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História Ambitious Love - AL: Capítulo XXII


Escrita por: whysmoldobrev

Capítulo 22 - AL: Capítulo XXII


Fanfic / Fanfiction Ambitious Love - AL: Capítulo XXII

 

Do you care, do you care?
Why don't you care?
I gave you all of me
My blood, my sweat, my heart, and my tears
Why don't you care, why don't you care?
I was there, I was there, when no one was
Now you're gone and I'm here

— I Have Questions

 

Elena Gilbert P.O.V.
 

Tudo na minha volta parecia desmoronar, era como se o chão estivesse afundando sob os meus pés e meu corpo não encontrasse sua força própria para absolutamente nada. Minha cabeça girou milhões de vezes em segundos, sem chegar a lugar nenhum, e minha visão ficou turva, permaneceu enxergando um vazio enorme. Forcei a minha mente a trabalhar em disparada, pois não podia continuar estática, calada, teria que reagir e procurar entender o que diabos estava acontecendo. A informação entrou rápido demais no meu cérebro, o que não me deu tempo de processar, tentar entender ou sequer considerar o que havia acabado de escutar. Em primeiro lugar, eu não confiava naquela mulher, ela dizia quem era e Damon confirmava, mas eu não levava fé na história. Em segundo lugar, eu havia prometido para mim mesma que, antes de sair acreditando nas coisas, iria pensar duas vezes antes e não agir por impulso. E em terceiro lugar, não havia como aquilo ser verdade, Damon me ama e nunca faria isso comigo, nunca mentiria sobre algo tão sério dessa maneira. Certo?

— Como é? — Perguntei com a voz falha e cortada. Ela podia ver, claramente, a confusão e descrença estampada no meu rosto, então me responderia para me ajudar a compreender. 

A mulher sorria de uma maneira cruel, havia algo obscuro nela, algo que eu tinha reparado antes, mas acabei colocando de lado por pensar que era só loucura da minha cabeça. Sua postura era rígida, confiante, suas mãos firmes demonstravam despreocupação, seus olhos fitavam profundamente os meus, de forma gélida e intensa, e sua expressão diabólica me causava arrepios, ou melhor, calafrios. 

— É isso mesmo que você ouviu, minha futura ex-nora. 

Ok, quer dizer que agora ela estava sugerindo que eu iria terminar com Damon, é isso? Eu não fazia ideia do que pensar, simplesmente me senti perdida, com um nó impossível de desatar formado nos pensamentos, tentando me achar e especular.

— Isso não é possível. Damon é órfão, ele sempre me disse isso, desde que nos conhecemos, os pais dele morreram... Ele... Ele não... Ele não mentiria para mim. Afinal, o que ganharia com isso? — A minha inocência chegava a ser ridícula comparada à expressão dela de quem sabe tudo.

— Acredite, muita coisa. — Continuei olhando-a com a o cenho franzido, procurando respostas mais concretas. — Venha, eu vou te mostrar. — Estendeu o braço para mim enlaçar o meu com o seu e, mesmo não tendo muita certeza, aceitei e a acompanhei. 

Enquanto andávamos pela rua e ela me guiava para algum lugar desconhecido, eu pensava em Damon na minha casa, esperando por mim, com aqueles olhos lindos e aquele sorriso encantador. Nós teríamos uma noite incrível, disso eu estava certa, até minutos atrás. Agora algo me dizia que não chegaríamos nem a jantar, pois nosso relacionamento poderia estar por um fio. Ou não? Do que ela estava falando? O que ele estava me escondendo? Será que a mãe iria me contar, de uma vez por todas, aquilo que o filho tanto esconde?

Entramos num tipo de café e fiquei questionando mentalmente o que eu descobriria ali e se minha vida iria tomar um rumo diferente depois disso. Ela escolheu uma mesa e eu continuei calada, seguindo seus passos, observando cada movimento seu. Ela pediu rosquinhas e chocolate quente e, quando me ofereceu algo, neguei.

— Se você puder ir direto ao ponto, eu realmente agradeço. — Forcei um sorriso e tentei colocar pressão para ela prosseguir. 

— Eu entendo a sua aflição e posso perceber que está desconfiada em relação a mim. E não, eu não a culpo por isso, afinal, você não me conhece, nada mais justo... Só acho que deveria manter os olhos abertos em relação a outra pessoa, é com ela que deve se preocupar. — Eu não sabia onde aquela conversa iria chegar e isso estava me deixando cada vez mais nervosa. 

— Presumo que esteja falando de Damon? — Perguntei um pouco hesitante, com medo da resposta que receberia.

— Infelizmente, sim. Olha, quero deixar claro que as minhas intenções aqui são as melhores, não quero prejudicar meu filho de propósito, não pense que sou um monstro, longe disso! Porém também não posso deixar uma pobre moça querida e ingênua como você cair nas garras dele, já basta disso. — Comecei a imaginar mil e uma coisas e aquele velho amigo aperto no peito, o qual eu não sentia há um bom tempo, deu sinal de vida. 

— Nas garras dele? Do que você está falando? — Eu estava ficando irritada, talvez fosse o resultado do meu consciente não querendo aceitar o fato de que aquilo que até então estava perfeito iria desabar. — Eu não sei o que você quer ou pretende fazer, mas não irei acreditar, seja no que for que irá me dizer. Não sei se você é realmente a mãe dele e não sei que tipo de rixa vocês tem, mas pode ter certeza que irei descobrir, ele irá me contar, detalhe por detalhe. Não me leve a mal, mas como eu disse, não lhe conheço e Damon não parece gostar de você, então não irei ouvi-la, prefiro ouvir uma explicação vindo da boca de quem eu amo e confio. — Apesar das palavras terem sido involuntariamente soltas no ar, como se estivessem na ponta da minha língua, elas soaram de forma insegura.

— Uau. Eu imaginava que você poderia gostar dele e por isso ser um pouquinho cega, mas eu estava errada, você está completamente deslumbrada, não deve sequer saber onde está, o que está fazendo e com quem. Veja o que o amor pode fazer, não é? Ele nos torna incapazes de ser racionais, ver a verdade e continuar seguindo na linha do certo e errado, nós passamos pela curva e desviamos totalmente do caminho dos nossos conceitos. — Nossa, ela falava de uma maneira como se entendesse do assunto, como se tivesse vivido na pele e fosse uma especialista. Eu não podia discordar dela, sabia que as chances de tudo aquilo ser verdade eram grandes o suficiente para não conseguir responder a altura. — Ainda bem que eu já imaginava que você poderia não querer me escutar, então tomei a liberdade de trazer outras pessoas. Espero que tome a decisão certa depois que ouvir o que as minhas cúmplices tem a dizer. — Agora eu estava ainda mais perdida. 

Quando ela terminou de falar, três mulheres, já de idade, entraram pela porta, e vi Lily acenar para elas. Enquanto elas vinham na nossa direção, reparei que todas eram de grandes condições sociais, afinal, eu reconhecia esse tipo de gente de longe. Muita bem vestidas, com cabelos impecáveis para os seus anos de vida, aparentemente, e uma postura refinada acompanhada pelo nariz em pé. Duas dela pareciam ter, em média, um pouco mais de cinquenta anos, isso se não tinham um pouquinho a mais e estivessem mais reservadas. Ao chegarem na nossa mesa, as senhoras se sentaram e olharam para mim, imediatamente, com pena. Fiquei um pouco constrangida e não entendi o porquê.

— Elena, quero que conheça as minhas, mais recentes, "amigas". Mary, Agnes e Catherine, mais conhecidas como clientes do seu namorado. — Isso me pegou de surpresa, embasbaquei, paralisei e continuei encarando as mulheres estranhas na minha frente.

— C-c-o-o-mo é? — Gaguejei.

— Conte para ela, Agnes. — Ela pediu e a mulher fez uma careta.

— Não existe uma maneira de dizer para a menina que o namorado perfeito com o qual ela sonha todos os dias é na verdade uma farsa que se aproveita das velhas e seus benefícios. — E ao falar "benefícios" ela esfregou os dedos um no outro como sinal de dinheiro. Soltei o ar pelo nariz, não acreditando no que tinha acabado de ouvir.

— Isso só pode ser brincadeira, não é? De onde vocês tiraram isso? Que tipo de palhaçada mais chata e sem graça é essa? — Eu estava desacreditada.

— É verdade, minha filha, o seu namorado... Damon, não é? Atende por vários nomes, Ricardo, Christian, Derek, Robert, etc, e fica acompanhando as mulheres solteironas ou bem casadas, o que não importa, para o que desejarem, desde que paguem bem. Até me envergonho de dizer isso, mas eu sou uma dessas, uma cliente permanente. Ele ultimamente anda sumido, até dei o contato para mais umas conhecidas do salão de beleza, mas ele não retorna, talvez tenha achado alguém que lhe forneça grana para o resto da vida e não precise mais desse tipo de trabalho, quem eu receio que seja você. — Eu estava gritando internamente, me sentindo quebrar em cacos e prestes a sucumbir ao desespero que estava me  tomando lentamente ao sentir a realidade cair, gradativamente, sobre mim. Continuei escutando o que a senhora tinha para dizer. — Mas, menina, não se sinta mal em cair no charme dele, nós todas caímos. Ele é muito persuasivo e é capaz de tirar de você a habilidade que todo o ser humano já nasce sabendo praticar, que é pensar corretamente, de forma coerente. Ele é um rapaz ambicioso que corre atrás do que quer e não podemos de fato culpá-lo por isso, pois ele nunca nos prometeu nada mais do que algumas noites cheias de diversão com algum retorno bancário para a sua conta. Não vou mentir que, as vezes, ele levava de mim um pouquinho mais do que o necessário, até cheguei a considerar roubo, mas não podia cobrar nada disso, pois eu também estava errada e mesmo assim continuava procurando seus serviços. — Enquanto ela falava, eu via as outras duas mulheres apenas concordando com a cabeça, como se soubessem exatamente cada palavra que ela dizia e tivessem passado pela mesma coisa. Ali, naquele instante, ela me descrevia uma pessoa totalmente diferente, um estranho, um homem que eu iria repugnar e desprezar se conhecesse. Como as informações ainda não estavam entrando de forma compreensiva na minha mente, resolvi questionar. 

— Ele transava com vocês... Em troca de dinheiro? — Meus olhos estavam cheios de lágrimas e minha voz saiu com um tom de nojo.

— É, pouquíssimas vezes, não é como se ele gostasse, mas nos fazia alguns agradinhos uma vez ou outra. Mas, na maior parte de nossos encontros, nos fazia beber além da conta, aproveitava o nosso cartão de crédito para a balada, comida e motel, e na manhã pegava o que nos restava. Como Agnes disse, estamos erradas também, pois nunca reclamamos e sempre íamos em busca de mais. — Dessa vez foi a loira quem disse, me deixando ainda mais enjoada. Eu queria vomitar. Não, eu ia vomitar.

Levantei rápido, fui em direção ao banheiro correndo e lá, já no caso sanitário, coloquei tudo que se pode imaginar para fora. Essa era a sensação mais horrível que existia, ainda mais quando você está chorando para acompanhar a desgraça. Eu soluçava e colocava para fora o almoço. Fiquei, acredito eu, uns dois longos minutos até tudo passar e meu estômago roncar. Continuei ajoelhada com minha mente girando e girando, dando voltas e voltas sem saber no que acreditar. Eu estava tonta, fraca e, pelo meu reflexo no espelho, pálida e com os olhos inchados. O que aconteceu? Há uma hora atrás Damon, o cara que eu jurava conhecer, estava me olhando nos olhos, cantando para mim e me dando a certeza do seu amor que parecia verdadeiro, e agora eu estava insegura novamente, cheia de dúvidas, horrores e pavores de novo. Levantei minhas mãos e vi elas tremendo sem parar, o que eu não sabia se foi causado pelo mal estar ou pelo recém choque sentimental. Eu estava prestes a entrar num transe e se a porta não tivesse aberto, naquele segundo, eu não conseguiria levantar sozinha. Era a mãe dele. Dá pra acreditar? Mãe dele. A mãe que ele tinha me dito que havia morrido. 

— Querida, você está bem? — Ela perguntou e eu apenas balancei a cabeça negativamente. O silêncio se instalou no local e eu queria me enterrar num buraco, desaparecer, nunca mais existir e nunca mais me permitir sentir nada.

— Quem ele é exatamente? — Eu estava com medo de quem era Damon Salvatore. Ele de fato não era nada do que eu, até agora, pensava. Tudo foi mentira. Tudo foi uma farsa. Eu estava  namorando, confiando e, o pior de todos, amando alguém que eu não faço a mínima ideia de quem seja. Como lidar com isso?

— Tenho que lhe dizer a verdade, desde que te conheci, você me parece uma menina tão doce, inocente, que merece tudo de bom e do melhor, alguém que lhe ame de verdade e lhe valorize e não alguém imprestável que finja isso. Construa sua vida em cima de verdades e certezas, o que torna ele impossível para você. — As palavras dela estavam cortando cada pedaço meu internamente, eu me sentia sangrar como nunca. — Damon é um rapaz mesquinho, interesseiro, que só enxerga o mundo girar em torno do seu próprio umbigo. Ele não serve para você. Na realidade, ele não serve para nenhuma. Quando Stefan me contou como você era carinhosa, gentil e amável, eu senti pena, senti um dever de não deixar que ele lhe corrompa, pelo menos, não mais do que provavelmente já fez, não é? — Eu nem ligava mais para quem era aquela mulher, tudo que eu pensava era em Damon, no seu talento, na sua cara de pau de olhar no meu rosto e omitir tudo isso, mentir sobre quem era ou é.

— Por que ele mentiu para mim? Não consigo entender esse tipo diferenciado de amor que sente por mim. — Eu estava dolorida, mas não sabia que estava prestes a piorar.

— Porque não existe nenhum amor. — Isso foi como um soco em mim, de mão cheia, com o peso enorme das palavras sobre a minha face. Pisquei várias vezes e funguei, tentando limpar as lágrimas e ver o rosto da mulher claramente. Ela tinha uma expressão neutra e isso me aterrorizava. — Damon nunca te amou, você não vê, Elena? Por que você acha que ele se interessou por você? Não vai me dizer que foi pela sua personalidade ou beleza? Ah, por favor! Não quero lhe ofender ou desprezar, mas isso não é típico Damon, ele não se interessa pelas pessoas, ele se interessa pelo o que as pessoas tem. 

O meu mundo por inteiro caiu. Percebi, finalmente, que minhas estruturas que foram reconstruídas por ele, em questão de tempo, nunca estiveram bem sólidas, pois bastou um sopro, apenas um, para que elas caíssem. Me senti frágil, vulnerável, destrutível como uma casa de palha. Uma casa de palha que era derrubada com qualquer ventinho e que pegava fogo sem mais nem menos.

— O que você está dizendo? 

— Estou dizendo que Damon sabia, Elena. Ele sabia desde o começo. — Acho que eram essas as palavrinhas chaves que eu sempre temi ouvir e aí elas estavam me assombrando. — Stefan me contou. Desde o primeiro dia de aula, Damon sabe que você faz parte de uma família importante com uma boa e farta conta bancária. Agora, preciso entrar em detalhes e lhe explicar no que é resumido seu namoro com ele ou você é esperta o bastante para entender o óbvio? Que ele só está com você por pura ambição? 

Eu não conseguia falar mais nada, minha garganta ficou seca e nenhuma palavra saiu por ela. Pensei que não ia conseguir me mover, mas consegui, o que foi meio involuntário e quase não senti. Não mandei comando nenhum, meu corpo simplesmente se mexeu, deixei para trás a mulher e caminhei para a saída do café como uma fantasma. Não vi mais nada, tudo era apenas um borrão. Chamei o táxi, ainda sem largar uma lágrima sequer,  com nenhuma emoção no rosto, e entrei no mesmo, sem rumo. Na verdade, eu precisava pensar, ficar sozinha e digerir o que estava acontecendo, então acabei criando o destino para qual eu iria. Mesmo não ligando para o sol que já tinha ido embora e dado lugar a lua, posicionada no céu já bem escuro, fui para o meu lugar. Para o meu refúgio. E ali eu ficaria até entender o que fazer com a minha recém descoberta. A ficha ainda não tinha caído e eu não queria saber o que iria acontecer quando caísse. Isso só iria acontecer se eu ouvisse as palavras da boca dele, enquanto eu tivesse esperança de que tudo havia sido mentira, o sentimento permanecia intocável, pleno e intacto.

 

Damon Salvatore P.O.V.
 

Elena não atendia o celular, ele só caia na caixa de postal e estava fora da área de serviço, já fazia três horas que ela havia saído para comprar as coisas para dar início a nossa janta e desde então não voltou. Saí, há mais ou menos uma hora e meia, para procurá-la, mas não tive sucesso. Eu estava preocupado, começando a entrar em estado de nervos. Será que alguma coisa havia acontecido com ela? Minha mente já podia imaginar o pior. Eu sou a pior pessoa barra namorado que existia na face da Terra, é claro que eu não devia ter deixado ela sair sozinha, mas a mesma tinha insistido em ir comprar sem mim, pois o prato da noite seria uma surpresa.

Não aguentando mais ficar sentado de braços cruzados, sai da mansão e mais uma vez pernambulei pelo bairro tentando achar minha namorada. Entrei no super mercado e ninguém soube me dizer se ela esteve ali ou não. Entrei no barzinho ao lado e ninguém, também, conseguiu essa informação. Até que fui até o café do mesmo lado da calçada, o qual estava prestes a fechar. Perguntei para o garçom que estava varrendo o carpete e o mesmo me informou de que uma moça morena e bonita estava acompanhado de uma mulher ruiva dos olhos azuis. Aquilo me chocou. Comecei a fazer perguntas sem parar até ter a certeza de que era realmente de Elena que ele falava. O funcionário disse que ela havia chorado e saído daqui em estado de choque, o que até virou comentário entre ele e seus colegas. Eu gelei com as informações. Tremi dos pés a cabeça ao imaginar a ruiva de quem ela estava acompanhada. Comecei a entrar em pânico. Já era onze horas da noite quando decidi sair das ruas frias e vazias e ir direto ao apartamento dela. Apertei a campainha quando cheguei e não demorou muito para Caroline atender.

— O que diabos?! Sabe a hora que é? E o meu sonho de beleza como fica, cunhadinho? — Ela estava de pijama, com a cara inchada, os cabelos bagunçados e as mãos coçando os olhos. É muito mal humorada. — Não era para você estar com a Elena, não? Afinal, cadê a minha amiga, Damon Salvatore? Você deixou ela sozinha? Por que está aqui? Quem mora aqui é ela e não você! Você devia estar transando com a sua namorada a essa hora e não batendo na minha porta! 

— Caroline! Respira! — Pedi, levantando as mãos e abaixando-as. Isso seria inútil, pois quem estava eufórico era eu, então não adiantava tentar acalmar ela. — Elena realmente não está aqui? Ela não veio sem você perceber? 

— Ela não está em casa, ia passar a noite com você! O que você aprontou? — Ela estava brava, indignada, como se previsse o futuro e automaticamente colocasse a culpa em mim.

— Nada! É o seguinte, ela saiu para comprar comida há horas e ainda não retornou, eu tô infartando praticamente! Não sei mais onde encontrá-la! — Comecei a andar de um lado para outro enquanto pensava. — Pra onde você iria a uma hora dessas se tivesse em... Em... Estado de choque? — Lembrei do que o garçom disse, talvez fosse útil, sem contar que isso estava me deixando ainda mais aflito. A loira me olhou confusa.

— Não sei? Para algum lugar silencioso para mim refletir e colocar os pensamentos em ordem? Ai não sei, não sou capaz de responder esse tipo de pergunta a essa hora! — É claro, a clareira.  O lugar favorito dela. Lembro exatamente do dia em que ela me contou sobre esse lugar e disse que lá não pega sinal de telefone. 

— Você é um gênio! — Beijei seu rosto e sai para rua, escutando ela vir atrás de mim, reclamando, cheia de perguntas.
 

[...]

Eu nunca dirigi tão rápido na minha vida. Caroline queria me matar, estava se segurando nas laterais do banco até suas mãos doerem e fechando os olhos na hora das curvas. Ignorei ela o caminho todo, não dando bola para as suas dezenas de perguntas, apenas focando em achar minha garota. Era quase começo de madrugada e eu não conseguia imagina-la ali, no escuro, sozinha, sem direção. Por que teria ido para ali? Por que não voltou para mim? Quanto mais perto eu chegava, mais ansioso eu ficava. Quando finalmente chegamos no lugar, dei graças a Deus por estar claro, pelo menos, um pouco. A entrada era por uma rodovia principal que ainda sim tinha movimento, não importa a hora, mas que  ainda sim não tornava a situação melhor. Havia alguns postes de luz que iluminavam aquela parte do bosque, mas ainda sim parecia um deserto e até um pouco assustador. Parei com o carro bem perto e deixei os faróis ligados para dar ainda mais iluminação e não demorou muito para avistarmos ela. Eu quase não acreditei na cena. Ela estava encolhida, tremendo, no meio do nada, com a cabeça entre as pernas, abraçando o próprio corpo. O que deu nela para vir à essa hora para esse lugar retirado sem ninguém por perto? A casa mais próxima devia ser a quase três quadras dali. Corri até ela e escutei Caroline fazer o mesmo.

— Amiga! O que você está fazendo? Levante! Está congelando aqui, vamos, o que deu em você!? — Elena não mexeu um músculo, mesmo escutando a voz de Caroline. Minha respiração voltou a ficar descompassada, a mesma que tinha voltado ao normal assim que vi sua figura. O que ela tinha?

Me aproximei vagarosamente.

— Amor, o que vo... — Não consegui terminar a frase, pois quando toquei seu ombro ela fez um movimento brusco e me empurrou com força. Uma força que eu não sabia que ela tinha. Me assustei com a atitude e fiquei sem entender até ela erguer o rosto. Tudo bem, alguma coisa estava muito errada.

Mesmo não tendo uma visão clara da sua expressão, eu via que ela era dolorosa e sentida, os olhos castanhos estavam inchados de uma forma extrema e avermelhados ao arredor. Ela parecia ter chorado durante  horas. Tentei tocar nela, mas presenciei sua recusa brutal mais uma vez.

— Me diz que é mentira. — Ouvi ela dizer.

— O que? — Enquanto tentava compreender, eu também tentava me aproximar e toma-la em meus abraços, pois a qualquer momento ela parecia que iria surtar e sair correndo.

— Me diz que é mentira. Me diz que a sua verdadeira mãe está realmente morta e que aquela que eu conheci, a qual me disse que te trouxe ao mundo, está mentindo. Me diz que as mulheres que conheci não eram suas clientes e que você não transa e dá golpes nelas. Me diz que você me ama de verdade e não só o meu dinheiro. Me diz que você não sabia que eu era A Elena Gilbert. Por favor, me diz isso. Eu só preciso saber.

Era oficial. O meu maior medo estava se tornando realidade e o pior de tudo é que eu não estava nem um pouco preparado para lidar com ele. Eu tinha certeza que ia dar certo, que tudo ia andar conforme os meus planos, mas o baque foi grande, inclusive a decepção. Eu não consegui falar, sentia como se nada, no mundo, fosse apropriado para aquele momento. Abri a boca diversas vezes sem ser capaz de pronunciar nem ao menos uma sílada, apenas tentei me aproximar mais dela. A cada segundo em que eu pensava sem lhe dar uma resposta, ela parecia ainda mais desesperada. Minha morena, agora não tão minha mais, estava andando para trás, fugindo de mim, me olhando com dor nos olhos. Aquilo estava doendo, aquilo estava apertando o meu coração e me deixando a beira do precipício.

— Diz que é mentira? —  Ela perguntou mais uma vez com a voz embargada pelo choro, como se fosse minha última chance, o que me derrubou.

— Eu não posso.

As minhas palavras pareceram ferí-la fisicamente, pois o seu rosto se contorceu e seus braços envolveram o próprio corpo, como se estivesse se segurando, tentando manter-se inteira, sem quebrar. Ela começou a tremer e eu comecei a me sufocar com as minhas próprias palavras. Elas eram tantas e cheias de intenções boas, mas não autossuficientes. 

— Eu te amei mais do que o bastante, mais do que você merecia, mais do que qualquer um merecia, nem um pouco a menos nem um pouco a mais. Te amei do jeito mais sincero. Nunca quis que você me amasse muito e você não precisava me dar mais daquilo que podia me oferecer, só precisava ter me entregado quem você é de verdade. Isso seria o bastante para mim. Mas, você, nem isso fez, você fingiu o que sentiu e isso foi o que iniciou o fim para nós. Você, Damon, conseguiu acabar com tudo, acabar comigo, acabar nós.

Ela estava admitindo que me amou, mas nas circunstâncias erradas. Não foi assim que eu imaginei esse momento. Não era pra ser assim. Eu estava chorando já, como um garotinho de quatro anos que perdeu a mãe. Ela não podia me deixar, eu não me via futuramente sem ela, não mais.

— Elena, p-por fa-a-vor... Me escuta! — Eu pedi entre soluços.

— Eu te mostrei quem eu sou. Te mostrei todas os meus medos e maiores defeitos, todas as minhas inseguranças e irracionalidades. Você me disse para não ter medo, você me disse que gostava de tudo em mim, todo o meu eu. Eu quis que você me conhecesse com tudo que eu tenho e quando eu te contei todas essas coisas, a impressão que dava é que você seria capaz de curar todas as minhas falhas, exatamente como prometeu. Eu abri o meu coração. Só pra você, foi uma exceção que eu senti, no meu interior, que valia a pena. Eu larguei  tudo. Tudo que eu havia planejado para minha vida foi esquecido assim que comecei a me apaixonar. Mas sim, você me consertou, teve o prazer de começar a me reconstruir, me dar esse prazer, esse gostinho de me sentir inteira novamente, só para depois me quebrar mais uma vez. Esse é o seu fetiche? Esse foi o seu jogo?  — Ela parou de falar e tombou a cabeça nas mãos, soltando o choro trancado na garganta em um som agudo, alto e cortante, o que fez eu odiar profundamente à mim mesmo. O estrago que eu havia feito era muito grande, eu tinha noção disso. — Por que você fez isso, Damon? Por que? Depois de todas as vezes que falei que se eu, novamente, fosse machucada, seria o fim? O que eu fiz de tão errado pra você ser tão cruel e me prejudicar dessa forma?

— Elena, eu não... Eu...

— O que? Vai me dizer que foi tudo invenção? Que você nunca, em nenhum momento, não se importou comigo e sim só com dinheiro? — Eu queria dizer que sim, que nada daquilo era verdade e que ela foi tudo o que sempre importou, mas não fazia mais sentido mentir. Ela já estava convencida.

— Sim, é verdade, mas...

— Não tem “mas”, Damon, não tem “mas”. — Ela foi virar de costas, mas desistiu e voltou no mesmo segundo. — Só me diga uma coisa, o que você planejava fazer? Roubar a mim? A minha família? Sem mais mentiras, você não tem ideia o quanto eu odeio isso. — Ela estava furiosa e eu despedaçado. Não havia nada mais doloroso do que magoar alguém que você ama. Na verdade, ser magoado por quem você ama deve ser mais insuportável ainda, e ela ainda tinha motivos bem maiores, era uma situação mais difícil e delicada.

— Eu... — Abaixei a cabeça, sem conseguir olhar nos seus olhos. Não tinha coragem, estava envergonhado. — Eu iria ir tirando aos poucos da sua família, ir ganhando a confiança devagar, até virar amigo do seu pai e me infiltrar na empresa dele, com a sua ajuda é claro. — Falei tudo muito baixinho, mas alto o suficiente para chegar aos seus ouvidos.

— Um golpe, hã? Meu Deus, quem é você? — Ela me perguntou com um tom de desprezo, me olhando dos pés a cabeça. 

— Elena... — Sussurrei seu nome no meio da escuridão em que eu me encontrava, esperando que ela mais uma vez fosse a minha luz e me dissesse que tudo ficaria bem. Que ela tocasse meu rosto como costuma fazer e me desse a certeza de que seus sentimentos não haviam mudado nada. 

Ao contrário do que eu queria e esperava, ela não reagiu, simplesmente permaneceu dura feito pedra. Os olhos castanhos estavam marejados, mas dentro deles eu exerguei um vazio que me arrepiou, uma dureza, uma indiferença que não era nada comum, que nunca vi presente naqueles mares de chocolate tão amorosos. 

— Amor... — Tentei mais uma vez, mas foi inútil.

— Não me chama assim! — Só de vê-la na defensiva já me deixava com o coração apertado. Ela estava reagindo a mim de uma maneira diferente. Não via seus movimentos graciosos quando colocava os olhos em mim e já vinha para perto com intenções de me acariciar. Me olhava como se eu fosse um monstro que não via nada mais nada menos do que uma garota alvo fácil de ferir. — Eu confiei em você. Eu me entreguei pra você. Você entrou dentro da minha casa, você conheceu a minha família. Você passou pela minha barra de proteção e ainda tirou sarro disso enquanto pensava o pior de mim. Você, com certeza, sempre me viu como uma idiota. E quer saber? Eu sou. Eu sou a pior de todas as idiotas. — Sua voz. Ah, sua voz, ela falhava no meio das palavras, estava cortada pelo choro e aquilo estava acabando comigo. Desde a primeira vez que a vi chorando, desejei nunca mais ver a cena, pois se tornou a coisa mais dolorosa de assistir. Aquele rosto delicado coberto de lágrimas, os olhos bonitos inchados e seu nariz manchado de vermelho me matavam lentamente. Ela continuava bonita daquele jeito, mas eu não suportava aquela imagem. Era o fim.

Minhas mãos se estenderam na direção dela involuntariamente querendo lhe conceder qualquer consolo, um abraço que fosse, e ela logo recuou, como se eu estivesse segurando uma arma ou algo afiado que iria lhe machucar.  E então, para o meu desespero, ela começou a andar rápido até Caroline que, até agora, estava chocada, atrás de nós, em silêncio, apenas ouvindo.

— Elena! — Corri e a segurei. O meu toque parecia dar choque, ela tentava a todo custo soltar o seu braço. A puxei com força e a apertei contra mim, olhando na profundeza dos tristes olhos castanhos, respirando pesado contra o seu rosto. Minha visão estava embaçada, todo o meu corpo doía. Eu não imaginava que a dor que eu sentiria quando estivesse prestes a perdê-la seria dessa imensidão. — Você não pode me deixar. Você não, Elena. Eu aguento qualquer coisa, menos isso. Você longe de mim não. Você é tudo que eu tenho, se eu te perder sabe o que me resta? Nada. — Consegui me aproximar o máximo que foi possível e permitido por ela para encostar minha testa na sua. — Eu te amo tanto... — A vi fechar os olhos como se eu tivesse acabado de lhe machucar o triplo que antes. Sua expressão no rosto se contorceu e quando voltou a me fitar, seus olhos estavam furiosos. — E você me ama também, não ama?

Eu sabia que não iria adiantar. Conhecendo ela do jeito que eu conhecia, eu sabia que ela havia decidido o que fazer há uns dez minutos atrás. Meu coração estava a mil e a ideia de perdê-la parecia ser a experiência mais horrível que eu estava prestes a ter. Como eu sobreviveria? Parecia drama, mas era a verdade. Eu mudei por causa dela, eu vivo por causa dela, o que eu faria se a mesma não estivesse mais ao meu lado? Eu iria desaprender a respirar, a andar e a ser alguém melhor. Sem ela, eu não iria funcionar.

— Eu amei a sua versão falsificada, agora que eu conheço você de verdade, eu prometo, e disso você pode ter certeza, que irei matar esse sentimento, arrancar ele de mim se for preciso, não deixando sobrar nada.

O tom da voz dela me causou arrepios, tinha um toque de amargura e superioridade, características que eu nunca imaginei ver nela, naquela garota tão linda e doce, incapaz de fazer mal à alguém. Eu havia partido ela ao meio, corrompido suas virtudes e feito a mesma sofrer da pior forma. Eu sabia que sua dor devia ser insuportável, ela pediu tanto para ser honesto, me deixou tão claro que eu era o cara com quem ela escolheu ficar e que a última pessoa que a magoaria, no planeta, seria eu.

Ela saiu em disparada, passando por Caroline e arrancando a chave do carro das mãos dela.

— Elena, você não está em condições para dirigir, VOLTA AQUI! — Gritei quando vi que ela continuava andando sem me escutar. Ela tremia, de fúria, de mágoa e de frio, eu já não sabia mais qual deles prevalecia. 

— Amiga, eu sei que você está irritada e machucada, na verdade, não posso nem imaginar como é que deve estar se sentindo, não chega nem perto, mas ele está certo em relação à isso, olha o seu estado, volta aqui agora! — Caroline também tentou conscientiza-la, mas era tarde demais, ela já estava dentro do carro.

Tentamos correr a tempo, mas ela arrancou o carro na maior velocidade, cantando pneu, saindo da estrada de chão até o cruzamento da rodovia. E tudo foi muito rápido, mais parecido como um vulto se não fosse pelo estrondoso som. Ouvi uma buzina, um forte barulho de colisão entre dois carros e o grito de Caroline junto com o meu.

— ELENAAAAAAAA!
 

 


Notas Finais


Chorei escrevendo as coisas que Elena disse para o Damon, não vou mentir, essa parte é importante pra mim!!! :(
O que acharam do capítulo? Gostaram, esperavam mais? Podem comentar muito viu, gente, fiquem à vontade <3
Desculpa pela demora, comecei um Técnico agora, então vai ficar bem corrido pra mim.
Sobre esse final, ai ai ai, acho que tá meio óbvio o que vai acontecer, pois é bem clichê, mas como eu AMOOOOOO clichês, é assim mesmo que vai seguir o baile.
Não sei vcs, mas achei pesado a forma como Elena lidou com a situação, se isolando, ficando sozinha em plena noite, correndo risco e tal, será que isso não é sinal de alguma coisa?
Bom, a fanfic a partir desse capítulo entra meio que em uma "segunda" fase e tenho vários planos para ela, ainda estou indecisa, então preciso de uma opinião aqui. Uma ajudinha rapidinho! Respondam nos comentários: Vocês preferem uma história com um baby no meio pra ter aquela vibe família e tal ou a história só focada no casal? Eu já sei qual a minha opinião, mas a que importa é a de vocês. Não quer dizer que irei fazer exatamente o que vcs pedirem ou preferirem, mas irei considerar. Estou pensando ainda...
Bom, espero que tenham curtido e até o próximo <3


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