Se tinha alguém naquele grupo que podia falar com propriedade sobre o quão forte pode ser a força de uma amizade esse alguém era Bruno.
O garoto tinha quinze anos, completaria dezesseis em alguns meses. Mal podia esperar por essa data. De presente ganharia a viagem de seus sonhos, iria para a Grã Bretanha, visitaria a Terra da Rainha, o país natal de vários de seus ídolos musicais.
Era uma música do U2 que escutava no momento em que o espaço vazio ao seu lado foi ocupado. Era Patrick, seu vizinho de janela. Eles tinham três anos de diferença, Patrick faria 20 anos e no fim daquele ano iria para a Itália cursar Biotecnologia.
- Saiu cedo hoje. Nem vi quando saiu do quarto - Bruno tirou os fones e sorriu como resposta. Bruno ia dizer qualquer coisa mas foi interrompido pelo amigo outra vez - Preciso contar uma coisa. Meus pais decidiram adiantar a viagem para a Europa. Eu já tenho nota suficiente para passar neste período e eles disseram que seria melhor para eu me adaptar.
- Que bom Pat - Bruno ficou muito feliz pelo amigo. Desejava o melhor para ele, principalmente por ter sido o mais velho o seu irmão postiço. - quando você vai?
Patrick abriu abriu a boca algumas vezes antes antes de responder. Queria ter tido mais tempo com o amigo mais novo. Ainda mais quando Bruno mais precisava dele, em sua adolescência cheia de dúvidas.
- Hoje a noite.
Bruno olhou para os amigo e se manteve em silêncio. Patrick devolveu o olhar também em silêncio. Mas nao era como se não dissessem nada. Estavam fazendo muitas promessas com aquela troca de olhares.
- Olha, Bruninho, não é como se eu tivesse abandonando você. Pode me ligar sempre que quiser. Eu sempre vou ter tempo para você e seus problemas - Bruno sorriu aberto - e quando você encontrar um namorado legal, eu quero ser ser o primeiro a saber. E avise a ele que se magoar meu amigo, eu saio da Itália só para arrancar as bolas dele.
Até aquele momento, Patrick era o único a saber dos maiores segredos de Bruno: desde a dificuldade em agradar ao pai, até sua atração por garotos. Então, o mais velho se arrependeu de ter dito aquilo tão alto. Se arrepender de ter entrelaçado seus dedos aos de Bruno.
- Posso saber o que está acontecendo aqui? - a voz grossa e irritada do pai de Bruno irrompeu pela sacada da casa. Se soltaram imediatamente.
- Pai… - Bruno até tentou dar uma explicação que ele nem tinha. Mas também não foi permitido.
- Eu não tenho filho veado! - gritou o homem engravatado. Bruno teve vontade de se esconder no abraço de Patrick, mas não o fez, apenas pioraria as coisas - eu não criei homem para ficar cometendo imundices. Eu não vou aceitar isso dentro da minha casa! Você é todo imundo, promíscuo e errado! UM PECADO! Você se tornou um estranho para mim.
Naquela tarde, Bruno fugiu para o lugar mais longe que encontrou. Os pais de Patrick descobriram o ocorrido e a viagem foi marcada para a mesma tarde. O mais velho foi embora sem ao menos se despedir de seu pequeno amigo.
*****
Em o outro canto da cidade, naquela mesma manhã um garotinho abria sorrateiramente a porta do quarto do irmão mais velho. Entrou nas pontas dos pés, subiu com alguma dificuldade na cama de casal e pulou animado sobre o corpo do mais velho.
- Irmãozão, acorda! Já é de tarde! Nós vamos a praia! - Ele gritou puxando as cobertas de cima do corpo sonolento de Victor.
- Vamos amanhã, Vicente! - ele resmungou - hoje quero dormir o dia todo - e virou novamente para o lado oposto ao irmão.
- Mas você prometeu! - Vicente já tinha uma expressão chorosa no rosto. As lágrimas sairiam a qualquer momento e Victor não queria nem queria ouvir o momento em que o pequeno começasse a berrar - Vamos Irmãozão!
Victor se deu por vencido. Levantou preguiçoso e tomou um banho gelado. Quando desceu, Vicente já estava arrumado e carregava uma mochila onde, com certeza, estava o freezbee, seu brinquedo favorito.
Não demoraram muito para chegar. O sol não estava tão quente, a praia não estava tão cheia.
Victor jogava o freezbee pela décima vez ou mais. E Vicente ainda tinha fôlego para correr atrás do brinquedo por um dia inteiro. Foi em uma distração do pequeno que ele tropeçou em um monte de areia, que talvez tenha sido um castelo, e se chocou contra a perna de um garoto da idade de Victor.
- Ai! - o pequeno reclamou a dor que sentiu nos pés - obrigado por me segurar, menino! Meu nome é Vicente. Qual é o seu nome? - o garoto falou tudo de uma vez. Bruno demorou um pouco a entender.
- Eu sou o Bruno - o mais velho se agachou até ficar a altura do garotinho - de que você estava brincando?
- Estava brincando com meu freezbee. Eu e meu Irmãozão - Vicente apontou para Victor que vinha preguiçoso até eles - ele é o Victor. Quer brincar com a gente?
Aquele menininho e seu Irmãozão conseguiram tornar o dia de Bruno mais feliz. Por algumas horas ele se esqueceu de seu pai, de todas as coisas que ele disse. Foram as melhores horas daquele dia.
Mais tarde, ele veio a definir aquele dia como o melhor de sua vida.
****
- Victor Fletcher, você aceita Bruno Martinez como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza por todos os dias de sua vida? - o sacerdote perguntou ao primeiro homem de branco no altar.
- Sim - disse colocando a aliança dourada no dedo do agora marido.
- Bruno Martinez, você aceita Victor Fletcher como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza por todos os dias de sua vida? - foi a vez de Bruno responder ao questionamento. A resposta só poderia ser aquela.
- Sim.
Todos os presentes aplaudiram quando finalmente estavam casados. Patrick estava do lado deles como padrinho e sorria como nunca. Ele não havia se esquecido da promessa. E tinha feito questão de lembrar a Victor que cuidasse muito bem de seu amigo, ou desse adeus a suas bolas.
“Meu menininho cresceu!” ele pensou feliz antes de abraçar os amigos, como todos estavam fazendo naquele momento.
- Obrigado por ter ido a praia aquele dia! - Victor escutou antes de serem afogados em abraços.
****
- Eu estou aqui, Bruninho. – Victor falou quando Bruno se acalmou o suficiente para parar de soluçar. - Pode confiar em mim. Prometo que vou ser para você o melhor amigo de todo o mundo, assim como você é para mim.
- Você não precisa se esforçar muito para fazer isso - Bruno conseguiu esboçar um sorriso - eu é que tenho sorte de te ter como amigo.
Amigo. Essa palavra que tanto assombrava os sonhos de Bruno. Porque só isso? Era Victor quem completava a metade vazia de seu peito. Era para ele que os pensamentos de Bruno viajavam antes de dormir. Eram para Victor os melhores sorrisos de Bruno.
- Mesmo depois de eu ter feito você tirar zero na prova por deixar a professora pegar nossa cola? Ou depois de eu passar com meu skate em cima do seu pé por me distrair com uma garota? Mesmo que eu faça você acordar cedo aos domingos para ir ao mercado comigo? - Victor perguntou fazendo Bruno sorrir com as palhaçadas do amigo.
- Eu te amo, Victor. - as palavras de Bruno não podiam ser mais verdadeiras.
- Eu te amo, Bruninho. - mesmo que de um outro modo, as de Victor também eram dotadas de uma veracidade sem igual.
Amizade: o maior amor.
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