História Amor Além do Tempo - Blackwell

Como havia se acostumado a fazer desde que Max iniciou suas aulas em Blackwell, Chloe sempre a esperava no limite do pátio central, próxima a área do estacionamento, contando ansiosamente os minutos que faltavam para chegar em casa e finalmente poder almoçar.

Mas naquele dia foi diferente. Max não saiu do prédio principal ao lado de Kate ou mesmo sozinha, como sempre costumava acontecer. Daquela vez, ela surgiu na entrada do prédio, andando lado a lado e conversando animadamente com uma garota loira, com um estilo que lembrava muito o seu próprio e a qual Chloe não lembrava de ter visto antes em Blackwell, embora olhar para ela lhe trouxesse uma enorme sensação de dejá vù. 

Chloe se manteve na mesma posição, mas agora de braços cruzados e com cara de poucos amigos, observando atentamente cada movimento ou gesto trocado por Max e a garota desconhecida, sem fazer o mínimo esforço para tornar sua presença notada, isso até o momento em que a nerd finalmente a enxergou à distância e se despediu de sua colega para, em seguida, ir até ela.

Max a abraçou assim que a teve ao alcance, mas não sentiu a mesma intensidade sendo demonstrada pela punk ao retribuir o gesto e, rapidamente notou a expressão emburrada que havia se instalado sem mais, nem menos no rosto dela.

- Quem é aquela? - Chloe perguntou logo que o abraço foi desfeito, apontando com o olhar para a garota que agora conversava, cercada por um novo grupo de pessoas.

Max girou, tentando seguir a direção em que a punk olhava e dando a resposta requisitada por ela, logo que atingiu seu objetivo.

- Ah... é a Rachel. Ela está na minha turma de fotografia. - Max comentou, fazendo pouco caso da pergunta.

- Claro. Tinha que ser. - Chloe deixou escapar num tom descontente, que não passou despercebido aos ouvidos Max - E quando vocês se tornaram melhores amigas? Acho que perdi essa parte da história ou talvez você tenha esquecido de me contar.

- Você está fazendo essa cena de ciúme toda só porque ela é bonita ou tem algo mais? 

Max a questionou, tentando levar a conversa numa boa e manter um tom bem humorado, mas ao notar a persistência da expressão emburrada de Chloe, decidiu parar com as brincadeiras e falar mais seriamente.

- Nós não somos melhores amigas e, pra falar a verdade, nem mesmo amigas somos ainda. Praticamente começamos a nos falar essa semana.

- Pra mim, vocês pareciam bem íntimas quando estavam saindo do prédio. - Chloe acrescentou em uma reclamação velada.

Max sorriu, ignorando a insinuação de Chloe e voltando a abraçá-la, agora com mais ênfase. Beijando o pescoço dela repetidas vezes antes de tentar contornar o ataque de ciúmes.

- Nós vamos fazer um trabalho em dupla. Por isso, estávamos conversando. Só isso. - Max explicou calmamente, ignorando a desconfiança de sua namorada - É o trabalho mais importante do semestre. Se o nosso for selecionado, vamos conseguir expor nossas fotos num museu em San Francisco. Você consegue imaginar minhas fotos numa exposição com fotógrafos de verdade?

Chloe estava longe de demonstrar a mesma felicidade que Max demonstrava com a possibilidade do início de sua carreira profissional estar tão próximo. Em vez disso, ela só conseguia ficar possessa imaginando a nerd passando horas e horas sozinha com aquela garota e, no fim, viajar com ela sozinha para outra cidade.

- Por que você escolheu fazer com ela e não com a Kate? - Chloe questionou contrariada, jogando água fria deliberadamente na empolgação de Max. 

- Foi o professor que fez as duplas. - Max explicou, tentando relevar o ataque de ciúme cada vez mais evidente de sua namorada. - A Kate acabou dando azar e caindo como dupla da Victoria.

- Ah... - Chloe deixou escapar, envergonhada pela própria reação desmedida, mas nem longe de superar o próprio ciúme. - Desculpa... 

- Tá desculpada. - Max respondeu com um sorriso compreensivo e um beijo no rosto da punk, que parecia envergonhada, mas ao mesmo tempo ainda descontente com a situação.

- Eu só não gostei dela... sei lá... ela sorri demais.

Max gargalhou após ouvir a reclamação de Chloe, enterrando a cabeça no ombro dela e a abraçando enquanto tentava se controlar. Já a punk apenas a observava em silêncio, aguardando pacientemente que o acesso de riso tivesse fim.

- E quando "sorrir demais" se tornou um defeito na sua visão de mundo? - Max questionou ao se recuperar dos efeitos colaterais do comentário inusitado.

- Quando os sorrisos são direcionados a você e não são meus. - Chloe respondeu com sinceridade e foi o suficiente para que o riso de Max cessasse de vez.

- Você quer que eu te apresente a ela? - Max sugeriu, enquanto afagava os cabelos da punk amavelmente, tentando ser compreensiva e, ao mesmo tempo, amenizar a reação dela.

- Talvez outro dia. - Chloe respondeu de imediato, beijando o rosto dela e dando um meio sorriso. - Eu não quero soar como a namorada possessiva e paranóica quando isso for acontecer.

- Você que sabe! - Max respondeu, dando de ombros - Mas não precisa se preocupar porque você é a única loira que eu sempre quis e sempre vou querer na minha vida. - Ela assegurou, beijando Chloe com o intuito de reforçar suas palavras. - Tecnicamente, nem loira você é mais, mas acho que deu pra entender.

Embora ainda contrariada e nem perto de estar contente com a situação, Chloe precisou dar o braço a torcer em suas reclamações, já que havia prometido ser mais compreensiva e mais comedida em seu ciúme.

- Bom, eu vou tentar lembrar disso sempre que vocês tiverem que sair por aí pra fazer essa droga de trabalho.

Max apenas sorriu, a beijando no rosto e compartilhando com ela um agradecimento silencioso.

__________________________

Sentada em seu dormitório, Max analisava diversas fotos espalhadas pela cama e selecionava as melhores para acrescentar ao seu portfólio, com o auxílio de Kate.

- Seu trabalho rendeu bastante, Max. Você e a Rachel fizeram fotos muito legais. - Kate comentou enquanto analisava uma das fotografias da pilha mais atentamente - Vocês parecem ter se entendido bem.

- Foi mais tranquilo do que eu imaginava. Ela é bem extrovertida e comunicativa. Isso acabou colaborando pra nos entendermos rápido. - Max comentou com a atenção totalmente voltada para uma das fotos que agora posicionava cuidadosamente em seu álbum artesanal - O jeito dela me lembra um pouco o da Chloe. 

Ao se tocar do que tinha acabado de dizer por puro impulso para uma Kate que já ria abertamente da comparação, Max foi rápida em acrescentar.

- Por favor, não diga pra Chloe que eu falei isso. - Max solicitou quase em tom de súplica - Ela surtaria completamente e tenho certeza que a briga ia render pro resto da nossa vida.

- Não se preocupe, Max. O que é falado nesse quarto, morre nesse quarto. - Kate brincou com o pedido preocupado da amiga, a fazendo rir e ficar mais relaxada. - Mas como ela está lidando com essa situação? Imagino que essa seja a parte mais complicada do trabalho pra você.

Max suspirou, fechando o álbum e afastando as fotos de modo a ganhar espaço para se sentar mais confortavelmente na cama e, só então, decidindo dar uma resposta.

- Ela está lidando melhor do que eu esperava. O que não significa que a resposta seja "bem". - Max explicou com sinceridade. - Eu noto que ela faz um esforço enorme pra não falar algo fora do tom ou soar possessiva, mas ao mesmo tempo fica mal por isso. Fica bem evidente no comportamento dela.

- Eu imagino.

- Tem vezes que até me surpreendo com as reações dela. - Max começou a contar - Por exemplo, houve um dia em que precisei sair pela cidade com a Rachel pra tirar algumas das fotos e convidei a Chloe pra vir junto, mas ela recusou, dizendo que só ia atrapalhar e que não tinha necessidade, mesmo eu insistindo. 

- Ela devia estar te seguindo pela cidade no modo detetive, pronta pra fazer uma intervenção, caso surgisse a necessidade. - Kate brincou novamente fazendo Max rir e jogar um travesseiro em direção a ela em represália. - Mas agora é sério, cadê ela?

- Ah, ela tá participando de um programa de monitoria pra turmas de calouros e sempre tem que ficar uma hora depois do horário, dando aula de reforço pra eles. - Max explicou, rindo da ironia da situação. - Ela adora, mesmo fingindo que não, e ainda tem coragem de continuar me chamando de nerd.

- Bem a cara da Chloe mesmo. - Kate concordou, recuperando o álbum e voltando a folheá-lo distraidamente. - Essa parte da conversa eu posso contar pra ela?

- Pode, mas só quando eu estiver presente porque adoro ver a cara dela quando está tentando se justificar e dizer que não é bem assim, que ela faz isso porque é obrigação, que ganha créditos extras, etc. - Max respondeu num tom bem humorado, conquistando um novo sorriso de Kate, mas logo decidindo mudar de assunto. - Agora já chega de falar de mim. Quero saber como está sendo sua experiência de trabalhar com nossa arqui inimiga.

- A Victoria não é nossa arqui inimiga, Max. Ela só implica com a gente.

- Hum... nem uma semana inteira de dupla e você já está passando por um quadro de Síndrome de Estocolmo, senhorita Marsh? - Max debochou, fazendo Kate balançar a cabeça com uma expressão discordante e condenatória, embora risse do comentário sarcástico.

- Ela não é tão ruim. - Max arqueou as sobrancelhas, genuinamente surpresa com a insistência de sua amiga em defender a garota que tinha como um de seus principais passatempos persegui-las. - Quer dizer, ela consegue ser bem desagradável às vezes, mas eu acho que é só encenação, sabe? Pra manter a imagem de "rainha de gelo"!

- E como você chegou a essa conclusão em tão pouco tempo de cativeiro... quer dizer, de convivência? 

- Meu deus, você está passando demais com a Chloe. Só isso explica o excesso de ironias. - Kate condenou o comentário novamente, enquanto Max se esquivou num gesto silencioso, esboçando um pedido de desculpas. -

- Eu acho que ela só é meio insegura e, por isso, acaba se fechando e usando a própria personalidade como escudo pra disfarçar. 

Kate começou a explicar, ao passo que Max ouvia a tudo atenta, sem fazer mais interrupções, verdadeiramente interessada no julgamento que a amiga fazia.

- Ela foi meio hostil comigo no início. Você sabe... como costuma ser na maior parte do tempo. Mas depois que começamos a trabalhar de verdade no projeto, ela meio que se empolgou e passou a agir normalmente. Pelo menos, o que eu considero que é o normal dela...

- Eu juro que dessa vez não é ironia, - Max assegurou antes de esboçar qualquer opinião - mas só você pra conseguir algo assim em tão pouco tempo.

- Eu não fiz nada demais, Max. Só tentei desenvolver uma convivência saudável com ela. Algo que você também teria feito no meu lugar. - Kate se esquivou humildemente dos elogios da amiga, enquanto esta acabou concordando com as palavras dela, mesmo reticente. - Depois acabei vendo umas fotos dela meio por acaso, elogiei e, mesmo um pouco desconfiada, ela recebeu bem o cumprimento, me mostrando outras. - Ela esclareceu - Assim, pouco a pouco, fomos nos entendendo.

- Você consegue imaginar nós um dia nos tornando amigas da Victoria? - Max questionou, ao mesmo tempo em que ela mesma tentava imaginar aquele cenário aparentemente absurdo se realizando.

- E por que não? - Kate devolveu a pergunta - Nós temos várias coisas em comum e nunca se sabe o dia de amanhã.  

- Então esse vai ser seu próximo milagre. - Max brincou, enquanto Kate arremessava o mesmo travesseiro com que fora atingida de volta nela.

- Vamos voltar para as fotos que é melhor! - Kate sugeriu, ainda balançando a cabeça com uma expressão crítica e a nerd apenas assentiu em resposta.

__________________________

Enquanto fingia repassar uma matéria sentada na cama, Chloe observava de esguelha Max se locomover pelo dormitório, primeiro saindo para tomar banho e depois indo de um lado para o outro, selecionado acessórios para combinar com a roupa que já vestia e depois separando alguns materiais de trabalho. 

- Você vai sair? - A punk perguntou num tom incerto, quando a curiosidade e o ciúme venceram seu esforço para não parecer intrusiva.

Max olhou em direção a ela apenas para confirmar com um movimento de cabeça e então voltou para seus afazeres. E aquela atitude só fez aumentar mais ainda o sentimento corrosivo que Chloe tentava conter dentro de si.

- A... Rachel vai passar aqui ou... eu...? - Ela continuou no assunto, tentando parecer o mais casual possível, mas sem conseguir nem ao menos concluir a frase.

- A Rachel? - Max repetiu, confusa com a pergunta, parando finalmente o que fazia para concentrar sua atenção totalmente em Chloe.

- É, ué... vocês vão sair de novo pra... continuar o trabalho... não é por isso que você está se arrumando? 

O tom de descontentamento disfarçado na voz de Chloe só serviu para fazer Max sorrir, quando se aproximou, sentando ao lado dela na cama e a abraçando antes de desfazer o engano.

- Na verdade, eu estava pretendendo sair pra comemorar a conclusão do meu trabalho contigo, assim que você parasse de fingir que está estudando. - Max esclareceu, enquanto beijava o pescoço de uma Chloe agora bastante aliviada - Mas se você faz questão de convidar a Rachel, por mim, tudo bem.

- Vai se foder, Max!

A fotógrafa riu mais ainda da reação revoltada de sua namorada, aproveitando o momento para se deitar ao lado dela na cama e voltar a beijá-la agora na boca, sendo puxada para perto pelos braços da punk e acariciada pelas mãos que passeavam por sua cintura, enquanto o beijo prosseguia.

- Obrigada por não surtar nenhuma vez durante todo esse tempo em que precisei fazer esse projeto. Eu sei o quanto deve ter sido difícil pra você. - Ela acrescentou ao final do beijo, ao mesmo tempo em que acariciava o rosto da punk com uma das mãos.

- Foi péssimo. Você não faz ideia. - Chloe respondeu balançando a cabeça como se tentasse se livrar das memórias das diversas ocasiões que insistiam em revisitar sua mente - Mas te fiz uma promessa que pretendo cumprir e, além disso, eu sei o quanto esse trabalho é importante e pode ter certeza que farei o que puder pra te ajudar a se tornar uma fotógrafa ainda mais incrível do que você já é.

A declaração sincera de Chloe conquistou um sorriso genuíno e cheio de gratidão de Max, que ficou ainda mais empolgada para mostrar a ela o resultado final de seus esforços.

- Você quer ver como ficou nosso álbum?

O sorriso de Chloe diminuiu drasticamente após a sugestão de Max e agora ela encarava a nerd com uma expressão de conformismo e desmotivação no rosto.

- Claro. E por que não? Vamos ver o book de fotos que você fez da sua amiga modelo.

Chloe repetiu amuada, se sentando na cama e assistindo Max revirar os olhos em reação a sua atitude geniosa para, logo em seguida, ir de novo até o armário e voltar com o álbum mencionado em mãos.

- Você é tão ranzinza às vezes. - Max comentou ao voltar até a cama e se sentar ao lado da punk, entregando o objeto a ela, sem dizer mais nada.

Chloe também não discutiu. Em vez disso, ela se ocupou em analisar a capa do álbum e abri-lo de forma desinteressada, vendo nas primeiras páginas as já esperadas fotos de Rachel posando em diversos pontos da cidade, mas se surpreendendo à medida em que avançava e encontrava fotos de outros mulheres, inclusive suas.

Então Chloe parou perplexa no trecho do álbum que parecia dedicado a si, observando uma foto sua sorridente em meio a uma roda de amigos.

- Como? Eu nem lembro de você estar comigo nessa hora. - Ela comentou, ainda com o olhar fixo na foto, depois de um longo tempo de silêncio.

- Eu consigo ser sorrateira quando quero. - Max explicou, com o queixo repousado no ombro dela, observando tudo de sua posição privilegiada.

- E, quanto a essa? - Chloe questionou apontando para uma foto dela mesma sentada de lado na janela do dormitório de madrugada, observando distraidamente o lado de fora, enquanto a luz do luar invadia o ambiente e dava formas sutis à sua silhueta. - Eu pensei que você estivesse dormindo.

- Eu tava cochilando... mas acordei, te vi tão linda lá que precisei eternizar o momento.

O elogio direto de Max levou a punk a esboçar um sorriso desconcertado e a contornar o ombro dela com um dos braços, a trazendo mais para perto.

- O tema central do nosso trabalho era a representação feminina. Por isso decidimos escolher várias mulheres completamente diferentes entre si e representá-las em suas singularidades. Inclusive você. - Max começou a explicar enquanto Chloe ainda folheava o álbum - Aliás, foi a Rachel que sugeriu que eu incluísse as fotos que tirei de você.

Chloe apenas arqueou as sobrancelhas, tão supresa com aquela informação, que nem ao menos conseguiu pensar em algo para dizer.

- Ela disse que as suas fotos tem um algo a mais, como se eu conseguisse transmitir o amor que eu sinto através delas. 

O comentário de Max fez Chloe corar levemente e a obrigou a tentar disfarçar sua atual condição da melhor forma que conhecia: com brincadeiras.

- Ótimo! Agora que ela sabe o quanto você me ama, então também deve estar ciente de que entrou numa batalha perdida.

- Você é muito boba. - Max a acusou rindo do ciúme velado que ela demonstrava mesmo depois de tudo o que descobriu. - Ela disse que nós fazíamos um lindo casal e você ainda insiste nessas suspeitas sem fundamento.

- Disfarce, cortina de fumaça, conversa fiada. - Chloe falou em tom de deboche recebendo um olhar crítico de Max em resposta. 

- Eu aposto que, se você não tivesse essa implicância sem sentindo com ela, vocês se tornariam boas amigas. - Max afirmou com segurança, instigando em Chloe a necessidade imediata de refutar a hipótese com mais veemência.

- Nós não temos nada em comum a não ser você. Deixe de viagem. - Max condenou a declaração de Chloe com um gesto negativo, que não pôde traduzir em palavras, já que a punk continuou se enveredando pelo assunto - E o que mais a miss perfeição falou sobre nós?

Chloe insistiu no assunto, que agora despertava bastante seu interesse, voltando a se deitar na cama e puxando a nerd para se aconchegar junto dela.

- De nós, especificamente, mais nada. Só disse que eu também deveria aparecer em algumas fotos, mas eu descartei a possibilidade na hora. - Max respondeu com um sorriso debochado, direcionado à punk, enquanto esta estreitou os olhos a encarando com um olhar condenador.

Tramando uma série de planos malignos em sua mente, enquanto assistia Max a encarar com uma expressão debochada, Chloe finalmente reparou na câmera que a garota abandonou sobre a escrivaninha e então esticou o braço para pegá-la.

- Chegou a hora de corrigir isso.

 

A punk falou no exato momento em que apertou o botão e tirou a primeira foto, pegando a nerd de surpresa, e esta, ao compreender os planos de Chloe, entrou numa difícil batalha contra ela para tentar reaver a máquina.

- Chloe... - Ela chamou em vão, esticando a mão em direção à câmera, enquanto o barulho e a luz de um novo flash iluminava o ambiente.

- Não vão ficar tão boas quanto às suas, mas já é um começo.

Chloe disse, ignorando as tentativas de Max de recuperar o objeto e prendendo-a com ajuda do peso do próprio corpo, bem a tempo de tirar uma nova foto.

- Meu deus! Você vai acabar meu filme inteiro! 

A punk não dava a mínima importância para os protestos. Preferia calar a boca de Max com beijos, aos quais esta, mesmo resistindo por um tempo, acabou se rendendo, se deixando envolver e sorrindo enquanto os lábios de Chloe passeavam junto aos seus e ela notava a luz do flash se reacendendo repetidas vezes, mesmo de olhos fechados.

Num dado momento, Chloe abandonou a sessão de fotos para focar em ações mais incisivas, que acabaram por transformar os beijos inocentes do início em outros mais intensos e repletos de segundas intenções.

E, quando as mãos de Chloe já passeavam livremente pelo corpo de Max, preparadas para livrá-la das primeiras peças de roupas, foram impedidas instantaneamente pela nerd.

- Eu acabei de me trocar. A gente ia sair, lembra? - Max explicou inutilmente para a punk que continuava a beijando e não parou totalmente nem para responder.

- Cara, não se preocupa. A gente adia esse encontro só por algumas horinhas. - Chloe argumentou, enquanto beijava e mordia o pescoço dela com mais intensidade. - É só uma inversão de compromissos na nossa agenda.

- Tudo bem, mas essa é a última vez. - Max determinou ao ceder por completo, sabendo que sua frase não continha nem 1% de verdade.

__________________________

Não foi difícil para Max, nem para Chloe notarem a atmosfera estranha que pairava por Blackwell enquanto andavam pelos terrenos da escola numa manhã de segunda feira que, aparentemente, transcorria como muitas outras.

Entretanto, diferente dos dias comuns, naquele específico, o movimento de alunos, tão frequente naquele horário, transitando pelo colégio, indo dos dormitórios para as salas de aula ou mesmo conversando nos arredores do terreno antes de seguirem seu caminho, era praticamente inexistente.

Em paralelo a isso, acontecia um paradoxo no lugar, já que o estacionamento estava completamente lotado, obrigando Chloe a deixar seu carro em uma vaga nas imediações de Blackwell e andar o restante do caminho.

Quando as duas garotas se encontraram e partiram rumo ao pátio principal, logo perceberam uma aglomeração enorme de estudantes que, minutos antes, não existia e junto deles alguns poucos policiais dando cobertura para a passagem de alguém que elas não conseguiram identificar imediatamente em meio a toda aquela confusão de pessoas e vozes.

Depois de um tempo, elas puderam finalmente penetrar em meio ao mar de pessoas. Chloe indo à frente, abrindo caminho para Max que a seguia de perto, logo possibilitando a elas a visão total do famoso fotógrafo e atual professor de fotografia da escola, Mark Jefferson, sendo conduzido algemado por um policial bigodudo e de expressão sisuda, com o sobrenome Madsen gravado na tarja de identificação que  exibia no peito.

Elas acompanharam a cena com o olhar, completamente chocadas, enquanto o professor de Max era levado até a viatura, posto na parte de trás pelo policial de antes e seu provável parceiro e, logo em seguida, saindo com eles dos terrenos da escola até sumir de vista.

- O que diabos aconteceu aqui?

Chloe perguntou logo que recobrou a voz, superando o baque da cena que acabara de presenciar, mas Max estava longe de ter condições de desvendar aquele mistério ou mesmo lhe dar qualquer mínima resposta.

- Por onde vocês andaram que não sabem disso, gente?

As duas ouviram de uma voz familiar às costas delas assim que a multidão começou a se dispersar e as duas puderam identificar sua dona.

- Nós chegamos meio atrasadas e pegamos o bonde andando. O que aconteceu? - Chloe perguntou diretamente para Dana, a garota com quem só falara brevemente algumas vezes e que era namorada de um de seus amigos.

- O Professor Jefferson foi preso, acusado de sequestrar e matar várias garotas. Descobriram várias provas no lugar que ele usava como cativeiro. - Ela contou, deixando Max e Chloe ainda mais perplexas. - Ele as dopava, tirava fotos e depois... bem... vocês devem imaginar. Aquele policial que passou junto com ele era quem estava a frente da investigação. Parece que o plano do Jefferson era escolher a nova vítima após o concurso de fotografia.

Max empalideceu completamente, quase perdendo o chão, mas se mantendo firme ao se sustentar nos ombros de Chloe com firmeza, depois da conclusão do relato de Dana.

 

- E como você sabe de tudo isso? - Chloe questionou, curiosa e surpresa com a riqueza de detalhes presente nas informações de Dana.

- Porque ele recebeu voz de prisão bem no meio da aula e ficou batendo boca com o policial. Muita gente até filmou a cena. Foi surreal!

- Eu imagino. - Chloe concordou, ainda atônita, mas logo que se virou para Max, conseguiu de perceber o mal estar cada vez maior dela e isso a fez mudar completamente o foco de sua preocupação. - O que foi, Max? Tá tudo bem?

- Ia ser eu. - A nerd falou de repente com um olhar perdido, relembrando várias de suas interações com o professor. Principalmente a última.

- O que? - Chloe questionou confusa.

- Ia ser eu. - Max reafirmou num tom firme e pesaroso - Eu e a Rachel. Ele disse ontem pra nós duas que o nosso trabalho foi o melhor e que o anúncio do vencedor seria mera formalidade.

Chloe sentiu um calafrio percorrer sua espinha do início ao fim ao ser confrontada com aquela possibilidade. E nem mesmo a certeza de que aquilo não poderia mais acontecer a recuperou do impacto que aquela hipótese tinha lhe causado.

E, se estava sendo difícil para ela lidar com a situação, para Max era devastador. A nerd ficou em choque, com o olhar perdido, mirando algum ponto a esmo no jardim, lembrando de todas as conversas e das frases do professor que agora lhe pareciam doentias, a fazendo sentir arrepios por todo o corpo.

Chloe a abraçou tentando liberá-la do transe em que estava perdida e depois a conduziu para um lugar mais calmo e afastado, ideal para que pudessem se sentar e se recuperar do baque daquele acontecimento.

- Tá tudo bem... - Chloe tentou consolá-la ao mesmo tempo em que negligenciava o fato de ela própria precisar de conforto. - Ele vai apodrecer na cadeia pelo que fez e nunca vai tocar sequer um fio de cabelo seu. Eu o mataria, se ele ao menos tentasse.

- Eu não quero que você mate ninguém. Só que fique aqui comigo. - Max declarou, em meio a um abraço, com a voz camuflada pela posição em que se encontrava.

- Bom, eu já tô aqui e não pretendo ir embora. - Chloe respondeu, beijando a cabeça dela de lado e a puxando para mais perto. - Você quer ir checar se a Rachel está bem...? 

- Você faria isso por mim? - Ela perguntou, ao ser pega de surpresa pela sugestão.

- Max, a lista de coisas que eu não faria por você é bem restrita e essa com certeza não está inclusa. - Chloe respondeu a fazendo esboçar um sorriso a primeira vez depois daquele acontecimento - Vem! Vamos procurar ela nos dormitórios.

Max assentiu, ao passo que Chloe se levantou e ofereceu as mãos para ajudá-la a fazer o mesmo. Já de pé e mais calmas, as duas puderam finalmente procurar Rachel e se assegurar de que nenhuma tragédia havia acontecido.