História Amada pelos Deuses - Contando o Passado part.5

O Tridente entre a mão de Worer chamou a atenção daqueles que pretendiam defender o pequeno Natsu. De certa forma os mesmos não conseguiram disfarçar a preocupação que sentiram ao perceberem a desvantagem em que estavam.

Marco – O que pretendem ao se reunirem aqui? – indagou seriamente.

Worer – O mesmo pergunto a você – respondeu com um sorriso de canto.

River –... Vocês não passarão por essa porta – falou em um tom sério, fazendo com que a tensão se intensificasse entre eles.

Worer – Isso é o que veremos! – continuou a sorrir – Trent... – olhou para o irmão ao seu lado, que apenas confirmou com a cabeça.

O belo jovem então, em um movimento rápido, pulou sobre a porta, arrombando-a. Aquela ação surpreendeu o grupo que defendia o rosado, fazendo com que Grandine também despertasse.

Grandine – O-O que? – se perguntou assustada com tudo aquilo.

Marco e os outros quatro partiram pra cima de Worer e seu grupo, mas a desvantagem numérica fazia com que dois dos agressores ficassem livres. Reef então usou de sua força para impedir mais um, mas Marian acabou por não ter ninguém para impedi-la.

A pequena correu para dentro do quarto, se direcionando diretamente ao berço de Natsu. O menino parecia espantado com tudo que acontecia do lado de fora do quarto.

Grandine – Marian? O que está acontecendo? – indagou ainda assustada, mas não recebeu nenhuma resposta, somente pode ver a filha já ao lado do berço, encarando Natsu com os olhos opacos e frios – M-Marian? – se lembrou da ferida que havia sido feito no pescoço do pequeno – O-O que você... NÃO! ESPERE! – bradou no momento em que a menina já ia levar as mãos até o pequeno.

Mas antes que a jovem princesa pudesse fazer qualquer coisa, o tempo pareceu parar ao seu redor. Grandine que estava prestes a se levantar da cama em um impulso, havia parado em meio ao ar com as lágrimas já brotando em seus olhos, seus irmãos que lutavam no corredor, destruindo o mesmo, estavam na mesma situação da mãe. Por algum motivo nem mesmo Marian conseguia se mexer.

Marian – O que está acontecendo? – não compreendeu, sendo a única consciente sobre aquilo.

Logo algo chamou a atenção da princesa. Uma quantidade relevante de água começou a se juntar ao seu lado. A água vinha do corredor, da jarra que estava em cima do criado-mudo e até mesmo do banheiro. E logo aquilo começou a tomar forma, até parecer com uma pequena criança, menor até mesmo que Marian.

A jovem princesa foi tomada pelo pavor, mas a mesma não podia se mexer e nem gritar, somente podia ver aquela anormalidade se aproximar ainda mais de seu corpo. Não havia nada naquilo, não tinha cabelos, nem pele, nem olhos, nada... Mas a água assumia a forma de tudo aquilo, formando uma menina com mechas onduladas sobre a cabeça e um corpo desprovido de curvas.

A anormalidade parou rente ao braço de Marian e logo se virou para o pequeno Natsu. Só então a jovem princesa percebeu que o rosado não havia sido afetado, o mesmo podia se mexer e produzir leves sons normalmente. A menina de água então levou sua mão até o menino, deslizando e molhando a face do mesmo em toques suaves, o que fez com que o pequeno sorrisse.

Marian – O que é isso? Uma guardiã? Ou eu estou delirando? O que é isso? – tentava compreender ainda assustada, mas logo viu a menina voltar a se virar para ela.

A anormalidade levantou o braço direito e pousou a mão completamente aberta sobre a face de Marian. A água então começou a formar pequenos caminhos sobre a pele da jovem princesa, passando a entrar por quase todos os orifícios de sua cabeça. Seus ouvidos, seu nariz e sua boca foram invadidos por uma pequena quantidade de água que seguia como rios calmos e lentos para dentro de seu corpo. Mas logo a velocidade e a quantidade de água começaram a se intensificar, o que fez com que a pequena sentisse como se estivesse se afogando, mesmo sendo uma pessoa do Reino das Águas.

Marian sentia toda aquela água percorrer por cada parte de seu corpo. Seus órgãos, suas veias, seus ossos, seus músculos e até mesmo seu cérebro. Parecia que a água estava passando por todos aqueles locais. E quando sentiu que seu corpo já havia sido invadido completamente, seus olhos começaram a produzir lágrimas. Mas a verdade era que toda aquela água agora estava saindo de seu corpo.

Sem entender o que estava acontecendo, a jovem princesa via a aquilo com os olhos arregalados, só então percebendo que a água que saía de seus olhos possuía uma cor escura, preta. E quando a menina de água parou de invadir seu corpo com o liquido, Marian sentiu o cheiro podre da água escura que saía pelos seus olhos. Era um fedor insuportável, como se o rio mais poluído do mundo saísse diretamente de dentro do seu corpo. Mas a jovem nada podia fazer, já que seu corpo não se mexia, apenas via toda a água que entrou sair por seus olhos em um tom mais escuro.

Mas lentamente a água foi clareando, até que por fim passou a sair límpida, assim como entrou. Quando a ultima gota escorreu dos olhos da pequena, a anormalidade se aproximou do ouvido de Marian.

— Proteja nosso rei... Proteja o Sea... Eu não pude protegê-lo... Mas você pode... Proteja o Sea... Não deixe... Os Olhos Vermelhos... Vencer novamente – murmurou pausadamente com uma voz doce e gentil.

E no mesmo instante a anormalidade se desfez em uma enorme poça, e todos recuperaram seus movimentos, como se o tempo houvesse voltado a passar normalmente.

Grandine já estava de pé, mas parou ao perceber que o olhar de Marian havia mudado. Os olhos de sua filha haviam recuperado o brilho. Mas no corredor a briga continuava, até que perceberam que a água que usavam para lutar não estava mais lá, o que os fez parar por um instante.

Todos encararam a jovem princesa parada ao lado do berço, e então a voz de Worer ecoou.

Worer – Marian! Rápido! Faça isso logo! – exclamou.

Mas no mesmo instante, em um momento de distração, Marco saltou para dentro do quarto, correndo em direção a Marian. A jovem percebeu a intenção assassina do irmão em relação a ela, então rapidamente se virou para Natsu e o tirou do berço em um piscar de olhos, segurando-o fortemente em seus braços, o que fez com que Marco para-se na metade do caminho.

Marco –... Me entregue ele Marian – falou seriamente, se aproximando um passo de cada vez.

Grandine nada dizia, apenas olhava de um lado para o outro, completamente apreensiva. A rainha queria pegar seu filho mais novo no colo e acabar com tudo aquilo, mas sabia que sua força atual não era o bastante e por isso hesitava.

Marian – Marco-nii é forte... Ele poderia proteger o Natsu... Mas Worer-nii está com o Tridente... Não posso arriscar! – pensou e então correu em direção à janela ao tomar sua decisão.

E sem pensar duas vezes a jovem princesa pulou da sacada com o pequeno em seus braços, surpreendendo a todos, já que estavam no segundo andar.

Grandine – NÃO! – bradou ao temer que o pior poderia ter acontecido. Mas seu grito serviu como um sinal de largada, já que no mesmo instante todos os outros príncipes correram em direção à janela, seguindo a irmã.

Todos pularam sem um pingo de medo, pois sabiam que não iriam se machucar.

Marian já chegava ao portão de entrada, enquanto sua mente era invadida por perguntas – O que aconteceu? Eu... Eu não sinto mais todo aquele medo e aquele ódio... Eu só quero... Só quero proteger meu irmãozinho – corria com certa dificuldade já que carregava Natsu em seus braços – Será que foi por causa daquilo que aquela “menina” fez? O que era aquilo? – tentava compreender, mas logo percebeu que Marco estava prestes a alcança-la.

Marco – MARIAN! – bradou furioso, seguindo a irmã pela maior rua da capital, seguindo em direção ao mercado onde havia as barracas de peixes e outros produtos.

A jovem virou a cabeça, encarando o irmão pelo canto dos olhos que já se enchiam de lágrimas devido ao medo, o que acabou por surpreender o rapaz.

Marco – Seus olhos não estão opacos! – percebeu, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa mais, sentiu algo como um chicote de água entrelaçar seu abdômen e arremessa-lo para o lado, fazendo com que o mesmo atingisse fortemente a parede de uma casa.

Worer – Não se levante! – exclamou ao passar diretamente pelo rapaz.

Marco então viu o restante dos irmãos virem logo atrás, fossem os aliados ou os inimigos. Apesar de tudo os mesmos não lutavam, pareciam mais interessados em terem o pequeno em seus braços, fosse para protegê-lo ou mata-lo, do que brigarem entre si.

Marco – PROTEJAM A MARIAN! NÃO OS DEIXEM SE APROXIMAR DELA! – bradou, surpreendendo a todos.

E sem se quer questionarem tais ordens, Reef, River, Iara e Maya partiram para cima dos outros irmãos.

Trent – Marian nos traiu? – indagou espantado ao desviar dos ataques de Iara.

Wave – Não sei! Mas é melhor irmos atrás dela só para ter certeza! – exclamou ao responder.

Reef – Vocês não irão a lugar algum! – chamou a atenção ao partir pra cima dos irmãos como um touro.

Marco – Eu vou atrás do Worer-nii! Não deixem eles avançar! – ordenou e logo saiu correndo atrás do irmão.

Trent –... Eu conheço a cidade melhor do que ninguém... Vou atrás da traidora! – exclamou e logo saiu correndo na primeira abertura que encontrou.

Talise – Eu também! – entrou no primeiro beco que avistou.

River – Eu vou atrás do Trent! Alguém impeça a Talise! – pediu e logo seguiu o irmão galanteador.

Maya – Eu vou atrás dela! – assim como Trent, esperou uma oportunidade e logo entrou no beco, seguindo Talise.

Iara – Hurley-nii, não deixarei você ir atrás do Natsu – falou seriamente, fazendo com que um sorriso de canto brotasse sobre os lábios do garoto.

Hurley – Dê o seu melhor... – não sentia que perderia para a sua irmã mais nova.

Wave – Só sobrou você Reef-nii! E ainda há eu e o Rhain... – informou em um tom mais sério, sem desviar sua atenção do forte irmão – Não há nada que você possa fazer, um de nós ficará livre para se livrar daquele estorvo... – fez Rhain confirmar com a cabeça.

Reef então encarou seus irmãos mais novos com um olhar mais frio –... Eu irei parar os dois... – falou em um tom calmo, como se aquilo não fosse nada de mais, fazendo com que os irmãos se arrepiassem dos pés à cabeça.

Enquanto isso, Marian já corria em meio às barracas, chamando a atenção de todos no local devido aos cabelos rosados do menino em seus braços. Mas logo a mesma pode sentir algo molhado em seus pés, o que a fez escorregar e cair no chão. Com isso, Natsu acabou escapando de seus braços e caindo mais a frente.

O choro do pequeno ecoou por todo o mercado, o que chamou ainda mais atenção.

— É o príncipe! – uma mulher se surpreendeu ao ver o menino no chão.

— Mas o que ele está fazendo aqui? – um dos peixeiros não entendeu.

— Marian-sama, por que o trouxe aqui? – indagou à menina ainda caída no chão.

Mas quando a jovem foi tentar se levantar para pegar o pequeno príncipe novamente, sentiu alguém por o pé sobre as suas costas, a impedindo de se por de pé.

Worer – Marian... Por que ainda não fez aquilo? – indagou seriamente – Eu não lhe mostrei o que vai acontecer? – fez com que um arrepio percorresse por todo o corpo da irmã.

— É o Tridente... – viram na mão de Worer.

— Por que Worer-sama está com ele? Não estava perdido? – não compreendeu.

Worer então tirou o pé das costas de Marian e virou a garota com o mesmo, vendo que seus olhos não estavam mais opacos.

Marian – N-Não se aproxime de mim! – bradou assustada, tentando se livrar do irmão.

Worer – Entendo, então você se libertou do feitiço... – respondeu calmamente – Mas não importa, eu mesmo farei isso... – passou a encarar o rosado mais a frente, que não parava de chorar.

Marian – Agora entendi, naquela hora ele não me mostrou futuro nenhum... Aquela água preta provavelmente era o que estava mexendo com a minha cabeça... – logo viu o irmão manipular certa quantidade de água em sua mão, entendendo que o mesmo ia atacar Natsu – E-ESPERE! NÃO FAÇA ISSO! – implorou, mas Worer pareceu não lhe dar ouvidos.

Apesar de tudo, antes que o príncipe mais velho pudesse desferir o ataque sobre seu irmão mais novo, acabou sentindo dois pés se chocarem com toda a força contra suas costas, o arremessando longe.

As pessoas apenas viram o príncipe voar até uma das barracas, a quebrando com seu corpo. Espantadas, ninguém se quer se mexia, somente tentavam entender o que estava acontecendo com a família real.

— M-Marco-sama acabou de dar uma voadora em Worer-sama? – um homem mais velho indagou surpreso ao ver a cena.

Marco encarava intensamente a barraca onde Worer havia parado, enquanto Marian se levantou sem pensar duas vezes e pegou seu pequeno irmão, sumindo com o mesmo em meio à multidão que se reunia no local.

Worer –... Eu te disse para não se levantar... Mas pelo visto você vai mesmo ficar no meu caminho... – comentou ao se por de pé e caminhar em direção ao irmão.

Marco – Você terá que me matar antes se quiser encostar no Natsu – o respondeu seriamente.