Acordei algumas horas depois, com gritos no andar de baixo. Levantei meio zonza e confusa e fui espiar do começo da escada, tentando entender o que estava acontecendo.
-Eu não acredito, Marshall! Nós conseguimos!
Desci as escadas usando pijama e descalça, curiosa. Tinha achado que eles estavam brigando, mas estavam sorrindo muito.
-Hey! Parem de gritar, minha cabeça está doendo. O que está acontecendo?
Marshall me olhou com muito arrependimento e correu até onde eu estava. Só então percebi que Bonnie estava ali também, olhando para os dois tão curiosa quanto eu. Fingi que não a vi. Minha curiosidade de tentar entender o que estava acontecendo era prioridade.
-Desculpa te acordar, filha, foi sem querer. Você está bem agora?
Eu me sentia tão mal quanto me sentia na escola, e ainda estava sentindo frio que eu sabia que era de febre. Mas ignorei tudo aquilo para tentar entender o motivo dos gritos.
-Sim, estou. O que está acontecendo? Porque vocês estão gritando tanto?
Marshall sorriu novamente e fez Bonnie e eu sentarmos no sofá antes de finalmente contar.
-Bom, desculpe por não termos contado antes para vocês, mas nós compramos uma casa nova!
Fiquei tão surpresa que gritei, fazendo minha dor de cabeça piorar um pouco.
-O quê?!
Marshall riu, achando divertido. Fiquei emburrada, o que fez ele apertar minhas bochechas.
-Vou contar do começo. Assim que voltamos da lua de mel, Gumball e eu vimos que uma das casas aqui do condomínio estava a venda. No mesmo dia já entramos no processo para tentar comprar. Íamos contar para vocês, mas esses últimos dias foram muito perturbados e acabamos esquecendo. Agora acabei de receber a confirmação, nós conseguimos a casa!
Houve uma nova seção de gritos comemorativos. Tampei os ouvidos mas estava sorrindo, tentando entender tudo.
-Duas perguntas: qual é essa casa e quando vamos nos mudar?
Gumball respondeu dessa vez, enquanto Marshall bebia um pouco de água para se acalmar.
-É aquela casa enorme do começo da rua. E quanto a mudança não sabemos ainda, mas provavelmente será no final desse mês. Temos que assinar muitos documentos, repintar as paredes e comprar alguns móveis. Vamos fazer tudo com o mínimo de transtorno possível, então só vamos para lá quando realmente estiver tudo pronto.
Olhei para Bonnie. Ela estava como eu, feliz mas um pouco chocada. Olhei para Gumball e Marshall, os dois estavam radiantes. Finalmente iam começar a vida de casados.
-Podemos ir lá conhecer a casa?
Gumball se animou.
-Claro! E já podemos decidir os quartos e alguns projetos, se vocês quiserem.
Corri para cima, ignorando meu mal estar, e me vesti rapidamente. Seguimos para a casa juntos, Gumball dando um enorme sorriso.
-A casa ainda vai precisar de algumas mudanças e reformas, então não julguem.
Finalmente entramos. A cada era enorme, o espaço vazio e empoeirado chegava a incomodar. Entendi porque Gumball tinha avisado sobre as reformas, as cores nas paredes eram horríveis. Mas eu conseguia sentir o potencial da casa. Subimos para o terceiro andar, Marshall tinha achado mais interessante explorar a casa de cima para baixo.
-Como eu já disse, vamos pintar a casa, os antigos donos tinham muito mal gosto. Já temos algumas idéias de decoração, se quiserem dar uma olhada…
Marshall abriu um caderno e nos mostrou vários projetos, para todos os cômodos, enquanto andávamos pelo terceiro andar. A casa era incrível, tinha cinema, academia e um enorme salão de jogos. Eu estava achando tudo maravilhoso. Descemos para o segundo andar, um enorme corredor cheios de portas.
-E agora vocês podem escolher seus quartos. Temos quatro suítes, mas essa é o nosso quarto. Então vocês têm três opções.
Acabei rindo e fui até a primeira porta mostrada pelo Gumball. Bonnie e eu olhamos as três juntas. Deixei que ela decidisse primeiro.
-Eu quero o segundo quarto, adorei a iluminação. Posso desenhar o meu projeto? Tive um monte de ideias!
Sorri disfarçadamente, achando bom ela estar um pouco mais animada. Gumball entregou o caderno para ela com uma reverência exagerada, nos fazendo sorrir. Marshall me olhou, esperando a minha decisão.
-Eu quero o terceiro quarto. O espaço é ótimo.
Puxei Marshall para dentro e comecei a explicar tudo o que eu queria, enquanto Bonnie explicava seus desenhos para Gumball.
-Ótimas idéias, Marcy! Quer planejar meu quarto também?
Ri alto e fui para o quarto dele, dessa vez ele explicando algumas coisas. Bonnie nos acompanhou.
-Nossa, a cama assim ficaria horrível, pai. Tem que ser do outro lado, embaixo da janela ficaria melhor, na minha opinião.
Discutimos mais um pouco enquanto eu desenhava o meu projeto. Por fim, Marshall concordou comigo e descemos para o primeiro andar. O primeiro andar eram uma grande sala de TV, uma de jantar, dois escritórios, e uma cozinha. Gumball ficaria com um dos escritórios, para quando precisasse organizar algumas coisas do laboratório em casa, às vezes dividindo ele com Marshall, já que o outro seria transformado em estúdio. Adorei a ideia, gostava muito de ensaiar junto com a banda do meu pai quando tinha oportunidade.
-A cozinha será o único cômodo que não vamos mexer, eles reformaram ela antes de vender a casa.
Fomos para os fundos da casa, onde havia uma grande piscina, mas o resto era bem vazio.
-Nós vamos fazer uma churrasqueira aqui, com mais uma…
Acabei me distraindo quando vi a Bonnie com o olhar perdido ao longe, curtindo uma brisa fresca que vinha da piscina. Ela estava linda, os cabelos ao vento e o rosto iluminado pelo sol. Senti um aperto no peito, já sentindo saudades dela. Tudo o que eu queria naquele momento era abraçar ela por trás e a beijar, mas eu não podia. Suspirei alto, sentindo meu mal estar piorar.
-Nossa, estou falando sozinho. Vocês estão bem distraídas. Tudo bem?
Dei um sorriso amarelo e me forcei a prestar atenção no que Gumball estava explicando.
-Desculpa, Gumball, minha mente deu uma “desligada”. Mas explica de novo, eu quero saber.
Gumball sorriu e me mostrou alguns projetos. Discutimos sobre um deles, mas não consegui continuar falando, sentindo meu estado gripado piorar.
-Vamos voltar, tenho que refazer alguns desenhos. E precisamos decidir mais algumas coisas.
Voltamos para a minha casa, eu me sentindo muito mal, com frio, fraqueza e muito mal estar. Mas não conseguia falar que estava mal na frente da Bonnie, eu sabia que só estava assim por estar com saudades dela, enquanto ela parecia só estar chateada. Deitei um canto do sofá, encolhida. Marshall sentou ao meu lado, conversando animadamente e alto com Gumball, analisando os projetos que nós tínhamos feito no caderno. Fiquei imóvel por alguns minutos, tentando dormir para ver se me sentia melhor, mas só estava conseguindo ter alucinações leves por causa da febre. Gumball foi o que percebeu que eu estava mal.
-Marceline, você está bem?
Marshall imediatamente se abaixou na minha frente. Eu não conseguia reagir, estava zonza com as alucinações e estava exausta de tentar lutar contra a febre. Marshall tirou sua jaqueta e a enrolou em mim, enquanto nosso mordomo corria para buscar o remédio na cozinha e Gumball correu para o meu quarto, o que eu achei que era para buscar um cobertor, já que eu estava tremendo muito.
-Marcy, você tem que se esforçar para ficar acordada. Vem, senta.
Sentar exigiu uma força descomunal, mas eu consegui com a ajuda do Marshall. Gemi baixinho, estava me sentindo terrivelmente fraca. O mordomo finalmente chegou com o remédio. Engoli com uma careta. Marshall me fez levantar.
-É melhor você voltar para a cama, Gumball arrumou ela para você. Vou ficar lá até você melhorar um pouco.
Subi as escadas devagar, mas já me sentindo um pouco melhor. Marshall me fez deitar e me cobriu. Acabei sorrindo, eu raramente deixava ele me pôr para dormir, mesmo quando era criança. Marshall também sorriu, mas ficou sério quando recebeu uma mensagem no celular.
-Não acredito que vou ter que sair de novo, preciso ir até a imobiliária para assinar os papéis. Se eu não for, podemos perder a casa para um outro casal que também queria comprá-la. Você vai ficar bem sem mim?
Concordei com a cabeça.
-Sim, pode ir. Gumball estava bem satisfeito de estar cuidando de mim, acho que ele estava se divertindo. Tudo bem.
Marshall acabou rindo pelo nariz quando ouviu Gumball resmungando do lago de fora, negando o que eu tinha dito.
-Vou ficar mais um pouco, ainda tenho um tempo. Agora tenta dormir, o remédio vai te deixar zonza e sei que você não quer ficar falando coisa com coisa.
Sorri, achando engraçado a preocupação dele com uma coisa tão boba. Marshall beijou minha testa e senti o remédio fazendo efeito, realmente me deixando zonza. Adormeci rapidamente.
Acordei sem saber quanto tempo tinha dormido, ouvindo uma discussão do lado de fora. Gemi um pouco e arrumei minha posição na cama. Eu ainda estava um pouco mal, mas tinha melhorado consideravelmente.
-Eu não posso ficar sozinha com ela, pai! Ela vai me matar!
Gumball bufou. Fingi que estava dormindo e fiquei imóvel de costas para a porta, porque sabia que eles poderiam entrar no quarto em qualquer momento.
-Vocês não vão ter uma D.R, caramba! Você só vai fazer companhia a ela e ajudar se ela precisar de alguma coisa. Eu preciso ir assinar os documentos também, mas eu prometo que será rápido. Marshall me disse que esse remédio é muito forte, ela provavelmente vai dormir até amanhã. Não se preocupe, você vai ficar aqui mais por precaução do que por qualquer outra coisa.
Ouvi passos rápidos indo de um lado para o outro, vinda da Bonnie agitada tentando tomar uma decisão. Eu conhecia esse lado dela. Bonnie ficava extremamente concentrada e nada faz ela sair desse “transe” até ela conseguir decidir.
-Ok, eu fico! Mas volte o mais rápido possível, por favor.
Gumball se despediu e ouvi passos correndo nas escadas. Quando ouvi a porta da sala batendo, Bonnie abriu a porta do meu quarto e entrou. Fiquei tensa, imaginando o que ela ia fazer.
-Eu sei que você só está dormindo, e felizmente não está em coma ou nada do tipo, mas… eu quero falar algumas coisas para você e sei que não tenho coragem de falar com você consciente. Eu passei a noite inteira acordada pensando nisso tudo.
Bonnie puxou a cadeira da minha escrivaninha para perto da cama, se sentando de frente para as minhas costas. Eu conseguia ver o que ela estava fazendo pelo espelho da porta de correr do meu guarda roupa. Observei tudo com a coberta cobrindo parte do meu rosto, tomando cuidado para ela não ver que eu estava acordada.
-Primeiro: eu sinto muito, muito mesmo. Te acusar de traição com o Ash foi a coisa mais estúpida que eu já fiz na minha vida. Eu estou tão arrependida que dói. Eu não tinha o direito de te acusar depois de você ter salvado minha vida, de você ter passado tanta coisa junto comigo, mas eu fui muito idiota. Eu sei que você não acredita mais em mim, mas eu te amo, Marcy. Te amo muito. E doeria menos você acertar aquele soco que você deu na parede em mim do que dizer que eu nunca te amei.
Bonnie parou um pouco, com a voz embargada. Quase comecei a chorar junto, mas me forcei a ficar imóvel.
-Segundo: eu entendo sua raiva, você tem razão se nunca mais quiser algo comigo. Eu entendo, de verdade. Eu percebi que consigo sobreviver sem você, mas só isso, sobreviver. Já faz um tempo que viver sem você já é opção. Mas ok, um dia vai ficar tudo bem. Sempre fica, não é?
Bonnibel pegou Hambo, que eu sem querer tinha derrubado no chão. Ela cheirou a cabeça dele e sorriu.
-Hambo não tem cheiro de chiclete, tem cheiro de morango. Eu nunca te disse isso, mas seu cabelo tem cheiro de morango.
Bonnie se inclinou sobre mim e colocou Hambo nos meus braços. Prendi a respiração e fechei os olhos, nervosa. Ela me olhou com ele e sorriu, com os olhos cheios de lágrimas. Depois de se sentar e limpar a garganta, Bonnie voltou a falar.
-Terceiro: eu não tenho ressentimentos com você. Espero que você possa me perdoar para voltarmos a ser amigas, algum dia. Espero também que você seja feliz, que você ache alguém que seja tão bom quanto você merece. Achei que essa pessoa era eu, sabe? Mas hoje eu vejo que não. Você é uma ótima pessoa, Marcy, merece alguém tão bom quanto.
Bonnie se inclinou novamente e me deu um beijo na têmpora, enquanto duas lágrimas caíram no lençol, na minha frente.
-Adeus, Marcy.
Bonnie saiu do quarto e fechou a porta. Suspirei, o beijo formigando no meu rosto. Deitei de barriga para cima na cama, olhando para o teto, com as palavras dela ecoando na minha mente.
Passei a semana inteira pensando em tudo que a Bonnie tinha dito, mas meu orgulho aguentando firme e forte, me impedindo de pedir desculpas. Eu continuava meio mal, com a gripe ainda fazendo efeito em mim, mas no geral eu estava conseguindo aguentar. Bonnie estava cada vez mais triste e abatida, mas parecia que só eu estava percebendo, e como meu orgulho estava forte, não conseguia falar nada nem com ela nem com o Gumball. No domingo a noite, uma semana depois do nosso término, Marshall abriu a porta do meu quarto e entrou de uma vez, o que eu achei estranho, já que ele nunca fazia isso. Por sorte eu ainda estava acordada, matando zumbis em um jogo no meu celular com o som desligado, então Marshall não pegou em uma cena constrangedora ou me acordou. Odiava que invadissem minha privacidade, então me levantei da cama rapidamente e fui até ele para tirar satisfações.
-Eu sei, você odeia que eu entre no seu quarto sem bater, mas eu estou desesperado. Gumball está louco lá embaixo, e eu estou enlouquecendo junto!
Marshall realmente parecia não estar bem. Consegui ouvir passos rápidos no andar de baixo, o que eu imaginei ser de um Gumball agitado.
-Ok, mas o que eu tenho a ver com isso? Você veio me dar uma bronca porque tenho aula amanhã e ainda não estou dormindo?
Marshall bagunçou os cabelos com os dedos e andou por todo o quarto olhando todos os lugares, como se estivesse procurando algo.
-Bonnie sumiu. Ela saiu de casa de manhã sem falar para onde ia e até agora não voltou. Gumball me mandou aqui para perguntar se você sabe de alguma coisa, apesar de eu explicar que vocês não se falam há duas semanas.
Fiquei muito chocada, e praticamente gritei.
-Bonnie desapareceu?!
Continua...
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