História Among the Shadows - Capítulo 26- Única Mentira

POV Allyra

Dizer a verdade, toda ela, sem restrições, me tirou um grande peso das costas.  Saio da enfermaria sem saber muito bem o que fazer a seguir, mas sigo acompanhada de John até o muro.

-Então quer dizer que sua fuga resultou em encontrar um amor?- pergunta bruscamente, daquele jeito direto que ele sempre usa.

-Sim, John.- admito, principalmente porque não tem sentido nenhum mentir para ele.

-Achei que não viveria o suficiente para ver isso- diz e ri. Dou um sorriso de lado e apoio a cabeça no muro.- Você sabe que consegue lidar com isso. Com tudo.

-Consigo- concordo de olhos fechados- Só preciso descobrir como fazer isso.  Negan não vai facilitar.

-Como pretende enfrenta-lo?

-Vou começar pedindo ajuda do Reino.

 -Parece bom- concorda .

Ouço passos leves vindo da esquerda e ergo a cabeça, abrindo os olhos, para encontrar Jesus se aproximando.

-Separamos um trailer para vocês dois- diz e dá um sorrisinho.

-Obrigada

-Então você é a filha dele- diz e eu volto a encarar seus  olhos azuis.

-Sim.

-Por isso não estava nada confusa com a existência de Hilltop quando me apresentei em Alexandria.

-Sim

-Você só sabe falar sim?- pergunta fazendo graça e eu solto uma risada.

-Não.- ele balança a cabeça exasperado.

-Aproveite a estadia, Lambertini.- diz e então faz uma reverencia cômica, sumindo por entre os trailers novamente.

O lugar é apertado, mas é o melhor que poderíamos querer. Eu tomo banho primeiro, e logo depois John. Conversamos um pouco, ele me conta sobre as coisas que ocorreram enquanto estive fora e eu falo um pouco das coisas que vivi. Temos uma pequena discussão sobre vigiar, e consigo convence-lo a dormir direto, que não há necessidade disso aqui.

Estou tão cansada que não tenho forças nem para sonhar. É um sono completo e revigorador. Acordo com os primeiros raios de sol e chuto as cobertas para longe de forma silenciosa. Faço a higiene matinal e salto para fora do trailer, deixando John meio dormindo meio acordado.

Vou até a enfermaria dar uma olhada em Maggie, e se for para ser sincera, em Daryl também. Ela ainda dorme, mas ele está acordado e fixa os olhos em mim assim que entro. Glenn, que acompanha Maggie, conversa comigo por uns momentos, e sinto um grande alivio ao ver que  pelo menos com ele nada mudou.

Sinto o olhar de Daryl em mim constantemente, e  tenho que me controlar para não virar e encara-lo de volta. Algum tempo depois todo o grupo se juntou aqui e acabamos todos tomando café juntos. Depois disso Rick me pergunta sobre os tais aliados e eu me acomodo melhor em uma das macas para responder.

-É uma comunidade razoavelmente grande, que vai estar totalmente de acordo em entrar em uma luta com o Negan. – digo de maneira explicativa.

-Mais uma subjugada dele?-pergunta o ex-xerife me analisando com seus olhos azuis inteligentes.

-Não exatamente.

-Então são livres do controle do Negan? Como?- pergunta Glenn e eu suspiro.

-Foram encontrados por um grupo de salvadores a cerca de um ano, e receberam a visita do Negan como era de se esperar. Ele falou todas aquelas merdas sobre nova ordem mundial e matou um deles. Saiu de lá crente que tinha conquistado mais uma comunidade, mas eles não estavam tão propensos assim.

-O que aconteceu então?- pergunta o coreano novamente.

- Atacaram um dos grupos e Negan me mandou para resolver o problema. Com as palavras dele, eu deveria queimar o lugar até que só restassem cinzas. Para que vocês visualizem melhor era um acampamento enorme constituído de cercas feitas de madeira reforçada e no interior contava com tendas de circo e trailers.- paro por um momento para tomar folego e fixo os olhos nos de Daryl, sem conseguir evitar- Acontece que eu não estava afim de acabar com a vida de crianças inocentes, velhos e pessoas boas, então conversei com o líder deles. Foi uma troca mutua de confiança. Ajudei-os a abrir uma brecha nos fundos da comunidade, e planejamos que sairiam por ali durante a noite, depois de eu fazer a ameaça ao líder.  Eles juntaram mochilas com o essencial, mas deixaram muitas coisas para queimar. Durante a noite saíram todos os moradores, e com a ajuda dos responsáveis pelas corridas e graças ao que já tínhamos planejado, fizemos com que walkers entrassem pela brecha. Não muitos, mas o suficiente para parecer que corpos estavam ali. Gritos gravados ajudaram também.

-Então enquanto o meu grupo de merda dormia eu coloquei fogo nas tendas e nos muros, e fiquei assistindo o fogo consumir tudo aquilo. Quando acordaram com os gritos gravados e o fogo, só viram um fogo alto consumir a comunidade assustadoramente rápido.  Dei a ordem que nos afastássemos porque aquilo tudo atrairia walkers, e voltássemos quando o fogo apagasse.

-Como o esperado encontraram corpos e uma comunidade inteira em cinzas. Negan nunca desconfiou que na verdade aquelas pessoas ainda vivem e prosperam. Assim que me livrei dos salvadores, sai em uma missão sozinha e os encontrei em um ponto estratégico. Viajei com eles por um tempo até encontrarmos um lugar bom para recomeçar. Não pude ajudar muito, mas mantenho uma relação de amizade desde então. Não são muito afastados de Alexandria,  e era para lá que eu estava indo quando o Dar...- paro um minuto, sem saber como reagir e trinco os dentes- quando o Dixon e Aaron me encontraram. A comunidade chama-se Reino.

-Ainda existem e ainda estão bem?- pergunta Maggie com um olhar fascinado- São autossuficientes?

-Sim para as duas perguntas.

-Eles podem ser nossa chance- murmura Mich- Com mais gente de aliados, acho que podemos contra os salvadores.

-Jesus, os moradores de Hilltop estão conosco?- pergunto e ele me encara por um momento.

-Os moradores talvez, Gregory não- responde e entendo exatamente o que quer dizer. Gregory é um bosta.

-Como poderíamos convencer Gregory?-pergunta Sasha e eu balanço a cabeça.

-Acho que a questão correta seria: Por que o Gregory é líder?- disparo e Jesus me olha com as sobrancelhas arqueadas.

-Allyra- resmunga e eu quase sorrio.

-Conheço algumas coisas daqui, Jesus.- digo e ele fixa os olhos em mim- Não preciso examente conhecer você para saber que me entendeu.

-Ouviu historias entre os salvadores?

-Claro- respondo e dou de ombros.

Os planos continuam fluindo, e fica decidido que iremos até o Reino daqui a dois dias. Logo decidiremos quem vai. Maggie provavelmente vai ter que ficar em Hilltop pelo acompanhamento médico.

As pessoas saem da enfermaria aos poucos, em grupos. Eu vou acompanhada de Jesus, ambos discutindo sobre diversas possibilidades.

-No final das contas você é quase divertido- digo quando estamos nos despedindo e ele ri.

-Você também não é nada mal.- responde e acena em despedida.

 Viro-me e começo a seguir em direção ao trailer que me foi designado, pra então encontrar nada mais nada menos que Daryl Dixon em pé, encostado em uma parede. Expressão fechada. Os olhos de um azul incrível estão escuros e revoltos, fixos em mim.

-Te deram alta ou você fugiu?- pergunto ainda afastada, fixando meus olhos nos seus. Meu coração se acelera de forma ridícula, e sinto uma vontade absurda de toca-lo.

-O que você acha?-pergunta sustentando meu olhar, a voz rouca e rude.

-Acho que fugiu, que não aguenta ficar parado naquela cama por muito tempo.- digo e dou de ombros.

Ele concorda com a cabeça, um movimento lento e calculado.  Fico parada por um longo momento, naquela guerra de olhares, nem um pouco disposta a perder. Quero lhe dizer tanta coisa, e ainda assim não quero dizer nada. Não sei o que fazer para fechar essa distancia que surgiu entre nós, talvez nem se quer seja possível.

-Dixon- digo seu nome de forma inconsciente e seus olhos faíscam para mim- Eu...

-Agora eu sou Dixon?- pergunta se desencostando da parede e dando um passo em minha direção. Franzo a testa diante da pergunta e me preparo para responder quando alguém chama meu nome:

-Allyra- Eugene me chama e sinto em sua voz certo ódio que só me faz rolar os olhos- Rick está te chamando, o que eu particularmente não vejo sentido nenhum. É como entregar os planos, levando em consideração que você é a filha do inimigo, e portanto  uma inimiga.

-Onde ele está?- pergunto ignorando todo o resto que o idiota diz. Ele bufa.

-Na casa central- responde rude e  eu aceno com a cabeça. Ele se vira para ir embora, mas para e me olha fixamente. Quase fico surpresa levando em consideração que o cara é um covarde de primeira- É melhor você não causar a morte de mais ninguém, sua vadia.

Ele finaliza cuspindo no chão, e então eu vejo vermelho.

POV Daryl

Observar Allyra a distância deixa claro que apesar de tudo ela continua a mesma. Está conversando e rindo com Jesus e meu sangue ferve. Não sei como estamos depois disso, aposto que na verdade não estamos, mas ainda assim odeio ver essa interação, exatamente como odiei saber que está dividindo o trailer com o tal primo.

 Ela caminha de forma calma, completamente atenta a tudo ao seu redor e logo me nota.  Fixa os olhos cinzentos e tempestuosos em mim e enfrenta meu olhar como sempre. Mantenho-me firme  ela acaba vindo em minha direção.  E então ela me chama de Dixon. Não da forma irritada que costumava fazer as vezes, mas... Aos meus ouvidos soa impessoal.

-Agora sou Dixon?- pergunto sem me conter e só então me dou conta de que a interrompi. Ela franze a testa daquela maneira adorável e quase confusa e tenho que  me segurar para não puxa-la para um beijo.

Então Eugene chega e tira todo o foco e tensão do momento. Fala algo sobre Rick estar chamando-a e resolvo comigo mesmo que vou acompanha-la. Para completar de uma maneira desastrosa ele vira em para Allyra e lhe diz coisas absurdas, acusando-a das mortes e de ser inimiga, finalizando chamando-a de vadia.

Eu fico possesso, totalmente puto e me viro em sua direção pronto para um soco, mas Allyra é mais rápida e soca-o diretamente no rosto. Ele cai como um saco de batatas e ela dá dois passos rápidos se abaixando ao lado dele e  puxando-o pela camiseta até que estejam quase cara a cara.

-Eu não sei bem o que te fez ter a impressão que pode falar comigo assim mas vamos acabar com isso agora. Se você fizer mais uma merda dessas eu quebro todos os seus dentes, corto sua língua e te dou de ração para os zumbis. Levando em consideração que você é um bosta covarde, é bom ter em mente que vai precisar de mim para proteger  essa bunda gorda lá fora, e você pode acabar não contando com isso.

Solta-o bruscamente, se levanta batendo as mãos uma na outra para tirar a poeira e segue em direção a casa principal. Sorrio sem ter noção e passo por Eugene rapidamente para alcança-la.

-Allyra-chamo e ela para, virando-se para me encarar.

- O que? Vai me julgar também?- pergunta e noto certa amargura em sua voz.

-Não. Nunca julgaria você por isso- digo e ela arqueia a sobrancelha.

-Bem, me julgou por menos, não?- pergunta e eu entendo que está se referindo ao dia em que foi embora. Então suspira- Não era assim que eu queria que essa conversa acontecesse.

-Eu...- paro sem saber como prosseguir, tantas coisas misturadas, tanto para dizer.

-Você?

-Little Monster nunca foi para ofender- digo e ela me olha surpresa, abrindo um lindo sorriso em seguida.

-Eu sei- ela dá dois passos para mais perto, tão perto que sinto seu hálito em meu rosto- Nunca me ofendeu ou serviu de associação ao que Eugene disse ontem.Foi...era carinho.

-Por que Dixon?- pergunto e ela arqueia a sobrancelha. Nenhum dos dois se afasta.

-É o seu nome.

-É impessoal.

-Achei que fosse querer distância.- responde e dá de ombros.

-Quero muitas coisas e distancia  não está nessa lista-resmungo e os olhos dela se iluminam.

-Daryl, Allyra está na hora do almoço- chama Michonne e nós nos afastamos. 

O tal primo dela logo chega e a abraça de lado. Eles seguem juntos para a mesa em que a comida para nosso grupo está sendo servida. Rosno baixo.

(...)

No dia seguinte decidimos os últimos detalhes para a visita ao Reino.  Fica decidido Sasha, Eugene, Rosita, Glenn,  Maggie – que está recuperada e recebeu a permissão do médico para viajar-e Aaron irão para Alexandria ,  irão para Alexandria depois de amanhã, enquanto, Michonne, eu, Rick, Allyra e o primo dela seguimos para o Reino amanhã pela manhã. Eles ficam aqui um dia a mais por Maggie, que parece ter um plano, e que só dividiu com Allyra.

A ruiva diz que é bom que reforcem a segurança de Alexandria e estabeleçam barricadas e outras precauções. Ninguém discorda dela. Jesus também quer conhecer o Reino, e acabamos concordando com isso. Gregory continua relutante quanto a se associar, mas Allyra e Jesus já conversaram com alguns moradores e muitos deles se sentem de outra maneira.

Saio para recuperar minha moto, acompanhado de Michonne, e isso acontece sem problemas. Durante o trajeto de volta só consigo pensar que preciso dizer algumas verdades a minha Little Monster antes que seja tarde demais.

POV Allyra

Pela manhã estamos todos nos preparando para seguir para o Reino. Seguiremos no carro que pegamos dos salvadores, graças a John, Daryl em sua moto que e o resto que seguirá para Alexandria fica com o trailer.

Estou sozinha na lateral da comunidade em um lugar estratégico onde tenho uma visão da entrada,  afiando minha lança enquanto o resto abastece o carro com alguns suprimentos, e estamos quase prontos, quando sinto a aproximação de Daryl. Guardo a lança no suporte em minhas costas com um movimento só e me viro para encara-lo.

-Você se lembra do que te disse quando saiu de Alexandria?- pergunta, os olhos fixos nos meus de forma impassível.

Aperto os lábios por um instante, tentando suprimir a mágoa que me atinge conforme me lembro de tudo o que ocorreu. Assim que me recupero digo:

-Perfeitamente- respiro fundo antes de continuar, ignorando o aperto em meu coração- Se eu fosse embora, não precisava voltar. Posso partir de novo, Daryl, se é o que realmente quer para se sentir confortável, mas não vou fazer isso antes que essa guerra que nem iniciou chegue ao fim. Disse que ajudaria vocês e é exatamente isso que vou fazer.

Viro as costas, sem calma ou estabilidade suficiente para continuar essa conversa e começo a seguir para o carro, quando ele me puxa pelo braço bruscamente e meu corpo colide com o dele.

-Eu menti- ele praticamente cospe as palavras, os olhos fixos nos meus.-  Foi a única mentira que contei a você desde que te conheci.Disse que queria que nunca voltasse quando na verdade a única coisa que conseguia pensar era que não queria que você fosse. Você  foi embora e tudo o que eu queria era que voltasse. Eu sempre vou querer que você volte.