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História Alpha Succesor - Conflitos


Escrita por: Annaliju

Notas do Autor


ola, boa leitura

Capítulo 5 - Conflitos


Sakura Haruno

Em geral, os dias seguiam se comportando da mesma maneira. A única diferença foi o primeiro dia, que assim que cheguei em casa, tomei banho e comi, apaguei até o dia seguinte.

Depois disso me concentrei em estabelecer uma rotina nessa primeira semana, chegava em casa, tomava banho e comia, revisava a matéria do dia. A maioria delas, eu já havia dado e quando acabava ia para o jardim, tentar cumprir o desafio que vovó me deu. Plantei algumas poucas plantas primeiro, não tinha tanto tempo assim para cuidar delas, mas era infinitamente bom estar com as mãos na terra. Após isso, ia para meu quarto, me concentrava no desenho do caderno, que no fim era só um rascunho para a parede. Era aquilo que eu planejava para o meu final de semana, acabar o rascunho, passar para a parede, comprar tintas para pintar.

Na escola, Sai apareceu no segundo dia, era especialmente branco e com os cabelos e olhos negros. No quarto dia eu conheci Tenten, a morena esguia com olhos e cabelos que lembravam chocolate. Dentre eles, quem eu era mais próxima era Ino. Hinata vinha logo atrás, acho que por ser mais próxima da loira, só que não tínhamos quase aulas juntas, na verdade, a maioria delas eu fazia com Sasori. O ruivo era dotado de um humor negro, o que era um tanto engraçado já que ele não costumava guardar seus sarcasmos, resmungos e ironias para si.

No fim, acho que eles me ajudaram bastante a conter a ansiedade do primeiro dia. O fato de ser bem acolhida, pela primeira vez, em uma escola. Por estar sempre acompanhada por um deles, me deixou tranquila sobre o que viria a seguir. Eu também já comecei a colocar na minha cabeça que não me importo com nada de vanguarda nenhuma, nem com garoto nenhum. Cheguei a conclusão que é loucura pirar com alguém que não conheço, que não troquei mais que duas palavras, que na verdade ele nem deve ter escutado.

Na sexta-feira, eu tive finalmente a oportunidade de avaliar alguém da Vanguarda e a única coisa que posso dizer é que não gostei nada. Shion é uma garota loira, alta e muito bonita, pelo que eu entendi era a namorada do Naruto. Ela estava naquela mesa lá trás no canto, deveriam ter umas três garotas em volta dela, como abelhas no mel. Elas riam alto, falavam alto e davam vários gritinhos.

— Quem é aquela? — Foi impossível não perguntar, sei que contando assim parece algo banal em um refeitório cheio, mas ela era muito escandalosa.

— Shion, a namorada do Naruto. — Respondeu Ino, fazendo uma careta. E por incrível que pareça, ela virou no exato minuto já que escutou seu nome. Mas o que eu mais estranhei, foi Hinata ter encolhido os ombros.

— O que tem de gata, tem de chata. — Disse Kiba rindo e batendo na mão de Tenten.

— Desculpa, tenho que concordar.

— Por que será que ela veio hoje? — Questionou Sai.

— Ninguém deve aguentar ela, aposto que nem deve ter sido convidada para o acampamento e faltou só por status. — Disse Ino entediada.

Movi meus olhos novamente em direção a loira e dessa vez ela tava me olhando de volta, suas sobrancelhas estavam franzidas e ela dava respirações lentas, como se quisesse sentir o cheiro que estava no ar.

— Ela está te encarando. — Sasori cochichou no meu ouvido.

— Tá atrasada, o colégio inteiro já fez isso segunda. — Ele soltou uma risada e eu dei de ombros. — Ainda tá me encarando?

— Sim. — Respirei fundo e me virei em sua direção.

Naquele momento eu até pensei que ia acontecer aqueles clichês de ser perseguida por ela, ou seja lá o que, mas o problema não era exatamente comigo. E eu só fui entender isso mais tarde quando estava com Hinata na porta do colégio conversando. Naquele dia foi anunciado nas salas que as atividades estavam começando, o time de basquete, as líderes de torcida, o clube de artes, de xadrez. Como Ino Yamanaka era a personificação dessas coisas, ela foi a primeira a ir saber sobre as líderes de torcida. Pelo que eu entendi ela já fazia parte desde o ano passado, só estava indo lá pegar os horários. A morena não ia embora com a gente, mas disse que iria esperar comigo, já que não custava nada. Sasori também se ofereceu, mas teve que ir.

Eu nem sei exatamente quando Shion saiu, só sei que ela fez questão de trombar na Hinata e derrubar os cadernos que a mesma estava segurando. Como em um maldito filme. A loira riu junto com as três meninas que estavam com ela e eu franzi as sobrancelhas, isso é sério?

— Ei! Você derrubou as coisas dela. — Chamei, fazendo a loira se virar e o resto também.

— É sério? — Perguntou para as garotas que estavam em volta de si mesma. — E daí? — Eu ia responder quando senti a mão da Hinata no meu pulso.

— Não vale a pena. — Murmurou baixo, quando voltei meus olhos para Shion, ela me encarava com as sobrancelhas arqueadas em desafio. Respirei fundo e agachei para ajudar Hinata a recolher os papéis, enquanto via a outra dar as costas com um ar de riso debochado.

— Por que não enfrenta ela?

— Por que gastar meu tempo e energia com isso? É o máximo que ela faz, piadas, tira sarro, derruba minhas coisas...

— Mas isso não é saudável, se você não tivesse me parado e ela continuasse a reagir daquela forma, pelo menos ela estaria nesse momento sem alguns dentes, algumas unhas e eu com vários tufos de cabelo ressecado nas mãos. — Hinata riu negando com a cabeça.

— Não sabia que você era dessas, sabe? Que briga, soca, chuta, bate e tudo mais.

— E não sou, nunca bati em ninguém. O problema é que as vezes o sangue sobe, e tem gente que facilita o processo.

— Geniosa.

— Um pouco, mas acredita em mim, não gosto de briga, mas também não gosto de injustiça.

— Por isso aquela reação, eu entendo.

— Isso é por causa daquele menino da vanguarda, não é? — Perguntei simplesmente, a base de uma amizade é a verdade, não é? E claro, eu também estava curiosa. Uma parte de mim ficou triste ao ver Hinata abaixar os olhos e respirar de forma profunda.

— Acho que sim, na verdade, nem sei porque ela ainda continua com isso, a gente nem se fala mais.

— Porque ela é uma idiota. — Rimos juntas. — E porque você provoca algum tipo de insegurança nela, então ela tem a necessidade de se sentir superior a isso. Provavelmente, sente que o cara deve gostar de você ainda. — A morena arregalou os olhos.

— Você é meio direta, né?

— Mais ou menos, normalmente eu sou mais discreta, mas acho que minha taxa de adrenalina subiu um pouco momentos antes, então fico meio sem controle. — Hinata riu negando com a cabeça.

Poucos minutos depois Ino chegou, completamente animada tentando nos convencer de qualquer maneira a fazer o teste para líder de torcida. Hinata e eu trocámos olhares antes de negar a loira.

Enfim, Shion parecia ser uma pedra no sapato da morena e eu já tinha vivido o suficiente no outro colégio para saber que nada disso acabava bem, além de Hinata parecer temerosa ao enfrentar a garota, talvez por causa da Vanguarda? Mas ela era parte, não é mesmo? Sabe aquele sentimento que existe alguma coisa a mais aqui? Que as pessoas estão escondendo tantas coisas para manter a faixada perfeita? É isso o que sinto sobre a maioria das pessoas daqui, isso tudo é medo de quebrar tradições ou seja lá mais o que?

Passei o fim de semana me questionando várias dessas perguntas, mas me forcei a focar no desenho na parede e no jardim. Em breve terei que comprar tintas, por enquanto é só o rascunho. Comecei a guardar também o resto das frutas para fertilizar minhas plantinhas, papai estava ficando louco, o que gerou alguns episódios engraçados nesse fim de semana. Por exemplo, deixei algumas cascas de banana na água de quinta para sexta e depois as tirei e deixei na geladeira, iria regar o jardim com aquela água. Papai curioso como era, quis beber, acho que os vizinhos puderam escutar o berro que ele deu.

No sábado, conforme o combinado que fazíamos, fomos tomar café de manhã. Mito riu tanto de Kizashi que o chá quase saiu por seu nariz, novamente acho que as gargalhadas atingiram todos os vizinhos. Ficamos por lá até o almoço, qual meu pai fez questão de comer por lá também. De tarde já nos encontrávamos jogados no sofá, de barriga cheia e vendo Dr.House, nada como um médico assistindo série de médico.

Naquele dia, embuchada como estava, me lembrei do que estava sentindo falta, exercício. Antes de vir para cá, era muito ativa. Não fazendo danças, como Ino, molejo não era meu forte, mas corrida, boxing, que era o que eu fazia e até muay thai era fácil para mim. Após o acidente da minha mãe, eu tive muito problema em conter minhas emoções, e não digo simplesmente de conter raiva, não. A tristeza, a dor e a saudade foi muito forte para uma criança de nove para dez anos. Eu me arranhava, batia nas paredes, tudo isso levado por crises de ansiedade fortíssimas. A dor do luto não é uma coisa simples ou controlável. Tinha dores de cabeça depois, meu corpo inteiro queimava.

O esporte, os desenhos e muita medicina, me ajudaram a superar tudo isso, no fim o tempo também. Não posso dizer que não dói, mas aprendi a conviver com ela.

— Pai. — Chamei. — O que acha de colocar uns tênis de caminhada e ir correr? — Meu pai me olhou com graça e arqueou a sobrancelha.

— Acho que seu velho pai prefere o Dr. House. — Eu ri.

— Eu sabia que você não iria, mas não custa tentar. — Falei rindo, me levantando e indo em direção as escadas.

— Tome cuidado.

— Claro, claro um velhinho de oitenta anos pode me assaltar a qualquer momento ou quem sabe as fadas da floresta vão me castigar. — Respondi e ele negou com a cabeça.

— É sério garota, esses jovens... — Resmungou.

Subi as escadas, trocando a blusa por um top firme de ginástica, preto com tiras verdes do lado, e uma calça legging que alcançava até meus joelhos, coloquei meias e os tênis de corrida. Pensei em pegar o telefone e os fones de ouvido, mas achei melhor não. Por muitas vezes eu gostava mais do silêncio e da quietude do que músicas, dependendo do que fazia, me deixavam atordoada, sem saber como fazer ou por onde começar. Levei uma garrafinha de água e o telefone por segurança e deixei os fones por lá.

Desci as escadas rapidamente, murmurei um "já volto" que foi respondido com um ronco bem alto. Papai não tinha jeito mesmo. Não estava escuro ainda, o sol realmente estava baixo, o que quase me fez subir para colocar um casaco, estava frio, como sempre. Entretanto, arrisquei e também fiquei com um pouco de preguiça. Iria me movimentar de qualquer jeito. Me alonguei um pouco, provavelmente estava enferrujada.

Ainda não tinha decidido por onde iria começar, então resolvi dar umas voltas ao redor da casa. Me senti um pouco idiota por isso, primeiro por não ter pensado em sair para correr antes, segundo que imagino que seria minimamente engraçado para meus vizinhos que já me julgam o suficiente me ver da voltas pela casa feito louca. Foi esse pensamento, sobre as pessoas julgadoras da cidade, que me fez olhar a floresta de taiga que rodeava a minha casa, e a cidade inteira, e achar uma ideia coerente correr por ela.

Quero dizer, ainda estava de dia e pelo que eu sabia não tinha animais tão perto assim de nós. Quer dizer, por questão geográfica eu sabia que havia ursos, alces e outros tipos de bicho aí, além de mosquito e barata, rato ou seja lá mais o que. Quando digo tudo isso em voz alta parece cada vez mais estúpido correr por lá, mas a sensação que não poderia acontecer comigo, primeiro, eu estava muito perto da civilização para ter animais e simplesmente não iria ocorrer, eu não precisava ser neurótica.

Algo em mim tinha necessidade de entrar ali, por mais que eu negasse e tivesse tantos contras, meu instinto fez questão de combater a negatividade mostrando os prós; nenhuma pessoa me olhando, risco zero de encontrar alguém, o ar é mais límpido, você vai poder admirar a natureza e conhecer sua nova cidade, dar detalhes a sua arte, colher espécies de plantas para o jardim, quem sabe até meditar e sentir um pouco de paz.

Sem pensar uma ou duas vezes, comecei a correr em direção a fresta de árvores. Tudo ao meu redor se tornou verde. As folhas balançavam em harmonia com a corrente fria que passava por elas, que abraçava meu  corpo quente pelas voltas que dei. Olhei para entrada, decorando o máximo que conseguia. Tirei uma foto também e olhei que já ali o sinal era mínimo. Não era burra também, peguei um graveto qualquer e fui arranhando as árvores com um risco, para saber como voltar. E segui, encarando as flores que nasciam nós arbustos, os frutos que davam, ouvindo o som dos rios que passavam e das cachoeiras, os passarinhos que passavam, os insetos que cantavam. Não tinha como seguir uma linha reta naquele lugar. A luz do sol alaranjada, deixava tudo ainda mais bonito, passei a tirar fotos de algumas plantas, das paisagens, das pedras, das flores e frutos. Respirei fundo sugando todo aquele puro. Satisfeita.

Deixei-me aprofundar naquela floresta. Me encontrava suada e cansada, ofegante por assim dizer. Não seria de todo mal descansar um pouco. Olhei uma das árvores enormes que parecia aconchegante o suficiente para encostar as costas, provavelmente em suas raízes teriam formigas ou seja lá o que, então decidi me pendurar num de seus galhos mais fortes e subir mais uns.

Não sei o que foi me dando, mas eu sentia como se a natureza me abraçasse. Como se eu fosse parte dela. Parecia que a árvore tinha braços e resolveu fazer um cafuné em mim. Meus olhos foram pesando, era como se eu fosse caindo em um abismo. Tudo estava escuro e em silêncio, profundo e calmo, tranquilo e passivo. Se existissem fadas de florestas elas com toda a certeza teriam jogado pó de fada em mim. Porque verdadeiramente eu sentia meu corpo levitar no escuro buraco qual tinha caído. Parecia o mar. A paz.

Até que eu caí. E cai de verdade, minha cabeça bateu na raiz da árvore, minha testa na verdade. Meus braços e pernas esmagados entre eu e as ondulações das raízes. Me levantei tonta, com a cabeça latejando, os braços e pernas ardendo. Urrei de dor, e quando apenas me escutei e nada, apenas o profundo silêncio, me dei conta que praticamente não enxergava o sangue na minha mão, só sentia o cheiro. Estava de noite e a única luz que iluminava a floresta era a da lua, e ela mal chegava. As árvores eram muito grandes, a floresta era praticamente fechada. Algo em mim despertou, provavelmente o instinto de sobrevivência. Eu tinha duas opções, subia em um tronco e ficava, principalmente porque além de tudo estava cheirando a sangue. Bastante dele até. Infelizmente eu sentia o sangue escorrer até a minha têmpora. Papai provavelmente iria notar que sumi, de manhã poderia achar o caminho sozinha ou ser encontrada no meio da noite ou de manhã. Considerando a melhor das hipóteses. A segunda era tentar achar o caminho agora, ter a chance de conseguir sair ou ficar mais presa, afinal, não estava perdida, só sem luz.

Normalmente, eu sou uma pessoa tranquila. Tenho meus momentos de raiva, que aprendi a controlar, mas em situações difíceis sou uma pessoa racional, em geral. Tento, na verdade. Vou reformular tudo, leva algum tempo para que eu exploda atualmente, e não chego a ter crises e ficar cega como antes. Principalmente quando estou sozinha, eu e eu. Sair daqui depende unicamente de mim, e eu podia lidar comigo. Autoconhecimento é uma benção.

Foi por este motivo que tirei o telefone do top, por sorte este também não caiu. E liguei a lanterna, antes de apontar para qualquer lugar, olhei a mim mesma. Eu tinha que estancar esse sangue, não poderia correr o risco de um animal me atacar ou ficar fraca e ter uma hemorragia. Movi a lanterna em direção ao chão, vendo justamente várias folhas e minha garrafa. Bebi um gole, usei um pouco para jogar no ferimento, e e carri as folhas. Peguei um punhado delas, as mais verdes e limpas que consegui, passei pela minha têmpora e pescoço, tentando secar o máximo de sangue e com as mãos úmidas passei nelas antes de pressionar o ferimento.

Comecei a iluminar a copa das árvores atrás dos riscos. Não vou me desesperar. Minha visão estava turva, era como se eu tivesse astigmatismo ou fosse um fotógrafo com frio. Foi aí que notei, que tremia. Não era frio, a adrenalina que corria pelas minhas veias não deixava o corpo esfriar, eu sabia disso. A dor naquele momento não era tanta por causa dela também, eu não estava sentindo ou processando, mas era o suficiente para me fazer tremer, de dor e nervoso, mas não medo.

Mulheres fortes, não sentem medo. Não acredito. A voz dela soou na minha cabeça, a imagem do rosto magro e levemente carrancudo, como no dia que falou esta frase, me abalou. Minha mãe nunca dava o braço a torcer, nunca. E como filha dela, eu também não. Durante um tempo, como toda criança, eu tinha medo de dormir sozinha, adorava escapulir e ir parar no meio dos meus país. Até o dia que ela sentou comigo e me contou uma história de uma mulher que para o bem geral, entrou em uma torre com cem monstros, com forças diferentes e lutou contra todos, vencendo um por um. A força mais bonita que pode existir em alguém, é a coragem. Pode ter tudo, mas se não houver coragem, nem o inteligente, o forte, o fraco, o esforçado, nenhum deles sai do lugar.

Foi aquilo que me fez colocar um pé na frente do outro, de encostar em cada árvore para ver se estava riscada, de que mesmo tropeçando em algumas raízes, ficar em pé de novo. Comecei a escutar o barulho dos rios mais forte, respirei fundo, não estava tão longe assim. Mas algo me paralisou. Um uivo, seguido de vários outros. Mas nenhum deles se comparou ao último. Era forte, quase rouco, mortal. Veio seguido de um rosnado, tão brutal que eu pude ouvir. O que quer que fosse esse bicho, eu não gostaria de encontrá-lo, nunca.

Meu coração batia tão forte no peito, que o barulho dos rios não podiam mais ser escutados. Encostei as costas na árvore, minha respiração era tão rápida que eu mal conseguia segurar o ar nos pulmões. A lanterna não conseguia focar em nada, porque eu não parava de tremer. O certo, o correto seria subir na árvore de novo, aquilo era um lobo, não? Seguiu o cheiro do meu sangue?

Movi o celular de um lado para o outro. Aquela altura já não sabia mais se era o certo ou não, a calmaria em mim estava acabando. E eu pude jurar, mesmo com a visão turva, ter visto algo imenso, preto, que se misturava ao preto da floresta, mas era denunciado por seus olhos vermelhos, cor de sangue. Mas quando voltei voltei com a lanterna, não havia mais nada.

Escutei então um barulho de galho quebrando. Eu pensei em gritar, eu ia, com toda a certeza. Mas o medo, pavor, pânico era tanto que minha voz não saiu.

— Você 'ta bem? — Uma voz grossa e rouca soou a minha esquerda, movi a luz do celular. Não sabia se era bom ou ruim, esperava que fosse bom, segundo os jornais não era comum ter psicopatas ou ter um nesta cidade. — Ou. — Resmungou rouco fechando os olhos. — Abaixa isso. — Ordenou assim que meu celular bateu nele.

Ele. Era o garoto da picape cara. Sasuke Uchiha.

— O que você tá fazendo aqui? — Minha voz saiu um fio, ele arqueou as sobrancelhas enquanto erguia a mão para afastar a luz do meu telefone.

— Pelo jeito não uma caminhada. — Disse irônico. Ele estava zombando de mim? Abaixei a lanterna, tentando controlar a situação. — Quer dizer, estava na cachoeira, com alguns amigos.

Analisei seu rosto, ele estava calmo. Desci os olhos, infelizmente. Por pior que a situação fosse, ainda sim consegui me sentir atraída, o achar bonito e para o meu desprezo e irritação, ele estava sem camisa e de bermuda. O que fez pensar que realmente estava na cachoeira, mas não estava molhado. Quer dizer, quem entraria a está hora na água também, além do que eu sabia pelo pessoal do colégio que os amigos dele, a vanguarda, ficava na floresta, acampava ou sei lá o que. Percebi que enquanto eu discutia comigo mesma, ele havia se andado um pouco, chegando mais perto.

— Não se aproxima. — Repreendi, me virando totalmente em sua direção. — Não te conheço. — Vi seus olhos focarem em direção a minha testa, naquela altura a folha da tinha grudado no ferimento junto com sangue seco, pelo menos estava estancado.

— Você 'ta ferida, se machucou na cabeça.  — Murmurou acho que mais para si mesmo do que para mim. Notei sua respiração começar a falhar, seu peito nu subia e descia mais rápido, algo havia mudado nele. Seus olhos pareciam mais escuros, mais francos. As veias de seus braços saltaram, o maxilar trincou e sua voz saiu mais rouca e mais grossa. — Alguém fez algo a você?

— Não. Eu caí. — Era verdade, provavelmente se eu contasse pareceria uma idiota. Sua língua passou pelo lábio inferior, não sei se ele acreditou ou não, mas seus olhos ainda estavam em brasa.

— Vou te ajudar. — Não foi um pedido, e acho que mesmo sem meu aval ele faria. Mas suspirou pesadamente antes de falar. — Sei que não me conhece, e eu também só te conheço por nome e por causa dos moradores da cidade. Mas não sou capaz de te largar aqui nesse estado, meu nome é Sasuke.

— Sakura. — Me limitei a responder. E ele começou a se aproximar, como um felino, seus passos mal faziam barulho. Até que chegou perto suficiente para que sua presença ficasse sufocante, era forte demais toda aquela aura dele. — O que está fazendo?

— Vou te carregar. — Respondeu simples, arrastado. Era uma ordem, uma imposição. Molhei os lábios. Talvez fosse por orgulho, talvez fosse melhor para mim, mas eu não iria dar o braço a torcer, não tinha nenhum osso quebrado ou pé torcido, uma visão turva no máximo, mas ele séria o suficiente como um guia. Não era uma princesa que precisava ser salva.

— Nem pensar. — Suas sobrancelhas se uniram. Oh, parece que alguém não estava acostumado a receber negativas.

— Como?

— Não, você não vai me carregar. Posso muito bem andar sozinha, só preciso que ilumine o chão. — Continuei e ele ainda me encarava com a mesma expressão. Iluminei a árvore que estava ao meu lado. — Risquei todas as árvores que passei, para saber como voltar.

— Parece que deu muito certo. — Respondeu irônico, mas continuou avançando em minha direção. Ele estendeu as mãos, e eu ergui as minhas. Foi pouco, mas meu indicador encostou nas costas da sua mão, uma energia estranha percorreu meu corpo, um ímã parecia me puxar para ele, eu queria tocar mais. Ergui meus olhos, deixando correr pela barriga reta, levemente definida, o peito definido e forte. O rosto era bonito demais para ser real, me forcei a correr, parando nas pedras negras que me encaravam com tanta intensidade, com tanta força que mesmo naquele estado, algo se iluminou em mim. Uma força que eu não tive contato ainda se abriu naquele momento. Esqueci onde estava, por que estava, quando, de onde, as horas. Os barulhos foram silenciados, o medo de transformou em pó, até a adrenalina parecia ter baixado. Sasuke Uchiha tinha um poder sobre mim, um efeito que me assustava, o que ele tinha de diferente? Acho que ele também parecia ter tomado um baque porque soltou todo o ar que estava no seu peito. A respiração quente bateu em meu rosto, o cheiro de menta e álcool. — Não preciso disso, posso me localizar na minha própria floresta sozinho. Nasci e cresci correndo e entrando floresta a dentro. — Disse se afastando, começando a andar.

Revirei os olhos antes de soltar um resmungo irônico. — Claro, o dono da floresta.

Não sabia e nem ligava se ele escutou ou não. Era a verdade, encarei suas costas. Sua postura era perfeita, seus ombros eram largos e algo nele expirava poder. Eu queria que não, queria que para mim ele fosse mais um qualquer dessa cidade estranha, que sua presença fosse medíocre o suficiente para nem mesmo causar nenhum tipo de sentimento. Mas não. Ele fazia questão de mostrar que não. Mesmo sem estar, era aterrorizante pensar que mesmo não estando presente, eu saberia e sentiria se estivesse, eu e mais quinhentos alunos.

Não sei quanto tempo mais andei atrás dele, os minutos pareciam passar rápido demais. Me faltava estima, quanto mais eu parava para pensar na situação que me encontrava, com mais raiva eu ficava. Não gostava de olhares, nem os julgadores e nem os de pena, por isso evitava a cidade. Mas principalmente, eu odiava ser um peso, precisar de ajuda. Algo em mim, na minha personalidade, possivelmente meu orgulho, estava enterrado e morto. E não podia ser qualquer outra pessoa? Tinha que ser ele?

Olhei para frente, finalmente vendo que as árvores ficaram mais claras. O barulho de água ia ficando mais para trás, o som de nossos pés no chão também faziam barulhos diferentes, mais compactos, provavelmente porque mais pessoas passaram por aqui. Reconheci por onde entrei, parei de me mover. E ele também, eu iria chamá-lo para explicar as coisas, mas ele sentiu sozinho e parou, virando-se em minha direção com os olhos questionadores e as sobrancelhas franzidas.

— É logo ali, posso seguir sozinha. — Foi o que saiu da minha boca e eu recebi um meio sorriso irônico, bonito e sedutor. Idiota.

— Tá. — Comecei a andar e ele parou, ali. Estendi a mão para pegar meu telefone e me virei no instante que o alcancei e possivelmente pude visualizar ainda o sorriso mais que irônico, quase com raiva. Voltei a andar em direção a saída, mas seus olhos queimavam em minhas costas, me causando calafrios. 

— O que foi? Pode ir. — Exclamei quando parei mais a frente, virando em direção a ele. — Ou vai ficar me olhando?

— Como é? — Parecia em choque, me olhava sem acreditar que aquelas palavras haviam saído da minha boca. Arquei a sobrancelha e ele riu com escárnio. — Você é uma completa irresponsável mesmo. Entra floresta a dentro a noite, se perde, se machuca e ainda trata mal quem tenta ajudar, pior que nem mesmo agradece.

— Ah claro, muito obrigada grande herói por iluminar o caminho. Eu não deveria conseguir mesmo com minhas frágeis mãos. Você quer saber? — Algo se irritou dentro de mim, descontrolado feito louco. — Você nem me conhece. E nem tente gastar energia para isso, não vale a pena, é claro como água que não vamos nos dar bem. E ainda digo mais, você é arrogante demais. Anda como soubesse de tudo, visse tudo e vou te contar uma coisa, nem tudo gira ao redor da porra do teu umbigo. Não precisava da sua ajuda, não preciso e não quero, quem se ofereceu foi você. E sinceramente? Não fez mais que a sua obrigação como um ser humano decente. — Meu coração batia de forma frenética e eu sentia que o dele também. Sua respiração estava descontrolada e sua mão fechada em um punho.

— Não tenho a menor intenção de me aproximar de você. — Sua voz saiu grossa, rouca, arrastada. — Você é quem tá supondo coisas sobre mim, não consegue parar de pensar em mim não é? — Senti minhas bochechas esquentarem, porque sua voz pingava um tom de maldade irônica ou sensualidade, carregada de duplo sentido.

— Vá se foder, Sasuke Uchiha. — Gritei me virando e passando pelas árvores rapidamente, praticamente correndo dele, correndo dali. Quando visualizei minha casa, quase chorei.

Conforme fui andando em direção a ela, o sinal provavelmente foi voltando, meu telefone começou a apitar e se encher de mensagens. O desbloqueei vendo as dez ligações perdidas de Ino Yamanaka, franzi a sobrancelha ligando de volta.

— Sakura! Meu Deus, que susto você me deu. — Ela berrou. — Você é doida.

— Que susto que te dei?

— Deidora disse que te viu entrar na floresta.

— O que? — A casa de Ino é a primeira da rua, é impossível ele me ver ou minha casa, principalmente quando a floresta ficava nos fundos da casa.

— É, ele disse que estava passando por aí. — Franzi as sobrancelhas, não tinha ninguém na rua naquele momento.

— Mas não aconteceu nada, eu só fui caminhar.

— Eu sei, ele me disse isso quando falei que estava de noite já e nada de você me responder. Ele paralisou me olhando assustado e depois de alguns minutos disse que viu você indo caminhar na floresta, sei lá. Ele parecia calmo, quer dizer, subiu para o quarto e não saiu mais de lá. Enfim, isso não importa, ainda bem que não liguei para seu pai.

— Sim, ele ficaria preocupado por nada. Obrigada por se preocupar comigo, mas não contou isso para ninguém, né?

— Hinata, no máximo, mas ela me acalmou. Não gosto muito de floresta, você é doida.

— Você já disse isso, loirinha. — Falei rindo e ela riu também. — Amanhã a gente conversa, tá bom? Estou exausta.

— Eu imagino. Até eu estou. — Resmungou. — Boa noite então, até amanhã.

— Boa noite.

Entrei sem fazer barulho, papai permanecia da mesma forma. A série já havia parado e a única coisa que se escutava era seu ronco, tinha na televisão uma mensagem com aquela pergunta se a pessoa ainda estava assistindo. Subi as escadas em silêncio e fui direto na direção do meu quarto, para o banheiro. Tirei aquela roupa que já era quase uma segunda pele, e entrei no chuveiro. A primeira água que passou pelo meu corpo caiu avermelhada, provavelmente por causa dos ferimentos. Lavei o cabelo, esfreguei os arranhões, que agora notei que havia mais de um pelos meus braços e pernas.

Naquele momento do tombo, provavelmente só notei os ferimentos mais profundos, que doíam mais. O mais aberto era o da testa que seguia pela têmpora, e provavelmente teria que saturar. Abri a porta do armário embaixo da pia, tirando a caixinha de primeiro socorros. Não era a primeira vez que me machucava fazendo esporte, não quando se faz luta. Limpei os arranhões superficiais e passei uma pomada para cicatrização, o mesmo com os ralados da perna e do braço. O da cabeça eu limpei com gaze e peguei a linha e a agulha, coloquei uma toalha enrolada na boca para não gritar e dei três pontos. Cada vez que a agulha entrava sobre a minha pele, um grito engasgava na minha garganta. No fim resolvi tomar outro banho, porque meu corpo inteiro suava e tremia. Tomei dois analgésicos após aquilo e vesti meu pijama.

Abri a mochila da escola pegando uma barra de cereal que havia ficado por lá e comi. Precisava apagar antes que meu pai se levantasse para o plantão. Sei que pode parecer incomum e estranho, mas já perdi a conta de quantas vezes cheguei do colégio ano passado e tive que fazer a mesma coisa, ou então por causa das lutas, mas nada chegava aos pés das brigas que enfrentei.


Notas Finais


oi, então eu gostaria de explicar algumas coisass
então, existem capítulos mais curtos, normalmente são apenas de ligação ou trás um extra
normalmente capítulos mais longos (como esse) tem partes fundamentais na história, possuem pistas e ajudam no entendimento de muita coisa.
leiam com bastante de atenção pois eu quero muito ler as suposições de vcs...
por exemplo, o que aconteceu com Hinata, Naruto e shion?
o que Sakura passou durante o primeiro ano que foi ao colégio?
Ino simplesmente saiu da vanguarda?
Ino, Sakura e Hinata são humanas????
e se não forem, o que são?
qual é a de Sasuke Uchiha? e os uivos?
o que vcs estão achando dess versão?

ps: para os que lêem minhas outras fics, essa tá saindo mais rápido porque eu quero alcançar a marca de 15 capítulos (igual ela tinha anteriormente) não abandonei nenhuma história
Kiss


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