História Amizade Descolorida - Capítulo Único

Amizade Descolorida

Isso é só mais uma história sobre um amor não correspondido. Mas antes de acharem que ele tem culpa no cartório, bom, para mim, ambos tivemos.

Com ele eu me sentia um pouco aberta; o mais aberta que eu poderia ser para qualquer pessoa. Ele dizia que também se sentia bem comigo, que se sentia livre para falar, comentar, opinar sobre o que quisesse. Deixávamos um ao outro confortáveis, como se nós nos encaixássemos perfeitamente um no outro. Nossos momentos foram todos especiais e fortes, desde ao primeiro contato (aquele abraço tímido) quanto ao último (aquele abraço de adeus). Lembro de alguns deles como se tivessem acontecido ontem...

Como isso passou a ser uma história de amor não correspondida? Nem eu mesma me lembro do porquê de eu ter deixado as coisas acontecerem para me machucar e acabar com tudo. Sei que a gente não adivinha quando vai se machucar e nem como vai acontecer, mas eu deveria me conhecer o suficiente para dizer um NÃO para aquela brecha estranha e inusitada.

Era difícil encontrar-se com ele no início da amizade. E foi difícil enfrentar todos os não-encontros depois que começamos a ter a amizade colorida. A vida era uma bagunça. Morávamos em cidades diferentes, porém perto uma da outra. Difícil era; da gente se ver; impossível não. Eu fazia de tudo para vê-lo, ele fazia o acessível para ele para poder me ver. Eu estava disposta para o que ele quisesse tentar comigo, ele estava disposto a preservar aquele elo fraterno que tínhamos antes de tudo virar uma bola de neve.

Sempre soube que seria difícil ter algo com ele, tanto em questões de locomoção quanto emocionais, para ambos. Um estava com o coração em retalhos, e o outro precisava distrair-se. Não o culpo por querer se divertir comigo; eu queria. Mas não ser o suficiente para ele era o que me quebrou aos poucos.

De certa forma eu pedi por isso. Eu deixei que acontecesse. Mas eu só precisava de alguém ao meu lado, que me compreendesse, que me ajudasse, que me ouvisse, que me desse carinho, que me fizesse bem como ele tanto fez. Eu só não precisava de alguém que, como ele, me deixasse, aos poucos, gradativamente, e sem chão. O que ele esperava de mim? Que eu entendesse que quando ele saísse da minha casa, do meu quarto, da minha vida, que ele não era o cara ideal pra mim? Depois de diversas demonstrações de afeto e amor? Sim, amor! Queria que eu acreditasse que aquele cara que me ouvia, que me dava carinho, que me beijava da melhor forma possível, que era meu amigo, que me fazia rir nos piores momentos, que me amava de uma forma mútua... que eu acreditasse que tudo acabou? Aquele cara que era o ideal pra mim queria que eu esquecesse de tudo assim? Então de tudo eu esqueceria.

Saiu pela minha porta. Deitei na minha cama, que mais parecia me engolir de tão grande que era para apenas uma pessoa, e chorei. Sem colo, sem cafuné, sem ombro amigo, sem... sem nada. Não havia nada ali, e vazia eu ia ficando.