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História Ametista - Cinco


Escrita por: eianasouza

Capítulo 5 - Cinco


  Toda a construção do castelo era refinada. Composta por mármore e gessos esculpidos por algum artista muito famoso. Ele mantinha a decoração no tom marfim e vermelho-vinho, algo que não cansava os olhos facilmente.

  As escadas, todas de mármore, carregavam agora o barulho dos saltos das selecionadas, enquanto subíamos para o segundo andar, o andar que fora reservado apenas para as selecionadas.

  Não precisei que me falassem qual era o meu quarto, já que vi o soldado Mark parado na última porta do corredor. Eu provavelmente me atrasaria em todas as ocasiões já que o corredor é enorme, mas gostei do fato de ele ser um pouco afastado da bagunça.

  O quarto era enorme, tinha basicamente a decoração do resto do castelo, mas parecia ser mais confortável e eu gostei, já que passaria dias indefinidos ali.

  Quando sentei na cama, desejei nunca mais sair de lá. Os lençóis eram em um tom creme e pareciam ser de seda. A cama era tão grande que eu, Emerald e minha mãe caberíamos ali sem precisar nos espremer.

  Assim que a porta foi fechada pelo guarda, três meninas apareceram em minha frente. Elas vestiam um uniforme cinza que eu conhecia muito bem. Elas são Seis, assim como eu.

  — Nós vamos servi-la durante sua estadia no palácio, senhorita. – Falou a ruiva.

  Aquilo de certo modo me incomodava. Saber que eu tinha a mesma vida que elas, na verdade a delas é ainda melhor, já que ser uma criada real é o ápice de uma Seis, mas mesmo assim elas estavam lá para me servir.

  — Podem me chamar de Ametista. – Sorri, tentando transparecer o máximo de confiança.

  — Nós somos Alya – Disse a ruiva, que percebi ser a chefe, ou a mais rígida – Lyla e Celeste – Apontou para duas meninas loiras que pareciam gêmeas.

  — Prazer em conhece-las. – Desmanchei o sorriso, julgando se era certo ou não me jogar naquela cama na frente delas. A verdade é que eu não ligo, pelo menos não no momento, não tinha ninguém para julgar se eu era uma bela dama agora.

  — Vamos prepara seu banho, acredito que queria retirar tudo isso. – Ela apontou para o meu corpo, que já estava deitado no colchão de penas, pelo menos parecia ser.

  — Com certeza.

 

  Não consegui decidir se aquela era a melhor ou a pior sensação da minha vida. Era bom sentir as mãos delicadas de Lyla e Celeste me limpando, mas o fato de eu nunca ter ficado nua na frente de alguém me incomodava. 

  Depois que elas terminaram fiquei na banheira até a água esfriar. Aquilo era tão relaxante que por um momento esqueci que estava em uma competição idiota para conquistar o “coração” do príncipe.

  Quando saí, elas me vestiram com uma camisola de cetim em tom creme. Sua alça e busto cobertos por renda da mesma cor. Me senti indo para um desfile, mesmo me sentindo nua de tão delicado e fino que o tecido era, claro, aquilo seria ótimo para dormir.

   Quase me escondi debaixo da cama tentando me cobrir quando o guarda Mark abriu a porta, com uma pequena mesa de rodinhas, com pratos, uma garrafa e uma taça, deduzi que era o meu almoço.

   Ainda na cama, Alya me trouxe a comida. Ela serviu o conteúdo da garrafa na taça e tirou os talheres de um pequeno pano em que estavam enrolados.

  — Obrigada. – Disse sorrindo para ela. – Mas acho que a partir de agora eu mesma posso me servir, Alya.

  Não sei se havia soado rude, mas eu me sentia estranha com a possibilidade de nem mesmo poder colocar minha própria comida.

  Tinha tanta comida ali, que por um momento achei que tinham servido errado e aquela comida era para alguma reunião que a rainha estivesse tendo com alguém muito importante. Assim que descobri que a comida estava com o seu destino correto, praticamente obriguei as minhas “criadas” a comerem comigo.

  — Isso é muito bom. – Disse ao sentir a bebida tocar minha boca.

  — Se chama vinho, senhorita. – Uma das gêmeas, que julguei ser Celeste, falou. Já era infortuno de mais da minha parte pedir que elas me chamassem pelo nome? Fiz mesmo assim.

  — Sabe, não me importaria em ser chamada de Ametista, muito pelo contrário. – Sabia que estava exigindo muito além do que elas tinham sido treinadas, mas o fato de serem da mesma casta que eu me incomodava profundamente.

  Deliciei-me com as coxas de frango temperadas perfeitamente, algo que eu não conseguiria fazer nem que tentasse. Os grãos de lentilha estavam misturados em uma salada de salmão, com um molho escuro que eu achei estranho no começo, meu paladar não estava habituado á aquele tipo de coisa, na verdade eu toda não estava habituada a nada que havia ali.

  Separado havia outro tipo de comida, um assado de carne com bacon, havia batatas e cenouras picadas e o cheiro estava maravilhoso. Apenas provei, já estava cheia. Deixei que minhas criadas se deliciassem com o assado. Como acharam que eu comeria aquilo tudo sozinha?

  Me perguntei se aquele tratamento se servia á todas as selecionadas ou eu era uma exceção por ser Seis. Eles achavam que eu estava passando fome? Esse pensamento sumiu quando servi outra taça de vinho.

  As criadas se recusaram veemente á aceitarem um gole sequer da bebida. Alegavam que não deviam beber em serviço, não quis as contrariar, achava que já estava ficando meio alterada de qualquer jeito.

  Enquanto Lyla retirava a “mesa” eu pedi para que deixassem a garrafa do denominado vinho. Eu nunca tomara algo tão bom.

  Coloquei a garrafa do lado da cama, ao chão. Queria tomar mais, mas estava tão tomada pelo cansaço que acabei adormecendo.

   No sonho eu estava rodeada por vestidos e sapatos. Virava-me para tentar achar alguma escapatória, mas os vestidos tinhas olhos e os sapatos bocas. Juntos eles falavam um conjunto de palavras que tinham a ver com “governo” “princesa” “Illéa”. Mesmo no sonho, o simples fato dessas palavras estarem juntas me apavorou. Eu sabia que não podia ser princesa, nem que o príncipe cogitaria essa ideia, mas mesmo assim estava apavorada. Não sabia quando veria minha família novamente e aquilo me aterrorizava a cima de tudo.

  Acordei num pulo. Com algumas mechas de cabelo grudando no rosto por conta do suor, não me incomodei em tira-las enquanto me recuperava. A respiração ofegante, enquanto estava apenas meio levantada, apoiando meu busto com os cotovelos no colchão macio.

  Percebi que havia perdido o jantar quando o céu já estava completamente num crepúsculo, a porta que levava para a varanda estava aberta e por ela pude ver o céu estrelado. Eu não estava realmente com fome.

  A saliva travou na minha garganta e percebi que estava com sede. Minhas criadas provavelmente descansavam e eu não tocaria aquele sino apenas para que trouxessem água.

  Olhei para o lado da cama e a garrafa ainda estava lá. Agradeci por elas não terem a levado. Apenas estiquei meu braço, ainda com preguiça de levantar totalmente, quando quase cai da cama percebi que me esforçava mais do que se eu levantasse, mas como já estava naquela empreitada, apenas continuei.

  Tirei a pequena rolha e tomei o vinho, no gargalo da garrafa mesmo. Ali não tinha ninguém para me julgar, era apenas eu, como totalmente era. Uma completa sem classe.

  Quando parei de tomar, percebi o quanto estava com sede. A garrafa que antes estava a cima da metade, agora batia quase no final.

  Me perguntei se era um erro assim que tentei me levantar. Não estava com sono, mas trocaria de roupa para voltar a dormir, o suor na camisola de cetim começara a me infortunar. Por sorte, tinha um pijama de algodão que havia trazido de casa. Era um shorts e uma camiseta regata comum. Mas sequer consegui me trocar. Não sentia meus movimentos, parecia que tudo que eu fazia acontecia na velocidade da luz.

  Fui até a sacada. Naquele momento, mesmo que nunca tivesse tido medo de altura, o chão começou a se aproximar como se eu estivesse caindo e tudo ao redor de mim girava.

  Mesmo sentindo que eu riria até da dobradiça da porta uma sensação de tristeza me atingiu. Aqueles mesmos fatos que me incomodavam no sonho agora me agoniavam e então isso tudo foi tomada por uma onda de raiva que chegou por uma necessidade enorme de respirar o ar de fora do castelo. Não consegui me conter e nem a fome que eu senti depois de todas essas sensações.

  Soldado, agora guarda, Mark estava em minha porta. Perguntei-me se ele não dormia, até quando estava lá em casa ele parecia um vampiro, toda vez que o via estava acordado. Para chamar sua atenção passei o dedo indicador na língua logo depois o colocando em seu ouvido. Ri quando ele contorceu o pescoço.

  — Senhorita, recomendo que retorne aos seus aposentos. – Mark disse.

  — Acontece... Adam – Seu nome demorou a vir em minha memória. Sentia como se tivesse tido uma breve amnésia. Todas as minhas palavras saíam emboladas e em câmera lenta. Ele era da minha província antes de se tornar um Dois e era amigo do meu pai. Será que ele sabia segredos da adolescência dele e me contaria? – Que eu estou com... fome. – A palavra fome também demorou a ser encontrada.

  — Vou mandar que suas criadas tragam-lhe algo para comer. – Juro que vi um riso reprimido em seus lábios. A pele morena fazendo pequenas rugas na bochecha enquanto tentava não rir. – A senhorita está bêbada?

  Pensei um pouco antes de lhe responder.

  — Olha, eu nunca estive bêbada. – meu dedo cutucava seu ombro relativamente grande enquanto eu falava – Mas diria que se estar bêbada é falar e pensar coisa desconexas – Me enrolei ao falar a última palavra e ele riu – Sentir várias emoções e ao mesmo tempo não sentir nada, então eu diria... – Fiz mais uma pausa para que eu conseguisse desenrolar minha língua. – Sim.

  Eu não queria que ele acordasse minhas criadas ou até as tirassem de seu momento de descanso, então depois que terminei de falar eu saí correndo. Enquanto corria, provavelmente não em linha reta, pude sentir os olhares curiosos dos outros guardas nas portas das outras selecionadas. Desci as escadas sem medo de cair, mas poderia facilmente tropeçar nos degraus.

  Eu nunca conseguiria correr mais rápido que um guarda, treinado para defender a mando da família real, mas de alguma forma eu consegui. Talvez minha estatura pequena combinada com a leveza e a bebida tinham algo a ver com isso.

  Eu não sabia onde a cozinha ficava, então corria sem rumo.

  Até esbarrar em algo. Defini ser alguém quando essa pessoa estendeu a mão para me ajudar a levantar.

  Eu estava completamente serelepe. A adrenalina fazia o meu coração saltar pela boca.

  Quando percebi o guarda Mark se aproximar apenas puxei o desconhecido para trás da cortina enorme daquele corredor. Estávamos estranhamente próximos, mas eu não estava ligando naquele momento, não ligava exatamente para nada. A sensação de estar zonza era tão boa quanto estranha.

  Quando calculei que o caminho estava livre saí de trás da cortina, o mesmo fez o homem com quem eu havia colidido.

  Ele vestia roupas simples, calças de pijama e uma camiseta clara, apesar de seu cabelo estar arrumado para um camponês. Não conseguia ver seus traços tampouco a cor de seu cabelo por conta de poucos candelabros iluminando apenas alguns pontos do corredor. Duvidava se veria mesmo com iluminação já que minha visão parecia vibrar.

  — Eu deveria estar assustado pela senhorita fugindo de um guarda? – A voz do homem soou rouca. Eu estava mentalmente alterada para pensar da onde me lembrava de sua voz.

  — Possivelmente. – Eu disse rindo. Percebei que estava cansada de correr, quando disse as palavras rapidamente para puxar uma quantidade enorme de oxigênio.

  — Agora estou curioso a quanto você, senhorita... – Ele esperou que eu dissesse meu nome.

  — Se me levar até a cozinha, talvez te conte.

  Eu não me interessava em saber quem ele era, apenas em preencher o vazio que meu estômago se tornara.

 



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