História Amigas, Inimigas ou Meio-Irmãs? - Feliz Aniversário, "Amiga"

-Oi, Gumball. Lembra de mim?

 

Meu queixo foi no chão. Tive que fechar a boca com a mão para conseguir falar. 

 

-Megan?! O que você está fazendo aqui? 

 

Sem pedir licença, Megan me empurrou para o lado e entrou na casa. Bonnie veio da mesa igual a um furacão e agarrou o braço dela para empurrá-la para fora. 

 

-Sai daqui agora, Megan! 

 

Megan tentou se soltar e começou a gritar, mas Bonnie foi irredutível. Zangada, ela passou pela porta aberta arrastando a Megan e foi até o meio do jardim. 

 

-Você não tem o direito de entrar na minha casa! Nunca mais volte aqui! 

 

Bonnie a soltou e a empurrou com força em uma grande poça de lama. Megan caiu de cara no chão com um grito. 

 

-Você vai me pagar por isso! 

 

Megan saiu correndo do jardim e subiu a rua deixando um rastro de lama. Ao ver a Bonnie congelada no lugar, respirando pesado por causa da raiva, Marceline saiu correndo e buscou no jardim. As duas voltaram para dentro abraçadas, a Bonnie com raiva e vergonha. 

 

-Eu... Vou tomar um banho. 

 

Bonnie subiu as escadas rapidamente. Marceline, Marshall e eu fomos para a sala. Marshall estava confuso e assustado. 

 

-Gumball, o que aconteceu aqui? 

 

Suspirei. 

 

-Aquela era minha ex-esposa, a mãe da Bonnie. Não sei porque ela está aqui. 

 

Depois de alguns segundos de um silêncio pesado, a Marceline tomou frente da explicação. 

 

-A Bonnie não conseguiu falar, mas foi por isso que ela tomou o remédio que o seu mordomo falou. A Megan apareceu na escola, abraçou ela e falou um monte de coisas. Ela ficou muito, muito nervosa e acabou ficando enjoada. 

 

Marshall estava me olhando com uma expressão indecifrável. 

 

-Marshall, por favor não fica bravo comigo. Eu juro que não sei porque ela está aqui. 

 

Ele ficou surpreso. 

 

-Porque eu ficaria bravo? É óbvio que ela está te perturbando. 

 

Marshall me abraçou e eu me encaixei nos braços dele. Eu estava muito abalado. 

 

-Vou ver como a Bonnie está. 

 

Marceline, incomodada com o meu grude, correu para o andar de cima. Não consegui segurar uma risada.

 

-Vai ficar tudo bem, Gumball. Essa mulher não vai conseguir nos separar. 

 

Marshall beijou minha testa. Eu sorri, achando ele extremamente fofo. 

 

-Tomara, Marshall. Tomara. 

 

 

Pov's Marceline 

 

Não querendo ficar de vela, corri para o andar de cima. Aquilo acabou sendo uma péssima ideia, porque me perdi entre as inúmeras portas. 

 

"Para que tantos quartos? Meu Deus, vou ficar perdida aqui para sempre." 

 

Depois de abrir umas dez portas, achei o quarto da Bonnie. Ela estava secando o cabelo com um secador, distraidamente. Entrei no quarto e me sentei no banco que ficava embaixo da janela. 

 

-Nossa, tem portas demais aqui. Me perdi dentro da sua casa, acredita? 

 

Bonnie terminou de secar o cabelo e se sentou no banco ao meu lado, visivelmente aérea e sem me ouvir.

 

-Nunca estive tão confusa e zangada na minha vida. 

 

Bonnie estava cansada, como se não dormisse há dias. Era impressionante o que a Megan tinha conseguido fazer com ela em apenas um dia. 

 

-Bonnie, acho que é melhor se distrair um pouco, você não acha? Tente desligar a cabeça daquela mulher. 

 

Ficamos em silêncio por alguns minutos, a Bonnie perdida em pensamentos e eu tentando pensar em algo para dizer. 

 

-Tem razão. Acho que vou focar no meu aniversário. Afinal, é daqui duas semanas.

 

Sorri e entrei na onda dela, apesar daquele assunto ser totalmente aleatório. 

 

-O que você quer de presente? 

 

Bonnie olhou para mim com um sorriso meio malicioso. Senti um certo medo. 

 

-Eu quero uma festa. Só que ela tem que ser planejada por você. 

 

Fiquei surpresa. Bonnie continuou com o sorriso malicioso e deitou a cabeça no meu colo. Ficamos nos encarando naquele ângulo estranho por alguns instantes. 

 

-Planejada por mim? Porque?

 

Bonnie deu um sorriso envergonhado. 

 

-Eu morria de vontade de participar das suas festas... Mas, obviamente, não podia te falar. Quero matar essa vontade agora. Você pode fazer isso por mim? 

 

Bonnie fez a mesma cara fofa da Flame. Revirei os olhos e sorri. 

 

-Não faz essa cara! A Flame te ensinou, não foi? 

 

Bonnie deu uma gargalhada. 

 

-Como você sabe? 

 

Eu dei uma risada e comecei a mexer no cabelo da Bonnie. Ela sorriu e eu continuei. 

 

-Porque é idêntico! Não precisa fazer essa cara, eu faço a festa. O que você quer nela? 

 

O assunto acabou rendendo muito, nos fazendo conversar por horas. Mesmo estando me divertindo, o beijo não saía da minha cabeça. Eu não sabia o que a Bonnie tinha achado, e apesar dela ainda estar no meu colo, eu estava com medo dela estar zangada comigo. 

 

-Vou fazer a lista dos convidados e... 

 

Bonnie dormiu no meio da frase, me fazendo rir. Demorei alguns segundos para acorda-la, olhando para seu rosto adormecido. Mesmo preocupada e cansada, ela ainda era muito bonita. 

 

"Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Primeiro o beijo, agora não quero acorda-la para ficar olhando para seu rosto. Será que... Não, não pode ser. Não pela... Jujuba!" 

 

Me mexi, agitada por meus pensamentos, e acabei acordando a Bonnie. Ela sorriu e se levantou. 

 

-Desculpe, dormi no meio da conversa. Vou para a cama, amanhã à gente continua planejando a festa. 

 

Me levantei também. Não consegui encarar a Bonnie, ainda envergonhada e confusa com meus pensamentos. 

 

-Também estou cansada. Vou para casa, a chuva parou. Até amanhã, Bonnie. 

 

Ergui a mão em um cumprimento e fui em direção do quarto. Tentei sair, mas fui impedida pela Bonnie agarrando meu braço e me dando um abraço. 

 

-Tchau, Marcy. Vou amanhã cedo na sua casa para a gente terminar de conversar sobre a festa. 

 

Bonnie me deu um beijo no canto da minha boca e me soltou. Vi o mundo girar por alguns segundos e saí do quarto cambaleando. 

 

-Tchau... 

 

 

 

Duas semanas depois... 

 

Bonnie e eu passamos muito tempo juntas, planejando a festa. Nunca tocamos no assunto do beijo. Bonnie estava fazendo algumas "brincadeiras" comigo, deitando no meu colo, beijando o canto da minha boca e segurando minha mão quando andávamos pela escola. Eu estava cada vez mais confusa, por acreditar que ela era só minha amiga. 

 

-Uau, Marcy! Ficou incrível! 

 

Decidimos fazer a festa no salão de festas do condomínio. Lá era grande, tinha uma pista de dança e um ótimo equipamento de som. 

 

-Obrigada! 

 

Bonnie me abraçou, e novamente me deu um beijo no canto da boca. Apesar dela ter feito isso várias vezes, não deixou de me afetar. 

 

-Você está linda. 

 

Corei violentamente. Eu estava usando roupas comuns, já a Bonnie vestia um vestido rosa que chegava até o meio dos suas coxas. Eu não conseguia parar de olhar. 

 

-Você está mais. 

 

Poucos minutos depois, enquando eu estava ligando o equipamento de som, Flame e Finn chegaram juntos, de mãos dadas. Jake e Cake chegaram logo depois, fingindo que não estavam juntos, mas era óbvio que estavam. 

 

-Feliz aniversário, Bonnie! Uau, aqui está incrível! 

 

Bonnie sorriu. 

 

-Dê os créditos a Marcy. Ela que planejou tudo. 

 

Sorri, envergonhada, agradecendo o elogio. 

 

"Marcy, Marcy... Ela não para de me chamar assim... O que está acontecendo?"

 

Decidi tentar desligar meus pensamentos confusos pelo menos durante a festa. Para me ajudar nessa tarefa, bebi um pouco além da conta. Em pouco tempo eu estava dançando, conversando e gritando como uma louca. Bonnie não tirou os olhos de mim a festa inteira, assim como o DJ que não tirou os olhos dela. Apesar de estar levemente bêbada, eu percebi. Passei horas dançando, até ficar exausta.

 

-Hora dos parabéns! 

 

Gumball fez questão de termos os parabéns tradicional, em troca de termos bebidas alcoólicas na festa. Bonnie, um pouco envergonhada, foi para trás da mesa do bolo e todos cantamos a clássica música dos parabéns. De certa forma, foi engraçado. 

 

-E o primeiro pedaço vai para a... Marcy! Você merece, me ajudou muito. Vem cá! 

 

Fui com as bochechas queimando de vergonha e peguei o bolo. Comi ele rapidamente, enquanto a Bonnie distribuía os pedaços. O bolo era todo rosa, por dentro e por fora, e estava delicioso. O açúcar me ajudar a voltar para meu estado normal. 

 

-Todos para a pista de dança! 

 

Logo após os parabéns, o DJ colocou a música muito alta e ligou as luzes de balada. Por ainda estar um pouco bêbada, comecei a passar mal depois de poucos minutos daquelas luzes piscando nos meus olhos. 

 

"Ai, droga... Vou vomitar!" 

 

Corri para o banheiro. 

 

"Ok, talvez eu não vá vomitar. Só preciso ficar longe daquelas luzes um pouco." 

 

Fiquei cinco minutos no banheiro, tentando acalmar meu estômago agitado. Por sorte, lá era limpo e cheirava a desinfetante. Eu estava distraída, pensando em besteiras aleatórias para acalmar meu estômago, quando ouvi uma conversa do lado de fora do banheiro. Imediatamente, comecei a prestar atenção. 

 

-Não, me solta! Eu não quero ficar com você. 

 

-Só um beijo, por favor! Faça isso pagando pelos meus serviços hoje. 

 

A conversa ficou abafada, mas eu enlouqueci. O DJ estava tentando beijar a Bonnie! Saí do banheiro muito rápido. Eles estavam na parede em frente a porta do banheiro, o cara espremendo a Bonnie contra a parede e tentando beija-la. 

 

-Você é surdo? Solta ela agora, babaca. 

 

Ele deu um sorrisinho irônico, me provocando. 

 

-Se eu não solta-la, o que você vai fazer? Vai cuidar da sua vida, princesa. 

 

Ouvi-lo me chamar de princesa foi como se um vulcão entrasse em erupção dentro de mim. Agarrei o braço dele e o puxei para trás, o fazendo perder o equilíbrio e cair sentado no chão. 

 

-Bonnie, sai daqui. Vai! 

 

Bonnie, assustada, saiu de lá correndo. O DJ me olhou, sentado no chão com o braço na minha mão. 

 

-Vou dar um soco na sua cara só por causa de você me chamar de princesa. E porque você é babaca. 

 

Fiz ele levantar e, cumprindo o que eu disse, soquei o cara no nariz. 

 

-Você vai embora. Agora!

 

Levei o cara pelo braço até o lado de fora do salão. Por sorte, Gumball estava lá. 

 

-Gumball, esse cara tentou beijar a Bonnie sem ela querer. Tira ele daqui, por favor. 

 

Gumball pareceu assustado quando eu passei o braço do cara para ele. Ele estava sangrando bastante e estava mole, como se estivesse desmaiando. Ouvi um soluço do lado de fora do salão e corri para lá, enquanto Gumball tentava levar o cara para fora do condomínio. 

 

-Bonnie! 

 

Bonnie estava sentada na grama, chorando assustada, nos fundos do salão. Me sentei do lado dela e a abracei. 

 

-Está tudo bem... Calma...

 

Vê-la chorando estava me causando um incômodo inexplicável. Eu não sabia o que dizer, então abracei a Bonnie forte, e deixei ela chorar contra o meu peito. Aos poucos ela foi se acalmando. 

 

-Você... Deu um soco nele? 

 

Sorri. Bonnie ainda estava apoiada no meu peito, mas estava me olhando, o que a fazia parecer uma criança. 

 

-Sim. Bem no nariz. Acho que quebrei. 

 

Bonnie sorriu, se sentindo vingada. 

 

-Você está melhor? Quer voltar para a festa? 

 

Bonnie me soltou e olhou para cima, para o céu estrelado. 

 

-Não, ainda não. Não podemos ficar aqui mais um pouco? 

 

Olhei para cima também. Entendi o porquê dela querer ficar ali. 

 

-Claro. Você é quem manda hoje. 

 

Bonnie, quando se cansou se olhar para o céu, começou a fazer carinho no meu rosto, quase sentando no meu colo. Obviamente, aquilo me afetou e eu fiquei incomodada. Decidi falar, de uma vez por todas, o que estava me incomodando a mais de duas semanas. 

 

-Bonnie, sei que você deve estar assustada, mas não posso mais aguentar isso. Você me deixa confusa. O que você está fazendo me deixa confusa. 

 

Bonnie, que antes estava dando um sorriso fofo, ficou subitamente séria, mas não me soltou. 

 

-Pensei que você o que você queria. Você começou isso, quando me beijou no sofá aquele dia. 

 

Quase abri a boca de surpresa. 

 

-Então... Você gostou daquilo?

 

Bonnie praticamente pulou no meu colo e me beijou. Eu, apesar de estar surpresa, correspondi imediatamente. 

 

-Isso prova que sim? 

 

Minhas bochechas começaram a queimar antes mesmo de eu começar a falar. Lutei com a vergonha por alguns segundos e falei gaguejando. 

 

-Então... Nós meio que... Gostamos uma da outra? 

 

Bonnie também ficou vermelha e ficou olhando para a grama embaixo de nós em vez de olhar para mim. 

 

-Eu não sei. Eu gosto de conversar com você, de ir para a sua casa, de te beijar... Mas não sei se consigo namorar. Meu último namoro foi um horror. 

 

Sorri. 

 

-Você conheceu o Ash. Aquilo sim foi um horror. 

 

Bonnie olhou para o meu rosto de novo, mais especificamente para a minha boca. Aquilo me distraiu tanto, que mal ouvi o que ela disse. 

 

-E a Flame? Vocês não namoraram durante as férias? 

 

Envergonhada da cena no banheiro, foi a minha vez de desviar o olhar. 

 

-Não, eu que confundi tudo. Foi só... Uma diversão temporária. Eu que exagerei. 

 

Ficamos em silêncio por alguns segundos, Bonnie apoiada no meu peito e sentada no meu colo e eu olhando para o céu enquanto sentia o cheiro de chiclete do cabelo dela. 

 

-Bonnie... Como vamos resolver isso? Nenhuma das duas está pronta para um relacionamento ainda, mas eu não quero me afastar de você. 

 

Minhas atitudes com a Flame mostraram algumas coisas que eu tinha que consertar antes de entrar em um novo relacionamento. Eu estava ciumenta, grudenta e carente. Aquilo era horrível, não era eu.

 

-Podemos ter uma amizade colorida, que tal? Sem compromisso, sem envolvimento emocional... Acho que é a solução perfeita para isso. 

 

Sorri, realmente era perfeito. 

 

-Concordo plenamente. 

 

Bonnie se levantou e me puxou para que eu levantasse também. 

 

-Temos que voltar antes que alguém venha nos procurar. Vem, Marcy. 

 

Antes de sair, puxei a Bonnie pelo braço e dei um beijo rápido em seus lábios. 

 

-Feliz aniversário, "amiga". 

 

Bonnie sorriu, achando aquilo engraçado. 

 

-Obrigada, "amiga". Agora, é sério. Temos que voltar. 

 

Sorri, mas perdi o sorriso quando a Bonnie segurou minha mão e eu senti como se uma corrente elétrica passasse dela para mim. Meu coração acelerou. 

 

"Sem besteiras Marceline. É apenas amizade colorida." 

 

Repeti aquele pensamento várias vezes, mas não acreditava nele. Meu coração acelerado, a vontade de nunca mais soltar a mão da Bonnie e a vontade quase incontrolável de beija-la não me deixava acreditar que era apenas amizade. 

 

"É... Acho que me ferrei." 

 

 

Continua...