História Amar é um crime pt 2 - CHANGE MY LIFE (Jimin) - IX - Escape

Cabeça latejando, suor frio e sinais de uma velha amiga chamada gripe. A minha manhã estava resumida basicamente nesses três sintomas. Poderia até culpar, como sempre, o chuveiro e o mal aquecimento daquela cela, porém daquela vez a culpa era minha: fruto de uma noite mal dormida. Não que eu já não estivesse acostumada a dormir mal, mas aquela noite pareceu ser ainda pior. Além do frio do inverno gélido da região, que nem mesmo o moletom macio de Jimin conseguiu vencer, as palavras do garoto da noite anterior não saiam de minha cabeça. Elas não me permitiam dormir, e caso o fizesse, elas entravam em meus sonhos.

Saber que minha melhor amiga ainda estava viva era um bônus, digamos que a única parte boa de tudo aquilo. Entretanto, havia uma onda de outras coisas negativas para contrapor aquela. Um exemplo fácil já é o fato dela estar em uma tal sala preta, que só o nome já me dava arrepios. Outro fator seria o motivo de ela estar naquele cômodo misterioso: apenas se apaixonou por um soldado. E o pior: eu estava naquela mesma situação, portanto tanto eu quanto Jimin corríamos perigo caso nossa relação fosse descoberta, e ele com seus mimos e regalias para mim não facilitava as coisas, deixando algo suspeito para o Tenente pensar sobre. Além daquilo tudo, ainda havia um tal plano de Park Jimin.

Na noite anterior...

- Ou corremos grande perigo, ou salvamos eles e fugimos daqui. – disse o garoto sem expressões faciais.

- Como... como assim, Jimin? – perguntou Chae, ainda incrédula com as revelações.

- É o seguinte... – as duas cabeças foram levantadas na mesma direção a medida que a fala de Jimin foi interrompida por algum barulho fora da cela.

- O que foi isso? – perguntou a garota, assustada.

- É o elevador subindo... o Tenente deve estar para vir aqui. Escuta, não abra sua boca, e esconda todos os papeis que tiver. Pode ser que ele só venha fazer uma visita a mim, ou também possa vir visitar você. Acontece que as visitas dele aos prisioneiros não são nada legais, então tome cuidado. Terei que te contar meu plano aos poucos e com cautela, tenha paciência, por favor. – Chae apenas conseguiu concordar com a cabeça, apesar de seus pensamentos estarem a mil. Jimin então se levantou, apressado, selou os dois lábios rapidamente e foi tomar sua posição na frente do quarto novamente.

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Confesso que o resto de minha noite não foi nada tranquilo. Tudo isso devido a todas aquelas revelações, as dúvidas, a curiosidade sobre aquele tal plano, e o medo de uma suposta visita do Tenente. Eu nunca havia visto aquele homem, mas apenas sua voz já tirava arrepios de mim. Por sorte, nada mais ocorreu, não houve visitas, mas também não houve mais conversa com Jimin, o que me deixou ainda mais aflita.

Acordar de manhã foi responsável apenas para me lembrar de que eu estava viva e tinha que realmente lidar com a situação atual. Não sabia dizer se estava antes ou depois do alarme das sete horas, pois naquele momento nem mesmo minhas contagens me faziam companhia.

Levantei-me da cama, que havia voltado a ser apenas uma barra de metal para mim, com dificuldade, tanto pelo cansaço quanto pela falta de vontade de fazer qualquer coisa. Porém, logo fui motivada ao avistar um pedaço de papel caído no chão. Provavelmente Jimin havia empurrado forte demais e acabou deixando cair o chão. Aproximei-me do papel e comecei a ler as pequenas letras.

“ Bom dia, Bela Adormecida. Estou deixando este bilhete às 10h30, pra você ter uma noção do quanto dormiu. Bom... não te culpo, pois eu que te deixei assim, peço desculpa. Provavelmente quando você acordar eu não estarei aqui, mas volto logo. Estou indo para uma reunião com o Tenente e os outros soldados... Eles sairão em uma missão e vou tentar dar um jeito de ficar aqui. Meu plano será botado em prática e logo você saberá de tudo, prometo. Deixei seu café da manhã debaixo da cama, caso acorde com fome. Um beijo.

                                                                                                  - Park Jimin.”

Não tinha como eu saber quanto tempo havia se passado desde quando o bilhete foi deixado, mas só por já ser mais de 10h30, eu podia confirmar que realmente estava mal. Virei-me e caminhei em direção à cama onde, de fato, havia algo debaixo dela. Peguei a embalagem metalizada e a abri, deparando-me com um sanduíche. Fazia muito tempo que eu não via um daquele, e Jimin apenas mostrava continuar com seus mimos mesmo sabendo que corríamos perigo. Confesso que mesmo em risco, eu adorava tudo aquilo. Apesar do estômago embrulhado devido à gripe, comi o lanche deixado pelo rapaz com tanto carinho, pois afinal de contas eu não comia há boas doze horas.

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Alguns minutos se passaram e pude ouvir o alarme das 13h. Tudo que pude sentir foi surpresa, visto que provavelmente havia acordado por volta do meio dia; e preocupação, visto que Jimin ainda não havia voltado, ou se tivesse voltado, não dava nenhum sinal, o que era estranho. Esperei mais alguns minutos, talvez até umas duas horas, e nada de notícias. Estava realmente preocupada, pois até mesmo uma reunião não demorava daquele jeito.

Fiquei mais um tempo andando em círculos pelo cômodo, até que finalmente pude ouvir o som da porta sendo destrancada. Corri em direção ao barulho, esperançosa de que poderia ver Jimin, esclarecer o por que da demora, e acima de tudo, abraça-lo. Entretanto, como se aquele dia tivesse virado completamente as costas para mim, quando a porta abriu não foi Jimin que apareceu ali. Foi um rapaz, um pouco mais alto e um pouco mais magro, de cabelos morenos e um olhar intenso. Possuía em seu rosto alguns arranhões e cicatrizes, assim como em seus braços nus devido à camiseta regada que usava, que possuía as estampas do uniforme de Jimin, e estava rasgada como os cortes em sua face. Não pude conter o pânico, pois apesar daquele rapaz com certeza não ser o Tenente, eu não fazia ideia de quem era ele.

- Q-quem é você? – perguntei, atropelando as palavras.

- Desculpe entrar assim... Jimin me mandou aqui. – disse o rapaz, mostrando sua voz suave e intensa, porém ao mesmo tempo demonstrando certa fraqueza nas palavras e um pouco de timidez.

- Jimin? Oh, céus... o que houve com ele? Ele está bem? Não, espere, quem é você? – reforcei minha pergunta não respondida, após ter um surto de preocupação e desvio de atenção.

- Ele está bem, só... – ele levantou sua cabeça em direção a algo fora do quarto. – Desculpe-me,  não temos tempo para fazer amizade, venha comigo por favor. – dito isso ele pegou em meu pulso e começou a me puxar para fora do cômodo, porém me segurei firme no lugar.

- Espere aí! Eu não vou com você a lugar algum sem me contar quem é você e onde Jimin está. – ele soltou meu punho, porém ainda de costas para mim. Estava respirando rápido, com a cabeça baixa, como se estivesse guardando algo valioso dentro de si, mas ao mesmo tempo queria colocar para fora desesperadamente.

- Meu... meu nome... – começou a falar após alguns minutos de silêncio. – Meu nome é Kim. Kim Taehyung.

Naquele momento eu pude jurar que iria desmaiar, e comecei a sentir uma forte tontura. Kim Taehyung, o rapaz da suposta historia que era verdade. Não sabia se podia confiar nele, mas tudo indicava que sim, aquele era o garoto que foi pra tal sala preta com minha amiga. Queria respostas. Queria saber onde minha amiga estava, se ela estava bem. Queria saber como ele conseguiu escapar de la, ou se Jimin ajudou. Queria saber onde Jimin estava. Mas no momento a única resposta que eu tinha era a de que eu estava fora de minha cela, não pra ir tomar banho. E eu não voltaria para lá tão cedo.

- Você... está bem? – perguntou Kim, após perceber meu espanto.

- Você é o rapaz da história. – acabei falando automaticamente, como se as palavras tivessem saído sozinhas de minha boca. Ele deu uma risada sarcástica.

- Pelo jeito dispenso apresentações.

- Como... como você saiu daquela... daquele lugar...? – Taehyung parecia entender minha pergunta desde o início, logo fechando seus olhos com força como quem não quisesse se lembrar.

- Hoje de manhã recebi um bilhete. É praticamente impossível deixar algo entrar naquela sala, então não sei como ele fez aquilo mas... Jimin mandou o bilhete, junto com um tipo de adesivo. Dizia no bilhete para eu procurar uma tal de Chae, e no adesivo continha a digital dele. Poderia usar para abrir a porta, e com sorte funcionou. E... estou aqui agora. Graças ao Jimin. Mas... o que você tem de tão importante que ele mandou eu te procurar?

- Eu... acho que sei a resposta. O plano dele... – disse as ultimas palavras baixo, como se estivesse falando comigo mesma. – ele quer me tirar daqui.

- Entendo. Sei como é ver alguém que você ama num lugar terrível como esse. Só que diferentemente de Jimin... eu não podia fazer nada.

- Está falando de Lee Min, não é? – seu olhar logo brilhou ao ouvir o nome de minha melhor amiga.

- C... como você sabe? – perguntou, surpreso.

- Ela é minha melhor amiga e... como disse antes, já conheço a historia... – ele abaixou a cabeça em compreensão. – Mas... já que tocamos no assunto, por que ela não escapou com você? E... como ninguém percebeu que você fugiu?

- Eles... nos separaram. Durante esses dois anos a única coisa que me permitia saber que ainda estava viva eram seus gritos quando... quando a sala era ativada. – disse Kim, com dor nos olhos e nas palavras.

- Como assim, ativada? Céus... o que houve com ela? Ah, meu Deus, tenho tantas perguntas... – coloquei minha mão na testa, tentando me acalmar e me colocar de volta ao chão.

- Bom... digamos que temos tempo de sobra para suas perguntas serem respondidas... assim que salvarmos ela.

- Espere... como assim tempo de sobra?

- O Reformatório está vazio. Só há nós três aqui. Levaram até mesmo os outros prisioneiros.

Suas últimas frases pareceram, por alguns segundos, motivadoras. Eu poderia, finalmente, me libertar daquele lugar horrendo, e ainda salvar minha melhor amiga. Mas... havia um problema. O reformatório estava vazio. Só havia nós três ali. O Tenente não estava ali. Os soldados não estavam ali. Porém...

Jimin também não estava ali.