que eu sou seu primo.
– Com quem eu saio ou deixo de sair nunca foi problema seu.
– Onde foi parar a minha prima que dizia tanto que me amava? Esse garoto tá mexendo tanto com você.
– Você afastou ela, não culpe o Yoongi pela sua ignorância, Taehyung. Eu ainda te amo, só não tenho mais paciência pros seus comentários inúteis.
Fechei a porta e voltei pro meu quarto, arrumando algumas roupas dentro da mochila. Coloquei o celular no bolso, peguei minhas chaves, o violino e logo saí.
Algumas quadras depois, fiquei parada em frente à casa cinza onde eu costumava passar grande parte dos meus dias. Fazia tanto tempo que não vinha pra essa região, evitava vir aqui pra não dar ‘’motivo’’ para os vizinhos fofocarem com meu primo, mas quer saber? Eu nem ao menos me importava de verdade com o que aquelas velhas desocupadas falavam de mim.
Então bati na porta e sorri ao ver o garoto baixinho que tanto me fazia falta.
– Oi Minnie, será que tem um lugarzinho pra mim?
Yoongi P.O.V
Estava deitado quando senti meu celular vibrar embaixo do travesseiro. Peguei o mesmo rapidamente e atendi ao ver o nome de Yumi na tela.
– Yoongi-ah...eu te fiz uma promessa – disse baixinho, praticamente sussurrando.
– Minha atenção é toda sua – sorri, me ajeitando melhor na cama.
– Eu te conto e você me dá um conselho final, ok?
– Tudo bem, como foi?
– Jungkook é um ótimo garoto, me tratou bem como ninguém havia feito antes. Ele só tem medo de ser ele mesmo, sabe? Continua tentando mostrar a personalidade que ele demonstra na faculdade, e eu sei que ele não é assim de verdade.
– Como ele é de verdade no seu ponto de vista?
– Ele não é como aqueles meninos, Yoongi. Ele não é babaca e arrogante, não pensa só em esportes e é bem mais sensível. Por que insiste tanto em tentar mostrar que é desse jeito se não é?
– Porque tem medo de não ser aceito.
– Por quem?
– Pelos garotos que são assim, pelos ‘’amigos dele’’.
– Taehyung e os outros, não é?
– Aqueles garotos são parâmetros de comparação pros outros, ‘’se eles não te aceitarem, ninguém mais vai aceitar’’.
– Eu não aceito o Jungkook se ele continuar achando que é legal ser como aqueles caras.
– Aceite ele do jeito que for, apenas ajude-o a se encontrar. Ele não precisa de alguém que o julgue e fale que está errado, precisa de alguém que o ensine a ver o que está tentando esconder de si próprio.
– Obrigada pelo conselho, Yoonie.
– Sempre que precisar – sorri.
– Vou conversar com ele amanhã.
– Faça isso, vai ser bom pros dois.
– E o seu presente? Deu tudo certo?
– Acho que sim, bom, ela gostou pelo menos.
– O que era?
– Amanhã mesmo você vê.
– Bom, eu vou fazer umas anotações da aula de inglês e te deixar descansar em paz.
– Boas anotações então.
– Obrigada de novo, até amanhã – falou animada.
– Até amanhã.
Desliguei e coloquei o celular novamente embaixo do travesseiro, voltando ao silêncio que me faz tão bem.
Então comecei a pensar em como poderia dar um passo adiante no nosso relacionamento, bom, na verdade sei bem como fazer isso mas quero que seja único e especial.
Eu fiz ela esperar tanto, não posso deixar que seja só uma coisa normal e passageira.
Acho que sei perfeitamente o que fazer.
_____ P.O.V
– Tudo bem com você? Aconteceu alguma coisa? –Jimin perguntou ainda estranhando me ver por ali depois de tanto tempo.
– Eu queria te ver.
– Claro, é...entra – disse segurando a porta, fazendo sinal para que eu entrasse – Seu primo sabe que você veio aqui?
– Não, mas tenho certeza que a Sra. Lier vai fazer questão de contar pra ele – sorri enquanto colocava minhas coisas no cantinho da sala.
– Provavelmente – sorriu, sentando no sofá logo em seguida – Não sabia que tocava violino.
Disse olhando em direção à maleta agora encostada na parede.
– É, eu também não – falei sentando-me ao seu lado.
– Senti sua falta – pegou em minha mão, passando o polegar lentamente sobre ela.
– Também senti muito sua falta.
–Mas ao que devo as honras da sua presença na minha humilde casinha? O Jungkook tava ocupado?
– Saiu com uma garota.
– Ok, não devemos estragar os milagres – riu baixo.
– Se estiver te atrapalhando vou embora.
– Não, fica – falou e eu sorri rapidamente, o abraçando com força.
– Preciso conversar com alguém que não esteja envolvido no assunto...
– Precisa falar do menininho excluído não é? Vocês estão namorando afinal?
– Não é bem um namoro, a gente só tá junto.
– Tae disse que nunca se beijaram.
– E é exatamente por isso que não quis ficar em casa hoje – respirei fundo –Yoongi me deu aquele violino e Tae sempre tem que fazer algum comentário machista e babaca sobre tudo o que acontece comigo.
– Qual é o problema do menino te dar um violino? Ele é todo esquisitinho, seria estranho se ele te desse flores ou algo convencional demais.
– Você também acha ele estranho...esqueci que Tae e você são praticamente a mesma pessoa em corpos diferentes.
– E eu num corpo bem melhor e mais gostoso – riu e eu revirei os olhos – Mas falando sério, não uso ‘’estranho’’ como ofensa, é até legal.
– Sei.
– Juro, o carinha estranho é interessante! Gosto de ver que ele te faz feliz, é até bonitinho de ver vocês juntos.
– Só fala isso pra me agradar.
– Falo porque acho legal mesmo, você sabe muito bem que não falo nada pra agradar ninguém.
– É, tô sabendo.
– E o que queria saber de ‘’alguém que não esteja envolvido nesse assunto’’?
– O que você acha sabe... de nós dois...como um casal? Acha que vai dar certo? Acha que ele gosta mesmo de mim?
– Não posso dizer se ele gosta de você, afinal, nunca conversei direito com ele. Acho vocês um casal interessante por serem tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo e isso só vai dar certo quando ambos pararem de se importar com a opinião do Taehyung.
– Mas ele é meu primo.
– E o Yoongi é seu namorado ou algo tipo isso. Só cabe a você ver qual dos dois é sua prioridade, e qual deles você deveria ouvir.
– Nunca achei que teria que decidir entre relacionamento ou família.
– É uma via de mão dupla, ou namora com o Yoongi ou continua debaixo das asas superprotetoras do seu primo, você só pode escolher uma.
– Mas eu amo o Tae também.
– Quem você ama mais? Yoongi ou Taehyung?
[...]
No dia seguinte acordei lotada de mensagens do Taehyung, perguntando onde e com quem eu estava. Apenas ignorei e levantei, dando de cara com Jimin saindo do seu quarto.
– Bom dia – disse sorrindo fraco ainda com o rosto amassadinho de sono.
– Bom dia e obrigada por me deixar dormir aqui – falei animada, o abraçando.
– Sempre que precisar esfriar a cabeça é só vir aqui, a porta sempre estará aberta pra você e até pro esquisitinho se ele quiser.
– Gentil da sua parte – ri baixo.
– Preparada pro questionário infinito do seu primo assim que a gente chegar na faculdade?
– Nunca estou psicologicamente preparada pras 169 perguntas do Taehyung.
– Já sabe o que vai responder pra pergunta mais óbvia?
– Com quem eu estava...não, não sei o que responder, mas eu me viro.
– Qualquer coisa, não vi nada, não sei de nada e você não esteve aqui, não é?
– Exatamente – sorri.
– Então vai se arrumar que a gente tem que estar na faculdade em menos de 15 minutos.
– Entendido capitão –riu baixo e voltou pro quarto, se trancando lá.
Me arrumei tão rápido que em menos de 5 minutos já estava sentada no sofá com uma vasilha de cereais na mão, apenas esperando que a dama terminasse de se arrumar.
– Não demora viu _____ – ele disse assim que abriu a porta e assim que me viu no sofá acabou corando – Opa, acho que quem demorou fui eu.
– Fiz uma vasilha pra você também – falei entregando a mesma que estava sobre a mesinha, ele pegou e se jogou ao meu lado.
– Você é um anjo – disse enquanto dava um beijo fraco em minha bochecha.
[...]
Depois de comermos, coloquei minhas coisas no carro de Jimin, pendurei a mochila em um ombro e a maleta do violino no outro.
– Você realmente vai andar com esse troço pra todo o canto? – perguntou assim que entrou no carro e colocou o cinto.
– Vou!
– Cada um com as suas loucuras, nem vou me meter – disse colocando as mãos no volante – Coloca esse cinto, não quero me responsabilizar pela morte de violinista nenhuma não.
– Ia ser só uns pontos na carteira e um pesinho na consciência.
– Um pesinho que iria pesar mais do que os pesos que levanto na academia.
– Poxa, 1 quilinho só? Nem ia pesar.
– Eu carrego três de você com uma mão só, tá meu amor?
– Acho que o peso da sua ilusão é maior que todos os outros.
– Você não mudou nada mesmo.
– Você também não.
– Acho que isso é um bom sinal.
– Com certeza, nossa amizade sempre vai continuar a mesma.
– Promete?
– Prometo.
– Sem mais afastamento por causa do Taehyung.
– O Taehyung não vai me atrapalhar, não mais.
– É isso que eu gosto de ouvir!
[...]
Uma esquina antes de chegarmos na faculdade, desci do carro para que ninguém soubesse que estávamos juntos. Não queria estragar os esquemas dele e nem prolongar questionamentos.
Então fui caminhando até o campus, com o violino agora em mãos e a mochila pesada presa em ambos os ombros.
– ____ – sorri ao reconhecer a voz de Yoongi, que atravessava a rua naquele instante.
– Ei – respondi animada e dei a mão pra ele assim que ficamos próximos.
– Onde estava? Veio do lado ao contrário da sua rua...
– Na casa do Jimin.
– Ah – disse meio chateado.
– Queria conversar com ele, afinal, Jungkook e ele são meus melhores amigos.
– Taehyung deve ter ficado bem feliz em saber que estavam juntos.
– Ele não sabe, e ele não tem nada a ver com a minha vida também. Conversei muito com Jimin e ele me abriu os olhos.
– Ah é? O que ele te disse?
– Que eu não posso ligar tanto pra opinião do Tae.
– E você concorda com isso?
– Em partes sim...e ele me disse uma coisa muito importante que me fez refletir a madrugada toda.
– O que?
– Ele me perguntou quem eu amava mais, você ou o Taehyung.
– E qual é sua conclusão?
– Existem vários tipos de amor, não é? – falei e ele apenas balançou a cabeça concordando – Eu amo o Jungkook e o Jimin como meus melhores amigos, amo Taehyung como meu primo, mas você, Yoongi, você me ensinou a amar.
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