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História Pra Sempre Seu Anjo - Bebida entra, verdade sai


Escrita por: 16nights

Capítulo 43 - Bebida entra, verdade sai


Fanfic / Fanfiction Pra Sempre Seu Anjo - Bebida entra, verdade sai

San Diego, Ca. 14 de abril, 11h03min

Ponto de vista da Roxie:

Ao invés de me deitar em alguma das espreguiçadeiras, sentei a beira da piscina de ladrilho azul escuro sobre a toalha branca que era tão macia quanto eu imaginava que fosse a textura das nuvens do céu aquele dia. A água fria refrescou meus pés enquanto o sol aqueceu meus ombros.

Inclinei meus ombros para trás e fechei os olhos. Um mês foi o suficiente para tanto... Além de estar apaixonada pelo irmão do meu melhor amigo que há semanas era inexistente, talvez eu nunca tenha desfrutado tanto de tardes bonitas, ensolaradas e silenciosas na praia como fiz nas últimas semanas. Mesmo morando em Long Beach, com a praia a não mais do que vinte minutos de casa, ter o mar do outro lado da rua era transformador mesmo que eu não soubesse nadar.

— A donzela prefere um beijo ou um café para acordar?

A voz de Cameron desvencilhou minhas ideais e eu estou sorrindo antes mesmo de olhá-lo e notar a bandeja de café da manhã que ele segura.

— Os dois, posso? – respondi, acompanhando com os olhos seus passos até a mesa e o guarda sol.

— Talvez. – Cameron se sentou na espreguiçadeira mais próxima a mim, me observando por alguns segundos. — Por que quase meia hora depois você ainda está seca, linda? Está calor aqui. – ele arrancou sua camiseta com a maior facilidade do universo e caminhou até mim.

— Eu nem vi o tempo passar.

— Ok. Isso não vai ser uma desculpa.

— Dallas, não! – tentei escapar dos braços dele, mesmo que fosse inútil. — Eu não sei nadar.

— É só uma piscina, não vai acontecer nada.

— Você não…

Meus gritos eufóricos não o fizeram parar, ele tinha meu corpo nos braços da mesma forma como se segura um bebê e, no próximo segundo, mesmo que eu estivesse agarrada a seu pescoço, voaria para dentro daquela água gelada.

— Um…

— Eu quero te matar!

— Dois…

O três nem foi contado e eu, de fato, voei para a água como um pássaro.

Lembranças ON

— Você tem uma consequência pra cumprir. – ele levantou, ajeitando a mochila nos ombros mais uma vez.

— Merda!

— Tem um rio por aqui. Vem. E olha por onde pisa, as rochas não são tão firmes assim. – ele me encarou por alguns segundos, dando de ombros. Se o objetivo era me deixar ainda mais com medo, Cameron conseguia sem esforço. Descemos bastante por outro lado da montanha e andamos até a beirada de um rio que corria com água completamente cristalina. As pedras de diferentes tamanhos e cores brilhavam no fundo.

— O que você quer fazer aqui? Não gosto do alto, mas prefiro lá em cima.

— Entra no rio. – ele ordenou serenamente ao cruzar os braços.

— Não?! – retruquei. — Não trouxe roupa e muito menos quero entrar nessa água totalmente gelada.

— Essa é sua consequência.

— Maldita hora para uma ideia maldita. Eu não vou fazer isso.

— Estou esperando. Entra no rio. Sem roupa, Rosatti. – os olhos castanhos estavam sérios e frios, havia uma pitada de desafio em sua expressão.

— Qual é a sua? – meu rosto esquentou de indignação e Cameron gargalhou.

— Sua consequência é entrar no rio, apenas.

— Eu não vou entrar.

— Veremos então. – ele balançou os braços para trás, deixando a mochila deslizar. Depois caminhou em minha direção, e eu tentei impedir que me empurrasse, segurando seus braços, que eram mais fortes do que eu pude imaginar.

— Você não vai fazer isso!

Ele fez. Cameron foi me empurrando até eu afundar o pé na areia molhada pela água que subia onde estávamos. Me segurei nele com força, puxando-o comigo. Era incrivelmente fundo, não consegui tocar meus pés no chão.

— Calma! – enquanto ria da minha cara brava, Dallas envolvia meu corpo com um dos braços para que eu não afundasse, o que mantinha meu rosto e ombros para fora da água. — Calma.

Não saber nadar me tomava em desespero.

— Por que... Por que fez isso? – eu buscava por ar, meu pulmão ali dentro parecia comprimir em vinte vezes. 

— Era pra você ter entrado, não eu. Não foi minha intenção. – ele andou para a borda.

— Não foi sua intenção? Você me enfiou ali a força. Eu não sei nadar, Cameron! E tira essa droga de sorriso vitorioso do rosto.

Nossas camisetas estavam encharcadas, coladas ao corpo. A sensação era desagradável como se eu estivesse nua na frente dele. Cameron puxou os tênis dos pés, deixando-os sobre a pedra e arremessou a camiseta quase na minha cara. Seu cheiro era muito agradável.

— Qual é, Dallas? – eu estava concentrada tirando o tênis quando ouvi sua risada antes do barulho do seu corpo batendo na água. Pensei que não haveria com o que me preocupar, até olhar para o rio e perdê-lo de vista. — Cameron? Vai começar a escurecer e só tem a gente aqui.

Ele não me respondeu e a água não possuía nenhum movimento. Além de preocupada, eu estava com medo. Dallas parecia ter sumido de repente, engolido pelo rio e, estranhamente, nada se via ali a não ser as pedras grandes distantes. Resolvi tentar mais uma vez antes que o desespero me tomasse.

— CAMERON?

Nenhuma resposta. Já sentia o desconforto do desespero e pânico se prendendo na minha garganta quase descendo pelo rosto quando senti braços gelados agarrarem com força minha cintura.

— DALLAS! SOCORRO! – gritei e me debati em um reflexo. Os braços eram fortes, e uma das mãos tapou minha boca.

Ao me livrar, ouvi seu riso. O som de sua gargalhada divertida soa como se tivesse ouvido uma piada muito engraçada. Virei meu corpo devagar na direção dele com os punhos fechados e a expressão mais irritada e assustada no rosto.

— Isso não teve nenhuma graça. – grunhi entredentes. — Nenhuma. – abaixei, pegando meus tênis.

 

— Eu achei muito engraçado. Aqui tem uma trilha que sai na praia, vamos. – ele segurou seu tênis e jogou a camiseta seca nos ombros molhados.

Lembranças OFF

Não existiria uma hora melhor para que eu pudesse retribuir a brincadeira sem graça. Respirei fundo antes de mergulhar, guardando o máximo de ar nos pulmões para aguentar sob a água por tempo suficiente antes que ele mergulhasse. Felizmente meus pés tocavam o chão e o desespero não poderia tomar meu corpo de verdade, bati os braços algumas vezes fingindo agitação e depois afundei, sumindo na profundidade. As aulas de teatro teriam que ser efetivas.

Um, dois, três, quatro… Quase sete segundos depois e milhares de bolhas surgiram na água com o impacto do pulo que ele deu. Com os olhos fechados, sinto os dois braços fortes me levando para a superfície e, em seguida, para fora da piscina.

— Tudo bem? – perguntou aflito, ansioso, deitando meu corpo sobre a toalha que a pouco eu estava sentada. — Rox? Ei, linda!

— Você já pensou em ser salva vidas, lindo? Seus braços são bem fortes.

A expressão dele era impagável, completamente surpreso e frustrado por perceber que sua aflição era real, mas a situação não.

— Você estava brincando comigo? – seu tom de voz é tão sério e duro quanto seu semblante naquele momento.

Engoli em seco e ergui os ombros, esperando que não tivesse atingido nenhum ponto que o fizesse surtar comigo.

— Nada mais justo. – sorri em uma tentativa de suavizar o clima. — Estou perfeitamente bem.

— Com quem você aprendeu a ser idiota assim? – Cameron me cutucou com a ponta dos dedos, fazendo cócegas. — Foi com o meu irmão, eu tenho certeza.

— É difícil dizer, vocês são da mesma família.

Passamos tranquilas duas horas na área da piscina aquela manhã, conversando, comendo o banquete até o último farelo de torrada e brincando na água como duas crianças que ainda não conheciam o peso das responsabilidades da vida adulta até Cameron receber uma ligação lembrando o contrário.

— Sim. Eu já estou indo. Me manda o endereço. Ok, encontro você lá.

Apoiada com meus braços no lado de fora da piscina, observo-o até que termine a chamada. Ele se aproximou, secando-se com uma toalha.

— Quem está te roubando de mim a essa hora? – brinquei, com meus olhos estreitos pelo sol em minha direção.

— Liz. Eu tinha esquecido da palestra com ela hoje. São quase duas horas, o tempo rápido passa rápido quando estou com você. – Cameron se sentou no chão, inclinando-se e beijando minha boca. — O que acha de um cinema a noite? Só nós dois.

— Claro.

— Eu volto antes de sete, não deve demorar muito.

— Certo. Se mudar de ideia ou estiver cansado, me manda uma mensagem.

— Não estarei cansado pra você.

— Você tem que ir agora?

— Sim. Vou tomar um banho, pode me acompanhar, se quiser, linda. – ele se levantou e estendeu a mão com um sorriso malicioso.

17h31min

Ponto de vista do Cameron:

— Você fingiu prestar atenção a palestra inteira. – ela aponta, rindo ao comer uma batata frita.

— E você não?

— Não! Foi importante pra mim. No sábado nós podemos ir a…

— Liz! Por favor… Eu sei que está eufórica com tudo, mas, podemos ir com calma? Meu irmão vai embora na quarta, quero aproveitar esses dias sem outros compromissos. Podemos sair depois.

O desdém que arqueou suas sobrancelhas, surpreendentemente, não foi verbalizado. Liza bebeu o milk shake com o olhar fixo na bandeja, parecendo se interessar por algo na nota fiscal.

— 14 de abril. – murmura, desviando os olhos verdes para o lado de fora do vidro da lanchonete.

— Dois dias para o aniversário dela.

Lembranças ON: 3 anos atrás

— Meus pais planejaram uma viagem surpresa para esse ano. – Liza apoiou uma das mãos em meu ombro e sussurrou mesmo depois de Brinley já estar longe da mesa.

— Então está tudo certo quanto a Las Vegas?

— Como você sabe, Cam? Eu falei sobre isso?

— Também tenho uma surpresa para a sua irmã. Falei com Will e Mary antes.

— Surpresa? E não pode a dizer a sua melhor amiga?

— Não dessa vez. Você não aguentaria guardar, Liz.

— Ainda faltam dois dias, Dallas, posso morrer antes de saber.

— Não diga besteiras. – ri, tocando-lhe a mão que estava sobre a mesa. — Você saberá em Vegas.

Assim que Brinley voltou a caminhar em nossa direção, Liza se afastou e mantemos o silêncio até que ela se sentasse novamente do meu outro lado.

— Já pediram a sobremesa?

— Ainda não, esperamos por você.

— Vocês pareciam focados demais, e não decidiram a sobremesa, sei que aprontam alguma.

— Está mal acostumada, Lily. – Liza sugeriu um brinde ao levantar sua taça.

~

Chegamos em Las Vegas um dia antes para aproveitarmos o aniversário com o descanso suficiente. A semana passou rápido e eu não podia estar mais ansioso. Por maior que fosse a ansiedade, não existia nenhuma dúvida de que aquele era o caminho que eu queria seguir com Brinley.

Com a mala aberta, segurei o anel de noivado nas minhas mãos por poucos segundos até ser interrompido quando alguém bateu na porta.

— Cam?

— A sua irmã saiu agora mesmo. – digo ao atendê-la, jogando a toalha de banho sobre o ombro. — Algo de errado, Liz?

Ela me encarou com a maquiagem seca escorrendo pelas bochechas. Sem responder a pergunta, me abraçou.

— O Grier. – o nome do namorado saiu quase como um rugido. — Eu acabei de mandar aquele filho da puta embora.

— O que? A gente mal chegou. O que esse cara aprontou com você? – afastei seus ombros para encarar o que os olhos verdes tinham a dizer.

— Aquele… Desgraçado! – ela gritou, frustrada, batendo os pés no chão. — Ele está me traindo há mais de dois meses, acabei de ler as mensagens. Porra, como eu pude ser tão idiota, Cameron?

— Liz, eu… Sinto muito. – retribui o abraço novamente, acariciando suas costas. — Ele vai se arrepender por ter feito isso com você, confia em mim, Grier não encontrará olhos tão verdes quanto os seus.

Ela se afastou novamente, encarando meu rosto como se procurasse algo.

— Eu espero ter a sorte da minha irmã, um dia.

— Quando você menos esperar, seu príncipe encantado vai aparecer, não mais bonito que eu. – brinquei, afagando seu cabelo enquanto seu rosto afunda em meu peito novamente.

— Posso te contar um segredo?

— Sim, melhores amigos guardam segredos.

— Uma vez eu me apaixonei por um cara, antes do Grier, e acho que sinto até hoje.

— Intenso. E quem é o cara?

— Essa parte eu prefiro manter em segredo ainda. Você usaria isso contra mim.

— O que? – ri. — Posso ter a esperança de que um dia você vai me contar?

— Bem, eu espero que sim. – Alcost suspirou, me encarando com um sorriso tímido.

— Vai ficar tudo bem, Liz. Vem cá. Você é surreal.

Envolvi seus ombros levemente em um abraço.

— Que bom que a porta está... – Brinley voltou ao quarto, parando de andar quando nos viu.

Ela pegou o cartão da porta do hotel sobre a cômoda e se aproximou de nós dois, abaixando-se a frente da irmã.

— O que houve, Lizzy? – passou as mãos pelo rosto da outra, limpando a sujeira da maquiagem.

— O Grier me trai, Lily. Acabei de mandar ele embora.

— Que babaca! – Brinley segura as mãos de Liz. — Te prometo que aquele branquelo de olhos azuis não vai fazer falta aqui.

— Olha quem fala se não é a branquela de olhos azuis. – Liza zombou, rindo e abraçando a irmã.

— Vamos nos divertir muito, tá? E não chore mais, não gosto de te ver assim. Iremos te encontrar um homem rico gastando dinheiro em algum cassino.

~

— Amor, ainda não sei o que estamos fazendo na fila da maior roda gigante do mundo.

— Você vai ter o melhor pôr do sol da sua vida, Brin. Vai valer a pena.

— Ok… – como estava nervosa, começou a estalar os dedos das mãos sem notar. — Mas e quanto ao meu-

— Medo de altura? Confia em mim. – segurei suas mãos. 

— Eu confio. Sempre. – o sorriso largo serviu como garantia. — Mas e quanto a você? E a sua fobia com lugares fechados?

— Isso não vai nos atrapalhar, não dessa vez, o interior das cabines são bem grandes e ventilados.

— Eu nem acredito que estou aqui. Em Las Vegas, pronta para entrar na maior roda gigante do mundo a mais de trezentos metros do chão com o amor da minha vida.

Depositei carinhosamente um beijo em sua têmpora. A fila durou o suficiente para que não perdêssemos o sol se pondo. Tínhamos os ingressos mais caros para a melhor cabine. Era uma noite especial.

— O que? Só nós dois? – Brinley comentou quando a porta fechou, se agarrando ao meu braço, empolgada. — Dallas!

— Você merece o melhor.

— Você é o melhor que eu poderia ter.

Os olhos dela estão brilhando e aquele era um dos meus prazeres favoritos. Com as mãos leves sobre meu peito, ela se inclinou e nos envolveu em um beijo apaixonado a quase cinquenta metros do chão.

— Um brinde ao homem sortudo que eu sou por ter conhecido o amor em sua forma mais humana. – ofereci a ela uma das taças de vinho branco.

— Um brinde pela felicidade incontável que você me proporciona todos os dias.

Juntamos nossas taças e demos alguns gole nas bebidas. Brinley precisou de alguns minutos antes de se sentir confortável o suficiente para nos aproximarmos do vidro e nos sentarmos de frente para o pôr do sol.

— Eu quero me casar com você.

Lembranças OFF

É incômodo ter lembranças que voltem a memória, agora, com diferentes significados. Liza estava falando de mim a três anos atrás, horas antes do pedido de casamento que eu faria a sua irmã naquele mesmo dia. O tempo todo era eu o cara por quem ela era apaixonada. E mesmo tendo me conhecido primeiro, abriu mão pela felicidade da irmã. 

Do outro lado da mesa, ela parece estar perdida em seus pensamentos, chorando em silêncio.

— Eu preciso beber.

— É, eu também. – concordo, levantando e estendendo-lhe a mão para saímos da lanchonete.

Ponto de vista do narrador:

Os dois caminham apressados pela calçada até o mercado mais próximo, comprando algumas garrafas de bebida. Tinham o suficiente para boas horas de distração. Cameron, depois de dois goles da vodca pura que Liza abriu assim que deixaram o estabelecimento, decidiu dirigir até o apartamento antes que pudesse ultrapassar seu limite e colocar em risco a segurança de Liz e da filha que ela carrega.

[Cameron, 17:52pm]: Desculpa por ter que furar nosso cinema hoje.

[Cameron, 17:53pm]: Combinamos amanhã, pode ser?

[Cameron, 17:53pm]: Eu amo você.

Os minutos voam, as ondas não param de se movimentar e o céu é tomado por estrelas e escuridão. O efeito que o álcool, concentrado em mais da metade da garrafa de vinho mais cara do mercado e a mistura com alguns goles de whisky, produz na corrente sanguínea de Cameron oscila entre relaxamento, cansaço, falta de paciência e uma lucidez questionável. Por outro lado, meia garrafa de gim e uma inteira de vodca deixa a pontuação alcoólica de Liza maior que a dele. Intercalando goles de uma garrafa e outra, ela seguiu a noite se sentindo a cada vez mais confiante e inquieta.

— Por que está me encarando sem dizer nada? É irritante quando faz isso, mas eu gosto.

— Seus olhos continuam bonitos.

Deitados lado a lado na areia, ela desvia o olhar para o céu, envergonhada, e o brilho da lua refletiu em seu rosto suado.

— Será que eu... Posso... – Cameron aponta para a barriga dela depois de pensar sobre aquilo por alguns minutos.

— S-sim, claro que pode. Claro. – Liza levantou sua camiseta social quase inteira rapidamente, sem se preocupar em abrir os botões.

As mãos grandes tremem pelo caminho que fazem até tocarem a barriga que mal tinha volume. Ela sobrepõe a mão dele com a sua e Cameron fecha os olhos, sentindo os arrepios fisgarem pelo corpo ao pensar sobre seu novo futuro, enquanto acaricia a pele brilhante de Liz. Pela primeira vez, depois do nascimento de sua irmã mais nova, ele amava alguém que ainda não tinha nascido. Ser pai era uma grande experiência, além de fazê-lo perceber que a chama de um de seus sonhos ainda estava acesa dentro de si.

— Obrigado por isso.

Ela não responde, apenas se inclina para beijá-lo e Dallas hesita, virando o rosto para o outro lado.

— Precisamos ir, você bebeu demais.

— O que? Ainda tá cedo, Cam... O sol ainda nem nasceu.

Grunhindo por ser contrariada quando o viu levantar e foi puxada por debaixo das axilas para fazer o mesmo, Liza não largou sua garrafa de bebida pela metade, cambaleando algumas vezes até firmar seu equilíbrio. A caminhada pela areia é lenta e um pouco torta até a calçada, onde Dallas descarta as garrafas vazias na lixeira e leva consigo o whisky.

— Liz! – ela é agarrada pela camisa, impedida  de atravessar na frente dos carros antes do sinal fechar. — Espera.

No décimo sexto andar, Cameron precisa piscar algumas vezes para afastar a visão embaçada e acertar a chave nas fechaduras da porta do apartamento.

— E aí? – sua voz é vibrante. Ela ergue sua garrafa assim que entra. — Que desânimo, isso é um funeral? Coloca uma música aí, Jack.

Nem dez segundos foram necessários para a observação atenta que o Jack, do sofá, fez dos dois que acabam de entrar.

— Álcool? – ele se aproximou de Cameron com o tom de voz baixo como se seu esporro não precisasse ser ouvido por mais ninguém além do próprio irmão. — Isso é sério?

— Sim. Quer um pouco pra relaxar? Liza ainda tem alguns goles de vodca. Esse aqui é meu. – Dallas deixou sua garrafa sobre a mesa.

— Que merda está acontecendo com você? Voltou aos dezesseis anos? Aquela mulher está grávida! Por que chegaram bêbados em casa?

— Eu não estou bêbado. Nós só queríamos distrair um pouco. Ela vai ficar bem, Jack, para de criar confusão.

— Entender como a sua cabeça funciona seria útil pra mim, Cameron. – ele deu uma volta em seu próprio eixo. — Às vezes eu me canso de você.

— Que bom que me entende, é realmente cansativo ser eu às vezes.

Depois de apertar um dos três únicos botões do controle da televisão, Liza conseguiu colocar uma playlist animada para tocar estrondosamente.

— Desliga isso! – Dallas ordenou, mas ela foi mais rápida ao se afastar, parando atrás do sofá. 

— Rose! Você parece menos vadia hoje, mudou o penteado? – provocou, apoiando seu queixo quase no ombro de Rosatti, que pode sentir todo o hálito alcoólico.

— Liza, para! – Jack repreendeu, tomando-lhe o controle para desligar a televisão.

— Você realmente sente prazer em fazer isso, não é? – Roxie protestou, mantendo a posição de suas pernas sobre o sofá.

— Eu sinto prazer em muita coisa.

— E me odiar é uma delas. Muito previsível. – ela inclina a cabeça pra trás, podendo enxergar os olhos verdes um tanto quanto irônicos observando-a. As pupilas de Liz estavam dilatadas em um misto de raiva e álcool.

— Como eu poderia fazer diferente sabendo que você… – Liza se abaixou novamente para falar bem próximo ao ouvido da outra. — Você é a vadia com quem o filho da puta do Grier me traiu.

Ouvir um nome tão específico sair da boca de alguém tão desconhecida como a Alcost gelou o sangue de Roxie. Num instante, seu rosto empalideceu, deixando-a inexpressiva e ela pôde se sentir invadida por dores que já estavam esquecidas. Grier. Depois de conseguir piscar pela primeira vez em cinco segundos, os olhos azuis localizaram Jack, que estava atento e parecia tão curioso quanto o irmão mais velho.

— O babaca é o mesmo cara. – Cameron concluiu, sugerindo um pequeno sorriso com os cantos da boca. — Perfeito.

— Isso não pode ser verdade. O mundo não pode ter só dez metros quadrados, Liza.

— Pode ser verdade quando eu sou sempre a porra da segunda opção, Jack. – depois de vociferar, uma única lágrima que escorre de seu olho. — Três anos atrás e eu encontrei mensagens no celular dele com outra garota, os dois conversaram por DOIS meses. Quando terminamos, as redes sociais me mostraram a cara de vadia DELA nas fotos com aquele desgraçado.

Roxie estava assustada por finalmente poder ter certeza sobre coincidências existirem e serem muito imprevisíveis. Ela não soube como reagir depois de raciocinar que fora amante de Grier por dois meses antes de começarem a namorar e nem mesmo ser ciente disso, muito menos que a "outra" fosse Liza. Além de um final errado com as mais diversas traições e perseguições dele, o começo também foi sujo e nada criativo.

— Eu não sabia de nada disso, Liza. – levantou, ainda mais arrependida por aquele relacionamento, ficando de frente para os três. — O que começa errado, termina errado e eu recebi o que mereci. Nós duas tivemos o mesmo final. Eu sinto muito.

— Não sente! Você está fazendo tudo de novo. Está com o Cameron agora… – em uma rápida pausa, deu um gole na bebida e limpou os cantos da boca com o dorso da mão. — E eu sou, DE NOVO, a segunda... Na verdade, eu nem sou a porra de uma opção dessa vez, o que é muito pior. – ela gargalhou.

— Não é hora para começar com essa palhaçada, Alcost. Vamos subir.

 — É sempre hora para começar com essa palhaçada! – sorrindo, ela vira seu corpo para Cameron em um giro rápido que quase a desequilibra.

— Chega de álcool por hoje! – Johnson tenta segurar a bebida e leva um empurrão grosseiro em seu ombro, grunhindo ao sentir a cicatriz latejar.

— Se você tentar pegar a minha vodca mais uma vez, eu juro que quebro essa droga de garrafa na porra da sua cabeça. – sua voz não possui nenhum tom divertido ou brincalhão, ela está fria e séria.

Encarando-a fixamente, Cameron pisa uma única vez em direção a ela, um passo firme que faz o barulho da sola de seu sapato ecoar.

— Você encosta no meu irmão e vai implorar para que isso não tenha acontecido. – o aviso breve foi tão rude quanto o dela.

— Eu não tenho medo de você, Dallas. – ela proferiu, perfeitamente composta.

E por alguns segundos a forte tensão entre os dois olhares preocupou os outros dois que estavam ali como espectadores. Jack sempre odiou que o irmão escolhesse bebida, drogas ou cigarro para se desviar dos problemas, por levar a sério demais a promessa que Dallas fez a alguns anos sobre ficar limpo, toda recaída era como uma facada dada em seu peito pelo próprio Cameron.

— Liza?

Alex desceu a escada apressado depois de notar que Liz estava no outro andar. 

— Eu te liguei a tarde inteira. Você está bebendo?

Ela sorriu e balançou a garrafa transparente mais uma vez. O sangue de Alex ferveu e ele não deixou nem mais um segundo escapar, partindo para cima de Cameron e sendo interrompido por Johnson que entro no meio.

— Para! Estão bêbados, Alex, você não vai conseguir nada hoje. Por favor, leva a Liz que eu cuido do meu irmão.

— É melhor que ninguém encoste a mão em mim porque eu não vou a lugar nenhum. – cantarolou, mantendo-se cara a cara com o Dallas.

Roxie analisa o quão grande é a proximidade dos dois rostos, porém o olhar cheio de raiva e frustração que surgiu em Liz naqueles últimos minutos lhe garantia de alguma forma que alguns tapas na cara de Dallas seriam mais previsíveis do que possíveis beijos.

— Eu penso todos os dias da minha vida que não deveria nunca ter te apresentado a minha irmã. – a tentativa de sussurro é totalmente provocativa e inválida, Liza ansiava pelas respostas dele. — NUNCA!

— Por que? – Cameron agarrou o pulso dela com força o suficiente para que a camiseta social amassasse entre seus dedos. — Por que essa teria sido a sua melhor escolha? Eu me apaixonaria por você? Como mágica?

 — Pensando bem... – ela recuou. — Eu sou só uma mulher estúpida. Mais uma na vida do grandioso Cameron Dallas. E nada é mais divertido do que brincar com mulheres estúpidas, ir pra cama com elas e depois fingir que nada aconteceu.

— Eu nunca brinquei com você! – gritou ao rebater. — Tudo o que a gente teve foi importante pra mim, mas nada anula que você é irmã da Brinley, caralho!

— O que, ironicamente, não anulou fazer um filho comigo. – sorrindo vitoriosa, deu de ombros.  — Você jogou com os meus sentimentos, me usou para satisfazer suas necessidades, Dallas… Só eu sei o quanto você é sujo.

Alcost então começa a vagar pela sala tornando o ar desnecessariamente dramático. Os olhos verde-esmeralda foram preenchidos por uma fúria não conhecida antes por ninguém que estava ali.

 — Acabamos de transar, você veste a roupa e volta pro seu quarto sem dizer nem um boa noite. – ela organiza a sequência de acontecimentos enquanto gesticula com as mãos. — E eu continuo lá, acordada, sozinha, sonhando com o dia em que você sorriria pra mim quando acordássemos dizendo que eu era o seu amor e-

— Chega! Minha cabeça já está latejando. Eu não quero ter essa conversa com você mais uma vez.

— Deveria ter dito a verdade antes, Cameron… – continuou, lamentando.

— E eu falei a verdade! Você concordou em ir pra cama sem compromisso quando eu garanti que seria a única coisa que aconteceria entre a gente. A culpa é sua por ter criado essa confusão, Liza.

— Ninguém nessa vida vai fazer tudo o que eu fiz por você. NINGUÉM jamais vai te amar como eu.

— Talvez você esteja certa, Liz, talvez esteja certa. Mas o que precisa entender é que eu amo outra pessoa.

Aquela era a afirmação que mais aguçava os sentimentos de Liz – ou a falta deles. Sua cabeça tinha uma coleção de todas as milhares de recusas feitas por Dallas, tendo que ouvir mais uma vez sobre a posição que ela desejava estar e nunca conseguiria. Liza soube enxergar a derrota através dos olhos dele e, pela primeira vez, as intenções em machucá-lo nublou suas feições. 

— Ela está morta justamente porque eu não queria ouvir mais isso de você e é exatamente o que me fala.

— Você está muito bêbada, essa conversa termina agora.

— Leve-a para o quarto, Alex. – Jack insistiu. — Quer ajuda?

Eu a matei pra ficar com você porque eu te amo de verdade, Dallas.

Suas palavras foram cuspidas e repetidas com a rapidez e ferocidade do disparo de metralhadoras. Ela nunca tinha pensado que seria necessário dizer em voz alta, mas agora se sentia na mesma posição de anos atrás, quando pensava em maneiras de acabar com sua irmã para ter o amor que sempre sonhou. Foi ao ouvir aquela confissão fria que Roxie, com o estômago revirado, entendeu sobre o aviso prévio de Brinley.

— Você não matou a Brinley. Foi um acidente.

— O que te faz pensar que foi um acidente? – Liz tocou a ponta do queixo dele com o indicador em um completo ar de prepotência. — Um dia achei que você pudesse ser mais inteligente, então percebi que não era tanto assim pela forma ridícula que encarou o luto. Dois anos? Sério? E quanto ao Gilinsky? Só uma coincidência? Ela traiu você, bobinho. Deveria me agradecer por te livrar disso.

Cameron permaneceu imóvel, sem piscar contra o ataque dela. A tensão em seus músculos era notória, com os punhos fortemente cerrados, a respiração pesada e o suor escapando de seus poros, a adrenalina explode pelo seu corpo. O pavio aceso por Alcost queimava dentro dele em alta velocidade.

— Está magoado agora, não é? Eu tive que fazer isso, foi você quem começou.

Quando a explosão aconteceu, as duas mãos agarram em completo ódio o pescoço dela. Com o queixo levantado, os olhos castanhos agora atiram chamas que poderiam queimá-la se Liz não demonstrasse tamanha indiferença. Cameron nunca esqueceria do brilho maligno nos olhos verdes e o cheiro de sangue que ela exalava. Em contrapartida, Alcost sentia uma enorme onda interna de prazer ao notar que conseguiu machucá-lo o suficiente. A garrafa de bebida espalha vidro e vodca pelo chão quando escorrega das mãos dela.

— Cadê a porra do seu remorso? – as palavras dele saem em um murmúrio entre dentes enquanto sua boca treme.

Alex acerta um soco no rosto de Cameron, fazendo-o cambalear e soltar Liza que quando cai de joelhos no chão é rapidamente arrastada por Walker pra longe. Por mais que os lábios estejam arroxeados e o rosto fervendo em um tom de vermelho, ela não demonstra nenhuma emoção, apenas passa levemente uma das mãos pelo pescoço. 

— Eu não preciso de remorso. – respondeu rouca e sorrindo por se desfrutar da troca de palavras com ele. Seu próprio rosto parece uma máscara, controlada para ter um efeito particular em Cameron. — Teria sido mais gentil me matar do que se apaixonar pela minha irmã. Não pude controlar o que aconteceu e, então, você foi meu. E agora teremos uma filha.

— CHEGA! Você é doente, assustadora pra caralho e eu não vou descansar até acabar com cada pedaço de você, Alcost... – ele não grita, mas o timbre de sua voz está tão pesado que é assustador. 

— Pelo menos estamos quites agora. – ela o interrompe. — Você matou o Finnegan. Eu amava aquele cara, sabia? E você o matou. É tão ruim quanto diz que eu sou.

— Eu estava te protegendo, caralho! Mas agora... Só preciso que a sua mente doente seja extinta dessa porra de universo e de qualquer outro.

Dallas agarrou a garrafa de whisky e caminhou apressado até a porta, em segundos, desaparecendo do cômodo. Roxie fechou os olhos e sentiu o coração palpitar no mesmo instante em que a batida forte ecoou pela casa. A discussão foi fria. O amor foi distorcido em uma imitação íntima de ódio e assim o muro de amargura que os separava cresceria gradativamente até que Cameron garantisse que Liza fosse destruída.

— O que ele sente por você não chega a um fio de cabelo do que sentiu pela Brinley. – ela sussurra para provocar Roxie assim que passa a seu lado.

Tê-la tão perto de si estremeceu a garota corajosa de olhos azuis, deixando-a com as palavras travadas na garganta.

— Você precisa ir embora antes que ele volte. – Jack deu um passo para ficar na frente de Roxie e com os olhos fixos aos da mulher que sempre torceu que ficasse com seu irmão. — Você precisa ir e nunca mais voltar, Liza.

— Jay! – Liza tocou-lhe o ombro e sorriu como se o loiro tivesse acabado de contar uma boa notícia. — Foi mal pelo tiro, lindinho, não era pra ter te acertado.

Walker estranhamente parecia não ter sido atingido por nenhuma das revelações dela, pelo menos demonstrava um ótimo autocontrole ao caminhar degrau por degrau com uma mulher de sérios problemas mentais. Para ele, essa explosão foi tudo o que precisava para se mudar com Liza e o bebê para longe de Cameron.

— Preciso ir atrás do meu irmão. E você vem comigo. – ele segurou eufórico uma das mãos da melhor amiga, suspirando. — Não quero que fique nessa casa enquanto Liza estiver aqui.

No alto da mesma montanha, dessa vez sem luz do sol para iluminar o extenso mar que se alongava por todo o horizonte, os passos de Dallas foram lentos até a beirada, como no dia em que descobriu a morte de Brinley. Sua boca estava dolorida pela quantidade de álcool que derramava na garganta durante os últimos cinco minutos antes de arremessar a garrafa pra longe e vociferar um grito com toda a sua frustração. 

Cameron não teve forças para lutar contra as lágrimas e aceitou sentir o arder de seus olhos. Seu coração começou a bater mais forte, ele podia ouvir o sangue passar pelos seus ouvidos e ver o peito mover para cima e para baixo debaixo da camiseta e jaqueta. A visão ficou borrada e o mar desaparece de vez na escuridão que parecia caleidoscópica, como quando se fecha os olhos e pressiona as pálpebras para "ver estrelas".

De repente, Dallas estava quente e suado ao mesmo tempo que hiperventila. Não só as suas mãos, mas as pernas também tremiam deixando-o instável de pé. Ele tenta respirar fundo em uma tentativa de se acalmar, mas sua respiração era afiada e superficial. O coração bate ainda mais rápido, ainda mais forte. "Você está morrendo" diz uma voz em sua cabeça. "É essa a sensação da morte, e você vai morrer sozinho." Então Cameron afunda lentamente até o chão, caindo no gramado seco quando Jack e Roxie puxam seus braços para trás.



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