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História Ameno ( Old Version) - XV - Pelo amor de nós dois


Escrita por: RunningDevil

Notas do Autor


Faz exatos seis dias desde a última atualização.
E eu, em exatos seis dias, CONSEGUI FAZER MAIS UM FODENDO CAPÍTULO DE QUASE SETE MIL PALAVRAS.
Isso foi o quanto vocês me inspiraram.
Isso foi resultado do trabalho de todos vocês, que não desistiram de mim.
E essa fanfic, que, como eu tinha dito, achei que não iria tocar nem dez pessoas, agora já tem quase duzentos favoritos.
Eu só posso agradecer de verdade a todos vocês e dizer que eu vou trabalhar bastante para que Ameno não tenha atualizações demoradas como a do capíitulo anterior.
Obrigada pelo apoio! Pelos textões que vocês me escrevem, por elogiar esse trabalho que eu faço com tanto carinho <3
Não deixem de checar a capa nova! Foi presente da maravilhosa "ex-leitora fantasma" Lollipoop. E não deixem de dar amor a Ameno.
Quais são as teorias de vocês pro Suga e o misterio com Taehyung? SÓ QUERIA DIZER QUE ESSE CAP VAI PEGAR FOGOO.
Quero ouvir a teoria de todos vocês.
( a leitora que me pediu romance e beijo, rs. eu nao vou dizer nadinha, usadkjs até as notas finais)
Beijocas <3

Capítulo 16 - XV - Pelo amor de nós dois


 

“Objeto

de meu mais desesperado desejo

não seja aquilo

por quem ardo e não vejo[...]”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jung Hoseok sempre ouvira dizer que era exatamente como um raio de sol.

 

 

 

Já eram duas e quarenta da tarde quando Jungkook remexeu-se mais uma vez, sem de fato acordar, na cama de Hoseok. O mais velho sequer conseguira dormir por mais de uma hora de forma ininterrupta, por medo de estar adormecido quando o garoto acordasse e acabar perdendo-o de vista. 

Uma coisa que sabia bem era que Jeon Jungkook realmente detestava dar trabalho a quem quer que fosse, ainda que pudesse cuidar dos outros com prazer. 

Bem, não era exatamente o fato de que nao gostava de dar trabalho o que conhecia bem.

Era Jeon Jungkook por inteiro.

Sabia de sua mania de arregalar os olhos enquanto olhava para um ponto aleatório e perdia-se em pensamentos. Sabia de seu mau tato com garotas, e de como parecia um animal encurralado quando tinha que estar em companhia feminina − poderia rir, querendo ou não o nome "Coelho" utilizado por Suga na noite anterior lhe caía muitissimo bem. Sabia de sua fixação por jogos e super heróis, de seu habito de morder a carne dos lábios e tamborilar os dedos quando estava entediado.

Conhecia Jungkook como a palma da mão.

E ainda assim lhe parecia pouco.

Fora ele quem dissera ao garoto que tudo passaria quando chegasse a hora.

Como todas as estações em algum momento chegam ao fim. 

Como todas as pétalas rosadas em algum momento deixariam de brotar.

Como toda dor em algum momento deixaria de doer e daria lugar ao prazer de ser, novamente, o que se fora antes de todo o sofrimento.

Sentia-se tolo por acreditar que Jeon Jungkook chegaria em algum momento a esquecer Park Jimin.

Ninguém nunca o esquecia.

Às vezes Hoseok pegava-se enraivecido, não havia como não admitir. Enraivecido de como o garoto movia-se perfeitamente num palco e ainda assim terminava cada performance como se aquela houvesse sido a pior coisa que já fizera na vida.

De como tinha o apreço de todos à sua volta, enquanto Hoseok sentia-se envergonhado por sua energia excessiva que nunca contagiava a todos como os sorrisos fáceis de Jimin conseguiam.

De como parecia sempre não fazer parte, enquanto o amigo era, sem dúvidas, a melhor das pessoas para todos que os conheciam. 

Hoseok se sentia um pouco como um acessório. Talvez o alívio cômico e o personagem secundário, ainda que aquela fosse sua vida e seu papel original fosse o de personagem principal.

Era engraçado que pensassem dessa forma. O leitor, que anda acompanhando a trajetória e os pensamentos de cada um deles, consegue facilmente desenhar um padrão, e encontrar a característica comum a todos os seres humanos.

Insegurança.

Morrem de medo de não ser, e acabam não vendo o que já são. 

Bem, eu não os culpo. 

Seres humanos são inseguros. E presumem facilmente o que jamais lhe foi dado como confirmação.

Naquele momento Jung Hoseok olhava para os cabelos pretos caindo em pequenas ondas de Jungkook e se perguntava como Park Jimin conseguia ser tão bom, enquanto, do outro lado da cidade, Park Jimin tecia textos inteiros sobre o quão grande e seguro era Jung Hoseok.

Esta é uma coisa intrigante que jamais entendi sobre vocês.

Vocês tem medo demais.

Especialmente na adolescência.

Há sempre o medo de não conviver tão bem quanto a pessoa ao seu lado, o medo de assumir para si mesmo que sim, há algo bom em você que merece ser visto. Há sempre um medo irracional que controla as ações, cega os sentidos e manipula a mente.

A verdade é que estão todos inseguros, agarrando-se a pequenas partículas de terra firme num oceano de dúvidas infinitas.

E todos acham que estão afogando sozinhos.

− Hyung... − ouviu a voz sonolenta de Jungkook e ergueu os olhos para ele, sorrindo de forma terna, e levando uma das mãos aos cabelos pretos e bagunçados do garoto.

Escorregou a mão para seu rosto bonito e começou um carinho constante com a ponta de seus dedos, criando padrões aleatorios, em sua bochecha.

−Tá com dor de cabeça? − Jungkook anuiu, manhoso como uma criança que acaba de acordar, e o leve movimento já lhe causou dor, fazendo-o franzir o cenho e voltar a manter-se quieto. Hoseok riu e apoiou o queixo no espaço livre do colchão, ao lado do Jeon. O mais novo lhe encarou.

− O que cê tá fazendo aí sentado no chão? − a pergunta saiu um pouco murmurada, e sabia que a causa era a sensibilidade extrema a barulhos altos demais causada pela bebedeira do dia anterior. 

Hoseok riu, parando o carinho em sua bochecha para apontar um pouco mais à frente, onde um balde e alguns panos ocupavam o chão.

− Você vomitou a minha casa toda. − riu mais um pouco ao ver o rosto vermelho do garoto. − Eu nao ia deitar na cama com você e correr o risco de você vomitar na minha cara. 

Jungkook olhou-o, indignado, e ele apenas riu mais um pouco, daquela sua forma escandalosa. O mais novo torceu um bico numa outra cara de dor, e Hoseok parou de rir.

Jung Hoseok.  Sempre fazendo barulho demais. 

− Desculpe por isso − Jeon disse, deixando um suspiro profundo sair. E de alguma maneira, o moreno sabia que ele não se referia apenas à bebedeira excessiva que causara todo aquele caos. 

− Hey, tá tudo bem. De verdade. − Virou-se novamente na direçao do garoto, acomodando seu rosto melhor na cama e voltando a tocá-lo com a ponta dos dedos.− Eu estava aqui no chão com o balde só por um tempo, caso você precisasse vomitar antes de pegar no sono. Só que acabei cochilando também. E fiquei com preguiça de levantar quando acordei. Não tem nada a ver com você vomitar em mim ou algo assim. Até porque − ele riu um pouco antes de prosseguir −, ao longo dos anos você já arruinou mais camisas minhas do que eu consigo contar. 

− Você é inacreditável. − Jungkook rolou os olhos, divertido, e nem um pouco arrependido de algumas de suas bebedeiras passadas que acabaram de forma trágica, antes que ele aprendesse a controlar a quantidade de álcool que ingeria. 

− Inacreditável, e um ótimo amigo. Quase um anjo da guarda, pode dizer. Eu devia cobrar por ser tão bom com um cachaceiro como você.

O Jeon lhe deu um tapa estalado no braço, o que o fez reclamar e murmurar "ingrato" algumas vezes, até que o garoto risse de seu papel. 

Hoseok ficava satisfeito. Por alguns segundos, tinha nas mãos o poder de aliviar a vida de Jungkook. 

De fazê-lo esquecer das coisas ruins. 

Mesmo que só por alguns instantes.

− Quem vai ter que cobrar algo da gente é o Jimin. − ele disse, lentamente, em meio a mais um suspiro profundo − Eu não me lembro de termos pago a conta antes de sair.

Hoseok abriu a boca.

Ah, não. Jimin iria estar fulo da vida.

− Não é como se você estivesse em condições de lembrar nem do seu nome ontem, Jeon Jungkook. − tentou conter o estresse e desviar a atenção da conversa para algo que não fosse o Park. 

Só dessa vez. 

Só naquele momento.

Por favor, que só daquela vez tudo fosse mais fácil.

− Eu me lembro de tudo, hyung. 

Droga.

Silêncio.

Um longo e torturante silêncio.

E se havia um poder que Jung Hoseok realmente gostaria de ter, seria o de curar as pessoas. Claro, além de ter o poder de voar, ler mentes, teletransportar-se e falar com os animais. 

Ainda assim, se pudesse escolher qualquer um desses poderes, curar pessoas seria, sem dúvida, o que escolheria.

Curaria Jimin. E assim curaria Jeon Jungkook.

Via os olhos tristes de seu dongsaeng ao lembrar-se da noite anterior, e pensava no que o pequeno Jeon decidiria se pudesse escolher um poder.

Seria voltar no tempo e apagar tudo? 

Será que jamais escolheria conhecer Jimin?

Será que escolheria jamais ter encontrado Hoseok?

− Se você pudesse voltar no tempo, teria desistido de conhecer a gente?

Tinha medo de ter causado tudo aquilo quando levou-o para conhecer Jimin. Tinha medo que, ainda que não tivesse sido realmente sua culpa, pudesse ser sua culpa.

Tinha medo porque o amava. 

Amava os olhos grandes demais e o sorriso que exibia todos os dentes brancos, os ombros largos demais para a idade, o hábito de sempre se manter alheio a tudo, e a amizade que construiram. 

Amava quem se tornava quando estava na companhia de Jeon Jungkook e Park Jimin, como completavam-no e entendiam-no, Hoseok amava tudo isso. 

Amava os verões juntos, as reprimendas que levavam juntos, as alegrias e dores que partilhavam, todos os dias, juntos.

Se tudo pudesse ser menos doloroso para o mais novo, será que escolheria jamais ter vivido o amor que tinham?

− Nem em um milhão de anos, Jung. Nem se me permitissem voltar no tempo quantas vezes eu quisesse. Vocês são a minha casa. − Jungkook ajeitou-se na cama, abrindo espaço para que Hoseok deitasse ao seu lado, e assim como era automatico para o mais novo deixar que o Jung lhe tocasse ainda que nao gostasse do contato fisico de nenhuma outra pessoa, era automatico para o mais velho trazer-se sempre e sempre para mais perto do garoto. O castanho evantou-se prontamente e deitou-se de lado, as mãos jogadas no espaço entre os dois, encarando os grandes olhos de Jungkook. 

− Você não sabe como me alivia ouvir isso. − disse, e sentiu sua mão ser entrelaçada à dele, transformando o espaço entre os dois em apenas mais uma das coisas que os ligavam, ainda que devesse servir para lhes afastar. 

Sempre conseguiam estar ligados, no fim das contas. 

O quarto caiu em silêncio novamente, e o Jung sabia que a calma de fora refletia o exato oposto do desassossego de suas mentes.

Jungkook estaria pensando em Jimin, sabia. 

Sabia que estaria ponderando sobre sua pergunta e que, no fundo de seu ser, estaria perguntando-se se aquela era realmente a verdade.

Se não teria escolhido afastar-se da criança inquieta que gritava em meio a socos no ar e que desafiara seus companheiros de sala por insultarem o avô revolucionário. 

Jeon balançou a cabeça algumas vezes, olhando para o nada, e Hoseok sabia, só de olhar para ele, que havia chegado em uma conclusão definitiva.

− Nunca pense que eu não escolheria você milhões de vezes. Você é a melhor parte de quem eu sou. 

Sorriu, beliscando a bochecha do garoto sonolento e fazendo-o reclamar. 

Jung Hoseok não era muito bom com essas palavras que significam muito e que saem muito pouco. Elas ficavam presas em sua garganta, quase como esperando um momento propício, uma situação ideal onde dizê-las fosse tão natural quanto fazer sombra para os olhos com a mão ao observar o sol.

E, consequentemente, jamais encontravam seu caminho. 

O leitor provavelmente conhece alguém assim e, se me atrevo a meter o bedelho ainda mais em suas vidas, ouso apostar alguns anos de minha longa vida que talvez, muito possivelmente, também seja o leitor uma pessoa dessa forma. 

É difícil, para os humanos, falar sobre seriedades como sentimentos. Não porque talvez seja mais fácil falar de outras seriedades, mas o hábito de dizê-las torna-as suportáveis - tome como exemplo alguém que trabalha constantemente presenciando a morte, e tendo que espalhar a notícia de um ente querido vindo a óbito: essa é uma seriedade que, a principio, deve tirar o sono algumas vezes, mas que pela constância e repetição torna-se absurdamente mais fácil. 

− mais fácil para quem diz .− 

Para quem recebe a notícia, o fardo é sempre grande demais. 

Inesperado. 

As pessoas temem a morte. 

E a temem justamente por todos os sentimentos sérios não ditos pela falta de coragem de dizê-los. 

Por esperarem o momento certo constantemente e por terem que, de repente, dar-se conta de que não haveria mais momentos, de nenhuma natureza. 

Jung tinha consciência disso − da efemeridade que fazia com que os homens temessem não dizer tudo que deveriam ter dito −, mas não era como se conseguisse abertamente dizer coisas tão profundas e carregadas de afeto às pessoas das quais gostava, e em qualquer situação, como Jungkook e Jimin sabiam fazer tão bem.

Sequer sabia o motivo de todo o seu medo, mas a perspectiva de dizer coisas lhe deixava nervoso. 

As palavras jogadas de uma vez sempre lhe pareceriam um tanto amargas, e era por isso que nenhuma das declarações que fizera durante a vida, nenhuma das respostas sérias sobre como se sentia ou sobre como se sentiam os outros lhe pareceram sair elaborada o suficiente, maneira que gostaria que soassem. 

No entanto, mesmo com todo o medo e com toda a aflição e com todo o nervosismo que o rondava quando de declarações e sentimentos de afeto por parentes e amigos, dizer que amava Jungkook era, de longe, a coisa mais facil do mundo.

Bastava apenas que o olhasse fundo nos olhos por alguns instantes.

Naqueles olhos encontrava a coragem para ser tudo o que desejasse.

Encontrava seu porto e sua força.

− Eu amo você. Sabe disso, não sabe?

− Eu sei. − Os olhos do mais novo fecharam-se, como se o sono fosse maior que a resistencia que ofereciam, mas um sorriso lentamente desenvolvido adornou seu rosto. Hoseok sentia o velho conhecido calor que irradiava do fundo do peito até a ponta dos dedos numa calmaria de amor dito em silêncio, e refletiu em seu rosto o mesmo sorriso que brotava no rosto de Jungkook. − Eu também amo você, hyung. 

Aconchegou-se mais na cama pequena, empurrando seu corpo de pouquinho em pouquinho até que estivessem os dois existindo juntos, as testas coladas e sorrisos de quem se faziam em casa após um longo dia de trabalho. Mexeu nos cabelos de Jungkook mais um pouco até o garoto afundar a cabeça em seu peito e pegar no sono novamente. 

"Bêbado infeliz", Hoseok pensou, sorrindo para qualquer lugar e rodeando o rapaz com os braços, apertando-o contra si. 

Se ao menos pudesse mantê-lo ali, onde era calmo e seguro e onde nenhuma frustração o atingiria. Se pudesse ao menos prendê-lo contra seu peito quando caminhavam do lado de fora daquele universo que eram e a vida lhe ameaçava com chutes e pontapés. Hoseok os aguentaria sorrindo para protegê-lo.

Mas, bem, não era algo que ele realmente pudesse fazer. 

Suspirou profundamente depois de alguns minutos, esticando a mão que antes abraçava o mais novo na direção de seu celular, na mesinha de centro. 

Esperava que Jimin houvesse lhe mandado uma mensagem, ou ligado. Àquela hora, em dias comuns de bebedeira comum, o Park, mesmo que cansado, era o primeiro a acordar. Sempre era. 

Bem, Jimin estava mudado. 

Não havia nenhuma chamada. Ou mensagem, até o momento. 

O castanho praguejou. 

Sabia que havia algo de diferente nos olhos de Park Jimin nas ultimas semanas e conseguia adivinhar, sem muito esforço, a origem das mudanças que lhe faziam brilhar as íris e afrouxar o nó que o prendia às inseguranças que o mundo lhe trouxera.

Seu avô sempre lhe dissera que, para saber o que um homem ama, basta olhá-lo profundamente nos olhos enquanto fala do objeto de sua paixão. 

Seu avô falava sobre Revolução, e os seus olhos brillhavam, era o que sua mãe contava. Sempre brilharam, desde que ela nascera. E ela sabia. 

Seokjin falava sobre a medicina pela qual sempre tivera apreço desde pequeno, e aqueles grandes olhos castanhos podiam iluminar estradas e campos vastos, ainda que de noite, quando lhe perguntavam sobre os males do homem ou pediam para ouvir sobre seus casos mais complicados. Seokjin falava também sobre amor e primavera, sobre encontrar-se no peito de alguém e sobre a bagunça que lhe trazia o seu companheiro de vida, tudo sem parar de iluminar as estradas com os olhos. E Hoseok sabia. 

Ele mesmo tinha um brilho estranho, aquém, quase louco, quando lhe diziam da dança e quando podia espalhar suas cores e sentimentos presos através de seu corpo. Bastava olhar para seus olhos. E todos saberiam. 

Jimin tinha os olhos brilhantes para todas as coisas da vida, era bem verdade, mas pareciam receber mais energia sempre que os mesmos paravam no silêncio excruciante, no doce mistério que era o garoto de cabelos descoloridos que sempre dormia durante as aulas.

Ah, eles brilhavam diferente... quase da forma como Jeon Jungkook oferecia em seus olhos ao garoto de cabelos ruivos e demasiadamente chamativos.

Quase da forma como os olhos de Seokjin brilhavam ao contar da vida que dividia com um outro rapaz. 

Os olhos de Jimin brilhavam como se finalmente tivessem uma direção a seguir. 

Como se só pudessem iluminar aquele ponto especifico no meio de zilhões de outros pontos. 

Paixão, era o nome que se dava, certo? Porque não, não cogitaria ser aquela outra coisa, aquela coisa mais forte e que lhe corroía as veias só pensar na possibilidade de estar, sequer, começando a crescer no mais novo. 

Park Jimin não podia envolver-se em qualquer coisa que trouxesse aquele sentimento, certo?

Park Jimin não poderia amar alguém.

Ouvira isso do ruivo tantas e tantas vezes, constestara-o tantas e tantas outras sobre o absurda era a ideia de que alguém estaria proibido de amar, que perdera as contas das discussões que tiveram. 

No fim, acabou por entender o fardo que era carregar a vida de alguém nos ombros tendo ossos tão fracos como os de Jimin.

E não podia exigir do amigo que fosse forte e não dobrasse ante a tempestade.

Mas isso havia sido há anos e anos atrás,  quando ainda brincavam nos parques e dividiam sorvetes porque nunca tinham dinheiro para comprá-los separadamente. 

Agora deveria ser diferente, certo? 

Nada de mal lhe acontecera por todo aquele tempo. 

Se fosse para acontecer, teria acontecido há anos. 

Se o tempo houvesse de parar no inverno, não teriam tido todas aquelas maravilhosas primaveras e verões.

Tudo que o rapaz precisava ter feito era dar-se conta disso um pouco antes. 

De que não há como bloquear o mundo inteiro para sempre.

E que não há como fechar os olhos para as luzes que irradiam calor mundo afora. 

Apenas um pouco antes, e quem sabe assim.

Quem sabe dessa forma pudesse ter visto Jungkook com olhos diferentes, quem sabe dessa forma pudesse tê-lo dado a chance da qual, Hoseok sabia, o mais novo era merecedor.

Quem sabe pudesse ter dado a si mesmo a chance de ser plenamente feliz.

Jeon não era uma pessoa qualquer. Faria Jimin viver, se este assim permitisse. 

Faria-o alçar voo e conquistar o inimaginável. Daria-lhe o que tivesse e não tivesse.

Seria casa, cais, porto e tempestade, tudo ao mesmo tempo, se assim Jimin permitisse.

O problema é que não permitira. Não permitira antes e agora sequer dava-se conta da profundidade dos sentimentos que o envolviam lentamente por um alguém completamente improvável. 

Havia, plantado em seu coração árido e difícil, uma semente que germinava apesar das intempéries e do tempo ruim.

E ao contrário de uma supernova que agora implodia no peito do garoto de cabelos alaranjados, o que houvera entre ele e Jungkook sequer chegara um dia a queimar por alguns segundos. 

Não havia alimento, como havia com ele.

Não havia combustível para queimar, como havia com ele.

Com Suga.

Entendia perfeitamente, agora, quando seu avô se referia ao brilho nos olhos de alguém.

E aquecia-lhe o coração que o amigo houvesse encontrado algo que lhe trouxesse luz aos olhos.

No entanto...

No entanto ali, deitado ao lado de Jungkook, com as mãos passeando por sua pele bonita, sentia-se mal que, para que a luz chegasse a um deles, o brilho do outro estivesse à beira de sua extinção.

 

 

 

 

 

 

− Trate de comer alguma coisa quando chegar em casa. – Ditou, afobado, entregando a Jungkook uma sacola plástica com as roupas que usara no dia anterior, já devidamente lavadas e livres dos vestígios de uma bebedeira irresponsável. Jungkook rolou os olhos ante o pequeno sermão. – E não beba mais nada hoje, eu sei que você tá planejando encher a cara e esquecer as coisas. E não pense em treinar nada hoje, porque você tá fisicamente esgotado. E lembre de não-

− “Não responder ninguém de forma ignorante só porque a vida tá parecendo uma merda”. Eu sei, Jung Hoseok. Só me deixe ir e siga seu caminho.

Jung deu-lhe um soco no braço. O mais novo sorriu.

− Você é o pior maknae de todos. Não tem respeito nenhum.

− Hobi, − trouxe o amigo para um abraço lateral desengonçado, e bagunçou seus cabelos castanhos − é difícil respeitar você.

− YAH!

Hoseok tentou fazer-se de sério, mas nunca era o que acabava acontecendo. Quando Jungkook oferecia-lhe aquele sorriso de quem sabia exatamente como acabar com a sanidade de um ser humano, era difícil culpá-lo de qualquer coisa.

Hoseok sempre lhe concederia absolvição.

Viu quando o garoto mais novo seguiu pela rua escura, percorrendo o resto do caminho que faltava para que chegasse em sua casa. Acabara por anoitecer mais rápido do que poderiam ter desejado, e a cama já não poderia servir de abrigo depois do pôr do sol. Relutante, convenceu-se de deixá-lo ir embora após um banho. Emprestara roupas ao garoto e entregara-lhe sua escova de dentes – pois já existia uma escova de dentes pertencente a ele na casa do mais velho – para que estivesse, no mínimo, apresentável, quando chegasse em casa.

Dissera-lhe, também, que iria procurar por Jimin e checar se tudo estaria bem, antes que o mesmo criasse algum plano mirabolante para fugir das garras de sua família preocupada e se pusesse a caminhar até a casa do ruivo.

Gostaria de mantê-lo a salvo de si mesmo e das coisas que fizera no dia anterior, pelo menos até que o sol nascesse novamente.

E foi por isso que, ao ver o garoto alto de cabelos pretos caminhar na direção de sua rua, continuou seu caminho, tomando a rua à esquerda da qual estavam, rumando para a casa do Park.

Park ingrato este que nem sequer lhe enviara uma mensagem durante todo o dia.

Poderia estar adormecido, era uma possibilidade. Ainda assim, mataria-o quando pusesse os olhos nele, por não tê-lo enviado uma mensagem que acalmasse seu coração afoito.

E é aqui, leitor, que as coisas se tornam confusas.

As relações humanas são, muitas vezes, postas em rodas de destino, e denominadas e caracterizadas como “feitas para acontecer daquela forma e naquele momento”, seguindo um padrão comum e, ouso até dizer, clichê. É mais do que comum ouvir, ao prestar atenção numa história, que um fato incomum mudou o destino das coisas em algum momento, e é muito mais do que comum perceber que é possível associá-lo a muitos outros casos exatamente iguais, e que tal fato incomum não tem absolutamente nada de incomum.

Como uma doença, que sempre aparece no protagonista da história assim que seu amor conturbado é resolvido.

Ou a cura de alguma doença aparentemente irreversível, quando a história chega ao fim e o casal consegue, finalmente, ficar junto.

Ou um acidente de carro que acaba causando perdas de memória e experiências ruins.  

Padrões desse tipo, que fazem com que a narrativa torne-se absurdamente previsível em suas tentativas de trazer originalidade.

Mas bem, há de convir que uma história como as classificadas acima, são as histórias dignas de serem contadas.

As histórias que trazem o amor acima de tudo. As que complicam um amor que deveria ser simples com coisas que jamais deveriam acontecer se tudo seguisse seu curso. As que se distinguem dos finais felizes simples pela trajetória conturbada pela qual passaram.

Essas são as histórias que mais gostamos de ouvir.

E também são as histórias que mais gostamos de contar.

Por mais tristes que sejam.

Assim, é difícil narrar-lhes que Hoseok, de fato, encontrara Jimin quando saíra de casa com o objetivo de encontrá-lo.

É difícil narrar-lhes que Park Jimin estava em frente à casa onde morava, que olhara para Hoseok e lhe pedira desculpas por não ligar.

É difícil narrar-lhes tudo isso, porque, quando do encontro, não era exatamente o Park Jimin alegre,de respostas ligeiras e coração aflito com o amanhã quem Hoseok encontrou.

E sim um Park Jimin perdido, sentado no meio-fio, observando os restos de raios do sol como se esses fossem as coisas mais importantes do mundo.

Do mesmo modo como observava as flores na primavera.

Do mesmo modo como observava o mar, de seu mirante favorito, escondido no meio da estrada Dalmaji.

Do mesmo modo como observava os amigos que tanto amava.

Com admiração, alheio a tudo a sua volta e a qualquer outra coisa que não fosse o que lhe capturasse os olhos.

Hoseok deu alguns passos na direção do amigo e, podia jurar, sentiu como se facas perfurassem seu coração galopante.

Sentiu-se afundar nas areias do tempo e ser consumido pela mais explícita forma de dor.

Jimin sorriu ao perceber sua presença, minutos depois. Sorriu como se não fizesse ideia do que estava fazendo. E então perguntou-lhe, a voz distante.

A mente distante.

− Oh, olá, Hobi. Desculpe por não te avisar que cheguei bem, mas é que eu estou um pouco confuso. Por acaso você se lembra onde fica a minha casa?

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoseok apareceu à porta de Jungkook ainda naquela mesma noite.

Apareceu e era incrível como sentia-se compelido a entornar seu copo e apenas despejar todo o amor que sentia pelo rapaz, cada vez que o via prender, infeliz, no peito, as coisas que nunca deveriam ser menos que do peito pra fora.

− Veio fazer o que aqui, hyung? – Jeon abiu a porta de casa após ouvir as cinco batidas ritmadas que eram código dos dois. Estava surpreso, sim, mas não deixou de sorrir e caminhar com o rapaz para o jardim, onde podiam conversar sobre qualquer assunto sem serem atrapalhados por alguém da casa.

− Boa noite pra você também, seu ingrato.

Jungkook riu em silêncio, balançando os ombros para cima e para baixo, como fazia desde o dia em que se conheceram. O mais velho sorriu, mas sorriu pouco.

− Você tá com uma cara não muito boa, Seok. – observou.

Era assim que fazia e por isso Jung Hoseok se sentia tão feliz ao ter em sua frente o garoto alto demais para a idade,e  bonito demais para que qualquer pessoa não o observasse por mais tempo do que o necessário.

 Porque qualquer outra pessoa que o visse naquele momento – qualquer outra pessoa que não fosse Jeon Jungkook −, jamais pensaria ou saberia ler seus olhos.  Qualquer outro anuiria e sorriria para si, ou esperaria por uma piada do tão costumeiro humorista Jung Hoseok.

Porque sabia enterrar seus pensamentos negativos e dores.

Porque nunca os deixava transparecer.

Porque não aprendera que a tristeza também fazia parte da equação, nem conseguira internalizar que não era sua função fazer todas as pessoas felizes.

E bem, não era assim com Jungkook. Ele sempre sabia.

Bastava um olhar na direção do que deveria ser apenas um garoto magrela,feliz demais, hiperativo e tagarela para que soubesse quando algo o corroía. Bastava ver os olhos do Jung apenas uma vez.

Engraçado, não? Como os anos de convivência nos conferem a capacidade de perceber as nuances do que nunca nos fora diretamente revelado pelas pessoas que guardamos próximos a nosso coração.

Aprendemos com o tempo a ler os olhos e perceber a intensidade de seu brilho − ainda que nunca tenhamos ouvido diretamente dos nossos amigos qual tipo de brilho havia quando de um tipo de sentimento.  Nós conseguimos, corretamente, associar o que ninguém mais associaria, e ver, naquele vinco quase invisível entre as sobrancelhas, em mãos levemente ansiosas, em gestos minúsculos, marcas de uma preocupação escondida de todos – às vezes escondida até de quem a tem.

Era assim que Jungkook percebia Hoseok e era assim que Hoseok sabia que era visto. Sabia que nunca poderia esconder-lhe ou enterrar-lhe um sentimento que existisse dentro de si.

Jungkook o via. Nunca deixava de vê-lo.

E agora, especialmente quando seus medos giravam em torno do futuro triste que os aguardava, não era como se quisesse esconder.

Não queria.

Queria poder tomar os amigos no colo e guardá-los debaixo de suas asas, longe de qualquer temporal que pudesse esfriar-lhes os corpos.

Queria poder proteger Jimin da força que o destruía de dentro para fora.

Queria proteger Jungkook do futuro que imaginara para si, mas que aconteceria com outro alguém.

Isso se houvesse tempo para um futuro.

Queria tanto... mas era tão pequeno.

Era pequeno em suas meias palavras e nos risos que distribuía a rodo quando pensava ver tristeza ou tédio no olhar da multidão. Pequeno em seus passos de dança, dos quais nunca realmente se recordava do nome. Pequeno para suportar todo o seu coração enorme, galopando no peito, batendo como se precisasse alçar voo.

Era pequeno demais quando comparado à vastidão do destino. Ao inevitável mudar das coisas.

Era pequeno, apenas.

− Venha comigo. – estendeu a mão ao amigo, inclinando-se um pouco sob a cerca do jardim − Quero ir pro esconderijo.

Jungkook assentiu, sem perguntar-lhe muitas coisas, sem questionar-lhe os motivos.

Segurou sua mão e seguiu, como sempre fazia ao se tratar de Jung Hoseok.

 

 

 

 

 

 

− Já faz muito tempo desde a ultima vez que estivemos aqui. – Jungkook observou as árvores ao redor, a clareira feita no meio de árvores altas que pareciam poder engoli-los quando eram crianças. Hoseok lembrava-se bem do lugar. Lembrava-se de como passavam dias inteiros ali, naquela casa de madeira precariamente montada um pouco acima do chão, num galho de uma árvore retorcida.

Eram apenas crianças, os três, quando encontraram a clareira e fizeram da árvore seu local de encontro e ponto para as fugas mais necessárias. Era para lá que corriam sempre que uma das mães encontrava-se irada por conta da bagunça de um dos quartos e das notas vermelhas, era para lá que corriam sempre que decidiam que precisavam afastar-se do mundo dos adultos e viver em suas próprias mil realidades inventadas e juvenis.

A melhor das escolhas, caro leitor – e acho que há de concordar absurdamente comigo quando desenvolver este raciocínio −, é a de afastar-se periodicamente do mundo dos adultos. Não que ser adulto traga em sua essência a melancolia,a tristeza e as preocupações, mas parece-me que os adultos geralmente adotam estes sentimentos como parte de seu cotidiano com mais facilidade que as crianças.

Parecem ter vivido lutando contra tudo e, pelo cansaço,  apenas desistiram, decidindo abraçar os incômodos e guardá-los em suas pastas de trabalho e escrivaninhas, até que acabe o horário de serviço, ou até que a noite chegue e os rodeie do desejo de ser mais do que são.

E talvez seja por isso, e é apenas uma sugestão desta pobre narradora que lhes conta esta história, que os adultos pareçam sempre amargurados aos olhos das crianças. Porque invejam o brilho de quem ainda não teve que lutar contra a maré todos os dias apenas para manter-se de pé.

Talvez desejem ser tão audaciosos quanto as crianças que foram um dia, sem realmente ter forças para resgatar a si mesmos.

Tenho um certo medo da vida adulta e suas regras e imposições.

Podem levar um homem à loucura.

Eu sei do que estou falando.

Já presenciei momentos de loucura dos que não conseguem seguir a correnteza e afogam-se, desesperados, para serem quem são sem que precisem pedir desculpas por isso.

Já presenciei o fim de vidas de crianças que cresceram demais e que não se encaixavam neste mundo de adultos.

Tendo tudo isto em mente, é aceitável que situações desesperadoras chamem por um pedaço da infância, por um resgate, ainda que não muito preciso, do tempo em que as coisas eram mais fáceis e ser alguém não era tão difícil.

É aceitável que Hoseok precisasse daquilo.

De seu esconderijo juvenil.

E de Jungkook.

− É. Faz bastante tempo. – o mais velho apoiou a palma das mãos no chão de madeira da casa na árvore –que agora mais parecia uma barraca de vendedores de jornal− e, com um impulso, pulou para dentro da pequena construção, sentando-se na borda e balançando os pés. Jungkook o seguiu, impulsionando-se para dentro e ajeitando-se, também sentado, ao seu lado.

− Você lembra como a gente precisava daquela escada pra conseguir subir até aqui?

Hoseok riu, nostálgico, observando as estrelas.

− Sim. E agora nós conseguimos alcançar a casa só de pular do chão até ela.

Jungkook manteve os olhos fixos nos pés inquietos do mais velho, que percebia, estava sendo observado pelo dongsaeng.

− Jimin provavelmente ainda precisaria da escada. – o de cabelos pretos jogou, rindo de forma doída, como que para mostrar que nada do que acontecera na noite passada fizera qualquer estrago que fosse incurável e para, Hoseok sabia, convencer-se de que não havia nada de errado em apaixonar-se por Park Jimin – Ele não cresceu tanto daquela época pra cá.

Rolou os olhos ante o comentário do amigo, rindo logo em seguida.

Era bem verdade. Jimin não conseguira crescer muito.

Sorriu.

− Você lembra de como ele entupia a casa na árvore de vitaminas e energéticos? – encarou os olhos de Jungkook até que esse desviasse a atenção para seu rosto e para o que dizia.

− Sim! Meu deus, foi o mês mais longo da minha vida. – Jeon deixou que o ar saísse pelas narinas e riu silencioso, balançando os ombros para a frente, como se sentisse vergonha pelo passado dos amigos. – Jimin teimou que precisava crescer e gastou todo o dinheiro das nossas balas nesses troços.

− E não esqueça que ele nos acordava todos os dias às cinco da manhã para que corrêssemos com ele por toda a vizinhança.  – Hoseok completou, divertindo-se com as memórias.

− Você o incentivava, Jung. Eu me lembro de você dizendo que ele deveria continuar se quisesse ter um corpo que as pessoas fossem invejar.

− Ei! – empurrou Jungkook com o ombro de forma divertida, como que repreendendo-o, e o outro apenas revidou o movimento, preso aos olhos do rapaz que reclamava por ter a culpa atirada toda para si. – Foi você quem concordou em transformar o esconderijo numa “Academia para Homes Altos e Maduros”, com todos aqueles pesos de academia e barrinhas proteicas.

− Ok, ok, também é minha culpa. − Jungkook riu, culpado, e o rosto de Hoseok iluminou-se com a visão.

Era sempre bom vê-lo sorrindo. Pelo motivo que fosse.

− Viver daquela maneira era bom. – soltou, quando o costumeiro silêncio confortável que vem após uma crise de riso atingiu-os. Jungkook anuiu, o sorriso estampado no rosto bonito diminuindo, diminuindo, até tomar a forma que Hoseok menos gostava de ver.

Até tomar a forma de arrependimento.

− É. Nós nunca conseguimos dizer não pro Jimin. Principalmente eu. – suspirou, como se o peso da realidade na qual se encontrava finalmente o atingisse  e o amor que nutria finalmente lhe trouxesse as dores com as quais já havia se acostumado. – Eu acho que nunca vou conseguir dizer não pra ele. Por isso ele é tão teimoso.

O mais novo riu sem graça.

Hoseok não riu.

Sabia que aquele era o lugar dos três, e sabia que, se desejava esquecer todas as coisas que presenciara e todas as coisas que sentia ao ver a vulnerabilidade dos dois amigos, aquela casa na árvore era o lugar menos recomendado de todos.

Ainda assim, não tinha como evitar.

Era mais forte que ele pensar que talvez Jeon Jungkook encontrasse respostas para seu labirinto e era mais forte que ele pensar que talvez Park Jimin não tivesse que, necessariamente, desmantelar-se antes que o futuro pudesse alcançá-lo.

Era mais forte que ele pensar que ir àquele lugar consertaria os buracos em seu coração e  faria as memórias ruins serem substituídas  e apagadas pelas antigas memórias boas do castelo que haviam construído.

Mas não era assim que funcionava, e Hoseok deveria saber.

A realidade era dura e acordava-lhes todos os dias como a brisa gélida das cinco da manhã que entra pelo quarto quando vamos dormir com a janela aberta.

A realidade era cruel e esmagava-lhes os ossos jovens com força demais para o que seria o limite do suportável.

A realidade era fria e vinha com o gosto de estar sozinho, e da coisa que mais odiava no mundo.

Vinha com gosto de não ter poder algum sob o que acontecia e de não poder ajudar ninguém.

− Você conversou com ele? – Jungkook pronunciou-se, depois de ver que o assunto trazido à tona era o mesmo que o machucava como farpas desde que eram pequenos.

Hoseok expirou profundamente, soltando o ar.  Sabia que o outro perguntaria sobre Jimin. Especialmente por conta do acontecido na noite anterior.

− Não conversamos sobre ontem. – decidiu ser sincero, o mais sincero possível quanto podia ser. Jungkook não merecia que lhe enganasse e encobrisse as verdades. Seria um péssimo amigo se o fizesse. − Ele estava chegando em casa quando o encontrei. Passou o dia na casa do Suga.

“Por favor, que isso não o machuque demais.“

“Por favor.”

Era o que pensava.

Mas sabia que machucaria e que causaria inveja e causaria ciúmes e machucaria o coração de Jungkook.

− Sei. – o mais novo desviou os olhos dos de Hoseok, e passou a observar o céu.

− Ele não se lembrava de onde morava.

Jungkook nada disse.

Jung perguntava-se em quê estaria pensando.

Se estaria irado com o ruivo.

Se estaria irado consigo mesmo.

Se desejava que o amigo estivesse feliz.

Se desejava nunca ter tido seu coração fisgado por Park Jimin e a confusão que havia dentro dele.

− Ele parece gostar realmente do Suga, não é? – o garoto jogou as palavras, como se contasse aquele segredo às estrelas.

Ou talvez como se contasse aquilo para si mesmo.

Como se precisasse dividir com o cosmos o que tanto lhe parecia entristecer por dentro.

Jung não acreditou que devesse respondê-lo. Seu dongsaeng não dissera aquilo para ter uma resposta.

Dissera para que deixasse sair aos poucos.

Para que a ideia fosse entrando em sua mente.

Para tentar aceitar.

Hoseok segurou sua mão e trouxe-o mais para perto, fazendo-o descansar a cabeça em seu ombro.

De alguma maneira, podia sentir que sua presença acalmaria o coração cansado do amigo.

De alguma maneira, podia sentir que faria parte da resposta que o curaria, no fim de toda a tempestade.

Jungkook agarrou-lhe a cintura, num abraço triste.

Naquele dia choraram por Jungkook, que tinha finalmente a resposta para o amor que há anos desejava oferecer.

Choraram juntos por Park Jimin, que justo naquele momento, na ocasião mais inoportuna, começava a sentir as borboletas no estômago que tanto demoraram a acompanhar suas primaveras.

Choraram por não saber quem eram, por não saber o que o futuro guardava para eles, por não saber como fugir do tique-taque que insistia em cronometrar cada pedaço da vida dos dois.

E beijaram-se lentamente, pela primeira vez, depois de chorar pelos amores que nunca foram capazes de viver.

Beijaram-se como se, de alguma forma, pudessem, entre lábios e lágrimas, consertar as paredes quebradas que sustentavam as construções em ruínas que eram seus corações.

 

 

 

 

Jung Hoseok sempre ouvira que era como um raio de sol.

E quem sabe, como raio de sol que era, fosse ele a trazer um fim à tempestade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“[...]

seja estrela que me beija

oriente que me reja

azul amor beleza
 

faça qualquer coisa

mas pelo amor de deus

ou de nós dois

seja.”

 


Notas Finais


BA-BAAAAAAAM ASDIBNAKFSLNAK
Queria dizer que eu não sei nem qual é o nome do shipp deles dois, aiusdmkasd mas nessa fanfic foi mais forte que eu não shippar. kkkk
O que vocês acharam? Não vou dividir nenhum dos meus pensamentos sobre Jimin, Suga, Hoseok e Jungkook, esses bejo aí, nem nada. sajfnaksdnakl quero ouvir vocês.
E quero saber se vocês estão conseguindo ligar os pontos da historia, sfnkmalsfnkms
Preciso ir agora, porque tenho trampo amanha.
Não prometo uma atualização em seis dias, mas prometo ser bem ligeira e adiantar o próximo assim que eu puder!


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