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História Amnesia - E


Escrita por: starburst

Notas do Autor


⋆*ೃ ola! como voces estão? espero que bem.

⋆*ೃ capitulo contem gatilhos indiretos, menções a autelesão. caso sentir-se muito mal, por favor, nao continue.

⋆*ೃ boa leitura <3

Capítulo 4 - E


Fanfic / Fanfiction Amnesia - E

"You can't hear me cry
            See my dreams all die"

Depressão psicótica: enquadrada dentro da categoria de depressão maior, caracteriza-se por episódios no qual ocorrem manifestações de psicose — como alucinações auditivas, visuais e delírios.”

Yoongi acordou no outro dia sentindo as pernas dormentes. Os braços com marcas arroxeadas e cicatrizes estavam gélidos e aparentavam ser muito mais brancos do que o usual, resultado de uma noite inteira de um sono mal rentável onde o loiro dormira desajeitadamente em cima dos membros, impedindo a circulação sanguínea.

Piscou algumas vezes, a claridade incomodando seus olhos sensíveis e trazendo lágrimas que borravam a sua visão. Sentou-se com cuidado, os braços doloridos como se ele houvessem carregado o mais pesado dos pesos, até enfim recuperar o movimento das pernas – que logo começaram a doer.

Sentia-se esgotado. Sem forças. Sem ânimo para continuar naquela rotina exaustiva e repetitiva.

“Você deveria se matar...” A gentil voz acariciava os seus ouvidos, ofertando-o a mais tentadora das saídas.

O seu despertador, entretanto, mudara a sua atenção. Precisava levantar e tomar um banho caso quisesse cumprir suas aulas diárias. Lembrou-se da bolsa conquistada com muito esforço e esforçou-se para sair do chão frio, cambaleando até alcançar o banheiro.

“Você não vai conseguir se formar, seu doente!”

Yoongi fechou os olhos com o máximo de força que conseguiu, as lágrimas beijando suas bochechas antes que ele sequer percebesse que estava com vontade de chorar. Retirou suas roupas pesadas, deixando-as em cima da pia, entrando dentro do pequeno box e abrindo o chuveiro na temperatura mais quente permitida.

Estava com frio, precisava interromper a tremedeira das suas mãos.

Uma vez, há aproximadamente dois anos, lera em um livro de autoajuda que para acalmar a mente primeiro necessita-se acalmar o corpo. Corpo descansado é igual a uma mente descansada, eles diziam, donos da verdade com sorrisos brilhantes.

Min Yoongi nunca conseguira acalmar sua mente com qualquer outra atividade que não fosse a autolesão.

Soltando um suspiro doloroso, afinal a água quente adentrava em seus cortes recentes e reabria-os, Yoongi deslizava o dedo por toda a extensão do seu braço. O sangue começava a escorrer por sua pele, formando círculos vermelhos no chão branco e o loiro perdia-se em seus pensamentos.

Quando, em toda a sua miserável vida, esteve tão destruído?

Ele havia atingido o fundo do poço. O corpo estava manchado e machucado, a mente totalmente possuída pela doença que o matava um pouco todos os dias e o coração estraçalhado e desesperançoso. Aparentemente não haviam mais motivos para continuar respirando, então por que a morte não o abraçava de uma vez e acabava com aquele sofrimento infernal?

Não fazia sentido; mesmo após inúmeras vezes desejar e estar pronto para a morte, ainda acordava no dia seguinte. Confuso, decepcionado e com mais uma cicatriz para enfeitar a sua pele.

Estava cansado.

Perigosamente cansado.

{⋆*ೃ}

Taehyung uniu as sobrancelhas ao perceber a ausência de Min Yoongi na cafeteria da faculdade.

O falso ruivo escondeu as mãos dentro dos bolsos do casaco, a franja separada permitindo que a testa fosse vista e a camiseta branca acompanhada de uma calça escura presenteando-o com uma imagem madura. Estava frustrado, parado de pé diante da mesa que o loiro havia sentado no dia anterior, parte do seu cérebro afundando em perguntas sem respostas.

Será que ele estava bem? Não fazia a menor ideia.

Por fim, sentou-se em uma das cadeiras de metal disponíveis e retirou um caderno azul-celeste de dentro da mochila. Passou algumas páginas com os dedos até alcançar a de seu interesse: o desenho em andamento de Yoongi. Um pequeno sorriso iluminara a sua expressão quando observou que os olhos desenhados eram idênticos aos misteriosos olhos do loiro, na vida real.

— Estou ficando bom, hyung, obrigado. — Sussurrou, mesmo sabendo que o fotógrafo não o ouvia.

Sua caneta flutuava pela página, cada mísero detalhe do rosto tão bonito de Yoongi sendo eternizado naquele magnífico esboço. Taehyung tinha os olhos semicerrados, sua atenção voltada aos lábios pequenos e delicados que finalizava, a voltinha bem no centro do lábio superior sendo sombreada e aprofundada. Aquela parte do rosto do loiro era extremamente fofa e ocupava um espaço especial nas memórias do falso ruivo.

Repentinamente, Taehyung presenciou-se imaginando como seria o sorriso de Yoongi.

— De novo com isso? — Jimin interrompera os seus pensamentos, tocando-o no ombro e rindo da sua expressão assustada. — O que foi? Estava tão concentrado que não ouviu o seu melhor amigo favorito chegando?

Taehyung também riu, saindo da sua personalidade séria e abrindo o seu típico sorriso adorável, os olhos fechando em dois pequenos e bem desenhados riscos.

— Você é o meu único melhor amigo, Jimin. — O cutucou com o ombro quando o baixinho sentou-se na cadeira ao lado.

— Eu sei, eu sei. — Ele deitou a sobre os braços unidos em cima da mesa, os olhos observadores visualizando o belo e deprimente desenho de Min Yoongi. — Quem é? — Perguntou novamente, apontando para o esboço feito a caneta com o queixo.

O ruivo comprimiu os lábios, decidido a não revelar absolutamente nada do que desconfiava ser Yoongi para o melhor amigo. Não era como se não confiasse em Park Jimin, afinal o moreno o conhecia mais do que ninguém, porém sentia-se na obrigação de não espalhar falsos rumores sobre alguém que aparentava não desejar atenção. Tudo o que sabia sobre o loiro era que ele era calado, talentoso e solitário. . Porém desejava manter essas poucas informações em segredo.

Estava, inconscientemente, salvando Yoongi de mais uma enxurrada de julgamentos e olhares desdenhosos.

— Eu achei na internet e copiei, ficou bom? — Mentiu, facilmente convencendo Jimin.

Taehyung não cursava artes cênicas por acaso, era um ótimo ator. Além do seu visível talento na arte da atuação, ainda posava muito bem para fotografias e possuía um dom absurdo com materiais de pintura.

Era, literalmente, a personificação física do curso de artes cênicas.

— Está ótimo, parabéns hyung! — Jimin sorriu, um sorriso adorável que conquistava a todos que o visualizasse.

— Obrigado. — Taehyung fizera uma desajeitada reverência, arrancando uma gargalhada do melhor amigo.

Enquanto Jimin e Taehyung se divertiam com os pequenos e quase imperceptíveis detalhes felizes do dia a dia, Yoongi corria até o portão da faculdade. Estava atrasado e precisava apresentar um trabalho na primeira aula, então o suor em sua testa não se justificava apenas por ter corrido do ponto de ônibus até a entrada do local — estava ansioso, sua mente doente o forçando a acreditar que seu trabalho estava horrível e que todos ririam dele.

Cumprimentou o professor com uma reverência, pedindo silenciosamente para interromper a aula. O homem revirou os olhos, convidando-o a entrar na sala. Yoongi não havia sido o único a se atrasar naquele dia e, por essa razão, o professor de óculos redondos estava mal humorado.

Porém, obviamente, Yoongi possuía uma visão distorcida da realidade, então permaneceu paralisado no lugar. Imaginava que estava atrapalhando a aula do professor e que o mesmo não o desejava ali, sua respiração fugindo do seu controle conforme a atenção de toda a turma se voltava para ele e seu visível desespero.

— Min Yoongi. — O professor interrompeu a sua crise, arrastando-o para a realidade. — Entre, vamos!

Yoongi respirou fundo, pisando dentro da sala de aula e caminhando até a sua cadeira com vergonha estampado na testa. Algumas pessoas pensavam em como ele era um ser humano estranho, porém a grande maioria estava ocupada atentando-se ao trabalho que um outro aluno estava apresentando.

Quando a sua vez de apresentar finalmente chegou, Yoongi não conseguia sentir as suas pernas. Levantou com as mãos trêmulas, conectando o pendrive no aparelho reprodutor de audiovisual e enquadrou-se no centro da lousa branca como a neve. Todos os olhares estavam em sua direção e o coração batia descontrolado dentro do peito.

“O seu trabalho está um lixo.”

“Você vai ser reprovado.”

“Todos estão vendo como você é ridículo, olha como eles zombam de você.”

“Por que não desiste de uma vez?”

“Você é um lixo.”

“Não consegue fazer nada direito”.

— Bom dia, e-eu sou Min Yoongi. — Gaguejou, curvando-se em uma reverência desajeitada e amaldiçoando-se por ser tão infantil e despreparado. Certamente seria reprovado. Respirou fundo, fechando os olhos e contando em voz baixa até quinze, seus companheiros de classe demonstrando desinteresse em sua apresentação conforme ele perdia-se em sua contagem.

“Você deveria desistir, ninguém quer ver um trabalho ruim como o seu.”

Yoongi suava, os cabelos descoloridos começando a colar em sua testa pálida. O rapaz era a imagem viva do nervosismo, mordiscando o lábio inferior e piscando de maneira repetitiva. Seu professor aparentava impaciência com aquela cena, revirando os olhos e ajeitando a própria postura na cadeira desconfortável de coloração escura.

— Está perdendo tempo. — Avisou-o, os olhos de falcão observando a cor fugir do rosto de Yoongi.

Engolindo em seco, o loiro desamarrou-se da sua timidez e decidiu jogar-se no precipício que era assumir o papel do professor. Apresentou seu trabalho árduo com rapidez e firmeza, sua voz robótica intrigando o professor e suas pesquisas extremamente bem-feitas chocando os alunos destaques da turma.

Ao final, Yoongi encontrava-se rouco e lágrimas acumuladas preenchiam a sua visão. Suava bastante, a blusa de frio grudando na pele marcada e as mãos trêmulas. Nenhum dos seus companheiros de classe notou como havia doído fisicamente aquela apresentação, as mais diversas formas de avaliação eram sempre terríveis e tiravam o sono do rapaz, entretanto sua dedicação exemplar o tornava um ótimo aluno — nunca o melhor, afinal não assumia tamanho risco, porém sempre possuíra notas suficientes para terminar seus estudos sem grandes preocupações nos finais dos anos.

Não era o melhor aluno da classe, mas possuía uma dedicação tão intensa que o tornava um ótimo estudante.

Infelizmente, graças a depressão, vivia às escuras; nunca enxergava potencial em seus trabalhos, duvidava da própria capacidade e julgava-se o mais decepcionante aluno de toda a faculdade. Não via como era brilhante, seu cérebro doente o amaldiçoando com visões desanimadas sobre o próprio futuro.

— Parabéns, foi um ótimo trabalho. — O professor parabenizou-o, iniciando uma chuva de palmas que confundiu as opiniões já formadas que o loiro possuía sobre si.

Se era a decepção em pessoa, por que todos estavam aplaudindo o seu trabalho?

“Eles estão com pena”

“O seu trabalho foi tão ruim que estão batendo palma para te consolar.”

“Não acredite neles, são falsos.”

“Eles batem palmas para todos os alunos.”

Yoongi engoliu em seco, abaixando a cabeça e realizando sua última reverência. Ignorando as palmas, retirou seu pendrive do aparelho e retornou ao seu lugar, no final da fila e ao lado da janela. Deitou a cabeça nos braços unidos em cima da mesa e finalmente permitiu que as lágrimas saltassem de suas órbitas e escorressem por suas bochechas.

Sentia vergonha de si mesmo, era uma decepção em tudo que fazia. Não sabia porque continuava tentando, frequentando as aulas e realizando as provas e trabalhos, afinal eram esforços inúteis.

Min Yoongi era uma decepção. Um lixo.

Permaneceu derramando lágrimas até o fim da aula, quando todos deixaram a sala e seguiram com suas vidas. Seus cílios pesavam, os olhos inchados observando a grande e vazia sala de aula, questionando-se silenciosamente o que estava fazendo.

Por que ele continuava tentando quando obviamente era um inútil fracassado?

— Por que eu ainda estou aqui? — Sussurrou para ninguém ouvir, as lágrimas secas machucando as suas bochechas quando o vento frio entrou em contato com a sua pele pálida.

Naquela triste e fria manhã, Yoongi não cumpriu seus horários. Passou as horas seguintes sentado no banco gélido do jardim da faculdade, as mãos escondidas dentro dos bolsos do casaco e a esperança despedaçada pelos próprios pensamentos destrutivos.

Preso em sua névoa depressiva, ignorou até mesmo o vermelho desbotado dos fios de Taehyung. O falso ruivo o observava pela janela da sala de aula, capturando rapidamente o seu olhar, mas nunca a sua atenção.

Yoongi estava inalcançável.

Taehyung sempre fora uma pessoa decidida, então o olhar aéreo que o loiro dirigiu a si somente alimentou a sua vontade de falar com ele novamente. Levantou-se, livrando-se rapidamente do olhar questionador de Park Jimin e cruzando a sala até a porta, correndo até o jardim e tropeçando em algumas pessoas no processo.

Encontrar seu hyung era a prioridade.

Quando finalmente chegou até o mesmo banco onde havia posado para a câmera do fotógrafo dias atrás, Taehyung estava com os fios desalinhados e a respiração ofegante. Yoongi, entretanto, continuou impassível, imóvel como uma estátua.

— Hyung? — Uma porcentagem dele estava com medo. Engoliu em seco, recebendo o silêncio como resposta. — Ei, hyung, por que está aqui sozinho? — Um pequeno sorriso chocou-se com o seu olhar assustado, mas Yoongi não olhava para o seu rosto.

“Ele não se importaria se você morresse.”

— Min Yoongi? — Tentou, tocando-o delicadamente no ombro e percebendo, pela primeira vez, como seu hyung suava. O pano molhado o chocou por alguns segundos, porém ele conseguiu conter a expressão assustada que ameaçou surgir em seu rosto. — Hyung, está suando!

Enquanto Yoongi segurava as lágrimas, Taehyung retirava as luvas que utilizava. Ajoelhou-se na frente do loiro e fitou-o intensamente, pedindo permissão com os olhos enquanto lentamente enxugava o suor em seu rosto com o tecido que antes aquecia as suas mãos.

O momento jamais seria esquecido por Yoongi. O fotógrafo permitiu que as lágrimas escorressem por seu rosto bonito, atrapalhando a tarefa de Taehyung. O falso ruivo interrompeu seus movimentos, observando como o seu hyung parecia despedaçado, um sobrevivente de uma guerra difícil em níveis que ele jamais compreenderia.

— Me desculpe. — Yoongi sussurrou, as mãos permanecendo imóveis e os olhos inchados bem fixos nos olhos castanhos de Taehyung. — Vá embora. — Ordenou, o primeiro soluço escapando por seus lábios avermelhados.

— Não.

“Você vai contaminá-lo com a sua sujeira.”

— Por favor, não é um problema seu. — Ele abaixou a cabeça, encolhendo-se ainda mais.

— Não me importo. — Taehyung falava sério, sua voz grossa adentrando os ouvidos de Yoongi e lentamente aquecendo o seu coração. — Não vou deixar o hyung.

Enquanto Yoongi chorava lágrimas acumuladas de anos, o ruivo sentava-se no chão do jardim, sem se importar em molhar suas calças com a neve recém-chegada. Acompanhou o choro em silêncio, os olhos fixos na imagem desolada do loiro e as mãos ansiando em puxá-lo para um abraço.

Mas não o fez.

Kim Taehyung permaneceu ao lado de Min Yoongi em silêncio, respeitando o seu espaço e a sua dor — mesmo sem entender o porque de tamanha tristeza.

Pela primeira vez em todos os seus vinte e três anos de existência, Min Yoongi presenciou alguém escolher ficar.

"It's so quiet here
           And I feel so cold"


Notas Finais


⋆*ೃ pesado, nao é? essa é a real face da depressao psicotica, logico que tem muito mais a mostrar e eu vou sempre avisar voces sobre os gatilhos, tera um capitulo em especial muito pesado, mas isso deixamos pras proximas atualizações.

⋆*ೃ lembre-se: se voce se sentir ao menos um pouco como o yoongi, por favor, procure ajuda. nao se deixe vencer, nunca! voce é forte o suficiente pra aguentar isso sozinho, sei disso, mas sera ainda mais forte com a ajuda de alguem - profissionalmente ou so com seus amigos e familiares, mesmo. comunique-se! fale! nao se cale, nao se retraia, nao se isole! é isso que ela quer que voce faça, mas por favor, nao o faça. escuta o meu conselho, eu com certeza quero o seu bem, ao contrario das vozes na sua cabeça. obrigada por continuar sendo forte e nao desista!

⋆*ೃ obrigada por acompanharem e pelos comentarios. até.


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