POV Leticia
Eu só queria sumir. Porque minha vida tinha que virar de cabeça para baixo desse jeito? Porque eu fui enganada por todos durante a minha vida inteira? Será que eu merecia isso?
Muitas perguntas, mas nenhuma resposta.
Eu me sentia tonta, talvez fosse pela briga recente que eu tive com o Tiago, ou quem sabe pelo fato de eu não ter me alimentado hoje. Meus pés latejavam implorando para que fossem libertos do salto que eu usava, então fiz o que eles pediam. Os carros passavam numa velocidade alta pela avenida ao meu lado e eu apenas continuava a caminhar descalça recebendo olhares curiosos das pessoas no bar da esquina. Eu não sabia pra onde ir, a quem recorrer. Todos, sem exceção, mentiram pra mim. Eu estava sem chão, literalmente destruída.
Papai não era nem de longe quem eu imaginava, eu só conseguia o ver como um monstro agora. Mamãe mentiu pra mim desde o momento em que eu nasci e agora queria que eu aceitasse toda essa sujeira com um sorriso no rosto. Pedro era meu pai biológico, mas e daí? Eu não tenho que amar alguém que nunca esteve presente.
Idiota. Essa palavra me definia bem, pois quando eu achei que as coisas não podiam piorar, elas aumentaram de dimensão num grau que me assustava pensar se existia mais alguma coisa pra dar errado na minha vida. Não que eu estivesse desafiando a vida, de maneira alguma, era só mais um preparo psicológico mesmo.
Ao sair aos prantos de casa, recorri a Tiago. Pensei que ele fosse me ajudar, me falar que tudo ia ficar bem, me dar abrigo e carinho... mas não. Quando eu cheguei a sua casa o que eu encontrei foi mais uma decepção. Ele e a tal de Isabela se agarrando. Até um mês atrás ele dizia que me amava!!! Canalha. E, como se isso fosse possível, ao tentar se defender ele simplesmente disse que meu melhor amigo tentou ajudar, que tentou alerta-lo sobre como eu não merecia essa traição. Eu não podia acreditar em suas palavras... Antônio sabia que Tiago estava me traindo e não me disse nada!!! Ele era MEU melhor amigo. Era. Agora eu estava só.
Uma gota de chuva caiu sobre meu rosto e eu não conseguia aceitar tamanha falta de sorte. Apressei os passos para sei lá onde eu estava indo, foi quando avistei um carro luxuoso branco se aproximando. Continuei em passos largos e ouvi um assobio. Era só o que me faltava!
- A gatinha ta perdida, é? – A pessoa que estava no carro disse e eu ignorei – Ei, fala comigo! Eu posso te ajudar – Continuou a me acompanhar com o carro enquanto eu fingia não ouvir.
Os pingos de chuva engrossaram e eu já sentia todo meu corpo tremer de frio devido a temperatura gelada.
- É sério que você prefere ficar ai se molhando nessa chuva, ignorar o Léo Régis, o maior popstar desse Brasil, a entrar no carro? – Perguntou debochado e então eu me irritei ainda mais. Parei de andar e o encarei furiosa, mas por um momento vacilei. Quando nossos olhos se encontraram eu senti um arrepio estranho, mas coloquei a culpa no frio que eu estava sentindo.
- Olha só garoto, eu to tendo um dia muito difícil, vai embora! – Respondi o encarando com raiva e ele suspirou.
- Ninguém diz o que eu devo ou não fazer! – Retrucou e eu revirei os olhos enquanto a chuva me molhava ainda mais – para de ser teimosa, entra no carro! – Ordenou e foi a minha vez de rir debochadamente
- Ninguém diz o que eu devo ou não fazer – Repeti a frase que ele tinha acabado de usar e o vi fechar a cara. Sorri satisfeita e voltei a andar.
- É sério isso? Você vai dispensar o Léo Régis? Eu só to querendo te ajudar!
- Eu nem te conheço! E para de falar de você mesmo na terceira pessoa, é estranho... – Franzi o cenho ao perceber que estava tendo uma conversa com uma cara que eu não conhecia, que por acaso estava dirigindo o carro ao meu lado e insistindo para eu entrar. Que dia louco, talvez fosse um pesadelo.
- Como não me conhece?! Impossível! – Afirmou e eu o olhei confusa, mas até que ele tinha um pouco de razão... eu tinha a sensação de conhece-lo de algum lugar.
- Não conhecendo, exibido! – Suspirei quase que numa suplica para que ele me deixasse em paz – Será que você pode ir embora, Léo? – Tentei ser simpática, então o vi negar com a cabeça e bufei – Que saco garoto!
- Sabia que é perigoso andar sozinha a essa hora da noite numa rua deserta dessas? – Arqueou as sobrancelhas e pareceu falar sério pela primeira vez desde o início da nossa conversa – Me deixa pelo menos te levar até o lugar que você está indo... – Neguei com a cabeça, já sentindo as lágrimas queimarem meus olhos ao me dar conta, mais uma vez, de que eu não tinha pra onde ir – Você ta tremendo de frio, sozinha, qual é... me deixa te ajudar gatinha, prometo que eu não mordo, só se você quiser – Piscou pra mim e eu não pude evitar um sorriso. Esse tal de Léo Régis era um idiota.
- Olha só... obrigada por tentar me ajudar, mas eu...
- Letícia! – Ouvi uma voz familiar gritar e olhei para o lado rapidamente encontrando a pessoa que eu menos queria ver no momento. Tiago. – Letícia, deixa eu explicar! – Ele gritou, já sem fôlego, de onde estava. Voltei a encarar Léo, que me olhava visivelmente confuso e fiz a primeira coisa que me veio na cabeça. Entrei no carro.
- Me leva pra qualquer lugar, só me tira daqui, rápido!
- Ah eu sabia que era charme! – Respondeu pondo o pé no acelerador. Olhei para trás e vi Tiago tentar alcançar o carro, mas foi em vão. Depois de não tê-lo mais no meu campo de visão pude respirar aliviada. Fechei os olhos tentando controlar as lágrimas que insistiam em cair, mas não obtive sucesso. Eu não sabia exatamente o porquê estava chorando acho que era por tudo e por nada ao mesmo tempo – Então gatinha, pra onde você quer ir? Eu conheço um mo... – Parou de falar de repente e senti o carro parar de se movimentar, abri os olhos para ver o motivo pelo qual ele tinha parado e encontrei seus olhos cravados em mim.
- Porquê parou? – Questionei e senti sua mão acariciando minha bochecha, limpando as lágrimas.
- Não chora, por favor... – Ele pediu e pude ver sinceridade em seus olhos – o que aconteceu?
- Muita coisa, não quero te envolver nisso...
- Tudo bem, não precisa me contar... – Ele disse passando as mãos no cabelo – pode, pelo menos, me dizer seu nome? – Abriu um sorriso tímido e notei o quanto ele era bonito.
- Pode, claro... meu nome é Letícia – Sorri de volta e ele suspirou
- Então Letícia, você quer que eu te leve a algum lugar? – Perguntou cauteloso e eu me vi sem saída.
- Na verdade, eu estava andando sem direção... eu não tenho pra onde ir agora
- Tudo bem, posso te deixar em um hotel – Sugeriu
- É que eu tô sem dinheiro também – Sai com tanta pressa que deixei tudo para trás e agora estava no carro de um estranho, que ótimo.
- Não se preocupa, dinheiro é o que não falta pro Leozinho aqui! – Disse e deu partida em direção ao hotel
- Eu nem sei como te agradecer, sério!
- Ah eu consigo pensar em várias maneiras, mas sei que você não está bem hoje, então deixamos pra uma próxima!
- Ei, eu não sou esse tipo de garota! – Respondi irritada novamente. O que eu estava fazendo no carro de um idiota que achava que eu ia paga-lo com sexo?!
- Você que vê maldade em tudo! – Disse rindo e eu bufei – Não fica bravinha, não! Eu to brincando com você, é óbvio que não me deve nada
- Ta bom, obrigada – Agradeci ainda desconfiada e ficamos em silêncio pelo restante do caminho.
- Ihhh Léti, se você descer agora vai virar noticia amanhã cedo – Apontou para os jornalistas que rodeavam o hotel e eu apenas tentava processar a maneira que ele havia me chamado. “Léti”. Ele tava se achando o intimo né? Se bem que no meu estado atual, ele era a pessoa mais próxima a mim – Letícia! – Falou um pouco mais alto do que o normal me tirando dos devaneios
- Oi?
- Tudo bem você dormir lá no meu ap?
- O que? No seu apartamento? Eu acho melhor não, é que...
- Ta cheio de paparazzi ai, se você descer do carro do Léo Régis vai sair em todas as revistas e sites que estamos namorando... você não parece querer ser exposta dessa forma, né?
- É, você ta certo... tudo bem, só por essa noite, amanhã vou dar um jeito na minha vida!
- Hoje é seu dia de sorte, viu? – Ele disse e eu ri daquilo, só podia ser piada – minha mãe e minha irmã não vieram para São Paulo comigo dessa vez! – Eu ia ter que ficar sozinha com esse moleque?
- Sorte? – Disse irônica e ele riu concordando
- Minha mãe é uma fera, não aceita que eu leve garotas pra casa! Já ia achar que você é uma dessas piriguetes que querem roubar todo meu dinheiro e blá blá blá – Contou fazendo caretas engraçadas e por alguns momentos eu esqueci que minha vida tinha virado um inferno e me permiti rir com suas histórias contadas ao longo do caminho.
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