[ Dylan Rhee ]
Os olhos dourados de Sun me fitam, esperando alguma reação, mas nada acontece. Meu corpo congela com a notícia e meus batimentos cardíacos falham constantemente.
"Mas que merda!"
Obrigo-me a me mover, pelo menos. E o que consigo é fechar os olhos e encostar minha cabeça na prateleira de copos. "Certo, talvez ela tenha se enganado...", penso sentindo agonia.
–Dylan, por favor... Fale comigo... –Sua voz estava trêmula e o desespero era perceptível. Eu precisava ajudá-la, precisava fazê-la ficar calma e bem, pelo bebê. Mas como?
Abro os olhos e encaro-a, reunindo toda a coragem e segurança do mundo para fazer a pergunta que não quer calar.
– Quem é o pai, Sunshine? –Nos minutos seguintes ela pondera sobre o que responder, percebo isso pois ela abre e fecha a boca inúmeras vezes até responder.
– Kent. –Ela cobre o rosto com as mãos trêmulas.
Os músculos do meu corpo ficam tensos.
–E-eu não sei mais o que fazer, Dylan! Eu tentei com o Carl, mas eu sinto que ele sabe e ele nega todas as vezes! É irredutível! –Ela continua, indignada.
–Espere. –Ela fica em silêncio e se senta em uma caixa, para se apoiar e aguardar o que eu tenho para dizer. –Kent? Tantos caras, logo o idiota do irmão do Kennedy? –Ela se põe a chorar. Massageio as têmporas e me sento perto dela. –Desculpe, eu... Estou realmente surpreso. Não estou aqui pra te julgar, mas... Ainda bem que Carl não se deitou com você. –Ela me olha com mágoa e incredulidade. – Sun, você o traiu comigo e não tenho orgulho disso, sinceramente. Pelo que sei, traiu ele com outros e agora com o estúpido do Kent... Acabou engravidando. –Posso ver seu olhar mudar para arrependimento. –E quis jogar sua irresponsabilidade para o Carl, que sempre esteve com você e que te ajudou a curar seus medos...
–Eu pensei que, se o Carl fosse o pai do meu filho, daria melhor exemplo... E-eu... O Kent não vai assumir, Dylan! –Ela conta a chorar.
–Vai se o Kennedy souber e...
–O-o importante não é o Kennedy, é a Judith. –Ela limpa as lágrimas e me encara. –Eles estão namorando escondido, Dylan. Eu vi os dois se pegando na madrugada do dia do LAR, eu ouvi claramente eles discutindo sobre como ele iria pedir ela em namoro pro Xerife... –Meus músculos ficam tensos novamente.
"Isso não pode estar acontecendo..."
–Acho que agora você entendeu a situação, não é? –Ela volta a falar.
–Rick não permitiria. –Respondo simplesmente e encaro as minhas botas. –Não só porque é superprotetor, mas porque ele sabe que o Kent é um idiota declarado e também viu com os próprios olhos quando ele tentou abusar da Amélie. –Explico, cerrando os punhos.
–Certo, mas mesmo assim... Eu não quero que o Kent saiba, nem o Kennedy e não quero magoar o Carl... Ele não vai querer olhar na minha cara quando souber, D... Eu estou tão ferrada! –Fico de pé e a encaro.
–Deveria ter pensando nisso antes, Sun. –Murmuro. –O que tem que fazer é terminar o namoro com o Carl.
–Mas... Eu... Eu... –Posso ver as lágrimas se formarem nos seus olhos, junto com o desespero.
–Você não o ama, porque quer prendê-lo à você e a esse bebê que nem dele é? –Ela morde os lábios trêmulos. –Deixe-o ir. Você tem amigos, Sun. Amigos que te apóiam e não precisa de um homem ao seu lado pra se sentir segura como acha que deve ser... Conheço duas pessoas que criaram suas filhas sem suas mulheres e hoje, as duas não morreram de fome ou falta de cuidados. Tiveram amigos por perto.
–Está... –Engole o choro. –Falando da Judith e da Amélie, não está? –Sua voz é fraca, quase como um sussurro.
–Das próprias.
–Mas... E se eu morrer como a mãe delas por culpa... Culpa desse bebê, D?! –Sun cobre a boca para abafar o choro alto.
–Você não vai morrer como elas porque aqui, em Woolsey, você tem mais possibilidades de estar saudável para ter seu bebê, ao contrário de Lori ou Amy, que nem isso tinham.
–Estou com tanto medo... –Puxo-a para um abraço sem pensar duas vezes.
–Medos são apenas artimanhas da sua mente te impedindo de ver o quão corajosa você pode ser, Sun. Eu estarei aqui, pra ser seu ombro amigo e ajudar você a limpar catarro de criança barrigudinha. –Ela ri fraco e me dá um tapa no braço.
Minutos depois, quando seu choro já havia passado, afasto-a e seguro seus ombros.
–Então, mamãe, o que você quer fazer agora? –Pergunto sorrindo para tranquilizá-lá.
–Eu... Vou conversar com o Carl... –Sorrio. –E depois com o Kent, porque... Mesmo que não queira ele na minha vida, ele faz parte na vida dessa criança... Infelizmente. –Arrumo o cabelo dela para trás de sua orelha. – e também vou conversar com meu grupo, deixá-los a par de que estou grávida e conversar com as irmãs Clayton para me ajudar a pensar nas roupas...
–Você pensou nisso tudo agora ou...? –Pergunto, perplexo.
–Eu pensei sobre tudo ontem, quando me dei conta de que era realmente grave... Pensei primeiro em... Você sabe...
–Está vendo? Mesmo com todo o medo do mundo, você optou por não tirar o direito da vida do seu bebê, Sun! –Sorrio, balançando seus ombros.
–É... –Ela fica sem graça. –Acho foi isso...
××××
Já no entardecer, decido seguir Sun, para ouvir o que diria a Carl, mas quando chego no prédio de construção, próximo à janela onde do quarto, ouvi apenas a voz de Amélie falando sobre bebês e me escondo para ouvir.
"Será que ela já sabia sobre a Sun?"
Ouço o folhear de um livro e dou uma espiadinha para tentar ver qual livro era e ao reconhecer, seguro o riso, me lembrando claramente do dia cômico que descobrimos a verdade sobre os bebês e me desconcentro da conversa, retornando à ela quando ouço que fala de mim e que seria possível não se apaixonar por mim.
Pera, quê?
Me encolho mais, para não alertá-los sobre minha presença.
"Impossível, Dixon! A única vez que se apaixonou por mim foi quando ainda éramos crianças!"
Franzo a sobrancelha e resolvo sair de fininho, pedindo pros céus que Amélie não esteja querendo me usar. Já era constrangedor ter pegado a namorada do Carl anos atrás, seria pior se Amélie me usasse para ter Carl, porque ele tem sentimentos por ela. E porque eu também estava pensando na Dixon desde nossa saída de Woolsey, quando estavámos em cima das prateleiras e pude notar suas sardas, olhos e, principalmente, boca. E ela se preocupou comigo.
Ela nunca se preocupa com ninguém, geralmente, se não for o Carl.
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