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História Always By Your Side (EM REVISÃO) - Novo Lar


Escrita por: Nellyy

Notas do Autor


Oiii, pessoas! Voltei com mais um cap. Espero que gostem!

LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!!

Capítulo 29 - Novo Lar


Fanfic / Fanfiction Always By Your Side (EM REVISÃO) - Novo Lar

Eu roía as unhas impacientemente enquanto tentava encontrar uma solução para o meu mais novo problema. Eu não conseguia ter alguma ideia boa ou relevante o suficiente que me ajudasse a não ter que morar debaixo de algum viaduto ou coisa parecida. A ideia de me hospedar em algum hotel, claramente, foi cogitada por mim. No entanto, mesmo que se tratasse de uma hospedagem barata, não havia dinheiro para tal.

- Os meninos vão chegar daqui a pouco. Eles vão nos ajudar a encontrar uma solução. – Jimin lavava um copo de vidro na pia que eu nem havia percebido que existia naquele vagão de trem. Quando tudo isso acabasse, eu gostaria muito que eles me relatassem como aquele lugar no meio do nada possuía água e luz.

- Assim espero. – puxei um pedacinho de pele que me incomodava no dedo polegar e me arrependi quando, com ela, o sangue e uma dor/ardência vieram juntos.

No mesmo instante em que eu chupava o polegar na tentativa de cessar o pequeno sangramento, ouvi a porta do vagão ser arrastada. De imediato reconheci a voz de J-Hope que cantarolava uma música desconhecida por mim. Eu sentia tanta falta da sua animação espontânea, das suas risadas, suas dancinhas malucas, seu sorriso e covinhas que alegravam qualquer um que os visse... eu sentia falta do Hoseok. Muita.

Prestei atenção na letra e na voz de Hobi, e rapidamente cheguei à conclusão de que ambas eram muito bonitas.

 

          “Eu sabia que você era a salvação

A única mão que me defendia desde as partes dolorosas da minha vida

O melhor de mim, eu não tenho nada além de você

Para que eu possa rir de novo, levante sua voz e

A deixe tocando”

(Save Me)

 

Hobi definitivamente era dono de uma bela voz e realmente muito bom fazendo rap. Eu poderia não ser uma especialista, mas eu sabia muito bem quando alguém nascia com um dom. Imaginei o grande sucesso que ele faria se mostrasse esse talento para o mundo.

Assim que entrou no meu campo de visão, notei que ele carregava duas sacolas cheias, uma em cada mão. Abri um sorriso pequeno, porém, extremante feliz em vê-lo depois de alguns dias, que para mim, pareceram anos. Senti meu frágil coração se aquecer. Eu nunca mais queria ficar muito tempo longe deles.

No segundo em que me avistou, Hope parou no caminho e arregalou os olhos, adotando uma expressão totalmente dramática. Totalmente J-Hope. Ele parecia até mesmo confuso com o que estava vendo. E mesmo estando feliz e surpreso em me ver, ele não correu na minha direção à procura de um abraço de urso, ao invés disso, ele optou por não perder a oportunidade de me fazer rir.

- Mas quem é essa beldade que meus olhos estão vendo?! – ele largou as duas sacolas do chão e veio até mim, andando de uma maneira confiante, com direito a sorriso torto e passada de mão sobre os cabelos. Ele se acomodou ao meu lado no sofá e passou o braço pelos meus ombros. – olá, muito prazer. I’m your hope. – ele piscou e mexeu a sobrancelha, sedutoramente. Ouvi a risada de Jimin soar atrás de nós.

Não pude conter a risada quando Hobi disse sua famosa frase barra cantada que fazia alusão ao seu apelido. Ele costumava usá-la para chegar em algumas garotas e, segundo ele, quase sempre dava certo porque as fazia sorrir. Foi bom deixar com que o bem estar me rodeasse por um momento.

- Você não vai me apresentar essa princesa, Jimin? – Hope continuou com a brincadeira, olhando para trás onde Jimin ainda estava ocupado lavando algo. O amigo, por sua vez, apenas conseguia achar graça. Não se diferenciando muito de mim.

- Ai, Hobi. Só você mesmo para me arrancar algumas risadas nesse momento. – disse, conseguindo cessar as risadas.

- Conte sempre comigo para isso. – deixando um pouco sua postura brincalhona de lado, ele finalmente me puxou para os seus braços aconchegantes e me apertou por longos segundos.

Eu poderia ficar abraçada com ele por toda a minha vida. Não somente para espantar toda a saudade que eu havia sentido dele, mas também, para poder inalar o cheiro gostoso da sua colônia favorita.

- Nunca mais faça isso. Sentimos muito a sua falta! – ele ralhou assim que me soltou.

- Eu sei. Eu também senti muito a falta de todos vocês! Mas, eu precisava ficar um tempo sozinha.

- Eu entendo. – Após me dar mais um abraço apertado e me encher de beijos estalados, Hobi se levantou para pegar as sacolas e levá-las até a bancada atrás de mim. – e por que o cabelo? Ficou maravilhoso!

- Ah... obrigada. – passei as mãos nos fios e subi no sofá, apoiando-me sobre os joelhos e ficando de frente para os meninos. – foi ataque de raiva misturado com a vontade de ver a minha mãe quando eu me olhasse no espelho. Acho que foi isso. – expliquei, sem eu mesma entender o que realmente havia me motivado a encurtar os cabelos.

- Olhando bem, você até que tem uma semelhança com ela. – J-Hope sorriu amigavelmente.

Concordei e continuei observando os dois meninos arrumarem os alimentos que Hobi tinha comprado. Cerca de dez minutos depois, os outros meninos chegaram e eu fui, literalmente, esmagada por todos eles; que quando me viram, decidiram por um abraço coletivo. Obviamente eu amei ser quase sufocada por beijos e abraços vindos dos meus amigos, contudo, como eu já esperava, Yoongi ficou afastado, meio que sorrindo, apenas observando as ações dos meninos que não paravam de falar e comentar sobre o meu novo cabelo. Quando resolveu me cumprimentar, Yoongi apenas disse que era bom me ter de volta.

Já com todos reunidos, Jimin explicou detalhadamente a minha tórrida situação para eles. Algumas sugestões foram apresentadas, porém, eu as recusei por achá-las incabíveis. O que gerou uma discussão generalizada, mas não fez com que eu mudasse de ideia, de jeito algum.

- Você pode ficar aqui.

Eu ainda tentava, arduamente, convencer Tae de que eu não iria invadir um shopping para passar a noite em uma das lojas, quando a voz tranquila de Yoongi atrapalhou os argumentos que eu estava prestes a expor. Todos nós olhamos ao mesmo tempo para o garoto que estava sentado no chão com uma expressão exaustiva enquanto brincava com um isqueiro.

- O quê? – indaguei, como se não tivesse conseguido escutar suas palavras.

- É. Eu estou me virando bem aqui. Com certeza Jimin contou a você que eu fui expulso de casa, certo? – seu tom se elevou um pouco e percebi quando seus olhos fuzilaram Jimin. Imaginei que ele tivesse ficado chateado pelo fato de outra pessoa ter me contado algo a seu respeito. E eu assenti. Durante o almoço, Jimin me contou diversas coisas, e o episódio de Yoongi ter sido expulso de casa depois de uma briga horrível com o pai, foi uma delas. Senti-me tão mal com aquela notícia, pois eu queria ter ajudado de algum modo. Pelo menos, ter permanecido do seu lado em um momento tão desagradável. - Então. Aqui é legal. Eu tenho colchonete ali, bebida e comida. Dá para sobreviver. Bom, a parte difícil é quando o chuveiro fica ruim. Daí, eu preciso ir até o posto no quartinho do Namjoon para tomar banho.

Olhei para Nam que sorriu e balançou a cabeça em confirmação. Fechei os olhos e suspirei ao pensar na ideia maluca de ter que viver em um vagão de trem, ainda por cima, abandonado. Tudo bem que o lugar era limpinho e bem cuidado, mas ainda assim, era um vagão abandonado. Entretanto, eu não tinha mais nenhuma opção e há essa altura eu não poderia ficar escolhendo um lugar perfeito. Ou era a rua ou o vagão.

- Olha, eu não acho uma má ideia. Quero dizer, você não tem mais pra onde ir, já que recusou ficar na casa de alguns de nós. – Jin se pronunciou, influenciando ainda mais a minha escolha.

- E é bem difícil tentar ajudar uma pessoa que respira orgulho. – olhando sério na minha direção, Yoongi aproveitou para me alfinetar. Não revidei, pois ele tinha razão. Mas, isso eu não iria dizer em voz alta. – você não quer saber do seu pai milionário e não quer ficar na casa dos meninos... ficar aqui é a sua única opção. Sinto informar. – ele completou.

Mesmo sabendo que ele estava certo, não deixei de me irritar um pouquinho com a sua sinceridade. Olhei para o rosto de cada menino que parecia esperançoso com a ideia, e após um longo suspiro, entendi de uma vez que não haveria lugar melhor do que esse.

- Certo. Eu ficarei aqui então. – disse, por fim.

De súbito, os meninos começaram a bater palmas, animados. Kook correu na minha direção e sentando-se no braço do sofá, ele me abraçou de lado e depositou um beijo na minha testa.

- Agora não vamos mais desgrudar de você, noona! – o garoto exclamou.

Meu pequeno sorriso se alargou e enquanto Kook me apertava, casualmente deixei com que meu olhar recaísse sobre Yoongi que nos observava atentamente. Porém, assim que nossos olhares se cruzaram ele imediatamente desviou sua atenção para longe.

 

 

***

Os meninos me apresentaram todo o ambiente. Fiquei ainda mais surpresa quando vi que realmente tinha um banheiro completo lá, com chuveiro, banheira e vaso sanitário. Eles riram da cara que eu fiz. Sem pausa alguma, comecei a fazer um milhão de perguntas, do tipo, como eles tinham feito tudo aquilo naquele lugar abandonado. Yoongi tomou a frente e com o nariz empinado respondeu que possuía dinheiro o suficiente para transformar aquele vagão em um palácio se ele quisesse. Torci o nariz para o jeito exibido do garoto e me concentrei em Hobi que completou dizendo que eles sempre foram muito curiosos quando crianças e sempre saíam para brincar e explorar lugares novos depois da escola. Em um daqueles dias, eles resolveram brincar na estação de metrô que há muito tempo havia sido desativada. Foi aí que encontraram os vagões e acabaram adotando um deles como seu lugar especial. Foi amor à primeira vista.

- Crianças tinham casas nas árvores e nós tínhamos um vagão de trem! – comentou alegremente o mais novo do grupo.

 Desde então, eles começaram a trazer coisas de casa para decorar o cantinho deles. Com o tempo, o local já estava com um clima de moradia de verdade, principalmente, depois que Yoongi contratou trabalhadores especializados para realizar as obras de água e luz, e outras pequenas coisas, como fazer um pequeno banheiro e a bancada com a pia, que deixava um cantinho do lugar semelhante a uma cozinha.

Satisfeita com as explicações, tornei a ficar curiosa com uma escada que havia em certo canto do vagão. Enquanto eles preparavam algumas comidas que Hobi havia trazido mais cedo, Jin falou que eu poderia subir e ver aonde ela ia dar. Ainda completou dizendo que era uma vista bonita. Afoita, imediatamente andei até a escada e subi. Uma pequena portinha, no teto, estava entreaberta. Empurrei e subi os últimos degraus. Eu estava no telhado do vagão, por assim dizer, e como Jin havia dito, era uma vista linda. O céu estava estrelado e bem ao longe, no horizonte, era possível enxergar milhares de luzinhas de prédios e casas que decoravam a cidade.

Inalando o ar um pouco gélido, caminhei mais para o meio e me sentei. Deixei as pernas penduradas, as balançando vez ou outra, e comecei a admirar a vista. Afastei os olhos da cidade reluzente e fitei o céu. As estrelas piscavam intensamente, adornando o céu escuro com seus brilhos frenéticos. Mamãe devia estar lá agora. Olhando para mim e cuidando dos meus passos. Eu pensei em desistir de tudo quando fui para casa e vi que eu ficaria sozinha dali para frente. Eu pensei em desistir quando olhei suas roupas, fotos, quando senti seu perfume... de repente, viver sem ela não tinha sentido algum. Eu não conseguiria viver em um mundo onde a minha mãe não estava. Mas, ela não deixou que eu fizesse isso.  

 

 

Estou mais perto do que você pensa

Eu estou lá quando você está dormindo

Quando você cai

Cada segundo que você está acordado

A cada momento, todos os dias

Chame-me agora


Não tem que dizer uma palavra, em qualquer caminho que você virar

Nada de preocupação, estou cuidando de você

Nunca estou longe, não tem que ter medo

Olhe, eu sempre estarei cuidando de você

(Watching Over You – Kari Kimmel)

 

 

Em uma das poucas vezes que eu consegui dormir, eu sonhei com ela. Estávamos em um jardim iluminado pelo forte pôr do sol. Ela estava sorrindo para mim. Aquele sorriso que radiava felicidade e que fazia com que seus olhos sorrissem junto. Ela estava tão linda. Mamãe acariciou meu rosto e tocou em minhas mãos. E antes de desaparecer, ela beijou delicadamente a minha testa. Uma imensidão de borboletas amarelas a rodeavam quando ela se afastou. Eu comecei a chorar e tentei impedir que ela fosse, mas ela soprou um beijo na minha direção e eu acordei. Ela devia estar bem e queria que eu também ficasse. Mas, ainda assim, era muito doloroso e difícil se conformar por inteira. Sem que eu percebesse, uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Limpei rapidamente a umidade quando fui surpreendida por uma voz grave.

-Ei, o que está fazendo?

Olhei para o lado e avistei Suga vindo em minha direção.

- Olhando as estrelas. – passei as mãos pelos cabelos, levando-os para trás e voltei a fitar o céu estrelado. – são lindas, não são?

Suga se acomodou ao meu lado e deixou as pernas penduradas, assim como as minhas.

- Sim. – ele assentiu.

Após isso, permanecemos calados. Podiam-se ouvir apenas nossas respirações e o barulho das folhas secas por conta da brisa leve que as balançava.

- Sabe... eu acho que cansei. – minha voz gélida cortou o silêncio da noite. Dei uma olhadela para ele que me fitava curioso. – cansei de ser a boa moça. De fazer tudo direitinho e nunca receber nada de bom em troca. – respirei fundo. – eu sempre fui uma boa filha, boa aluna, nunca me envolvi em encrencas... nunca fui de dar trabalho, entende? Sempre fui aquela filha dos sonhos, por assim dizer. E... era bom. Eu era uma garota feliz. Não tinha do que reclamar, para ser sincera. Eu queria apenas... que meus pais se orgulhassem de mim.

Fitei rapidamente o chão coberto por pedrinhas brilhantes, e logo em seguida tornei a olhar para o céu. Ainda não havia olhado para Suga novamente, mas eu sabia que ele ainda continuava me observando cuidadosamente.

- Mas, de repente, as coisas começaram a desmoronar. Meu pai foi embora do mesmo jeito com que uma chama se apaga. Rápido. Sem comunicar. Desde esse dia, a minha vontade de ser perfeita começou a se dissipar. É como se não houvesse mais necessidade disso... não sei explicar direito. Eu só queria entender o motivo dele ter feito tamanha burrice! Eu me sentia frustrada e profundamente machucada, como se eu tivesse feito algo de errado. E agora... ela se foi... eu cansei. – funguei e tomei fôlego para continuar. – quero dizer, sempre fiz tudo certo e eu ganho sofrimento em troca? De algum jeito, sou castigada? - Finalmente olhei para ele que estava realmente atento a tudo que eu dizia. – é... totalmente frustrante. Consegue entender?

Após uma longa pausa, ele passou as mãos pelos cabelos e após enfiá-las nos bolsos do moletom preto, ele começou a falar:

- Eu sei muito bem como você se sente. Eu entendo. De verdade. Não se importar com mais nada... também foi a minha melhor opção. Meus pais nunca me deram atenção, nem mesmo antes da morte da SunHee. Eles só ligavam para ela, cuidavam mais dela... era o tempo todo tudo só para a minha irmã. E eu era apenas uma criança. Eu não entendia porque eles davam mais presentes pra ela, mais beijos, mais abraços nela... – ele suspirou profundamente e notei seu maxilar se contrair. Ele estava começando a ficar incomodado. – então, eu comecei a tentar chamar a atenção deles. Eu só queria que eles me notassem, que eles vissem que tinham outro filho.

A voz de Yoongi ia ficando mais dura e pesada de acordo com que ele ia contando. O garoto encarava seus pés e mesmo eu não podendo ver sua expressão por completo, eu sabia que ela estava transbordando mágoa.

- Mas nada adiantava. Eu fui crescendo assim. Agindo e fazendo coisas erradas. Eu só queria um pouco de amor... e compreensão. – finalmente seus olhos encontraram os meus. Yoongi estava prestes a chorar e isso me machucou profundamente. Era a primeira vez que eu o via tão sensível e vulnerável. Parecia que ele ia quebrar com um simples toque. Nem longe era o Yoongi durão que eu conhecia.

Os pais eram o seu calcanhar de Aquiles. Sua fraqueza. Falar sobre eles o torturava demais.

 – Eu só queria ser amado, entende? Do mesmo jeito que ela. – uma lágrima pingou de seu olho esquerdo e seu vestígio foi rápida e brutalmente limpo de seu rosto. – eu sei que o que eu vou dizer agora é terrível, mas, eu senti certo alívio quando ela morreu. Eu pensei: nossa, Deus deve estar querendo mostrar a eles que ainda existe um filho por aqui!

Um sorriso cansado saiu de seus lábios. Ele continuou:

- Mas era pura ingenuidade minha pensar assim. As coisas só ficaram ainda piores. Meu pai começou a brigar excessivamente comigo e dizia que preferia que eu tivesse ido no lugar da minha irmã.... minha mãe, quase nunca parava em casa... meu ódio cresceu e eu decidi não me importar mais. Eu estava tão cansado. Desisti de tentar ganhar o amor dos meus próprios pais. Fazer coisas erradas, então, se tornou um certo tipo de refúgio para mim. A adrenalina me mantém vivo.

Ele sorriu triste.

Assustada e chocada demais com a história de Yoongi, eu não soube muito bem o que dizer. Eu sabia dos seus problemas familiares, mas não tão a fundo assim. Era completamente diferente vê-lo contando tudo, tão ferido e amargurado. Eu definitivamente não estava preparada para o seu desabafo.

- Er... eu sinto muito. – toquei de leve em seu braço. – é uma pena que eles não percebam o filho maravilhoso que eles têm.

Suga balançou a cabeça, sorrindo e bagunçou os cabelos.

- Caramba! Era para estarmos falando sobre você e eu acabei despejando essa merda toda sem parar! Desculpa! – ele se justificou, exibindo um sorriso divertido. Sorriso que não escondia totalmente a sua dor.

- Tudo bem. É bom conversar com você. É a nossa primeira conversa de verdade e a primeira vez que você troca mais de dez frases comigo... então, está sendo bom. E... desabafar as vezes é libertador. – disse, sorrindo.

Ele concordou e achou graça quando eu comentei sobre o fato de ser a primeira vez que ele trocava mais de dez frases comigo. Após a rápida descontração, tornamos a ficar em silêncio até que ele decidisse cortá-lo dessa vez.

- Desculpa por ser tão fechado. E distante na maioria das vezes e grosso... é só que... eu não conhecia você direito e... é uma coisa minha também...

- Esquece isso. – abanei uma mão no ar e esbocei mais um sorriso, que para a minha surpresa, sempre saía fácil demais. Mesmo sorrindo de volta, Yoongi não escondia que ainda se incomodava com o passado, relativamente complicado, que havia entre nós.

- Sobre o que você disse antes... – ele começou a falar, fazendo com que eu voltasse a encará-lo, já que meu olhar, segundos antes, já estava grudado no céu.  – eu não concordo com você. Não sou e nunca fui um filho maravilhoso. Eu sempre fui errado, Tiff. Um péssimo filho. – ele riu, porém, logo ficou sério novamente. – Já fui preso várias vezes, expulso de algumas escolas... ao contrário de você, eu sempre fui digno de vergonha. Como diz meu pai... um erro.

Arregalei os olhos e fiquei ainda mais abismada ao ouvir sua última frase. Como um pai podia dizer e fazer tais coisas com um filho? Um ser que faz parte dele! Era um absurdo! Yoongi era uma pessoa admirável e ele precisava ter consciência disso. No ato, senti uma compaixão por ele. Yoongi não fazia por mal. Ele ansiava por atenção, carinho, amor... coisas que deveriam ser essenciais em qualquer família.

- Mas, você acabou de dizer que era por atenção. Você não tem culpa. Você não sabia o que fazer. Você apenas queria... que eles notassem você.

  Fitando o céu ele disse:

- É. E nunca deu certo. – seu tom deprimido me fez sentir um aperto no coração. Eu queria abraçá-lo e consolá-lo, mas, ainda não me sentia tão a vontade de realizar tal coisa. Para mim, parecia íntimo demais. A primeira e única vez que o abracei, foi por conta de um impulso. Calor do momento. – é um infortúnio pensar... que as pessoas não percebem que uma simples palavra ou gesto, pode machucar profundamente uma pessoa. É o mesmo que jogá-la em um buraco profundo sem nenhuma corda para puxá-la de volta.

Pensei por um momento.

-Acho que sim. Apesar de que no meu caso, o silêncio me destruiu. É indescritível a pessoa sair da sua vida sem nem ao menos dizer o por quê. Você pelo menos sabe que parte da raiva do seu pai é por conta do falecimento da sua irmã. Agora eu, eu não sei se foi algo que eu fiz ou disse... a curiosidade vai me corroer pro resto da minha vida.

- Você... você devia perguntar a ele. – hesitante e me olhando de lado, Yoongi proferiu cada palavra com cuidado.

- Não. Nem pensar! – balancei a mão e cabeça, em conjunto. - Por mais que a minha curiosidade seja grande, o meu orgulho e raiva conseguem ser bem maiores. Não deu certo uma vez, então, acho melhor conviver com essa dúvida. Eu prefiro assim.

- Você que sabe. – ele sussurrou.

Suspiramos em uníssono e acabamos por sorrir da coincidência.

- Quer saber de uma coisa? Já chega dessa depressão gratuita. Eu vou voltar lá para dentro e vou comer e beber, que é o melhor que eu faço. Você não vem? – ele dizia, enquanto se levantava e esperava pela minha resposta.

- Hum... daqui a pouco. Guarda comida para mim. – pedi sorridente.

Suga retribuiu meu sorriso, com um lindo, por sinal, e se virou para ir embora. Eu gostava quando ele sorria. Ele ficava bonito. Era bom de ver.

Votei a fitar o horizonte reluzente e sorri quando uma brisa forte bagunçou meus cabelos.  Quando já estava um pouco distante, Yoongi parou e voltou a me olhar.

- Ei, Tiff! – ele chamou.

Virei a cabeça e o olhei.

- Sim?

- Posso te dar um conselho?

Surpreendi-me com a pergunta, porém, concordei.

- Pode.

- Permita-se chorar de vez em quando. Mesmo que se envergonhe. Chore sozinha, escondida, no chuveiro, ou debaixo de uma escada... mas chore. É bom. Lava a alma. Alivia.

- Não entendi... – murmurei.

- Estou dizendo isso porque sei que essa sua atitude rebelde e durona, é uma fachada para tentar encobrir o seu verdadeiro eu. Eu sei disso porque eu faço exatamente a mesma coisa. Todos nós fazemos. Por fora, somos garotos alegres, divertidos, de bem com a vida. Por dentro, estamos destroçados. Tentamos manter a postura, mas às vezes... precisamos derramar algumas lágrimas.

Engoli em seco quando ouvi a palavra destroçado sair por entre seus lábios. Eu sabia dos problemas de cada um e ainda era doloroso ter que imaginar que todos aqueles garotos gentis e sorridentes, sofriam tanto quanto eu.

- Eu já fiz isso demais, Yoongi. Eu já chorei demais. – respondi.

- Não tem problema. Se estiver com vontade, chore.

Eu sorri. Agradecida pelas palavras. Eles eram exatamente daquele jeitinho que Yoongi descreveu. Era difícil vê-los demonstrando alguma fraqueza ou dor. Você apenas saberia se algo estivesse errado se os analisasse minuciosamente. Quanto a eles, eles se conheciam tão bem, que sabiam que algo estava errado com o amigo apenas pelo modo como ele respira. Era impressionantemente lindo. Eu tinha orgulho de fazer parte daquela amizade. Sentia-me honrada por poder conhecê-los. Pelo menos, eu ainda podia contar com sete pessoas maravilhosas que estavam na minha vida.

Yoongi já estava quase desaparecendo pela portinha quando o chamei alto para que pudesse me ouvir.

- Suga! - Ele parou e olhou na minha direção. - Vai ser realmente bom passar um tempo a mais com você. – disse, sorrindo sem mostrar os dentes.

- Tenho certeza que vai. – ele balançou a cabeça, concordando e sorriu de uma maneira amigável.

 

***

 

Depois que os meninos foram embora, Yoongi e eu começamos a arrumar um lugar para eu dormir. Eu tinha dois travesseiros grandes e macios e uma coberta rosa Pink em mãos enquanto observava Yoongi desenrolar o colchonete e posicioná-lo ao lado do sofá, que posteriormente, eu descobri que se transformava em cama.

- Você realmente dorme com essa coisa rosa? – Yoongi parou o que estava fazendo e olhou para a minha coberta com uma cara de horror.

- Qual o problema? Eu ganhei da minha mãe! – respondi, já emburrada.

- Não, é só que... achei que você fosse do tipo que não gosta de rosa. – ele sorriu de lado.

- Eu gosto um pouco. – dei de ombros. Joguei minha coberta em cima do sofá e retirei do meu bolso o meu protetor labial, que raramente eu usava e que por sinal, era cor de rosa. Inocentemente, olhei para Yoongi e passei o protetor nos lábios.

- Ai meu Deus! – ele gargalhou e pendeu a cabeça para trás. Realmente rindo a beça de mim.

- O que foi? – indaguei ao encarar seriamente o garoto que achava graça sem parar, ao jogar meu protetor no sofá.

- Você está com os lábios cor de rosa! Eu definitivamente não estava preparado para ver esse seu lado meigo e mergulhado em um mundo cor de rosa! – ele apenas parou de rir para poder falar, logo em seguida, ele estava achando graça novamente. – você gosta de unicórnios também?

- Não sei o que é tão engraçado! Qual o seu preconceito com o rosa? – aumentei o tom da minha voz e pus uma mão na cintura, esperando que ele cessasse suas risadas. – e unicórnios... são legais.

- Cacete, eu mereço. – ele resmungou baixinho, mas ainda com um sorriso nos lábios. - Vamos deixar isso para lá, tá? - ele ainda riu mais um pouquinho antes de voltar a falar. Eu apenas revirei os olhos. Eu não odiava a cor rosa, eu apenas não tinha o hábito de usar coisas desta cor. Mas, ela até que me agradava. E isso não era da conta dele!

Comecei a achar que morar com Yoongi, talvez, não tenha sido uma ideia tão boa assim.

- Você pode ficar com o sofá cama e eu durmo no colchonete. – Yoongi começou a estender uma coberta branca sobre o colchonete azul.

- Ah, não tem problema. Eu posso dormir no colchonete. – eu já estava invadindo a moradia dele e não deixá-lo dormir no chão, me parecia o mais correto a se fazer. Além do mais, eu não queria ninguém jogando na minha cara que eu roubei a cama de alguém.

- Me dá esse travesseiro, por favor. – sem nem ligar para o que eu tinha dito, ele apontou para o travesseiro que estava no sofá. Eu o peguei e entreguei ao garoto.

- Você ouviu o que eu disse?

- Ouvi. Eu não sou surdo. – ele rebateu.

Revirei os olhos.

- E então?

- E então que eu já vou me deitar porque estou cansado e você deveria fazer o mesmo. Mas, antes disso, preciso informar a você a única regra de ouro que você precisa seguir avidamente se quiser viver em paz comigo.

Ergui as sobrancelhas. Isso não ia dar certo.

- O que é? – já ia começando a sentir um frio na barriga.

- Não me acorde em hipótese alguma. Faça o que quiser, mas não me acorde. – ele estava bem sério enquanto ditava sua regra de ouro.

Analisei suas palavras por um tempo, sentindo-me aliviada, e depois disse:

- Mas, e se o vagão estiver pegando fogo? – lancei a pergunta com um tom brincalhão, tentando implicar com ele.

- Não me acorde. O mundo pode estar acabando, alienígenas podem estar invadindo a terra, o V pode estar com a cabeça presa na privada, mas não me acorde. Entendeu? – ele pronunciou pausadamente a última frase e apontou para mim. Eu havia achado graça quando ele usou o Tae como exemplo, no entanto, meu sorriso se desfez rapidamente quando eu percebi que ele realmente estava falando sério.

- E se eu, por um acaso, acordar voce? O que voce vai fazer? – curiosa, arrisquei em perguntar.

- Ah, eu apenas vou sufocar você com essa sua coberta rosa. – ele apertou os lábios em um sorriso e piscou.

Arregalei os olhos, mas não tardei a sorrir. Eu sabia que ele estava brincado. No entanto, eu não queria arriscar acordar Min Yoongi e acabar sendo sufocada por uma linda coberta rosa pink.

- Você é assustador.

- Obrigado. – ele sorriu.

Yoongi deitou-se no colchonete e entendi que ele, definitivamente, não ia deixar com que eu dormisse no chão. Resolvendo não falar mais nada sobre o assunto, subi no sofá cama e ajeitei meus dois travesseiros. Em seguida, me deitei de barriga para cima.

Minutos depois, a voz de Yoongi ecoou pelo ambiente silencioso.

- Tiffany?

- Sim. – rapidamente respondi.

- Acho bom você ir preparando a sua melhor cara de coitadinha.

Franzi o cenho, sem entender o que ele queria dizer.  

- Como assim? Pra quê?

- Para quando você for atrás do seu pai para pedir uma mesada.

Arregalei os olhos e levantei rapidamente, ficando com os cotovelos apoiados na cama. Em seguida, virei para o lado, onde estava o colchonete e olhei para baixo, pronta para debater sobre aquela idiotice. No entanto, ao invés de dar de cara com o rosto do garoto, acabei vendo seus pés que balançavam calmamente. Irritada, olhei para outra ponta e revirei os olhos. Arrastei-me até o fim da cama e encarei o rosto tranquilo de Yoongi. Ele estava de olhos fechados e as mãos embaixo da cabeça.

- Você está maluco? Eu disse que não quero nada desse homem!

- Eu sei disso. – ele respondeu, ainda com os olhos cerrados.

- Então por que disse que eu preciso pedir dinheiro a ele? – impaciente, aumentei o tom de voz. Yoongi abriu os olhos e me fitou.

- Bom, eu não ganho mais mesada nenhuma e o pouco do dinheiro que eu trouxe comigo está quase no fim. E como eu tenho certeza de que você não vai querer que os meninos sustentem você... você precisa tirar dinheiro de algum lugar para viver. Eu não tenho problema nenhum que eles comprem coisas para mim... – ele encolheu os ombros e umedeceu os lábios, que pareciam ressecados.

Um balde recheado de realidade foi lançado sobre mim.

- Eu... não tinha pensado nisso. – voltei a me deitar de barriga para cima e encarei o teto, que exibia palavras e símbolos pichados sobre ele.

- Eu imaginei que não. Eu posso ir lá com você amanhã, se quiser.

- Er... obrigada. – respondi baixinho.

As palavras de Yoongi começaram a martelar na minha cabeça. Como eu pude esquecer de que mais cedo ou mais tarde eu precisaria de dinheiro para sobreviver?  Eu não tinha um trabalho, não tinha quase nada de economias... eu estava muito ferrada. Por pior que fosse, Guilherme era a minha única salvação em termos de dinheiro. Minha espinha congelou só com o pensamento de ter que voltar a vê-lo depois do que houve e ainda por cima, ter que pedir dinheiro a ele.

Essa seria mais uma noite que eu certamente passaria em claro, imaginando que Guilherme, infelizmente, voltaria a ser uma figura presente na minha vida.

 

 


Notas Finais


Yoongi e Tiff vão, finalmente, virar amiguinhos! Será? O que acharam? Me contem! rsrs

Então, gente. Eu só queria explicar uma coisinha pra vcs, que eu esqueci de falar no cap anterior. A fic, é dividida em três fases. A primeira, era mais focada na Tiff conhecendo os meninos, alguns caps na escola, ela com a mãe... enfim, essa primeira fase acabou no cap anterior. A segunda fase começa hoje. Poucos caps vão ser na escola, ela vai passar 24 horas do dia com os meninos, tem um novo lar, e o principal: o foco agora vai ser o ROMANCE! ushuas sim! Acho que muitas estavam esperando por isso. kkk Mas, claro, sem deixar de lado a amizade deles, pq isso é o principal da fic, mas o romance vai ser o protagonista nessa fase. E daí, tem a terceira fase, que será bem diferente das duas. Mas, isso vcs só vão saber daqui a um tempo. kkk
E é isso. Espero que tenham gostado e até o proximo! Beijoooos


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