VICTOR
A recepcionista me avisa que Gaby está lá embaixo.
Depois que saí da casa de Luna, disse a ela que eu queria ficar sozinho para pensar. E ela realmente me deixou pensar, deixou até demais... hoje já é sexta.
Eu deveria descer para a recepção, esperar Castiel e lhe falar sobre a turma que selecionamos e mostrar a sala, mas acho que não vai dá!
-Ta certo Andreia. Antes de dizer que Gaby pode subir, me transfira para Ana!
-Sim, senhor Leal!
-Ana?!
-Fala Victor...
-Você vai ter que fazer um favor para mim.
-Se eu puder.
-Castiel vem dar aula hoje e alguém tem que estar lá para tirar as dúvidas dele, mostrar a sala, explicar sobre a frequência e falar sobre a turma especial de teste...essas coisas. Você pode fazer isso, por favor?
-...
-Ana?
-Eu tenho mesmo? Lysandre não pode fazer isso?
-Ele não vem nos dias de sexta de manhã!
-Ok! A lista da turma tá na recepção como sempre?
-Obrigada, obrigada! Sim, numa pasta fina, vermelha...junto com as outras.
Ouço a porta se abrir. Claro que Gaby não bate antes de entrar!
-Ei, posso falar com você?!
-Por que você não avisou que estava vindo para cá?
- Não queria que a Andreia tivesse que mentir dizendo que você está em reunião ou receber desculpas parecidas.
Ela fala sentando em uma das cadeiras que ficam em frente a minha mesa, só que ela senta de lado, com as pernas por cima de um braço da cadeira estofada e as costas apoiada no outro braço.
-Você sabe que eu não faria isso.
-Não sei de mais nada, Victor! O que foi aquela cena na casa do Lysandre?
-Por que você não me diz?
Ela faz uma cara nada satisfeita.
-Você quis lavar roupa suja na frente dos outros!
-Não, eu quis saber o que se passa na sua cabeça...
-E precisava perguntar na frente de todo mundo? Agora eu sou a vilã, a louca, a descompensada...
-Primeiro: Todo mundo já te acha louca! Segundo: Toda vez que eu tento falar disso com você, a gente acaba fazendo sexo e você fica sem me responder! Porra Gaby, me fala qual é o problema! Tu não me ama é isso?
-Não é isso...
Ela fala tocando o anel de noivado e olhando para a parede que tem a porta do banheiro.
-... Eu só...Não quero falar disso.
-Então o que tu veio fazer aqui?
-Quero fazer as pazes. Não consigo ficar sem você.
-Não é o que parece. Eu não quero fazer as pazes, quero resolver o problema.
-Victor, tu não achas que ta muito cedo pra tudo isso? Que ainda falta a gente se conhecer mais, talvez a gente devesse viajar juntos e...
-A gente namora a 7 anos! Não tem mais nada de mim para você conhecer, e se eu ainda não conheço toda a sua história... você pode me contar quando quiser, não precisa de viagem de casal para isso. Gaby... a próxima vez que eu te levar para viajar, vai ser na lua-de-mel, se não...
-Se não?
-Se não: não vamos ter viagem. Por que eu acho que já deu.
Ah, não, ela vai chorar.
-Você tá terminando comigo?
-Não é isso, Gaby... mas todo relacionamento evolui, ou regride até acabar. Eu amo você, e sou louco para acordar com você ao meu lado todo dia, para ter suas calcinhas espalhadas pelo chão do closet numa casa que seja nossa, para não ter que ler o teu “boa noite” por mensagem e sim ouvir. Mas parece que só eu quero isso. Eu já cansei de dar murro em ponta de faca.
Pronto. Ela ta chorando... Merda! Quero ir lá por ela no meu colo.
-Se você não queria casar comigo, porque aceitou?!
CASTIEL
Sala 4. A sala aonde Lysandre conduz as aulas particulares de música. A menor sala de música da LV. Nessa sala os instrumentos usados são os instrumentos particulares dos próprios alunos, ou seja, exceto pelo piano e uma bateria, não tem nada nela além de cadeiras e um quadro.
Me sento em uma das cadeiras. O que eu vou dar numa aula?
Os alunos começam a chegar, várias idades, instrumentos diferentes. Instrumentos clássicos e modernos. Duas guitarras, um violino, um baixo, uma flauta transversal, três violões e a garota do estacionamento entra, segurando um par de baquetas.
-Ótimo. Estão todos aqui?!
Os pestinhas ficam calados.
-Certo, vou fazer a chamada:
-Alex?
Um garoto loiro com um violão levanta a mão, deve ter uns 12 anos.
-Cristopher?
-Presente.
O dono do baixo fala, ele possui uma bela voz. Tem o cabelo castanho e olhos azuis.
-Diana?
-Aqui ó!
Uma garota, que se eu achasse na balada diria que tem uns 19, acena do fundo da sala. Está tirando seu violão da capa.
-Guilherme?
-Eu, tio.
Tio? O garotinho gordinho, deve ter 10 anos, segura um violão preto. Resolvo deixar passar
-Gina?
-Eu!
Uma garota de uns 14 anos acena usando a flauta.
-Nina?
-Presente.
É a garota que atormentava Lysandre, ela segura uma guitarra azul claro.
-Thomas?
Um adolescente, 16,17? Ruivo. Portador da outra guitarra, faz sinal com uma mão. Ele tem a palheta na boca.
-Vitor?
Só podem estar de brincadeira comigo. O garoto oriental não deve ter mais que oito anos.
Ele apenas levanta a mão e depois ajeita seus óculos.
-Zara?
-Aqui!
A garota do estacionamento levanta uma baqueta.
~
Muito bem, vamos ver o que se pode fazer com esses pestinhas.
-Alguém aqui já está no nível avançado?
Todos levantam a mão. Sem chance, não tem como as crianças menores estarem nesse nível. Puxo a ficha delas e vejo que é verdade.
Hum!
-Quero que todos me mostrem o que sabem fazer.
-Como?
Pergunta Nina.
-Dançando o passinho do Romano aqui na frente.
Todos riem, mas Nina fecha a cara.
Aponto para o menorzinho, Olho novamente a ficha.
-Vitor, você conhece a thousand years?
Ele assente com a cabeça.
-Então manda ver.
E ele faz! Acho que devo juntar meu queixo do chão. Bato palmas quando ele termina.
-Você tem aula particular com Lysandre, não é?
A criança balança a cabeça de forma afirmativa.
-Muito bem carinha.
Alguém ergue a mão.
-Fala.
-Professor...
-Professor não, Castiel!
-Castiel, o senhor é o guitarrista que acompanhava o mestre Lysandre na turnê?
-Isso mesmo.
-As suas composições... são incríveis!
-Obrigada, seja lá quem disse!
Neste momento estou de costas para a turma escrevendo no quadro.
“Compondo melodias”
-Todos aqui devem saber como se compõem, já que estão na turma avançada.
Ninguém diz que não.
-Já fizeram músicas próprias?
Eles olham um para a cara do outro. Senhor Lucifer, daí me paciência.
-Não vou pedir pra vocês se apresentarem aqui na frente, só quero saber se vocês compõem, se tem interesse nisso...
Ouço resmungos afirmativos de todo o tipo.
-Bom, hoje vamos tentar algo inusitado! Façam trios. Vamos fazer uma nova versão de uma música bem popular, vou ajudar vocês. Isso é muito difícil, como refazer totalmente o estilo da música sem que ela perca sua essência?!
~
Dispenso a turma, os carinhas tem talento. Mas está claro que alguns como Nina, não estão prontos para o sucesso e nem querem uma carreira nessa área.
Todos saem, menos a Zara.
-Hoje, no estacionamento, queria pedir desculpas se te ofendi, não foi a intenção.
-Relaxa aí.
-Você vai ficar sendo professor aqui na LV?
-Melhor você ir.
~
Espero Ana dispensar a turma de crianças da aula de teatro. Olho pelo vidro da sala dos pais, todos tiram uma selfie. As crianças ficam abraçando Ana várias vezes antes de saírem da sala que possui um mini-palco.
Quando todas saem e Ana está desligando as luzes eu entro na sala.
-Pronta para ir?
Ela dá um pulo.
-Cara, que susto!
Saímos juntos da sala e vemos Gaby sair da escola. Ana a chama, mas Gaby parece não ouvir.
Deixamos as pastas com as frequências na recepção e vamos para o estacionamento. Eu monto na moto e Ana, depois de hesitar, segura na minha cintura.
-Qual o endereço?
-Alameda Blackmore, Vila das artes... vou te mostrar quando chegarmos perto.
~
A casa de Ana é mais parecida com um chalé do que com uma casa. Fica numa espécie de condomínio que eles chamam de vila, e deve ser um aglomerado de casas de artistas, porque tem uma espécie de pracinha no centro que contem três postes e uma espécie de mini anfiteatro.
- Você quer beber alguma coisa?
-Quero sim.
-O que?
-Se tiver água ou vodka.
-Vou pegar água!
Me sento no único sofá da sala, amarelo, cheio de almofadas coloridas e de apenas dois lugares.
-Então, porque você me convidou pra sair?
-Você tá solteira, é bonita... Por que não?
-Castiel, vou jogar limpo...
Ela fala me entregando um copo com água.
-... sei que a Luna andou te perturbando, e a Rosalya também, mas quero que você saiba que não foi porque eu pedi! Elas também me perturbam... Só porque... só porque eu disse que você é um cara bonito.
Ela fala puxando um fio solto de uma manta colorida que estava embolada em cima do sofá.
-Ok! Bom saber que você me acha irresistível.
-Ei, eu não disse isso.
Eu rio.
-Eu também acho você bonita, e pra ser sincero... Eu teria chamado você para sair a mais tempo, se não fosse a Luna... Sabe como é... eu não podia dar o braço a torcer.
-Sei! Por isso não queria ser vista num lugar público com você. Não me leve a mal.
-Sem problemas.
-Eu sei bem que você não é um cara pra relacionamento...
-Também não é...
-Eu só quero transar com você, sem compromisso, sem que os outros saibam! Apenas ter a quem procurar quando bater a carência... se você gostar da experiência, claro.
Essa me pegou de surpresa! Que mulher não quer flores e amores?! Parece que a Ana não quer. Isso fere um pouco meu ego. Mas se é assim que ela quer:
Deixo o copo em cima da mesinha de centro de madeira crua e a beijo.
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