História Amor? - Heliponto

LUNA

-O que aconteceu com ele?

Lysandre parece preocupado, mas nem tanto. Claro, já que ele não sabe nada ainda.

Eu não queria que ele se sentisse culpado, mas nem eu mesmo sei como o Castiel está de fato. Ele sofreu uma concussão cerebral e isso sempre é muito delicado. Pode não acontecer nada de mais, mas também pode tornar o Castiel um vegetal.

-Na realidade, eu não sei como ele está de fato. Me ligaram tem algumas horas e o médico prefere conversar pessoalmente, tudo o que posso te afirmar é que ele continua vivo e está consciente.

-E nós podemos vê-lo? Onde ele está?

-Estava em Las Vegas.

-Estava? Onde ele está agora?

-Sendo transferido para o hospital onde meu pai trabalha.

Sinto o olhar dele sobre mim, mas não sei dizer ao certo o que ele está pensando.

-Você decidiu isso sozinha? Os pais dele...

Não sei porque a menção aos pais dele me irrita um pouco.

-Os pais dele sempre o deixaram por conta própria! Eu sou o contato de emergência porque ele sabia que eu estaria lá para ele, não importa o que houvesse! Sim, eu decidi sozinha, mas foi porque ele deixou a escolha para mim. Eu quero ele perto. Meu pai vai cuidar do caso pessoalmente. Onde estavam os pais dele durante todos esses anos?!

Eu o desafio com o olhar a pelo menos dizer que eu deveria ter perguntado a ele. Depois de alguns segundos de silêncio, Lysandre suspira.

-Luna, você sabe que seria o certo que eles fossem avisados.

-A secretária do meu pai vai ligar. Quem sabe eles vem vê-lo, quem sabe se dessa vez eles servem para alguma coisa...

Respiro e tento me acalmar, todos esses dias de agonia, me preocupando com ele... estou muito estressada. Eu queria fazer as pazes com Lys e não descontar minha frustração e estresse nele.

Eu preciso dele, não vou aguentar a barra sozinha. Lysandre pode não estar a par dos procedimentos de hospital e eu não quis apavorá-lo, mas sei que se fosse algo pequeno, com Castiel consciente, o contato de emergência não seria acionado. É grave, só me resta esperar para saber o quanto.

-...Lys, eu não posso aguentar tudo sozinha. Quero que você fique do meu lado, por favor. Sei que você ama Castiel também...

Ele se remeche, desconfortável ao meu lado.

-...apesar de ainda estar chateado com ele. Nós somos a família dele, você sabe. Você até mais do que eu quis que fosse assim. Se eu me apeguei tanto a ele a culpa é totalmente sua.

O cutuco abaixo das costelas.

-Você já era amiga dele antes mesmo de me conhecer, Luna. Ele foi quem nos apresentou.

-Mas você vivia com ele, vocês eram como uma compra casada. Compre um, leve dois.

Sempre ensaiando, sempre nas mesmas festas, mesmos grupos de trabalho...como eu não ia me apegar a ele, com aquela cara de criança carente rebelde?

-Eu... ainda sinto ciúmes, mas acho que a situação requer que eu embrulhe isso e deixe para outra hora. Certo?

-Certo.

-Já que ele estava acordado, você pôde falar com ele?

-Não.

A feição de Lys muda, ele percebe que eu fico um pouco nervosa.

-E porque não?

-Não sei te dizer, talvez estivesse dormindo quando ligaram, ou fazendo algum procedimento.

-Quando ele chega?

-Hoje de madrugada.

-Então amanhã de manhã vamos ao hospital vê-lo.

-Não, eu vou estar lá para receber o helicóptero.

Eu pensei que ia ter algum problema com essa parte, mas o que meu marido fala me deixa muito feliz. Esse sim foi o homem com quem eu casei.

O que ele diz é:

“Eu levo você de carro.”

CASTIEL

Meu nome é Castiel.

Eu sofri um acidente.

Eu estava num hospital em Las Vegas, mas agora estou indo para outro.

Hospital é onde cuidam de pessoas doentes e feridas.

 A enfermeira que cuidava de mim se chamava Gil.

Enfermeira é alguém que trabalha no hospital e ajuda os médicos.

Médico é quem nos avalia e passa tratamento pra gente se sentir bem de novo.

Gil disse que Luna vai me esperar no hospital novo.

Luna é uma pessoa que me conhece e vai me ajudar.

Gil me explicava tudo o que ia acontecer.

Tomara que Luna me explique também, porque eu sempre fico confuso.

Como quando eu vi aqueles símbolos. Letras?

Acho que era esse o nome deles. Gil disse que servem para escrever as palavras.

A E I O U, essas são as vogais.

Talvez essa Luna saiba onde está a garotinha que estava comigo no carro.  

-Chegamos.

Alguém fala isso pra mim, eu não sei quem é. Os homens fazem todo tipo de coisas, desamarram cintos, tiram fios do meu corpo, checam aparelhos e outras coisas que eu não sei explicar.

-Vamos descer agora, tudo bem? Vamos colocar outra manta, lá fora está um pouco frio.

Me põem uma espécie de cobertor cinza que parece ter papel na parte de dentro.

Eu esqueci o nome, não é cinza, a cor tem outro nome. O farfalhar me faz lembrar de sanduíches... sim, um papel que se embala sanduíches, parece metal... mas acho que não é...

-Olhe, tem alguém esperando por você.

O homem fala e interrompe meu pensamento. Eu estou deitado e imobilizado.

Imobilizado é quando prendem a pessoa e ela não pode se mexer.

Eu queria ver quem estava me esperando, mas meu cérebro decide que é hora de desligar e eu apago.