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História Amor Além do Tempo - 26 Dias


Escrita por: SamusAran

Notas do Autor


Olá de novo!

Hoje eu saí da minha cama só pra postar esse capítulo, já que tô gripada e com enxaqueca, praticamente no meu leito de morte.

Espero que vocês curtam e torçam pela minha sobrevivência.

Boa leitura! :)

Capítulo 27 - 26 Dias


Fanfic / Fanfiction Amor Além do Tempo - 26 Dias

A cabeça de Max doía como nunca antes, uma sensação tão poderosa que quase a impedia de manter os olhos abertos, mas pior que a dor, era a visão à sua frente: raios, trovões, relâmpagos e a água da tempestade descendo forte contra seu rosto, embaçando sua visão, mas não a impedindo de gravar a cena diante de si. O tornado se aproximava violentamente da baía, de uma forma que parecia ainda mais avassaladora que a do mês anterior.

Ela estava de volta ao farol, assistindo mais uma vez a cidade ser engolida pela força implacável da natureza. Mas, diferente das ocasiões anteriores, ela estava amarrada ao banco branco de madeira localizado na extremidade do penhasco, tanto suas pernas quanto seus braços atados à estrutura, tornando-a incapaz de voltar no tempo para tentar consertar aquele desastre novamente.

- Você não pode salvar a todos, Max. - Uma voz em fria e cheia de decepção dizia atrás de si, mas ela não conseguia se mover o suficiente para saber a quem pertencia.

- Eu salvei a todos. Isso é só um pesadelo. - Max respondeu, tentando convencer mais a si mesma do que a pessoa com a qual falava.

- Não tenha tanta certeza. Olhe pra frente.

Ela obedeceu, mais por reflexo, que por vontade própria. O mar revoltoso quebrava no penhasco como de costume, mas havia algo diferente e aterrador daquela vez: uma pilha de corpos fazia companhia às ondas. Completos estranhos, colegas e amigos, possivelmente todas as pessoas da cidade flutuando à deriva no mar.

Isso não é real, não pode ser real...

Max pensou desesperada e fechou os olhos, tentando apagar de sua memória a visão horrível que era apresentada diante de si, buscando controlar as lágrimas que a faziam soluçar naquele momento, sem imaginar que o pior ainda estava por vir.

- Desculpa, Max!

- Chloe?

Max abriu os olhos instintivamente para ver a garota de cabelos azuis de pé, na beira do precipício, também chorando e a encarando de frente enquanto abria os braços, se preparando para se jogar no abismo.

Max gritava o nome dela, cada vez mais alto, tentando se soltar do banco, mas incapaz de se mover, assistindo Chloe dar um passo para trás e, depois de dizer "adeus", se deixar cair, desaparecendo junto aos outros corpos no mar.

O grito que saiu imediatamente de sua garganta foi o maior de todos, o mais dolorido, o mais desesperado e ele ainda ressoava dentro de si quando uma outra Max se postou de frente para ela no banco.

- Você não podia salvar a todos e agora você não vai salvar ninguém. - Ela declarou sem a mínima emoção na voz, se virando de costas para Max e saltando do penhasco quase em seguida, sem ao menos esperar uma resposta.

- Não se preocupe, Max... eu ainda estou aqui. - uma voz que ela conhecia tão bem quanto odiava, começou a falar atrás de si no banco, próxima de seu ouvido. - agora ninguém poderá me impedir de te manter para sempre como minha modelo, vazia e indefesa num quarto escuro. - Mark Jefferson concluiu a ameaça, injetando o líquido da seringa no pescoço da fotógrafa.

__________________________

Max acordou no meio da madrugada com o barulho de um trovão e a claridade de um relâmpago iluminando seu quarto através da janela. Banhada em suor, hiper ventilando e completamente em pânico, ela tateou instintivamente o próprio pescoço em busca da marca deixada pela seringa que, para seu alívio, não existia. Então, ela rastejou pela cama até alcançar o celular sobre a escrivaninha com as mãos trêmulas.

A dor em sua têmpora era tão intensa que quase a impedia de olhar o número que estava digitando devido a luminosidade que emanava do aparelho.

- Chloe... - Ela falou numa voz meramente audível quando notou a chamada sendo atendida.

- Max...? São quase 2 da madrugada, o que houve? - Chloe perguntou com a voz ainda embargada pelo sono.

- Está de volta, Chloe. O tornado, a tempestade... vai acontecer tudo de novo. Você precisa ir pra um lugar seguro. - Ela tentou se fazer entender, embora falasse atropeladamente e sem seguir uma linha de raciocínio lógica.

- Max, me ouça: é só uma tempestade comum. Falaram sobre ela a semana toda no noticiário. - Chloe tentou acalmá-la enquanto se punha sentada na cama, tentando despertar por completo. - O tornado não vai voltar. Você venceu ele. Você é a mestre do tempo.

- Não, Chloe... você não entende, eu sonhei de novo... e, dessa vez, todos morriam, inclusive você... eu... - a fala de Max começou a ser superada pelos soluços, enquanto tentava explicar o que tinha acontecido de forma descoordenada.

- Eu estou indo pra aí, ok? - Chloe falou, se levantando da cama e pegando a primeira roupa que encontrou pelo caminho para vestir.

- Você não pode vir. É perigoso, Chloe. Você não pode...

- Max, eu estou indo! - ela reafirmou com firmeza, cortando qualquer protesto posterior de Max, ao mesmo tempo em que fechava a porta do quarto atrás de si. - Eu chego aí em 20 minutos no máximo.

- Ok... - Max respondeu com uma voz frágil.

- Eu te amo. Vai ficar tudo bem.

- Eu... eu também te amo... por favor, tenha cuidado.

- Eu vou ter. Não se preocupe.

__________________________

Depois de cruzar todo o caminho do estacionamento até o quarto de Max protegida apenas por sua jaqueta, Chloe logo abriu o quarto para se deparar com a cena que a deixou com o coração na mão.

Encolhida no chão em um canto do cômodo, abraçando as pernas contra o peito, estava uma Max coberta de sangue e parecendo em choque. Chloe engoliu em seco, tentando não surtar e manter o máximo de calma possível naquela situação, para não piorar ainda mais o estado da garota de sardas, deixando-a mais abalada do que já estava. 

Ela fechou a porta atrás de si calmamente, se dirigindo até Max, se agachando até ficar no nível dela no chão e acariciando seus cabelos.

- Ei, já cheguei pra espantar o bicho papão.

Max finalmente levantou a cabeça, como se tivesse acabado de notar a chegada dela, a abraçando com força e mantendo os dedos cravados em sua camiseta, completamente trêmula.

- Eu te vi morrendo... todo mundo da cidade... todos morreram...

- Ninguém morreu. Foi só um pesadelo. Vem cá.

Chloe falou tentando confortá-la e, em seguida, a ergueu do chão com os dois braços, se utilizando de uma força que nem sabia que possuía para colocá-la de volta na cama, sentando ao seu lado em seguida. 

Ela tirou um pacote de lenços do bolso interno de sua jaqueta, trazendo a fotógrafa para mais próximo de si e começando a limpar minimamente o nariz dela ao mesmo tempo em que checava se o sangramento do local tinha parado. Para seu alívio, a resposta foi positiva.

- Você está andando com um pacote de lenços por aí? - Max perguntou enquanto observava Chloe completamente absorta no que fazia.

- É... desde que seu nariz sangrou da outra vez. - Chloe respondeu casualmente enquanto continuava a limpar o rosto de Max. - Queria estar prevenida, caso voltasse a acontecer.

- Você é inacreditável. - Max falou esboçando um meio sorriso e a abraçando.

- Não é nada demais. Só estou fazendo meu trabalho. - Ela concluiu beijando a testa de Max e se levantando pra jogar o bolo de lenços ensanguentados na lixeira, mas logo voltando para checar o rosto dela e notar que ainda havia muito trabalho a ser feito. - Vou precisar buscar água pra terminar de limpar seu rosto. Ainda tem muito sangue seco.

- Não! - Max falou num tom desesperado, voltando a abraçar Chloe num enlace apertado, seus punhos fechados com o tecido da camiseta entre eles e sua cabeça enterrada no ombro dela, enquanto seus olhos a encharcavam de lágrimas. - Não vá, por favor. Eu não quero ficar sozinha.

- Shhh. Calma. Eu não vou a lugar nenhum, tá bom? - Max confirmou balançando a cabeça, se sentindo um pouco mais aliviada. - Por acaso, você tem água por aqui?

- Tem uma garrafa, que eu uso pra aguar a Lisa, em cima da escrivaninha.

- Vai servir.

Chloe levantou de novo e, logo após pegar a garrafa, se dirigiu ao armário e vasculhou até encontrar uma toalha e uma camisa que não estivesse banhada em sangue.

Ela ajudou Max a tirar a camisa suja e substituir pela nova. Em seguida, voltou a se sentar na cama e passou a limpar o rosto dela com ajuda da toalha molhada com a água da garrafa. 

- Pronto. Novinha em folha. - Chloe concluiu jogando a toalha e a camisa sujas em direção ao cesto de roupas, colocando a garrafa no chão ao lado da cama e voltando a abraçar Max.

A garota de sardas continuava nervosa, trêmula e parecia entrar em pânico cada vez que ouvia um novo barulho de trovão. Chloe sabia que ela estava muito longe de seu estado normal, mas não tinha ideia do que dizer para confortá-la. Entretanto, mesmo sem saber o que fazer, ela não tinha dúvida de que Max precisa de sua ajuda mais do que nunca naquele momento e, depois de algum tempo refletindo na mais completa escuridão, finalmente lhe ocorreu uma ideia.

- Max, você pode me contar sobre seu dia?

- Por que você tá perguntando isso? Você sabe o que eu fiz hoje. - A nerd questionou, confusa com aquele pedido.

- Mas eu quero ouvir de novo... pode ser? Por favor?

Max suspirou pesadamente, se aconchegando mais ainda no abraço de Chloe e a sentindo responder afagando seus cabelos. De olhos fechados e, cada vez mais concentrada no movimento dos dedos da punk em sua cabeça, ela decidiu falar após alguns minutos.

- Eu acordei atrasada, mas consegui chegar na aula a tempo. Aproveitei o intervalo pra estudar e conversei um pouco com a Dana até a hora da aula seguinte. Depois disso, eu voltei pra cá, falei com você e, quando desliguei, fiquei estudando até ficar exausta e ir dormir. Aí acordei no meio da madrugada por causa desse maldito pesadelo. O pior de todos até agora. - Ela concluiu suspirando pelo cansaço e franzindo a testa pela lembrança.

- Hum... você quer que eu te conte o meu dia?

Max apenas balançou a cabeça discretamente em concordância, não sabendo exatamente se queria ouvir o relato ou apenas a voz de Chloe.

- Bom, eu acordei meio tarde e fiquei um tempo na cama fumando e fazendo hora, pensando sobre como o dia seria uma droga porque não iria encontrar essa garota linda que dei a sorte de reencontrar depois de anos de separação e com quem namoro agora.

Ela começou a falar notando um sorriso tímido contornar os cantos da boca de Max ao ouvir suas palavras, o que se tornou o combustível para que ela continuasse.

- Aí eu tomei banho, comi, fiz um monte de coisas inúteis, mas não consegui tirar aquele pensamento da minha cabeça. Eu precisava encontrá-la, mas não sabia como, só que estava decidida a bolar um plano. - Chloe aproveitou o momento para segurar uma das mãos de Max, enquanto, com a outra, continuava afagando os cabelos dela - Eu tive várias ideias, mas a maioria era ilegal, idiota ou as duas coisas ao mesmo tempo e, com certeza, me causariam problemas. Eu pensei, por exemplo, em atear fogo em alguma lixeira de Blackwell e acionar o alarme de incêndio para suspender as aulas pelo resto do dia. Mas não fiz, sabe por que?

- Porque seria ilegal e estúpido?

- Não... na verdade foi porque, por algum motivo misterioso, essa garota que mencionei acredita em mim e eu não quero decepcioná-la de jeito nenhum.

- Se ela acredita em você, então alguma qualidade ela deve ter. - Max brincou olhando em direção à Chloe.

- Você não faz ideia. Ela é incrivelmente talentosa, faz coisas inacreditáveis com a câmera dela, embora não esteja tirando fotos ultimamente. - Chloe contou, beijando a palma da mão da garota de sardas e conquistando um novo sorriso. - Além disso, ela é inteligente, divertida, bonita e tem umas sardas que me deixam completamente louca. Mas não se empolgue muito pois eu a vi primeiro. - O sorriso de Max aumentou ainda mais e foi acompanhado pelo leve tom de rosa que passou a dominar seu rosto. - Vou te contar outra coisa, mas é segredo. Você tem que prometer não contar pra mais ninguém.

Ela balançou a cabeça em concordância encarando Chloe com um olhar curioso.

- Bom, ela tem super poderes. É como uma super heroína da vida real. Já enfrentou um tornado e salvou uma cidade inteira. Quem mais no mundo pode dizer que namora um super heroína de verdade? Eu tenho muita sorte. - Ela disse encostando a testa na de Max e a fazendo o rosa se tornar vermelho aos poucos - Mas a prova definitiva de que ela é de fato super é que já conseguiu salvar vidas mesmo sem os poderes. Você nunca iria imaginar que uma pessoa tão pequena poderia ser tão corajosa. 

- Você acha mesmo?

- Claro que acho. Há algum tempo eu sonhei com o dia em que ela impediu a amiga de cometer suicídio e só não comentei antes porque ela já estava com tantas coisas na cabeça, que não quis enchê-la com mais uma. 

- Você deveria contar sempre. Aposto que ela adora quando você se abre...

- De agora em diante, vou fazer isso. Mas, voltando ao que eu dizia, ela estava lá no telhado e eu a assisti convencer a amiga a voltar atrás sem usar nenhum poder sobrenatural. Foi nessa hora que, mais do que nunca, tive a certeza de que ela era minha heroína pessoal. Até porque eu não consigo enumerar a quantidade de vezes que ela já me salvou, inclusive tomando um tiro por mim. - A punk refletiu um pouco e, só então, concluiu. - Se bem que, sendo totalmente sincera, a realidade é que ela meio que me salva todos dias só por estar comigo. Sabia?

Max estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo, incapaz de responder coerentemente e decidindo, em vez disso, apenas balançar a cabeça e enxugar suas lágrimas com a mão livre.

- E, como se já não fosse o suficiente, ela ainda me faz acreditar que, mesmo com a capacidade dela de manipular tempo e espaço e de salvar uma cidade inteira, ela precisa de mim de verdade e que eu posso ser a escudeira dela em situações como a de hoje. São nessas horas que eu tento retribuir pelo menos um pouquinho do que ela faz por mim diariamente. E, por um momento, sinto como se tivesse super poderes também.

- Essa garota tem muita sorte. Eu invejo ela. - Max conseguiu dizer, finalmente capaz de reunir palavras depois da emoção extrema que havia vivenciado minutos antes.

- Não tanta sorte quanto eu. - Chloe rebateu, a beijando, a abraçando ainda mais forte e se mantendo de olhos fechados, com o queixo apoiado sobre a cabeça dela.

- Mas como terminou seu dia?

Chloe sorriu, cheirando o cabelo de Max por um tempo e pensando alguns segundos antes de responder.

- Bom... o dia não acabou ainda, mas posso dizer que, meio por linhas tortas, acabei conseguindo atingir meu objetivo inicial e aqui estou com a garota dos meus sonhos.

- A distraindo de um ataque de pânico sendo fofa. - Max completou a beijando brevemente.

- Não. A distraindo sendo sincera. - Chloe corrigiu, encostando a cabeça na de Max e sorrindo mais tranquila, sabendo que o pior tinha passado. - Eu imaginei que você estivesse tendo uma crise de TEPT* e sabia que isso poderia ajudar. Eu passei por isso algumas vezes quando meu pai morreu. Cheguei até a ir num psiquiatra. Essa foi uma das formas que aprendi para conter a reação, a outra era formular e responder perguntas aleatórias pra ocupar minha mente até a crise passar. Hoje em dia eu tenho uma nova estratégia.

- Qual? - Max perguntou genuinamente curiosa.

- Eu conto suas sardas.

- Você o quê? - Max perguntou realmente surpresa pela revelação.

- Exatamente o que você ouviu. Eu nunca chego muito longe porque sempre sou distraída pelo resto de você, mas é bem efetivo. Eu inclusive fiz isso quando cheguei aqui hoje. Parei em 31.

Max não disse nada, apenas sorriu, inclinou a cabeça para dar um beijo em Chloe e depois voltou a sua posição original, se sentindo calma pela primeira vez naquela noite. 

Entretanto, seus instantes de tranquilidade eram abalados cada vez que um trovão era ouvido ao longe ou que um relâmpago iluminava sua janela, fazendo-a voltar ao mesmo estado tenso de antes, rangendo os dentes, tremendo, respirando com dificuldade e, mesmo com todo o cansaço acumulado, Max se sentia incapaz de pregar o olho.

- Será que vou reagir assim toda vez que acontecer uma tempestade? - Ela perguntou, se sentindo derrotada.

Chloe já estava a ponto de consolá-la dizendo que não, que aquilo era só uma fase, já que tudo ainda estava recente, mas em vez disso, decidiu dar uma sugestão que, por mais louca que parecesse, em sua cabeça era a única que poderia funcionar.

- Lembra quando você disse que confiava em mim? - Max confirmou - Bom, eu vou precisar de toda sua confiança hoje.

- Por que? Você vai me fazer outra massagem? - Ela brincou, encarando a punk.

- Não... vou propor algo que parecerá loucura, mas que acho que vai te ajudar.

- Tudo bem. Pode falar.

- Põe uma calça, um tênis e vem comigo.

De roupas trocadas, Max seguiu Chloe pela escuridão do corredor dos dormitórios silenciosos e ao longo dos lances de escada que conduziam aos demais andares, mas não suspeitou em nenhum momento para onde estava sendo levada até se deparar com a porta que levava ao telhado do prédio.

Max congelou no lugar quando Chloe abriu a porta e tentou puxá-la pela mão até o lado de fora. Ela recuou alguns passos, petrificada pelo medo crescente e sentindo um calafrio quando o vento frio e algumas gotas de chuva se chocaram contra seu rosto.

- De jeito nenhum, Chlo. Eu não vou sair pro telhado no meio de uma tempestade por um milhão de razões. Você estava certa, essa é uma péssima ideia.

- Vai sim. Eu vou estar com você. Apenas confie em mim.

Depois de vários minutos, tentando controlar minimamente o próprio nervosismo e ignorar seu coração batendo como um martelo contra seu peito, Max respirou fundo e começou a andar lentamente em direção à passagem, até atravessá-la, logo sentindo a chuva forte alcançá-la, a encharcando quase imediatamente da cabeça ao pés. Ela segurava a mão de Chloe com tanta força que temia cortar completamente a circulação dela ao fim daquele passeio arriscado.

Chloe parecia não ligar, já que continuou andando lado a lado com ela até atingir o ponto mais central do telhado sem dizer sequer uma palavra.

- A última vez que estive aqui... - Max começou a falar com a voz quase inaudível e trêmula, mas Chloe não a deixou completar.

- A última vez em que você esteve aqui, salvou a vida da Kate. Foi uma memória feliz. 

A frase de Chloe foi seguida quase imediatamente pelo barulho ensurdecedor de uma trovão e pela claridade de um relâmpago iluminando todo o céu, o que fez Max pular em cima da punk, tremendo da cabeça aos pés, enquanto a abraçava.

- Chloe, já chega. A gente precisa voltar. É muito perigoso aqui. Por favor.

Ela parecia desesperada, apavorada e Chloe tentou acalmá-la mantendo-a em seus braços, a segurando firmemente contra si, mas sem nenhuma menção de voltar naquele momento. Ela estava decidida a ajudar Max a superar aquilo.

- Nós vamos num minuto, mas antes temos que fazer uma coisa, afinal estamos aqui para criar memórias felizes. Você, por acaso, esqueceu que dia é hoje?

- Não faço a mínima ideia de que dia é hoje. - Max respondeu assustada e ainda escondida na camisa de Chloe.

- Não acredito que você esqueceu do nosso aniversário de 26 dias, hippie. - Chloe disse fingindo indignação enquanto balançava a cabeça em reprovação à "amnésia" de Max.

- Isso nem existe, Chlo. - Max rebateu sorrindo pela primeira vez desde que subiram no telhado.

- Claro que existe e é o que vamos celebrar hoje. Isso e o fato de termos vencido o maldito tornado, de estarmos juntas e a cidade estar à salvo. Esses dias foram os melhores da minha vida. Você não tem ideia do quanto me faz feliz e, sendo totalmente sincera, se eu fosse atingida por um raio nesse momento, morreria satisfeita.

- Não diga isso nem de brincadeira. - Max a repreendeu, sentindo uma pontada em seu coração só com o pensamento.

Chloe sorriu, usando uma das mãos para inclinar a cabeça de Max em sua direção e a outra para puxá-la para mais perto de si e beijá-la ternamente, enquanto a chuva lavava suas lágrimas e afastava seus medos.

Tudo aquilo lembrou Max da sexta feira do tornado, só que de uma forma totalmente diferente, repleta de euforia e felicidade onde antes só havia dor e melancolia. Como se a memória daquele noite terrível tivesse sido apagada e substituída por outra, completamente nova e melhorada.

Eventualmente elas pararam de se beijar, mas continuaram se encarando e sorrindo, ainda abraçadas. Suas mentes totalmente desconectadas do céu desabando ao redor, como se não vissem ou ouvissem nada, a não ser uma à outra. E foi nesse momento que Chloe decidiu a voltar falar.

- Eu sempre estarei com você.

Ouvir aquelas palavras na voz de Chloe numa ocasião tão diferente e especial fez a chuva menos pesada na pele de Max, os relâmpagos a acalmarem em vez de assustá-la e os trovões meros panos de fundo para o encontro da duas. Então, como num passe de mágica, a tempestade deixou de fazer parte de suas preocupações. 

Um sorriso permaneceu em seu rosto e uma única palavra permeou seus pensamentos naquele instante, a única resposta plausível para a declaração que acabara de ouvir.

- Sempre.

O ritual estava completo.

 


Notas Finais


*A sigla que coloquei no texto se refere a Transtorno de Estresse Pós Traumático. Algo com que a Max provavelmente sofreria após passar pelo que passou.

Aposto que vocês pensaram que ia dar uma merda monstruosa, né? Sorte que eu ando boazinha esses dias.

Até a volta!


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