História Amor Além do Tempo - Primeiro Dia

Os sonhos que Chloe passou a ter com momentos longínquos do passado de Max não pararam no que ocasionou a briga das duas. Nos dias que se seguiram, ela teve mais dois que a fizeram desmoronar ao acordar. 

O primeiro foi o da linha do tempo em que seu pai estava vivo e ela agonizando imóvel numa cama pedindo a Max para dar um fim a sua vida. Ela acordou completamente abalada, chorando compulsivamente e não foi uma tarefa nada fácil para Max ao menos descobrir o que havia acontecido para conseguir consolá-la.

No dia seguinte, ela sonhou com o dia em que Max foi sequestrada por Mark Jefferson e trancafiada no bunker escondido no celeiro dos Prescott, ficando dopada quase em tempo integral, fosse presa a uma cadeira, ou desacordada no chão, permanecia sempre indefesa e suscetível a todos os joguetes perversos de seu ex-professor de fotografia. 

Chloe acordou no meio da madrugada, despertando Max por tabela, encharcando sua camisa com lágrimas e a apertando com um abraço tão forte que chegou a dificultar sua respiração, como se temesse que, se afrouxasse um centímetro, ela pudesse se dissipar no ar, sumir de seu alcance.

Nenhuma das duas conseguiu voltar a dormir naquela noite. 

Enquanto Chloe tinha pesadelos com o passado, Max sonhava com o futuro das duas. Um em que ela trabalhava com fotografia, tinha um estúdio próprio, enquanto sua namorada punk, de alguma forma ainda desconhecida para ambas, tinha se tornado professora de física. 

Chloe riu muito quando Max lhe contou aquilo porque parecia surreal demais para ela, quase no mesmo nível de todos os acontecimentos paranormais que elas vinham vivenciando. E aquelas previsões do futuro foram uma das ferramentas que Max utilizou com algum sucesso para ajudá-la a superar os pesadelos que a assombravam.

Elas não sabiam exatamente como, mas sempre superavam. Sempre davam um jeito de curar uma à outra, até na pior das situações, como se apenas a presença e a proximidade mútua fossem o suficiente para cicatrizar as feridas abertas.

E foi com esse pensamento que acordaram exaustas na segunda feira que seria o dia da volta de Chloe à Blackwell.

A garota de cabelos azuis quase jogou o celular pela janela quando o despertador insistiu em acordá-la cedo demais para seu gosto e, só se levantou de fato, quando uma Max já de banho tomado e roupa trocada roubou todos os lençóis da cama e abriu as duas janelas do quarto, minando qualquer resistência da punk em permanecer deitada.

Então ela se levantou resmungando, saiu do quarto resmungando, tomou banho, trocou de roupa, tomou café da manhã e saiu na caminhonete ainda no mesmo estado, mas, mesmo com a rabugice de Chloe, elas acabaram chegando aos terrenos de Blackwell na hora determinada. E o único instante em que a punk parou de resmungar foi quando, já na porta de sua sala, recebeu um grande beijo de despedida que quase a deixou sem ar.

O dia vai ser longo, mas o final vai valer a pena - foi o pensamento que permeou sua cabeça ao entrar na sala sob o som de assobios, acenos e cumprimentos de alguns de seus amigos dos velhos tempos. Ela começou a se sentir tão à vontade que respondeu aos gestos com seus dois dedos do meio e um sorriso debochado. 

E, se encaminhando para sentar no fundo da sala, ela finalmente começou a se sentir bem por estar de volta.

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- Esse dia mal começou e parece que nunca vai acabar. - Max bufou enquanto saía da sala acompanhada de perto por Kate e Victoria.

- Cadê a Price que ainda não apareceu pra te importunar?

- É o primeiro dia dela hoje. Deve estar saindo da aula, mas pode deixar que digo que você ficou com saudades. - Max brincou fazendo Kate rir e Victoria ficar horrorizada com a possibilidade de aquilo realmente acontecer.

- Não ouse, Maxine.

- Se você continuar me chamando assim, vou acrescentar que te peguei admirando uma foto dela escondida.

- Você não teria coragem.

O sentimento de pavor que dominou as feições de Victoria após aquela ameaça divertiam Max. A loira parou no meio do caminho com os braços estendidos e os punhos cerrados, sem saber como reagir. O que só piorou quando Max voltou a falar.

- Quer apostar? - Max desafiou enquanto Victoria a analisava meticulosamente, considerando se aquela ameaça era real ou puro jogo de cena.

- Eu adoraria ter alguém me importunando.

Alheia ao rumo da conversa, Kate deixou escapar aquela frase, mais como um pensamento alto do que como um comentário, mas foi o suficiente para chamar a atenção das outras duas garotas que soltaram automaticamente e, quase ao mesmo tempo, um sonoro e claro "o que?!" em resposta.

Então Kate girou os olhos, como se elas estivessem fazendo a pergunta mais boba do universo e,  ignorando as expressões pasmadas delas, não demorou a se explicar. 

- Me refiro a estar apaixonada. Às vezes fico imaginando como seria. - Kate direcionou seu olhar para Max antes de concluir. - Você deveria compartilhar os detalhes de vez em quando.

Max sorriu tentando imaginar o que poderia ter motivado a curiosidade repentina de Kate a respeito de um assunto no qual ela nunca tinha tocado antes, mas decidiu apenas responder casualmente, sem externar sua própria curiosidade.

- Bom... é parecido com todos aqueles clichês que se vê em filmes. Você sente saudade mesmo tendo acabado de ver a pessoa, a maioria das coisas que faz quando está sozinha lembram ela e, muitas vezes, você se põe viajando sem nem perceber. É como se as cores ficassem mais vivas e todos os seus sentidos mais aguçados. - Max interrompeu seu discurso ao notar Victoria olhando em sua direção fazendo um gesto de embrulho no estômago - Mas seria bom pedir uma segunda opinião à Victoria...

A mudança de postura da loira foi súbita. Ela empalideceu, ficando na defensiva, enquanto olhava de uma Max sorridente para uma Kate ansiosa, sem saber o que dizer. Em nenhum momento, ela esperou que a garota de sardas respondesse à sua provocação daquela maneira.

- A mim?! Por quê?!

- Ora, porque você...

E Victoria foi salva por quem menos esperou, quando Max foi erguida alguns centímetros do chão antes que pudesse concluir a frase, por um movimento inesperado de braços atrás de si e, então, pernas que não eram as suas começaram a conduzi-la alguns metros à frente, suspensa no ar.

- Agora você me abduz no meio de conversas? - Max perguntou rindo, já recuperada do susto inicial.

- É que te vi de longe, andando distraída e achei que seria uma boa ideia. - Chloe falou diminuindo o passo aos poucos e a mordendo no pescoço antes de colocá-la no chão. - Além disso, eu estou precisando de mais carne de nerd na minha dieta.

- Então você deveria morder a si mesma. - Max rebateu ficando de frente para ela e a beijando rapidamente.

- Não diga isso em voz alta, Caulfield. Eu tenho uma reputação a zelar.

Max apenas revirou os olhos em resposta e decidiu mudar de assunto, enquanto finalmente eram alcançadas por suas amigas e voltavam a caminhar de mãos dadas em direção ao pátio principal de Blackwell.

- As aulas devem ter sido boas pra você estar de tão bom humor.

- Na verdade, foi meio esquisito no começo, sabe? Estar de volta, rever todo mundo, ter que prestar atenção naquelas baboseiras de sempre. - Chloe falava com uma expressão contemplativa enquanto se aproximavam de uma das mesas desocupadas. - mas foi tranquilo e, no fim, aconteceu algo muito legal.

- E o que seria?

Chloe colocou o braço sobre o ombro dela, a puxando mais pra perto e encostando suas cabeças de lado.

- Eu conversei com o Trevor depois da aula e acabei aceitando um convite dele e da Dana pra sairmos hoje. Eu juro que ia te perguntar antes de confirmar, mas como sabia que você não resistiria ao meu olhar de cachorro abandonado, aceitei logo pra poupar a viagem.

- Você é tão maquiavélica.

- Você não tem ideia, amor. - Chloe completou beijando o rosto de Max e dirigindo seu olhar a Kate e Victoria. - O convite se estende a vocês. Afinal um encontro duplo sempre pode virar um triplo.

Kate ficou visivelmente animada com a ideia, já confirmando sem fazer cerimônia, mas sua decepção substituiu o sentimento anterior ao ouvir a negativa quase inaudível de uma Victoria que parecia contrariada com as próprias escolhas.

- Por que? - Chloe perguntou com um ar suspeito, admirada pela recusa.

- Tenho... 'coisas' pra resolver hoje à noite. - Victoria continuou agindo e respondendo evasivamente, o que só aumentava ainda mais a curiosidade de Chloe.

- Vai ser meio chato ser o candelabro da saída, mas não tem problema. - Kate suspirou cabisbaixa com um sorriso torto e desanimado.

- Nós podemos chamar o Warren pra te fazer companhia... - Max sugeriu de forma inesperada fazendo Victoria encará-la ameaçadoramente com as sobrancelhas arqueadas e, se mantendo assim, mesmo depois de ser completamente ignorada pela garota de sardas.

- Mas e a Brooke? Não vai ficar com ciúmes? - Chloe perguntou confusa, mas um pouco menos que Victoria.

- Ah... eu não te contei...? - Chloe negou com a cabeça - Ela meio que desencanou dele. Ela vai pro drive in com o Daniel no fim de semana e ele postou um desenho que fez dela hoje na internet, ou seja...

- Pobre Walbert. - Chloe deixou escapar balançando a cabeça. - Consegue se colocar na friendzone até de uma garota claramente obcecada por ele.

- Vocês não podem levar o Warren! - Victoria interrompeu as divagações de Chloe num tom de voz mais alto que o esperado, do qual a própria ficou ciente. - qu-quero dizer... ele pode deixar a Kate desconfortável... tentar forçar a barra com ela e...

- Calma, Vic. A senhorita Marshmallow aqui estará perfeitamente segura sob nossa tutela. Ela só precisa dar um sinal e eu ficarei imensamente satisfeita em tirar o couro dele. Tudo bem, Kate?

Kate sorriu, em parte pela inusitada promessa de proteção de Chloe e em outra como confirmação àquela proposta. 

- E o que vamos fazer? - Ela perguntou empolgada.

- Primeiro comer pizza e depois vamos à praia, jogar conversa fora, olhar pro tempo, essas coisas. Dizem que é bem romântico, mas só vivenciando pra saber. - Ela concluiu sorrindo em direção à Max.

Victoria, embora contrariada, não teve muito o que argumentar e simplesmente permaneceu calada com o rosto em chamas, enquanto o assunto das conversas flutuava entre as diferentes situações por que passaram durante o fim de semana até o começo do dia.

Ela esperou até que a conversa se encerrasse e Max e Chloe se despedissem, deixando Kate momentaneamente sozinha na mesa e partindo em disparada para alcançá-las, quando já estavam distantes dos olhares da outra garota.

- Que droga você está fazendo, Price? - Victoria perguntou num tom irritado, segurando o ombro de Chloe e a impedindo de continuar seu trajeto.

- Aproveitando o restante do intervalo pra ficar com minha namorada e, quem sabe, dar uns amassos antes da próxima aula...

- Não se faça de boba... Me refiro ao convite à Kate e ao Warren. Vocês duas deveriam me ajudar. - Ela mudou o próprio tom para um de súplica no meio da frase.

- Foi você que se negou a ir no encontro em primeiro lugar... - Max respondeu dando de ombros. - Eu queria que ela fosse e não se sentisse deslocada. Só isso.

- Aliás, o que você tem de tão importante pra fazer que te impede de sair com a gente hoje, Vic?

- Um encontro... - Ela confessou encarando os próprios pés - Courtney e Taylor me convenceram a sair com um cara conhecido delas porque, segundo as duas, eu estou agindo muito estranho ultimamente e preciso me distrair.

- E você não contou isso na frente da Kate por...? - Victoria manteve o olhar de desdém no rosto, embora o desviasse para um lado a esmo, de punhos cerrados, fazendo Chloe rir com a falta de resposta. - Deixa eu adivinhar, você não queria que ela soubesse que você está saindo com ninguém ou, pior, não queria descobrir que ela não se importa se você faz isso ou até fica feliz por você?

Ela suspirou em resposta, passando a mão pelos cabelos, tentando ajustá-los, mas sem admitir nada do que foi perguntado.

- Bom, vocês poderiam ter me dito que chamariam o Warren, se eu não fosse. Eu só fiquei preocupada com ela, não tem a ver com ciúme ou qualquer uma das coisas que você disse.

- Não nos culpe pela sua covardia. Você poderia simplesmente ter cancelado seu encontro e ido nesse, mas fez outra opção. - Chloe deu de ombros, voltando a segurar a mão de Max e se preparando para voltar a sua rota inicial. - Continue mentindo pra si mesma, Vic. Quem sabe uma hora você acredite.

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A noite transcorreu agradavelmente para os três casais enquanto conversavam animadamente sobre os mais variados assuntos e comiam numa pizzaria nova que acabara de ser inaugurada na cidade.

- Mas e aí, como vocês se conheceram? Vocês são tão diferentes entre si que fica difícil imaginar. São quase a materialização de Strange Love. - Dana confessou quando esgotaram o último assunto sobre Blackwell.

Chloe riu da comparação e não demorou a responder em seu melhor estilo.

- Max realmente me faz gritar o nome dela de vez em quando e até enfraquece meus joelhos, mas nunca numa pia de banheiro.

- CHLOE! - Max a encarou mortificada, sem coragem de dirigir o olhar para os outros ocupantes da mesa, sabendo que a expressão deles deveria estar ao menos próxima da dela, enquanto Chloe continuava rindo sem a mínima preocupação com a comoção que havia causado.

- Amor, você tem que começar a aprender a receber elogios em público. - A punk respondeu segurando-a e se aproximando para beijar seu rosto.

Max revirou os olhos e decidiu ignorar o constrangimento que estava sentindo para voltar ao assunto inicial.

- A gente se conhece desde criança. Ela me salvou de um atropelamento quando eu tinha sete anos.

- Uau! - Trevor deixou escapar.

- Espera! Eu não lembro disso. - Chloe falou depois de tomar mais um gole de cerveja.

- Como você pode não lembrar de ter me salvado? - Max balançou a cabeça, incrédula. - Você não bebeu tanto assim pra esquecer.

Chloe riu por um momento antes de tentar se defender.

- Não... eu bebi menos que o War War ali. - Ela brincou com o garoto que tinha tomado apenas um gole do copo que insistiu em colocar para si. - mas só lembro de correr, me chocar contra você e derrubar nós duas no chão.

- Você é inacreditável! - Max disse ainda boquiaberta ao que Chloe respondeu com um pedido de desculpas silencioso, um sorriso amarelo e um gesto de rendição, ao tomar outro gole de seu copo.

- Mas como foi o resto da história? - Dana voltou a perguntar.

Enquanto Chloe contava, Max se preocupava em checar o próprio celular, que parecia enlouquecido em seu bolso, descobrindo uma infinidade de notificações não visualizadas. Ao desbloquear o aparelho, notou que correspondiam a uma torrente de mensagens de Victoria.

[Victoria]: Diga pra aquela punk desgraçada que eu odeio ela

[Victoria]: ODEIO MUITO!!

[Victoria]: Ela arruinou minha vida e eu quero matá-la

[Victoria]: Queria muito poder bater nela agora!!!!

[Victoria]: VOCÊ AO MENOS ESTÁ LENDO ISSO, MAX?!

[Victoria]: URRRRRRHHH!!

[Victoria]: Ahhhh... Eu te odeio tbm!!

- Ahhh, isso é tão fofo! - Dana falou ao final da história e bateu no ombro do namorado antes de concluir, fazendo os outros ocupantes da mesa rirem. - Por que você não é romântico assim de vez em quando, Trevor? 

- Desculpa... eu acho. - Ele se defendeu meio sem pista do que mais pudesse dizer.

Max aproveitou a desatenção de todos para puxar Chloe para perto e mostrar discretamente as mensagens que havia recebido.

- Acho que tem alguém apaixonada por você e não estou falando de mim. 

Chloe não teve tempo de deixar uma expressão confusa se instalar em seu rosto, pois logo Max mostrou as mensagens que havia recebido, fazendo-a rir quase imediatamente do conteúdo.

- Eu vou encher bastante o saco dela quando voltarmos pra casa. Fiquei até ansiosa.

Eles permaneceram mais algum tempo no local, terminando as últimas fatias restantes, as bebidas e depois partindo em direção à praia, onde não tiveram dificuldade para estacionar, passando a caminhar pela areia, à beira mar, aproveitando um pouco do frescor da brisa noturna.

Entretanto logo tiveram seus planos iniciais frustrados, sendo obrigados a interromper a caminhada quando Warren começou a passar mal e vomitou a bebida que insistiu em terminar momentos antes. Então Chloe e Trevor o ajudaram a voltar ao carro, enquanto Kate, Max e Dana permaneceram sentadas na areia, esperando que eles voltassem.

- Apesar desse final meio desagradável, foi bem legal sair com vocês hoje. A gente deveria repetir outro dia. - Dana falou e as outras duas garotas concordaram. - Está meio difícil agora que a Juliet terminou com o Zac e não está no clima de sair comigo e o Trevor.

- Você deveria ter trazido ela hoje. - Max sugeriu.

- Não sei se seria uma boa ideia levar ela num encontro de casais.

- Eu e o Warren não somos um casal. - Kate se defendeu.

Dana ficou confusa com aquela nova informação, mas decidiu não traduzir em palavras, apenas esperou o complemento da informação, que veio de Max.

- A gente chamou ele porque a Victoria não pôde vir e não queríamos que a Kate ficasse desconfortável sozinha no meio de dois casais.

- O que é uma pena porque ela com certeza teria gostado. - Kate se lamentou e Max permaneceu analisando a reação dela até ser interrompida por Dana.

- Não me entenda mal, Kate, mas ainda é muito estranho pra mim que vocês tenham ficado tão amigas depois de tudo que aconteceu. Principalmente pelo que ela fez com você.

- Pra quem vê de fora, é esquisito mesmo, eu sei. Mas a Tori é bem diferente do que deixa transparecer. Ela mudou muito nesse pouco tempo em que passei a conviver com ela.

Dana arqueou as sobrancelhas com o novo apelido, mas também não fez nenhum comentário a respeito.

- Bom, se você diz, não tenho como argumentar. Ela será mais que bem vinda quando sairmos juntos de novo. - Kate assentiu com um sorriso.

Conforme a conversa se desenrolava em planos para novas saídas, Max começava a sentir os sintomas do frio aumentando drasticamente, esquentando esquentava a si mesma com as próprias mãos e se lamentava por não ter trazido consigo um casaco mais quente, até sentir algo ser posto sobre seus ombros.

- Veste isso, hippie. Eu não quero ter que te descongelar mais tarde. - Chloe falou enquanto terminava de colocar o próprio casaco sobre os ombros de Max, a beijando no rosto.

- Mas e você?

- Eu tô bem. Não fico com frio tão facilmente.

Max sentiu mais calor vindo de suas bochechas que do casaco naquele instante, enquanto Chloe direcionava sua atenção para os demais presentes.

- Bom, gente. Parece que vamos ter que ir embora mais cedo, porque temos um soldado abatido dentro do carro. O Trevor disse que pode levar o nerdmóvel de volta, já que o piloto oficial está deitado no banco traseiro sem a mínima condição. A gente leva a Kate.

- Mas vocês não iam pra sua casa, Chloe? O caminho é meio contramão. Eu posso ir no banco de trás com o Warren.

- Nem pensar, Kate. Não quero arriscar você voltar pra Blackwell coberta de vômito.

- Ok, então. - Kate se rendeu com um sorriso.

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Chloe mal entrou no próprio quarto e já tirou os tênis, indo em direção à cama e se jogando de costas nela, de olhos fechados, suspirando longamente.

Max, por sua vez, fechou a porta e tirou a jaqueta dela, colocando-a sobre a cadeira, antes de segui-la, se sentando do outro lado da cama e a observando respirar calmamente de olhos fechados, o que Chloe logo percebeu e a fez segurar uma das mãos dela e beijá-la repetidamente.

- Eu tô exausta, mas queria ter ficado lá até amanhecer... teria sido ótimo. - Chloe se aproximou de Max, beijando suas costas por baixo da camisa, erguendo o tecido com uma das mãos, enquanto mantinha a outra repousada em sua perna. 

- Sem dúvida, mas temos aula amanhã - Chloe bufou contra a pele dela em resposta, a fazendo rir. - Mas podemos fazer algo assim no fim de semana. Quem sabe, levar a Victoria dessa vez.

- Verdade, a Vic. Já estava esquecendo... Me dá o número dela que eu quero ligar pra dar boa noite.

Chloe pediu empolgada, se pondo sentada na cama de pernas cruzadas, com um sorriso diabólico no rosto e logo sendo atendida por Max.

- Vic? Ouvi dizer que você anda mandando mensagens de amor para mim no celular da minha namorada. Eu já disse que não há espaço pra uma terceira pessoa no nosso relacionamento.

Chloe tirou o telefone de perto ouvido, rindo enquanto escutava a garota loira bradar os mais variados xingamentos aos gritos do outro lado da linha e só voltando a aproximá-lo depois de Victoria parecer ter se acalmado.

- Eu entendi todos os palavrões, só não sei porque você tá tão irritada comigo.

Chloe ainda ria de Victoria quando Max se sentou atrás dela na cama, distribuindo beijos pelo seu ombro, mordendo seu pescoço e rindo enquanto ela se arrepiava. Suas mãos passeavam por costas, cintura e abdômen, tornando uma tarefa difícil para Chloe se concentrar na ligação.  

- Você... a culpa é sua... eu estava muito bem antes de você vir com aquele papinho de sentimento e agora eu tô nessa situação.

- Então... devo presumir que seu encontro não correu bem.

Victoria fez uma série de ruídos indignados antes de se recompor para responder e aquilo só fazia Chloe se divertir ainda mais.

- Eu inventei uma desculpa e fui embora na metade porque senti como se estivesse traindo ela, por mais que isso não faça o mínimo sentido. 

- Então eu provavelmente não deveria te contar o quanto ela se deu bem com o nerd hoje?

Ela comentou inclinando a cabeça de lado para dar um melhor acesso ao seu pescoço para Max, que logo seguiu a deixa, enquanto suas mãos continuavam trilhando o corpo de Chloe sem um destino certo.

- O que...? - A voz de Victoria saiu fraca e triste, completamente distante do tom furioso de momentos antes.

Chloe não conseguiu mentir por muito tempo, pois logo foi traída por sua própria risada.

- Eu tô brincando... O nerd passou mal depois de tomar um copo de cerveja e tivemos que voltar mais cedo.

- VAI SE FODER SUA PUNK IDIOTA! UHRRRRRR!!

- Não se preocupe, Vic. Max vai cuidar disso mais tarde. Ou daqui a pouco, o tempo é relativo.

Chloe brincou percebendo Max se distanciar quase no mesmo instante, o que a fez virar o rosto para procurá-la com uma cara triste, ignorando os protestos irritados de Victoria no telefone. 

A punk logo recebeu um sorriso de Max e um quase inaudível "vou me trocar", quando ela se levantou da cama e se dirigiu ao armário.

- ...VOCÊ ACHA ISSO ENGRAÇADO?!

- Pra falar a verdade, acho um pouco, mas, como já disse antes, quero te ajudar. - Ela respondeu, acompanhando o movimento de Max, ainda com as roupas da saída, caminhando para fora do seu campo de visão, carregando um short e uma camisa. - Você vai gostar de saber que uma certa senhorita Marshmallow comentou que sentiu sua falta e ficou muito feliz quando foi sugerido outro convite a você para um próximo encontro.

Max jogou um travesseiro em Chloe e, quando esta foi conferir, a garota de sardas fingiu que não era com ela, o que levou a punk a ignorar a ação.

- Isso... isso aconteceu mesmo ou você tá me zoando de novo porque é uma maldita sádica que adora rir da minha desgraça?

- Dessa vez, é verdade... eu não estava presente na hora, mas a Max me contou quando estávamos voltando pra casa.

Outro travesseiro, seguido de um lençol e uma nova expressão de inocência fajuta no rosto de Max.

- Cara, para de jogar coisas em mim ou eu vou...

Ela falou fazendo Max rir e Victoria perguntar "o que?", se sentindo confusa.

- Não foi com você... bom, o que importa é que vou te ajudar pois estou me sentindo benevolente hoje. 

Chloe disse notando as coisas sendo jogadas no chão agora, mas decidindo ignorar a loucura momentânea da garota menor, já que os arremessos, dessa vez, não se dirigiam a ela.

- Primeiro você vai até o quarto da Kate perguntar como foi a noite. Ela com certeza vai te convidar pra entrar e contar detalhadamente o que aconteceu. Aí você vai demonstrar estar arrependida por não ter ido, o que acredito que não será tão difícil, né? - Chloe riu deixando Victoria possessa, mas desesperada demais para rebater. - Nessa hora, ela vai acabar dizendo que queria que você estivesse lá, que teria sido legal, etc, e então você vai tentar compensar.

Max agora jogava as roupas que vestia pelo chão, o que Chloe também decidiu não questionar, já que ela estava se trocando. E qualquer crítica que ela pudesse ter pensado em fazer a isso, foi eliminada pela volta do contato de lábios contra a parte de trás de seu pescoço.

- Compensar...?

- É! Você vai convidar ela pra assistir um filme no seu quarto, naquela TV gigante que tem lá... - Chloe continuou, sem pensar muito no que falava.

- Como você sabe que eu tenho uma TV no meu quarto? - Victoria perguntou desconfiada.

Merda!

- Tem certeza que isso importa agora? - Ela tentou desconversar, o que, para sua surpresa, funcionou perfeitamente bem.

- Ok... continue.

- Bom, ela talvez hesite num primeiro momento. Se isso acontecer, você insiste e tenta ser persuasiva. Uma cara triste deve funcionar. - Max riu contra sua pele mais uma vez, provavelmente por ouvi-la falar sobre um truque que tinha acabado de usar e voltou a se afastar, recebendo um suspiro contrariado da punk em resposta. - Aí você escolhe um filme que acha que ela gosta, o que espero que você já saiba, já que tá convivendo tanto com ela.

- Uhum.

E logo algumas outras roupas voltaram a ser jogadas nela, começando a tirá-la do sério.

- Ela vai acabar cochilando no meio do filme e você se deparará com três opções: deixá-la dormir na cama e ir pro sofá, acordá-la quando já estiver bem tarde pra voltar pro quarto dela ou fingir que também cochilou e dormir na cama, então... você... oh...

A última peça caiu sobre o seu ombro e, quando ela a pegou olhando atentamente, notou que era um sutiã. O que a fez arregalar os olhos encarando uma Max sorridente, escondida embaixo do lençol e perder totalmente sua linha de raciocínio, enquanto se virava em sua direção.

- Então o que? - Victoria tentou acordar Chloe de seu transe.

- Se você olhar debaixo desse lençol agora, vai encontrar uma surpresa especial te aguardando. - Max falou baixo sem tirar o sorriso do rosto ou desviar o olhar do de Chloe. - Não demore muito porque posso acabar pegando no sono igual à Kate.

A resposta de uma Chloe, ainda chocada com a proposta, não demorou mais que 2 segundos.

- Desculpa, Vic. Acho que você vai ter que se virar sozinha a partir daí. O dever me chama. - Ela concluiu começando a engatinhar pela cama em direção à Max.

- COMO ASSIM? NÃO OUSE DESLIGAR ESSE TELEFONE AGORA, PRICE!

- Tudo bem, se você insiste. Só acho que você vai acabar desligando por si mesma daqui a poucos minutos. Só posso acrescentar que estou envolvida numa caça ao tesouro agora. Au revoir! - Ela concluiu jogando o telefone de lado e entrando debaixo do lençol e Victoria logo ouviu um "finalmente" de uma voz que ela sabia não ser a de Chloe.

- O que você quer dizer com isso? Price...? PRICE!?

A resposta que Victoria esperava veio em forma de risadas, que logo se transformaram em sons de beijos e barulhos que ela identificou como rangidos de um colchão. 

E Chloe tinha razão. Victoria não demorou mais que 2 minutos para desligar o telefone, envergonhada e com o rosto em chamas.