História Amargo - Capítulo único

Você sabe, Jeonghan, que tudo era amargo antes de conhecer-te. Eu me satisfazia e até enxergava aquele sabor desagradável como algo bom, na época. Depois de conhecer os teus lábios doces, eu tive certeza de que todo o resto seria amargo.

Dizem que amargo é a decepção, porque ela vem de alguém que consideras, e não odeias. Eu posso afirmar com certeza, de que quando minha boca encontrou a tua pela última vez, foi nessa curta frase que se resumiu tudo o que eu pude sentir.

Me ensinastes tudo o que eu sei. Quero dizer, não tudo, mas boa parte. Desde a primeira vez que deitamos naquela areia cintilante e monologastes para mim sobre como passávamos — nós, as pessoas — tanto tempo prestando atenção em outras coisas que esquecíamos dos pequenos detalhes com os quais deveríamos nos importar.

Pareceu tão idiota para mim quando isso saiu de outro alguém. Mas quando teus lábios partiram aquelas palavras, e tempos depois, quando tuas palavras partiram meu coração, eu entendi. Eu compreendi.

Compreendi que esse pensamento não se aplicava só a rotinas, como era de sua intenção explicar. E sim quando agimos de forma egoísta sem se preocupar com alguém que está ali, servindo de pilar para não cairmos.

Quando falastes aquelas coisas tão profundas, eu pude acreditar em ti. E demorei, demorei muito para perceber que já passava da hora de parar de me deixar levar.

E essa foi só uma das farsas que eu aceitei sobre ti, quando o amargo da decepção dançou em minha língua.

Pessoas costumavam comparar-nos com as melhores duplas. De longe, eu sempre acreditei mais naquela que dizia que eu era o mar, e eras o céu.

Porque tudo era sem vida perto do céu. Por mais que todos fossem contemplar o mar, eras o que queriam. Me manchava, e minha beleza dependia do seu azul estrelado ou do seu pôr-do-sol.

Mas queimastes o chão em que eu pisava, e teu sereno me deixou doente.

Sabe, Jeonghan, o céu agora, é só o céu sem você. E isso não me surpreende mais.

Com o tempo, percebi que tu eras aquela nota que desafina, aquela poesia que nunca rima. E por mais que tenha tentado, e tentado, e tentado, eu nunca conseguiria fazer tua melodia tocar junto com a minha, porque eres um erro, um erro do qual não me arrependo, mas me conformei em não poder consertar-te.

Uma das coisas que mais me sinto feliz de teres me ensinado é que podes passar dias, semanas, meses, remoendo algo que não pode ser desfeito, mas é melhor do que passar a vida desejando tê-lo feito.

Ensinou-me que passar tanto tempo juntando pedaços quebrados e tentando colá-los de volta é deveras estúpido e te torna um homem deixar os cacos jogados no chão como estavam antes. Apenas varra para que não corte seus pés mais tarde.

Cheguei a duvidar se estive por tanto tempo apaixonado pela ideia de amar-te, se apenas amava tê-lo. E, quando antes eu achava que tudo era amargo antes de ti, descobri que só sabes com certeza quando passou tempos respirando tóxicos quando experimenta ar fresco pela primeira vez.

Não te preocupes — sob nenhuma circunstância te deixarei ser apenas um nome, apenas mais uma das palavras que me traz nostalgia. Se te agrada assim, quero que seja uma memória viva, que te deixe guardado dentro de uma caixa especial dentro do meu peito.

Me sufocastes, mas não me deixastes cicatrizes. Não deixarei, por isso, que vires marcas de tristeza espalhadas no meu corpo, depois que já não estás mais aqui.

Eu estava errado em pensar que o que senti não fora verdadeiro. Porque, Jeonghan, não teria doído tanto me afastar. Foi um erro achar, mesmo que por um segundo, eu não te amei com toda a minha alma, porque minhas perspectivas mudaram, e eu deveria ter lembrado de que quando já não amava-te mais, eu era completamente diferente.

Eu realmente espero que estejas feliz, Jeonghan. Quero que saiba que não me arrependo de nenhum dos momentos que compartilhamos. Admito que ainda lembro de quanto o tinha nos meus braços e tuas risadas eram para mim, quando acordava de madrugada e via teus olhos ansiosos procurando os meus, e até o gosto dos teus lábios, e sinto mais uma vez aquele gosto amargo, mas não de decepção.

Dessa vez, a saudade é quem me assola.

De um homem que realmente te amou,

Seungcheol.