Atlanta - 12:05 p.m, domingo
Acordei. Por volta de meio dia percebi que já estava claro. Me sentei na cama, olhei para todos os lados do quarto. Respirei fundo. Calma. Foi um sonho? O que aconteceu noite passada? Como eu vim parar na minha cama? O espelho do banheiro ainda estava em pedaços no chão, estraçalhado, como se tivessem jogado uma pedra.
Ouvi uma voz.
- O almoço está pronto! - gritava uma voz feminina vindo do andar de baixo.
Me levantei, andei até a porta em passos lentos, tentando processar tudo aquilo na minha cabeça. Meu coração acelerou em poucos segundos, mas se acalmou. Respirei fundo, pisei em um degrau por vez. Cheguei até a sala e meu pai estava sentado em frente a televisão assistindo o noticiário local.
- Quase boa noite, não? - ele fala sem me olhar, bufo. - Por acaso você saiu a noite? - ele perguntou em um tom irônico.
- Eu iria pra onde se não conheço ninguém aqui? - pergunto, ouço ele resmungar algo. Vou até a cozinha e vejo uma travessa com alguns legumes sobre a mesa. - Eu não gosto de legumes, achei que soubesse. - falei enquanto me sentava.
- Você não tem escolha, Serena. Aprenda a ser menos grosseira, isso sim é ruim. - minha mãe fala em um tom calmo, e de alguma forma, aquilo me atinge. Ela fez parecer como se eu fosse magoá-la se não comesse.
(...)
Passei a tarde escutando música e organizando o resto das coisas. Meu pai parou na porta, observou ao redor do quarto e se assustou ao ver o espelho quebrado.
- O que foi isso? - ele falou espantado com o estado do espelho.
- Você ainda me pergunta? - falo enquanto coloco alguns livros na estante.
Ele me ignorou, me olhou como se eu soubesse o que acontecera ali, mas não quisesse ser culpada. Abaixei minha cabeça, estava me sentindo louca. Será que tudo o que aconteceu foi um sonho? Uma alucinação?
(...)
O dia passou, olhei para o relógio preso á parede e o barulho dos ponteiros certamente era o meu único foco naquele momento. Me prendi a ver as horas passarem. Eram 2:45 a.m quando me dei conta de que já deveria estar dormindo.
No dia seguinte eu teria aula, mais uma vez escola nova. Cobri minha cabeça com o cobertor e fechei os olhos.
"Deus, eu peço que perdoe todos os meus pecados.
Peço que me livre de todo o mal que possa me atingir.
Senhor, abençoe minha família, cuide de mim, proteja essa casa e a todos aqueles que amo.
Obrigada por me guardar a cada dia. Que o Senhor possa me livrar dos maus sonhos e que todos os meus medos sejam cancelados.
Amém."
(...)
Eu acordei, enfim, era um novo dia, eu teria algo a fazer a não ser olhar para o relógio ou para a cara de mal humorado do meu pai. Levantei e em questão de minutos me arrumei, desci empolgada. Eu esperava ter um dia produtivo, ou... quase isso.
- Bom dia. - falei enquanto pegava uma maçã. Ajeitei a alça da mochila nas costas.
- Bom dia, parece animada. - minha mãe falou enquanto estava virada para o fogão fritando algumas panquecas.
- Sim... Bom, acho que sim. - olhei para o relógio - Preciso ir, estou atrasada.
- Mas você não comeu nad... - não dei tempo para ela terminar a frase, peguei a chave do carro e saí rápido da casa. Era meu dia de folga, folga daquele lugar.
Entrei no carro, liguei o rádio, tocava uma música que eu conhecia... Me trazia boas recordações, sorri enquanto viajava em pensamentos. Dirigi até a escola, ainda tinha tempo... Não estava completamente atrasada. Parei no sinal, batia os dedos no volante conforme a música tocava. Olhei para o lado e havia um carro parado, o motorista me olhou e sorriu. Devolvi o sorriso, quis ser gentil, aliás, aquilo não acontece todos os dias. Ainda o olhava, fui despertada pela buzina do carro atrás de mim me avisando que o sinal estava aberto, acelerei.
Senti um arrepio tomar conta do meu corpo. Era aquilo. De novo.
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