Várias equipes tentavam retirar os escombros em busca de sobreviventes, se é que havia algum. Aquele desmoronamento foi tão grave que eles nem acreditavam que fossem encontrar alguém vivo.
Quando o rei chegou, todos pararam o que estavam fazendo para lhe prestar reverência.
– Encontraram algum sobrevivente?
– Infelizmente não, majestade – o chefe da equipe de busca falou – o desmoronamento foi muito grave. A estrutura inteira veio abaixo e pegou todos de surpresa. Foi algo muito repentino!
– Continuem as buscas e não parem até, pelo menos, encontrar os corpos deles.
– Sim senhor!
Aos poucos, os corpos foram aparecendo um a um. Dos seis campeões de Fidélius, quatro morreram e apenas dois sobreviveram, embora em estado muito grave.
– Eu não acredito que isso aconteceu... como isso pode ter acontecido? Como o prédio desmoronou?
– Segundo testemunhas, foi tudo repentino. Sem explosão, sem incêndio ou qualquer outra causa aparente.
Fidélius voltou para a sala do trono, desolado. Seus ministros e conselheiros também estavam apreensivos. Aqueles campeões eram a única esperança de impedir que Lord Teigr vencesse o grande desafio e subisse ao trono. Sem eles, tudo estava acabado. A não ser que Fidélius escolhesse lutar diretamente com o irmão, o que também seria inútil. O rei não era um guerreiro e não tinha a menor condição de enfrentá-lo. E Felicius era muito jovem e inexperiente para ser capaz de lutar contra o tio.
– Onde está Felicius? – ele perguntou ao criado.
– Ainda em seus aposentos, senhor. Devo mandar chamá-lo?
Aquele era outro problema. Até então ele não sabia dos grandes desafios. Como explicar ao seu filho que tudo estava sendo planejado pelas suas costas e ainda lhe contar que os campeões tinham sido praticamente massacrados?
– Espere amanhecer, então mande chamá-lo à minha presença. E também providencie um mensageiro para chamar Magali.
– A humana?
– Sim. – ele não queria admitir, mas tinha receio da reação do seu filho. Pelo menos perto da namorada ele ficava mais calmo.
***
– Tchau, mãe!
– Tchau! Se cuida e estuda bastante!
Quando ela saiu de casa, Mônica a estava esperando para irem à escola.
– Ué, Magá! O que foi?
– Um mensageiro do rei Fidélius está esperando. Ele mandou me chamar e parece que é um assunto muito grave.
– Você vai agora? E a escola?
– Você pega a matéria para mim. Eu tenho que ir, Mô. Só estava te esperando para você me dar cobertura. E avisa os meninos também. Alguma coisa me diz que é algo muito grave, acho que vou precisar da ajuda de vocês.
– Tá certo. Não deixa de avisar a gente, viu?
Ela desviou do caminho e foi com o mensageiro, que a esperava atrás de uma arvore. Ao chegar no Reino dos Gatos, ela viu uma movimentação diferente.
– Magali, o que houve?
– É o que eu ia perguntar. Seu pai mandou me chamar urgente. Ele não te falou nada?
– Não, nada.
Um criado os avisou que o rei queria falar com eles. Só faltava alguns minutos para a reunião com os ministros começar e Fidélius queria aproveitar esse tempo para conversar com Felicius, já que não fazia parte do protocolo real o príncipe estar presente nessas reuniões muito importantes.
– Felicius, Magali, creio que vocês devem ter percebido que algo grave aconteceu. E realmente aconteceu. Vou lhes explicar brevemente.
Enquanto ouvia, Magali tentava acalmar Felicius que tinha ficado indignado por ter sido deixado de lado durante o tempo inteiro.
– Como o senhor pode ter escondido isso de mim, meu pai?
– Era um assunto muito grave. Não tive outra opção. O treinamento e localização dos campeões tem que ser mantido em sigilo absoluto e eu decidi que quanto menos pessoas soubessem, melhor. Também tive medo de que Teigr pudesse fazer algo contra um de vocês dois. Por isso não falei nada.
– Pai!
– Felicius, calma... ele só estava pensando na sua segurança...
– Ela está certa. Meu irmão é um trapaceiro da pior espécie e tenho certeza de que ele está por detrás de tudo isso, embora não haja como provar.
– E o que o senhor pretende fazer agora?
– Isso será decidido na reunião com os ministros e conselheiros.
– Você já falou com ele?
– Ainda não. Para todos os efeitos, os campeões sobreviveram e estão escondidos em algum lugar. Se essa tragédia vazar, eu terei sérios problemas com ele. Agora vocês devem se retirar. A reunião irá começar dentro de poucos minutos e eu preciso me preparar. Não será nada fácil!
***
– Droga, eu não acredito que meu pai escondeu tudo isso de mim! Eu, o filho único dele!
– Ele já explicou por que...
– Ainda assim eu não me conformo! Agora uma grande tragédia pode se abater sobre nosso reino e não há nada que eu possa fazer!
***
– O que estamos fazendo aqui?
– Quero ver a minha escolhida entrando em ação. Será que vai demorar muito?
– Sei lá! Vai depender dela. Só não sei se o cabeça dura do Fidélius vai concordar.
– E ele tem outra opção? Acho que não, né! Como é que ele vai lutar contra o irmão dele? Tem jeito não!
***
Lord Teigr ria e comemorava junto com seus aliados. Apesar de nada ter sido anunciado oficialmente, ele sabia que seu plano tinha dado certo. Era impossível alguém ter sobrevivido a um desmoronamento com aquele.
– Agora eu quero ver como o Fidélius sairá dessa! Hahaah! Lackey, seu estúpido, minha taça está vazia! Mais llaeth para todo mundo!
Llaeth era um tipo de bebida alcoólica fermentada feita com o soro do leite e raizes de algumas ervas. Era uma bebida muito popular entre os gatos e a única alcoólica que existia no reino. Fora isso, eles bebiam apenas água e leite.
Todos ergueram as taças e brindaram ao Lord Teigr, futuro rei do Reino dos Gatos.
***
– Felicius, que desafios são esses? Eu não entendi muito bem.
– Nesse reino, normalmente é a filha ou filho mais velho do rei quem sobe ao trono. Em casos em que o rei tem mais filhos, existe uma lei que permite ao próximo da sucessão uma chance de conquistar a coroa. É aí onde entram os desafios.
– São mais de um?
– São seis, no total. Cada concorrente tem seis campeões para participarem dessas provas. Aquele cujos campeões vencerem a maioria dos testes, conquista a coroa. Em caso de empate, eles devem lutar até a morte.
– Até a morte? Credo!
– Por isso foram criados os desafios, para que haja uma chance de resolver isso pacificamente.
– E por que um número par?
– Caso ambos os lados sejam igualmente fortes, é mais justo que os aspirantes ao trono decidam entre eles quem ficará com a coroa.
– Que desafios são esses?
Ele foi explicando os desafios um a um. Eram várias provas que tinham como objetivo testar as habilidades felinas dos concorrentes. Magali ia ouvindo tudo atentamente, prestando atenção a cada detalhe e uma idéia maluca foi surgindo em sua cabeça. Haveria chances de dar certo? Era algo a se tentar, caso o rei concordasse. Talvez fosse a última esperança para eles.
– Escuta, por acaso existe alguma regra dizendo que somente gatos podem participar dos desafios?