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História Ameno - XII - Assim Que Te Quero


Escrita por: RunningDevil

Notas do Autor


Gente, eu só posso realmente agradecer a vocês pelo carinho imenso que vocês dão a essa fanfic.
Eu juro que quando voltei a escrever, pensei que muita gente deixaria Ameno, que não daria mais tanta importancia, mas sempre que vocês me mandam uma mensagenzinha, curta que seja, dizendo o quanto gostam dessa narrativa, eu me sinto mais proxima de vocês e mais próxima de mim mesma. Ameno pode não ser a melhor história, ser a mais popular ou a que arranca mais suspiros, comentários, mais visualizações, mas eu simplesmente não me importo. Só de poder trazer um pouquinho de um mundo mais ameno pra todos vocês eu já sinto como se minha tarefa estivesse concluída. Eu estou morando em São Paulo agora, e às vezes é tão difícil que tenho vontade de gritar. De sair e recomeçar, de voltar pra minha cidade, pra minha velha vida, pra tudo que eu conheço e que é confortável pra mim.
Mas então eu penso que não existe avanço em se dar passos pra trás. Eu quero continuar seguindo, com vocês todos.
Obrigada mesmo <3
Esse capitulo tem uma surpresinha no final, ehhehehehe. Deleitem-se e me contem o que acharam depois <3
Vamos a Min Yoongi, que eu já não aguento de ansiedade.

Capítulo 12 - XII - Assim Que Te Quero


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Chegastes à minha vida

com o que trazias,

feita

de luz e pão e sombra, eu te esperava,

e é assim que preciso de ti[...]”
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Yoongi não saberia dizer precisamente quando parou de empurrar o rapaz de cabelos alaranjados para longe, mas sabia que havia parado. 

Ele podia ser muitas coisas, mas não mentia para si mesmo.

Isso era um problema.

Não saber evitar as coisas significava perder o controle.

Yoongi detestava perder o controle de mais coisas em sua vida.

E Park Jimin era, sem dúvida, algo que Yoongi não sabia controlar.

Mesmo que não soubesse a data exata de sua mudança de atitude, sabia que ela acontecera. Talvez tenha acontecido no momento em que percebeu os olhos pequenos de Jimin quando sorria, ou a disposição gigantesca do garoto para tornar-se seu amigo, mesmo queYoongi fosse a pessoa mais antipática do mundo.

Talvez tenham sido as respirações de um Jimin adormecido encostado em seu ombro quando cochilara certa vez no tronco da árvore e fora caindo, caindo, inclinando em seu sono, até que sua cabeça estivesse recostada no ombro de Yoongi.

Nessa ocasião, o loiro rolou os olhos e bufou devido à invasão de espaço.

Mas não se afastou.

Talvez tenham sido seu tom hiperativo de fala, o tique de jogar os fios da franja para trás − os dedos correndo o couro cabeludo, os olhos brilhantes quando observava as flores de cerejeira.

Talvez − e muito provavelmente que fosse esse o motivo crucial, − tenha sido o morno e os cabelos alaranjados que encontrou da primeira vez que pôs os olhos no garoto, e que só lhe traziam à mente Taehyung.

Seu Taehyung.

De brincadeiras fáceis, cabeça na lua e personalidade de criançaSenti que nunca cresceria.

Como mencionado antes, caro Leitor, Yoongi podia ser várias coisas, mas não mentia para si mesmo. 

Suspirou.

Sentia falta da juventude que lhe apossava o corpo emoldurada naquele sorriso quadrado, mesmo que ainda fosse jovem.

Sentia falta do outono e do calor calmo que entrava pela sua janela em dias de chuva com seu menino de lua.

Sentia falta dele.

E encontrara alguém que conseguia lhe penetrar a fortaleza, como Taehyung um dia fizera.

Yoongi sabia que, enquanto fosse o passado a aquecê-lo, jamais conseguiria deixar de compará-lo, de vê-lo em todas as coisas boas e bonitas que existiam nessa vida.

Jimin era, sem duvida alguma, a melhor e mais bonita coisa que aparecera à sua frente nos ultimos tempos.

Ah, Jimin...

Mantivera sua distância por perceber os mesmos olhos doces e castanhos.

Mantivera distancia por perceber os cabelos ruivos que tanto amava e a energia juvenil e inocente que o enchia de gozo de estar vivo. Mantivera distância porque sabia que, caso matasse sua curiosidade de Jimin, mataria um pouquinho a si mesmo no processo. 

Assinaria sua própria certidão de óbito. 

Cairia por ele.

Mas então ele viera até seu trabalho, como uma lufada de ar que adentra os espaços pela janela mais inesperada. E segurara-lhe o cigarro enquanto ouvia atentamente tudo que Yoongi cuspia rudemente. E o desafiou a precisar de alguém. 

Precisava de alguém. Deus, como precisava.

A força motriz da vida de Yoongi era a presença, ainda que negasse aos quatro ventos. 

Era a presença o perseguia e o paralisava, mas que tambem lhe dava forças para que fosse em frente. 

O loiro nunca pensou ser merecedor.

Mas lá estava Jimin, acreditando piamente que Suga era maior que a carranca e a frieza e as botas de combate.

Acreditando nele. 

Há quanto tempo não ouvia verdades de alguem?

 

“− E o que é melhor pra sua vida, então, senhor sabe-tudo? Viver isolado o ensino médio todo e depois se trancar numa caverna?”

"− Escuta, Suga, eu acho que você só tem medo de perceber que precisa dos outros”

 

Jimin não precisava saber que suas palavras afetavam.

Ninguém precisava saber de nada que viesse de Suga.

Assim que se vira cercado pelo desejo de sentir-se aquecido, depois da conversa sobre cigarros, meias mentiras e presença, pensou em sumir novamente.

Não era como se sua presença ou ausencia realmente fossem relevantes naquela escola.

Estava pronto para dar meia volta e rumar portão afora naquela segunda feira depois do fatídico dia nos fundos da loja de conveniências.

Mas então, novamente, ele viera.

Jimin viera.

Acenara para o loiro energicamente, e em sua animação deixara de prestar atenção no caminho a frente, chocando-se com um bolo de alunos e fazendo Yoongi rir  e rolar os olhos. 

Como alguem poderia ser tão estupido e desastrado?.

Era quase como se Jimin estivesse pareo a pareo com Namjoon no quesito "destruir tudo ao seu redor".

Queria gargalhar.

Mas sabia, sabia que não devia.

Não era um mundo onde ele poderia sorrir à vontade.

Não era o mundo no qual ele deveria viver.

E, antes que o ruivo percebesse, lá estava Suga, disfarçando a risada gostosa, sufocando-a como se nunca tivesse acontecido, com sua tão costumeira mascara de indiferença.

Não plantou os olhos no garoto sequer uma vez enquanto atravessava o corredor rumo à sala de aula, e ignorou-o por todos os dias que se seguiram. 

Mal sabia Jimin que a coisa que Yoongi mais quisera fazer no momento em que tropeçara e fora de encontro àquela pequena multidao fora checar seu rosto vermelho de vergonha, e ver crescer o sorriso que lhe transformava os olhos em meias-luas, assim como os mesmos sorrisos transformavam o rosto de Kim Taehyung. 

Assim se seguiram os dias e,ainda que se obrigasse a manter sua distância, sabia que, desde algum momento entre a sua volta ao colégio, a árvore, os xingamentos, a conversa mal costurada e a presença constante, passara a gostar da companhia de Jimin. 

Não deveria, sabia.

E se esforçava para não querê-lo por perto.

Mas então, novamente, naquela sexta feira, ele viera.

Viera atrasado e Yoongi já não tinha controle sob os sorrisos que lhe oferecia, nem teria como explicar a ninguém suas ações caso perguntassem por quê fingira-se de adormecido em sua melhor atuação e observara, os olhos em frestas pequenas para que nao fosse descoberto, os olhos do rapaz encarando-lhe como se fosse a peça mais interessante numa exposição.

A peça que ninguém nunca entende.

Mas que pode ser observada por horas e horas a fio.

Yoongi se sentiu alguém.

Além de seu apartamento pequeno.

Além de suas notas bem calculadas.

Se sentiu exposto.

E por incrível que pareça, não se incomodou.

Os olhos de Jimin varriam-lhe a pele, ele sabia.

Como se pudessem ver cada pequena sarda que tinha perto do nariz, cada um de seus sinais espalhados como pontos luminosos pelo pescoço.

Aqueles olhos iam-no despindo.

Iam tentando lê-lo.

Parando em cada machucado, Yoongi sabia. 

Queimando-lhe a pele com sua quase-brasa indefinida e cor de laranja.

Não saberia explicar a si mesmo, ainda que tentasse, por que justo agora deixava a guarda baixa e se permitia ser afetado por alguém, se aproximar de alguém, por que se permitia, por que necessitava da atenção que agora recebia do garoto.

Talvez houvesse um limite para a solidão de alguém.

Não saberia explicar, tampouco, porque seu coração falhara uma batida quando sentiu Jimin pender o corpo em sua direção, a mão erguida pronta a tocar-lhe o rosto enquanto fingia dormir. 

Não saberia explicar porque não reagiu. Porque permaneceu quietinho, esperando, ansioso, o toque.

 O toque que não veio.

Expirou um pouco mais forte quando a tensão lhe abandonou os musculos, assim que Jimin retraiu os dedos e desistiu de invadir seu espaço.

Sentiu-se irritado por razão nenhuma.

Ele já havia sido inconveniente varias vezes, passado dos limites mais vezes que Suga conseguia contar.

 O que custava terminar o que começou e tocá-lo?

Yoongi não mordia, deus do céu.

Não que Suga quisesse sentir o outro perto, tocando-lhe o rosto.

Não que estivesse curioso para saber o quão quente a pele dourada pelo sol era.

Longe disso.

Bem longe.

É claro que não. 

Só odiava coisas inacabadas e pessoas que desistiam no meio do caminho. 

É. Era isso.

Que outra explicação haveria de existir?

Nenhuma, correto?

Pela segunda vez, pensou em desaparecer. Quem sabe abandonar de vez todos os fantasmas do passado

Mas dessa vez, não conseguia se ver fugindo só.

Dessa vez via-se correndo a estrada que rumava à montanha Dalmaji na primavera.

A estrada das flores de cerejeira.

E via Jimin. Um pouco à sua frente, os olhos brilhando, enquanto voltava o corpo em sua direção e jogava os cabelos alaranjados para trás no tique tão habitual que Yoongi aprendera a achar graça.

Não estava mais sozinho, não se sentia mais sozinho com Jimin correndo ao seu lado.

Mesmo que Jimin fosse apenas uma sombra de Kim Taehyung.

Lembrava-se de ter aberto os olhos.

De tê-lo assustado, mas de não ter sido descoberto em sua pequena farsa de falso adormecido.

De tê-lo repreendido por ter perdido o horário da aula observando-o dormir.

Ainda que não realmente a sério, porque queria-o ali lhe observando.

Queria a presença.

Percebera que, ainda que apreciasse a solidão e a plenitude de ser alguém inteiro, não gostava de ser só.

E esperava não ser o único no mundo a se sentir dessa forma.

Naquele dia, Jimin tropeçara novamente.

E dessa vez deixou-se rir. Deixou-se precisar e deixou-se flagrar pelos olhos amendoados sumindo numa fina linha por conta do sorriso imenso que abrira em resposta ao riso de Yoongi.

Viu, naquelas duas linhas, mãos estendidas para si. Viu que havia alguém que o queria por perto, que gostaria de viver consigo, de partilhar consigo as experiências e os risos e os cansaços.

Viu também que merecia uma segunda chance.

Merecia uma nova vida.

Novos amigos.

Não estava fadado à solidão absoluta da qual acreditava ser feito.

E era por isso que agora observava o céu noturno, deixando seu trabalho e, depois de muito tempo de apenas um caminho, de apenas uma possibilidade, via sua noite se transformar no inesperado de não se estar mais só.

Bateu as botas de combate no tapete de boas vindas da lojinha de conveniências e pôde perceber Jungkook andando à frente, sendo acompanhado por Hoseok, o garoto que tanto lhe enchera a paciência e que agora também dava indícios de que tinha a mesma capacidade de Jimin de escorregar para dentro de sua vida.

Ainda que no caso de Hoseok nunca se tratassem de escorregadas singelas, mas sim saltos de precipícios, agressivos e ritmados, batidas fortes e chutes à porta de sua vida, como se fosse derrubá-la a qualquer momento caso não o deixasse entrar.

Yoongi havia destrancado a fechadura e retirado os cadeados. Só precisava girar a maçaneta e tudo aconteceria.

Riu um pouco.

Estava realmente prestes a enfrentar a noite com um trio de adolescentes de último ano. Com um louco escandaloso, um coelho alto e estranho e um baixinho ruivo que lhe bagunçaria, tinha certeza disso.

Não sabia o que lhe aguardava.

Estava empolgado.

Jimin olhava, um tanto apreensivo, para o loiro. Tinha algo a dizer, Yoongi sabia.

Jimin sempre tinha algo a dizer.

Era um tagarela.

− Você vai ficar aí parado? – perguntou, ao perceber que os outros já estavam a uma distância significativa enquanto o ruivo sequer dava sinal de estar prestes a sair do lugar.

− Sabe, você não precisa ir se quiser. – Yoongi arqueou uma sobrancelha ao ouvi-lo – Eu não quis invadir seu espaço, é só que o Hoseok-

− Jimin, você fala demais.

Quase riu quando o outro calou-se imediatamente ante à sua frase. Percebera que os anos de isolamento ainda eram barreira grande demais, e Jimin tinha medo de escalá-las e acabar sendo acertado por algo que viessse lá de cima e que o fizesse cair.

Não poderia culpá-lo.

Não estaria seguro se fosse ele.

Não estava seguro de nada daquilo, mesmo sendo ele mesmo.

Não sabia o que estava fazendo. Apenas fazia.

Procurou por um cigarro nos bolsos e olhou para o céu.

Gostaria de ser mais simples. Gostaria de poder dizer que não era bom em fazer amigos mas que estava disposto a tentar.

Gostaria de expor o que lhe machucava e as dores que trazia como bagagem. Gostaria de deixar-se tocar livremente por algo, mas endurecera tanto que o processo oposto parecia doloroso, expositivo demais, revelador demais.

Perigoso demais.

Quem quer que gostasse do dito mistério que envolvia os que mais se calavam e engoliam suas palavras, não entendiam o sofrimento de tê-las gritando em sua cabeça, sem poder sair.

Não entendiam a aflição de não conseguir expressar. De não conseguir deixar que alguém te toque completamente, que conheça seus segredos.

O mistério tão bonito aos de fora acabava com a capacidade de ser algo além de mistério de dentro para fora.

Tudo que escapasse do controle pareceria errado, pareceria vulnerabilidade, algo que feria a imagem de um alguém inquebrável e que seria a prenuncia de ruína.

Tudo que viesse de dentro pareceria errado, quebrado, incompleto.

Insuficiente.

Ainda que não fosse.

O céu escuro lhe lembrava de suas limitações.

Percebia que era pequeno, que sua vida significava pouco ou quase nada se posta ao lado de toda a vida no mundo, de toda a história, de todos os planetas e sistemas e estrelas e constelações.

Ainda assim, conseguia ver sentido.

Via além, via as bordas daquele infinito e sabia que a escuridão o levaria a um destino.

Não era pura e simplesmente uma grande escuridão indecifrável.

O céu tinha todas as respostas. Bastava que soubéssemos procurá-las.

Sentia que olhar para o céu, em noites limpas como aquela, teria a mesma sensação de ouvir de alguém a resposta que sempre procurara em si mesmo, mas que nunca conseguira achar sozinho.

Teria a sensação dos olhos de Jimin que, podia sentir, estavam observando-o.

Acabou por observá-lo também.

E era algo que nunca fazia, encarar os olhos de alguém.

Tinha medo de ser descoberto, tinha medo de que pudessem encontrar as falhas que tanto gostaria de mostrar, mas que tanto lhe amedrontavam.

Esse medo quase desaparecera com Jimin naquele momento, porque, quando olhou profundamente em suas Iris amendoadas, viu que o garoto estava exposto. E pronto a atirar-se no desconhecido que era “Min Suga” para ele.

Jimin parecia não ter medo, e por isso Yoongi também não poderia tê-lo.

Sentiu que era convidado a ser preenchido da matéria que era feito Park Jimin. Tudo que precisava fazer era dizer sim.

Não sabia se havia espaço para o Park no pequeno quartinho que era, mas abriria a porta, e relocaria os móveis, e limparia as prateleiras, tudo para que Jimin coubesse e decidisse visitá-lo de vez em quando.

Pensaria até em abrir espaço para Hoseok.

Não tanto espaço.

Talvez um cantinho perto da casinha do cachorro, num lugar bem distante onde pudesse mantê-lo quieto e longe de problemas.

De qualquer maneira, aceitaria o convite e o deixaria entrar.

Deixaria que o descobrisse, ainda que de pouco em pouco.

Como poderia dizer não?

Como poderia ser diferente, quando era observado daquela forma?

Quando era observado como se fosse alguém? Como se finalmente estivesse sendo visto, como se efetivamente existisse daquele momento em diante?

Podia enxergar-se nos olhos de Jimin, e o enxergava pela primeira vez de tão perto.

Deixou-se ser visto.

Permitiu-se ver.

Estava feliz.

Deixaria-o entrar.

− As noites de sexta com os amigos podem ser um saco – Jimin advertiu mais uma vez, mas dessa vez não parecia realmente disposto a deixá-lo ir.

− Eu concordei com isso, Park. Pare de pensar demais e só faça a minha noite valer a pena.

Jimin sorriu, os olhinhos pequenos sumindo novamente.

Yoongi adorava como os olhinhos se perdiam em seu rosto.

E estava pronto, também, para deixar-se perder, mesmo que lentamente, no que parecia ser, indiscutivelmente, inegavelmente, uma boa vida.

− Pode deixar. –Jimin assentiu.− Eu vou fazer valer a pena.

 

 

 

 

 

.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seokjin respirou fundo, o nariz roçando nos cabelos de Namjoon em meio aos cobertores, travesseiros e corpos que se confundiam na manhã chuvosa.

Era uma boa vida, o rapaz sabia. 

Mesmo que para vivê-la fosse preciso acobertar alguns segredos. 

Mesmo que para vivê-la fosse preciso anular certas partes de si mesmo.

Mesmo que para vivê-la fosse preciso mentir.

Suspirou.

− Nam? − precisou forçar um tanto as palavras para que saísem de tão baixo o volume de sua voz. 

− Só mais cinco minutos. – o loiro quase ronronou.

− Você precisa trabalhar. Da última vez que me pediu cinco minutos, foi demitido.

− Era um trabalho péssimo, não merecia que eu saísse da cama por ele.

Jin suspirou mais uma vez, mas sorriu.

− O que eu faço com você, hein?

Namjoon remexeu-se na cama, despertando a contragosto.

− Eu tenho uma lista enorme de coisas que você poderia fazer comigo. E a gente nem precisaria sair dessa cama.

Ele nunca vai mudar, pensou.

Não que fosse algo ruim.

Não pediria que mudasse nem em um milhão de anos.

Perguntou-se como poderia se sentir tão amado nos braços de alguém. Como podia adorar todas as partes de se estar com o homem meio adormecido, desde sua voz rouca e grave aos cabelos estranhamente descoloridos, aos braços longos e sorrisos de poucos olhos e muitas covinhas. 

Perguntou-se como alguém nessa vida podia sentir-se tão completo assim. 

Era tudo de Namjoon. Os pensamentos confusos de Jin, seu corpo e sua alma. As manhãs mais turvas, as ideias mais obscuras, seu presente e seu futuro. Tudo a ele entregava, tudo a ele pertencia.

Tudo, exceto o que não quisessem mostrar sobre o passado.

Era o acordado.

Este ficaria sempre para trás.

E talvez por ser lar sem que precisassem vasculhar a bagagem que traziam que se conformasse em amar assim, lento, silencioso, para que o mundo não os descobrisse. 

Felicidade assim não viria escancarada junto ao peito.

Felicidade assim não podia ser ouvida por mais ninguém. 

− O que acontece quando a gente acordar, Nam?

Já fizera essa pergunta milhares de vezes.

Já ouvira sua resposta simplista milhares de vezes.

Mas ainda assim.

Precisava se convencer. 

Em momentos assim, quando precisavam encarar a vida do lado de fora do pequeno apartamento, tinha medo.

Medo de acabar, de ser pouco.

Precisava que alguém acalmasse seu coração. 

Precisava de Namjoon.

E tinha medo do que quer que existisse em seu passado o arrastasse para longe.

− Quando a gente acordar, eu ainda vou estar aqui. − ergueu a cabeça na direção do mais baixo, e apoiou seu braço no travesseiro, ao lado de Seokjin, erguendo minimamente o corpo e usando a posição que criara para roçar os dedos por seus cabelos escuros. Sem em nenhum momento deixar de olhá-lo nos olhos profundamente, como só ele sabia fazer. − Eu ainda vou estar aqui, e vou estar aqui sempre que me pedir, e sempre que não pedir. Vou destruir as coisas da sua casa sem querer e tocar as minhas músicas estranhas pra você. Vou te beijar como se a vida dependesse disso, e nós dois vamos foder tanto que vamos ficar cansados o dia todo, sem querer sair da cama, como agora. – fez uma pausa. − E vou roubar suas cuecas cor-de-rosa também.

Seokjin riu. Namjoon sempre fazia isso.

− Eu sei que vai. Você é uma máquina de destruição.

− Obrigado, obrigado.

− Não foi um elogio.

O loiro gargalhou alto.

Uma pausa confortável se seguiu.Em determinado momento, Seokjin abriu a boca para dizer algo, mas foi pego por um sinal do outro para que permanecesse em silêncio.

Namjoon o olhou do mesmo modo arteiro de sempre. O sentimento, no entanto, era completamente novo.

Jin não se recordava de já ter visto aquela serenidade combinada à tensão em seus olhos antes.

O loiro depositou um beijo demorado em cada uma das pálpebras do mais velho, fazendo-o sorrir, e depois parou em seus olhos.

− Quando acordarmos de verdade e deixarmos esse quarto, você sabe que não vai ser fácil. Você sabe que eu ainda vou ter muita coisa pra deixar pra trás, sabe que eu ainda vou ter todas as marcas do meu passado, mesmo querendo muito que só existam nós no meu presente.

 Jin arregalou os olhos levemente. Nunca era Namjoon o primeiro a mencionar ou fazer referencia a qualquer coisa sobre o tempo que vivera antes de Seokjin. Olhou automaticamente para o peito desnudo e liso, coberto de cortes antigos de tamanhos diferentes, marcas de coágulos passados  e cicatrizes amareladas.

Tudo gritava passado, mas tudo era ainda carregado no presente, e Jin podia ler nos olhos pequenos e escuros que, por mais que não mais doessem, ainda doíam. 

Expirou, os olhos tristes.

A realidade lhe atingia como se fosse um saco de pancadas.

− Eu sei.

− Eu sei que sabe. Sei e é por isso que eu te amo, Kim Seokjin. Por alguma coisa que você vê em mim, por mais que eu não consiga ver. Por não ter desistido de me mostrar que eu merecia amor. Por roubar o meu tempo e foder a minha cabeça e por me deixar o tempo todo me perguntando "como diabos eu posso merecer alguém assim". É por isso que eu nunca vou embora, Jin, e é por isso que você não precisa dar duas fodas pro que pode acontecer quando nós acordarmos. Porque eu te amo e vou estar aqui.

Seu queixo caiu.

Era a primeira vez.

A primeira vez que ele lhe dizia "eu te amo".

− O... O que você disse?

Namjoon riu, ainda brincando com os fios longos de Jin.

− Claro, não é só por isso, né. Você também é bonito para um caralho e me alimenta. Se nao fosse por você eu ia ter morrido de desnutrição tentando fazer algo diferente de ramen sem destruir uma cozinha. 

Ele desconversou.

Sempre desconversava.

Ainda assim Seokjin deixou o sorriso terno crescer, lentamente, como se faziam nos momentos em que a felicidade preenche de pouquinho em pouquinho cada parte do corpo, aquecendo devagar até que te ponha em chamas por todos os lugares.

Namjoon também sorriu. Daquele jeito seu, tão cheio de covinhas, tão precioso.

E sorriu porque era Jin o seu porto. 

Era Jin o lugar para onde sempre voltaria depois das turbulencias e tempestades.

Era Jin o dono dos seus novos pontos finais e de suas novas composições. O que compunha agora era leve, calmo, vinha com a felicidade mansa de um amor sem pesos.

Não sentia o peso do passado ou as cobranças de ser alguém além do que era, uma versão completamente diferente de si mesmo, daquele eu torto e cheio de manias, que tinha uma tendência estranha a arruinar tudo que tocava e a caminhar por aí como se soubesse a resposta para todos os segredos e mistérios da humanidade, mesmo que fosse pequeno e assustado.

Seokjin vinha de peito aberto e coração na mão. Entregara-se para Namjoon desde o princípio, desde que o loiro pusera os pés em sua casa e pedira-lhe abrigo e calor, perdido e assustado demais para confiar em quem quer que fosse.

Permitira que Namjoon fosse entregando-se, pouco a pouco.

Deixara-se chover, mas sempre esperara que o mais novo decidisse a hora de dançar na chuva.

A felicidade vinha com Kim Seokjin e as roupas cor de rosa, o celular ridiculamente velho e antiquado que adorava, as melodias que cantarolava, o gosto pelo que quer que lhe parecesse intrigante, o amor.

O amor por ele vinha livre, como amor sempre lhe parecera ser.

Jin era quem o inspirava a ser alguém melhor para si e para os outros.

Jin era o começo e o meio de suas canções.

Era suas mínimas, semínimas, silêncios e escalas.

Era o necessário para que compusesse, pelo tempo que lhe restasse nesse mundo, todas as melhores músicas, melhores quadros, mellhores poemas.

Era o princípio ativo que o mantinha em movimento.

Era, e sempre seria, para Kim Namjoon, eterna, desesperada e incessantemente,

Kim Seokjin.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“e é assim que preciso de ti,

assim que te amo,

e os que amanhã quiserem ouvir

o que não lhes direi, que o leiam aqui

e retrocedam hoje porque é cedo

para tais argumentos.

Amanhã dar-lhes-emos apenas

uma folha da árvore do nosso amor, uma folha

que há de cair sobre a terra

como se a tivessem produzido os nosso lábios,

como um beijo caído

das nossas alturas invencíveis

para mostrar o fogo e a ternura

de um amor verdadeiro.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


NAMJIIIIIIN ASDJHASIFJNAS EU AMO NAMJIN AMEM.
E o Suga narrando esse capítulo? Eu amo os capitulos que o Suga narra, porque você percebe como ele vai se sentindo sobre Jimin ao longo do caminho.
tao bonitinhosssss
até, xuxus!


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