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História Amor Além do Tempo - O Jantar


Escrita por: SamusAran

Notas do Autor


Olar gente!
Tem alguém aí ainda? Espero que sim, mas vocês andam muito silenciosos ultimamente. Espero que não sumam todos antes do fim da fic. Hehehe!
Acho que vocês não curtiram a capa, né?

Relaxem e leiam que é melhor! :)

Capítulo 54 - O Jantar


Fanfic / Fanfiction Amor Além do Tempo - O Jantar

- Você fez o quê?! 

A punk perguntou exasperada, se virando parcialmente da posição de bruços em que se encontrava naquele momento para encarar Max, que se mantinha tranquilamente sentada sobre as costas dela, a forçando a voltar para sua localização prévia.

- Fica quieta, Chlo. Não é nada demais.

- Não é nada de...? Max, você ao menos está se ouvindo? - Chloe perguntou impaciente, mas decidindo permanecer deitada, sem oferecer qualquer resistência às ações da fotógrafa. - Você aceitou ir num jantar com os pais da Kate sem sequer me consultar. E, pior ainda, eu tenho certeza que você sabe o quanto isso é uma péssima ideia, mesmo tendo concordado com ela.

- Você tem razão, eu sei. Mas a Kate fez um esforço enorme pra convencer a mãe dela a nos receber e eu seria uma amiga horrível, se deixasse ela na mão depois disso. - Max explicou calmamente enquanto massageava os ombros tensos da punk. - E outra, você não precisa ir, se não quiser. Eu vou entender totalmente, se você fizer isso.

- Você só pode estar brincando... - Chloe devolveu em tom irônico, tentando olhar na direção de Max, mesmo de seu campo de visão momentaneamente limitado. - Você acha mesmo que eu vou te abandonar sozinha num jantar com a mãe ultra religiosa e homofóbica da sua amiga?

- Nossa amiga...

A punk simplesmente fez pouco caso da correção e continuou seu discurso.

- Tanto faz. A questão é que não vou te deixar entrar num rolo desse tamanho sem estar lá pra te dar cobertura, mas vai ser bem difícil eu me controlar, se ela for hostil com você em algum momento.

- Obrigada. - Max falou, se aproximando para beijá-la no rosto, mas logo voltando à sua atividade anterior - Mas não precisa entrar no modo Hulk. A Kate garantiu que a mãe dela vai nos tratar civilizadamente.

- E você acredita mesmo nisso? De verdade? - Chloe questionou, direcionando um olhar sarcástico para Max.

- Eu não tenho outra escolha, Che. - Max confessou num tom conformado - Chegar lá preparada para um confronto não vai ajudar em nada a conduzirmos a situação.

Chloe suspirou profundamente, enquanto tentava se acostumar com a ideia do compromisso furado a que estava fadada e, ao mesmo tempo, buscando voltar a relaxar, se concentrando nos movimentos delicados das mãos de Max em suas costas até ser atingida por uma revelação.

- Eu não acredito que você está usando uma massagem pra me manipular. - Ela acusou Max, ouvindo apenas a risada da garota de sardas em resposta. - Se for isso, me deixe ao menos virar de frente pra tornar tudo mais interessante.

- Você é terrível e nós estamos no meio da tarde. - Max declarou, se inclinando para dar um novo beijo na punk e, em seguida, saiu de cima dela para se deitar agora ao seu lado na cama.

Chloe se virou de lado também, apoiando o rosto numa das mãos sustentada pelo cotovelo e voltando a encarar a fotógrafa com um sorriso malicioso, enquanto usava sua mão livre para livrar o rosto dela de alguns fios de cabelos revoltosos.

- Era pra eu entender isso como um empecilho? Porque na minha cabeça é um bônus.

- Talvez quando tivermos a nossa própria casa. - Max respondeu, se aproximando para lhe dar um beijo de despedida, já que sua intenção naquele momento era se levantar da cama - Mas não na casa da sua mãe. Principalmente quando ela e o David estão aqui e podem surgir do nada e nos pegar em flagrante a qualquer momento.

- Onde você tá indo?

Chloe perguntou, deixando o assunto inicial de lado, incomodada pelo afastamento brusco de sua namorada, a qual apenas se moveu até a própria bolsa, recuperando alguns livros e os exibindo para a punk como resposta ao seu questionamento, antes de se direcionar para a escrivaninha e se sentar para começar a folheá-los.

- Eu não acredito que você vai estudar agora! - Chloe bufou, se jogando de costas na cama com as mãos no rosto. - O que você pode ter pra estudar, se as aulas só voltaram há um dia?

- Tudo o que se acumulou de antes do recesso e que eu não posso mais empurrar com a barriga.

Chloe se levantou da cama, indo até a fotógrafa, a contornando com os dois braços e beijando o rosto dela, decidida a mudar sua abordagem.

- Eu posso ficar tentando te distrair enquanto isso? - ela perguntou enquanto se ocupava em morder a orelha de Max.

- Na verdade, você deveria tentar me ajudar. Aí, quando voltássemos da Kate, eu te recompensaria.

- Por que eu deveria concordar com isso, se suponho que você vá usufruir dessa recompensa tanto quanto eu?

Max girou na cadeira até ficar de frente para a punk e segurar suas mãos antes de responder a pergunta dela.

- Porque você me ama e sabe que eu realmente preciso estudar.

- Eu sei da primeira parte, - Chloe contra argumentou, beijando a testa dela. - mas tenho lá minhas dúvidas quanto à segunda.

- Pois tenha certeza. - Max reafirmou, a abraçando ainda sentada. - Eu não sou tão nerd como você que aprende as coisas sem fazer quase nenhum esforço.

Chloe camuflou o próprio rosto com uma expressão chocada, que só fez Max rir assim que a notou. Então a punk se afastou, andando de cabeça baixa, em direção à saída do quarto, ainda tentando demonstrar estar ofendida.

- Vou pegar alguma coisa pra comer lá embaixo e, quando eu voltar, espero que você esteja preparada para me pedir desculpas por suas graves ofensas à minha pessoa.

- Não sabia que falar a verdade te ofendia. Desculpa. - Max respondeu sorridente, voltando a se virar para a mesa e, apenas, girando momentaneamente o rosto para observar o retorno de uma das mãos de sua namorada ao quarto, apenas para lhe mostrar o dedo do meio.

__________________________

- E estamos aqui.

Chloe disse logo que estacionou o carro em frente à casa dos Marsh, desligando o motor, mas ainda sem fazer menção de sair dele. Ela apenas se virou na direção de Max para prosseguir com a conversa que mantiveram durante todo o trajeto até lá e que girava basicamente em torno de como agiriam durante o jantar com a família de Kate.

- Vamos recapitular: não posso te beijar, abraçar, segurar sua mão ou qualquer coisa do gênero, mesmo com os pais dela já sabendo que somos um casal? - Max balançou a cabeça afirmativamente, embora sem muita convicção - Cara, isso é uma merda, mas tudo bem, vou me esforçar pela Kate e até pela Vic. Só espero que a força do hábito não me traia na hora.

- Desculpa te fazer passar por isso. - Max respondeu num tom resignado, esticando um dos braços para acariciar o rosto da punk. - Eu sei o quanto você é orgulhosa e que está fazendo um esforço enorme só de estar aqui hoje. Por isso, prometo que iremos embora o quanto antes.

- Não tem problema, Maximus. Eu que fiz questão de vir. Vamos entrar no modo "apenas boas amigas" até o final da noite e depois, pra compensar, agir de forma totalmente gay quando chegarmos em casa. Aliás, assim que sairmos dessa casa aí.

- Sim. Todo o lesbianismo que você puder aguentar. - Max garantiu agora sorrindo.

- Eu pelo menos ganho um último beijo antes de entrarmos?

Max simplesmente balançou a cabeça e se aproximou da punk, segurando o rosto dela com uma das mãos e a beijando de forma lenta e calma, alternando entre beijos curtos e outros mais profundos, mas se afastando abruptamente, quando sentiu uma das mãos da punk apertando seu seio.

- CHLOE!! - Max a fuzilou com os olhos ao mesmo tempo em que checava a rua para saber se alguém podia tê-las visto, enquanto a punk gargalhava de sua reação.

- Calma! Foi só pra trazer boa sorte.

Ela concluiu descendo do carro, ainda rindo e esperando que Max se aproximasse e elas pudessem caminhar lado a lado até a frente da casa. 

Assim que atingiram o batente de entrada, Max tocou a campainha e as duas esperaram pacientemente a chegada de alguém que a atendesse.

Não mais que alguns minutos depois, uma mulher loira, de aparência severa e roupas formais e a qual as duas inferiram ser a mãe de Kate, abriu a porta, as analisando de cima a baixo antes de cumprimentá-las ou mesmo convidá-las para entrar.

A senhora Marsh parecia muito distraída com a cor do cabelo de Chloe para lembrar de qualquer noção de hospitalidade naquele momento, o que Max logo notou e o que a motivou a dar início às apresentações e aos cumprimentos, sem esperar pela boa vontade da mãe de Kate.

- Oi, senhora Marsh. Eu sou a Max e essa é a Chloe. Imagino que a Kate tenha falado que viríamos hoje.

- Sim, ela mencionou. - A mulher respondeu, ainda com cara de poucos amigos, mas agora com a atenção focada na garota menor. - Por favor, entrem. Minha filha ainda está lá em cima com a Victoria. Imagino que vocês a conheçam. Ela também frequenta Blackwell.

Chloe precisou desviar o próprio olhar para o chão para evitar deixar escapar a risada que ameaçou sair de sua boca logo que ouviu as novas informações trazidas pela matriarca dos Marsh e esta parecia muito distraída para perceber a reação da punk, mas Max, por outro lado, estava bem atenta, e resolveu continuar a conversa para que a senhora Marsh não percebesse o comportamento estranho de Chloe e a questionasse.

- Conhecemos sim. A Kate, ela e eu somos amigas e da mesma turma.

- Hum, eu imaginei. - Ela respondeu, sem se estender muito no assunto, ainda focada em analisar Chloe milimetricamente - Vocês podem se sentar no sofá. Eu vou chamar elas duas e o resto da família. O jantar já está quase pronto.

No exato momento em que a senhora Marsh desapareceu pelas escadas, Chloe começou a rir o mais disfarçadamente possível, antes de voltar a falar aos cochichos com Max.

- Maxaroni, acho que a mãe da Kate tava me secando. 

- Para de brincadeira, Chlo. Eu quase tive um infarto porque achei que você ia entregar tudo quando ela falou da Victoria. - Max respondeu no mesmo tom, olhando de esguelha na direção  da escada, para checar se não aparecia ninguém.

- Desculpa, mas isso tá sendo mais difícil do que eu imaginava e o jantar de fato nem começou ainda. Ela estava olhando pra mim como se eu fosse o próprio diabo. - Ela desabafou recostando a cabeça completamente sobre o sofá e erguendo uma das mãos, por impulso, para colocar sobre a da fotógrafa. - Eu estava a ponto de apontar pra você e dizer:  "Ei, ela gosta de garotas também. Não sou só eu". - A punk acrescentou, simulando a cena e fazendo Max esconder o rosto com a mão livre. - E acho que usei todo meu controle mental pra não gargalhar quando ela mencionou Kate e Vic a sós no quarto.

Antes que Max pudesse voltar a falar, notou um movimento de passos às suas costas, o qual a fez se virar por impulso para notar uma garota, que ela reconhecia de uma foto que já vira no quarto de Kate, como uma de suas irmãs.

A garota não parecia compartilhar da timidez de sua irmã mais velha, pois logo deu a volta no sofá, se sentando na poltrona livre, ficando de frente para Chloe e Max e se apresentando para as duas.

- Vocês são Max e Chloe, né? A Kate sempre fala de vocês e, mais recentemente, da Victoria.

- Eu sou a Chloe e ela a Max. - Chloe foi rápida em confirmar. - E você deve ser a irmã do meio, né?

- É, e me chamo Sam. E nossa irmã mais nova se chama Lynn, mas vocês provavelmente só vão vê-la na hora do jantar. Ela é bem tímida.

- O que você não parece ser nenhum pouco. - Max comentou em tom descontraído arrancando um sorriso da garota.

- Minha mãe diria que eu sou intrometida e não deveria puxar assunto com pessoas mais velhas e principalmente com as que eu não conheço.

- Não liga pra isso. Você pode falar com a gente o quanto quiser. - Chloe confortou a garota que se sentiu mais livre ainda para continuar com sua avalanche de perguntas.

- Eu gosto da cor do seu cabelo. Seus pais não piraram quando você decidiu pintar? - Ela perguntou observando as mechas azuis da punk.

- Não... minha mãe surtou de verdade com a tatuagem...

- Uou! Vocês tem tatuagens?

Sam arregalou os olhos com a menção do fato, enquanto Chloe simplesmente tirou a camisa de flanela azul que vestia por cima da regata e exibiu, para a irmã de Kate, a tatuagem que envelopava quase completamente seu braço direito.

- Só ela. - Max respondeu enquanto Sam ainda estava com o foco completamente voltado para os grafismos no braço da punk.

- É, mas a Max tem algo mais maneiro ainda. - Chloe acrescentou, recolocando sua camisa no lugar e se voltando para a garota de sardas. - Ela tem uma cicatriz de um tiro na barriga.

- Isso é sério? - A garota agora tinha uma expressão chocada e, ao mesmo tempo, desconfiada no rosto e agora estava totalmente voltada para Max, que respondeu ao questionamento dela com apenas com um movimento leve de cabeça. - Eu posso ver?

A garota de sardas confirmou novamente, abriu o agasalho que vestia e levantou a barra de sua camisa até a altura da cicatriz, dando uma visão completa dela para a irmã de Kate.

- A Max não parece, mas ela é durona. Ela tomou esse tiro aí pra me salvar.

- Uau! Vocês devem ser muito amigas mesmo. - A garota respondeu de imediato, mesmerizada pela sucessão de descobertas que havia feito em tão pouco tempo.

- As melhores - Chloe respondeu, olhando Max de relance, com um sorriso, enquanto alisava o ombro dela levemente.

- E seus amigos, Sam? Eles costumam te visitar? - Max falou tentando mudar o foco da conversa de si para a garota menor.

- Eu tinha uma melhor amiga também, mas a gente acabou brigando por causa de um garoto.

- Ah, que pena! - Max comentou num tom pesaroso - mas tenho certeza que vocês vão acabar fazendo as pazes uma hora. Amizade é assim mesmo. A gente briga por bobagem, mas sempre acaba se acertando.

- Vocês já brigaram por isso? Ou tem namorados?

Max e Chloe se entreolharam automaticamente ao ouvir aquilo, sendo pegas de surpresa pela pergunta inesperada e tentando passar uma para a outra qual a melhor forma de responder aquilo apenas por meio de olhares e gestos. E foi Chloe a primeira a tomar a frente.

- Nós nunca brigamos por gostar de um mesmo garoto e você e sua amiga deveriam conversar para tentar fazer as pazes porque isso não vale a pena. E não. Nós não temos namorados.

- Por que? Vocês são tão legais.

- Obrigada. - Foi a vez de Max responder, dando o mínimo de informações possíveis à Sam. - Mas nós meio que estamos focadas em outras coisas no momento.

- Como o que? Escola...?

- É! Isso também... - Chloe falou evasivamente, começando a se preocupar com o rumo da conversa, enquanto olhava na direção da escada. - Sua mãe tá demorando pra descer, né?

- Não se preocupe. Ela provavelmente está discutindo com a Kate lá em cima. Isso tem acontecido com muita frequência nos últimos dias. - A garota acrescentou tranquilamente, logo mudando de assunto. - Posso pedir uma coisa pra vocês?

- Claro. - Max respondeu de imediato tentando disfarçar a própria preocupação.

- Eu posso adicionar vocês como amigas no Facebook? - Ela perguntou receosa, olhando de Chloe para Max , que agora se olhavam entre si.

- Eu não sei, Sam. Sua mãe não iria achar ruim? 

- Ah, eu tenho dois perfis. - Ela confessou, notando a surpresa das duas garotas e logo se prontificando a explicar. - vocês sabem... um oficial pra meus pais e outro onde tenho um pouco mais de liberdade. Minha mãe provavelmente não me deixaria fazer nada, se eu usasse apenas o primeiro.

A fotógrafa e a punk ignoraram a melancolia inicial contida naquela confissão e Max logo se propôs a procurar próprio perfil no celular de Sam para que ela o adicionasse e, a partir de lá, pudesse encontrar e adicionar também o de Chloe.

Depois de algum tempo com Sam concentrada no próprio celular e Max e Chloe em uma conversa paralela sobre Blackwell, a voz da garota voltou a atrair a atenção delas.

- Por que vocês estão se beijando na foto do perfil dela? - Sam perguntou com uma voz exasperada e uma expressão de choque, enquanto mostrava a foto do perfil de Chloe na tela de seu celular.

- Merda! Eu esqueci disso. - Chloe declarou inconformada com o próprio vacilo - Sam, espera, me deixa explicar...

- É por isso que vocês não têm namorados... vocês namoram uma à outra...

- Sam, por favor, não fale isso alto. Sua mãe vai ficar possessa, se souber que estamos conversando sobre isso com você... - Max tentou interceder sem sucesso.

- "Em um relacionamento sério com Max Caulfield" - Sam leu em voz alta ao voltar de novo sua atenção para o celular e, em seguida, encarar as duas garotas, antes de despejar sua conclusão. - Vocês são lésbicas...

Sam deixou escapar finalmente, como se mal acreditasse no que acabara de dizer, ainda se revezando entre olhar o celular e as duas garotas a sua frente, enquanto tentava processar aquela revelação. 

Enquanto isso, Max e Chloe apenas esperavam pacientemente que ela se acalmasse na mesma medida em que torciam para ninguém presenciar aquela cena.

- Samanta, o que já te falamos sobre importunar estranhos?

A senhora Marsh apareceu de repente, descendo as escadas sendo acompanhada de perto por Kate, Victoria e Lynn.

- E-eu só estava... eu... - A garota gaguejou, enquanto tentava sem sucesso responder sua mãe, a qual só a deixava ainda mais intimidada à medida que se aproximava.

- Meu deus, mãe! Qual a necessidade disso? - Kate intercedeu por sua irmã do meio. - Elas não são estranhas. São minhas amigas.

- E ela não estava nos importunando. - Max tentou ajudar na defesa. - Ela só queria saber quem éramos. Aí depois ficamos conversando sobre escola e coisas do tipo, não foi, Sam?

A garota apenas balançou a cabeça, ainda se mostrando acuada pela presença da mãe, que mesmo não tendo se dado por satisfeita com as justificativas, acabou deixando o assunto de lado, logo que o pai de Kate finalmente desceu para se juntar aos demais e puderam partir para a mesa de jantar.

- Filha, você não sabe quem perguntou por você... - A senhora Marsh começou a falar logo que todos se sentaram à mesa, enquanto sua filha apenas suspirou com o que parecia ser algo exaustivo para ela.

- Claro que sei. O Rob. É sempre ele que pergunta e a senhora sempre faz questão de me contar, mesmo sabendo que eu não dou a mínima pra isso ou pra ele. - Kate respondeu numa voz entediada sem desviar sua atenção da comida.

- E você deveria se importar mais com isso. - A mãe dela insistiu - Ele é um ótimo garoto, com um futuro brilhante e parece gostar muito de você.

Victoria tentou disfarçar o incômodo com a conversa, baixando quase completamente a cabeça para mirar o próprio prato e cortando um pedaço de carne com uma força excessiva, chegando ao ponto de arranhar a porcelana durante a ação.

- Que ótimo pra ele! - Kate rebateu sem dar muita atenção. - Espero que ache alguma garota incrível que esteja interessada nele. O que não é meu caso.

Enquanto Victoria sorria disfarçadamente, ainda de cabeça baixa, a mãe de Kate balançava a cabeça num gesto claro de desaprovação à atitude da filha.

- Você não deveria escolher tanto ou vai acabar ficando sozinha. - A senhora Marsh comentou num esforço final.

- Querida, deixe a garota em paz, por favor.

- Eu só estou dizendo, Richard. Não está fácil achar bons garotos nos dias de hoje.

- Não se preocupe, mãe. Eu posso lidar com minha vida amorosa sem a senhora precisar ficar arrumando bons partidos pra mim.

Depois daquilo, o prosseguimento da refeição se tornou quase totalmente silencioso, a não ser pelo barulho constante dos talheres ou da mastigação dos presentes no recinto, depois do diálogo constrangedor protagonizado por Kate e sua mãe. Richard Marsh então resolveu quebrar o gelo e conduzir uma conversa mais amistosa, perguntando às amigas de sua filha sobre os planos delas para o futuro, faculdade e objetivos profissionais.

Enquanto o discurso de Victoria se assemelhava bastante ao de Max, o de Chloe destoou um pouco, já que seus interesses estavam bem distantes de fotografia, o foco principal das outras garotas, o que foi o suficiente para trazê-la para o centro das atenções.

- Eu não sei exatamente o que vou fazer ainda, mas provavelmente alguma coisas na área de ciências exatas - Ela começou a falar, refletindo sobre a pergunta, porque até aquele momento ainda não tinha pensado tão longe no futuro, até se lembrar de sua profissão nos sonhos de Max e resolver usá-la como referência. - Talvez professora, nunca se sabe.

A mãe de Kate deixou escapar um sorriso de desdém ao ouvir aquilo, fazendo todas as atenções se voltarem automaticamente para ela.

- Me desculpe, mas não acho que você tenha exatamente perfil para isso. - Ela se explicou rapidamente, sem dar muita atenção para a reação dos demais.

- A Chlo é muito boa em ensinar. - Max falou em defesa da punk - Claro que provavelmente teria que mudar o visual, mas acho que isso tem sim muito a ver com ela.

A fotógrafa completou sorrindo em direção a sua namorada, que retribuiu o sorriso na mesma medida.

- Pode ser, mas não acho que alguém na condição dela esteja apta a exercer um cargo assim. - A mãe de Kate devolveu, fazendo pouco caso das palavras de Max.

- Minha condição? - Chloe perguntou logo que a senhora Marsh fez seu comentário, tentando a todo custo camuflar o misto de irritação e repulsa no seu tom de voz.

- Eu acho que você sabe do que estou falando. Além do mais, tem crianças à mesa, não quero entrar em detalhes. - A senhora Marsh acrescentou despreocupadamente, logo voltando sua atenção para a comida. - Seus pais concordam com isso, por acaso?

- Mãe!! 

Kate tentou dar um fim no assunto, mas Chloe agora estava absorta demais naquele debate para decidir parar naquele momento.

- Minha mãe apoia totalmente minha "condição". - A punk começou a responder calmamente, pontuando a última palavra enquanto fazia aspas com os dedos. - E, se meu pai não tivesse falecido quando eu ainda tinha 14 anos, tenho certeza absoluta de que ele também faria o mesmo.

- Ah, você é órfã. Agora faz todo sentido.

A senhora Marsh disse surpresa, como se tivesse acabado de receber uma informação que confirmava toda sua tese, enquanto os demais presentes na mesa apenas se chocavam cada vez mais com o avanço da conversa.

- Por favor, mãe, você prometeu que respeitaria minhas amigas...

- Querida... - O senhor Marsh intercedeu ao mesmo tempo que sua filha, entendendo que sua esposa estava se excedendo.

- Eu não disse nada demais, Richard. Só o óbvio. - Ela rebateu despreocupada - A falta de uma figura paterna pode fazer horrores na vida de alguém.

- Olha, meu pai foi um homem incrível e, com certeza, faz muita falta na minha vida até hoje, mas você não o conheceu.

- Chloe...

- Não, Max, tá tudo bem. Me deixe continuar. - Chloe falou, retomando sua linha de raciocínio e segurando uma da mãos da fotógrafa momentaneamente para tranquilizá-la, ao mesmo tempo em que direcionava seu olhar para a mãe de Kate - Como eu ia dizendo, meu pai era incrível e, com certeza, teria ficado decepcionado com várias coisas que fiz durante minha vida depois da morte dele, mas ficar com a Max nem de longe seria uma delas. - Ela concluiu, olhando para a garota de sardas e voltando a segurar a mão dela com uma das suas, agora com mais firmeza, sem a mínima intenção de soltá-la. - Ele ficaria orgulhoso.

A senhora Marsh riu debochadamente assim que Chloe concluiu sua fala e, calmamente, limpou a própria boca com um guardanapo antes de voltar a falar.

- Nenhum pai ficaria orgulhoso disso.

- Mãe, pare agora! - Kate falou com a voz exasperada, se levantando da mesa com os punhos cerrados e deixando todos ainda mais tensos e surpresos com sua reação.

- Parar o que? Eu falei alguma mentira? - Ela insistiu em tom irônico - Qual pai ou mãe ficaria orgulhoso de ter uma filha com esse... problema? Eu provavelmente morreria de desgosto.

O cômodo ficou completamente em silêncio por alguns segundos, a ponto de quase ser possível ouvir as batidas rápidas do coração de Kate, consumido pela adrenalina, enquanto ela se preparava para dizer algo que se tornou impossível de ser contido após o discurso de sua mãe.

- Pois eu espero que a senhora esteja errada, mãe. - A garota tímida retomou sua fala, ainda encarando o chão, deixando sua família curiosa e suas amigas apreensivas com suas palavras - porque a senhora tem uma filha com esse "problema" e ela está apaixonada por outra garota com o mesmo "problema".

A senhora Marsh estava tão chocada com a reviravolta dos eventos que nem ao menos conseguiu brigar ou mesmo falar qualquer coisa para a filha. 

Enquanto isso, Victoria encarava Kate, surpresa com a confissão dela e principalmente com sua declaração repentina na frente de todos, inclusive de seus pais, uma declaração que ela não havia feito nem só pra ela.

- É, mãe, você entendeu certo. Eu sou gay e eu estou cansada de assistir a senhora julgando minhas amigas por algo que acontece dentro de sua própria casa.

- Você não pode ser, eu...

- Por que eu não posso? - Kate questionou cortando a frase da mãe pela metade - Por que fui criada direito? Por causa de todas as regras e proibições que a senhora impôs pra impedir que eu me desviasse? - Kate rebateu o comentário, levada pela própria adrenalina - Adivinha, mãe? Não adiantou.

- Como você ousa...? Vá agora pro seu quarto porque eu e seu pai vamos ter uma conversa séria com você logo que esse circo acabar.

- Eu não vou. Eu não tenho mais medo. - Kate cruzou os braços, com uma expressão furiosa no rosto - A senhora não pode mais me intimidar como se eu tivesse 10 anos. Eu sou uma adulta agora.

- Meu deus, você parece uma pessoa totalmente diferente. Isso é tudo influência delas e, principalmente, dela - A senhora Marsh apontou furiosamente na direção de Victoria que, como os demais se mantinha no mais completo silêncio. - Não sei como me deixei enganar.

- Influência?! - Kate falou rindo de forma exagerada do comentário de sua mãe e gesticulando energicamente - É por causa da influência delas que eu não acordo mais deprimida todo dia, sem vontade de ao menos sair da cama, sempre pensando em simplesmente desistir e até tirar minha própria vida. - Quando Kate concluiu aquela fase, o espanto era visível no rosto de todos, principalmente no de seus pais. - Elas me salvaram. Não suas regras e seu ódio.

O pai de Kate estava visivelmente abalado após ouvir a confissão de sua filha, mas sem conseguir ter qualquer outra reação de interceder novamente naquela confusão, enquanto a mãe dela se mantinha com a expressão dura e implacável no rosto, fuzilando Kate com o olhar.

- Você nunca aceitaria não é, mãe?

A senhora Marsh apenas fez uma careta, como se sua filha tivesse dito a frase mais abominável de sua vida, nem ao menos se dando o trabalho de dizer qualquer coisa. Mas sua expressão foi resposta suficiente para a garota.

- Foi o que pensei - Ela disse num suspiro, empurrando a cadeira para se afastar da mesa e sendo seguida por reflexo pelas outras três garotas. - Gente, eu não posso mais ficar aqui. Será que vocês poderiam dar carona pra mim e pra Tori?

- Claro, Kate. - Chloe respondeu com um sorriso reconfortante - Sempre que vocês precisarem.

- Onde você pensa que vai? - A senhora Marsh perguntou, seguindo-as apressada até a sala, quando já abriam a porta da frente para sair de casa, fazendo sua filha parar momentaneamente por reflexo.

- Estou indo ficar com pessoas que realmente se importam se eu estou viva. - Kate respondeu sem nenhuma nota de emoção na voz, voltando ao seu trajeto anterior no mesmo instante e fechando a porta, sem ao menos olhar para trás.


Notas Finais


E aí, curtiram a treta? Ficou realista? Espero que sim porque esse capítulo deu um trabalhão. Muitos personagens juntos é mais difícil de escrever. Espero que o resultado tenha compensado.

Curiosidades: O nome da mãe da Kate não aparece no jogo. O da irmã do meio dela também não. Então decidi inventar.

É isso!
Beijos e até a volta! :)


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