História Amar pode Machucar - "Rá! Isso quer dizer que eu estou certo"

Desde o meu encontro com Calipso no sábado que eu venho pensando. Sinto que nosso namoro está afundando, um pouco a cada dia. Mesmo que eu goste muito dela, as coisas não parecem ser mais como antes. Pelo menos, eu sentia que não. Mas no fundo acho que eu não queria ver isso e muito menos tomar alguma decisão, por isso tentava afastar esse pensamento da cabeça. Na verdade, eu ando fazendo muito isso. Deixar pensamentos de lado. Sinceramente, eu ando muito confuso.

Hoje é sexta-feira e como sempre eu estou enrolando na cama, já que acordei mais cedo que o previsto. Agora estou encarando o teto azul claro e o imaginando como o meu céu particular apenas para me distrair. E pensar que tenho aula de Álgebra antes do almoço. Rolo na cama soltando um gemido frustado.

As coisas andam bem entre mim e Annabeth, e é isso que me preocupa. Não somos nada como melhores amigos, mas andamos falando durante as aulas, como um armistício silencioso. Não conversamos fora da aula, mas também não deixamos de nos falar durante a aula. Digamos que nos tornamos bons colegas.

Ouço minha mãe bater na porta.

- Hora de levantar querido. – chama.

- Já vou, mamãe. – digo.

Posso ouvir ela se afastar e descer as escadas enquanto eu me levanto da cama com certa preguiça.

Faço minha higiene, me troco e pego meu material para em seguida já descer as escadas. Chego na cozinha e vejo que tem um prato de panquecas pra mim.

- Bom dia. – digo.

- Bom dia. – responde.

Sento-me à mesa e começo a desfrutar de minhas panquecas azuis com mel.

- Querido?

- Hum.

Termino de mastigar e engulo antes de responder.

- Sim, mãe.

- Chame seus amigos pra dormir em casa. Faz tempo que eles não dão as caras por aqui. – diz.

- Pode ser. – digo para em seguida sorrir. – Dona Sally, não dê tanta atenção aos meus amigos que eu fico com ciúmes. – brinco.

Minha mãe ri.

- Essa casa fica vazia e eu gosto dos seus amigos. Se quiser chame Thalia e Nico.

- Hum, vou ver. Thalia aqui no meio de um monte de garotos talvez não dê certo. Ou talvez sim. Ela nunca se incomodou comigo e com Nico. – pondero pensativo.

- Decida então. Tenha uma boa aula, filho. – ela me dá um beijo na testa.

Sorrio e me levanto, despedindo-me rapidamente e seguindo para o meu carro.

Não demora muito pra mim chegar na escola. Logo que desço do carro posso ver meus amigos, então caminho e me aproximo de Jason que está sozinho naquele momento.

- Bom dia. – digo.

- Bom dia. – diz aéreo.

- Aconteceu alguma coisa? – pergunto.

- Eu sou o novo capitão do time de futebol. – diz leviano.

- Parabéns cara!

Ele faz uma careta.

- Não sei se queria ser. – murmura.

- Por quê?

Ele suspira.

- Sei lá, Percy. As pessoas já me veem errado, como um ser perfeitinho e ser capitão do time só vai piorar isso. – diz franzindo o nariz em desgosto.

Sorrio pensando que ele parece muito a Thalia fazendo essa expressão.

- Você gosta de jogar, não?

- Sim, eu gosto. É relaxante, de algum jeito.

- Então pronto. Não liga para o que os outros vão dizer. Se você está bem com isso, então está tudo certo. – digo dando tapinhas amigáveis em seu ombro.

- Realmente, você puxou a tia Sally. – ele se permite sorrir. – Aliás, sobre o Leo, ele me contou o que aconteceu e...

- Não me venha agradecer você também. – digo fingindo estar bravo. – Ele é meu amigo e você faria a mesma coisa se fosse você no meu lugar, então para.

Ele ri de leve.

- Eu faria o mesmo. Sou muito protetor e fico feliz que isso tenha tirado aquele ser do time. – diz em desgosto. – Só não soquei a cara dele porque Piper me impediu.

- Ainda bem que ela fez isso. Imagina a confusão que daria? Você poderia ser expulso do time, então ele iria ficar feliz. Não dê esse gosto a ele. – digo sério.

Ele suspira passando a mão no cabelo.

- Piper disse isso também.

- Rá! Isso quer dizer que eu estou certo. – digo sorrindo.

Jason ri de mim.

- Deuses, você às vezes parece uma criança. Queria ter essa alegria. – diz admirado.

Faço bico e depois sorrio.

- É bom ser criança às vezes. – digo simples.

- É. Falando em criança, Dany te adorou. Perguntou quando você vai vê-lo.

- Qualquer dia apareço lá. Hey, quer dormir em casa hoje?

Ele nega.

- Não posso. Vou sair com Piper hoje. – diz.

- Ah, entendi. Deixa pra próxima então. – digo.

Começo a me afastar, mas Jason me chama.

- Percy?

- Sim.

- Obrigado por... Me apoiar. – diz por fim.

Sorrio.

- Amigos são pra isso.

Ele sorri.

***

No fim do dia só faltava perguntar pra Leo se ele queria ir em casa. Calipso e Reyna iam fazer sabe-se lá o quê, então não poderiam ir. Já Luke, Will, Nico e Thalia tinham dito que podiam. Minha prima não ligou de ser a única menina a ir, já que estava acostumada. Dany ia ver a mãe e a tia por isso não tinha problemas. E pensar nisso tudo me distraiu um pouco.

Na aula de Álgebra as coisas estavam na mesma. Annabeth e eu conversamos, mas sem intimidade. Embora eu tenha percebido que toques passaram a ser comuns entre nós, tipo, pequenos esbarrões, além de ficarmos com os braços encostados quando estamos fazendo exercícios. Me pergunto se deveria me sentir mal por isso.

Balanço a cabeça pra não pensar nisso e espero Leo sair da sua sala. O latino aparece um pouco depois do sinal bater.

- Hey Leo. – chamo.

Ele parece meio abobalhando quando me olha.

- Ah oi. Desculpa, estava meio distraído. – diz gesticulando com uma mão e segurando seus livros na outra.

- Tudo bem. Só queria perguntar se você não quer dormir lá em casa. Disse que iríamos marcar, lembra?

Ele assente.

- Pode ser. Não tenho nada pra fazer mesmo.

Leo dá se ombros, mas parece incomodado.

- Cara, você está bem? Você parece tenso. – pergunto preocupado.

- Estou bem, só um pouco cansado. Minha mãe ficou preocupada com aquela história toda e meu pai queria vir aqui brigar com a escola. Foi um estresse só lá em casa. – ele faz uma careta.

- Espero que fique tudo bem. Duvido que Octavian fará alguma outra coisa depois disso. – digo para tranquilizá-lo.

Passamos a andar até os armários enquanto ele ainda parece pensativo.

- Sim. Já está tudo bem. Eles apenas ficaram preocupados comigo. – diz de modo leve.

- São pais. Eles sempre se preocupam. Está tudo certo. – digo.

- É. Que horas?

- Lá pelas sete. Minha mãe vai fazer o jantar. Luke, Will, Nico e Thalia estarão lá.

Leo sorrindo divertidamente.

- Acho que vamos ficar de vela. – diz rindo.

Franzo a testa sem entender.

- Como assim?

- Ah, fala sério. – diz indignado e saí andando rindo.

O sigo ainda confuso.

Vela?

***

Quando deu sete horas em ponto, a campainha tocou. Já imaginava quem era, devido a pontualidade. Nico. Meu primo tinha problemas com horários, por algum motivo que eu não sei até hoje, mas ele simplesmente adora ser pontual. Abro a porta e o deixo entrar.

- Oi Nics. – digo sorrindo.

- Pers. – acena com a cabeça em cumprimento.

- Sempre pontual. – brinco o fazendo revirar os olhos.

- Não enche. – diz fingindo irritação.

Sorrio e o puxo para a cozinha. Ele cumprimenta minha mãe que o beija na testa.

- Como vai, querido?

- Muito bem, tia.

- Todos estão bem?

- Estão sim.

Alheio a conversa deles, eu olho o nada. Estar em casa, esperando meu amigos chegarem, era incrivelmente nostálgico. De alguma forma, era como se eu tivesse juntado duas épocas da minha vida: a antes e a pós Los Angeles. Antigamente esses encontros eram com a Thalia e o Nico, depois com Luke e Will, agora são todos mais o Leo. Alguma coisa nisso me faz ter uma sensação boa dentro do peito.

Isso também me faz lembrar que agora Jason também é meu amigo e que eu estou feliz com isso. O único problema de pensar em meu primo era que eu lembrava da loura. Sinto que uma hora ou outra nós vamos ter que nos resolver de algum jeito. Seja pra bem ou pra mal. Não dá pra ficar do jeito que está. E isso me deixa ligeiramente angustiado.

- Percy, a campainha. – minha mãe me tira de meus pensamentos. 

Pisco os olhos, abobalhado.

Levanto e me dirijo até a porta. Will e Luke sorriem pra mim e me cumprimentam com um abraço rápido, falando sobre qualquer coisa depois, o que me distrai um pouco.

- Esse cheiro está muito bom. Sua mãe tem mãos divinas. – diz Luke me fazendo sorrir.

- Ela tem mesmo. Vamos entrar, Nico já chegou. – digo fechando a porta.

- Achei que seríamos os primeiros a chegar. – comenta Will.

- Meu primo é estranhamente pontual. Chegou aqui às sete em ponto. Mania de família que não é. – digo.

Will e Luke dão risada.

- Quem se atrasa para o próprio aniversário? – pergunta Luke.

Faço uma careta.

- Foi apenas uma vez. – murmuro os fazendo rir ainda mais.

Chegamos à cozinha rindo, já que acabei cedendo às risadas no final. Era meio contagiante.

Eles cumprimentaram a minha mãe e depois Nico que apenas acenou com a cabeça pra eles. Depois de meia hora todos tinha chego, primeiro Thalia e por último Leo, que trouxe tacos de queijo.

- Minha mãe que insistiu e ainda obrigou meu pai a ajudar. Foi engraçado. – diz sorrindo.

- Foi muito gentil da sua mãe, Leo. – diz minha mãe com um sorriso doce.

Leo parecia mais relaxado do que mais cedo, conversava gesticulando e às vezes, quando se animou muito na hora do jantar, passou a falar num espanhol desenfreado nos fazendo rir. Ele corou e se desculpou.

Depois disso voltamos a comer. Enquanto eu olho para meus amigos e primos, me sinto bem. Era aquele tipo de alegria momentânea que se sobrepunha a confusão e ao medo que eu tinha dos meus próprios sentimentos. Tinha medo de que se eu pensasse demais, acabasse descobrindo que na verdade eu sou uma pessoa horrível. Ou talvez fosse drama meu. Vai lá saber.

Mais tarde nós subimos para o meu quarto – suíte se preferir. Nos sentamos no chão e falamos sobre coisas aleatórias, rindo das piadas de Luke e Leo, das imitações de Will e dos foras que Thalia e Nico davam nos louros. E aquilo era o suficiente para me distrair de tudo.

- Nico, você quer jogar? – pergunto sabendo que ele entende ao que me refiro.

Ele morde o lábio meio pensativo.

- Claro. Você ainda tem?

Sorrio a ele.

- Foi um presente. Não me desfazeria dele por nada.

Meu primo sorri pra mim, causando olhares confusos nos outros.

Nico tinha me dado seu baralho de Mitomagia antes de eu me mudar para Los Angeles. Nada de palavras ou coisas assim, porque eu sabia que ele odiava despedidas. Acho que o baralho era uma forma dele dizer que sentiria minha falta.

Ele e eu ensinamos o jogo aos outros e nos divertimos jogando em dupla. Aquela noite era como uma lufada de ar puro. Poder me divertir desse jeito me fez um bem danado. Talvez eu precisasse disso para voltar ao mundo real. Acho que todos precisam disso de vez em quando. Porque acredito que todos se sentem sufocados de vez em quando, seja por problemas pessoais ou não.

- Você está pensativo. – diz Leo se sentando ao meu lado.

- É. Acho que sim.

Olho para o teto.

- Momento reflexão?

- Isso.

- Pelo menos percebeu as coisas ao seu redor?

- Como assim?

Leo sorri dando um soquinho de leve em meu braço.

- Cara, você é realmente lerdo. – brinca.

Rio disso.

- Todos me dizem isso. Sei que sou, apenas não consigo ser diferente.

Leo se deita ao meu lado no colchão. Os outros estavam jogando videogame.

- Talvez seja bom ser lerdo. Você não vê coisas que vão te machucar. – diz suavemente.

Franzo as sobrancelhas e olho pra ele.

- Acho que é melhor saber antes do que depois, apenas machuca mais. – digo o fazendo suspirar.

- Nisso você tem razão.

Leo fecha os olhos como se recordasse de algo que não quisesse lembrar. Volto a olhar para o teto. Ele não parecia querer conversar sobre, então eu não perguntaria. Não iria querer que me pressionassem caso fosse ao contrário.

- É bom conversar com você, Percy. – diz.

- Hum, obrigado, eu acho.

- Eu nunca tinha ido na casa de alguém sem ser da Piper. Jason já quis me chamar, mas ele diz que a madrasta dele é meio rígida.

Faço uma careta com aquilo.

Hera não era de todo mal e nem de todo bem. Ela prezava muito a família, mas era específica nesse quesito. Para ela apenas existia a família sanguínea, ou seja, comigo e com meus primos ela sempre foi boa. Com Jason e Thalia nem se fala, mesmo que ela e minha prima já tenham tido suas desavenças. No entanto ela era muito criteriosa quando se tratava de amigos. Ela não entedia que amigos também eram da família.

- Hera é uma pessoa complicada. – digo apenas.

- Sim, pelo visto é. Seus pais são de boa. – diz sorrindo.

- São sim. – retribuo o sorriso.

O latino se aconchega de lado e fecha os olhos, bocejando. Depois de alguns minutos ele já está ressonando baixinho.

- Bons sonhos, Leo.

***

Na manhã seguinte eu acordo com a brisa da janela batendo em mim. Vejo que todos ainda dormem. Luke e Will um ao lado do outro, assim como Thalia e Nico. Eles parecem estar no décimo sono. Me levanto para fechar a janela e não acordá-los.

Eu me sentia descansado, quase como novo. Não sei exatamente o motivo, mas me sinto bem. Movo-me em silêncio para fora do quarto e vou descendo as escadas até chegar a sala e depois até a cozinha. Minha mãe já estava acordada.

- Bom dia, mãe.

- Quase boa tarde, querido. – diz sorrindo.

Bocejo esfregando os meus olhos.

- O que você está fazendo? – pergunto.

- Vou deixar o almoço pronto, depois vou levar Tyson no shopping. Ele precisa de roupas novas. Você se vira aqui?

Aceno com a cabeça.

- Pode ir mãe. Cuido de tudo aqui, só preciso acordar primeiro.

Minha mãe ri de minha sentença, dando um beijo em minha testa em seguida.

- Usa o banheiro social e lava esse rosto antes que durma em pé. – manda suavemente.

Faço o que minha mãe pediu quase de olhos fechados. Eu acordava extremamente preguiçoso nos finais de semana, embora depois de acordado eu não conseguisse mais dormir. Tinha lá as minhas manias.

Tyson veio se despedir de mim com um abraço forte, então sorriu e saiu correndo. Meu irmão estava crescendo rápido, já era bem maior que as crianças da idade dele, mas fora isso ele continuava sendo o mesmo Tyson de sempre. Meu irmão tinha um jeito inocente e puro que eu não conseguia imaginá-lo sem. O jeito carinhoso que ele tinha era algo tão fofo. E vendo-o correr, eu me sentia alegre.

Will foi o primeiro a acordar. Logo depois que minha mãe saiu, ele desceu as escadas parecendo meio sonolento ainda.

- Bom dia?

- Boa tarde, Will.

- Hum, boa tarde.

- Alguém mais acordou?

Ele nega com a cabeça e se senta ao meu lado no sofá, apoiando-se em mim.

Will era uma pessoa carinhosa e gostava bastante de toques. Não era de dar conselhos, mas sempre podia contar com ele se você quisesse um abraço. Era o seu jeito.

Já tive colegas de sala que me perguntaram se eu não me importava com o jeito dele de ser. Quer dizer, se eu não me sentia desconfortável com os abraços dele já que ele era gay. E eu sempre dizia que não. Nunca me importei com isso. Will era o tipo de pessoa que não falava o que sentia e sim demonstrava, o que eu adorava nele. Acho que é algo mais puro que meras palavras. E o fato dele ser gay não tinha nada a ver com isso.

- ‘Tô com fome. – murmura preguiçoso.

Abro um sorriso com isso.

- Vai lá e pega. Você já é de casa, Will.

- Mas Percy... – diz manhoso me fazendo rir.

- Will!

Ele ri.

Eu sabia que ele estava brincando e não podia deixar de rir com aquilo também. Subo em cima dele e começo a lhe fazer cócegas, o que nos faz rir ainda mais.

De repente ouço alguém pigarrear.

- Boa tarde. – diz Nico.

- Boa tarde.

Percebo naquele momento que ainda estou praticamente sentado em cima de Will. Saio de cima dele e lhe ajudo a levantar.

- Nicooo. – cantarola o louro.

- O quê? – responde revirando os olhos.

- Vem tomar café comigo? – pede com um olhar pidão.

Meu primo revira os olhos de novo e bufa, concordando. Will corre para o lado dele o puxando pela mão de forma alegre. Sorrio diante à cena. Pelo visto eles tinham se dado bem.

Quando estou sozinho novamente eu me encosto no sofá. Minha mente viaja e logo estou pensando na loura, de novo. Ela simplesmente não saía da minha cabeça, independente de como fosse ela estava lá, como uma sombra em meus pensamentos. Sempre à espreita.

Solto um suspiro pesado. Sabia que teria que tomar uma decisão mais cedo ou mais tarde. Porque não era justo. Não era justo comigo nem com Caly.

Apoio o rosto com as mãos sentindo meu peito se apertar um pouco mais. Era tão frustrante ter esses sentimentos brigando dentro de mim.

Sou tirado de meus devaneios pelo telefone tocando ao meu lado. Me inclino para pegar o aparelho e atender.

- Alô?

- Olá Percy. É Hermes.

- Ah oi.

- Luke está aí? Tentei ligar pra casa dele mas ninguém atende.

- Está sim. Espera só um momento.

- Okay.

Subo as escadas correndo entrando no meu quarto rapidamente. Luke ainda estava dormindo abraçado ao travesseiro e ele estava tão bonitinho que fico com dó de ter que acordá-lo.

- Luke. Acorda. – chamo baixinho.

- Hum.

- Seu pai está no telefone, Luke. Acorda. – chamo cutucando seu rosto.

Ele abre os olhos devagar permitindo-me sorrir. Lhe entrego o telefone e saio do quarto para lhe dar privacidade.

Fico no corredor olhando o retrato na parede. Era uma foto de quando levamos Tyson pela primeira vez na praia. Ele tinha um pouco mais de dois anos na época e eu, treze. Na foto ele estava em cima de mim, já que tínhamos corrido um atrás do outro e eu o tinha pego antes de cairmos. Ele estava tão feliz nessa foto. Um dia tinha que levá-lo de novo à praia.

- Ele fez o quê?! – ouço a voz de Luke, irritada.

Paro perto do batente e entreabro a porta levemente. Luke estava sentado na beirada do colchão, passando a mão esquerda pelo cabelo nervosamente. Penso em entrar no quarto mas Thalia também tinha acordado e estava ao lado do louro, acariciando suas costas com uma expressão preocupada.

- Eu não devia tê-la deixado. – murmura. – Tudo bem. Me mantenha avisado. E pai – chama suspirando. – Obrigado.

Luke desliga o telefone, apoiando o rosto com as mãos e sendo abraçado por Thalia. Eu sabia de quem falavam no telefone. May Castellan, mãe de Luke. Mas sabia também que agora ele só precisava de um abraço. Não acho que ele vai querer falar sobre, por isso deixo ele e Thalia no quarto, minha prima o confortando.

- É feio bisbilhotar. – diz alguém atrás de mim.

Viro com rapidez e suspiro.

- Você me assustou. – acuso baixo.

Leo ri baixinho e me puxa para longe.

- Desculpa por isso, mas não resisti.

Sorrio de leve.

- Não, tudo bem. Eu não deveria ficar olhando mesmo.

- Sei que não era sua intenção.

Aceno com a cabeça e em seguida mordo o lábio, pensativo.

- Sabe o que me lembrou vê-los juntos?

- Um filme americano de romance?

Rio da resposta.

- Não Leo. Isso me faz pensar que Hera está errada em achar que família é apenas de sangue. Amigos também fazem parte da família porque estão lá quando precisamos. Às vezes mais do que algumas pessoas que são parentes. – digo.

- É cara. Você podia ser filósofo. – brinca me fazendo sorrir.

- Você é meu amigo, Leo. Também é da família. – digo.

- Agora sei disso. Obrigado. – agradece. 

Trocamos sorrisos amigáveis.