História Amiúde - Aceita

Lucy nunca imaginaria que um dia teria que recorrer à Yukino, após ter negado a sua proposta dias atrás.

Ela podia se lembrar quando a amiga foi visitá-la depois do ocorrido. Passou-se três dias depois do enterro, um dia frio e nublado. Uma garoa fina caia pelo o céu – os pingos finos misturavam-se com suas lágrimas, como se até mesmo o céu estivesse chorando.

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Nos braços de Yukino, Lucy chorou mais uma vez, enquanto contava para a amiga o que de fato aconteceu.

— Venha para a Sabertooth comigo. Tenho certeza que Sting-san não irá se incomodar. — Ela disse, sorrindo com os olhos.

— Sting? Sting Eucliffe?

— Sim... Ele é o novo mestre agora. Lady Minerva concordou com isso... Enfim... É uma longa história.

Lucy não tinha nada contra eles, ela sabia que tinha um coração enorme que sempre era capaz de perdoar, mas parte dela arrepiava-se só de pensar em conviver com pessoas que costumavam odiá-la.

— Não posso... Eu vou ficar aqui... Não posso abandoná-los agora. Fairy Tail ainda é minha casa. Quem sabe um dia eu possa... — ela respondeu.

De fato, ela não saberia viver sem eles, mas depois da guerra, nada foi do jeito que costumava ser.

Mais tarde, quando ela chegou na casa de Natsu, uma carta com um perfume almiscarado estava a esperando.

Happy e eu vamos sair em uma jornada para treinar.

Vamos voltar em aproximadamente um ano ou mais...

Então, se cuide e tome conta de todo mundo!!

Até mais, Lucy!

Natsu & Happy*

E ela se sentiu mais sozinha do que nunca.

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Agora, ela estava ali, onde marcou para que Yukino a encontrasse. Ela estava em uma cafeteria em Magnolia. Sua mala estava ao seu lado, no pé da mesa. Ela não tinha muitas coisas para carregar, todos os móveis que possuía eram do seu apartamento antigo. Com ela, só levava suas roupas, as suas preciosas chaves, lembranças do seu pai, algumas fotos com as pessoas da guilda e um endereço para que pudesse mandar cartas à Levy periodicamente.

Lucy tinha certeza que o seu próprio estado estava deplorável quando Yukino chegou perambulando até a mesa, um doce perfume florido e um ar alegre restabelecendo pelo o ambiente. Mas quando Yukino a encarou, seu doce sorriso sumiu, dando ar a um semblante preocupado.

— Lucy... Você... Emagreceu. — Ela disse, desconfortável.

— Sim... — Lucy não sabia o que responder, mas resolveu concordar para não parecer tão rude. Ela estava psicologicamente exausta para manter uma conversa sobre o seu estado físico ou emocional. Mas realmente ela sentia suas roupas ficando largas em muitos locais do seu corpo.

— Fiquei feliz que tenha me chamado! Vim assim que pude. Minha guilda está passando por uma reforma, ainda estamos organizando muita coisa... Mas acho que é algo que Sting te explicará melhor... — ela deu um meio sorriso. Lucy balançou a cabeça, assentindo. — Vamos? — Yukino perguntou, estendendo uma mão para que ela pegasse.

 Lucy agarrou a sua mão e Yukino juntou os seus dedos aos dela. Uma xícara de café – já gelado – estava ficando para trás. Yukino estava sendo uma ótima pessoa, passava-lhe segurança e isso fazia Lucy pensar que se unir à Sabertooth não seria tão ruim assim se estivesse na companhia dela.

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Primeiramente, entraram pelos fundos da guilda, onde Yukino levou Lucy até o alojamento. Em seu quarto, Lucy tomou um banho e colocou sua nova roupa de missão costumeira, lembrando-se de colocar um par de luvas no processo. Estranhamente, a marca da Fairy Tail não havia sumido de sua mão e ela achou melhor não mostrar outra marca em uma guilda nova. Quando uma guilda era desfeita, a marca mágica sumia do seu integrante, mas a dela continuava ali.

Nem sabia se ali haveria lugar para ela ali de fato, mas Yukino enchia-a de esperanças e Lucy se agarrava à elas o quanto podia. Perfumou-se e prendeu seus cabelos em uma imenso rabo-de-cavalo – seus cabelos batiam na cintura agora. Ela não cortava o cabelo todo mês como de costume. Há tempos não cuidava de si mesma, e eles não ficavam sedosos e brilhantes como costumavam ser. Precisava resistir ao impulso que as pontas de seus dedos insistiam em querer bagunçá-los toda vez.

Assim que terminou de se arrumar, Yukino a acompanhou até chegar na entrada da guilda. Sting provavelmente já estava a esperando em seu gabinete de mestre – ou seja lá onde ele ficava enquanto trabalhava. Mestre Makarov tinha seu local. Ela não sabia como a Sabertooth era e também nunca parou para pensar como alguém tão jovem administrava uma guilda. Mestre Makarov sempre observava das escadas quando não estava reunido junto com eles. No andar de cima, possuía um quartinho que era onde ele dormia ou conversava em particular com alguém. Mas na Sabetooth ela não sabia o que esperar.

A estrutura da Sabertooth semelhava-se a um forte-castelo, assim como os seus alojamentos pareciam com torres. Lucy e Yukino andavam pelos frios corredores do castelo e rajadas frias entravam pelas janelas, causando arrepios em Lucy. Os corredores estavam tão silenciosos que ela podia ouvir a lufada de ar que saía da sua própria respiração. Tentava se concentrar em observar nas paredes pedras irregulares que estavam perfeitamente dispostas. Não era como a Fairy Tail, onde o castelo, apesar de ser pequeno, era alegre e emitia calor – um calor bom que não fazia-a sentir-se mal.

Ela queria que Yukino falasse algo, apenas para quebrar a sua tensão. Lucy não se lembrava a última vez que esteve tão nervosa. Sabertooth era um amontoado de pedras. As estruturas de madeira eram antigas, mas muito bem elaboradas. Eram peças luxuosas, muito mais que as da Fairy Tail, que possuia um aspecto mais rústico.

— Ah Lucy... Vejo que não está se contendo de tanto nervosismo — os sons de conversas e da música aproximavam-se cada vez mais, aumentando a ansiedade de Lucy. — Olha, vou com você até aqui… — Yukino continuou. — Se continuar reto e atravessar o hall, vai chegar ao topo da escada. Sting estará ali, te esperando. Acho melhor vocês conversarem à sós. Não se preocupe, estarei por perto caso precise de mim.

— Obrigada. — Lucy agradeceu verdadeiramente.

— Ah, largue disso! Apenas vá logo, boba! — Ela disse, rindo no final.

Lucy riu internamente. Yukino ainda era Yukino.

Continuou o seu caminho e a onda de conversas do hall podiam ser ouvidas com mais clareza agora. A poucos metros dela, Sting estava no topo da escada, olhando para os companheiros da guilda. Sua cabeça estava entre os braços encostados no corrimão.

A escada estendia-se em aproximadamente cinquenta degraus e era escura e sinuosa. Como se os seus passos tivessem alertado que ela estava ali, ele levantou-se de sua posição e virou-se para a sua direção, atentando-se aos seus movimentos e encarando-a profundamente. Lá em baixo, as pessoas pareceram notar a sua reação e se silenciaram, prontos para que ela atravessasse o hall e também observavam com curiosidade.

Ela paralisou na entrada do corredor. Embora ela ansiasse por esse momento, era realmente muito estranho pensar que seria o centro das atenções daquele dia. O silêncio era incomodador, ainda mais quando cochichos estabeleciam-se enquanto ela passava. Rogue que estava próximo à escada, parecendo ler os seus pensamentos, sussurrou: “Não tenha medo, tudo ficará bem”, encorajando-a.

Lucy sorriu para ele e continuou com passos apressados.

Não tenha medo, tudo ficará bem. Gravou o pensamento em sua mente enquanto estava quase chegando até lá.  

Ela pôde observar vários olhares em sua direção, olhos de cores diferentes, cabelos volumosos, lisos, penteados elegantes, mulheres exuberantes; e entre elas estava Minerva. Era difícil competir com tamanha beleza, parecia uma boneca de porcelana, com pele branquinha, expressões fortes, cabelos negros-arroxeados. Pela primeira vez, Lucy se sentiu feliz em ver outro rosto familiar, mesmo que fosse o de Minerva. Ela estranhamente sorriu para Lucy, como se quisesse encorajá-la. Apesar da aparência imponente, ela não possuía mais aquela aura intimidadora quando Lucy a observou com aquele olhar adocicado, parecia outra pessoa.

Até Yukino, que se encontrava encostada em um pilar – que Lucy podia apostar que ela foi correndo para chegar tão rápido, ou ela que atravessou o hall lenta demais? – olhava para ela como se ela fosse uma surpresa boa.

Sting desceu as escadas, silencioso e taciturno, até parar na sua frente. Seus passos fizeram um som que ecoaram por todo o hall enquanto pisavam na pesada madeira. Ele a cumprimentou com um leve aceno de cabeça. Estava tão desconfortável quanto ela. Lector estava sentado em seu ombro e parecia observá-la com diversão.

— Seja bem vinda, Lucy Heartfilia. Yukino me disse que viria. — Ele disse calmo, embora sua feição fosse extremamente impassível.

Ela não tinha boas memórias sobre ele. Tudo o que aconteceu nos Jogos Mágicos ainda estava entalado em sua mente, mas não haveria espaço para confrontá-lo. Ela devia superar essas diferenças se quisesse continuar ali.

— Confesso que não sei muito o que dizer ou por onde começar... — ela distribui o peso do seu corpo de um pé para o outro, mordendo um lábio. Estava nervosa. — A Fairy Tail foi desfeita... O mestre resolveu desfazê-la... E eu... Bem, não sei bem o que posso fazer... Só sei que ainda quero ser útil para alguma guilda. — Ela abaixou o olhar. Ela realmente não conseguia encarar aqueles olhos.

— A Fairy Tail foi desfeita? — Ele perguntou retoricamente, com surpresa em sua voz. — A guilda mais poderosa... Desfeita assim... É um grande desperdício. Eu sinto muito. E Natsu? Como ele permitiu isso?

 Ele parecia decepcionado.

— Ele... — ela suspirou. Sting levantou uma sobrancelha. Ela não conseguia deixar de se sentir muito magoada com a atitude de Natsu de abandoná-la. — Acho que ele não sabe. Ele partiu em uma jornada com Happy e deixou apenas uma carta, se despedindo. Acho que quando ele voltar ainda será pensando que tudo está bem... Temos passado por muita coisa desde àquela batalha.  

— Entendo — se ele notou alguma mágoa em seu tom de voz, não demonstrou nada. Suspirou. — Como eu posso ajudá-la? Você é companheira de Natsu e é da Fairy Tail, nós queremos ajudar.

— Eu quero entrar para a Sabertooth. Qualquer coisa para mim está ótimo. Eu só quero restabelecer minha vida... Eu soube que vocês estavam admitindo novos magos.

— É verdade. Mas preciso ser sincero com você sobre um assunto. — Ele coçou a cabeça, sorrindo de canto. Seu sorriso era diferente, apenas um levantar no canto do lábio. — Desde os Jogos Mágicos, estamos enfrentando alguns problemas com o Conselho de Magia. Então muitos magos ainda não estão saindo em missões oficiais por conta dessa burocracia... Mas eles precisam se manter... Acho que você entende o que quero dizer... Não me parece um trabalho para uma pessoa como você.

Lucy não tinha certeza do que ele queria dizer, se era por ela ser fraca ou pelos trabalhos serem pesados, mas ela preferia ignorar esses pensamentos.

Ela abaixou a cabeça, acenando. Talvez não houvesse espaço para ela ali.

— Tudo bem-

— Mas... — ele a interrompeu. — Estamos precisando de alguém aqui no forte. Você pode ficar encarregada aqui do bar. É um serviço simples. Imagino que vocês também tinham alguém assim na guilda de vocês.

Lucy fechou os olhos, tentando afastar de sua cabeça a imagem de Mirajane sorrindo para ela. Doía tanto.

— Sim... Tínhamos sim... — ela respondeu, o ar faltando em seus pulmões. 

— Se você aceitar, pode assumir esse papel aqui, até resolvermos toda essa bagunça. Você receberá alguma quantia em jewels por isso. Também está livre para fazer qualquer serviço que quiser além desse. Yukino! — Ele acenou com a mão, chamando-a para a conversa. Ao se aproximar, ele continuou, se dirigindo à ela. — Vá ver se ainda resta um quarto no alojamento feminino.

— Não precisa se preocupar, Sting-san. Ela ficará no meu quarto. Mas quando você tiver o seu próprio quarto... — ela se dirigiu para Lucy. — Você pode acertar o aluguel comigo todo o mês, é uma quantia bem simbólica, na verdade. Não podemos exigir muito de ninguém ainda.

— Quanto à marca da Sabertooth... — Rogue disse, se aproximando. — Me procure apenas quando estiver pronta para recebê-la.

Ela acenou com a cabeça, sorrindo. Quando ela se virou para Sting, para agradecê-lo por ele ter a aceitado, ele não estava mais ali.

Por um momento, ela teve vontade de sair correndo.

Ela devia voltar e mostrar para todos da sua antiga guilda que eles deveriam permanecer unidos, mas uma imagem de uma mulher de cabelos vermelhos também lhe assombrava a mente. Erza também era um elo que os ligava. Lucy também deveria ir atrás de Natsu, gritar e xingá-lo com todo o ar de seus pulmões, mas a mágoa que sentia por ele era demais. Ele a deixou sozinha afinal.

Sentiu sua marca da Fairy Tail coçando em sua mão.

Por que ela se sentia como se tivesse traindo a todos?