História Amor, amor, negócios à parte - Capítulo 3

-Mas mãe... Falando no meu pai, eu recebi uma carta dele... – pronto a última bomba foi lançada.

                        Pov Lana

 Se você perguntasse para as pessoas ao meu redor uma característica minha, acredito que a maioria falaria sobre a minha maneira de nunca ser surpreendida, por que cá entre nós, quando você leva muitas pancadas na vida, nada mais te surpreende você pensa que o ser humano é capaz de qualquer coisa, a maldade não me surpreende a loucura também não, então nada me tirava muito de órbita a ponto de dizer “Eu não acredito nisso”, mas eu estava desestruturada, estava em choque, eu travei, meu corpo enrijeceu, eu não movi um músculo, ouso a dizer que meu coração havia parado por alguns segundos.

 Quando se tem filhos, é inevitável não criar certa proteção, por mim, eu prenderia minha filha nos meus braços e a protegeria do mundo, mas eu não podia, pois eu não tenho uma prisioneira em casa, eu tenho uma filha, que daqui a uns anos será uma adulta, terá sua família e a sua vida, era preciso deixá-la viver, mas havia algo que eu sempre a protegi e achei que conseguiria continuar protegendo, eu tinha medo do seu pai magoá-la como ele me magoou então eu sempre o mantive distante dela, ver uma aproximação era o meu ultimo pensamento, isso era incogitável na minha cabeça.

 Eu tenho plena certeza que ele nunca a machucaria, mas ele poderia ferir os sentimentos dela, e boa parte desse medo era culpa minha, nunca estive certa em não o deixar ver nossa filha, mas é o meu jeito protetor, e eu sei que se ele corresse atrás dos direitos dele, eu poderia perdê-la, mas ele foi compreensivo em entender os meus motivos. Mesmo sabendo que apesar das atitudes, ele não era um homem ruim, ao ver minha filha dizer que recebeu uma carta foi como se tivesse passando milhares de possibilidades na minha cabeça, mas foi necessário respirar, relaxar e encarar minha filha.

  - Sério? Depois de anos ele mandou uma carta? O que dizia? – perguntei receosa. Eu odiava ter que agir dessa forma, fingir que não o vejo há tanto tempo, mas espero que seja por um bem maior.

- Ah nada demais... – ela falou e divagou - ele só disse que era para eu nunca esquecer que eu tinha um pai, e que mesmo com tudo, ele me amava e só queria meu bem, mesmo longe de mim e que se eu precisasse não hesitar em procurar, um pouco tarde, mas tudo bem – “Ah claro APENAS isso”

- E o que você pretende fazer? – o receio ainda estava no meu coração, imagina se ela fosse atrás dele.

- Não sei, eu mal o conheço... Acho que só irei pedir para você falar pra ele, que eu sei que eu tenho um pai e apesar de não poder esquecer algo que eu não me lembro de lembrar – ela ri ironicamente.

- Espero que isso não seja uma indireta para você o conhecer... – ergo a sobrancelha e a encaro.

- Mãe a senhora sabe que logo eu faço 18 e se eu quiser conhecer ele você não poderá me impedir não é? – ele ergueu a sobrancelha. Isso foi uma ameaça?

- Realmente não, mas você não se acha muito novinha, para decidir essas coisas? Ainda mais quando está tramando em me largar na minha frente, eu tenho sentimentos, sabia? – Finjo um ciúme e ao mesmo tempo fico preocupada, eu usei minhas armas para não entrar em uma discussão, mas eu sei que um dia eu não vou conseguir evitar isso.

- Não mesmo, nunca te largaria mãe – me olhou e sorriu - você é a minha pessoa, só que mais velha e com mais ruguinhas - Ela me dá um beijo estalado na bochecha, creio eu que foi com a intenção de amenizar a barbárie que ela disse.

-Pelo visto alguém anda vendo muita série e também está ficando bem abusada não acha? Eu ainda sou sua mãe e também comandos seus castigos. Esqueceu? – taquei um pano de prato que estava ao meu alcance nela. 

-Jamais, eu tô bem ciente que minha mãe é um arraso, aliás, um super arraso – riu e desviou-se do pano.

-Se decida Alícia, ou puxa meu saco, ou me defende, os dois não dá! – rio. 

-Um dia quem sabe eu tomo a decisão. – ri com a ousadia dela – Mãe, a tia Bex disse que queria marcar um almoço pra semana que vem com a tia Dee e a vovó, e ai?

-Sério? Que ótimo, estou morrendo de saudades delas - realmente, depois que eu comecei a focar mais no trabalho quase não tinha tempo para a minha família.

-Eu também – me olhou e eu já sabia que pediria algo - mãe eu tô indo para o shopping com as meninas, tá bom? – ela não pediu, eu ainda esperei por isso, que ingênua Lana. 

- Ok, tenha cuidado, quero você em casa antes das 21hrs mocinha! – a olhei séria.

-Sim senhora e não se esqueça do seu compromisso com a Jen – havia comentado que sairia com a Jen mais cedo e sim, eu resolvi aceitar, que mal teria apenas em um jantar.

-Nossa é verdade, tinha esquecido, beijos filha! Vou arrumar as coisas – com as noticias “perfeitas” para começar o dia, eu havia esquecido completamente do meu encontro com a Jen.

 Subi para o quarto e peguei todos os meus vestidos – que modéstia à parte, eram muitos - e coloquei-os na cama, mas nada me agradava, nada vestia bem, nada parecia a altura e nada era bom o suficiente, mas para falar a verdade eu nem sabia porque estava tão preocupada em que roupa iria usar, era apenas um jantar com a Jennifer.

                                              Pov Jennifer

 Havia acordado cedo, pois pretendia ir ao salão, estava bastante ansiosa para esse jantar admito, sempre tive uma queda fora do normal pela Lana e ela nunca deu brecha, sempre foi durona e o pior – ou melhor – ela era assim com qualquer pessoa que tentava criar algum tipo de relação com ela. Hoje ela aceitou sair comigo então eu não podia deixar essa oportunidade passar, torço para que nada dê errado. Para falar a verdade eu não sei o porquê, mas acho esse jeito dura dela me atrai, me chama para descobrir o mistério que essa mulher é, mesmo que eu já saiba quem ela é no fundo, eu estava por perto quando o mundo dela caiu e foi horrível vê-la daquela forma, mas eu queria conhecer a Lana de verdade, queria saber quem era ela, com ninguém por perto, descontraída, eu quero saber mais.

 Já estava quase na hora do jantar, eu tinha colocado um vestido azul com listras pretas verticais e um salto preto e deixei meus cabelos soltos e usei uma maquiagem leve, tenho que assumir que o resultado final me surpreendeu, eu não sou nenhum gênio da maquiagem e muito menos de arrumação, mas eu acredito que sei me virar bem.

 Como disse para Lana que ia buscar ela e a casa dela era um pouco longe, eu tratei de sair logo de casa, não poderia me atrasar, apesar de pegar no pé dela, eu sabia o quanto ela odiava atrasos. 

                    Pov Lana

Já estava quase pronta, decidi colocar um vestido preto simples e um louboutin na mesma cor e na maquiagem fiz questão de valorizar os meus olhos e usar o tradicional batom vermelho, apesar de ter ficado horas procurando algo que prestasse, acho que a escolha foi boa e caí bem, eu estável adorável e ninguém podia negar.

 Jen já havia me mandado mensagem dizendo que estava lá em baixo, então me apressei e desci. Jennifer estava me esperando encostada na porta do carro, ela estava tão... linda, estava distraída olhando algo no celular, ela estava rindo de algo, estava tão imersa que demorou notar a minha presença, mas assim que percebeu, ela parou e ficou estática, o que foi necessário para me fazer corar.

- Boa noite Srta. Morrison- sorrio – chegando no horário? 

-Boa tar..di..noite Srta. Parrilla, aliás, acho melhor Lana, acho que hoje não é um dia para formalidades - É ela estava bastante nervosa e sedutora (?).

-Ok, então, você que sabe. Vamos continuar batendo papo ou vamos logo? – a olhei, se ela achou que eu iria baixar guarda agora, ela estava totalmente enganada.

-Por mim ficaríamos aqui até amanhã - De novo senti meu rosto tomando cor, meu deus, era claro que Jennifer estava flertando comigo.

-Vamos logo Jennifer! - Entramos no seu carro, ela fez questão de abrir a porta para mim, eu não sei colocar em palavras o que estava acontecendo, mas ela estava mandando bem.

 Enquanto ela dirigia, eu a observava, ela ficava muito atenta quando estava dirigindo, era uma concentração admirável, seu maxilar travava e seus olhos não ousavam em piscar, o transe acabou assim que ela percebeu minha não tão discreta olhada, a distração durou até ela pedir para colocar uma música, passei os olhos pelos CD's que tinham ali e ela realmente tinha um bom gosto, achei um CD do Maroon 5, Alícia me fez amar esse Cd com todo meu coração, o coloquei até sentir a melodia e não me contive a cantarolar ao som de Daylight...

-Here I am staring at your perfection in my arms, so beautiful...- Senti o olhar de Jennifer em mim e ela cantou a continuação. 

-The sky is getting bright, the stars are burning out...-  a voz dela era adorável, ela  fazia uma melodia gostosa de se ouvir que eu fiquei a escutando ela cantando o resto da música e acabei não me distraindo, já tínhamos chegado e eu só percebi quando ela me chamou.

-Desculpe, me distrai. - saio do carro e entro com Jen. O lugar era maravilhoso, calmo e aconchegante, ao mesmo tempo em que era muito bonito, tinha um quê de casa, toda essa sensação e apreciação me fez perceber que eu não saia de casa há muito tempo e não sentia esse frio na barriga na mesma intensidade, sim, eu estava com um frio na barriga, fazia muito tempo que eu não saia com ninguém assim, depois do divórcio eu sai com uns caras, nunca deu em nada, sempre foi algo muito casual, mas não sabia realmente no que estava me metendo agora, de certa forma era mais intimo, toda vida, e sim, um jantar é muito mais intimo do que uma noite de sexo casual, ela poderia conhecer minha vida toda se quisesse, eu não faço ideia do que estou fazendo nesse momento, mas sei que algo mandava aceitar esse convite de Jennifer, nunca tivemos algo considerado uma super amizade, mas se eu tinha amizades, quem chegava mais perto disso era ela, o Sean não contava pois era como um irmão para mim, se esse jantar era uma linha tênue entre nossa amizade e qualquer coisa futura, só o tempo diria.

 Por fim o jantar correu melhor do que esperava Jennifer soube selecionar os assuntos, nem conversamos sobre o trabalho – o que é uma surpresa para quem lida comigo - chegou a passar rápido de tão agradável que foi. Já estava tarde quando pedimos a conta e ela foi me levar para casa.