História Amar-te - Capítulo Único

“Querida Elise,

Há tempos venho querendo escrever esta carta; vi em um filme uma vez, que se escrever uma carta a um falecido querido e queimá-la, ele receberá. Eu vi o filme querendo me distrair admito. Bem, você mais que ninguém sabe que eu não tenho crenças nessas coisas, todavia, preciso muito desabafar sobre tudo, principalmente sobre a sua partida.”

Eu corria apressado pelas ruas de Nova York, meus pés doíam e minhas pernas estavam cansadas, mas eu tinha que continuar. Segurava firme o resto do meu café e tomava todo o cuidado para não derrubá-lo enquanto corria.

Era meu primeiro dia de emprego e eu já estava atrasado, isso porque havia prometido a mim mesmo que iria causar a melhor das impressões. Não seria um trabalho fixo, mas também não significava que eu não devia ter sucesso com ele. Quando parei no penúltimo quarteirão, dei uma olhada em meu relógio de pulso e quase tive um infarto. Ou eu chegava em três minutos, ou minhas chances já eram.

Comecei a correr novamente até onde aguentava, quando dei conta, já estava no elevador da empresa. Eu tinha um minuto de sobra e mentalmente festejei meu novo "recorde". Para melhorar minha respiração, inspirei fundo, segurei e soltei. Chequei tudo; roupa, sapatos e cabelo. Nada poderia estar fora do padrão. Virei-me de costas para as portas de metal do elevador e dei uma olhada no espelho; estava apresentável.

Escutei o barulho do elevador e logo depois, as portas se abriram revelando uma garota maravilhosamente bonita. Seus cabelos estavam soltos e ondulados, as órbitas azuis checando cada centímetro de minha pessoa, usava um casaco cinza com um vestido rosa e sorria simpaticamente. Ela adentrou no elevador e antes de qualquer coisa, desejou-me um bom dia. Sorri e desejei o mesmo.

— Meu nome é Elise, Elise West. — Se virou para mim.

— É um prazer, senhorita West. — Sorri. — Sou Justin, Justin Bieber.

Ela sorriu e voltou a sua postura. Eu estava incomodado, nunca fiquei frente a frente com uma garota tão bela, e se já, nunca uma que fosse tão educada. Tentei desviar-me desses pensamentos tão inúteis, ou melhor, desviar a minha atenção sobre a garota. Mas foi em vão.

— É seu primeiro dia, senhor Bieber?

— Apenas Justin. — Sorri, já devia ser a terceira vez que eu sorria para ela. — E sim, é meu primeiro dia.

— Ótimo! Te desejo boa sorte. — Disse antes das portas se abrirem.

— Obrigado. — Sorri e ela retribuiu.

As portas se fecharam dando a mim o conforto. Pude enfim soltar o ar dos pulmões e respirar normalmente. Elise não saía de minha cabeça, seus olhos azuis penetrantes e seu sorriso doce e meigo vagavam por minha mente cada vez mais e mais

…

Sai da sala do meu mais novo chefe e sorri com orgulho, eu havia causado uma boa impressão e estava virando um querido por Tony West, o meu chefe.

Eu estava liberado, já passavam das doze horas e era horário de almoço, deixei alguns pertences em meu escritório e fui até o elevador novamente. Mais uma vez, as portas do elevador se abriram expondo agora, uma garota de cabelos presos e com o casaco cinza em mãos.

— Senhor Bieber. — Cumprimentou-me.

— Senhorita West, que surpresa! — Retribui.

Ela sorriu e adentrou no elevador. Ali estávamos nós novamente, lado a lado esperando que o elevador nos entregasse ao térreo.

— Sabe senhor Bieber. Não pude deixar de notar que está com um semblante mais que considerável. — Ela começou a dizer. — Portanto, creio que se saiu bem em seu primeiro dia. E com isso, sabendo que o senhor se tornou o meu mais novo colega de trabalho, gostaria de chamá-lo para almoçar comigo, eu pago, será de boas vinda.

— Seria uma grande honra, senhorita West. Mas preciso alertá-la que eu jamais aceitarei que pague algo para mim. Irei, contanto que eu possa pagar meu próprio almoço. — Peguei o casaco de suas mãos. — Posso levar isso.

— Perfeito. — Sorriu antes que o elevador se abrisse.

Caminhamos para fora do hall da empresa e eu a segui até um restaurante ali perto. Não era nada luxuoso, mas era um lugar calmo e confortável, a comida era excelente assim como a companhia.

— Meu pai herdou a empresa de meu avô, desde então ele cuida de tudo. Eu trabalho para ele até que eu me forme em medicina, antes que isso aconteça, tenho meu próprio dinheiro. — Tomou um gole de seu suco.

— Meu pai tem uma empresa em Seattle, ele também herdou de meu avô, como sempre negócios de família.

— Nasceu em Seattle?

— Não, não. Eu nasci em Portland, nós nos mudamos para Seattle quando eu tinha doze anos. E agora eu vim morar aqui, estou formando minha vida.

— Isso é ótimo! — Colocou a mão em meu ombro. — Sempre que precisar de ajuda, eu conheço New York como a palma de minha mão.

“... Foi assim que nos conhecemos, eu me lembro perfeitamente o dia em encontrei à mulher da minha vida. Meu pai sempre dizia que um dia encontraria alguém que iria me fazer feliz, demorou, mas eu te encontrei; pena saber que nosso tempo juntos não foi tão longo quanto a sua espera.”

Corria empurrando as pessoas a minha frente, não tinha tempo para parar e pedir desculpas e acho que todos ali entendiam os meus motivos. Os gritos de Rachel ecoavam em minha mente fazendo com que eu tentasse correr cada vez mais rápido. Eu sentia que havia algo de errado, sentia que algo havia acontecido com Elise e estava certo. Quando bati os olhos em Rachel com Elise no colo, meu desespero foi além do possível e tudo o que consegui fazer na hora foi gritar o nome de minha amada e correr até a mesma.

— Acorda. — Sussurrei já com a voz embargada e com os olhos cheios d’água. — Elise, pelo o amor de Deus, acorda.

— Chamem uma ambulância. — Rachel gritou desesperada assim como eu. — Rápido!

— Não me deixe, por favor...

Fechei os olhos com força tentando me livrar das lágrimas. Rachel abraçou minhas costas e sussurrou que iria ficar tudo bem, mas aquilo não adiantava de nada, não me faria melhor. Eu não precisava ficar bem, Elise precisava. Porque toda a minha felicidade dependia dela.

Quando a ambulância chegou, Elise estava meio consciente e de olhos abertos. Em partes eu estava aliviado, parecia que realmente tudo ficaria bem, porém a certeza não era de cem por cento e eu ainda tinha que me preocupar.

E quando chegamos ao hospital, Elise segurou firme em minha mão e me disse que não agüentaria mais.

— Até mesmo o coração espera antes de bater novamente, mesmo que seja menos de um segundo. Talvez leve tempo, mas eu quero que você siga a sua vida — Ela sorriu. —, quero que forme a família que sempre sonhamos em ter.

“... Perder você foi como perder uma parte de mim e aquele dia foi o pior de todos os que eu já vivenciei. Sei que eu devia realmente seguir a minha vida, sei que eu devia formar a família que sonhamos ter. Mas eu não posso fazer isso sem você, não posso viver os sonhos que tive junto com você ao lado de outra mulher. E mesmo que um dia eu realmente siga a minha vida e tenha outra esposa, nunca poderão comparar o amor que eu sentirei por ela com o amor que eu sinto por você; por isso, me desculpe.
Tem mais uma coisa da qual eu tenho que me desculpar com você; quando você se foi, eu ficava noites em claro me perguntando o motivo de você ter me deixado. Eu era jovem e ingênuo e te culpei por ter partido; fui ridículo, eu sei.

Minha rotina ultimamente tem sido acordar, tomar banho, tomar um café bem forte e ir trabalhar, nada mais que isso. Eu não saio mais, eu não bebo mais e nem sorrio mais. Há várias outras coisas das quais não faço mais desde que você se foi, mas ás vezes Rachel aparece aqui em casa e faz com que eu me arrume e vá com ela a algum restaurante, raras são essas vezes.

Eu não tenho muito mais o que lhe dizer; não sabia nem mesmo como escrever esta carta, então não me irei me decepcionar em finalizar ela desse jeito. De qualquer forma, sinto que um peso saiu de minhas costas e que o nó que estava preso em minha garganta há muito tempo se foi.

Elise, eu sinto a sua falta, muito mesmo. Cada dia sem você tem sido um desafio para mim e os obstáculos dele têm sido cada vez mais difíceis de ultrapassar.

Eu só espero que um dia a dor passe, espero poder acordar sem sentir como se alguém estivesse esmagando meu coração, eu quero acordar sem sentir a vontade enorme de chorar; ma além de tudo, eu quero você de volta.

Palavras não expressam o tamanho de minha gratidão por cada momento de tirar o fôlego que você me proporcionou. Quero que saiba que todas as vezes em que eu fui feliz, em nenhuma delas você esteve ausente. E eu prometo a você, Lis, que nós nos veremos em breve.

Porque até o coração espera antes de bater novamente, mesmo que seja por menos de um segundo. Então, antes de o meu coração bater e esperar mais de um segundo até não bater mais, saiba que eu sempre amei você.

Com todo o amor, Justin.”

Terminei de ler a carta e peguei o isqueiro no bolso de minha camisa. Não estava confiante de que o fogo fosse se acender, pois a chuva já havia molhado mais do que apenas as minhas roupas; a carta de amarelada foi para úmida de tanto tempo que fiquei ali para lê-la. O fogo não se acendeu e os planos que tive para o momento não foram como o planejado. Frustrado, joguei o isqueiro para longe e me sentei ao lado do túmulo de minha amada, deixei o papel em cima do túmulo e deixei que a água que estava ali parado molhasse a carta por inteiro, fazendo-a se definhar.

— Droga, Elise — Bufei. —, nem uma despedida que preste eu fui capaz de lhe oferecer. Terei que me desculpar por isso também. — Levantei os ombros em forma de rendição.

A chuva estava começando a ficar cada vez mais e mais forte, uma tempestade estava prestes a cair e eu continuava ali intacto. Não sairia do lado do túmulo de minha amada nem se a Terra dependesse que eu o fizesse, eram meus últimos momentos de vida e eu ficaria ao lado dela, eu havia prometido isso a ela, e iria cumprir.

— Pelo menos isso, não é mesmo, Justin? — Ri sarcástico de minha própria cara. — Céus, Elise, eu nunca merecia você. Talvez esse seja o motivo do qual você tenha partido, você precisava de algo melhor. — Choraminguei ainda frustrado.

Aos poucos todos ali presentes começaram a ir embora, uma por uma, como se os falecidos não merecessem que alguém enfrentasse uma chuva pelos mesmos. Revirei os olhos e olhei para a carta boiando na pequena poça d’água.

— Eu não devia ter feito você. Não devia ter feito todos esses planos bobos.

“Eu sou louco, devo parar de falar sozinho.” Ordenei em minha mente.

A tempestade já havia chegado eu continuei ali, repetindo para mim mesmo “Não saia daqui. Enfrente a chuva, enfrente o frio. Por ela.”. Fechei meus olhos e respirei fundo, seria agora.

A friagem e a fraqueza estavam tomando conta de meu corpo, tudo que se passava em minha cabeça não era nada além de minhas melhores lembranças ao lado de Elise; quando nos conhecemos, nosso casamento, nosso primeiro beijo...

Cada momento único, cada momento inapagável, todos rondando em minha cabeça nos meus últimos minutos de vida. Abri rapidamente os meus olhos para observar as minhas mãos tremulas por conta do frio, que por um acaso, também estavam enrugadas por conta da idade. Voltei a fechar os olhos, só que desta vez, meu corpo relaxou e eu não vi mais nada.