História Amor à distância - A pior noite da minha vida.

-"Amor, por favor, não é nada disso que você está pensando. Ele é só meu amigo!" - Escutei minha mãe dizer desesperada. 

Havia um homem em nossa casa a madrugada toda?

-"COMO ASSIM NÃO É NADA DISSO, CRISTINA? DESDE QUANDO AMIGOS TRANSAM?" - A voz de meu pai ecoou como uma explosão em casa. Eu fiquei em choque, não era tão inocente assim. Apesar de não estar vendo, já estava tendo uma noção do que estava acontecendo.

Minha mãe havia traído meu pai.

-"Amor, fala baixo, vai acordar as crianças assim!" 

-"VOCÊ AINDA TEM CORAGEM DE ME CHAMAR DE AMOR?" - Meu pai continuava gritando.

-"EU DISSE PARA VOCÊ FALAR BAIXO, CARAMBA!" -Minha mãe explodiu.

-"A única coisa que irei falar baixo é : VADIA!" -Ele gritou essa palavra. 

Nesse momento pude escutar o som do estalo que fez o tapa que minha mãe deu em meu pai. Uma sentimento ruim tomou conta de mim, não queria que esse fosse o fim do relacionamento tão lindo que meus pais tinham. Comecei a chorar incessávelmente. Eles começaram a se xingar e pude ouvir sons de socos entre meu pai e o outro homem, minha mãe gritava chorando para que eles parassem.

-"Tina, esse cara não te merece!" -Disse o homem.

-"Ah, e ela merece um vagabundo filho da puta como você? Que transa com a mulher vadia dos outros?" - Meu pai disse nervoso.

-"Gareth, me respeita!" - Minha mãe continuava a chorar.

-"Respeito? Você querendo respeito, Cristina? Sabe o que acontece com as mulheres que traem seus esposos em outros países? Eles a matam com todo o direito! Eu podia muito bem matá-la aqui e agora, mas eu respeito os meus filhos, e o único castigo que eu vou dar a você é que você suma da minha vida e nunca mais apareça!" 

As palavras de meu pai perfuraram o meu coração e creio que o da minha mãe também.

Sei que ela estava amargamente arrependida, reconhecia tudo o que meu pai e sua família fizeram por ela, porém vacilou feio por estar carente do amor de meu pai e achar que se satisfaria com outro homem.

Ela era extremamente apaixonada por ele, sabia disso e também sabia que viver sem ele, seria uma missão quase impossível. Eu esperava que minha mãe concertasse as coisas, e então ela lançou :

-"Gareth, você pode não me querer mais em sua vida, mas pense nos seus filhos, nos nossos filhos. Eles precisam de um pai e uma mãe. Me desculpe por te trair, sei que errei, e errei feio. Mas, por favor, não destrua a nossa família!" - Ela disse em meio ao choro.

Meu pai estava destruído, sabia que ela era a mulher de sua vida, não encontraria  nunca ninguém igual a ela, a amava de corpo e alma, nunca imaginou viver ao lado de uma pessoa que não fosse ela. Minha mãe, antes de nós, filhos, era tudo pra ele.

Porém, assim como ela, ele era extremamente ciumento. Não conseguia pensar que o seu lindo sorriso estava sendo direcionado para outro homem a não ser ele. Não queria imaginar ela beijando com seus doces lábios o corpo de outro homem, saber que as mãos de outro homem estavam percorrendo o corpo perfeito de sua amada, o deixava pilhado de nervos. O dava nojo e repugnância. Não sabia se ela fazia isso nas outras vezes em que ele estivera viajando.

Ele não queria se sentir mal, ou pensar que outros lábios já encostaram nos dela enquanto a beijava, não poderia suportar isso, seria doloroso, jamais a olharia do mesmo jeito. Cristina foi a sua primeira e única namorada. O seu único amor.

Como alguém em tão pouco tempo pode roubá-la tão depressa?

A vê-la chorando estava dilacerando o seu coração, mas queria ser forte naquele momento diante dela. Sabia que teria muito  tempo para chorar sozinho depois. E também sabe que se chorasse ali na frente dela, ela iria querer consolá-lo como sempre fazia. E saberia que não conseguiria largá-la após o seu doce abraço. Ele era apaixonado por seus carinhos.

Mas, teve que tomar uma decisão, uma surpresa até para ele mesmo.

-"Você já destruiu a nossa família após se deitar com esse homem, amo os meus filhos, mas também tenho amor próprio, não vou fingir um amor que não existe mais em meu peito para agradá-los. Eles precisam entender como a vida funciona, se uma coisa dá errado, eles não tem que continuar no erro, e nem fingir que esse erro não existe. Eles precisam encará-lo e tentar serem melhor do que isso. Vamos fazer o seguinte, eu fico com o Bubba e você fica com a Bonnibel. Deixo o Bubba te ver em alguns dias e depois o busco devolta. Pode ficar com a casa, e não se preocupe comigo, assim como você não se preocupou quando estava transando com ele." - Essas foram as últimas palavras de meu pai até vir ao meu quarto.

Após abrir a porta ele me viu soluçando de tanto chorar, o meu choro mexeu absurdamente com ele, estava ciente de que eu havia escutado a discussão e queria, de qualquer forma, apagar aquilo tudo da minha mente.

Ele colocou todos os meus livros em uma caixa e recolheu alguns objetos que eu usava diariamente, como celular e os seus equipamentos e o meu material escolar. Não pegou nenhuma roupa minha de meu guardarroupa, sabia que ele já estava planejando me dar um novo.

Após recolher as coisas e por em seu carro, ele me pegou no colo e me levou até lá.

Passou primeiramente pelo quarto de Bonnibel e depositou um beijo em seu rosto, um beijo longo de despedida. Vi algumas lágrimas escorrerem pelo seus olhos. Olhei para o rosto de Bonnibel e imaginei como seria acordar amanhã e saber que seu pai a deixou com a sua mãe sem explicações. A abracei também. Não sabia se essa seria a última vez que iria abraçá-la, e temia que não fosse.

Passando pela sala pude ver minha mãe aos prantos no chão, ela chorava como se estivesse sendo esmagada por dentro, seu rosto estava coberto de lágrimas, mas seus cabelos ondulados o cobriam. Senti uma coisa horrível ao passar ali, parecia que algo mortal estava pairando sobre a casa. Senti uma imensa vontade de abraçá-la. Mas, sentia os braços de meu pai me apertando fortemente para não soltá-lo. Ele tinha certeza que daqui pra frente só teria a mim. 

Essa foi a pior noite da minha vida.